Difícil escolha: qual deve ser a escola dos meus filhos?
Mauro Meister
Pastor presbiteriano, assessor teológico-filosófico do SME e professor do Centro Presbiteriano de
Pós-Graduação Andrew Jumper
Todos os anos, os pais de filhos em idade escolar precisam parar e refletir a respeito de suas
escolhas quanto à educação que gostariam que seus filhos tivessem. A questão, muitas vezes, resume-se
uma série de fatores de ordem bem prática: temos condição de pagar? Temos condição física de ir e vir para
que nossos filhos sejam educados nesta escola? Convém que nossos filhos permaneçam nesta escola ou
não? As amizades que eles fizeram são muito importantes, ou afetam negativamente suas vidas? A lista
poderia se estender por várias páginas. Muitos, ainda, se deixam levar pela opinião pública e as orientações
da própria mídia, observando, por exemplo, o ranqueamento em testes, a popularidade entre as próprias
crianças e adolescentes, se a escola é da moda ou se parece a mais moderna.
Porém, além destas questões, que muitas vezes são determinantes para uma certa situação, existem
outras, de ordem mais profunda, que deveriam orientar as decisões dos pais quanto a esta fundamental
decisão sobre e para a vida dos filhos.
Creio que, em situação ideal, o primeiro fator a ser observado ao escolher uma escola para os filhos
seja a missão e os valores da escola. O que a instituição de ensino entende e publica como a sua missão e
os resultados que pretende ao oferecer a educação? É fato que se a missão e os valores da escola não forem
os mesmos ou similares aos seus valores de vida, esta parceria tão desejada e, muitas vezes, com alto custo
para a família não dará certo. O primeiro passo é avaliar a missão, visão e valores da escola.
Depois disso, uma averiguação da realidade. Missão, visão e valores podem ser apenas a repetição
de chavões, uma estratégia de marketing ou algo esquecido no passado de uma escola. Procure verificar
entre os docentes, coordenadores ou mesmo funcionários da escola se eles conhecem estes elementos. Faça
o mesmo com pais de alunos. Não somente questione se a escola foi/é boa, mas, por qual razão estes pais
avaliam a escola desta maneira. Ser ativo e ir a fundo nesta questão pode ser determinante para uma escolha
sábia.
Na sequência do processo, procure avaliar se a escola, por meio de sua liderança e professores, tem
as condições humanas e técnicas de implementar tanto os valores de ordem filosófica quanto aqueles de
ordem pedagógica. Mesmo que os pais não sejam experts em educação e em questões curriculares, solicite
que a filosofia e implementação do currículo lhe sejam explicados. Se a escola tiver imensa dificuldade de
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colocar em palavras simples o modo como seus filhos vão ser ali educados, é provável que tenham
dificuldades em cumprir o que prometem. Dentro deste processo, entra o material pedagógico, uma escolha
da escola que é fundamental para que a sua filosofia curricular esteja presente no dia a dia e na sala de aula.
Quais são os valores apresentados no material? Pergunte sobre certas áreas críticas que podem influenciar
a educação dos seus filhos: o que este material ensina sobre a formação da família? Sobre sexualidade? A
respeito de questões morais em geral? Existe alguma orientação quanto ao papel da religião na vida das
pessoas? Observe que as questões ainda refletem o primeiro ponto: o material didático vai, em grande parte,
lhe confirmar se a escola usa os instrumentos mais apropriados para tornar realidade sua missão, visão e
valores.
Se você já parou para estudar e avaliar questões pedagógicas, vá mais além nas perguntas: quais
são os princípios que norteiam o processo de ensino/aprendizagem? Como a escola instrui seus professores
a respeito do seu papel e autoridade dentro da sala de aula? A escola tem um código disciplinar claro? Você
e a família concordam com este código e estão dispostos a submeter seus filhos a ele? Esta é uma questão
fundamental e onde moram as fontes de grandes conflitos entre escola e família. Por isso, devem ser bem
analisados, pois isso poderá resolver previamente muitos possíveis problemas.
É claro que uma avaliação da estrutura física da escola é importante, mas, ao contrário do que é a
prática de muitos, não é o fator fundamental. Muitas vezes nos deixamos iludir pelas aparências. Deixamos
que o externo seja a impressão mais profunda. Lembro-me de uma nova escola aberta em uma cidade que
mais parecia um shopping. Instalações fantásticas. Muitos pais deixaram a escola em que eu trabalhava e
tinha meus filhos na época para matricularem seus filhos na nova escola, mais ampla, mais arejada, mais
bonita. No mês meio do ano quase todos solicitaram vagas e transferência de volta! Já ouvi muitos relatos
de boas escolas missionárias ou rurais funcionando debaixo de árvores.
Ao final, devemos considerar todo o conjunto de fatores para fazer a escolha certa. Houve tempo
em que a escolha de nossa família foi a mais dolorosa em termos financeiros e de tempo: custo alto e
excessivo tempo de locomoção. Isto causou vários impactos na vida da família como um todo. A razão
muito simples: acreditamos que entrar nesta situação seria o melhor para a vida de nossos filhos naquele
momento. Nunca nos arrependemos de ter feito todas estas perguntas e nem o sacrifício que as respostas
legaram. Tivemos na educação escolar o resultado que queríamos.
Espero que, pelo menos algumas destas questões lhe ajudem nesta escolha tão importante para o
futuro de seus filhos.
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