Etiqueta na prática
Apresentação
A forma como uma pessoa apresenta seus
amigos e conhecidos revela se está ou não
habituada ao convívio social. É dever dos anfitriões apresentar os convidados que não se
conhecem, facilitando o clima de cordialidade
que fará a conversa fluir rapidamente. Esta é
uma regra de cortesia que foi simplificada
com a evolução dos costumes, tornando-se
usual, mas já houve época em que se pedia
licença para fazer uma apresentação. Pessoas corteses sabem que, até na rua, há ocasiões que exigem uma apresentação. Quando
acompanhadas, se encontram alguém e começam a conversar, devem ter o cuidado de
apresentar rapidamente as duas pessoas que
não se conheciam. Evita-se, assim, o constrangimento de deixar um amigo sobrando e
constrangido.
Precedências
Respeitando a hierarquia, às vezes pelas
próprias circunstâncias de momento, é apresentada sempre a pessoa menos importante à
mais qualificada. “Dona Isabel, apresento-lhe
minha irmã Luciana” ou “Quero apresentar ao
senhor, Mario Oliveira...”, e depois apresenta
o cavalheiro a Mario. Na relação social, a mulher tem prioridade sobre o homem. Assim,
o rapaz deve ser apresentado à moça, mas a aluna será apresentada ao
professor, e a senhora, ao cavalheiro muito idoso ou a uma autoridade,
tratando-se de uma recepção oficial. Ao apresentar dois jovens, se um
deles for de outra cidade ou estiver sendo homenageado na ocasião, esta visita ou a pessoa menos íntima, independente de idade e sexo, será a
mais importante nas apresentações. Como tal, é ela que estende primeiro a mão e inicia a conversa.
Expressões usuais
“já se conhecem?” é a pergunta-chave que precede uma apresentação.
Ao apresentar algumas pessoas a um indivíduo, o nome desse deve ser
dito uma só vez. Isso costuma acontecer em reuniões quando um convidado chega um pouco mais tarde. Há uma forma geral de apresentar:
“Você deve conhecer alguns dos nossos amigos...” e vai nominando os
mais próximos. No Brasil, caíram em duas as expressões “Muito prazer”,
“Igualmente”, “Da mesma forma”. Diz-se: “Como vai?” ou “Tudo bem?”
Não existindo hierarquia, o jeito mais fácil de apresentar duas pessoas é
identificando uma a outra, pronunciando seus nomes de forma clara.
Referências
Anfitriões que recebem com desembaraços e savoir faire cultivam
o hábito de, apresentando convidados, acrescentar sempre alguma informação a respeito de cada um. Pode ser a profissão, a cidade de onde veio, uma viagem recente. São referências que contribuem para que
as pessoas mais facilmente iniciem uma conversa. Deve-se, no entanto,
evitar grandes elogios, limitando-se a dados pessoais.
Auto-apresentação
Um convidado poderá estar um tanto deslocado no grupo, justamente por não ter havido apresentações. Após uma breve conversa em torno de assuntos circunstanciais com
aquele que estiver mais próximo, é tempo
de ele se apresentar, cabendo ao outro dizer
também quem é, num diálogo informal. A
apresentação sem interferência de terceiros
acontece muito em viagens. Passageiros sentados lado a lado, depois de conversarem um
pouco, acabam se identificando. Neste caso,
a pessoa menos importante apresenta-se
primeiro: o cavalheiro, à senhora; o jovem, à
pessoa mais velha.
Nas relações profissionais, é comum a auto-apresentação ao chegar a uma reunião,
acrescentando o nome da empresa a que
a pessoa pertence. Apresentação são feitas
também através de cartão ou por telefone.
(ver CARTÃO DE VISITAS).
Ao esquecer o nome
É fato notório que a memória em relação
a nomes próprios é uma grande qualidade
para um político, diplomata o líder conquistar simpatias. Nem todos possuem este predicado que tanta falta faz à hora das apresentações, a memória traindo-os com um
“branco”. Ninguém gosta, principalmente diante de estranhos, que seu
nome seja esquecido. Como contornar isso? Há uma estratégia que, na
maioria das vezes, surte efeito ou pelo menos nome todo?” Passa a ideia
de que só o nome de família ou o prenome foi esquecido. Se a pessoa ao
ser apresentada não for reconhecida, ela não usará desta franqueza: “Já
nos conhecemos. Não se lembra mais de mim?” Poupa-se a memória
do próximo. Chega a ser grosseira dizer: “Já fomos apresentados várias
vezes e você nunca me conhece...”
Individualidade da mulher
Quando se faz a apresentação de um casal é importante dizer o nome da mulher e não simplesmente “Fulano de tal e senhora”. Os tempos
mudaram, e a mulher, hoje, preserva sua individualidade. Um homem
de trato ao apresentar sua esposa dirá “minha mulher”; mas ao referirse à mulher de outra faltará “sua senhora” ou “sua esposa”. Quando às
mulheres, ao apresentarem o companheiro, dirão “meu marido” e não
“meu esposo”. Crianças também devem ser apresentadas, dando-lhes
o bom exemplo e valorizando-as como participantes do convívio social.
Assim, desde cedo saberão apresentar seus pais aos professores e terão
facilidade no trato social com os amiguinhos.
Casamento & etiqueta
Só civil — Torna-se cada vez mais frequente a opção do casamento só pelo civil,
sem abdicar de uma recepção tradicional,
com direito a bolo. O referencial para um casamento civil mais solene realizado em casa,
ou num salão de recepção de um hotel ou clube, é o cortejo de um casamento na igreja, e
os trajes, dos noivos e convidados, seguem o
mesmo critério.
Essas noivas têm sempre a dúvida: “Recepciono os convidados ou só apareço no momento de ir à mesa do juiz?”. Se estiver vestida de noiva, opta por entrar como manda a
tradição, mantendo a expectativa de todos.
Nesse caso, a mãe da noiva e os pais do noivo recebe os convidados até que ela chegue
com o pai. O noivo a aguarda junto à mesa do
juiz, à direita, como num altar. Fica mais marcante se a entrada for ao som da marcha nupcial, a noiva e o pai caminhando sobre um
trilho de veludo. Outra opção é de os noivos
chegarem juntos, cumprimentam seus pais e
se encaminham ao juiz.
Segundo casamento _ Assisti, numa cálida
noite de verão, a um casamento, no jardim de
um clube, com a mesa do juiz sob uma frondosa árvore. O noivo era viúvo com dois filhos adolescente que recebiam os convidados
junto com ele e os pais da noiva. Esta chegou
sozinha, beijou os pais e o noivo, que lhe deu o braço direito e se encaminharam vagarosamente até o juiz. Som? Era o clássico “Sonho de
amor”, de Listz, pois houve a sutileza de não repetir a marcha nupcial
que o noivo já ouvira uma vez.
A noiva, que era solteira, 40 anos, usava um vestido de cetim champanha, de cauda curta. Apenas uma grinalda envolvia o coque alto do
penteado e o buquê era de flores naturais em tons suaves.
Ao final, depois de receberem os cumprimentos do juiz, eles se beijaram e foram cumprimentados por quem estava próximo. Passeando
de mãos dadas pelo salão, receberam os cumprimentos dos demais
convidados que já estavam tomando champanha. Só depois, todos se
encaminharam às mesas para o jantar, o novo casal sentando-se juntos
seus padrinhos.
Ato Religioso
Se vocês não são praticamente de uma religião e a escolhem para se
casar, interessem-se em conhecer os significados do ritual e os detalhes
de como transcorre e cerimônia. Ao procurar o sacerdote ou o rabino
para marcar a data, eles informam os requisitos que os noivos devem
preencher para o casamento religioso. Entre eles está um cursinho ministrado a grupos de noivos que já marcaram o dia do casamento. Ainda que esses compromissos lhes pareçam supérfluos, acabam contribuindo para aumentar a expectativa e as emoções do grande dia.
Rito católico — É pela religião católica que se realiza a grande maioria dos casamentos no Brasil, marcados na igreja no mínimo, com um
mês de antecedência. Mas, devido a questões práticas, especialmente a
escolha de data, é necessário mais tempo. O noivo e a noiva devem apresentar certidão de batismo e certificado do curso de noivos. Se nenhum
dos dois residir na zona da igreja em que querem casar, devem procurar
sua respectiva paróquia e pedir a transferência para uma outra.
Depende do pároco o rigor na exigência de cursinho de noivos e há
casos que eles consideram justificáveis para dispensa. Um deles é o noivo ou a noiva residir em outra cidade e só chegar às vésperas do casa-
mento. As igrejas têm seus regulamentos, e
não é só a taxa da cerimônia que difere. Alguns párocos não permitem que se contrate
um decorador que não esteja cadastrado na
igreja. Também o organista pode ser determinado por ela.
Outro assunto que deve ser esclarecido logo é de como proceder, se vocês quiserem que
um padre que não seja da igreja onde desejam casar celebre a cerimônia. Quem vai dar
essa orientação é o pároco.
E se os noivos querem fazer a cerimônia religiosa num clube ou em casa? É muito difícil
conseguir que o padre atenda a este pedido,
exceto em caso de doença ou incapacidade de
um dos noivos, ou de pessoa muito chegada a
eles que não possa comparecer à igreja.
Há sempre um sermão do sacerdote durante o ato religioso. Ao combinar o casamento,
conversem um pouco sobre suas vidas e, no
caso de pais recém-divorciados ou de uma
situação traumática na família, ponham o
padre a par. Assim, serão evitadas no discurso
religioso muitas referências à indissolubilidade do casamento e outros valores que fazem
parte da doutrina da Igreja Católica. Os padres hoje estão muito mais humanizados e
compreensivos com relação a esse assunto.
Escolha da música — A melhor coisa que se pode fazer para não
ter uma surpresa desagradável à hora de entrar na igreja é assistir, com
antecedência, a um casamento naquele mesmo local. Observe o som e
a decoração floral, pois sempre se podem corrigir defeitos. Fale com o
decorador da igreja se você achou as flores de má qualidade ou enfeites
excessivos num trabalho por ele realizado.
Há igrejas que dispõem de sistema de sonorização para fita gravada.
É conveniente observar essas condições técnicas, pois um órgão rouco e
ruídos estranhos perturbam a cerimônia. A música ao vivo, tocada por
bons intérpretes, é mais emocionante, mas cuidado na escolha de cantores: se não forem bons é preferível deixar só a música instrumental.
A Igreja Católica, em muitas arquidioceses, está exigindo música religiosa e erudita durante os casamentos, após um período de liberalidade
em que se ouviam frequentemente o “Tema de Lara”, melodias dos Beatles e outras consagradas pelo cinema. Quando há um conjunto de câmara contratado, alternando com o organista da igreja e tocando alguns
números com ele, a seleção musical merece grande destaque.
Em geral, são selecionadas cinco músicas. Para a entrada triunfal
da noiva o clássico é se ouvir a “Marcha Nupcial” “Jesus Alegria dos
Homens”, de Bach (melodia recolhida por Vinícius de Moraes para a
popular “Uma rosa é uma rosa”), “Sonho de Amor” de Listz, ou a “Ave
Maria”, Schubert. À saída dos noivos, o mais frequente é tocarem a apoteótica “Aleluia”, de Haendel, ou a marcha nupcial da ópera Lohengrin,
de Wagner.
Quase sempre são os pais que fazem a seleção das músicas, acatando
as sugestões dos noivos, para um roteiro de acordo com a sequência da
cerimônia. Enquanto o padre fala, o órgão tocará baixinho. Estas são as
partes destacadas num casamento católico marcadas musicalmente:
* Entrada do noivo e padrinhos
* Intermezzo aguardando a noiva
* Entrada triunfal da noiva
* Bênção das alianças
* Saída dos noivos
Sacramento do matrimônio — O sacerdote aguarda os noivos no
altar para a celebração do sacramento do matrimônio. Suas primeiras
palavras são: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a
comunhão do Espírito Santo estejam convosco”.
É feita a saudação que varia de acordo com o conhecimento que o padre tem do casal que vai abençoar. Logo, de mãos estendidas, ele faz a
oração; “Atendei, ó Deus, as nossas súplicas e derramai as vossas bênção
sobre Fulano e Beltrano, para que, unindo-se em matrimônio diante do
vosso altar, sejam confirmados na caridade. Por Cristo Nosso Senhor.
Amém”.
Segue-se a Liturgia da Palavra, a leitura de um texto bíblico que se refira ao matrimônio, escolhido pelo sacerdote. Após o Evangelho, ele fala
sobre a dignidade do sacramento os deveres do casal, levando em conta
características dos noivos: idade, profissão, etc. Por causa dessas variáveis que muitos noivos preferem que o padre seja conhecido da família
ou conversam com ele antes.
Passa então ao rito sacramental.
“Caros noivos, viestes a esta igreja para que, na presença do sacerdote e da comunidade cristã, a vossa decisão de contrair matrimônio seja
marcada por Cristo com um sinal sagrado. Cristo abençoa com generosidade o vosso amor conjugal.
Já vos tendo consagrado pelo batismo, vai enriquecer e fortalecer-vos
agora com o sacramento do matrimônio, para que sejais fiéis um ao outro por toda a vida e possais assumir todos os deveres do matrimônio”.
Diálogo antes do consentimento dos noivos:
_ Fulano e Beltrano, viestes aqui para unir-vos em matrimônio. Por
isso, eu vos pergunto, perante a Igreja: É de livre e espontânea vontade
que o fazeis?
_ Sim _ respondem os noivos.
_ Abraçando o matrimônio, ides prometer amor e fidelidade um ao
outro. É por toda a vida que o prometeis?
_ Sim.
_ Estais dispostos a receber com amor os filhos que Deus vos confiar,
educando-os na lei de Cristo e da Igreja?
_ Sim.
_ Para manifestar o vosso consentimento em selar a sagrada aliança
do matrimônio, o diante de Deus e de sua Igreja, aqui reunida, daí um
ao outro a mão direita.
Os noivos unem as mãos. Sacerdote:
_ N., queres receber N. por tua esposa e lhe prometes ser fiel, amá-la e
respeitá-la, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias
da tua vida?
Noivo:
_ Sim.
O Sacerdote faz a mesma pergunta à noiva, que dá o sim.
Acolhendo o consentimento, o padre declara:
_ Deus confirme este compromisso que manifestastes perante a Igreja e derrame sobre vós as suas bênçãos. Ninguém separe o que Deus
uniu. Bendigamos ao Senhor!
No momento da bênção e entrega das alianças:
_ Deus abençoe estas alianças, que ides entregar um ao outro, em sinal de amor e fidelidade.
O noivo coloca a aliança em sinal do meu amor e da minha fidelidade. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. _ A noiva diz ao
mesmo ao colocar a aliança no dedo dele.
Nesse momento, os noivos podem comungar, o que deve ter sido
combinado ao tratar os detalhes do casamento.
Segue o Padre-Nosso. O sacerdote de mãos postas dá a bênção nupcial para os noivos ajoelhados.
_ Ó Deus. Volvei o vosso olhar de bondade sobre estes vossos filhos
que, unidos pelo vínculo do matrimônio, esperam ser fortalecidos pela
vossa bênção: enviai sobre eles a graça do Espírito Santo, para que, impregnados da vossa caridade, permaneçam fiéis na aliança conjugal.
_ Amém. O sacerdote cumprimenta os noivos. É a hora do beijo.
Rito evangélico — O casamento para os evangélicos é uma bênção
e não um sacramento, como para os católicos. É preciso fazer a inscrição do casamento na secretaria da igreja, dois meses antes, sendo exigidos certidão de batismo cristão de confirmação ou primeira comunhão
e _ indispensável na religião evangélica _ a declaração de habilitação
para o casamento civil, fornecida pelo cartório. É solicitada sempre uma
taxa simbólica para a manutenção da igreja. No mínimo, um mês antes,
há uma entrevista com o pastor que vai oficiar o casamento e a discussão de detalhes práticos como decoração da igreja e música.
A cerimônia é semelhante à católica: entrada dos noivos, salmo, pregação, música, trecho bíblico, consentimento dos noivos, colocação das
alianças, bênção, Pai-Nosso, bênção final, saída dos noivos.
Quando um dos noivos for estrangeiro, é de uso, tanto na Igreja Católica quando na protestante, escolher um sacerdote que também fale
inglês, para que os textos principais sejam ditos nos dois idiomas.
Na sinagoga — A cerimônia do casamento judaico é muito bonita
e rica em simbolismos que passam pela história do povo de Israel. Os
noivos ficam diante do rabino, debaixo da chupá, o pálio matrimonial,
uma tenda sem laterais sustentada por quatro hastes. A chupá representa o novo lar onde o casal viverá sob os mandamentos da lei judaica,
mantendo as tradições de seu povo.
A data de um casamento judaico é marcada com seis meses de antecedência. Não pode ser numa sexta-feira e, em sábado, só depois do
nascimento da primeira estrela. É conveniente prestar muita atenção ao
combinar os detalhes da cerimônia, pois as sinagogas variam de regulamento e podem seguir o ritual ortodoxo mais conservador ou o reformista.
Não são exigidos documentos de habilitação do casamento civil pelo
cartório, pois para os judeus o civil nada tem a ver com o ato religioso.
De que se precisa é da ata de casamento religioso dos pais. Se um dos
noivos não for judeu, passará por um curso de conversão e, posteriormente, pela aprovação do tribunal rabínico.
O cursinho de noivos se resume em quatro encontros com o rabino,
que trata da importância do judaísmo na família. Há também uma taxa
simbólica que difere para sócios e não-sócios da sinagoga. Durante o
casamento só podem ser tocadas músicas alusivas à religião judaica.
Numa cerimônia na sinagoga, as mulheres usam chapéus nos casamentos matinais e voilettes em outros horários. Todos os homens _
mesmo os de não religião judaica _ estão com a cabeça coberta por um
solidéu, hipot, o pequeno barrete, que nos grandes casamentos é feito
especialmente para a ocasião e distribuído à entrada do templo. Por
isso, é importante, ao fazer a lista dos convidados, contar o número de
homens presentes para encomendar os hipots.
No cortejo ortodoxo, pouco usado, o noivo entra no templo entre seus
pais, e a noiva entre os seus. Sob a chupá, ela fica à direita do noivo no
altar, ao contrário dos casamentos cristãos. Modernamente, nas sinagogas, segue-se o cortejo adotado coberto pelo véu até o noivo levantá-lo,
no final do casamento. Qual a razão? Uma delas é demonstrar sua confiança cega no marido e não se expor ao olhar de outros homens.
Quando o rabino oferece aos noivos, pela primeira vez, o cálice de
vinho, a noiva levanta um pouco o véu para bebê-lo. Após a troca das
alianças, um segundo cálice de vinho é oferecido. Depois de beber, o
noivo, com o pé, quebra o cálice envolto num guardanapo branco, simbolizando a destruição do templo de Jerusalém. Esse momento é para
lembrar também que a vida não é feita só de alegria e um casal enfrenta
momentos de tristeza naturais à existência.
Os casamentos na religião judaica têm um grande final. Sob a chupá,
o noivo levanta o véu da noiva e a beija, seguindo-se um clima de alegria e exclamações de mazaltov, felicidades. Após os cumprimentos do
rabino, os dois saem à frente do cortejo pela nave central da sinagoga
(ver. p. 119)
União ecumênica — A união entre noivos de diferentes religiões
torna-se cada vez mais frequente. É um assunto que deve ser tratado
com um padre católico e um rabino, de preferência conhecidos da família. Cada um dará apenas uma bênção ao novo casal, diante de uma
mesa coberta por toalha branca onde poderia ter sido realizado antes
o ato civil. Estes casamentos acontecem em casa ou num salão de festas. Enquanto o sacerdote abençoa os noivos, ouve-se uma Ave Maria: à
hora da mensagem do rabino, uma música típica da cerimônia do casamento judaico.
Cabe aqui uma referência à união de um divorciado com uma noiva
solteira, cujos pais católicos faziam questão que ela recebesse a bênção.
Como não conseguiram a presença de um padre que abençoasse aquela união só pela lei dos homens, houve, após o ato civil, um instante religioso com uma Ave Maria. Foi bonito e todos entenderam a intenção.
A duquesa voadora
“No percurso de carro até o centro do Porto,
pude constatar o caos do tráfego de uma cidade sem planejamento, em que as ruas estreitas
se cruzam num sobe-e-desce de ladeiras, agravado pelas escavações das obras do metrô. É
hora de caminhar até o principal ponto de referências do centro, que é a Torre dos Clérigos,
com seus 75 metros de altura, anexa à igreja
barroca do mesmo nome.
Pouco mais abaixo dos Clérigos, está o prédio de porta e duas vitrinas laterais com os
rendilhados das igrejas góticas, numa construção concluída em 1906: a Livraria Lello. O
coração da livraria é sua escadaria dupla em
curvas laterais. Tudo ali brilha, e mesmo a informatização não maculou esse templo livreiro
com seus vitrais.
Ali, adquiri alguns clássicos portugueses: A
Velhice do Padre Eterno, que Guerra Junqueiro
escreveu na bela casa barroca transformada no
museu que leva seu nome, e Amor de Perdição,
de Camilo Castello Branco, escrito em 15 dias,
quando o autor esteve preso na cadeia da Relação do Porto. Da livraria, segui pela rua das
Carmelitas para tomar chá no Café Majestic,
uma antiga confeitaria em encantador estilo
neoclássico. Entre uma taça de chá e uma torrada, vou folheando Amor de Perdição, com o
cenário em volta de igrejas e prédios do tempo
em que Castello Branco narrada os amores do
personagem Simão Botelho com sua adolescente namorada.
Forte centro comercial e industrial de Portugal, não é de admirar que
a sede da Câmara de Comércio e Indústria ocupe um palácio tão imponente como é a Bolsa, na Cidade Antiga do Porto. O palácio foi construído sobre um convento, o de São Francisco, destruído num incêndio
na metade do século 19. O Pátio das Nações, coberto com uma cúpula
de vidro, foi o claustro dos frades franciscanos e, no friso junto à cúpula, vêem-se 20 escudos de diferentes países, incluindo o Brasil, com os
quais Portugal negociava quando a Bolsa foi
inaugurada.
No andar superior, na Sala dos Retratos
dos últimos cinco reis de Portugal, eis dom
Pedro IV, o nosso dom Pedro I. Ele viveu na
cidade de Porto por mais de um ano, a partir de 1832, liderando as forças liberais que
lutavam contra seu irmão dom Miguel, com
o objetivo de garantir o trono para sua filha
Maria da Glória, a futura rainha dona Maria
II de Portugal. O galante dom Pedro foi um
rei respeitado durante o pouco tempo em
que interferiu no destino de seu país de nascimento, pois morreu em 1834, aos 36 anos.
Seu coração está no Porto, transformado em
pele ressequida, exposto numa urna na Igreja
da Lapa, localizada num largo entre as ruas
Antero de Quental e Paraíso.
Chega o momento de fazer uma pausa,
pois essas visitas que emocionam também
cansam. Desço a colina em direção à Ribeira,
entre ruelas de prédios antiquíssimos. A guia
me tranquiliza: estamos perto do Pestana
Porto Carlton Hotel, à margem do Douro, onde vamos almoçar. Esse hotel surgiu de uma
moderna adaptação arquitetônica de 11 antigos sobrados. Ao andar por suas salas, de vez
em quando um degrau marca a passagem de
uma para outra das casas originais. Do restaurante, se vê o Douro e a Vila Nova de Gaia
do outro lado.
E a ementa? O cardápio é inspirado na nouvelle cuisime do século 21,
com o aproveitamento dos peixes da temporada de primavera. Assim,
reina absoluto o robalinho grelhado com manteiga de camarão, guarnecido com batata torneada e legumes, seguido de queijos portugueses,
vinho do Porto e uma tortinha folhada em formato de maçã, acompanhada de gelado de baunilha. Uma delícia da nova cozinha portuguesa,
com certeza.”
Boas maneiras & sucesso nos negócios
Nos meios acadêmicos, já está sendo manifestada a preocupação com os modos dos jovens
egressos da universidade ao enfrentar o mercado de trabalho. Alguns não se preocupam, outros não tiveram uma boa educação, por falta
de recursos. A faculdade, dando o embasamento
para desenvolver o potencial intelectual e técnico de seus alunos, também cria neles uma
maior consciência da importância de sua aparência e das maneiras de se relacionar como traços de civilidade para o intercâmbio profissional
mais fluido.
O aprimoramento das boas maneiras é incluído nas aulas de treinamento de pessoal nas
empresas. Nos Estados Unidos, a própria universidade está começando a promover cursos
de extensão, ministrados por técnicos em comportamento. Todo contato profissional é feito
através de uma relação interpessoal e, por isso,
na avaliação de um executivo, somam suas boas maneiras, o grau de cortesia de um executivo,
somam suas boas maneiras, o grau de cortesia e
o visual correto.
Na competição do mercado de trabalho, entre
dois candidatos com igual capacitação técnica,
tem maoires chances aquele com boa apresentação e trato agradável. A prática das boas maneiras, tanto na vida pessoal como profissional,
representa uma vantagem para o sucesso, o explica o grande interesse dos jovens executivos pela etiqueta, quando ascendem ao mundo dos negócios.
Após um período em que os bons modos foram esquecidos, em consequência da perda dos valores formais _ na década dos hippies, ser
moderno era ser irreverente _ na Europa e nos Estados Unidos, a imagem pessoal do executivo está sendo valorizada pelos profissionais com
auto-estima fortalecida.
Estudiosos da área comportamental atribuem a carência de boas
maneiras à mesa ao fato de, com pai e mãe trabalhando fora, ter se reduzido o convívio familiar nas horas de refeições. é comum as crianças
comerem diante da televisão, sentadas numa poltrona. Antes, além de
observar como os pais comiam, ainda eram corrigidas por eles, no modo de pegar garfo e faca.
Há um outro fator a contribuir no descompasso entre o nível profissional atingido e a formação cultural: o progresso rápido nos negócios.
Técnicas de negociação fazem parte do currículo universitário, o aspecto formal do relacionamento entre as pessoas, não. Este é adquirido e
cultuado através da observação do comportamento dos mais experientes, tanto em encontros sociais como profissionais.
Ética e Etiqueta
Na dinâmica do mundo de negócios, a etiqueta integra-se ao exercício
da ética profissional que pauta as relações em todos os níveis de trabalho em diferentes latitudes. Isto explica sua inclusão nos treinamentos
de pessoal e a presença dos livros sobre etiqueta profissional e assuntos
de comportamento nas estantes das livrarias americanas, lado a lado,
com os títulos de Economia e Administração de Empresa.
É na conceituação da ética como filosofia que melhor se deduz a importância da prática da etiqueta e do que significa para o desenvolvimento das potencialidades do indivíduo, à medida que confere segu-
rança em seus relacionamentos.
A palavra ética é de origem grega, vem de
ethos, que significa comportamento. Como
explicação dos atos morais através de manifestações da consciência, a ética chega à metafísica dos costumes. Ela mexe com a moral
que parte do núcleo da liberdade pessoal,
projetando-se nas formas de agir do homem
na sociedade. Roubar e matar são atos que
infringem no mais alto grau as leis morais.
Jacques Maritain define a ética como filosofia da ação dos atos humanos, aplicável ao
comportamento do indivíduo em diversos
níveis, agindo corretamente em relação a si
próprio e ao seu semelhante. Assim, é falta
de ética profissional não cumprir um contrato entre cavalheiros, feito em confiança, sem
comprometimento jurídico. Como é antiético
entregar um produto de qualidade inferior
ao do mostruário.
A ética e a etiqueta tratam de comportamento e sua diferença é de nível de ação. A
etiqueta como código de regras que regem o
comportamento do ser social fica num nível
mais superficial. É a forma e o jeito de ele se
conduzir de acordo com normas pré-estabelecidas numa sociedade visando ser agradável aos outros. É a cortesia. Uma pessoa que
não responde ao cumprimento de um companheiro de trabalho que chega pela manhã ao escritório, além de manifestar falta de educação, está sendo agressiva. Quem não cuida de seu
asseio corporal e cheira mal, também agride e desrespeita o próximo.
História da Etiqueta
O fato de a etiqueta ser associada ao formalismo e a atitudes estereotipadas deve-se à sua estruturação como código de boas maneiras na
corte francesa, no século XIII, atingindo seu apogeu no século XVII, na
Versailles de Luiz XIV. Nesta época, começou a ser empregada a palavra
etiquette por causa das etiquetas distribuídas aos nobres quando chegavam à cour (pátio). Continham instruções de como se portar e ao lugar
a ocupar numa festa ou cerimônia de acordo com o protocolo.
A preocupação em fixar regras de conduta externa remonta às cortes
da Antiguidade. O livro mais antigo de comportamento está na Biblioteca Nacional, em Paris, escrito por volta de 2400 A.C. pelo faraó Ptahhotep, em folhas de papiro com recomendações ao seu filho de como se
comportar para melhor governar. Gregos e romanos cultivam os bons
modos e também na China existiu sempre esta preocupação.
À medida que as cidades evoluíram e a burguesia passou a imitar o
comportamento das cortes, novos conceitos de civilidade e trato social
foram sendo implantados. Coube ao filósofo Erasmo de Rotterdam escrever o primeiro tratado de boas maneiras da era cristã, em 1530. Chama-se De civilitate morum puerilium (Da civilidade em crianças), de
grande repercussão na Europa e traduzido em várias línguas em centenas de edições. A recomendações de cuidados externos com o corpo, de
olhar nos olhos do interlocutor quando se fala _ “Os olhos são o espelho
da alma”, dizia Eramos _ consta neste tratado.
É no comportamento à mesa que melhor se observa a mudança dos
conceitos de elegância nos gestos. Se Erasmo recomendava ao comensal
que não fosse o primeiro a se servir da travessa oferecida pelo pajem,
aconselhava também o modo de comer com as mãos, pois o garfo trazido no século XI para Veneza, por uma princesa bizantina, só entrou em
uso corrente séculos depois.
Com a colher e a faca servia-se o alimento da travessa para o prato,
comum a dois comensais, e tanto o camponês como o rei comiam com
os dedos. O nobre, por suas maneiras mais refinadas, usava apenas três
dedos, como uma pinça, para levar a comida à boca. Erasmo, ao ensinar
a distribuição dos utensílios à mesa, recomendava a faca à direita do
prato e o pão à esquerda, o que persiste até hoje.
Quando D. João VI se transferiu com a corte de Lisboa para o Rio de
Janeiro, houve maior necessidade, no Brasil, de um livro de etiqueta.
Nova arte do cozinheiro e do copeiro foi publicado por Eduardo & Henrique Laemmert e vendido na casa da rua da Quitanda 77. Fazer ruído mastigando ou bebendo era uma das proibições. Um jantar que se
prezasse deveria ter um cardápio dividido em várias partes chamadas
ceias, cada uma com sete opções de pratos, inclusive a das sopas.
Usos e costumes são mutáveis e as maneiras diferenciam-se de acordo com a geografia e as mentalidades. Estas, iluminadas por novos conhecimentos e fatores sócio-econômicos, acompanham a dinâmica de
seu tempo e infringi-las sempre causa má impressão. Na pratica da etiqueta e do saber viver é o bom senso que prevalece, especialmente nos
relacionamentos onde existe uma hierarquia, realizados em função de
um objetivo comum: o trabalho.
Com a globalização e a queda das fronteiras dando origem a uma nova política econômica e maior interação cultural entre os países, surgiu
um novo perfil de empresário que substituiu o autoritarismo tradicional pelo menor formalismo e abertura de um diálogo mais franco com
o pessoal por ele liderado.
Na moderna sociedade, a colaboração é mais valorizada que a obediência e os subordinados são tratados como companheiros de trabalho,
parte de um mesmo organismo.
O executivo que cultiva um perfil de todo-poderoso, com a maior
ampliação de seu campo de interesses para viabilizar a atividade econômica, precisou partir da especialização para a multifuncionalidade. Ele
não deve entender apenas de seu ramo, mas precisa ter uma noção da
realidade que o cerca para nela inserir suas ideias e seus produtos. Na
mesa de reuniões de uma empresa, o líder e seus assessores imediatos
devem exercitar conhecimentos gerais: o diretor de finanças sabe um
pouco de marketing, o marqueteiro já estagiou no setor financeiro.
O mundo do século XX é multifuncional e o avanço dos meios de comunicação fez com que as distâncias desaparecessem. A informação da
queda da bolsa em Wall Street é recebida na mesma hora pelo homem
de negócios que trabalha num escritório em São Paulo e o industrial
em Novo Hamburgo.
O executivo é um cidadão internacional que preserva as características culturais em seu estilo pessoal, mas assume, no trato profissional,
um comportamento pautado por uma visão global. Só assim manterá
um diálogo fértil e terá sucesso ao objetivar seu programa. Ser bilíngue
se tornou importante. O estabelecimento das parcerias com empresas
estrangeiras torna cada vez mais impositivo falar o inglês, idioma internacional.
Quanto maior o conhecimento de línguas mais fácil se tornam os
contatos e a conquista de prestígio.
Perfil do brasileiro
O Brasil não desfruta de uma tradição empresarial significativa, nem
possui uma cultura já formada neste sentido. Empresários que lideram
grandes grupos no país, com uma trajetória reconhecida, lembram que
nossa abertura comercial para a esfera internacional começou no final
da década de cinquenta. Novos níveis de comportamento foram sendo
atingidos pelos executivos brasileiros, não só através de contatos mais
frequentes com negociadores do Primeiro Mundo como pelo convívio
com os executivos de multinacionais que passaram a operar no Brasil.
Na Europa e nos Estados Unidos, houve radicais modificações no relacionamento comercial e esta evolução ocorreu muito em função da
ascensão da mulher nos escritórios e da maior competição. Esta mudança de mentalidade refletiu-se nas maneiras e na aparência dos empresários brasileiros que, absorvendo o estilo europeu mais discreto de
vestir, passaram a aperfeiçoar o trato social como um ponto de sedução
na consumação de seus negócios.
A criatividade do brasileiro, reconhecida pelos parceiros estrangeiros,
é estimulada pela conjuntura ambiental, cujas mudanças das regras de
jogo são uma constante. Isto pode se transformar em qualidade de atuação num mercado financeiro de alto risco, mas também numa visão a
curto prazo que propicia falta de objetividade e perspectiva futura.
A exuberância latina desperta simpatias, mas arrisca gerar algumas
situações de constrangimento no exterior. Falar alto tanto em reuniões
de trabalho como nos restaurantes é uma das nossas tendências. Falta
de pontualidade, outra.
No Japão, país com uma cultura empresarial modelo no mundo moderno, tal comportamento causa a maior estranheza. Enquanto o japonês, numa reunião, vai direto ao assunto e comparece com o briefing
completo, o brasileiro, em geral, fala sobre outras coisas antes de entrar
no que interessa.
Boas maneiras
Em diferentes áreas, para a abordagem da etiqueta profissional, é
preciso ter uma visão filosófica das relações dentro da empresa, desta
com outras e com o consumidor. Num mundo altamente competitivo,
a população de uma firma deve ser de pessoas bem-educadas. Não só
os executivos que ocupam elevados cargos, mas também os funcionários mais simples _ igualmente importantes _ precisam desenvolver
o trato agradável que propicia o bom desempenho da organização em
nível interno e externo. É a imagem de todo um grupo que está sendo
projetada.
A análise da cultura de uma organização, a natureza dos negócios
a que se propõe, o produto que vende, o tipo de profissionais que nela
atuam e seu público determinam o perfil de seus funcionários no que
se refere à aparência. O exemplo mais elucidativo é de uma indústria de
roupas para surfistas, toda descontração, e uma metalúrgica. Muda o
estilo de roupa, mas é comum a correção do traje e a cortesia.
No próprio informalismo que impera em muitas empresas jovens,
com a hierarquia e a autoridade exercidas democraticamente, há necessidade de tato e respeito do funcionário em relação ao seu chefe. O tratamento é franco, mas a hierarquia é incontestável e o feeling, para não
avançar o sinal na intimidade com o chefe, deve ser bem desenvolvido.
No escritório, onde os chefes abrem mão de relação tradicional e do
tratamento de senhoria, mais sutil será uma relação franca sem quebrar
o respeito devido a quem foi conferida autoridade. O bom senso, aliado
às boas maneiras que preservam a liberdade pessoal, é fundamental na
adoção dos critérios para as relações no trabalho.
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