O PERFIL DO PROFESSOR DO HOSPITAL – EM UM OUTRO
CONTEXTO, UM NOVO DESAFIO
TUFFI, Edson Bucko – SEED – PR
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Eixo Temático: Pedagogia Hospitalar
Agência Financiadora: Não contou com financiamento
Resumo
O trabalho do professor é essencial para uma educação de qualidade no âmbito hospitalar.
Assim sendo, ao se realizarem seleções de profissionais destinados a este fim, buscam-se
qualidades que são fundamentais para um bom desempenho na tarefa de educar dentro do
hospital. Este texto visa relatar as qualidades necessárias em um profissional da educação,
seja ele pedagogo ou professor, a partir da vivência no cotidiano do trabalho pedagógico
realizado na APACN (Associação Paranaense de Apoio à Criança com Neoplasia) e no
Hospital do Trabalhador, ambas unidades conveniadas ao programa SAREH (Serviço de
Atendimento à Rede de Escolarização Hospitalar) da SEED – Secretaria de Estado de
Educação do Paraná. Descreve o perfil esperado do professor que atuará no ambiente
hospitalar feitas a partir da observação dos próprios profissionais atuantes no programa e da
literatura específica, aliando-se assim, teoria e prática, a fim de descrever as qualidades
necessárias do profissional da educação que pretenda educar no ambiente hospitalar. Neste
contexto, vamos discutir a atuação do professor frente a alguns princípios educativos
específicos, como a afetividade, a escuta pedagógica e a humanização. Vamos apresentar
alguns dos desafios do trabalho pedagógico e discutir a atuação do professor em função do
tempo da criança hospitalizada, que é diferenciado neste contexto em relação ao da escola de
ensino regular. Também destaca-se a discussão sobre a importância de um trabalho voltado
para a melhora da autoestima do aluno paciente. O objetivo é apresentar as qualidades
essenciais do profissional da educação no ambiente hospitalar, sem a pretensão de afirmar que
são as únicas qualidades necessárias, pois, conforme as demandas futuras da educação
hospitalar, outras poderão ser requeridas e descritas na literatura específica.
Palavras-chave: Professor. Educação hospitalar. Aluno paciente. Afetividade.
Introdução
Imaginemos como se sente uma criança ou adolescente que, numa determinada época
de sua vida, recebe um diagnóstico médico de doença que requer a internação como
necessidade inevitável para o seu tratamento. Isto implica num afastamento deste indivíduo de
seu convívio social e familiar, inserindo-o num contexto hospitalar, que se configura numa
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realidade totalmente diferente da que estava acostumado. É a passagem da “vida normal” para
a rotina hospitalar. É a inserção no mundo do desconhecido, das incertezas e da insegurança
de um tratamento de saúde.
Considerando esta nova realidade, a criança estará sujeita a um estresse gerado pela
internação e pelo tratamento de saúde. Haverá, portanto, a necessidade de superação deste
estresse, além da adaptação a uma nova rotina, marcada por procedimentos médicos, muitas
vezes, dolorosos e invasivos, para o restabelecimento de seu estado de saúde.
Todo este contexto de exclusão da sua vida social para uma inserção no mundo do
hospital faz com que a criança ou adolescente desenvolva uma baixa autoestima que também
deverá ser superada ao longo do tratamento de saúde para que este seja mais eficaz.
“A hospitalização distancia a criança de suas atividades cotidianas, podendo
contribuir para seu maior adoecimento. Enquanto ser humano em contínuo processo
de desenvolvimento, este fator pode prejudicar a criança na constituição de sua
subjetividade. A própria doença debilita e causa sofrimento ao impedir a criança de
se movimentar e desempenhar as tarefas diárias, afetando sua auto-estima. Isso pode
fazer com que a criança se entregue aos sintomas da enfermidade, alimentando seu
sentimento de impotência diante da dor, o que dificultará sua recuperação.”
(FONTES, 2008)
O internamento fará com que a criança ou adolescente se afaste da escola, gerando
interrupção em seu processo de aprendizagem formal, podendo ocasionar um atraso em sua
vida escolar e em seu processo de aquisição de conhecimentos.
Em atenção a estas e outras necessidades do indivíduo hospitalizado, o Ministério da
Saúde criou as políticas de humanização. Nelas, são propostas uma série de ações que visam
melhorar as relações entre profissionais de saúde e pacientes, fazendo com que os serviços
prestados pelas instituições de saúde sejam mais eficientes e de mais qualidade. Desta forma,
muitos hospitais criaram seus departamentos de humanização, visando atingir os objetivos
propostos pelo Ministério da Saúde e visando, também, garantir os direitos básicos do
cidadão, mesmo em situação de internamento hospitalar.
Se considerarmos a criança ou o adolescente, certamente lembraremos que, o processo
de escolarização é um direito básico garantido por lei. Porém, até pouco tempo, este direito
não era ofertado ao indivíduo que se encontrava internado no hospital. Assim, os
departamentos de humanização dos hospitais começaram a formar equipes de escolarização,
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ou estabelecer convênios com secretarias de educação de municípios ou estados, ou até
mesmo com instituições de ensino particulares, para atuar com crianças e adolescentes em
idade escolar que estavam internados.
Devemos considerar que,
“Uma escola no hospital permite à criança doente conservar os laços com sua vida
anterior à internação. É um lugar neutro, resultado de um projeto de futuro, pois a
criança, depois da sua hospitalização, retomará sua vida normal de criança. A classe
agrupa crianças de idades diferentes: o professor desenvolve com elas uma
pedagogia tendo em conta ao mesmo tempo a capacidade psíquica das crianças
doentes e seus diferentes níveis de escolaridade.” (Reiner-Rosenberg, 2003, p. 21)
Neste contexto, a educação hospitalar é uma forma de humanizar, que visa garantir o
direito do aluno paciente ao prosseguimento dos seus estudos, e ajuda na melhora de sua
autoestima, pois assegura a esta criança, estabelecer laços de afetividade com outras crianças,
com o professor e com o pedagogo. A educação hospitalar garante ao aluno paciente a
apropriação de conhecimentos significativos à sua vida dentro e fora do hospital e o mantém
em constante desenvolvimento cognitivo. Assim, a escolarização dentro do hospital torna-se
uma importante aliada no restabelecimento da saúde do aluno paciente através da melhora da
sua autoestima, pois, ao garantir seu direito à educação, faz com que ele se torne mais
confiante e seguro.
Sendo assim, o professor tem um papel importantíssimo na execução deste processo e
sua atuação é fundamental para o sucesso das relações de ensino aprendizagem dentro do
hospital. Portanto, ao se candidatar a uma vaga para atuar na educação hospitalar, o professor
deverá estar consciente do que lhe será exigido ao desempenhar esta função. Para que seu
trabalho atenda às expectativas do referido serviço, é necessário que ele possua um perfil
próprio para este fim. Não é tarefa fácil apontar as características necessárias para um
professor para que ele seja competente na tarefa de educar no ambiente hospitalar, porém,
vamos enumerar algumas qualidades que são essenciais para que tenha sucesso na execução
de tal tarefa. São elas:
a) Estrutura emocional;
b) Saber trabalhar em grupo;
c) Iniciativa e dinamismo;
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d) Ética profissional;
e) Afetividade no trabalho pedagógico;
f) Realizar a escuta pedagógica;
g) Ajudar a elevar a autoestima da criança hospitalizada;
h) Ser um pesquisador e adaptar-se a diferentes metodologias;
i) Capaz de realizar adaptações curriculares de pequeno porte;
j) Ser comprometido com o serviço.
Quando se relacionam tais qualidades, não se deve entender que apenas o professor da
educação hospitalar deva possuí-las. São características inerentes a qualquer profissional da
educação, independentemente do local onde esteja atuando. Porém devemos entender que não
poderão faltar ao professor que pretenda educar no hospital, tal a especificidade deste campo
de trabalho.
Desenvolvimento
As relações humanas e de trabalho no ambiente hospitalar
Ao pensar em atuar dentro do hospital, o professor deverá imaginar as situações
cotidianas que irá presenciar. As crianças e os adolescentes internados podem apresentar
diversas patologias, as quais subentendem diferentes sintomas e aspectos físicos variados,
muitas vezes desagradáveis aos olhares alheios. É necessário enxergar o aluno paciente como
um ser humano dotado de sentimentos e emoções, e que deverá ser tratado com dignidade e
respeito para que se mantenha com elevada autoestima a fim de melhorar sua saúde física e
mental.
Outro aspecto importante é estar sempre preparado para enfrentar as situações que
envolvem a morte. Alguns alunos pacientes apresentarão patologias de difícil cura, o que
poderá acarretar num fracasso na luta contra a doença. Assim como médicos e enfermeiros, o
professor também poderá conviver com esta realidade e deverá enfrentá-la de modo a não se
desestimular de sua tarefa diária de educar no hospital. É preciso pensar que outras crianças o
esperam e dependem do seu estímulo para aprender e manter sua esperança da cura.
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Quando se pensa em hospital, logo se imagina a presença de médicos, enfermeiras,
psicólogas, enfim, apenas profissionais de saúde. Não faz muito tempo que o professor e o
pedagogo estão inseridos neste contexto e passaram a exercer seu papel de educar também
dentro do hospital. Mas é preciso entender que todos estes profissionais terão a criança
enferma como objeto de trabalho, e, consequentemente, deverão trabalhar em união para obter
os melhores resultados. A este grupo de profissionais (os de saúde e os de educação) atuantes
no hospital, chamamos de equipe multidisciplinar. É preciso que o professor tenha ótima
capacidade de trabalhar em grupo, pois terá que desenvolver suas tarefas em união com os
demais membros da equipe, todos colaborando para a saúde física e mental da criança ou
adolescente hospitalizado.
Também é necessário lembrar que, na maioria dos hospitais, o professor não trabalhará
como único responsável pela tarefa de educar. Outros professores e pedagogos farão parte de
uma equipe educacional. Portanto, é necessário saber trabalhar em grupo para que sejam
tomadas decisões de cunho pedagógico que venham de encontro às necessidades do aluno
paciente. É fundamental que o grupo decida como serão realizadas as abordagens para
concretizar o ato de educar dentro do hospital da melhor forma possível.
O foco do trabalho educacional no hospital é o aluno paciente. Muitos deles tem a
possibilidade de levantar da cama e se locomover pelos corredores, enquanto outros precisam
ficar deitados o tempo todo. Assim sendo, o professor deverá ter a iniciativa de ir ao encontro
do aluno paciente e detectar a melhor forma de concretizar o ato de ensinar. Não se deve
esperar que outros façam este trabalho de aproximar o educando do educador. Por isto o
professor do hospital deverá ter iniciativa e ser alguém dinâmico, disposto a percorrer longos
corredores, entrar em cada quarto e dialogar com as crianças e acompanhantes em seu leito,
saber da sua realidade de saúde e de escolarização, preparar atividades diferenciadas para este
contexto, agrupar as crianças, quando possível, para realizar atendimentos, preparar pareceres
pedagógicos quando a criança tiver alta do hospital, entrar em contato com a sua escola de
origem, quando for o caso, e muitas outras atribuições que poderão ser-lhe conferidas ao
longo de sua permanência na função.
O professor deverá ser coerente em todas as suas relações de trabalho, tanto no que se
refere aos demais profissionais da educação do hospital, assim como médicos, enfermeiras,
psicólogos, assistentes sociais, funcionários, alunos pacientes e seus acompanhantes. A ética
deve acompanhar qualquer profissional ao longo de sua carreira e quando se trata de
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educação, esta qualidade não poderá estar ausente. É preciso ter cuidado com a forma de
abordagem e as informações prestadas aos pais dos alunos pacientes. Uma informação errônea
ou inconveniente pode gerar transtornos no relacionamento entre pessoas e interferir na
autoestima do aluno paciente, prejudicando-lhe no seu tratamento. Assim, o professor deverá
se ater apenas aos assuntos que são relevantes na sua função de educador, deixando de lado
tudo que possa afetar a tranquilidade do aluno paciente e seus acompanhantes.
É preciso respeitar os demais profissionais atuantes no hospital, não interferindo em
suas funções ou depreciando-os. É importante saber dialogar e estabelecer relações de
trabalho que sejam organizadas e coerentes, respeitando o espaço de atuação do outro. É
fundamental que regras sejam estabelecidas e cumpridas pensando-se, sempre, na manutenção
de um ambiente de relações saudáveis.
As relações humanas entre professor e aluno paciente
Quando pensamos em educação hospitalar, devemos considerar uma série de fatores
que tendem a melhorar a autoestima do aluno paciente, tornando-o mais receptivo e
interessado, ajudando-o a compreender, de forma mais efetiva, os conteúdos propostos. Um
destes fatores é a afetividade. Ao trabalhar num ambiente hospitalar, com crianças internadas
e afastadas do seu convívio social, o professor deve respeitar o seu estado de saúde e também
seu estado psicológico, tratando o aluno paciente com o máximo possível de carinho e
atenção, ouvindo o que ele tem a dizer e mostrando a ele o quanto é importante como ser
humano e o quanto sua vida é única e valorosa.
“A afetividade é uma dimensão de nosso pensamento tão essencial quanto o
pensamento. Os médicos costumam dizer que quando o corpo cala, os órgãos falam.
A afetividade nos constitui, ela se identifica com nosso próprio pensar e nos
identifica como pessoas. Amores, paixões, gostos, interesses, rejeições, repulsas,
ódios e rancores, tudo isso forma o ser humano e dele é inseparável. Não há
distância entre o homem e seus sentimentos.” (VASCONCELOS, 2007)
Quando trabalhamos no sentido de cativar o aluno paciente, fazemos com que ele abra
seu coração e sua mente para a inserção de novos conceitos, assim o professor poderá realizar
seu trabalho pedagógico de maneira mais concreta, tendo como resultado final, momentos de
avaliação onde perceberá que a criança obteve uma maior aquisição de conhecimentos.
Portanto, a afetividade se torna um fator essencial no trabalho pedagógico hospitalar, de modo
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que o professor deverá engajar-se na filosofia da unidade em que atua, conhecendo-a e
participando de seus projetos, a fim de conhecer as características dos seus pacientes, e assim,
agindo de forma a conquistar a confiança e o respeito da criança ali internada.
Outro fator importante na educação hospitalar é a escuta pedagógica.
“Quando propomos uma escuta pedagógica à criança hospitalizada, estamos
propondo lançar um novo pensar à atenção de saúde da criança que está doente e
vivencia a internação hospitalar. Sua vida não só continua em processo de aquisição
de aprendizagens formais, como tem no seu desenvolvimento intelectual uma
importante via de apropriação compreensiva do que lhe acontece no hospital e na
estimulação cognitiva, uma instalação do desejo de vida, que pode repercutir com
vontade de saúde para o restabelecimento ou para a produção de modos positivos de
viver, uma vez que o aprender se relaciona com a construção de si e do mundo.”
(CECCIM, 1997)
A criança, quando é afastada de seu convívio social para tratamento de saúde, revela
uma série de incertezas e dúvidas, geradas pelo desconhecido. Assim, quando o professor se
faz presente no cotidiano desta criança, naturalmente surgem perguntas e questionamentos, ou
histórias que elas desejam nos contar, e para as quais não devemos fechar os ouvidos e nossa
mente. É neste momento que o professor tem uma grande oportunidade de efetivar um
trabalho pedagógico prazeroso com o aluno paciente. Através de perguntas ou histórias
contadas por ele, o professor poderá transformar este momento em uma aula, esclarecendo
suas dúvidas, explicando sobre os termos técnicos utilizados pelos médicos, relacionando suas
histórias com os conteúdos de sua disciplina e, através do método dialógico, transmitir-lhe
conhecimentos que serão apropriados mais facilmente devido ao interesse pelo assunto em
questão. Esta é a verdadeira escuta pedagógica. Através dela podemos despertar o interesse do
aluno pelo conteúdo proposto, mesmo que, neste momento, seja necessário realizar uma
adaptação de pequeno porte, substituindo a atividade previamente preparada, pelo diálogo e a
readequação dos conteúdos ao que o aluno paciente propôs através de suas perguntas ou
histórias.
Ao ser atendido por um professor e uma pedagoga, a criança ou adolescente se sente
mais humanizado e importante para a sociedade, e tem seu direito fundamental à educação,
concretizado mesmo num ambiente onde outrora nunca se havia pensado em educar. Assim,
através do conhecimento e do diálogo, o professor pode atuar no sentido de elevar a
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autoestima do aluno paciente, ajudando-o a enfrentar o tratamento com coragem e tornando
sua estadia no hospital um momento de reflexão e aprendizagem.
Toda criança tem direito garantido ao prosseguimento dos estudos mesmo em situação
de doença ou internamento. Em alguns casos a criança chega a ficar internada durante meses
sem atividade alguma, apenas deitada em seu leito e muitas vezes, sem ter nem sequer uma
pessoa que a acompanhe. Assim, quando o professor vai até o aluno em seu leito e o faz viajar
pelo mundo do conhecimento, o aluno torna-se mais socializado, sente-se mais humanizado e
consegue desenvolver sua aprendizagem de forma prazerosa e efetiva. Neste contexto, é
importante que o professor seja um estimulador, um educador na essência mais profunda de
seu significado, pois assim conseguirá despertar o interesse do aluno pela aprendizagem, pelas
atividades de fixação do conteúdo e atividades avaliativas, fazendo com que o aluno aprenda
o conteúdo proposto e adquira gosto pela aprendizagem.
O professor e sua adaptação a um trabalho pedagógico diferenciado
Ao ingressar em uma nova dinâmica de trabalho, o professor, assim como qualquer
outro profissional, irá se deparar com uma realidade diferente, repleta de novos desafios. É
preciso descobrir novos métodos, novas formas de trabalhar, novos conceitos e teorias, pois o
trabalho no hospital poderá exigir do professor atuar através de metodologias diferentes,
abordando os conteúdos de forma interdisciplinar e contextualizada, lecionar em turmas
multisseriadas, realizar avaliações em novas perspectivas (considerando as limitações físicas
do aluno paciente, por exemplo) ou elaborar atividades diferenciadas das que estava
acostumado.
Além disto, existem programas de educação hospitalar como o SAREH (Serviço de
Atendimento à Rede de Escolarização Hospitalar) da SEED (Secretaria de Estado da
Educação) do Estado do Paraná em que o professor é responsável por áreas de conhecimento
ao invés de uma única disciplina. Assim sendo, é necessário muito estudo e pesquisa para
lecionar conteúdos de disciplinas nas quais o professor não é formado. Nesse caso, seu
esforço deverá ser redobrado, pensando sempre no melhor ensino para o aluno paciente.
Além destas situações, poderão surgir outras em que o professor deva pesquisar, como
por exemplo, a patologia clínica dos seus alunos e suas formas de tratamento, a realidade
socioeconômica da clientela do hospital, entre muitas outras, que o ajudarão a desempenhar
melhor suas funções, pois propicia melhor conhecimento do seu aluno paciente.
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Portanto, espera-se que o professor seja um pesquisador, para que bem conheça seus
novos alunos e sua realidade, pois ao atuar num serviço de atendimento hospitalar, o professor
deverá ter consciência das condições em que se encontra o aluno paciente. Trabalhamos com
alunos inseridos numa realidade totalmente diferenciada do contexto escolar. Assim,
precisamos considerar algumas questões cruciais em seu desenvolvimento acadêmico, como:
as condições de saúde ou do tratamento que podem não favorecer a aprendizagem;
a temporalidade que é diferenciada da escola regular, fazendo com que o aluno
paciente tenha menos tempo de permanência com o professor, devido a
procedimentos médicos, administração de medicamentos ou indisposição;
os conteúdos que podem ser excessivos e alguns sem significância em seu contexto
de vida;
a autoestima baixa, devido às incertezas do tratamento de saúde;
o isolamento do seu convívio social imposto pelo internamento.
Desta forma, precisamos compreender estes e outros fatores que poderão surgir no
decorrer do internamento e realizar as adaptações que se fizerem necessárias para superar as
dificuldades e se fazer concretizar o ato educativo no ambiente hospitalar. Assim,
(...) o professor precisa estar preparado para lidar com as referências subjetivas do
aluno, e deve ter destreza e discernimento para atuar com planos e programas
abertos, móveis, mutuantes, constantemente reorientados pela situação especial e
individual de cada criança, ou seja, o aluno da escola hospitalar (FONSECA, 2003
p. 26).
Chamamos de adaptações curriculares de pequeno porte aquelas em que o professor é
o agente exclusivo de sua execução, não necessitando de interferência nas esferas política,
administrativa ou técnica. Elas podem abranger modificações na metodologia, na
temporalidade, nos objetivos e na seleção dos conteúdos.
Ao se considerar os fatores acima, verificamos a necessidade de se proceder mudanças
na metodologia de ensino para a devida adaptação às condições do aluno paciente. Não se
pode imaginar a possibilidade de se ensinar da forma tradicional, com aulas expositivas,
exercícios ou extensos trabalhos manuscritos de pesquisa no ambiente hospitalar. Em muitos
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casos a criança encontra-se impossibilitada, até mesmo, de escrever, pois poderá estar com o
braço engessado, ou com acessos ou administração de soro. Desta forma, ao verificar estas
limitações, o professor deverá ser flexível a novas dinâmicas de trabalho e adotar outros
procedimentos para que a aquisição do conhecimento ocorra sem prejuízos acadêmicos.
Também poderá utilizar recursos pedagógicos que auxiliem na aprendizagem, como o acesso
à internet através do notebook, o uso de livros de literatura ou didáticos, jogos, vídeos, fotos,
maquetes, entre outros. Assim, toda vez que for preciso, o professor deverá se adaptar às
condições físicas do aluno paciente e proceder as modificações metodológicas necessárias
para que a aprendizagem possa ocorrer de forma efetiva.
A temporalidade é um fator fundamental no trabalho pedagógico hospitalar. Ao ser
internado, o aluno paciente estará sujeito a procedimentos médicos e de enfermagem a
qualquer momento, sendo que o professor deverá dar prioridade ao trabalho dos profissionais
de saúde. Também devemos considerar que, nem sempre, a aluno paciente estará em boas
condições físicas ou clínicas para receber atendimento pedagógico, devendo, este, ser
realizado em outro momento. Portanto, é necessária a compreensão da temporalidade
diferenciada no ambiente hospitalar, fazendo com que o professor respeite as condições de
saúde do aluno paciente e compreenda que o tempo de contato com ele será menor do que na
escola regular, porém, assegurando que, através de um trabalho pedagógico coerente, não haja
prejuízo à sua aprendizagem.
Considerando, principalmente, a questão da temporalidade, o professor deverá
selecionar os conteúdos que serão trabalhados, privilegiando os que forem essenciais ao
desenvolvimento acadêmico e relevantes na prática social do aluno paciente.
A educação hospitalar tem suas características próprias, uma especificidade que a faz
peculiar. É fundamental que o professor, ao se candidatar a ingressar neste serviço, conheça-o
e reflita sobre suas peculiaridades, de forma que sua escolha esteja pautada na certeza de que
tenha aptidão para trabalho no hospital. Só assim será comprometido e o fará com amor e
dedicação, necessários para um bom desempenho em suas funções. É importante o
cumprimento de seus horários de maneira pontual e responsável, além de ser assíduo e,
sempre que necessário, colaborar com os demais membros da equipe na execução de suas
atribuições.
Considerações Finais
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Toda criança ou adolescente que adoece numa fase tão precoce de suas vidas, têm,
além do sofrimento originado pela própria enfermidade, o sofrimento de não poder sair de um
leito de hospital. Esta realidade faz com que, muitas destas crianças ou adolescentes, possuam
um comportamento depressivo e arredio, sendo que a educação será o menos importante.
Neste contexto é que se faz importante a forma de abordagem do professor. Ele deverá ter a
capacidade de cativar a criança e através de atividades que lhe desperte o interesse, consiga
transformar seus momentos de angústia e sofrimento em momentos agradáveis de
aprendizagem e diálogo com o professor.
Nesta perspectiva, atuamos como mediadores do conhecimento utilizando a dialética
como principal ferramenta e objetivamos formar um aluno paciente responsável, e que desta
forma, ao sair da unidade conveniada onde é atendido, ele seja capaz de retornar à escola de
origem e prosseguir em seus estudos com mínimo prejuízo conceitual, afetivo e social. Assim
sendo, atuamos no sentido de promover a humanização do aluno paciente, garantindo-lhe
acesso e cumprimento de seus direitos. Alimentamos, diariamente, a afetividade no trabalho
pedagógico, a fim de propiciar um ambiente de convivência saudável e prazeroso,
aumentando o interesse pelas aulas e ajudando a elevar a autoestima do aluno paciente.
Estabelecemos uma escuta pedagógica, onde permanecemos em constante diálogo, atenção e
compreensão dos problemas relatados por eles, ajudando-os na compreensão dos fatores
relacionados ao seu estado de saúde e encorajando-os na luta contra a doença. Assim,
realizamos um trabalho que vai além da transmissão do conhecimento, alcançando patamares
afetivos e psicológicos, ajudando na recuperação da saúde e na socialização do aluno paciente
ao ambiente em que vive.
Assim, atua o professor no ambiente hospitalar, realizando um trabalho que vai além
do conhecimento isolado, valorizando o ser humano, educando com amor, carinho e atenção.
É preciso compreender e dialogar, ensinar e afagar, aplicar lições de conhecimento e receber
lições de vida.
“O professor hospitalar deve ter a consciência dos monstros viventes na mente das
crianças: o medo, o controle, a mudança e a incerteza. No hospital, tudo é incerteza
para a criança: tiram-lhe as roupas, ela se vê igual às outras, sua mãe acompanhante
se torna igual às outras mães, a criança ignora o que vai fazer, comer, quem vai vê-la
etc. Portanto, consciente dessa nova situação, a intervenção escolar deve se tornar
parte dessa rotina, com muita ética. E ser ético é ser humano, é respeitar limites, é
resgatar o lado saudável da criança, é dar-lhe singularidade.” (VASCONCELOS,
2007)
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Quando realizamos o nosso trabalho de educação no ambiente hospitalar, estamos
cumprindo com um direito legal da criança e do adolescente. Conforme explicitado acima, a
legislação garante ao aluno paciente o direito à continuidade dos estudos dentro do hospital.
Desta forma, estamos respeitando o indivíduo como ser integral. Mesmo internado, ele pode
continuar a estudar, a se comunicar, a demonstrar seus sentimentos, e principalmente, a ser
respeitado na sua condição de ser humano. Assim,
“...a humanização é entendida como valor, na medida em que resgata o respeito à
vida humana. Abrange circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas
presentes em todo o relacionamento humano”. (CALEGARI, 2003)
Portanto, podemos concluir que a afetividade, a escuta pedagógica e a humanização,
são formadas por sentimentos e atitudes que estão intimamente interligados entre si. Ao se
educar no ambiente hospitalar, utilizando como ferramentas a afetividade e a escuta
pedagógica, estamos propondo e realizando um trabalho voltado para a humanização do aluno
paciente, garantindo-lhe, o cumprimento de seus direitos, o respeito à sua condição de saúde,
sua valorização como ser humano e a melhoria de sua autoestima. Assim, estamos
contribuindo, inclusive, para melhorar a saúde do aluno paciente.
Não se pode pensar em educar no ambiente hospitalar sem pensar em atender às
necessidades da criança hospitalizada, garantido o cumprimento de seus direitos e criando
laços de afeto e diálogo a fim de promover uma educação hospitalar de qualidade.
REFERÊNCIAS
CALEGARI, Aparecida Meire. As Inter-Relações entre Educação e Saúde: Implicações do
trabalho pedagógico no contexto hospitalar. Dissertação (Mestrado em Educação),
Universidade Estadual de Maringá. Maringá, 2003.
CECCIM, R.B.; CARVALHO, P.R.A. A Criança hospitalizada: atenção integral como
escuta a vida. Porto Alegre: UFRGS, 1997.
FONSECA, Eneida Simões da. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. São Paulo:
Memnon, 2003.
FONTES, Rejane de Souza. Da Classe à Pedagogia Hospitalar: A Educação para além da
escolarização. Revista Linhas. Florianópolis, v.9, n.1, p 72-92, jan/jun.2008.
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REINER-ROSENBERG, S. O papel das associações para crianças hospitalizadas na
França e na Europa. In: GILLE-LEITGEL, M. (Org.) Boi da cara preta: crianças no
hospital. Salvador: EDUFBA; Álgama, 2003. p. 16-45.
VASCONCELOS, Sandra Maia Farias. Classe hospitalar no mundo: um desafio à infância
em sofrimento. Universidade Federal do Ceará. 2007. Disponível no endereço eletrônico:
http://www.sbpcnet.org.br/livro/57ra/programas/CONF_SIMP/textos/sandramaiahospitalar.htm
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