CRIANÇA: VIDA QUE NOS ENSINA
Chegando o dia 12 de outubro, o mundo adulto se lembra de que as crianças existem. Há bonitos
discursos, o comércio tira seu proveito, movimentam-se as escolas. Também a igreja, que tem a
responsabilidade de ensinar às crianças os preceitos do Senhor, estabelece programas especiais.
Gosto de crianças, entre outras razões, porque elas têm muito a nos ensinar. Analise comigo
algumas qualidades que lhes são peculiares e veja que grandes lições podem resultar para a vida
cristã.
Em toda a Bíblia há referências às crianças. Destacam-se as exortações sobre o cuidado que se
deve ter em ensiná-las: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e quando envelhecer
não se desviará dele”.
Pv 22: 6.
Ao tempo do Antigo Testamento, as crianças já mantinham comunhão com Deus. Ainda que não
fossem conscientes deste fato, elas gozavam da proteção divina. Deus ouviu a voz de Israel
quando ainda era criança, Gn 21: 17. Poupou a vida do menino Moisés na ocasião em que o
Faraó mandou matar todas as crianças do sexo masculino, Ex 2. Samuel era ainda pequeno
quando ouviu a voz de Deus e recebeu o seu chamado para o ministério profético e sacerdotal,
1Sm 3.
No Novo Testamento, Jesus dispensava atenção e empregava tempo para atender as crianças:
“Deixai vir a mim as criancinhas, e não as impeçais”, Mt 19: 14.
Não se pode imaginar a quantidade de lições morais e espirituais que extraímos da vida de uma
criança. Dentre as muitas, veremos algumas que são preciosas para a vida do cristão. O texto de
Marcos 9:33-37 nos traz algumas delas.
Humildade
Jesus e seus discípulos estavam se dirigindo a Cafarnaum. No caminho, houve uma discussão entre
os discípulos, sobre quem seria o maior. Jesus chamou os doze, e lhes disse: “Se alguém quiser ser
o primeiro, será o último e servo de todos”, v. 35. Seu ensino foi reforçado quando Ele disse: “Aquele
que se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no reino dos céus”, Mt 18: 4. Jesus estava
ensinando que a grandeza no reino de Deus é o serviço humilde.
Ninguém discorda de que a criança em si é símbolo de humildade e simplicidade. Sua maneira
de ser fala claramente sobre isto. Uma criança nunca procura ser maior, ou melhor, mas ser o que
é: criança.
A vida cristã deve ser marcada por essa qualidade que é tão recomendada pela Bíblia Sagrada.
Humildade é uma virtude com que manifestamos o sentimento da nossa fraqueza ou de nosso
pouco ou nenhum mérito, e que faz parte de uma personalidade cristã sólida. Ela deve manifestase de maneira voluntária e constante em nossas atitudes, mantendo-nos numa posição de menor:
“... cada um considere os outros superiores a si mesmo”, Fp 2: 3.
Não se identifica uma pessoa humilde pela sua maneira de falar, vestir, etc. Isto não vem ao caso.
Tampouco se pode dizer que uma pessoa bem vestida não seja humilde. De ambos os lados pode
haver engano, tanto de uma falsa humildade como de uma aparente arrogância. “É necessário
que Cristo cresça, e que eu diminua”, Jo 3: 30.
Perdão
Ainda falando os discípulos sobre quem seria maior no reino dos céus, Jesus disse: “Em verdade
vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum
entrarão no reino dos céus”, Mt 18: 3.
“Tornardes como crianças” – o que venha a ser isso? Não quer dizer que temos que nascer de
novo, isto seria impossível, Jo 3: 4-5. Jesus está se referindo ao sentimento de perdão que existe em
uma criança. De sua maneira de ser ou proceder quando é atingida, castigada ou rejeitada,
perdoando com facilidade e naturalidade.
Quando uma criança é repreendida pelos pais ou por outra pessoa, ela chora, fica brava, mais
logo volta a agir naturalmente. Não fica com ódio e mantém a mesma amizade e carinho de filho.
Até mesmo quando há brigas entre elas, o espírito de perdão sempre prevalece. No momento de
um desacerto, uma bate e quebra o brinquedo da outra, chora. Mas, dali a pouco, tudo fica bem.
Parece que não aconteceu nada. A verdade é que a criança sabe perdoar, e com ela
precisamos aprender.
Jesus tem razão em dizer que precisamos nos tornar como crianças para entrarmos no reino dos
céus. Há situações na vida cristã em que este ensino de Jesus precisa ser vivenciado. A união, o
amor, a compreensão e a comunhão no meio da igreja dependem de nossas atitudes.
E às vezes precisamos fazer como as crianças fazem entre si. É claro que Deus não quer que
sejamos crianças espiritualmente, mas cristãos que tenham o sentimento de perdão. Há uma frase
que diz: “Aquele que não sabe perdoar destrói com as próprias mãos a ponte sobre a qual um dia
terá de passar”. De fato, o caminho para o perdão é doloroso, mas quando ele é concedido,
constrói-se uma ponte que servirá no amanhã.
Há pessoas doentes, infelizes ou amarguradas porque remoem fatos que ocorreram a anos em
sua vida e não foram acertados. São feridas abertas.
Alegria
Jesus estava transmitindo alguns ensinos éticos cristãos, quando lhe trouxeram algumas crianças
para que Ele as abençoasse. Os discípulos não concordaram, mas Jesus disse: “Deixai vir a mim os
pequeninos, pois dos tais é o reino dos céus”, Mt 19:13 -15.
Será que podemos extrair alguma lição desse quadro quando as crianças estavam ao redor de
Jesus? Claro que sim! O ambiente era o mais saudável possível, pois onde há criança o lugar é
alegre e movimentado. Criança é sempre assim: alegre, feliz. Alguém disse que “o inferno é triste
porque lá não há crianças”. Elas são o sorriso de Deus para nós.
É natural presenciar a alegria no rosto de uma criança, independente da circunstância em que
ela se encontra. Não há tempo ruim, problema, crise ou dificuldade para ela. A criança não quer
nem saber se amanhã vai chover ou fazer sol. Ela só pensa em brincar, divertir e aproveitar a vida.
Para ela, tudo é festa, é só alegria.
Jesus fala que devemos nos tornar como crianças. É evidente que não seria levar a vida na base
de brincadeira, sem pensar em nada, à semelhança de uma criança. Devemos aplicar isso ao
nosso relacionamento, e estabelecer um padrão de vida pautado na honestidade, sinceridade,
fidelidade e responsabilidade.
No entanto, podemos ser como as crianças, que independem das circunstâncias para viverem
alegres. A alegria é um verdadeiro bálsamo para a vida. Uma pessoa triste não tem ânimo pra
realizar suas atividades. Ela pode até perder o sentido de viver. A alegria vinda de Deus é força,
Ne 8: 10.
Que Deus nos ajude a sermos verdadeiramente como crianças, não num comportamento de
infantilidade, mas readquirindo seus traços característicos, que fomos perdendo ao longo dos
anos. Eles nos ensinam e nos capacitam a sermos verdadeiros cidadãos dos céus.
Pureza
Criança exala pureza. Ela não tem maldade naquilo que faz ou recebe. O grau e pureza existente
na vida de uma criança é algo incalculável. Tornar-se como ela é tornar-se puro, é adquirir o senso
de pureza que nela existe. É receber aquela capacidade que expressa uma vida limpa. É
exatamente isto que Jesus quer nos ensinar.
Esta é uma das tônicas da Igreja que é candidata ao céu. Em sua oração sacerdotal, Jesus orou
pedindo para que ela fosse pura e unida, Jo 17. Pureza e unidade caminham juntas, são coirmãs.
A igreja que vive dentro do padrão de santidade, logicamente tem que ser uma igreja unida. Não
se separa santidade de unidade ou vice-versa. Jesus disse que o mundo haveria de crer Nele,
quando a sua igreja fosse pura e unida, Jo 17: 23.
A igreja precisar tornar-se como uma criança para entrar no reino dos céus, despojando-se de
toda imundície, pois o céu é lugar de pessoas puras. Os impuros não herdarão o reino de Deus,
1Co 6: 9 e Hb 4: 12. Deus sempre desejou que o seu povo fosse separado e diferente. Foi para isto
que Ele chamou Abraão e escolheu Israel. Mesmo depois de entrar na terra prometida, Deus exigiu
pureza dessa nação, Lv 20: 7
Pr. Emerson Garcia Dutra
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