“Não entendi”, eu disse.
Vou explicar: “Por exemplo, a nossa gasolina, a nossa luz/energia é vendida para
alguns países da América do Sul, com um valor ínfimo, de tal forma que podem fazer
chegar ao consumidor com um preço igual ou menor de 1/3 do valor que pagamos pelo
mesmo produto aqui no Brasil”.
E emendou: “O combustível aqui na bomba está R$ 2,75 o litro e, nos países
vizinhos, custa menos de R$ 1,00. Por que eu tenho que pagar duas vezes?”
Quando eu respirei para falar, ele continuou:
“Eu tenho que pagar para imprimir ou recorrer de um processo na Justiça, em
qualquer área ou jurisdição. Mas se eu já pago os salários dos desembargadores, dos
juízes, dos procuradores, até dos mais simples funcionários, além de pagar também a
manutenção, a conservação e custeio do órgão, por que me cobram até uma simples
cópia, quando eu já paguei? Por que eu tenho que pagar a luz, a água e o esgoto no alto
preço que pago, se já pago todas as despesas daquele órgão do Estado ou de economia
mista que a distribui, se eu tenho a maioria do capital social daquelas empresas? Ou
não é assim que acontece?”
“Parece que você está confundindo. Olhe, tem uma diferença”. E ele não me
deixava terminar.
“...O Banco do Brasil e a Caixa usam o meu, o nosso capital, além de todo o
dinheiro arrecadado no PIS, FGTS, PASEP e muitos outros ‘órgãos ratoeira’ que nos
consomem a título de nada e, ainda, se eu quiser, um empréstimo do MEU DINHEIRO
(falou grosso), tenho que pagar juros astronômicos?”
“Faça-me entender como é que eu tenho que fazer a escritura de uma
propriedade no cartório e depois lhe dizem que o documento para valer precisa que
o cartório o registre. Isto é, atesta que a escritura foi feita lá. E, para isso, cobra no
registro, mais do que o valor cobrado na escritura. Por que dois documentos, um
falando que o outro é bom? Por que não um só registro? Por que o governo não cria
tabela, reduzindo, pela metade, pelo menos (o que ainda é injusto) os preços de todo
o trabalho realizado em cartórios?”
“Não pode”, eu disse. E ele rebateu em cima sem me dar tempo de falar.
“É claro que pode! O governo se intromete no preço da bandeirada do táxi, no
preço do litro do álcool, da gasolina, do gás, do salário mínimo (que ele mesmo exige
em Carta Magna que deveria seguir uma série de preceitos para ser composto) e
desrespeita a própria Constituição.
Este ponto, então, é vergonhoso. A instituição que calcula o salário mínimo, o
Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIESE), admite
que o salário mínimo no Brasil, para suprir as necessidades básicas, isto no mês de
novembro de 2011 seria de R$ 2.349,25 e mesmo assim a presidente, toda eufórica,
assinou o valor de R$ 622,00 como salário mínimo e acha que fez um grande negócio.
Aliás, as leis aqui neste país foram feitas pela classe dominante para a classe dominante.
Todo jurista sabe e ninguém toma uma atitude. É uma bagunça. Quer um exemplo?”
E antes que eu fizesse sim com a cabeça, ele continuou:
“Como pode uma simples resolução ter mais poder do que a lei? Pode?” E já
respondeu: “Aqui no Brasil pode!”
“Se você”, disse, colocando o dedo indicador em meu peito, “um cidadão comum,
infringir a lei do trânsito e andar sem o cinto de segurança perde pontos na carteira e
dinheiro no bolso. Estou certo?”
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“Não entendi”, eu disse. Vou explicar: “Por exemplo, a nossa