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O que está mudando nas viagens
M
uita coisa está mudando sob os
nossos olhos no mundo das viagens e do Turismo e provavelmente
não nos estamos a aperceber totalmente. Talvez porque, por hábito ou
distracção, temos a tendência para
olhar para os "turistas" como uma massa homogénea, amorfa até, em que
todos pensam, comportam-se e agem
da mesma maneira. Isto acontece mais
facilmente em relação aos turistas estrangeiros, em que é mais difícil desde
logo distinguir a nacionalidade, quanto
mais ter a percepção do que é cada um
deles pensa, quer ou deseja. Mas também com os portugueses, apesar de
acharmos que os conhecemos.
A questão é importante para o Turismo
porque, com as alterações estruturais
e comportamentais que se estão verificando, e com as novas gerações de
turistas que já aí estão, vai ser cada
vez mais importante "descobrir" as motivações e os interesses de cada um e
adequar as nossas propostas, a nossa
oferta, a essas aspirações. Isso exige
análise, investigação, estudo. Tudo
coisas que não gostamos de fazer.
Na realidade estes últimos anos trouxeram-nos alterações que ainda não estão
suficientemente ponderadas. Em primeiro lugar no transporte aéreo com o aparecimento
das low cost associado ao uso da internet,
que cresce exponencialmente. O que teve
consequências profundas nas companhias
aéreas tradicionais e na relação operadores/
voos charter, que funcionam na
intermediação entre a oferta (destino, hotel)
e o potencial viajante/turista, a quem organizam a viagem.
Acontece além disso que simultaneamente
emergiu também uma nova realidade que
desenvolveu e potenciou esta nova relação,
trata-se da entrada em cena de uma "nova
geração de turistas" que não actua como os
seus pais ou avós, não viaja pelas mesmas
motivações, nem procura as mesmas coisas.
Ignorar estes factos significa não estar minimamente em condições de prever o futuro e
de adequar as suas empresas e formas de
actuação às novas condições. Nesta nova
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Vítor Neto
Empresário
realidade o "turista" tende a ter uma relação
cada vez mais directa com a oferta e a estar
no centro da operação turística. Daí que todos os outros "actores" - alojamento, transporte, operador, indústrias de lazer…- são
obrigados a reposicionar-se e a procurar um
novo espaço de relacionamento com os seus
clientes/turistas, e eventualmente proporcionar-lhes novos serviços e especializações.
Adequar-se no fundo às novas realidades,
que é o que muitas empresas já estão a fazer, e as agências de viagem em primeiro lugar, claro, mas que tanto melhor farão quanto melhor compreenderem a natureza e as
tendências das alterações em curso.
Esta problemática do perfil e do comportamento das novas gerações no turismo é muito séria. Os jovens de hoje começam a viajar
mais cedo, em poucos anos visitam mais paí-
ses que os seus pais em toda uma vida,
fazem mais viagens por ano, com estadias mais curtas, gastando talvez menos em cada viagem, mas mais ao longo do ano. Têm outra cultura, outra
hierarquia de interesses por destinos,
não têm "medo" de nada, mudam facilmente de alvos e experiências.
Esta realidade é muito séria porque,
por exemplo, é difícil prever como será
o comportamento, o tipo de interesses
deste turista, quando for mais velho e
já ter "visto tudo". Importa por exemplo saber prever se um jovem estrangeiro que nos faz uma visita rápida
numa low cost, fica conquistado e irá
"repetir" essa viagem e volta a escolher-nos de novo…ou nunca mais nos
visita!
A discussão em torno destas questões
tem que começar a ser feita porque
esta problemática tem implicações profundas desde logo em duas áreas: o
papel da "oferta" na conquista do turista para que ele nos volte a visitar; e
a importância da "promoção" que fazemos para conquistar estes "novos" turistas.
Que ninguém tenha dúvidas, num
mundo com uma concorrência turística cada
vez mais forte, a "oferta" (a sua qualidade,
diversidade e originalidade) é a chave, o segredo, para o sucesso do nosso turismo. E
que se ganhe consciência que a "promoção" tem que saber cada vez mais responder aos novos comportamentos e atitudes. Não se tenha a ilusão que se comunica com as novas gerações de turistas com os mesmos suportes de há três,
cinco ou dez anos. É urgente por isso fazer-se o balanço da eficácia da nossa
promoção para verificamos se os instrumentos utilizados "comunicam" com os
nossos potenciais clientes. Temos que ter
a ousadia de utilizar mais, formas de promoção adequadas à era das novas
Tecnologias de Informação.
Muita coisa está mudando no mundo das viagens e do turismo. Estamos a acompanhar
essas mudanças?
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