O que está a acontecer com o ensino em Portugal?
Helena Mesquita
N.º 8 – 12.º C
O ensino no nosso país tem sido assunto de grande polémica. Devido à crise que
estamos a ultrapassar, o Estado está a cortar nas despesas, logo existem menos
possibilidades para famílias mais carenciadas.
Nos finais de 2012, no regresso a casa depois das aulas terminarem, estava a
passar na rádio uma entrevista sobre o ensino e os seus cortes. Uma família com três
filhos, dois dos quais já frequentavam a escola, e uma bebé que naturalmente haveria de
frequentar um infantário. Todavia, a mãe alegava que o infantário estava fora de
questão, pois não podia suportar mais uma despesa. Confesso, não estava a prestar
grande atenção, até ao momento em que foi feita uma pergunta que me chocou.
Questionaram a mãe sobre o que ela faria se fosse necessário pagar a escola dos outros
dois filhos. A resposta foi que teriam de abandonar a escola, pois não teria meios de
pagar. E as minhas dúvidas são: é este o futuro que se pretende para nós? Fizeram os
nossos pais esforços, para agora nos tirarem as bases? Será que o ensino vai voltar a ser
como era antigamente? Só para alguns, aqueles que tinham possibilidades económicas?
Na Escola Profissional de Desenvolvimento Rural do Rodo, na cidade do Peso
da Régua, houve nessa altura uma grande manifestação, devido ao facto de o POPH
(Programa Operacional Potencial Humano) não pagar o alojamento aos alunos dos 2.º e
3.º anos, estando muitos dos alunos desalojados e em risco de terem de voltar a suas
casas, muitos deles provenientes de cidades africanas, onde se fala a língua portuguesa,
e muitos outros de diversos pontos do país, até mesmo das ilhas. Antes de virem foi-lhes
prometido tudo. E naquele momento? Tinham de ir embora. Desistir dos seus sonhos?
Será isto justo? A igualdade de direitos não é para todos?
Nesse mesmo dia da manifestação, passou uma grande reportagem no Jornal da
Noite da TVI, designada “Dinheiros públicos, vícios privados”, que abordava as
diferenças entre os colégios privados e as escolas públicas. Foram abordados vários
temas, desde a exclusão de alunos por estes tirarem notas que iriam denegrir a imagem
do colégio, a professores que tinham de executar as funções das tarefeiras, à nãoaceitação de alunos com necessidades educativas especiais e mesmo professores que
foram despedidos, somente porque não cumpriram aquilo que o director queria. E mais
uma vez pergunto se é justo cortar nas escolas públicas para financiar as privadas. Não,
não sou contra o ensino privado, mas já que as pessoas escolhem o ensino privado,
deveriam pagar tudo, sem utilizarem os dinheiros públicos, dinheiros dos impostos dos
portugueses.
Os professores no ensino privado sofrem uma grande pressão, com o medo
tremendo de serem despedidos e terem de aumentar a fila da segurança social, para que
isso não aconteça. Fazem tudo aquilo para que são mandados, mesmo assinarem
declarações com excesso de horas, as quais não são pagas. “Quando dei por mim, já
estava a tomar analgésicos para não falhar aos meus alunos” – frase de uma exprofessora de um colégio privado.
Neste momento, pergunto: é este o investimento que o país quer fazer em ordem
ao futuro? Se é, na minha opinião é um péssimo investimento, pois o ensino é um bem
essencial e todos haveríamos de poder usufruir dele, quer os mais carenciados, quer os
menos carenciados.
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