O TRIVIUM E O QUATRIVIUM*
Ir∴Francisco Pucci
- A Gramática – é a leitura, o estudo, a ilustração que nos mantém atualizados sobre o
mundo em que habitamos. Um maçom que não estuda e não se atualiza sobre os fatos sociais, políticos e econômicos de seu mundo não tem a mínima condição de compreender o
mundo em que vive e, consequentemente, não tem como torná-lo melhor.
- A Retórica - Pouco adianta termos o conhecimento dos fatos se não temos a didática para
transmiti-los. A eloquência é a ferramenta didática por excelência quando desejamos transmitir conhecimentos, especialmente conhecimentos complexos sobre o ser humano e a humanidade. Falar corretamente, argumentar corretamente, ser claro e conciso são qualidades indispensáveis de liderança.
- A Lógica – Condição SINE QUA NON para que tudo faça sentido. Com ela podemos concatenar
as ideias, de forma a criar um panorama de fácil compreensão, com começo, meio e fim. É a
lâmpada que se acende em determinados momentos na mente, quando descobrimos o porquê das coisas. De que adianta lutarmos por e conseguirmos a liberdade de consciência se
não sabemos compreender logicamente o emaranhado de informações que nos bombardeiam
diariamente? Como decidir o que é importante e o que não é? Como construir raciocínios de
forma a confiarmos em nossas conclusões? Sem lógica nenhum argumento se sustenta e tanto a Gramática quanto a Retórica tornam-se inúteis.
– A Aritmética – os números são a forma de expressão do Universo. Tudo se traduz no rigor
dos números. Do ponto de vista místico, por exemplo, a Cabala dá significado aos números
de forma a transmitir conhecimentos metafísicos. É uma forma de utilizar simbólica e metaforicamente os números. Muitos eventos físicos foram, e ainda são (como o "bóson de Higgs" a famosa "partícula divina), primeiramente provados matematicamente, para só depois comprovar-se visualmente sua existência. Mesmo que eu não saiba, os números, suas relações e
proporções fazem parte de meu ser, seja em meu ritmo cardíaco, ou na renovação cíclica de
minhas células, ou nas ondas que meu ouvido recebem e meu cérebro traduzem em sons, ou
nas ondas que meus olhos recebem e meu cérebro traduzem como cores.
– A Geometria – A mãe de todas as ciências segundo Pitágoras, sendo o G.’.A.’.D.’.U.’. o
grande Geômetra. De forma acadêmica, seu objeto de estudo é o espaço e das figuras que
podem ocupá-lo. Etimologicamente temos, do grego geo = terra + metria = medida, ou seja,
medir a terra. Mas a Geometria é muito mais do que isso. Tudo ao meu redor tem Forma,
Significado, Uso e Função. Mas as formas possuem regras em sua construção. Na criação do
Universo, percebemos que as formas reproduzem as proporções divinas (1,618) - o que inclusive define o tamanho do nosso avental e as medidas de nossas Lojas. Este número “Áureo”, também conhecido como o número de ouro, é encontrado em toda a natureza, desde na
concha Nautilus, até nas proporções humanas - como o tamanho de nossas falanges e ossos
dos nossos dedos. Em uma colmeia, essa relação se apresenta inclusive no número de ma-
chos e fêmeas. Metaforicamente, a Geometria nos ensina todo um código de postura e ética
ao nos demonstrar que tudo no Universo obedece a uma ordem. Ensina-nos, ainda, que podemos observar a mesma situação por diferentes ângulos, criando novas perspectivas; ou
ainda que o universo contém leis de ação e reação, e que tudo tem movimento e que o movimento é a alteração constante das formas.
– A Música – Uma das mais sublimes artes a música é a própria Coluna da Beleza, pois ao
apreciá-la em me educo para apreciar as Artes de maneira geral. Sem a Arte nossa vida é
árida. A música resume em sua estrutura os sons, o ritmo, a harmonia, e pode também ser
expressada matematicamente. A natureza é sonora e Pitágoras nos falava da música das esferas. Quem não adormeceu nos braços de Morfeu, o “Deus do Sono”, embalado pelas ondas
do mar ou ainda pelo simples sons de grilos a cantarolar mata adentro? O som é uma das
mais fortes âncoras psicológicas de que dispomos. Através dele nos acalmamos ou nos agitamos, somos transportados para épocas ou mundos diferentes, navegamos nos sentimentos
mais profundos. Os pitagóricos relacionaram a matemática e a música estudando os sons em
função do comprimento das cordas e das ondas que eram emitidas.
– A Astronomia – Etimologicamente significa “Lei das Estrelas”, e está presente na Loja Maçônica através da representação do Universo em seu formato. A começar pelo teto em abóboda representando o céu. É uma das mais antigas ciências, tendo inclusive, em algumas civilizações, personificado deuses na forma de planetas e estrelas. Os egípcios, há 750 anos
A.C., já usavam o Sol para medir o tempo, criando os primeiros relógios de Sol. A Astronomia, como todas as ciências, tem muito a ver com a Filosofia e a Teologia. Basta pensar sobre a visão que o ser humano tinha de si mesmo (através da religião, principalmente) quando
se acreditava que a Terra era o centro do Universo e como essa nossa "identidade" foi chacoalhada com a demonstração do heliocentrismo por Copérnico. A Astronomia demonstra a
grandiosidade e perfeição do G.’.A.’.D.’.U.’.. Através dela nos tornamos humildes e reverenciamos a Natureza, pois a soberba de imaginar que tudo sei ou que tudo sou, evapora-se
quando me dou conta da grandiosidade e complexidade do Universo.
A Geometria, a aritmética, a lógica e a Astronomia me falam da Ordem que perpassa todo o
Universo. A Música me fala da Beleza que há nele. A gramática e a retórica me permitem falar disso tudo às pessoas e torná-las maravilhadas, reverentes, humildes e sedentas de saber
mais.
* Retirei os comentários da internet e adaptei para o contexto maçônico atual. Na
antiguidade o Trivium e o Quatrivium eram os conjuntos de disciplinas que se estudavam nas Academias. A Maçonaria dita Especulativa, num mundo onde as especializações já não permitem que se saiba tudo, toma os instrumentos da construção
como símbolos e alegorias da construção do Homem e, da mesma maneira, creio
que deve tomar as "ciências liberais".
Ir∴ Francisco Pucci.
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