Publicado no site da Associação Internacional de Escolas Cristãs
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Morte na panela
Cássio Miranda ~ Vice-Presidente do Conselho da ACSI-Brasil
Há alguns anos vi uma série de reportagens que tratavam de um problema de saúde
pública. A questão era extremamente grave: diversos pacientes haviam sido medicados
com um remédio chamado Androcur, contudo a medicação estava contaminada e, ao
invés de curá-los acabou por levá-los à morte. Os parentes estavam desolados e
também revoltados. Como os órgãos de vigilância sanitária haviam permitido a
circulação de um medicamento que matava ao invés de curar??
Quando leio na Bíblia o texto de 2 Reis 4: 38 a 41, me lembro deste triste caso do
remédio que matou ao invés de curar. Temos ali a história de uma refeição que iria
matar ao invés de alimentar. O texto é uma narrativa do que aconteceu com o profeta
Eliseu e um grupo de discípulos.
O texto faz menção a uma das primeiros seminários teológicos da história. Havia um
grupo de moços que eram alunos do profeta Eliseu e o seguiam por onde andava.
Naqueles dias havia grande fome em Israel. Assim como todo o restante da população, o
grupo estava faminto e precisava de comida.
Então aconteceu algo estranho: o profeta mandou colocar uma panela no fogo. Pra que
colocar a panela para esquentar se não temos alimento? Devem ter pensado alguns dos
discípulos. Contudo um deles saiu ao campo e de lá trouxe um carregamento de
ervilhas. As ervilhas foram colocadas na panela e logo já davam lugar a um “apetitoso”
cozido.
Quando começaram a comer os discípulos sentiram que havia algo de estranho: o
alimento estava contaminado. As “ervilhas” colhidas não podiam ser comidas pois eram
venenosas. “Morte na panela!!”, gritaram desesperados os alunos para seu mestre. O
profeta apresenta, então, uma solução no mínimo estranha: mandou que jogassem
farinha no cozido! E, por incrível que pareça os discípulos obedeceram e o cozido
“envenenado” tornou-se um prato saudável que saciou a fome de todos!
O que tal história tem a ver comigo? Você pode estar pensando.
O que tenho a ver com cozido de ervilhas envenenado? Com morte na panela?
Ouso dizer que este texto tem tudo a ver conosco, educadores cristãos. Na realidade,
alimentação tem tudo haver com ensino. Alimento é para nosso físico o que o saber é
para nossa mente e nossa alma. Quando comemos coisas boas temos saúde, quando
comemos alimentos estragados adoecemos; quando aprendemos coisas boas temos
saúde intelectual, moral, até espiritual; quando aprendemos coisas ruins...
Nós educadores somos responsáveis por alimentarmos a mente, a alma, o espírito de
nossos alunos. Eles são confiados a nós por suas famílias para que possamos saciar a
fome que têm. Assim como Israel da época de Eliseu, nosso país hoje também tem
fome. Fome não só de comida; fome de saber, fome de conhecimento científico, fome de
referências morais, fome de Deus! Nós, como o profeta, também colocamos a panela no
fogo. Alguns criaram escolas, outros assumiram funções de liderança em instituições que
foram iniciadas com o louvável propósito de saciar a fome destas crianças e jovens. Este
foi e ainda hoje é o propósito de tantas e tantas escolas cristãs que são fundadas.
Os evangélicos são ligados ao ensino desde seu berço; uma das conseqüências mais
imediatas da Reforma foi o incentivo à criação de escolas públicas na Alemanha. Do
século XVI pra cá a situação não mudou. A história nos mostra que ao lado de cada
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igreja fundada na América havia também uma escola; os protestantes eram o “povo do
livro”, logo precisavam de, no mínimo, saber ler. Escolas e mais escolas foram criadas ao
redor do mundo por cristãos evangélicos, muitas delas se tornaram grandes
universidades que hoje são referência na área de ensino e pesquisa.
Esta relação não ocorreu somente na América do Norte e na Europa; a inserção dos
cristãos evangélicos no ensino deu-se também nos demais continentes, inclusive na
América do Sul, especialmente no Brasil. Desde o século XIX temos escolas ligadas a
igrejas evangélicas e, com o crescimento das igrejas, sobretudo neo-pentecostais, no
final do século XX vemos o aumento significativo também do número destas escolas no
país.
A questão que fica é: que “alimento” tem sido fornecido nestas “panelas”?! As escolas
“cristãs” estão efetivamente ensinando vida, ou tem ensinado morte? Será que, como no
tempo de Eliseu, nossos alunos também não estão nos alertando: “Morte na panela!!”??
Qual tem sido a qualidade do saber que temos ministrado? Qual o grau de pureza do
ensinamento? Quais os valores morais temos propiciado aos nossos alunos?
Infelizmente muitas escolas que começaram como cristãs, hoje só o são no nome. O
projeto pedagógico, o corpo docente, o corpo técnico-administrativo, até as instalações
físicas revelam que estão longe, mas muito longe, de serem capazes de fornecerem
alimento saudável aos alunos.
Muitos pais têm se decepcionado com este tipo de escola, a escola “aparentemente
cristã”. Sentem-se traídos, pois ali levam seus filhos por crerem que terão uma boa
qualidade de ensino, tanto no campo científico, quanto no moral e no espiritual. Mas se a
escola não tem condições materiais e humanas de oferecerem este ensino de qualidade,
está simplesmente oferecendo Morte na Panela.
Qual a diferença entre o projeto pedagógico de sua escola e de uma escola considerada
secular? E o seu corpo docente? É composto por homens e mulheres comprometidos
com Jesus e com Sua Palavra? Podemos dizer o mesmo daqueles que trabalham nos
setores administrativos? Será que o diferencial de sua escola está apenas no nome? Sua
escola é uma “cristã nominal” ou é cristã de fato?!!
O maravilhoso da história de Eliseu é que os discípulos não acabaram todos mortos,
envenenados pela comida que deveria lhes saciar a fome. O profeta transformou em vida
o que era morte. Fez isso simplesmente lançando um pouco de farinha de trigo sobre o
cozido. O trigo moído vira farinha, farinha que dá origem a um dos alimentos mais
antigos e mais consumidos em todo o mundo: o pão.
Interessante, por que jogar logo farinha sobre o cozido? O que podemos aprender com
este ato? Simbolizou alguma coisa ou foi apenas uma “simpatia gospel” feita pelo
profeta? Com certeza tal ato representa muito. A farinha de trigo, o pão nos remete ao
texto de João 6: ... pão da vida”.
Ao lançar a farinha sobre o cozido envenenado o profeta anulou seu efeito letal. Agora o
que antes podia matar o corpo serve para matar a fome. A farinha transforma a morte
em vida. É o que podemos chamar de restauração.
Assim acontece também com Jesus, o pão da vida. Devemos colocá-lo em todas
atividades de nossa escola. Jesus deve estar presente em cada detalhe do projeto
pedagógico; Deus tem que estar em nosso currículo. Ele precisa estar na vida de
nossos (as) professores (as). Só Ele pode levar vida, onde há morte. Efésios diz que “Ele
nos deu vida estando nós mortos ....” . Só Jesus pode restaurá-los. Ele tem que estar
presente na vida de cada um daqueles que trabalham na escola, transformando em vida
o que antes era morte!
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Fico imaginando o impacto que teremos na Educação Brasileira quando conseguirmos
difundir esta visão de escolas realmente comprometidas com Jesus e com Sua Palavra.
Vejo que a ACSI tem sido usada por Deus para despertar as escolas cristãs do Brasil
rumo a este genuíno reavivamento.
Resgatando esta visão nos tornaremos uma grande “empresa de refeição”, com
potencial para alimentar toda esta nação! Nossas escolas serão grandes panelas, que
oferecerão “comida” de qualidade para milhares de crianças e jovens. Ao contrário dos
alunos de Eliseu que disseram “Morte na Panela”, nossos alunos e suas famílias dirão
com prazer “Vida na Panela!! Vida na Escola!!!”
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