José Reis
Diretor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Discurso no Dia da Faculdade
2 de Dezembro de 2014
Dou-vos as boas vindas ao Dia da Faculdade. Agradeço a presença de todos. Muito
obrigado aos que aceitaram o nosso convite representando outras instituições das
quais a FEUC se sente em parceria, dando assim significado a formas de
relacionamento externo que muito prezamos. Permitam-me que me dirija de
seguida e de modo muito especial a presenças também muito especiais: a dos
estudantes cujo mérito vamos aqui reconhecer e sublinhar e a dos professores e
funcionários que cessaram funções recentemente, depois de ajudarem a construir
esta casa durante anos de trabalho.
A Faculdade existe para o conhecimento que desenvolve e para a formação que dá.
Por isso, não há melhor forma de simbolizar esses propósitos e essas realizações
do que através dos estudantes que cá chegam e dos que daqui saem já diplomados.
Ao termos hoje aqui os melhores estudantes que este ano entraram na
universidade através das nossas quatro licenciaturas e aqueles que se licenciaram
ou terminaram os seus mestrados, MBA ou pós-graduações com as melhores
classificações, estamos, evidentemente, a tratar de um dos momentos altos desta
sessão. Numa Faculdade que se vê a si mesma como uma escola de formação
avançada cada vez mais consolidada, a presença dos que se doutoraram neste ano
é igualmente muito simbólica. Cumprimento-os a todos – aos que chegaram e aos
que concluíram os seus cursos - e saúdo-os muito vivamente, sabendo que assim
estou a manifestar aos 3000 estudantes da FEUC um sentimento muito profundo
pela forma inigualável como são parte da nossa vida coletiva nesta casa.
Dirijo-me diretamente ao Gonçalo Marouvo, que aqui usará da palavra como
estudante diplomado no ano passado; uma das nossas melhores classificações;
uma excelente pessoa.
Dirijo-me diretamente aos docentes e funcionários. E vou tratá-los como sempre
os tratei.
À D. Maria de Lurdes: que ao aposentar-se há pouco tempo me fez a pequena
maldade de me deixar na condição de quem há mais anos anda debaixo destes
tetos, depois de os dois aqui termos entrado em 1973, eu como estudante do
primeiro curso, ela como competente, zelosa e amiga veladora da nossa biblioteca,
que assim viu crescer.
À Fernandinha: também da equipa inicial que fundou a FEUC e a biblioteca, e quem
tanta alegria, trabalho e dedicação lhe deu.
Ao Sr. José Carlos: uma presença muito cuidadosa nesta casa; uma enorme
simpatia; uma das pessoas que simbolizava bem o gosto de se entrar na Faculdade.
À Leonor: outra da fundadoras, que tantos lugares de relevo aqui ocupou e com
quem pude dar início à Escola de Estudos Avançados, cuja marca inicial na forma
de trabalhar é dela.
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À minha colega Aldina Silva e ao meu colega Júlio Gomes deixo igualmente o nosso
reconhecimento pela dedicação ao ensino da Matemática e da Economia durante
tantos anos. Obrigado. Uma palavra também para o João Lisboa que, por estar a
ser operado, não pode estar aqui hoje. Ele sabe como o considero uma das
autoridades morais da FEUC e como não esquecemos o seu papel insubstituível no
desenvolvimento da Gestão de Empresas entre nós.
Num dia como o de hoje estamos a festejar a Faculdade sabendo uma coisa
essencial: todos gostamos muito desta casa. Os que cá trabalhamos, seja há muitos
ou há poucos anos, os que cá chegam e vivem como estudantes, os que já saíram e
gostam mais ainda da FEUC por já cá não estarem. Por isso, digo declaradamente
que instituímos este dia para reforçarmos a nossa condição coletiva, o apego que
temos à Faculdade, a vontade de a fazer ainda melhor, para darmos um lugar
próprio ao lado afetivo da vida...
Como Diretor, devo repetir o que já disse muitas vezes: tenho orgulho nesta casa
e estou muito satisfeito com a forma como nos temos melhorado nos último anos
– seja melhorando o ambiente físico em que trabalhamos, seja dotando-nos dos
equipamentos de que necessitamos, seja ainda preocupando-nos para que o
ambiente humano seja o melhor. É isso que dá particular sentido ao lugar de uma
Faculdade como esta na Universidade de Coimbra, no sistema de ensino superior
do País assim como no relacionamento internacional em que nos envolvemos.
Sei bem, não me esqueço, que vivemos tempos adversos e que o clima lá fora é
agreste. É muito provável que aquilo que a direção de uma instituição faça, por
muito que faça, para a reforçar, lhe dar uma vida saudável, conforto e dinamismo
e para sugerir que há motivos de orgulho e de vínculos reforçados à vida coletiva
não seja suficiente para alcançarmos tudo o que queremos. Sei bem que há sempre
desalentos resultantes de múltiplos problemas, como a má recompensa salarial, o
trabalho cada vez mais intenso (trabalha-se muito no ensino superior em
Portugal!), o desabar de expectativas ou até a forma como muitas vezes as
circunstâncias nos empurram para a busca de soluções isoladas, individualistas,
em vez de nos ajudar a reforçar o que é mais intrinsecamente transparente,
comum e solidário.
Eu sei que posso afirmar que aqui na Faculdade temos tido um norte claro: dar
vida à casa, cuidá-la em vez de a deixar definhar, abrir expectativas positivas,
reforçar os nossos melhores recursos e valores, pôr no centro de tudo relações
abertas, mobilizadoras e cooperativas, seja entre professores, seja com estudantes
e funcionários. Foi por isso que fizemos e vamos fazer obras que nos mantenham
o conforto, que equipámos a casa, que temos um corpo de funcionários capaz,
estável e suficiente (depois do drama que encontrámos à chegada), que queremos
continuar a ter a melhor biblioteca e não regateamos meios para isso, que
incentivámos de forma muito precisa os professores a afirmarem a sua carreira e
a sua investigação, que facilitámos e incentivámos a prestação de serviços ao
exterior, com correspondentes acréscimos de remuneração numa transparente
base institucional e contratual, que todas as aulas que é necessário darmos têm o
correspondente recurso docente, que alcançámos, através de ações concertadas e
muito conscientes, a confortável situação de termos 12 concursos de promoção na
carreira docente a serem abertos. Mas sei que isso pode ser sempre pouco perante
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o que nos rodeia. É por isso que temos todos de ousar encontrar novas soluções
que nos agreguem. É preciso inventar.
De facto, é para mim muito claro que, por mais sólida que seja a vida institucional
formal de uma casa, ela será sempre débil se não houver voluntarismo,
generosidade e empenho – o chamado amor à camisola. Não acredito num mundo
ligado apenas ao orçamento e ao cumprimento estrito ou mesmo mínimo do que
é formal e contratual. Recuso-me até a reconhecer esse mundo. Se não houver um
adicional, uma tecnologia emotiva, que só pode estar em ações livres, voluntárias
e uma espécie qualquer de vontade de fazer mais – se não houver isto, uma
instituição em que nos relacionamos face a face, como a nossa, será certamente
frágil e definhante. Estas ações não são para fazer aquilo que deve ser feito através
do orçamento e dos recursos formais de uma instituição. Jamais me envolveria em
iniciativas voluntaristas destinadas a obter aquilo que tem de ser feito através dos
orçamentos da FEUC – se ele não chegasse bater-me-ia pelo seu aumento e pelo
seu melhor uso. Ou ia-me embora. E julgo ter deixado claro que, entre nós, o que é
do orçamento tem cabido no orçamento. Também não usaria o orçamento, por
maior que ele fosse, para aquilo que deve ser do campo do simbólico ou do afetivo.
A afetividade não se compra, não se transaciona. Assim como também não se
impõe. Nem todos têm de pensar assim, claro. E todas as opiniões são respeitáveis.
Mas a verdade é esta: se houver entre nós um suplemento de alma que convirja
para exercermos as nossas liberdades afetivas, estamos certamente a viver
melhor. Estou a falar, acho eu, de coisas bem simples. Mas também sei que a
simplicidade às vezes atrapalha, pois sobra sempre alguma irredutível tendência
para complicar o que é simples.
Estou a dizer isto porque vos quero dar aquilo que considero serem três belas
notícias, todas muito simples. A primeira é que vamos ser miniprodutores de
energia elétrica, fotovoltaica, pois em breve serão instalados no telhado da
biblioteca painéis solares. Gosto desta realidade e desta metáfora: uma biblioteca
e uma faculdade que produzem energia! Isto resulta de termos obtido um bom
contrato de venda de energia, com tarifas favoráveis que nos darão receitas
futuras e de, como veem, ter sido possível encontrar os recursos para um
investimento necessário.
Devo uma palavra especial ao subdiretor Paulo Gama, que aceitou e ampliou o meu
entusiasmo por este assunto e o concretizou com grande empenho e competência.
O Paulo é um caso raro de dedicação a esta Faculdade e à sua vida diária e eu quero
agradecer-lhe muito, envolvendo nos agradecimentos todos os subdiretores e a
coordenadora executiva, queridíssimos amigos, com quem formei equipa ao longo
destes anos.
A segunda notícia é que a Fundação Engenheiro António de Almeida nos ofereceu
um prémio para galardoar anualmente a melhor tese de doutoramento por esta
faculdade. Trata-se de um prémio com um montante pecuniário e com a edição da
tese selecionada. Vamos levar a proposta ao Senado e deixo aqui o nosso forte
agradecimento ao Doutor Fernando Aguiar Branco, Presidente da Fundação, que
me tem recebido na sede do Porto e que é um dos nossos amigos certos. Consagrase assim o lugar que estamos a dar à nossa Escola de Estudos Avançados e o
acolhimento muito cuidadoso dos nossos estudantes de doutoramento e das suas
carreiras. Relembro que há anos que instituímos um fundo para que apresentem
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resultados de investigação em conferências internacionais e que ele tem sido
muito bem usado. Assim como estamos a envolver estudantes de doutoramento
em atividades letivas, como é muito desejado por eles, e como é prática das
grandes universidades como a nossa em que os programas de formação avançada
são essenciais.
A terceira notícia é que professores e antigos estudantes vão oferecer à Faculdade
aquele quadro que já hoje encima a entrada do hall principal deste edifício.
Digo-o com grande alegria. E digo-vo-lo absolutamente convencido de que assim
será. Deixem-me falar um pouco mais sobre isto. Sabem que me empenhei porque
achei uma forma bonita de lembrarmos a nossa quarta década de vida. Não é que
não pudesse ser comprado pela Faculdade – mas jamais o faria nos tempos que
correm. É porque precisamos de gestos simbólicos e esses não se compram –
oferecem-se. Numa faculdade em que se fala de mercados e de Estados também se
sabe falar de “dom”, esse conceito que os antropólogos fixaram mas cuja
importância não desapareceu nas sociedades complexas. Pelo contrário, em
momentos de anomia, temos de o revigorar. É este o momento de agradecer a
todos (e a alguns muito em especial) os que partilharam esta ideia, a acarinharam
e se comprometeram com ela tornando-a irreversível – refiro-me a professores,
antigos alunos e funcionários. Não têm de ser todos os que se envolvem,
evidentemente, porque o ato é livre e sujeito à liberdade de opinião. Mas gostaria
que fosse de muitos e de muitos mais. Por isso, estando eu certo que podemos
dizer que concretizaremos a oferta e a simbolizaremos um dia destes, o projeto
mantem-se aberto e convido-vos todos a serem parte desta ideia simples.
Acontece que, por estarem envolvidos os antigos alunos, esta iniciativa ajudará a
consolidar a Associação de Antigos Estudantes, a quem entregaremos a
continuidades de gestos de reforço da FEUC através da informalidade e do amor à
camisola. Tal como gosto da energia que produzimos também gosto da arte com
que apoiamos. Estou, pois, muito satisfeito.
Este é o último Dia da Faculdade em que intervenho falando como Diretor, visto
que o meu terceiro e último mandato termina no fim deste ano letivo. Já sabem o
que penso e que me considero muito recompensado por ter empenhado seis anos
da minha vida nesta função. Nunca carreguei o mundo às costas. Procurei fazer
tudo com a máxima leveza mesmo que os tempos sejam de chumbo e haja muitos
empedernimentos. Confesso que me sinto contente por a palavra de que mais usei
e abusei neste discurso ter sido, provavelmente, afeto. Cada um tem as pieguices
que pode. Nos dias que correm talvez elas sejam úteis...
Muito obrigado a todos, por tudo.
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Discurso do Diretor Prof. Doutor José Reis