Capítulo 2 – Principais Aspectos Quanto à Modulação CAPÍTULO 2 PRINCIPAIS ASPECTOS QUANTO À MODULAÇÃO 2.1. Conceitos Básicos Chama-se de bloco, ou unidade, o componente básico da alvenaria. Um bloco será sempre definido por três dimensões principais: comprimento, largura e altura. O comprimento, e pode-se dizer também a largura, definem o módulo horizontal, ou módulo em planta. Já a altura define o módulo vertical, a ser adotado nas elevações. Dentro dessa perspectiva, percebe-se que é muito importante que o comprimento e a largura sejam ou iguais ou múltiplos, de maneira que efetivamente se possa ter um único módulo em planta. Se isso realmente ocorrer, a amarração das paredes será enormemente simplificada, havendo um ganho significativo em termos da racionalização do sistema construtivo. Entretanto, se essa condição não for atendida, será necessário se utilizar blocos especiais para a correta amarração das paredes, o que pode trazer algumas conseqüências desagradáveis para o arranjo estrutural. Essas conseqüências serão apresentadas, com alguns detalhes, nos itens subseqüentes. Fig. 2.1 – Dimensões de um bloco Assim, pode-se dizer que modular um arranjo arquitetônico, ou pelos menos modular as paredes portantes desse arranjo, significa acertar suas dimensões em planta e também o pé direito da edificação, em função das dimensões das unidades, de modo a não se necessitar, ou pelo menos se reduzir drasticamente, cortes ou ajustes necessários à execução das paredes. 13 Capítulo 2 – Principais Aspectos Quanto à Modulação 2.2. Importância da Modulação A modulação é um procedimento absolutamente fundamental para que uma edificação em alvenaria estrutural possa resultar econômica e racional. Se as dimensões de uma edificação não forem moduladas, como os blocos não devem ser cortados, os enchimentos resultantes certamente levarão a um custo maior e uma racionalidade menor para obra em questão. Esse custo mais elevado se verifica não só em relação à mão de obra para execução dos enchimentos propriamente ditos, mas também pelo seu efeito negativo no próprio dimensionamento da estrutura como um todo. O fato das paredes estarem trabalhando isoladas, conseqüência praticamente inevitável dos enchimentos, faz com que a distribuição das ações entre as diversas paredes de um edifício seja feita de forma a penalizar em demasia alguns elementos e consequentemente a economia do conjunto. Dessa forma, pode-se concluir que uma obra de alvenaria estrutural, que se pretenda que seja racionalizada, deve apresentar todas as suas dimensões moduladas. Ajustes até podem ser realizados, mas em pouquíssimos pontos e apenas sob condições muito particulares. 2.3. Blocos Usualmente Utilizados Muitos tamanhos de blocos podem ser utilizados em uma edificação em alvenaria estrutural. Dependendo do tipo de bloco a ser utilizado, maciço ou vazado, cerâmico ou de concreto, existem dimensões usualmente encontradas. A NBR 6136, que trata de blocos vazados de concreto para alvenaria estrutural, especifica duas larguras padronizadas: largura nominal de 15 cm, denominados blocos M-15, e largura nominal de 20 cm, denominados blocos M-20. Entretanto, segundo a norma, os comprimentos padronizados serão sempre 20 e 40 cm e as alturas 10 e 20 cm. A padronização adotada, em especial quanto ao comprimento, é adequada à largura 20 cm, mas revela-se inadequada à largura 15 cm. Os motivos dessa inadequação serão mostrados com detalhes nos itens seguintes. No Brasil são mais facilmente encontrados blocos de modulação longitudinal de 15 cm e 20 cm, ou seja, comprimentos múltiplos de 15 e 20 cm. Em algumas regiões, especialmente no Norte e Nordeste, é comum o módulo 12 cm, que começa a ser utilizado também no restante de nosso país para edificações de até dois pavimentos. Usualmente, a largura é igual ao módulo longitudinal, mas para o caso de blocos de módulo longitudinal 20 cm, pode-se encontrar larguras de 15 ou 20 cm, de acordo com a padronização apresentada pela NBR-6136. Já em termos de altura, não é comum encontrar-se valores diferentes de 20 cm, exceto para blocos compensadores. Na modulação longitudinal de 15 cm, normalmente são encontrados os blocos com 15 cm e 30 cm de comprimento, ambos com 15 cm de largura. Com freqüência encontra-se também o bloco de 45 cm de comprimento, conforme se apresenta na figura 2.2. Fig. 2.2 - Blocos de comprimentos 15, 30 e 45 cm, largura 15 cm e altura 20 cm 14 Capítulo 2 – Principais Aspectos Quanto à Modulação Quando se trata do módulo de 20 cm, cujos blocos usuais tem comprimentos nominais de 20cm, 40cm, são encontradas larguras de 15 e 20 cm. Para a largura de 15 cm, é também freqüentemente encontrado um bloco especial de 35 cm, um módulo de 15 mais um módulo de 20, cuja utilização será discutida com detalhes em item posterior. Uma família típica de blocos de modulação longitudinal de 20 cm é apresentada na figura 2.3. Fig. 2.3 - Blocos de comprimentos 20, 40 e 35 cm, largura 15 cm e altura 20 cm Na verdade, poder-se-ia generalizar as afirmativas anteriores mencionando que a figura 2.2 mostra blocos para os quais a largura é igual ao módulo, qualquer que seja esse valor. Já a figura 2.3 mostra uma família de blocos em que a largura é menor que o módulo, também quaisquer que sejam esses valores. Por exemplo, largura 12 cm e módulo 20 cm, ao invés da largura 15 cm que é mencionada. 2.4. Escolha da Modulação a ser Utilizada À primeira vista pode parecer que o único parâmetro a ser considerado na escolha do módulo horizontal a ser adotado para uma edificação seja seu arranjo arquitetônico. Isso porque se adotado o módulo de 15 cm, por exemplo, as dimensões internas dos ambientes em planta devem ser múltiplas de 15. Assim, pode-se ter 60 cm, 1,20 m, 2,10 m, etc. No caso da utilização do módulo 20, as dimensões devem ser múltiplas de 20 cm, por exemplo, 60 cm, 1,60 m, 2,80m, etc. Dessa forma o módulo a ser adotado seria aquele que ocasionasse menores alterações em uma arquitetura previamente concebida ou que propiciasse a concepção de um partido arquitetônico interessante. Realmente, a arquitetura é um ponto muito importante na definição do módulo a ser adotado. Entretanto, o principal parâmetro a ser considerado para a definição da distância modular horizontal de uma edificação em alvenaria é a largura do bloco a ser adotado. Isso porque o ideal é que o módulo longitudinal dos blocos a serem utilizados seja igual à largura a ser adotada. Dessa forma pode-se prescindir da utilização de blocos especiais e evitar uma série de problemas muito comuns, em especial na ligação de duas paredes, tanto em canto quanto em bordas. Assim sendo, o projetista, antes de sugerir o módulo a ser adotado, deve avaliar o edifício e verificar se a largura conveniente será 15 cm ou 20 cm, ou eventualmente um outro valor. Somente após esse procedimento é que deve ser discutida a modulação a ser adotada. Entretanto, nem sempre é possível definir o módulo apenas seguindo esse procedimento recomendado. Pode ocorrer de não se conseguir um fornecedor para a modulação mais adequada. O fornecedor dos blocos necessita estar a uma distância relativamente pequena da obra, de forma que se viabilize economicamente o empreendimento. Distâncias muito grandes, normalmente acima de 200 km, tornam o frete proibitivo, na prática impedindo a sua utilização. Além disso, o ideal é que existam pelo menos dois fornecedores potencialmente viáveis para uma determinada edificação, a menos que os blocos estejam sendo executados no próprio canteiro. A 15 Capítulo 2 – Principais Aspectos Quanto à Modulação dependência de apenas um fornecedor externo pode representar um perigo significativo quanto a eventuais interrupções no fornecimento ou aumentos de preços abusivos. Já quanto à modulação vertical, a situação é normalmente bem mais simples. Trata-se apenas de ajustar a distância de piso a teto para que seja um múltiplo do módulo vertical a ser adotado, normalmente 20 cm. Esse procedimento usualmente não traz problemas significativos para a compatibilização com o projeto arquitetônico. Além disso, o módulo horizontal adotado e a largura dos blocos também não influem na escolha do módulo vertical. Por fim, alguns outros recursos que podem ser adotados, como a utilização de blocos compensadores ou jota adequados, podem fazer com que a distância a ser modulada seja de piso a piso, dando uma flexibilidade ainda maior ao pé-direito da edificação. Detalhes mais específicos serão analisados em item subseqüente. 2.5. Modulação Horizontal – Principais Detalhes O primeiro conceito a ser aqui abordado é o das dimensões reais. Quando se adota um determinado módulo, aqui chamado de M, esse módulo refere-se ao comprimento real do bloco mais a espessura de uma junta, aqui chamada de J. Portanto, conforme se apresenta na figura 2.4, o comprimento real de um bloco inteiro será 2M-J e o comprimento real de um meio bloco será M-J. Considerando-se as juntas mais comuns, que são de 1cm, tem-se que os comprimentos reais dos principais blocos serão seus comprimentos nominais (15, 20, 30, 35, 45cm, etc) diminuídos de 1cm (14, 19, 29, 34, 44cm, etc). Entretanto, não são tão raros de se encontrar, principalmente nas famílias de módulo 15 cm, blocos preparados para juntas de 0,5 cm. Nesse caso os comprimentos reais seriam 14,5 cm, 29,5 cm e 44,5 cm. Fig. 2.4 – Dimensões reais e dimensões nominais Portanto, as dimensões reais de uma edificação entre faces dos blocos, ou seja, sem se considerar os revestimentos, serão sempre determinadas pelo número de módulos e juntas que se fizerem presentes no intervalo. Dependendo do caso pode-se ter (n×M), (n×M –J) ou (n×M+J). A figura 2.5 ilustra alguns casos típicos. 16 Capítulo 2 – Principais Aspectos Quanto à Modulação a) b) Fig. 2.5 – Dimensões reais entre faces de blocos Outro ponto interessante apresentado na figura 2.5 é o fato dos blocos que vão colocados em cantos e bordas estarem “paralelos” ou “perpendiculares”, sendo essas definições tomadas em relação a eixos segundo o comprimento das peças. Quando a dimensão entre blocos de canto ou borda é um número par vezes o módulo, os blocos se apresentarão paralelos (Fig 2.5a). Em caso contrário, se a dimensão for um número impar vezes o módulo, os blocos estarão perpendiculares (Fig 2.5b). Somente com esses conceitos simples apresentados já é possível definir uma das fiadas, por exemplo, a primeira. As demais fiadas devem levar em conta a preocupação de se evitar ao máximo as juntas a prumo. Portanto, as fiadas subseqüentes são definidas de modo a se produzir a melhor concatenação possível entre os blocos. Isso significa defasar as juntas de uma distância M, obtendose a situação mostrada na figura 2.6. Ressalta-se que os blocos de canto estão hachurados apenas para se destacar o seu posicionamento. Fig. 2.6 – Fiadas 1 e 2 e Elevação de uma parede sem juntas a prumo 17 Capítulo 2 – Principais Aspectos Quanto à Modulação Com os conceitos apresentados, a modulação horizontal estará praticamente resolvida na maior extensão das paredes. Apenas podem ocorrer alguns problemas adicionais em cantos e bordas, especialmente quando o módulo adotado não for o mesmo valor da largura. Para deixar bem claro esses detalhes a serem utilizados é que se apresentam no próximo item soluções recomendadas para esses cantos e bordas. 2.6. Soluções Recomendadas para Cantos e Bordas Neste item, procurar-se-á destacar os blocos vazados de concreto, os mais utilizados no Brasil, e que por serem vazados exigem maiores cuidados na disposição a ser adotada em cantos e bordas. Entretanto, as disposições aqui adotadas podem ser adaptadas com facilidade para outros tipos de blocos, inclusive cerâmicos e não vazados. 2.6.1. Módulo e Largura Iguais Neste item serão apresentados detalhes para canto e bordas quando o módulo adotado é igual à largura do bloco. Esse valor pode ser 12, 15 ou mesmo 20 cm. Os detalhes serão os mesmos para qualquer caso. Entretanto, é importante mencionar que na grande maioria das edificações residenciais a largura de bloco ideal a ser adotada é de 15 cm. Nesse caso, o módulo ideal também será o de 15 cm. Quando for possível adotá-lo, os detalhes de cantos e bordas são muito simples, em especial quando se puder utilizar o bloco de três módulos nas bordas. Para maior clareza, apresentam-se nas figuras 3.7 a 3.9 os esquemas de fiadas para esses encontros. É interessante salientar que para os cantos, sempre, e para as bordas, quando se dispõe de um bloco especial de três módulos, são necessárias apenas duas fiadas para esclarecer completamente o detalhe. Já para as bordas executadas sem a utilização do bloco de três módulos serão necessárias quatro fiadas para que o detalhe seja completo. Nesse caso, após três fiadas com juntas a prumo é que ocorrerá uma fiada com junta defasada. Fig. 2.7 - Canto com modulação e largura iguais 18 Capítulo 2 – Principais Aspectos Quanto à Modulação Fig. 2.8 - Borda com modulação e largura iguais, com bloco especial de três módulos Fig. 2.9 - Borda com modulação e largura iguais, sem bloco especial de três módulos 2.6.2. Largura Menor que o Módulo Se o projetista não puder utilizar o módulo e a largura do bloco iguais, será necessário se prever a utilização de blocos especiais para a solução de cantos e bordas. Somente para exemplificar apresenta-se o esquema de fiadas em um canto sem a utilização desses blocos especiais. Pode-se observar que a solução é completamente inadequada, tanto em relação à continuação das fiadas quanto do mau posicionamento dos septos. 19 Capítulo 2 – Principais Aspectos Quanto à Modulação Fig. 2.10 - Canto com módulo e largura diferentes, sem bloco especial Assim, para esses casos, é imprescindível a utilização do bloco especial no qual um dos furos é especialmente adaptado para a dimensão da largura do bloco, enquanto o outro é um furo com as dimensões normais. Por exemplo, para blocos que estejam de acordo com a especificação M-15 da NBR 6136, módulo de 20 cm com largura 15 cm, o bloco especial teria 35 cm de comprimento. Somente com a utilização desse tipo de bloco é que se pode realizar corretamente a concatenação de blocos entre as diversas fiadas, conforme se mostra na figura 2.11. Fig. 2.11 - Canto com módulo e largura diferentes, com bloco especial Também a modulação de uma borda pode ser resolvida com o mencionado bloco especial, de acordo com o esquema apresentado na figura 2.12. Outra possibilidade é a utilização de um bloco especial de três furos, raramente encontrado no mercado. Esse bloco teria que apresentar os furos das extremidades com as dimensões normais e o furo do meio com a dimensão adaptada à largura das unidades. Assim, além de não ser comum a sua produção, esse bloco normalmente apresentaria dificuldades de instalação, pois seria muito pesado. Por exemplo, no caso dos blocos seguindo a especificação M-15 da NBR 6136, ele teria 55 cm de comprimento. Entretanto, o esquema de fiadas da borda pode ser simplificado com a sua utilização, como se observa na figura 2.13. 20 Capítulo 2 – Principais Aspectos Quanto à Modulação Fig. 2.12 - Borda com módulo e largura diferentes, com bloco especial Fig. 2.13 - Borda com módulo e largura diferentes, com bloco especial de três furos 2.7. Modulação Vertical – Principais Detalhes Conforme já se mencionou, a modulação vertical raramente provoca mudanças significativas no arranjo arquitetônico. Existem basicamente duas formas de se realizar essa modulação. A primeira, apresentada na figura 2.14, é aquela onde a distância modular é aplicada de piso a teto. Assim, paredes de extremidades terminarão com um bloco J que tem uma das suas laterais com uma altura maior que o convencional, de modo a acomodar a altura da laje. Já as paredes internas terão sua última fiada composta por blocos canaleta comuns. Em casos onde não se pretenda ou não se possa utilizar blocos J, mesmo nas paredes externas poderão ser utilizados apenas blocos canaleta convencionais, realizando-se a concretagem da laje com uma forma auxiliar convenientemente posicionada, figura 2.15. 21 Capítulo 2 – Principais Aspectos Quanto à Modulação Fig. 2.14 – Modulação de piso a teto Fig. 2.15 – Parede externa sem bloco J A segunda possibilidade de modulação vertical que pode ser utilizada é a aplicação da distância modular de piso a piso. Nesse caso, apresentado na figura 2.16, a última fiada das paredes externas será formada por blocos J com uma das suas laterais com altura menor que a convencional, de forma a também propiciar a acomodação da espessura da laje. Já as paredes internas apresentarão, em sua última fiada, blocos compensadores, para permitir o ajuste da distância de piso a teto que não estará modulada. Este procedimento pode ser interessante quando o fabricante de blocos não puder fornecer blocos J e não se desejar fazer a concretagem utilizando-se formas auxiliares. Ocorre que os blocos canaleta comuns poderão ser cortados no canteiro, através de uma ferramenta adequada, permitindo que os blocos J e os compensadores possam ser obtidos com relativa facilidade. Fig. 2.16 – Modulação de piso a piso 22