UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
KAMILA CHALMY ZATTI
A IDENTIDADE REGIONAL CONTADA NAS PÁGINAS DO CORREIO
RIOGRANDENSE
CAXIAS DO SUL
2014
2
KAMILA CHALMY ZATTI
A IDENTIDADE REGIONAL CONTADA NAS PÁGINAS DO CORREIO
RIOGRANDENSE
Monografia de conclusão do curso de
Comunicação Social, habilitação em Jornalismo da
Universidade de Caxias do Sul, apresentada como
requisito parcial para a obtenção do título de
Bacharel.
Orientadora: Prof. Ma. Ana Laura Paraginski
CAXIAS DO SUL
2014
3
KAMILA CHALMY ZATTI
A IDENTIDADE REGIONAL CONTADA NAS PÁGINAS DO CORREIO
RIOGRANDENSE
Monografia de conclusão do curso de
Comunicação Social, habilitação em Jornalismo da
Universidade de Caxias do Sul, apresentada como
requisito parcial para a obtenção do título de
Bacharel.
Aprovada em ___ /07/2014
Banca Examinadora
_______________________________________
Profa. Ma. Ana Laura Paraginski
Universidade de Caxias do Sul – UCS
_______________________________________
Prof. Ms. Jacob Raul Hoffmann
Universidade de Caxias do Sul – UCS
_______________________________________
Prof. Ms. Luís Marcelo Miranda
Universidade de Caxias do Sul – UCS
CAXIAS DO SUL
2014
4
Dedico este trabalho de pesquisa aos
pioneiros do jornalismo em Caxias do
Sul/RS.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais Julio César Zatti e Elsa Pol Zatti, por estarem sempre ao meu
lado. Aos professores Dinarte de Borba e Albuquerque, Marliva Vanti Gonçalves e Eulália Isabel
Coelho (Biba), pelo carinho e estímulo durante toda a graduação. Aos amigos Daiane Luza, Jair
Dresch, Odanir Antonio Tomazzo (in memoriam), Pedro Ubirajara da Rosa e Valdecir de Oliveira
Anselmo.
Aos freis Aldo Colombo, João Carlos Romanini, Moacir Molon e Rovílio Costa (in
memoriam). À equipe de redação do jornal Correio Riograndense, especialmente Marcelino
Carlos Carlos Dezen. Aos funcionários do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, da
Biblioteca Pública Municipal de Caxias do Sul, da Biblioteca da Universidade de Caxias do Sul
(UCS) e do Museu dos Capuchinhos (MusCap), que me auxiliaram durante o levantamento da
documentação histórica importante para realização desta pesquisa.
Agradeço, em especial, à professora Maria Luiza Cardinale Baptista, por ter iniciado o
projeto, e à professora Ana Laura Paraginski, por ter aceitado dar continuidade ao trabalho, por
sua competência, profissionalismo e sensibilidade.
Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão
Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente nesta caminhada,
parceiros de trabalho da Associação Criança Feliz e amigos.
6
“Começava uma aventura
impossível... E, contra todas as
possibilidades, deu certo.”
Frei Aldo Colombo
7
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo estudar a origem do jornalismo impresso em Caxias do
Sul/RS, por meio do jornal Correio Riograndense (CR). Busca-se evidenciar a evolução deste
semanário, identificando o seu discurso, com raízes na cultura da Região Colonial Italiana da
Serra Gaúcha. A análise foi elaborada com base em exemplares que marcam a trajetória do CR. O
referencial teórico engloba gêneros e formatos jornalísticos, além de conceitos de identidade,
identidade regional, língua, cultura, etnia e religião. Foram realizadas pesquisas nos arquivos do
Museu dos Capuchinhos (MusCap). De modo que a seleção final resultou em três edições
comemorativas: 75, 100 e 105 anos. A metodologia escolhida parte da pesquisa qualitativa e o
método elegido foi a análise de conteúdo. Neste contexto, foram feitas algumas inferências que
demonstram como a cultura da região está sendo representada nas páginas deste veículo que
distribui 10 mil exemplares todas as semanas e possui aproximadamente 9 mil assinantes.
Palavras-chaves: Jornalismo; Identidade; Cultura Italiana; Língua; Religião.
8
ABSTRACT
The purpose of this work is to study, by the Correio Riograndense (CR) newspaper, the principle
of the printed journalism in Caxias do Sul/RS. Identifying the speech of this journal, it presents
the evolution of this newspaper that have its origins based on the culture of the Italian colonial
region of Serra Gaucha. The analysis was performed based on copies that have determined the
history of CR. The theoretical framework encompasses journalistic genres and formats, and
concepts of identity, regional identity, language, culture, ethnicity and religion. Surveys were
conducted in the archives of the Museum of the Capuchins (MusCap). So the final selection
resulted in three commemorative editions: 75, 100 and 105. The chosen methodology of
qualitative research and the chosen method was content analysis. In this context, some inferences
were made that demonstrate how the path of the CR. region's culture is being represented in the
pages of this vehicle which distributes 10,000 copies every week and has approximately 9000
subscribers.
Keywords: Culture, Italian Immigration, Journalism, Language, Religion.
9
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AHCM
Arquivo Histórico da Câmara Municipal
AHMJSA
Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami
ANJ
Associação Nacional de Jornais
CR
Correio Riograndense
FNJ
Federação Nacional dos Jornais
IR
Identidade Regional
MusCap
Museu dos Capuchinhos de Caxias do Sul
N. trad.
Nota de tradução, do tradutor
RS
Rio Grande do Sul
UCS
Universidade de Caxias do Sul
Vol.
Volume
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................12
2 ASPECTOS METODOLÓGICOS...............................................................................14
2.1 PESQUISA QUALITATIVA.......................................................................................14
2.2 O MÉTODO................................................................................................................15
3 O QUE É JORNALISMO........................................................................................... 17
3.1 HISTÓRIA DO JORNALISMO IMPRESSO NO BRASIL..........................................19
3.1.1 A imprensa escrita em Caxias do Sul......................................................................21
3.1.1.1 A Imprensa Católica............................................................................................24
3.1.1.1 O Jornal Correio Riograndense...........................................................................26
3.2 CARACTERÍSTICAS DOS GÊNEROS JORNALÍSTICOS........................................28
3.2.1 NOTÍCIA..................................................................................................................29
3.2.2 REPORTAGEM........................................................................................................30
3.2.3 FOLHETIM...............................................................................................................31
3.2.4 EDITORIAL..............................................................................................................32
4 CONCEITOS DE IDENTIDADE....................................................................................34
4.1 IDENTIDADE REGIONAL.........................................................................................37
5 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO JORNAL CORREIO RIOGRANDENSE................39
5.1. O CAMINHO PERCORRIDO A CADA MUDANÇA GRÁFICA-EDITORIAL.........39
5.2 EDIÇÕES COMEMORATIVAS DO CR: 75, 100 E 105 ANOS..................................41
5.3 ANÁLISE DAS EDIÇÕES...........................................................................................41
5.2.1 Língua.....................................................................................................................41
5.2.2 Cultura....................................................................................................................50
11
5.2.3 Público Leitor (público-alvo do CR)........................................................................53
5.2.4 Religiosidade...........................................................................................................55
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................58
REFERÊNCIAS...............................................................................................................60
APÊNDICE.......................................................................................................................66
ANEXOS...........................................................................................................................72
12
1 INTRODUÇÃO
A presente monografia tem por tema a identidade regional da Serra Gaúcha e, em
especial, de Caxias do Sul contada nas páginas do jornal Correio Riograndense (CR).
O assunto escolhido se deve ao fascínio da autora pela história caxiense, com início na
sua infância, quando teve o primeiro contato com o CR. A italianidade presente no conteúdo das
edições manifestadas pelas “aventuras” do personagem Nanetto Pippeta1 (personagem de autoria
do frei Aquiles Bernardi) suscitaram a curiosidade em torno da origem deste semanário.
Caxias do Sul, “a pérola das colônias” ou a “metrópole do vinho”, como se chamou um
dia, foi construída graças ao trabalho de seu povo, por homens e mulheres que ergueram
parreiras, criaram indústrias, lutaram contra inúmeras adversidades. Neste contexto, a imprensa
caxiense também se desenvolveu, segundo o jornalista Duminiense Paranhos Antunes (6/7/190919/1/1984), embora de vida efêmera alguns, outros de mais duração, muitos foram os jornais
editados na cidade.
O jornal CR está presente na região que compreende a Serra Gaúcha. De acordo com as
historiadoras Kenia Maria Menegotto Pozenato e Loraine Slomp Giron (2004), o CR sempre
esteve sob a direção dos padres capuchinhos.
A Ordem dos Frades Menores Capuchinhos está diretamente ligada à origem da
imprensa local. Os religiosos trabalharam com diversos meios de comunicação: rádio, televisão e
especialmente o jornal impresso. Ao longo dos anos, o CR ajudou a contar a história da cidade,
influenciando para sempre o jornalismo praticado na terra dos índios, tropeiros e imigrantes. Para
tanto, será considerada uma questão norteadora, a fim de identificar como o jornal Correio
Riograndense retrata a identidade regional de Caxias do Sul e de seus moradores em suas páginas
ao longo de uma história de mais de um século.
A questão norteadora procura saber: Que tipo de identidade regional permeia o
1
A publicação das histórias de Nanetto Pipetta foi feita através do jornal Stafetta Riograndense, no período de
23.01.1924 a 18.02.1925. Seu autor foi Bernardi, na vida religiosa o Frei Paulino de Caxias, que passou sua
infância na colônia da família, num tempo em que a mata virgem ainda havia sido totalmente dominada e
cultivada. Ao ser publicada, sob a forma de folhetim, a Vita e Stòria de Nanetto Pipetta passou a ser uma
indiscutível fonte de entretenimento, ao lado das funções específicas desempenhadas pela imprensa na época. Foi o
folhetim que levou aos poucos e poucos exigentes leitores as peripécias romanescas de Nanetto Pipetta. A técnica
utilizada foi a de interessar o leitor, de prendê-lo, graças à estrutura episódica, ao desenrolar da história (RIBEIRO,
2005, p.24).
13
jornal CR?
Desta forma, a presente monografia percorrerá o seguinte caminho: o capítulo dois
apresenta a metodologia utilizada no trabalho. Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada por
meio da análise de conteúdo das edições selecionadas. A partir de então, buscam-se dados, que
serão, posteriormente, analisados, realizando inferências, processo esse importante para que se
possa chegar às conclusões. No capítulo três, aspectos da história da comunicação no Brasil, a
origem da imprensa escrita em Caxias do Sul, a imprensa católica e um breve histórico do jornal
CR. Abordaremos também as principais características dos gêneros jornalísticos, com os
conceitos de notícia, crônica, folhetim e editorial.
O quarto capítulo apresenta o conceito de identidade, com enfoque na significação da
identidade regional. No quinto capítulo, é feita uma descrição e a análise do Jornal Correio
Riograndense. Para tanto, buscou-se como critério selecionar as edições comemorativas dos 75,
100 e 105 anos, respectivamente. Para a conclusão desta pesquisa, será necessário realizar
inferências a partir da análise das edições do jornal CR, a partir da questão norteadora levantada
incialmente. Essas inferências poderão estar ligadas às características do texto, da linguagem e de
elementos particulares da escrita das edições selecionadas. Com base nas edições, busca-se uma
configuração da identidade regional, com aspectos da língua, cultura, público, leitor e da
religiosidade expressa no conteúdo presente nas edições estudadas. A segunda parte da análise se
propõe, finalmente, ao aprofundamento das relações, indicando a sua ligação com os capítulos
estudados anteriormente.
Por fim, pretende-se resgatar e, desta maneira, valorizar a trajetória do jornal Correio
Riograndense, evidenciando um veículo centenário, que objetiva retratar o desenvolvimento da
região da Serra Gaúcha.
14
2 ASPECTOS METODOLÓGICOS
A realização da pesquisa parte de uma metodologia qualitativa e exploratória. Segundo a
autora Mirian Goldenberg, a pesquisa qualitativa não se volta para a representatividade numérica
do grupo pesquisado, mas sim, com o aprofundamento da compreensão social, de uma
organização, de uma trajetória etc. Segundo ela:
Os pesquisadores qualitativistas recusam o modelo positivista aplicado ao estudo da
vida social. O fundador do positivismo, Auguste Comte (1798-1857), defendia a
unidade de todas as ciências e a aplicação da abordagem científica na realidade social
humana. Com base em critérios de abstração, complexidade e relevância prática,
Comte estabeleceu uma hierarquia das ciências, em que a matemática ocupava o
primeiro lugar, e a sociologia ou "física social", o último, precedida, em ordem
decrescente, da astronomia, física, química e biologia (GOLDENBERG, 2012, p. 17).
Goldenberg também destaca a oposição ao pressuposto defendido de um modelo único
de pesquisa para todas as ciências, considerando que as ciências sociais possuem suas
especificidades. A autora também destaca:
Nesta perspectiva, na qual o objeto das ciências sociais deve ser estudado tal qual o das
ciências físicas, a pesquisa é uma atividade neutra e objetiva, que busca descobrir
regularidades ou leis, em que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir
que seus preconceitos e crenças contaminem a pesquisa (GOLDENBERG, 2012, p.
17).
Do ponto de vista teórico, esta pesquisa fundamenta-se em levantamento bibliográfico
sobre o jornalismo no Brasil e aspectos históricos e sociais da imprensa, apoiado em autores
como Kenia Maria Menegotto Pozenato, Loraine Slomp Giron, Mário Erbolato, Luiz Amaral,
Juarez Bahia e Nelson Sodré. O levantamento ou pesquisa bibliográfica é estruturado a partir de
livros, jornais, internet, etc. Conforme define a professora Vera Regina Casari Boccato (2006,
p.266):
Esse tipo de pesquisa trará subsídios para o conhecimento sobre o que foi pesquisado,
como e sob que enfoque e/ou perspectivas foi tratado o assunto apresentado na
literatura científica. Para tanto, é de suma importância que o pesquisador realize um
planejamento sistemático do processo de pesquisa, compreendendo desde a definição
temática, passando pela construção lógica do trabalho até a decisão da sua forma de
comunicação e divulgação. (BOCCATO, 2006, p.266).
Os procedimentos operacionais, ou seja, a parte prática desta pesquisa, envolvem a
15
seleção e Análise de Conteúdo (AC) de três edições comemorativas do CR, de 1984, 2009 e
2014. As edições selecionadas retomam os quatro 2 principais períodos do periódico: La Libertà,
Il Colono Italiano, La Staffetta Riograndense, por fim, Correio Riograndense.
Com o objetivo de enfatizar alguns aspectos que se consideram mais importantes para
esta pesquisa, optou-se por realizar a análise do conteúdo dos jornais sob os critérios que
associam a questão da identidade regional à história do Jornal Correio Riograndense.
Roque Moraes (1999) destaca que o método de Análise de Conteúdo tem a sua origem
no final do século XIX. Suas características e abordagens, porém, foram desenvolvidas, ao longo
dos últimos cinquenta anos. Neste sentido, constitui uma metodologia usada para descrever e
interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos. Segundo Moraes (1999), essa
análise, conduzirá a descrição de forma sistemática, e ajudará a reinterpretar as mensagens,
colaborando assim na compreensão de seus significados num nível que vai além de uma simples
leitura comum.
Laurence Bardin (2004) trata as diferentes possibilidades de aplicação da Análise de
Conteúdo adequada, segundo a autora, a qualquer discurso que direcione informações de um
emissor para um receptor.
A intenção da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às
condições de produção (ou, eventualmente, de recepção), inferência esta que recorre a
indicativos (quantitativos ou não) (BARDIN, 2004, p.34).
Bardin também esclarece que o principal objetivo da AC é deduzir logicamente
informações sobre as condições do objeto analisado. “[...] O analista tira partido do tratamento
das mensagens que manipula para inferir (...) conhecimentos sobre o emissor da mensagem ou
sobre o seu meio, por exemplo” (BARDIN, 2004, p. 34).
- o que conduziu determinado enunciado? Este aspecto diz respeito às causas ou
antecedentes da mensagem;
- quais as consequências que determinado enunciado vai provavelmente provocar? Isso
refere-se aos possíveis efeitos das mensagens [...] (BARDIN, 2004, p.34).
2
Os períodos do jornal CR compreendem a seguinte cronologia e mudanças de nome: Là Liberta (1909); Il Colono
Italiano (1910-1917); Staffetta Rio-Grandense (1917-1921); Staffetta Riograndense (1921-1927); La Staffetta
Riograndense (1927-1940); Estafeta Riograndense (1940-1941); Staffetta Riograndense (1941) e Correio
Riograndense (1941-2014). Fonte: Acervo do MusCap.
16
Para a realização desta pesquisa, será preciso identificar inferências3 nos editoriais do
jornal Correio Riograndense, a partir das questões norteadoras levantadas inicialmente. Essas
inferências estão ligadas às características do texto, da linguagem e de elementos particulares da
escrita das edições selecionadas.
Como complemento do estudo foram realizadas quatro breves entrevistas com
profissionais ligados à trajetória do CR, especialmente aos períodos analisados. Marcelino Carlos
Dezen (Apêndice D) e com os freis Aldo Colombo (Apêndice A), João Carlos Romanini
(Apêndice B) e Moacir Pedro Molon (Apêndice C), que responderam às perguntas: “De que
forma é percebida a identidade regional nas páginas do CR?” e “Como você define a identidade
do leitor do CR?”.
Para o foco da análise, buscou-se como critério selecionar três edições do jornal Correio
Riograndense, Edição Comemorativa dos 75, 100 e 105 anos. Com enfoque nos conceitos que
envolvem a identidade regional e em aspectos como língua, cultura, público e a religiosidade.
3
Significado de inferência: operação lógica, pela qual se admite uma proposição em virtude de sua ligação com
outras proposições já aceitas como verdadeiras. Inferir: extrair uma consequência. Bardin cita Petit Robert,
Dictionnaire de la langue Française, S.N.L. 1972.
17
3 O QUE É JORNALISMO
Este capítulo pretende conceituar de maneira objetiva o Jornalismo, assim como suas
principais funções. O jornal é a mais antiga das mídias voltada para o grande público. Com
experiências de comunicação por meio da escrita desde a Roma Antiga. Mas, ao definir o jornal
como o que se conhece atualmente, distribuição em massa de forma regular, o marco inicial é o
processo de impressão por tipos móveis, a tipografia, criada pelo alemão Johannes Gutenberg em
1447. Judith Brito e Ricardo Pedreira (2009) destacam a finalidade inicial da invenção da prensa
inventada por Gutenberg:
Os primeiros jornais impressos a partir da invenção de Gutenberg surgiram no começo
do século XVII, inicialmente na Europa, depois nas Américas, e em seguida se
espalharam por todo o mundo. As inovações tecnológicas acontecidas ao longo dos
séculos – sobretudo na produção gráfica, na fotografia, na transmissão de informações
e na distribuição física de impressos – transformaram os jornais em meios de
comunicação de massa (BRITO; PEDREIRA, 2009, p.25).
Os jornais passaram a ser um veículo de disseminação da informação. Desde o seu início
desempenham um papel de profunda importância na vida política de seus países e na conquista da
cidadania. Mas isso não impediu que os governantes utilizassem esse meio como forma de
manipulação da informação pública e de censura aos veículos independentes.
As definições a cerca do Jornalismo são inúmeras e se adaptam ao enfoque de cada um.
“Ao assumir, porém, a condição de ciência, toma contornos acentuados e bem visíveis, e pode ser
definido como “o estudo do processo de transmissão, de informação, através de veículos de
difusão coletiva, com características específicas de atualidade, periodicidade e recepção
coletiva”. (AMARAL, 1982, p.16 grifo do autor).
Beltrão (1960) explica que o que importa é o agora. “O jornalismo vive do cotidiano, do
presente, do efêmero, procurando nele penetrar e dele extrair o que há de básico, fundamental e
perene, mesmo que essa perenidade valha, apenas, por alguns dias ou por algumas horas.”
(BELTRÃO, 1960, p. 66).
Para Amaral (1982), a “periodicidade” é uma característica “menos subjetiva, a mais
formal, pois diz respeito aos intervalos em que se registram suas manifestações.” (AMARAL,
1982, p.16).
18
José Marques de Melo (1971) afirma que, a “recepção coletiva”, “é um elemento novo e
que define bem a função do jornalismo, como instrumento público, ao alcance de todos. Isso se
processa através de seus veículos [...] que poderão ser utilizados por quaisquer pessoas [...]”.
(MELO, 1971, p.63).
Quanto às funções inerentes do jornalismo, Amaral (1982) conceitua:
“Função Política – Por função política, entende-se os meios de informação, em sua ação
crescente, como instrumento de direção dos negócios públicos, e com órgãos de expressão e de
controle da opinião pública.” (AMARAL, 1982, p. 17).
Função Econômica e Social – Com o noticiário e interpretação dos fatos econômicofinanceiros, o Jornalismo oferece ao homem de negócios um panorama diário do
mercado que lhe facilita a ação para o empresariado de suas empresas e proporciona
bases para um melhor relacionamento com a clientela. (AMARAL, 1982, p.19).
“Função Educativa – É esta função a que desfruta de maior prestígio, nos dias atuais,
seja nos países desenvolvidos, seja nos que se acham em via de desenvolvimento.” (AMARAL,
1982, p. 19). O autor considera fundamental que seja trabalhada sempre uma imagem real de
mundo, “por isso, o critério principal para julgar um órgão de imprensa deveria ser não seu êxito
em número de exemplares vendidos, mas sua preocupação com a verdade.” (AMARAL, 1982,
p.20).
Por fim, a Função de Entretimento do Jornalismo,
pois terá sempre que acompanhar
as transformações da sociedade. De acordo com o autor:
A imprensa opera, também, a liberação de nossas próprias tendências, permitindo
projetar nossas culpabilidades sobre os outros. Legitima nossos impulsos agressivos.
Denunciando os escândalos, designando os culpados, dá uma satisfação, pelo menos
imaginativa e verbal, à nossa violência, às nossas reivindicações, à nossa necessidade
de protestar.
Evidentemente que na civilização pós-industrial, sendo maiores os momentos de
ociosidade, maiores serão, também, os problemas. Os meios de comunicação coletiva
terão de acompanhar as mutações, sem o que estarão longe de satisfazer as exigências
do novo homem. (AMARAL, 1982, p. 20-21).
Na visão do pesquisador Mário Erbolato (1979), “os jornais se destinam à massa e, ao
serem preparados, ignora-se a quem chegarão os seus exemplares, que tanto poderão ser lidos
pelo Presidente da República [...], quanto por pessoas humildes, das classes populares [...]”.
(ERBOLATO, 1979, p.81). Logo, a linguagem deve ser coerente, correta e acessível a todos.
19
Entretanto o autor assume a dificuldade da neutralidade: “é difícil escrever com imparcialidade,
porque o jornalista ao narrar um acontecimento, pode encará-lo do ponto de vista favorável aos
seus interesses e sujeito às suas emoções momentâneas.” (ibid., p.81).
3.1. HISTÓRIA DO JORNALISMO IMPRESSO NO BRASIL
Conforme Brito e Pedreira (2009), a imprensa surgiu tarde no Brasil. Do descobrimento
até 1808, era proibido o uso da tipografia, para evitar a divulgação na colônia de ideias e
informações julgadas inconvenientes pela metrópole. “Diante da proibição portuguesa, Hipólito
José da Costa, a partir de 1º de junho de 1808, iniciou fora do Brasil, em Londres, a edição do
Correio Braziliense, que aqui chegava contrabandeado.” (BRITO E PEDREIRA, 2009, p.26)
Para Nelson Sodré (1977):
(...) na verdade, o período de 1830 a 1850 foi o grande momento da imprensa
brasileira. Fraca em técnica, artesanal na produção, com distribuição restrita e
emprestada, praticamente inexistente uma vez que inespecífica, encontrou, entretanto,
na realidade política a fonte de que se valeu para exercer sobre essa realidade, por sua
vez, influência extraordinária, consideradas as condições da época. Foi, praticamente,
a infância da imprensa brasileira; talvez a sua turbulenta adolescência, quando muito,
se considerarmos infância a curta fase em que batalhou pela liberdade conjugada à
independência do país (SODRÉ, p. 206).
Em 1808, também começou a ser distribuído no Brasil, o Jornal Gazeta do Rio de
Janeiro, o qual fazia parte da Imprensa Régia. Era uma publicação que continha de quatro a seis
páginas, distribuída semanalmente e, posteriormente, a cada duas semanas e, por meio dela, só se
sabia do estado de saúde dos príncipes da Europa e era ilustrada com alguns documentos de
ofícios. (AZEVEDO, 2009).
Uma segunda fase do jornalismo brasileiro foi chamada pelo autor Juarez Bahia de
“consolidação da imprensa nacional”.
Não só o processo de feitura, com a introdução da nova maquinaria e a equação do
jornal como empresa gráfica autônoma, independente da tipografia, que tomou o
caráter comercial, para servir as chamadas casas de obras, mas igualmente a
qualificação do jornalismo como profissão, a necessidade de expansão e criação de
mercados consumidores internos e externos […] (BAHIA, p. 53).
No início do século XX surgem os primeiros folhetins e também personalidades como
20
Assis Chateaubriand e Irineu Marinho. “Chatô, o Rei do Brasil” (Chateaubriand), como ficou
amplamente conhecido, foi o idealizador dos Diários Associados. Já Irineu Marinho cria O
Globo, posteriormente seu filho Roberto Marinho, construiria o mais famoso conglomerado de
mídia do país. Especialmente no Rio Grande do Sul, é fundado o Correio do Povo (1895), por
Caldas Jr e Diário de Notícias (1925), em Porto Alegre.
Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo nasceu em Umbuzeiro, na
Paraíba, em 4 de outubro de 1892. Em Recife (PE), cursou direito e iniciou a carreira
jornalística, escrevendo para o Jornal Pequeno e o Diário de Pernambuco. Em
seguida, mudou-se para o Rio de Janeiro e colaborou com o Correio da Manhã. Com a
aquisição de O Jornal em 1924, Assis Chateaubriand iniciou a realização de um sonho:
integrar o Brasil por meio de uma rede de veículos de comunicação, os Diários
Associados. […] focou em áreas como mineração, pecuária, agricultura, café, aviação,
política, comunicação, educação e cultura. Progressista, promoveu a Campanha
Nacional de Aviação, com o slogan “Dêem asas ao Brasil” em 1941 e fundou mais de
400 centros de puericultura. Criou também o Museu de Arte de São Paulo (Masp) […].
Chateaubriand foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira
deixada por Getúlio Vargas. Em 1960, o Velho Capitão foi vítima de uma doença que
o deixou tetraplégico, mas lhe preservou a consciência. Ele continuou a escrever seus
artigos diários graças a mecanismo próprio na máquina de datilografia. Morreu em
1968, na capital paulista. 4
Em 1921, circula pela primeira vez a Folha da Noite. Em 1925, surge a primeira edição
da Folha da Manhã, e, anos depois, o mesmo grupo criaria a Folha da Tarde. As três empresas
jornalísticas dão origem a Folha de São Paulo, em 1960.
A partir da década de 1930, acontece a fase intitulada como moderna, por Juarez Bahia.
Desde a revolução de 30, com a chegada do Estado Novo, em 1937, com a censura, e o retorno
da liberdade da imprensa , em 1945, até os “anos de chumbo”, com o golpe militar em 1964.
Conforme o site da Associação Nacional de Jornais (ANJ, 2003), o governo liderado
pelo então presidente da república Getúlio Vargas (1937-1945), promoveu a forte censura à
grande imprensa, contrária aos seus ideais de governo. Com o objetivo de regularizar e fiscalizar
toda e qualquer informação de massa veiculada, o governo cria o Departamento de Imprensa e
Propaganda (DIP).
Em 1939, começa a Segunda Guerra Mundial. Para as autoras Kenia Maria Menegotto
Pozenato e Loraine Slomp Giron, o conflito é gerado entre a Inglaterra e a França, que lutaram
contra a Alemanha e a Itália. Em 1941, o cenário piora com a guerra entre os Estados Unidos e o
4
Ver em: http://fac.correioweb.com.br. Acessado em: 27 mai. 2013.
21
Japão que com a Alemanha e a Itália, formavam o Eixo. Em 1942, o Brasil entra em combate, ao
lado dos Estados Unidos (POZENATO; GIRON, 2004). Sobre a influência da guerra nas
publicações jornalísticas regionais, as autoras comentam que:
O rompimento das relações políticas do Brasil com o Eixo teve reflexos e implicações
diretos na região. Os jornais em língua estrangeira forma obrigados a alterar seu nome
e a publicar apenas em língua portuguesa. Na região, foram afetados diretamente o
Staffetta Riograndense e o Giornale Del'Agricultore, que circulavam em Caxias e
eram publicados em língua italiana. (p.94).
Para o escritor Ciro Marcondes Filho 5 as principais fases históricas do jornalismo no
Brasil, estão divididas em três partes. Na primeira, de 1789 até a metade do século XIX, o
controle do saber e da informação funcionava como forma de dominação, de manutenção da
autoridade e do poder por parte da coroa portuguesa. Na segunda, o jornalismo surge a partir da
segunda metade do século XIX, com as inovações tecnológicas que exigirão da empresa
jornalística a capacidade financeira de autossustentação. A terceira surge no século XX, com o
desenvolvimento e o crescimento das empresas jornalísticas, cuja sobrevivência só será ameaçada
pelas guerras e pelos governos totalitários do período.
3.1.1 A IMPRENSA ESCRITA EM CAXIAS DO SUL
Caxias do Sul, antes da colonização, desenvolvia-se lentamente. O jornalista Duminiense
Paranhos Antunes (1950), relata que o território era habitado por índios. “[...] Aborígenes esses
que foram os primitivos donos destas terras, e que, com a chegada do homem civilizado, foram se
internando cada vez mais na mata ainda inexplorada” (ANTUNES, 1950, p.27).
Nos primórdios, Caxias do Sul nasce como “Campo dos Bugres”. A primeira experiência
de imigração italiana no Paese di Cuccagna6 deu-se em 1875. A vila de Caxias, segundo Kenia
5
MARCONDES FILHO, Ciro. Comunicação e jornalismo: A saga dos cães perdidos. São Paulo, Hacker
Editores, 2000.
6
O mito da Cocagna é referenciado como sinônimo de fartura, conforme descreve a autora Cleodes Piazza Ribeiro:
Quando chove, nesse país, chovem pérolas e diamantes, mas podem chover raviolis. Em direção ao porto,
denominado de Porto dos Ociosos, navegam embarcações carregadas de especiarias, mortadelas, toda a sorte de
embutidos e presuntos. Rios de vinho grego são atravessados por pontes de fatias de melão, e lagos de molho
soberbos estão coalhados de polpette e fegatelli. Fornadas permanentes de pão de farinha de trigo abastecem os
habitantes do lugar. Aves assadas despencam do céu, direto sobre a mesa, enquanto árvores cobrem-se de frutos
22
Maria Menegotto Pozenato e Loraine Slomp Giron (2004), era composta pela igreja da Vila, cuja
padroeira era Santa Tereza, sendo uma atração para os colonos. Local de casamentos, batizados e
festas. São relatos que falam dos imigrantes, portanto estrangeiros, sem direito ao voto, por não
serem reconhecidos como brasileiros vivenciavam os problemas políticos de uma pátria distante.
O primeiro jornal que surge na então “Caxias Colônia” é um periódico regional chamado
O Caxiense, impresso em 1897. O diretor era Júlio Campos e tinha como proprietário o Doutor
Augusto Diana Terra, que mantinha ligações com o Partido Republicano. Posteriormente, nasceu
outro jornal que seria então comandado por religiosos:
O surgimento do Il Colono Italiano foi a resposta católica ao jornal O Caxiense,
considerado maçônico pelos colonos. O primeiro número traz a data de 1º de janeiro de
1898. A escolha daquela data é significativa, pois representava o nascimento de uma
nova era para a cidade, a partir da qual os católicos imigrantes teriam vez e voz
(POZENATO; GIRON, 2004, p. 37-38).
Outro fator interessante na contextualização da origem do município é a influência direta
dos jornais editados na Itália, que de alguma maneira, estavam presentes e circulavam no período
de fundação da Caxias Colônia. Até onde esses veículos tinham influência na sociedade da época?
O historiador e jornalista Mário Gardelin afirma: “Na cidade, sim. Na colônia, não. Ali era o
padre [...]. Aqui você tinha uma colônia rural tremendamente enraizada em si mesmo, você tinha
uma cidade que falava em português, dentro de casa que era provincial, mas provincial da Itália
[...].” (HENRICHS, 1998, p. 26).
Em 13 de fevereiro de 1909, circula a primeira edição do Correio Riograndense – com o
nome de Lá Libertá, e um ano depois uma nova era se abre. “Por Decreto nº 1607, de 1º de
Junho de 1910 era Caxias elevada à categoria de cidade, sendo no mesmo ano inaugurado o ramal
da estrada de ferro, ligando o município à Capital do Estado.” (ANTUNES, 1950, p.27).
A região colonial do RS foi cenário para uma luta cultural, não apenas no campo
político, partidário, mas também na formação de leitores. Entre 1890 e 1914, surgiram jornais
críticos, políticos, literários. Essa “nacionalização” do leitor imigrante o ajudou na adaptação à
nos doze meses do ano. As vacas parem um vitelo ao mês e os arreios dos cavalos são de ouro, mas as rédeas são
linguiças... A topagrafia se completa com uma colina na qual está a prisão destinada aos infratores da única lei que
vigora no país: não trabalhar e gozar da vida (POZENATO, Cleodes Piazza. In: POZENATO, José Clemente. A
Cocanha. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2000. p.7).
23
pátria escolhida. Possivelmente, esse processo de transição não deve ter sido automático, pois os
homens e mulheres conseguiram manter “a ferro e fogo” sua identidade cultural.
E os jornais, principalmente os mantidos pelos padres católicos, tiveram uma função
fundamental de união entre os integrantes do mesmo grupo. É emocionante entender
como os padres capuchinhos, que passaram a acompanhar os imigrantes, a partir de
1897 criaram o Staffetta Riograndense, mais tarde rebatizado de Correio
Riograndense, até hoje em atividade, em que os colonos encontram conforto espiritual,
conselhos pra agricultura, informações em português e italiano sobre fatos locais e
internacionais e até mesmo romances de folhetim em dialeto vêneto, como Nanetto
Pipetta (POZENATO; GIRON, 2004, p. 11-12).
A partir de 1895, os embates entre católicos e maçons7 continuaram, conforme
documentação do Arquivo Histórico Municipal de Caxias, os jornais surgidos nesse período estão
diretamente ligados aos interesses dos dois grupos estabelecidos: os republicanos e os católicos.
Para Pozenato e Giron (2004, p. 57), “tal situação continuou pelo menos até 1912, quando a Loja
Maçônica8 foi reformulada, proibindo ataques a católicos [...].” As autoras ainda comentaram
sobre o papel da Igreja na época:
Desde o início, a Igreja Católica teve um papel importante no controle dos colonos e na
condução da política regional. A ação da Igreja, inicialmente limitada aos púlpitos e às
visitas aos colonos, afirmou-se e expandiu-se com a criação dos periódicos católicos
(POZENATO; GIRON, 2004, p. 57).
Inúmeros foram os jornais que surgiram nos primórdios da imprensa caxiense. Tendo
espaço também para os periódicos humorísticos.“O Tagarela, O Rosiclér, O Estímulo, A
Encrenca, o Olha-o-Poste, A Pérola, O Assombro, e o Pissilone, além de diversas revistas, como
“A Odisseia”. (ANTUNES, 1950, p. 59). Antunes enfatiza os nomes importantes da imprensa
caxiense:
7
A fundação da Maçonaria Moderna acontece no ano de 1717, com a formação da Grande Loja de Londres: “[...]
que, entre seus estatutos, colocava como condição a ser maçom a crença no Grande Arquiteto do Universo, o
juramento sobre o Livro da Lei Sagrada e a proibições de discussões religiosas e políticas no interior das lojas. No
entanto, no ano de 1877, a Grande Oriente da França riscou da redação de seus estatutos as cláusulas que
envolviam a crença em Deus, dando-lhe novo formato em um sentido mais racional, filosófico e progressista. A
partir daí, formaram-se duas correntes de pensamento: a francesa, defensora de liberdade de consciência e
republicana; a inglesa mais conservadora e religiosa. De forma geral, a primeira corrente foi a que prevaleceu nos
países latinos onde a Maçonaria assumiu uma posição mais identificada com a luta pela liberdade de pensamento e
contra o absolutismo monárquico, geralmente aliado à Igreja.” (BARATA, 1999, p. 29,31,41).
8
Os locais onde os maçons se reúnem e realizam suas sessões são chamados de Templos. A expressão Loja
também pode ser utilizada para se referir a estes locais, porém, na Maçonaria o termo Loja deve ser entendido
como um grupamento particular de maçons, uma entidade coletiva definida (BOUCHER, 1997).
24
Poetas de ontem, de hoje, filhos da terra ou simples agregados, como Antonio
Casagrande, Bento de Lavra Pinto, Olmiro Azevedo, Henrique Saldanha Filho, Cyro
de Lavra Pinto, Jeronimo Neves, Natércio Cunha Velloso, Palmira Saldanha Rache,
João Spadari Adami, Mário Gardelin e muitos outros, representam o início da
imprensa caxiense, através do tempo. (ibid., p.59)
Segundo Pozenato e Giron (2004), naquele período de 1897 a 1913 circulavam na região
26 jornais. Um número considerado expressivo, tendo-se em vista as precárias condições do
homem do interior. Ainda conforme as autoras, “isso talvez explique a curta duração desses
periódicos, cuja grande maioria circulou durante um ou dois anos apenas; alguns não conseguiram
completar um ano de existência” (POZENATO; GIRON, 2004, p. 59).
3.1.1 A IMPRENSA CATÓLICA
O século XIX é um marco para o início da imprensa católica brasileira. Conforme o
artigo “Os bispos do Brasil e a imprensa”, do pesquisador frei Oscar de Figueiredo Lustosa, a
primeira fase dos periódicos de evangelização (1830-1870), só foi possível por meio do esforço
de católicos leigos isolados, que produziram jornais em sua maioria de vida curta, com circulação
reduzida e de abrangência paroquial. Semanários, quinzenários, voltados às temáticas doutrinárias
de culto, tendo como objetivo eclesiástico “defender a fé e os costumes, para reivindicar direitos,
para lutar contra os adversários e em uma palavra, para informar e formar". (LUSTOSA, 1983, p.
8).
Nos primeiros anos de imigração no Rio Grande do Sul, dentre as ordens religiosas, os
palotinos alemães foram os primeiros a atender os imigrantes italianos em 1886. Estando à frente
da paróquia de Caxias de 1888 a 1893. A partir de 1896, chegaram os capuchinhos franceses,
instalando-se inicialmente em Garibaldi, Veranópolis, Flores da Cunha e Marau. “Introdutores do
estilo gótico na construção de igrejas, estes frades tiveram atuação relevante na colônia italiana
graças ao seminário La Libertà, depois Il Colono Italiano, Stafetta Riograndense e
posteriormente Correio Riograndense” (DE BONI; COSTA, 1984, p. 116).
No dia 18 de janeiro de 1896 chegava a Conde D'Eu, atual Garibaldi, o primeiro
contingente: os freis Bruno de Gillonnay e Leão de Montsapey, acompanhados do
provincial de Sabóia, frei Rafael de la Roche. Eram franceses, vinham ao Brasil
atender pastoralmente imigrantes italianos. Este encontro de nacionalidades, etnias,
25
culturas, idiomas e costumes contribuiu para a rápida enculturação capuchinha.
Deixaram de lado os esquemas europeus e converteram-se à realidade local.9
Durante o final da década de 1890, a população regional superava o número de 80 mil
habitantes. Entre 1897 e 1945, circulavam nas antigas colônias 75 jornais. Pozenato e Giron
(2004) identificam que neste período existiu em Caxias 50 periódicos, ganhando destaque a
veiculação político-partidária. Passada a Revolução de 30, continuavam sendo criados jornais
políticos, sendo a maioria associados ao Partido Republicano Riograndense (PRR).
Segundo as autoras, outra linha editorial que ganhava força era a associada à Igreja
Católica, tendo exposto em seu editorial o combate à Maçonaria e o positivismo presente no
Estado. Nesse período, as tipografias10, mesmo que primitivas e manuais, eram as principais
responsáveis pela profusão de periódicos:
A composição era realizada com o auxílio de um instrumento chamado “componedor”,
uma espécie de régua que formava os tipos enquanto o tipógrafo realizava a montagem
do texto. Tornava-se lenta e difícil, portanto, uma composição muito extensa; já que os
tipos tinham que ser colocados um a um no “componedor”, as palavras eram montadas
letra por letra, separadas entre si por um tipo vazio (sem letra), e o texto devia ser
organizado linha por linha, até construir uma folha completa. (POZENATO; GIRON,
2004, p. 30).
De acordo com o informativo “Cem nos de presença dos Freis Capuchinhos no Rio
Grande do Sul” (1996), o jornal CR foi além de informação, alfabeto, Bíblia e formação para
várias gerações de leitores. De uma simples tipografia, deu-se a origem da Editora São Miguel,
Gráfica e jornal, transferidos de Garibaldi para Caxias em 1952. “Na comunicação capuchinha
assinala-se também o calendário da Associação Antoniana, com mais de 350 mil exemplares e a
EST11 que, em 25 anos, publicou cerca de 1.600 obras, algumas de grande expressão”, ainda:
Com o advento da rádio, os sucessores do frei Bruno viram a possibilidade de “pregar
sobre os telhados” a Boa Nova do Reino. Assim foram surgindo pequenas emissoras,
9
Informativo “Um século”, 1896-1996, Cem anos de presença dos Freis Capuchinhos no Rio Grande do Sul, Quem
somos, onde estamos e o que fazemos,1996, p.3.
10
Nos primórdios da imprensa, em Caxias, a empresa tipógrafica mais conhecida foi a tipografia Mendes (1908),
localizada na Av. Júlio de Castilhos, idealizada por Américo Ribeiro Mendes. Outra figura emblemática neste
ramo foi Júlio Lorenzoni, de Bento Gonçalves. (POZENATO; GIRON, 2004, p. 31)
11
Rádios Redesul AM: Alvorada AM de Marau, Cacique AM de Lagoa Vermelha , Cristal AM de Soledade,
Fátima AM de Vacaria, Garibaldi AM de Garibaldi, São Francisco de Caxias do Sul, Veranense de Veranópolis,
Maristela AM de Torres, Rede Scalabriniana, Aurora AM de Guaporé, Cultura AM de Campos Novos , Rosário
AM de Serafina Corrêa, Sarandi AM de Sarandi e Web Rádio Migrantes (Diponível em:
http://www.redesul.am.br/. Acesso em: 18 mai. 2014).
26
comerciais e comunitárias, mas de acentuada programação religiosa e suportes de
trabalho paroquial. Hoje são 12 emissoras: Rádio Veranense, Rádio Difusora de
Garibaldi, Rádio Alvorada de Marau, Rádio Cristal de Soledade, Rádio Fátima de
Vacaria e Rádio São Francisco de Caxias do Sul. As cinco últimas atuam também em
Frequência Modulada.12
3.1.1 O JORNAL CORREIO RIOGRANDENSE
Logo que criado, o jornal La Libertà sofre a sua primeira grande transformação com a
troca de proprietário e editor. Registros da época indicam intrigas clericais. O jornal, fundado por
Dom Carmine Fasulo, agora sob a direção de Baldassarre (Fratelli Baldassarre) é alvo de críticas,
“tornou-se inútil e escandaloso, insultando sacerdotes, fabriqueiros e fiéis”. (BRANDALISE,
1985, p. 35).
Pe. Francisco Baldassarre assume o La Libertà (ver Anexo I) na edição de número 15.
Em nota de capa diz:
Notifica-se que todos os escritos relativos ao nosso jornal La Libertà correspondências,
relatórios, declarações, carta com ou sem a assinatura do jornal, tudo deve ser
direcionado para essa redação na pessoa do Rev. D. Francis Balbasarre, editor do
jornal e pároco atual de Caxias. D. Carmine Fasulo não tem interferência direta, mas é
sempre o firme defensor do jornal La Libertà13 (La Libertà, Caxias do Sul, capa, 22
maio 1909, tradução nossa).
Nesta edição, o novo editor retoma os planos de uma “legítima imprensa católica”,
Baldassarre transcreve um longo texto da “Civilização Católica”, onde fala da decadência do
jornalismo moderno:
Quem não vê que o jornalismo não pode ser nem um mero passatempo nem um
simples divulgador de notícias? [...] Da pretensão de substituir a enciclopédia, o jornal
desceu à exclusão de todo assunto sério... Não mais artigos de fundo, que, como se diz,
enfastiam; mas breves entrelinhados (...). Dizem que o público assim o quer e,
portanto, faça-se o jornal ao sabor do público (...). Fala ainda de “provocação da
curiosidade doentia”, da “fome insaciável do fato imoral, da intriga pútrida, do
processo escandaloso”, da tendência do jornalismo “a recolher e estender em suas
colunas o lodo da vida, mais do que a honra […]. (La Libertà, Caxias do Sul, p.3, 22
12
Informativo “Um século”, 1896-1996, Cem anos de presença dos Freis Capuchinhos no Rio Grande do Sul,
Quem somos, onde estamos e o que fazemos, 1996, p.9).
13
Original em língua italiana: Si notifica che tutti gli scritti relativi al nostro giornale "La Libertà"
corrispondenze, relazioni, reclami, lettera con o senza valore importo d'abbonamento al giornale, il tutto deve
essere diretto a questa redazione nella persona del Rev. D. Francesco Balbasarre, direttore del giornale e attuale
Parroco di Caxias. D. Carmine Fasulo non ha più ingerenza diretta, ma è sempre lo strenuo propugnatore del
giornale "La Libertà". (La Libertà, Caxias do Sul, capa, 22 maio 1909).
27
maio 1909).
O CR nasce de um “projeto de imprensa católica”, como descreve frei Bruno de
Gillonnay, das Missões Capuchinhos Franceses no Rio Grande do Sul, em relatório a Dom José
Batista Scalabrini, fundador da Congregação dos Padres Carlistas, em ocasião de sua visita às
colônias italianas no RS, em 1904.
Não a imprensa como é entendida na Europa, isto é, imprensa política, de novidades,
de lutas apaixonadas. Não é este tipo de imprensa que queremos aqui. Trabalhamos
para estabelecer com simplicidade, no centro da colônia italiana, uma pequena
impressora, que levará, periodicamente, no seio das famílias, em sua língua materna,
uma página do santo Evangelho, explicada e comentada, uma história edificante,
alguns conselhos de agricultura, a indicação de algumas brochuras adaptadas às
necessidades dos colonos (DAL BÓ; IOTTI; MACHADO, 1999, p. 492).
Ao assumirem a direção do Il Colono Italiano (ver Anexo II), em 1917, os capuchinhos
trocam o nome por La Staffetta Riograndense (ver Anexo III), nome que só vai ser mudado com
a obrigação de publicá-lo em Português, em 10-9-1941, quando passou a circular em português
como Correio Riograndense, nome que conserva até os presentes dias. Anteriormente, era
publicado em italiano, com alguns textos em português e, esporadicamente, em vêneto, lombardo,
trentino ou friulano.
O jornal era impresso em Garibaldi até 1952, período em que foi transferido com a
tipografia para Caxias do Sul. Desde 1970, é impresso em duas cores, formato tabloide.
[...] Em sua inspiração original, foi pensado para ser visita semanal às famílias
evangelizadas pelos missionários capuchinhos e também um jornal aberto às
informações gerais. Nesta condição continuou visitando as famílias, sobretudo no Sul
do Brasil, firmando uma invejável credibilidade. Suas páginas anunciaram o começo e
o fim de duas Guerras Mundiais, a bomba atômica, as grandes descobertas, as crises
internacionais e nacionais, a eleição de nove Papas. Não faltaram as notícias do
cotidiano. Ele foi Cartilha e Bíblia. Mudou sem perder a identidade... É o velho
Staffetta com roupagem nova [...].14
Editado no mesmo prédio em que funciona a Gráfica e Editora São Miguel, em Caxias
do Sul, o CR
15
circula às quartas-feiras. Além das editorias tradicionais como Saúde, Agricultura,
Imigração, as páginas do semanário contam com a colaboração de colunistas de renome nacional
como frei Betto, Wilson João, Leonardo Boff, Aldo Colombo e Padre Zezinho. Um Suplemento
14
15
Ver em: <http://www.correioriograndense.com.br>. Acesso em: 04 abr. 2013.
Ver em: <http://www.correioriograndense.com.br>. Acesso em: 03 abr. 2014.
28
Litúrgico fornece subsídios para a celebração dominical. Também é destaque o Curso de Teologia
a Distância, realizado em parceria com a Escola Superior de Teologia e Espiritualidade
Franciscana – Estef de Porto Alegre/RS.
3.2 CARACTERÍSTICAS DOS GÊNEROS JORNALÍSTICOS
A maioria dos jornais brasileiros divide os gêneros jornalísticos em quatro grandes
grupos: informativo, com a preocupação de relatar os fatos de uma forma mais objetiva possível;
interpretativo, que, além de informar, procura interpretar os fatos; opinativo, expressa um ponto
de vista a respeito de um fato; entretenimento, que são informações que visam à distração dos
leitores 16.
Segundo o professor Luiz Beltrão, o primeiro deles, o informativo, é a forma mais direta
e funcional de informação, ordem direta ao lead: Quem?, O quê?, Quando?, Onde?, Como?, e
Por quê? Seguindo a teoria da pirâmide invertida, onde o essencial é o lead, o restante é
complemento.
A interpretação jornalística consiste no ato de submeter os dados recolhidos no
universo das ocorrências atuais e ideias atuantes a uma seleção crítica, a fim de
proporcionar ao público os que são realmente significativos (BELTRÃO, 1976, p.12).
Para Beltrão, o gênero interpretativo compromete-se com a informação, sem a pretensão
de opinar, expondo apenas a realidade diante da sociedade, “a informação que, sem opinar, coloca
diante da massa o quadro completo da situação da realidade” (1976, p. 50). É recorrente em
reportagens em que determinado assunto é tratado por diferentes fontes, independentemente do
ponto de vista.
Já no opinativo, o jornalista tem a possibilidade de veicular três categorias de opinião: a
do editor, a do próprio jornalista e a do leitor.
A opinião do editor, definida como o julgamento que faz sobre determinado problema
ou questão [...]. Fundamenta-se em diversos elementos como: a) as convicções
filosóficas do grupo; b) as informações e relações que envolvem o tema proposto; c) as
sondagens e pesquisas realizadas na área de circulação e influência do veículo; d) a
experiência jornalística dos chefes de redação, algumas vezes mesmo reunidos em
conselhos editoriais; e, finalmente e) os interesses econômicos da empresa
(BELTRÃO, 1980, p.19).
16
Ver em: <http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/3196/3196.PDF> Acesso em: 03 abr. 2014.
29
São diversos os gêneros existentes dentro do campo do jornalismo, sendo cada um
priorizado conforme o formato de cada veículo.
3.2.1. Notícia
A base do jornalismo é a notícia. Seu significado é muito mais amplo do que o conteúdo
simples e puramente publicado num determinado jornal. Antes da invenção da imprensa, para
Bahia (1990), a notícia se restringia a uma ação oral na população, após Gutenberg ficou a tarefa
a cargo dos jornais. “Ela também quer dizer transmissão da mensagem – ou a mensagem em si
mesma – e de novidade que pode ser verdadeira ou falsa, a um interlocutor que a recebe, aceita,
rejeita deforma ou fica inteiramente indiferente” (BAHIA, 1990, p. 36).
Em sua maioria, as notícias, seja em qualquer veículo (rádio, televisão, jornais, internet
etc.), traça um objetivo único, atingir o público. No âmbito das fontes noticiosas, Bahia define:
As fontes de informação – essenciais à apuração das notícias – dão de modo geral: 1)
diretas; 2) indiretas; 3) complementares. Informantes de um acontecimento – seus
autores, suas vítimas, suas testemunhas, comunicados oficiais, quem fala em nome do
quê – são fontes diretas. Terceiras pessoas, informantes envolvidos circunstancialmente
nos fatos, papéis e documentos, de consulta, relatos parciais – são fontes indiretas.
Todas as informações adicionais que contribuem para esclarecer ou enriquecer a
história, acrescentar ou reduzir a visão que parecia definitiva, concorrendo com um
pormenor a mais, como depoimentos, referências (de livros, de pesquisa, referências
etc.) que auxiliam a apuração para determinar com mais precisão a notícia – são fontes
complementares. (ibid., 1990, p. 37).
Assim, deve-se levar em consideração o controle editorial de cada veículo voltado para a
comunicação de massa. Cada setor da imprensa exerce os seus próprios critérios de produção,
seleção e ordem das notícias geradas. Porém, “a organização da notícia deve ser compreendida
como uma decorrência da qualificação da informação que presta um veículo e não como método
de restrição da sua própria liberdade” (ibid., 1990, p.43).
Luiz Amaral (1982) acredita que a matéria-prima do jornalismo, a notícia, é dotada de
atributos fundamentais: atualidade, veracidade, carga de interesse humano e amplo raio de
interesse. Além do tripé: proximidade, raridade e curiosidade. De acordo com Amaral (1982):
Atualidade: Se os acontecimentos narrados são velhos, mesmos desconhecidos até
30
então, têm menos atrativo. A emulação entre jornalistas é situada no plano da rapidez
da informação, mais do quem em qualquer outro.
Veracidade: Evidentemente que não sendo verdadeira a notícia deixa de ser notícia
para ser boato. E nada pior para um veículo de comunicação que divulgar boato,
informação falsa.
Interesse humano: É preciso que essa notícia fale ao leitor, que prenda sua atenção. É
lógica a conclusão de que um acontecimento nos retém tanto quanto, de uma forma ou
de outra, tivermos a impressão de que dele estamos participando, e isso se chama
identificação.
Raio de influência: notícia que só interessa à família, ao círculo dos amigos e à
vizinhança não pode ser considerada notícia jornalística.
Raridade: O fato que se repete, monotonamente, vai perdendo interesse até cansar,
como informação, o leitor, o ouvinte, o telespectador. Na verdade, os fatos se repetem,
há um ciclo repetitivo cada ano e, nem por isso, os jornais deixam de vender suas
informações.
Curiosidade: O conceito de curiosidade está expresso na própria definição de notícia
dada por Amus Cummings, quando afirmou que “se um cachorro morde um homem
não é notícia, mas quando um homem morde um cachorro, aí é notícia”.
Proximidade: Quanto à proximidade, é natural que o leitor, qualquer pessoa, em
qualquer tempo ou lugar tenha seu interesse despertado mais para as coisas que
ocorrem mais perto que longe dele. (p.60-63).
3.2.2 Reportagem
Presente em praticamente todos os veículos da imprensa, a reportagem se estabelece
como um dos principais formatos jornalísticos. Entendida como uma “grande notícia”, no jornal,
no rádio, na televisão, no cinema (documentário), na internet, a reportagem sempre ganha
destaque.
É a grande notícia – a reportagem – que estabelece o padrão da maior parte do
jornalismo moderno. Seu grau de referência nos Estados Unidos é The New York
Times; na França, Le Monde; na Inglaterra, The Times; e no Brasil, o Jornal do Brasil.
Colunistas, editorialistas, parlamentares, administradores, revistas de notícias,
analistas de televisão e de rádio dependem desses jornais. (BAHIA, 1990, p.51).
Inúmeros são os tipos de organização da reportagem. De acordo com Bahia (1990), a
reportagem se divide em: “a) título; b) primeiro parágrafo, cabeça ou lead; c) desenvolvimento da
história, narrativa ou texto” (BAHIA, 1990, p. 52).
Este gênero é bastante diverso, repleto de peculiaridades, formatos, temáticas e
aprofundamentos. Segundo Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari (1986), uma das principais
diferenças entre notícia e reportagem é a atualidade. Conforme os autores:
Embora a reportagem não prescinda de atualidade, esta não terá o mesmo caráter
imediato que determina a notícia, na medida em que a função do texto é diversa: a
reportagem oferece detalhamento e contextualização àquilo que já foi anunciado,
31
mesmo que seu teor seja predominantemente informativo (SODRÉ; FERRARI, 1986,
p.18).
Sodré e Ferrari (1986) também atribuem à reportagem a cobertura dos fatos que
abalaram o mundo e exemplificam: “Uma reportagem – a entrevista de José Américo a Carlos
Lacerda – precipitou a queda do regime ditatorial de Vargas em 45 [...]” (SODRÉ; FERRARI,
1986, p.9). Para os autores, este gênero traz “vitalidade” e uma espécie de “poder denunciante”.
É preciso acentuar, no entanto, que a conquista do jornalismo moderno é usar essa sua
força de maneira sedutora: nenhum rebuscamento estéril, nenhuma forma monótona,
deve colocar-se entre o olhar do leitor e o fato restituído de sua veracidade. É na
reportagem – mais do que na notícia, no editorial ou no artigo – que se cumpre esse
mandamento (ibid., p.9).
Este gênero é dotado de aprofundamento sobre determinado tema, uma verdadeira soma
de notícias. Em sua narrativa é possível identificar a consistência nas informações, muitas vezes
até a exaustão de um determinado acontecimento.
3.2.3 Folhetim
No início do século XIX, surge um dos gêneros mais populares da história da imprensa,
o folhetim. Pesquisadores apontam que este gênero é o primeiro tipo de texto escrito ao molde
popular de massa. Para Martín-Barbero (1997), mais do que literário, o gênero pode ser
compreendido como um “novo modo” de comunicação entre as classes.
Propor o folhetim como jàto cultural significa de saída romper com o mito da escritura
para abrir a história à pluralidade e à heterogeneidade das experiências literárias. E,
em segundo lugar, deslocar a leitura do campo ideológico para ler não só a dominante,
mas também as diferentes (MARTÍN-BARBERO, 1997, p. 170).
Ainda segundo o autor, inicialmente o folhetim se restringia ao rodapé da primeira
página do jornal, o que hoje chamamos de “variedades” (receitas culinárias, anúncios, críticas
teatrais e literárias etc.). O conteúdo que não coubesse no corpo do periódico, podia ser
localizado no folhetim. Para Martín-Barbero, existem conexões que ultrapassam questões de
narrativa, evidencia o autor:
32
Os dispositivos que permitem ao folhetim incorporar elementos da memória narrativa
popular ao imaginário urbano-massivo não podem ser compreendidos nem como meros
mecanismos literários nem como desprezíveis artimanhas comerciais. Estamos diante
de um novo modo de comunicação que é a narrativa de gênero. Não me refiro aqui a
um gênero de narrativa, mas sim à narrativa de gênero por oposição à narrativa de
autor, que é pensável não através da categoria literária de gênero, mas sim a partir de
um conceito situado no âmbito da antropologia e da sociologia da cultura, com o qual é
designado um certo funcionamento social das narrativas, um funcionamento
diferencial e diferenciador, cultural e socialmente discriminatório, que atravessa tanto
as condições de produção quanto as de consumo [...] (MARTÍN-BARBERO,1997, p.
183).
Assim, acredita-se que o folhetim alcançou a popularidade também pela identificação do
leitor com os personagens descritos. Um misto de conto e romance. “Como nos contos, o
desenrolar da narrativa acompanha basicamente o percurso das aventuras do herói, mas, como no
romance, a ação se dispersa, complexifica e enreda na malha das relações que sustentam e
atravessam a ação” (MARTÍN-BARBERO, 1997, p. 184).
3.2.4 Editorial
Historicamente, o editorial seja no jornal, na televisão ou no rádio, é a palavra do
“dono”. Nos primórdios da imprensa, o editorial ou o artigo de fundo – em sua origem, era
redigido pelo próprio proprietário do veículo.
Bahia (1990) afirma que o editorial é uma notícia qualificada, engajada exclusiva, porque
emite uma opinião própria. O autor destaca, “o seu estilo é o da persuasão e a sua linguagem a
mais direta possível” (BAHIA, 1990, p.99).
Este gênero segue o padrão opinativo e serve para intermediar as relações entre o poder
e a sociedade. Bahia também esclarece, “a notícia dá uma visão diária do que está acontecendo; o
editorial interpreta (e quase sempre julga) o sentido do que está acontecendo, se seus efeitos e das
suas possibilidades de gerar novos acontecimentos” (ibid., p.101).
Bahia (1990) atribui a opinião expressa ao veículo, reforça que no passado a autoria das
opiniões nem sempre era clara: “[...] tanto seu destinatário como a lei tinham dificuldades em
identificar autorias para possível definição de responsabilidade” (ibid., p. 107-108).
Para o professor Mário L. Erbolato (1979), o editorial pode ilustrar, formar opiniões e
inclusive entreter, mas será sempre institucional. “É o pensamento oficial do jornal como
instituição (ou órgão) [...]. O editorial é anônimo, isto é, sem assinatura, embora possa ser
33
atribuído ao diretor ou ao redator-chefe” (ERBOLATO, 1979, p.39-40).
34
4 CONCEITOS DE IDENTIDADE
Manuel Castells explica que a identidade passa por um processo de construção baseado
em um atributo cultural que envolve atores sociais, “[...] ou ainda um conjunto de atributos
culturais inter-relacionados, o(s) qual(ais) prevalece(m) sobre outras fontes de significado. Para
um determinado indivíduo ou ainda um ator coletivo, podem haver identidades múltiplas”
(CASTELLS, 1999, p. 22). Outra abordagem importante é relacionada a importância da temática
na contemporaneidade.
Por um lado, devido ao processo de globalização e a uma possível dinâmica de
homogeneidade cultural que é propiciada pelo mercado global. Por outro, a evidência
alcançada pelas identidades regionais e até mesmo nacionais, num movimento de
fortalecimento do local. A abordagem das identidades (nacional, regional, juvenil, de
gênero etc.) como objeto de estudo da Comunicação prioriza uma compreensão mais
recortada e específica, pois sua análise localiza-se em determinadas atividades sociais –
em especial relacionadas à mídia, num meio social particular. 17
Segundo Castells (1999), a construção social da identidade acontece em um contexto
que envolve relações de poder, o autor propõe três tipos de identidades que se distinguem em
forma e origem, são elas:
- Identidade legitimadora: introduzida pelas instituições dominantes da sociedade no
intuito de expandir e racionalizar sua dominação em relação aos atores sociais, tema
este que está no cerne da teoria de autoridade e dominação de Senett 18, e se aplica a
diversas teorias do nacionalismo19.
- Identidade de resistência: criada por atores que se encontram em posições/condições
desvalorizadas e/ou estigmatizadas pela lógica da dominação, construindo, assim,
trincheiras de resistência e sobrevivência com base em princípios diferentes dos que
permeiam as instituições da sociedade, ou mesmo opostos a estes últimos, conforme
propõe Calhoun ao explicar o surgimento da política de identidade20.
- Identidade de projeto: quando os atores sociais, utilizando-se de qualquer tipo de
material cultural ao seu alcance, constroem uma nova identidade capaz de redefinir sua
posição na sociedade e, ao fazê-lo, de buscar a transformação de toda a estrutura social.
Esse é o caso, por exemplo, do feminismo que abandona as trincheiras de resistência
da identidade e dos direitos da mulher para fazer frente ao patriarcalismo, à família
patriarcal e, assim, a toda a estrutura de produção, reprodução, sexualidade e
personalidade sobre a qual as sociedades historicamente se estabelecem (CASTELLS,
1999, p. 24).
17
FELIPPI, Ângela.; NECCHI, Vitor. Mídia e identidade gaúcha. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2009. Resenha de:
ESCOSTEGUY, Ana Carolina e JACKS, Nilda. Brazilian Journalism Research, volume 6, número 1, 2010.
18
CASTELLS apud SENNET, 1986.
19
CASTELLS apud ANDERSON, 1983; GELLNER, 1983.
35
No entanto, essa evolução identitária não exclui a sociedade do capitalismo. Mas, pela
primeira vez, a forma capitalista de produção volta-se para às relações sociais em todo o mundo.
A partir disso o capital é investido por todo o planeta e em todos os setores de atividade:
tecnologia, saúde, transporte, educação, religião etc. Algumas áreas são mais lucrativas que
outras, passando por ciclos, altos e baixos no mercado e concorrência global e segmentada.
Em relação à mão-de-obra e às relações globais de produção, os trabalhadores não
“desaparecem”. Pelo contrário, a difusão das tecnologias da informação, mesmo dispensando e
eliminando postos de trabalho, acaba por não aumentando o número de desemprego. Na essência,
o capital é global. No geral, o trabalho é local. Os trabalhadores tendem a perder a sua identidade
coletiva, tornando-se cada vez mais individualizados quanto a suas capacidades. Diferenciar quem
são os proprietários, os produtores, os administradores e os empregados está cada vez mais
complicado em um sistema produtivo de geometria variável, trabalho em equipe, atuação em
redes, terceirização e subcontratação. Conforme:
[...] após milênios de uma batalha pré-histórica com a Natureza, primeiro para
sobreviver, depois para conquistá-la, nossa espécie tenha alcançado o nível de
conhecimento e organização social que nos permitirá viver em um mundo
predominantemente social. É o começo de uma nova existência e, sem dúvida, o início
de uma nova era, a era da informação, marcada pela autonomia da cultura vis-à-vis as
bases materiais de nossa existência (CASTELLS, 2005, p.574).
Outro aspecto interessante são os “atores sociais” que compõem a sociedade em rede,
que se organizam em torno de uma identidade primária que serve de base para as demais, de
modo autossustentável no tempo e espaço. “Do ponto de vista sociológico, toda a identidade é
construída, a principal questão, na verdade, diz respeito a como, a partir de quê, por quem e para
quê isso acontece.” (CASTELLS, 1999, p.23).
Outra questão importante na identidade é o seu “sentimento de pertença”. Segundo o
jornalista Zygmunt Bauman (2005, p. 17): “Em outras palavras, a ideia de “ter uma identidade”
não vai ocorrer às pessoas enquanto o “pertencimento” continuar sendo o seu destino, uma
condição alternativa.”.
O autor entende que “a ideia de “identidade” nasceu da crise do pertencimento e do
esforço que esta desencadeou no sentido de transpor a brecha entre o “deve” e o “é” [...]”.
20
CASTELLS apud CALHOUN, 1994: 17.
36
(BAUMAN, 2005, p.26). O mesmo se aplica a noção de “identidade nacional”:
O Estado buscava a obediência de seus indivíduos representando-os como a
concretização do futuro da nação e a garantia de sua continuidade. Por outro lado, uma
nação sem Estado estaria destinada a ser insegura sobre o seu passado, incerta sobre o
seu presente e duvidosa de seu futuro, e assim fadada a uma existência precária. Não
fosse o poder do Estado de definir, classificar, segregar, separar e selecionar, o
agregado de tradições, dialetos, leis constitucionárias e modos de vidas locais,
dificilmente seria remodelado em algo como os requisitos de unidade e coesão da
comunidade nacional (ibid., p. 27).
Outro ponto importante identitário, é o hibridismo, a mistura entre diferentes etnias, por
exemplo, a origem de determinados grupos. “A identidade que se forma por meio do hibridismo
não é mais integralmente nenhuma das identidades originais, embora guarde traços delas” (SILVA
et al., 2000, p.87). Segundo Tomaz Tadeu da Silva, a mistura, o intercurso, a conjunção entre as
identidades, está relacionada aos movimentos demográficos que proporcionam os contatos:
Na perspectiva da teoria cultural contemporânea, esses movimentos podem ser literais,
como na diáspora dos povos africanos por meio da escravização, por exemplo, ou
podem ser simplesmente metafóricos. “Cruzar fronteiras”, por exemplo, pode significar
simplesmente mover-se livremente entre os territórios simbólicos de diferentes
identidades. “Cruzar fronteiras” significa não respeitar os sinais que demarcam “artificialmente” - os limites entre os territórios das diferentes identidades (ibid., p.8788).
Desse modo, o cruzamento entre fronteiras, proporciona mudanças, deslocamentos na
identidade original. Sendo ela multipluralizada, ambígua, tanto é influenciada como facilmente
influencia o “outro”.
Primeiramente, a identidade não é uma essência; não é um dado ou um fato – seja da
natureza, seja da cultura. A identidade não é fixa, estável, coerente, unificada,
permanente. A identidade tampouco é homogênea, definitiva, acabada, idêntica,
transcendental. Por outro lado, podemos dizer que a identidade é uma construção, um
efeito, um processo de produção, uma relação, um ato performativo. A identidade é
instável, contraditória fragmentada, inconstante, inacabada. A identidade está ligada a
estruturas discursivas e narrativas. A identidade está ligada a sistemas de
representação. A identidade tem estreitas conexões com relação do poder (SILVA et
al., 2000, p.96-97).
Para Stuart Hall (1990), a identidade cultural acontece da interação dentre o “eu” e a
sociedade, “eu coletivo ou verdadeiro que se esconde dentro de muitos “eus” – mais superficiais
ou mais artificialmente impostos – que um povo, com uma história e uma ancestralidade
37
partilhadas, mantém em comum” (HALL apud HALL, 1990). Sendo o coletivo, o múltiplo
sempre presente, em constante transformação, como explica:
As identidades parecem invocar uma origem que residiria em um passado histórico
com o qual elas continuariam a manter uma certa correspondência. Elas têm a ver,
entretanto, com a questão da utilização dos recursos da história, da linguagem e da
cultura para a produção não daquilo que nós somos, mas daquilo do qual nos tornamos.
Têm a ver não tanto com as questões “quem nós somos” ou “de onde nós viemos”, mas
muito mais com as questões “quem nós podemos nos tornar”, “como nós temos sido
representados” e “como essa representação afeta a forma como nós podemos
representar a nós próprios”. Elas têm tanto a ver com a invenção da tradição quanto
com a própria tradição [...] (HALL, 2000, p. 108-109).
Silva (2000) simplifica a definição de identidade. Para o pesquisador, “ela é aquilo que
é”, sendo ela própria sua referência, “autocontida e autossuficiente.” (SILVA, 2000, p. 74).
4.1 IDENTIDADE REGIONAL
A significação de identidade regional inicia na análise do termo “região”. Segundo José
Clemente Pozenato, ao citar o linguista estruturalista francês Émile Benveniste, a palavra região
(regio) deriva de “rei” (rex). Portanto, o termo surge atrelado a figura do autoritarismo.
A Geografia Humana define os espaços também com critérios objetivos, fornecidos
pela História, pela Etnografia, pela Linguística, pela Economia, pela Sociologia. Como
nem sempre esses critérios coincidem, é possível falar de região histórica, região
cultural, região econômica e assim por diante, com fronteiras distintas no mesmo
território físico (POZENATO, 2003, p.150).
Pozenato (2003) afirma que a identidade não deve ser compreendida como um processo
natural trata-se, portanto, de "uma rede de relações, em última instância, estabelecida por um ator
(auctor), seja ele cientista, um governo, uma coletividade, uma instituição ou um líder separatista”
(POZENATO, 2003, p.151). Assim como, "o que é entendido como uma região, é realmente,
uma regionalidade" (POZENATO, 2003, p.152).
Segundo Castells (1999, p.23), “na maioria dos atores sociais da sociedade em rede, o
significado organiza-se em torno de uma identidade primária (uma identidade que estrutura as
demais) autossustentável ao longo do tempo e do espaço.”. Sob o aspecto sociológico, as razões
de sua construção são mais profundas, a partir da “[...] matéria-prima fornecida pela história,
38
geografia, biologia, instituições produtivas e reprodutivas, pela memória coletiva e por fantasias
pessoais, pelos aparatos de poder e revelações de cunho religioso”. (CASTELLS, 1999, p.23).
Outra particularidade é a questão territorial, conforme descreve o geógrafo Rogério
Haesbaert:
Toda identidade territorial é uma identidade social definida fundamentalmente através
do território, ou seja, dentro de uma relação de apropriação que se dá tanto no campo
das ideias quanto no da realidade concreta, o espaço geográfico, constituindo assim
parte fundamental dos processos de identificação social [...] De uma forma muito
genérica podemos afirmar que não há território sem algum tipo de identificação e
valorização simbólica (positiva e negativa) do espaço pelos seus habitantes
(HAESBAERT, 1999, p.172).
Do ponto de vista social, Pierre Félix Bourdieu (2001) defende a ideia que a identidade
regional é baseada em elementos de representações mentais: atos de percepção e análise, de
conhecimento e reconhecimento e de representações em objetos ou ainda por meio de
manipulação simbólica e de imposição. Portanto, segundo Bourdieu 21 (2001), o regionalismo
pode ser entendido com um exemplo de “lutas simbólicas”, em que os envolvidos estão ligados
individualmente ou coletivamente.
Entretanto, a autora Margarita Barreto, define a identidade como fator fundamental de
“direção” para sociedade, deste modo:
[...] manter algum tipo de identidade – étnica, local ou regional – parece ser essencial
para que as pessoas se sintam seguras, unidas por laços extemporâneos a seus
antepassados, a um local, a uma terra, a costumes e hábitos que lhe dão segurança, que
lhes informam quem são e se de onde vêem, enfim, para que não se percam no
turbilhão de informações, mudanças repentinas e quantidade de estímulos que o mundo
atual oferece (BARRETO, 2000, p.46).
21
As lutas a respeito da identidade étnica ou regional, quer dizer, a respeito de propriedades (estigmas ou
emblemas) ligadas à origem através do lugar de origem e dos sinais duradouros que lhes são correlativos, como o
sotaque, são um caso particular das lutas das classificações, lutas pelo monopólio de fazer ver e fazer crer, de dar a
conhecer e de fazer reconhecer, de impor a definição legítima das divisões do mundo social e, por este meio, de
fazer e de desfazer os grupos. (BOURDIEU, 2001, p. 113).
39
5 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO JORNAL CORREIO RIOGRANDENSE
O jornal Correio Riograndense (CR) completou 105 anos de trajetória no dia 13 de
fevereiro de 2014. Trajetória conquistada por meio da construção da história da cidade de Caxias
de Sul. Desde o seu surgimento, no alvorecer de 1909, muda de formato, nome, mas o seu
conteúdo permanece o mesmo. Preocupando-se não apenas em informar, tarefa essencial, mas de
educar os seus leitores.
Os capuchinhos merecem destaque, pois desde os primórdios da imprensa caxiense veem
participando do cotidiano da sociedade, sempre atento às mudanças dos tempos.
POZENATO e GIRON (2004, p.176) destacam o trabalho capuchinho: “o Correio
Riograndense, vem acompanhando a evolução técnica e econômica do jornalismo regional e
nacional.”.
5.1 O CAMINHO PERCORRIDO A CADA MUDANÇA GRÁFICA-EDITORIAL
Lá Libertá
Nome
Início
de 13/02/09
Il Colono Italiano
La Staffetta
Correio
Riograndense
Riograndense
09/03/10
05/07/17
10/09/41
Garibaldi
Garibaldi
Garibaldi até
Circulação
Local de edição
Caxias do Sul
07/05/1952 ,
quando se transfere
para Caxias do Sul
Formato e
- Editado pelo
- É adquirido pelo Pe.
- Freis Capuchinhos
- A partir de 1952 a
edição
sacerdote
Giovanni Fronchetti;
assumem a direção do
tipografia do CR é
diocesano Pe.
- Formato standard.
jornal;
transferida de
- Formato standard.
Garibaldi para
Carmine Fasulo;
- Formato
Caxias do Sul –
standard.
Tipografia e Livraria
São Miguel (bairro
Rio Branco);
- Surge a Editora
40
São Miguel;
- A partir de 1970 é
impresso em duas
cores e em formato
tabloide. Também
introduzem o
sistema offset;
- No final dos anos
1990 a impressão
passa a ser
terceirizada.
Período
- “Nova Pátria”
- Propósito de divulgar
- Combativo:
- Era de Vargas
histórico
dos imigrantes
ideias reformistas;
Comunismo Russo;
(Getulismo);
italianos: Brasil;
- Primeira Guerra Mundial - Sofre influências da
- Mudança da
- Discurso
(1914-1918);
Política Editorial
Revolução de 1923
evangelizador da - Caxias do Sul é elevada à (atritos políticos);
- Defesa do Estado
Igreja Católica;
categoria de cidade em 1º
- Influência do fascismo Novo (1942)/Estado
- O jornal CR
de junho de 1910 e no
italiano /Mussolini;
acompanhou a
mesmo ano é inaugurada a - Nacionalização da
- Na década de 1980
epopéia da
Estação Férrea;
Imprensa;
chegou a ter 40 mil
imigração,
- Foco no agricultor de
- “Proibido falar
assinantes.
especialmente a
pequena propriedade, no
italiano”
italiana;
cooperativismo e
(principalmente depois
- Fortes embates
sindicalismo.
de 1929);
entre a Igreja
- Segunda Guerra
Católica e a
Mundial (1939- 1945).
Maçonaria;
- Republicanos X
Católicos (até
1912);
- Surgem os
primeiros jornais
críticos, políticos,
literários e
humorísticos.
Forte.
41
- Italiano e
Língua
- Italiano e algumas
- Italiano com transição - Jornal escrito
algumas editorias editorias em português.
para os textos em
basicamente em
em português.
português
língua portuguesa
(nacionalismo);
com poucas editorias
- Frei Paulino (Aquiles
em italiano (Nanetto
Bernardi), cria o
Pipetta).
personagem Nanetto
Pipetta(1924) –
folhetim em dialeto
vêneto.
Quadro 1 - Principais períodos do CR
Fonte: elaborada pela própria autora
5.2 EDIÇÕES COMEMORATIVAS DO CR: 75, 100 E 105 ANOS
Neste capítulo, são analisadas três edições do jornal Correio Riograndense (CR). Para a
realização deste estudo, foram selecionadas em momentos comemorativos: 75 anos (1984), 100
anos (2009) e 105 anos (2014).
A análise de conteúdo será realizada com base no material selecionado, busca-se uma
configuração da identidade regional, com aspectos da língua, cultura, público leitor e a
religiosidade expressa no conteúdo presente nas edições estudadas.
5.2.1 Língua
Primeiramente, é necessário diferenciar os termos língua e linguagem, que são
igualmente necessários para essa etapa do trabalho. Segundo o autor João Bosco Medeiros
(1988), “as características diferenciadoras entre a língua e a fala são: a língua é sistemática, tem
certa regularidade, é potencial, coletiva; a fala é assistemática, nela se observa certa variedade, é
concreta, real, individual” (MEDEIROS, 1988, p. 19). Medeiros (1988) também explica que a
língua é um conjunto de convenções utilizadas pela sociedade para viabilizar a prática da
linguagem. Trata-se a língua, portanto, de um código, um produto e instrumento da fala, um
sistema de signos. Segundo o autor:
42
Em seu relacionamento social, dispõem o homem de um instrumento que lhe
caracteriza a condição humana: a linguagem, seja traduzida por gestos, por
modalidades artísticas, seja por símbolos diversos, que também são meios efetivos de
comunicação.
A partir do sistema coletivo, o indivíduo procura fazer uma adaptação individual. A
norma social considera o que é comum a uma nação (idioma) e o que é comum a uma
região (dialeto). (MEDEIROS, 1988, p. 17-18).
Sobre a interferência dialetal tão frequente entre as comunidades, foi descrita por Frosi e
Mioranza (1975) da seguinte forma:
Nas comunidades coloniais a problemática linguística assume outro aspecto:
permanece o dialeto italiano ou soma de dialetos, com pouca ou nenhuma penetração
da língua portuguesa. Um “status quo” linguístico inicial pode seguir duas linhas de
comportamento. Se a comunidade colonial se define como ilha linguística (o mesmo
dialeto é falado por todos os habitantes), o meio de comunicação linguística comum
será o dialeto vigente nessa comunidade. Este, por sua vez, terá uma tendência de
permanecer idêntico até o momento em que não terá, neste caso, penetração imediata,
uma vez que o dialeto usado pelos falantes da comunidade lhes é um satisfatório
instrumento de comunicação. Se, porém, a comunidade define como pluridialetal
(diversos dialetos são falados por causas da diversidade de origem de habitantes), o fato
linguístico apresentará tendência de evolução ou mudança imediata, o eu permitirá a
penetração da língua portuguesa ou a escolha de uma forma linguística dialetal que
possa servir à comunicação do grupo social. (FROSI; MIORANZA, 1975, p. 60-61).
Edição: Nº 3.860 – 25/04/1984
A edição número 3.860 do jornal Correio Riograndense, do dia 25 de abril de 1984 (ver
Anexo IV), teve como principal temática o aniversário dos 75 anos do semanário e, como
destaque, a coluna Vida Agrícola: “uma coluna editada há 31 anos orientando o homem no
campo”. Com 120 páginas no total, o jornal em formato tabloide era impresso em duas cores,
pelo sistema offset22.
Esta edição estampava na capa uma única foto em preto e branco, na imagem há um
homem idoso e uma criança e o contexto pode ser compreendido como a passagem das gerações
22
No sistema offset, a forma é gravada a partir de filmes positivos ou negativos do original a ser reproduzido. Para
cada cor, é necessária uma forma (chapa) específica. Na preparação da forma para offset, a arte-final é fotografada
e transformada em filme a traço ou reticulado (meio-tom), de acordo com as características do original. O filme é
sobreposto à forma flexível planográfica (chapa), própria do sistema. Essa forma, feita de metal, material plástico
ou mesmo papelão, é coberta com uma emulsão ou camada fotossensível [...]. Por meio de tratamentos químicos,
revela-se a forma, obtendo-se as zonas impressoras lipófilas e não-impressoras hidrófilas. Além dos métodos
fotoquímicos, são utilizados sistemas especiais de gravação direta. Com eles, o original é transferido para a forma
sem passagens intermediárias (sem antes convertê-lo em filme positivo ou negativo). (BAER, 2002, p. 190).
43
de leitores do veículo em questão. Conforme enfatiza a chamada:
Correio Riograndense foi uma fonte de informação, de formação e de divertimento
para várias gerações. Para muitos foi até a cartilha de alfabetização. Em 75 anos foram
3.860 edições. Todas portadoras de profunda identificação com as aspirações dos
leitores. Esta edição é uma homenagem a todos os que, desde 1909, depositaram
confiança no jornal e acreditaram no seu futuro. A credibilidade é o maior patrimônio
do Correio Riograndense que vem fazendo história há 75 anos. (Jornal Correio
Riograndense, 25/04/1984, capa).
Figura 1 - Capa do CR edição nº 3.860.
Na página 3, ocupada pela editoria Geral, havia um anúncio comercial do Fedrizzi
Magazine parabenizando o veículo pelo seu aniversário. Nele, a mensagem: “Settanta cinque
anni com la parola” (Setenta e cinco anos com a palavra),
desde 1909, como “La Libetà”, a palavra chegava na casa do imigrante italiano. A
partir de então, o homem da terra passou a saber dos fatos do mundo que o cercava. E
ele sempre confiou a palavra. Como confia hoje, na palavra do Correio Riograndense.
Um jornal que prima pela seriedade e profissionalismo. Nesta data, a organização
Fedrizzi transmite seu aplauso com uma palavra: parabéns. Uma homenagem da
Organização Fedrizzi pelos 75 anos de boas palavras para toda a região de
descendência italiana. (CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p.3).
Na página 8, ainda em Geral, foi publicada a matéria intitulada “Universidade lança
dialetos italianos”. O texto trazia o lançamento do livro de autoria dos professores Vitalina Frosi
44
e Ciro Mioranza. “O livro, que é um perfil linguístico dos ítalo-brasileiros do nordeste do Rio
Grande do Sul, foi impresso sob os auspícios da Editora da Universidade caxiense e contém 525
páginas”.
Nossos imigrantes descendiam, em sua maioria, do vêneto. Mas havia gente de outras
Províncias, como a Lombardia, o Piemonte, Trento... Aliás, naquele tempo, não apenas
as Províncias, mas as próprias cidades tinham os seus dialetos típicos. Chegando ao
Brasil utilizavam diariamente os seus dialetos, misturando-os, formando um linguajar
comum, entendido por todos, coisa que, aliás, também existe no Itália, e que os
pesquisadores denominaram de coiné.
É um dialeto que estacionou no tempo, ao passo que, na Itália, a língua evolui. Nosso
dialeto, para eles, se tornou arcaico. Usa muitas palavras que eles já não usam e
incorporou outras diretamente do português. Tudo isso hoje está assimilado e
dificilmente é percebido. (CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p.8).
O jornal exibia em suas páginas seguintes, em retrospectiva, as épocas que antecederam
a história do veículo, partindo do ano de sua criação: “Assim era o mundo em 1909”. Em
reportagem assinada pelo frei Aldo Colombo, o material também apresentava fotos históricas de
Caxias e da região colonial. Na página 9, um anúncio de mais de meia página, da agência de
viagens aéreas Varig visava uma categoria específica de leitor. “Este anúncio, informando as
frequências Varig para Roma e Milão, é dirigido à comunidade italiana do Brasil que sempre nos
prestigiou com sua preferência.” Na página 40, a matéria “É proibido falar italiano” discorreu
sobre o período da década de 1940, quando foi proibido falar em italiano ou alemão, em
consequência da guerra.
Falar o idioma italiano era crime, punido com prisão. E isto criou dificuldades para
muitos agricultores que entendiam o português, mas falavam apenas o dialeto italiano.
Antecipando-se às medidas qu e já podiam adivinhar, o Staffetta Riograndense mudou
o nome para Correio Riograndense, suspendendo completamente a divulgação de
notícias e editoriais em língua italiana. O primeiro número, totalmente em português,
foi a 1º de janeiro de 1941. (CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p. 40).
Na página 74, em crônica assinada por Dom Benedito Zorzi, segundo bispo diocesano de
Caxias do Sul, o religioso recorda a época de represália estendida ao jornal CR:
Hoje, usa a língua nacional e nem pensa em voltar à língua italiana. Apenas, como
folclore, usa para estampar algum artigo em língua vêneta e até em alemão. Preciso
lembrar que felizmente passou o tempo em que era proibido falar italiano, alemão e
japonês, durante a última guerra.
Hoje também não teria sentido publicar um jornal, em língua italiana, que se destina
45
principalmente aos agricultores, homens simples, profundos conhecedores e
apreciadores da natureza, como era São Francisco de Assis... A língua italiana nunca
foi estudada pela maior parte dos descendentes dos imigrantes; seria menos
compreendida que o português, embora muitos entendam e falem a “língua vêneta” que
absorveu de alguma maneira os diversos dialetos do Norte da Itália donde procederam
os imigrantes italianos do Rio Grande do Sul, em quase sua totalidade. (CORREIO
RIOGRANDENSE, 1988 p.74).
Na edição comemorativa dos 75 anos, frei Rovílio Costa, assinou a coluna “Correio
Riograndense é literatura”. Costa, ressalta que um bom jornal não pode se preocupar apenas com
o ato de “informar”, “mas também na qualidade de vida, na comunicação da cultura, na análise
dos fatos, constituindo-se em agente de formação.”(CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p.75).
Neste texto, é também resgatada a importância do personagem Nanetto Pipetta, criado por
Arquiles Bernardi (frei Paulino de Caxias), e que foi publicado pela primeira vez nas páginas do
CR em forma de “seriado”, nos anos 1924 e 1925 e transformado em livro em 1937 23.
Edição: Nº 5.147 – 24/06/2009
A edição número 5.147 do jornal Correio Riograndense, do dia 24 de junho de 2009 (ver
Anexo V), apresentava uma capa colorida e trazia a foto de uma criança usando um chápeu de
palha, em meio a girassóis. A edição especial comemorativa aos 100 anos do semanário, continha
100 páginas e anunciava na capa estar “Em busca do modelo ideal”. “São inegáveis os avanços
ocorridos em um século, mas falta romper barreiras na agricultura, na economia em geral, na
política, nas relações humanas, na dimensão eclesial... na sociedade”. (JORNAL CORREIO
RIOGRANDENSE, 2009, capa).
A página 3 reproduziu o primeiro editorial, linha do jornal CR, de 12 de fevereiro de
1909. “O nosso programa” dizia:
O nosso jornal será semanal e de índole clara e essencialmente católica[...]. Que se
quebre a pena entre os dedos e se seque a nossa mão direita se uma dia nos afastarmos
uma linha deste nobre e santo ideal. La Libertà também será rico de notícias mundiais,
especialmente da Itália e deste Estado do Rio Grande do Sul. (CORREIO
RIOGRANDENSE, 2009, p.3).
23
As dificuldades com o uso da língua portuguesa que persistiam entre a população adulta, especialmente a do
meio rural, nos anos 30, foram dando lugar ao bilinguismo dos anos 50 e, em 1975 […]. (RIBEIRO, 2002, p.194).
46
Figura 2 – Capa, edição nº 5.147.
Nesta edição, diversos colunistas como frei Clemente Dotti e frei Aldo Colombo
enalteceram a longevidade do seminário. Dotti ressaltou, em sua coluna, “Um sonho que deu
certo”: “O Correio Riograndense faz parte da Associação Literária Boaventura, uma entidade
filantrópica. O jornal, tendo seu foco na educação, cultura, religião, saúde, agricultura, ecologia,
está ajudando enormemente na consecução dos objetivos desta associação”. (JORNAL
CORREIO RIOGRANDENSE, 2009, p. 4).
Na página, 10, frei Moacir Pedro Molon resgatou o episódio em que o frei Ambrósio
Tondello defendeu o futuro do CR nos tribunais. De acordo com pesquisa realizada por Molon,
as crises já se anunciavam em 10 de setembro de 1941, no auge do nacionalismo e do Estado
Novo de Getúlio Vargas, por ato que “tornou obrigatória a nacionalização da imprensa no país”.
Depois, com crises de caráter econômico e ideológico, na Segunda Guerra Mundial.
Em 1951, a coluna “Correspondência Caipira”, assinada com o pseudônimo “Zé
Fernandes”, rebateu de forma sarcástica e contundente declarações de um
desenbargador, que na imprensa da capital atacou instituições religiosas e,
especificamente, a nascente Pontifícia Universidade Católica (PUCRS).
Diante do texto escrito, na verdade, por frei Dionísio Veronese, a Procuradoria do
Estado solicitou ao promotor de Bento Gonçalves, Plauto de Abreu, que processasse o
jornal por crime de imprensa. O diretor-responsável, frei Ambrósio Tondello,
respondeu pelo jornal, defendido pelos advogados Angelito e Jemil Aiquel. Após a fase
de instrução, o Tribunal do Júri foi montado no salão da União de Moços Católicos de
47
Garibaldi, em 04/01/1951.
Um padre no banco de réus fez com que a sala do júri lotasse […]. A absolvição do frei
Ambrósio foi por 5 votos a 0. “Nossa orientação é falar a verdade e não recear as iras
de ninguém, dizia o jornal em sua primeira página ao reportar o julgamento, em
24/01/1951.(CORREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.10).
A edição centenária reservou a página 18 para contar a história da assinante Amélia
Diomira Lain, que se descobriu escritora aos 86 anos de idade, na época com 92, rascunhava as
páginas de um novo livro. “Trata-se de uma obra escrita em talian por uma pessoa que aprendeu
a ler no Staffetta Riograndense, atual Correio Riograndense. Por várias ocasiões, contribuiu com
a coluna CR “Vita, Stòria e Fròtole”. (CORREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.18).
Na página 23, da edição especial, a Prefeitura de Caxias Sul parabenizou o jornal por
seu aniversário: “A forma mudou. Mas o conteúdo permanece. Cem anos produzindo informação
de qualidade.”.
Muitos leitores, assinantes, dão o seu testemunho nas páginas que seguem, atribuem
ao CR o aprendizado da leitura e da fala do talian.
Na página 40, a repórter Andressa Boeira resgatou o que ela chamou do “retrato da
colonização italiana”, Nanetto Pipetta. Para Andressa, as histórias de Nanetto reproduziam a
adaptação dos colonos à nova terra. “Foi assim até que, em 18 de fevereiro de 1925, Nanetto se
afoga no Rio das Antas. Frei Bernardo de Puigros, então diretor do jornal, desejava publicar, em
italiano, as aventuras de Robinson Crusoé, em lugar de Nanetto”. No entanto, o ator Pedro
Parenti (1951-2000), que o personificou nos palcos do teatro, “ressuscitou” o personagem,
produzindo novas histórias e o lançando novamente à imprensa.
Em 19 de fevereiro de 1999, 74 anos depois de sua “morte aparente”, Nanetto volta
definitivamente às páginas do Correio Riograndense, pelas mãos de Parenti. […] com o mesmo
formato inicial: em capítulos em talian”. (JORNAL CORREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.44).
Para o escritor José Clemente Pozenato, o CR desde o seu surgimento definiu um território de
atuação mais amplo que as próprias colônias italianas da Serra. “Se era ambição do jornal falar
pelos imigrantes italianos do Rio Grande do Sul inteiro, ou se o intuito era apenas o de
caracterizar aquela parcela de italianos que veio para este Estado e dar-lhe uma voz, é difícil hoje
definir”. (CORREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.48).
Segundo Pozenato, por ser escrito em língua italiana, o semanário foi algumas vezes
tido como defensor da italianidade, portanto, da “manutenção do espírito de pertença à Itália
48
entre os imigrantes aqui instalados. Um jornal não brasileiro portanto”. (CORREIO
RIOGRANDENSE, 2009, p.48).
O título de Riograndense, no entanto, parece sinalizar outra direção, ou seja, a de
inserção na nova terra. Se foi escrito em língua italiana talvez tenha tido apenas uma
razão pragmática: seus possíveis leitores mal dominavam o português. E, entre
escolher um dos dialetos trazidos da Itália – dos vênetos, dos lombardos, dos trentinos
– preferiu adotar a língua comum a todos, o italiano oficial, sem outro objetivo que o
de ampliar a comunicação.
No momento em que uma nova língua já se havia construindo na região – 15 ou 20
anos depois de criado o jornal – será o Stafetta o primeiro veículo de imprensa a
abrigar essa nova língua. Chamada simplesmente de “dialeto”, ou apelidada de
“talian” (quem sabe se para diferenciá-la do “brasilian”) é nessa língua local que as
colunas do jornal abrigam e difundem as aventuras de Nanetto Pipetta, hoje um
documento insofismável do aprendizado de Brasil feito pelo imigrante italiano.
(CORREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.48).
Edição: Nº 5.382 – 12/02/2014
A edição número 5.382 do jornal Correio Riograndense, do dia 12 de fevereiro de 2014
(ver Anexo VI), com 24 páginas, estampou em sua capa, no cabeçalho o selo comemorativo dos
105 anos, com a chamada: “Jornal participa da vida dos leitores”. No centro da capa, uma foto
aberta de um agricultor, usando chapéu de palha, colhendo uva e a manchete “Safra 2014 é
menor, mas qualidade anima produtor”, com subtítulo: “RS deve colher 610 milhões de quilos.
Apesar das altas temperaturas e da baixa umidade, chuvas esparsas e irregulares beneficiam a uva.
Incidência de pragas também foi menor”. Na legenda da imagem: “Vindima: Alfonso Pasa,
viticultor da comunidade de Caravaggio, em Farroupilha (RS), analisa um cacho de variedade
pinot noir na sua propriedade”. Outras chamadas também ganharam destaque, no rodapé: “Clima:
Onda de calor castiga os Estados do Sul” e “Volta às aulas: Lanche saudável impacta no
aprendizado”.
49
Figura 3 - Capa, edição nº 5.382.
Na página 2 do CR, havia um editorial de cinco parágrafos e três colunas sobre os
“novos caminhos” do semanário. O editorial trazia como título “O tempo é de transição, mas a
missão continua”.
Os editores do Correio Riograndense abrem espaço para a Província dos Capuchinhos
no editorial desta edição que assinala os 105 anos do jornal. Em nome de todos os freis
capuchinhos, cumprimentos à equipe e aos leitores.
Os capuchinhos estão no Rio Grande do Sul há 118 anos […]. O jornal certamente
saberá conciliar produtivamente formatos convencionais da mídia impressa com a
busca de audiência digital em diferentes plataformas, sempre de forma competente e
inovadora. O jornal saberá empreender caminhos para renovar e consolidar nichos
específicos de destinatários para seus conteúdos. O jornal saberá, também, preservar
seu histórico de credibilidade e sua capacidade de gerar e aglutinar conteúdos
diferenciados, binômio que interessa sobremaneira a nós, freis capuchinhos, como
instituição mantenedora. A missão exigirá talento, suor e perseverança, mas contem
com nosso apoio. (JORNAL CORREIO RIOGRANDENSE, 2014, p.2).
Na página 8 do CR, editoria Especial, foi reproduzida uma série de entrevistas - “Correio
Riograndense coleciona histórias”. Os depoimentos foram resultado de uma promoção do
aniversário dos 105 anos do jornal e envolveu mais de 10 assinantes de diferentes idades e
moradores de cidades dos estados do RS, do Paraná e de Santa Catarina, demonstrando assim, a
50
abrangência territorial de seus assinantes. “Há os que têm o jornal como uma "herança de
família", cuja leitura passa de uma geração para outra, e também os que aprenderam a ler pelas
páginas do jornal”. (CORREIO RIOGRANDENSE, 2014, p.8). A grande maioria dos
entrevistados, tiveram o primeiro contato com o CR ainda quando criança, leitores que exercitam
a mente com as cruzadinhas, estudantes que utilizam o jornal para trabalhos escolares, como
ferramenta de alfabetização ou donas de casa que reproduzem as receitas culinárias publicadas.
"Meu pai, Gustavo Araldi, de 78 anos, assinante e leitor fiel há mais de 40 anos, conta
que meu avô, Eneas Araldi, ainda jovem, era, além de assinante, também responsável por buscar
exemplares, em Caxias do Sul". Relatou Simone Araldi de Nova Pádua (RS) ao CR. "Escrito em
dialeto vêneto, o então Staffeta [...], por ser transportado a cavalo, chegava à pequena Nova
Pádua, hoje pujante município da Serra gaúcha, através das mãos de meu avô". (CORREIO
RIOGRANDENSE, 2014, p.8).
5.2.2 Cultura
Loraine Slomp Giron (2007) afirma que a cultura regional está edificada pelo conjunto
de padrões de comportamento, de valores materiais e imateriais. “Se a cultura é produzida pelo
trabalho do homem, o mito se baseia no princípio fundador, quando o trabalho dos primeiros
imigrantes derrubou as matas e plantou as cidades e dessas brotaram as cidades” (GIRON, 2007,
p. 54).
O jornal pode ser compreendido como produto cultural de um ou mais determinados
grupos.
[...] ele se constitui em produto de uma determinada cultura na medida em que
representa o modo de viver e de pensar de uma coletividade, porque o sujeito falante
que assume a sua "fala" reproduz realidades culturais existentes na sociedade e, ao
mesmo tempo, introduz valores e modos de pensar através do que fala e do modo de
como fala". (RECH, 2004, p.13).
Na capa da edição comemorativa aos 75 anos do CR, havia uma chamada “Entre duas
aproximações do Halley, os 75 anos do jornal”, com referência ao Cometa Halley que “ameaçou a
extinção do Planeta Terra” em 1910 e a notícia de sua reaparição em 1985-1986.
51
Da página 12 a 70, com textos assinados pelo frei Aldo Colombo e fotos do Arquivo do
CR e do Arquivo Histórico de Caxias do Sul, uma síntese do século XX, entre 1909 e 1985.
Nesta edição, também havia um anúncio do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares
de Caxias do Sul, parabenizando o aniversário do seminário: “Ao completar 75 anos, identificado
com a causa de uma cultura, o jornal continua escrevendo e participando da história da região”.
Na página de número 76, o arquiteto Júlio Posenato também deixou a sua contribuição
na edição comemorativa. “Os descendentes dos imigrantes desenvolveram um sentimento de
inferioridade e auto-segregação. Sotaque, costumes próprios e uma concepção muito modesta da
própria etnia, fazem o descendente dos imigrantes desvalorizar o que é lhe peculiar” (CORREIO
RIOGRANDENSE, 1984, p.76). O arquiteto foi responsável por um espaço dedicado à
publicação de fotos dos leitores retratando as paisagens da Serra Gaúcha. Foi possível, segundo
ele, criar um roteiro inspirado na “arquitetura da região”.
Já a coluna “Vita Stória...,” dos freis Rovílio Costa e Arlindo Battistel, produzia efeitos
quase mágicos de identificação cultural Assim, a reafirmação da língua e das tradições
italianas agora não mais se encara com vergonha ou como o símbolo de uma época que
seve ser esquecida, mas como a permanência de valores que são cada dia mais
significativos para a nossa vida. (CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p.76).
O aspecto cultural do jornal CR também é abordado pelo religioso Dom Cláudio Collin,
em sua coluna, com o título “Útil instrumento de comunicação”:
A língua comum, os costumes trazidos da Itália e a determinação para o trabalho
construtivo, a fé inabalável no destino na Nova Pátria, que os acolheu, foram elementos
positivos emanados de uma cultura milenar, herdada da Pátria-mãe e que, aqui agora
começam a viver dentro de uma realidade social, cultural, econômica diferente.
Desta cultura até hoje conservem estes imigrantes o sabor da língua, as canções, o
amor ao trabalho, a fidelidade à fé cristã, as tradições dos antepassados, com marcos
orientadores a guiar os passos de filhos e netos. (JORNAL CORREIO
RIOGRANDENSE, 1984, p.77).
Na edição comemorativa ao centenário do CR, o jornal de 2009, destacam-se no
editorial transformações da própria humanidade no último século:
Nestes 100 anos aconteceram coisas inimagináveis. Duas guerras mundiais e centenas
de guerras localizadas atormentaram a humanidade e os tratados de paz sempre se
mostraram frágeis. A “guerra fria” continuou a assustar o homem e, num passe de
mágica, o império russo desmoronou.
52
Um sul-africano, Cristian Barnard, foi o autor do primeiro transplante do coração.
Logo depois, um norte-americano desembarcou em solo lunar. Uma civilização cada
vez mais veloz assistiu o nascimento do bebê de proveta, do raio laser e o computador e
a Internet vieram para ficar. Ao lado deste espantoso progresso, a fome, a poluição, a
Aids e o terrorismo forçam uma interrogação em relação ao futuro. (CORREIO
RIOGRANDENSE, 2009, p.3).
Um novo tempo se anunciava principalmente para a continuidade do jornal:
Nesta travessia de 5.200 semanas navegou o jornal. Mesmo assim, jamais perdeu o
sentido da caminhada, traçada em seu primeiro editorial. Para gerações inteiras foi
cartilha e evangelho, concretizando o sonho de frei Bruno de Gillonnay. É uma
legenda que admiramos e que estamos todos - direção, funcionários, agentes e
assinantes - teimosamente dispostos a continuar. (CORREIO RIOGRANDENSE,
2009, p.3)
No ano em que é criado o CR, em 1909, a cidade de Caxias do Sul está em plena
atividade cultural, principalmente motivada pelo crescimento econômico. Atividades reproduzidas
na edição comemorativa ao centenário:
O crescimento econômico de Caxias do Sul deu origem a uma elite, ansiosa por
atividades diferenciadas de lazer e cultura. Então, surgem os primeiros clubes
recreativos, como o Clube Juvenil, em 1905, e o Recreio da Juventude em 1912.
É também nessa época que aparece o primeiro clube esportivo amador da cidade, o
Esporte Clube Juventude, em 1913. Antes disso, os gaúchos já podiam torcer pelo
Grêmio, fundado em 1903, e pelo Esporte Clube Internacional, fundado em 1909 e,
portanto, também celebrando seu centenário, assim como o Correio Riograndense.
A primeira biblioteca pública de Caxias do Sul viria em 1917. O Banco da Província, o
primeiro da cidade, abre sua agência em 1918. (CORREIO RIOGRANDENSE, 2009,
p.13).
Outro ponto importante de transformação é evidenciado na página 11 da edição. O
jornal, na década de 1970, com a adoção do sistema em offset e formato tabloide, possibilitou
uma abertura comercial. “Chegou a editar o encarte chamado Jornal de Caxias do Correio
Riograndense. Em 03/03/1973 o encarte ganhou vida própria e transformou-se no Jornal de
Caxias, também editado pela então Sociedade Literária São Boaventura.”. (CORREIO
RIOGRANDENSE, 2009, p.11). Conforme relata a matéria, o Jornal de Caxias do CR tinha
adquirido prestígio e estudava a possibilidade de ser diário. Até 1977, o jornalista responsável
pela sua direção era o também radialista Jimmy Rodrigues, sendo posteriormente substituído por
Moacir Pedro Molon. Porém, os capuchinhos administraram o jornal até 1979, quando a marca
foi comprada pela Empresa Jornalística Pioneiro.
53
Nos relatos de leitores reproduzidos na edição especial dos 105 anos, Margarida Ieda de
Marco Marson de Veranópolis (RS), sintetiza a relação de tantas gerações com o semanário e da
identificação com o personagem Nanetto24:
A minha história com o Correio Riograndense remonta ao meu falecido pai, Martinho
de Marco, que assinava o jornal nas décadas 40, 50 e 60, até o seu falecimento. Em
2010, tive a oportunidade de fazer a assinatura do Correio Riograndense,
reestabelecendo este vínculo. Gosto muito de tudo o que o jornal trás, especialmente
dos artigos dos freis Jaime Bettega e Aldo Colombo e das histórias do Nanetto Pipetta.
É muito bom ler esse jornal! (CORREIO RIOGRANDENSE, 2014, p.9).
5.2.3 Público leitor (público-alvo do CR)
O público das edições comemorativas analisadas, 75, 100 e 105 anos, mantiveram o
mesmo padrão de leitores estabelecido no ano de criação do jornal, em 1909. Desde o perfil de
seus anunciantes, empresas que atrelaram a sua marca ao CR, como: Festa da Uva Turismo e
Empreendimentos S.A., Tramontina, Agrimar, Móveis Florense, Gazola, Eberle, Randon e
Agrale. Além de bancos, vinícolas, sindicatos de trabalhadores rurais, prefeituras, cooperativas,
entre outros.
Conforme destacou o Editorial da edição dos 75 anos:
O objetivo do CR foi e continua sendo a defesa dos interesses do pequeno produtor
rural. Os 75 anos de sua existência são uma história de identificação com o homem do
interior, com a defesa de seus valores culturais e com a promoção da sua fé.
(CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p.11).
A “imagem inconfundível de jornal da colônia” é retratada pela coluna do frei Dionísio:
“Houve tempos em que ser da colônia, ser colono era tido, considerado tipo de segunda classe.
Contudo, o jornal nunca se vexou. Nunca se perturbou”. (CORREIO RIOGRANDENSE, 1984,
p. 74). Pe. Antônio Galioto foi incisivo: “Creio não errar se afirmo que a imensa maioria dos
leitores, são os agricultores do Sul do país! Um jornal que desça à mentalidade do agricultor, aos
24
Tanto na cultura da imigração italiana quanto na cultura clerical, o autor de Nanetto realiza um processo
seletivo, e é a partir dele que se torna capaz de construir sentidos reconhecidos nesses dois eixos culturais. Essa
seleção cultual não só se efetiva a partir do momento em que se conhecem os muitos significados de uma cultura,
como também se dá de maneira particular em cada indivíduo. Porque cada um é parte de um contexto, de um
tempo específico e é capaz de ver as insercções culturais de maneira única. (PEROTTI, 2007, p.121).
54
seus problemas e lutas, às suas alegrias […].” (CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p.81).
Galioto ainda destacou a importância de colunas como “Vida Agrícola” do Engenheiro
Agrônomo José Zugno. Na edição, Zugno reintera:
Nesta edição especial comemorativa do 75º aniversário do CR, Vida Agrícola também
está aniversariando, pois completa 31 anos de existência. O jornal de fato, sempre
esteve ao lado dos agricultores que constituíam, como hoje, a maioria dos seus leitores,
orientado-os, defendendo os seus produtos e seus interesses, estimulando-os a uniremse e a formarem cooperativas. Vida Agrícola veio para dar continuidade a esse
programa que o jornal já vinha cumprindo com fidelidade desde a sua fundação.
(CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p.114).
Para Dom Cláudio Colling, a influência do CR junto ao meio rural está na raiz da própria
origem do jornal e em sua circulação. “O meio rural merece a atenção do jornalismo do interior,
no qual e do que vive, como razão de ser de sua existência. Pelo fato de hoje o homem do interior
possuir TV, nem por isso precisa menos de presença de um jornal […].”. (CORREIO
RIOGRANDENSE, 1984, p. 77).
Na edição de seu centenário, em 2009, a longevidade do CR foi direcionada na
capacidade em construir e manter a fidelidade de seus leitores e na dinâmica de distribuição dos
exemplares.
O jornal sempre valorizou a figura do agente, fator que lhe garante uma penetração
inigualável e diferenciada. O agente foi valorizado desde os primeiros anos de
circulação. Por questões de logística, o diretor frei Sílvio Armiliato obtém, em
12/12/1950, autorização para a transferência do jornal para Caxias do Sul. Graças a
um empréstimo […], em pouco mais de um ano as instalações junto ao convento dos
capuchinhos, no bairro Rio Branco, já permitiam receber a máquina impressora e toda
a tipografia vindas de Garibaldi. (CORREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.11).
A sede do jornal permaneceu no bairro “dos Capuchinhos” até 1998, a partir de então,
passou a funcionar no bairro Desvio Rizzo, junto à Editora São Miguel25.
Nas páginas 8 e 9, do caderno Especial, dos 105 anos, há um compilado de relatos
enviados dos leitores ao jornal que ajudam a traçar o perfil dos assinantes, leitores. “Enquanto
25
Falaram mais alto as dificuldades com a distribuição do jornal e as facilidades de um polo regional como Caxias.
Mas não só. Para facilitar a importação de papel, já que a intenção era editar livros e revistas, em 23/04/1952, a
tipografia do Correio Riograndense foi registrada com a denominação de Editora São Miguel, propriedade da então
Sociedade Literária São Boaventura. Atender à demanda dos serviços gráficos e estabelecer-se como uma editora
católica, foram estratégias de autosustentação. (CORREIO RIOGRANDESE, 2009, p. 11).
55
alguns guardam todos os exemplares, outros recortam e colecionam artigos, matérias, receitas e
fotos publicadas pelo jornal” (CORREIO RIOGRANDENSE, 2014, p.8-9). Desta forma, o jornal
também buscou valorizar e tornar pública a experiência dos responsáveis pela longevidade do
veículo.
A leitora Sirlei Aparecida Vieira, moradora de Caxias, fez questão de compartilhar as
edições do CR com a irmã Aldira, que mora em Santa Catarina. “Aldira gosta principalmente dos
textos sobre saúde; dos artigos dos freis […] e da página de Caxias, que lê como forma de se
sentir mais próxima da cidade onde morou” (COOREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.8).
O CR também vem contribuindo para a formação escolar de seus leitores. “Todos fomos
alfabetizados pela mãe, mas como não tínhamos caderno, escrevíamos nas margens do jornal”,
contou a leitora Ana Isabel. (COOREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.8).
A ligação de Loreno Luiz Zambonin, de Canoas (RS), iniciou no final da década de
1940. Segundo relato de Zambonin ao semanário, ele era acólito (coroinha), na igreja matriz da
então Vila de Sananduva,
Aos domingos, depois da missa das 10 horas, era encarregado pelo padre Gregório de
distribuir os jornais aos assinantes. “A entrega era feita em uma peça nos fundos da
igreja”, lembra. “Por uma janela, situada em um plano superior, eu anunciava o nome
do assinante e, então, ele ou alguém encarregado levantava o braço, aproximava-se e
levava o jornal”, conta Zambonin. (CORREIO RIOGRANDENSE, 2014, p.9).
Além da figura do homem do campo, do agricultor, do colono, a religiosidade é outra
marca, tanto de do jornal quanto dos seus leitores. Hardi José Petry de Caxias do Sul narra: “Eu
coleciono terços e páginas do Correio Riograndense desde que tenho a assinatura. Mais
recentemente, estou colecionando todas as reportagens e fotos do Papa Francisco e outros”
(COOREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.9).
5.2.4 Religiosidade
Na ocasião dos 75 anos, o Correio Riograndense recebeu por meio da Secretaria de
Estado do Vaticano, uma carta do então Papa João Paulo II, através da qual a maior autoridade
da Igreja Católica Apostólica Romana ressaltava a importância do semanário e o definia: “Como
fator de comunhão, que deve tornar possível a participação coletiva das pessoas que vivem fora
dos centros urbanos” (CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p.11).
56
Conforme reforçado ao longo da pesquisa, a religião está impressa no “DNA” do CR.
Um legítimo veículo evangelizador da missão católica.
A passagem dos 75 anos também é tida como um “fato eclesial”, por ser motivo de
alegria para toda a Igreja do Rio Grande do Sul.
O Correio Riograndense sempre teve características próprias. Já em seu primeiro
número professava que nascia católico, viveria católico e, se um dia devesse
desaparecer, sua última palavra seria de fidelidade à Igreja. Em seus 75 anos, por vezes
em meio a situações nem sempre claras, teve a preocupação de difundir valores
evangélicos e cristãos de vida. Suas páginas registraram os grandes acontecimentos
significativos das igrejas particulares e também da vida das pequenas comunidades,
capelas, perdidas no interior. A religiosidade, a família, o trabalho, o espírito
associativo sempre estiveram presentes em suas páginas. (CORREIO
RIOGRANDENSE, 1984, p.80).
O historiador Mário Gardelin também dá o seu testemunho, enaltecendo a missão
religiosa do CR, especialmente a Ordem dos Capuchinhos, trazidos segundo Gardelin pela
“providência divina” para proteger aos colonizadores.
O Correio Riograndense não lançou nenhuma edição, sem que nela houvesse a parte
religiosa, dentro da mais correta ortodoxia. É correr as páginas e deparar o sentimento
de lealdade para com a Igreja, o Papa e a Hierarquia. É a divulgação da sã doutrina,
dos dogmas, sem enfeites ou subterfúgios. Ao lado disso, a lealdade a alguns valores do
mais alto sentido: o nosso colono. (CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p. 76).
Na edição comemorativa ao centenário, em 2009, foi reproduzido o primeiro editorial do
CR (1909). Nele, a vocação cristã é pontuada, bem como a obediência às autoridades eclesiais.
[…] o La Libertà fará seus não apenas os comandos, mas os próprios desejos do
Romano Pontífice, e naquilo que poderá perceber, assumirá o dever de preveni-los. Nós
não entendemos, nem queremos iludir ninguém. La Libertà nasce católico e viverá
católico: e se um dia devesse morrer, o último suspiro será consagrado ao augusto
vigilante do Vaticano, lugar-tenente de Jesus Cristo na Terra. La Libertà poderá
morrer, mas Deus não morre. Com o amor à religião, entendemos consolidar no
coração dos nossos leitores o amor à pátria de origem e a esta de adoção, convictos que
somos que um bom católico será sempre um ótimo cidadão. […] Saudamos
cordialmente nossos irmãos da imprensa. Fiéis às nossas convicções, a eles nos unimos
com firme propósito de fazer um pouco de bem, único motivo que nos impele no
escabroso caminho do jornalismo. [...] ora podemos assegurar apenas que ao nosso
modesto Libertà é reservada a glória de um lisonjeiro porvir; glória que redundará em
honra daqueles que tiverem se esforçado na defesa do presente programa, inspirado
naquele do atual pontífice [Pio X]: Instaurare omnia in Christo (Restaurar tudo em
Cristo). (CORREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.3).
57
Na editoria Igreja, página 32, da edição de 2009, foi retomada a “missão centenária”
dada aos freis capuchinhos que chegaram ao Estado em 1896 para atender especialmente os
imigrantes italianos. Conforme frei Aldo Colombo, os primeiros religiosos estabeleceram-se
primeiramente na região de Nova Milano. Mas, a verdadeira aventura se daria a partir do dia 5 de
dezembro de 1895 quando, segundo Colombo, os pioneiros freis Bruno de Gillonnay e Leão de
Montsapey, acompanhados do frei Rafael de La Roche, embarcavam em Bordeaux (França), com
destino ao Brasil.
Na véspera do Natal de 1895 chegaram ao porto do Rio Grande do Sul e dali seguiram
para Porto Alegre. Dom Claudio ofereceu para residência dos freis a igreja das Dores
em Porto Alegre, além de outras opções: Torres e Alegrete. Providencialmente, na hora
das negociações, chegou o padre Bartolomeu Tiecher, que ofereceu uma casa de sua
propriedade em sua paróquia, Conde D'Eu, atual Garibaldi, no centro da colonização
italiana.
No dia 18 de janeiro de 1896, com uma carona oferecida por um carroceiro, os freis
chegavam ao seu destino, alojando-se no prédio de dois andares do pároco. Era o
começo de uma aventura imprevisível: frades franceses, vindos ao Novo Mundo para
atender religiosamente imigrantes italianos. E, contra todas as possibilidades, deu
certo. (CORREIO RIOGRANDENSE, 2009, 32).
Nesta mesma edição, o Pároco da Catedral de Caxias, Leomar Brustolin escreveu um
amplo artigo sobre o papel da “Igreja Midiática”. “[...] Há sinais e linguagem novas, experiências
e meios antes desconhecidos […]. As mudanças rápidas e profundas interpelam novos caminhos
para o anúncio e a vivência da fé cristã”.
A fé passou a ser transmitida e experimentada através das multimídias. Destacando-se,
ultimamente, o uso da televisão e da internet como lugares privilegiados para atingir
pessoas em busca da experiência religiosa. No Brasil, é possível acessar diferentes
canais de televisão com tais ofertas. Católicos, protestantes, pentecostais, kardecistas,
umbandistas e até grupos orientais apresentam-se na “telinha”, nos diferentes horários
da programação. Se conectarmos a internet, então nos depararemos com um oceano de
possibilidades para acessar experiências com o sagrado. Para os cristãos, entretanto,
interessa sobremaneira o fenômeno da Igreja eletrônica, isto é, a vivência da fé
mediante as mídias. Chega-se a dizer Igreja Midiática. (CORREIO RIOGRANDENSE,
2009, p.40).
Portanto, a partir dos novos desafios e possibilidades de evangelização de massa, a Igreja
também tem buscado novas formas de interação com seus fiéis. O Correio Riograndense mudou
graficamente ao longo das décadas, modernizando-se de forma evidente. Manteve a sua tradição
religiosa, mas se abriu para o mundo atual.
58
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudar aspectos do jornalismo regional requer bastante esforço, pois são necessárias
contextualizações, aprofundamentos de conceitos interdisciplinares e pesquisas em diferentes
áreas, como na história, sociologia e antropologia.
Autoras como Kenia Maria Menegotto Pozenato e Loraine Slomp Giron (2007) e
pesquisadores como Rovílio Costa e Luís De Boni (1979) nos serviram como arcabouço para
compreendemos o cenário que a temática se propunha a desvendar. Vimos com o jornalista Mário
Erbolato (1979) que uma comunicação eficiente, independentemente do veículo, terá que ser
coerente, correta e acessível ao grande público. Luiz Amaral (1982) reforçou que a imprensa,
sempre deverá estar aberta às transformações da sociedade. Juarez Bahia (1990) frisou a
importância da qualificação da informação e resgatou as principais épocas trilhadas pelo
jornalismo brasileiro, até a qualificação do jornalismo como profissão.
O presente trabalho também se debruçou sobre a história do jornal Correio Riograndense,
objeto principal de estudo. O semanário, com 105 anos de trajetória, surgiu e se desenvolveu com
bases alicerçadas na região, por consequência, suas raízes confundem-se com a dos próprios
moradores da Serra Gaúcha. Com circulação semanal, nos tempos áureos atingiu o número de 60
mil assinantes, sendo até hoje distribuído em territórios além do Rio Grande do Sul.
O trabalho também abordou a origem do jornalismo impresso na cidade, o jornal CR como
contador de histórias, resgastes e registros dos habitantes da colônia e da cidade. Embora de
vocação “católica”, a movimentação política, social e cultural do cotidiano, também ganhou o
foco nas páginas do periódico.
Após a realização da análise de conteúdo, baseada nas teorias fundamentadas por
Laurence Bardin (2004), pode-se levantar informações a respeito do objeto analisado. Logo, o
Correio Riograndense traz impresso em suas páginas a identidade de uma região. Identidade essa,
que autores como Manuel Castells (2008), Pierre Bourdieu (2001) e Zygmut Bauman (2005),
ajudaram a conceituar. Atrelado ao seu significado está o “sentimento de pertença” tão presente
na sociedade regional. Temática essa, estudada também pelo escritor José Clemente Pozenato
(2003) e pelo geógrafo Rogério Haesbaert (1999), que traçaram a identidade regional como uma
relação de “apropriação” que acontece tanto no campo das ideias como na realidade concreta
inserida nos tantos processos de identificação social.
59
Este estudo se propôs a analisar três edições comemorativas do jornal Correio
Riograndense, dos 75, 100 e 105 anos. Para a conclusão desta pesquisa, foi crucial realizar
inferências a partir da análise do texto, da linguagem e de elementos particulares da escrita das
edições selecionadas, seguida pela questão norteadora “Que tipo de identidade regional permeia o
CR?”. A configuração da identidade regional se deu a partir dos aspectos da língua, cultura,
público leitor e da religiosidade presentes nas páginas do CR estudadas.
Este trabalho justifica-se pela contribuição do semanário na história da imprensa regional.
Um veículo que “lutou” ao longo de sua trajetória, pela preservação da memória coletiva, desde a
colonização até a atualidade.
A contribuição da Ordem dos Capuchinhos no Rio Grande do Sul à imprensa local é
notória. Os frades trabalharam com diversos meios de comunicação: rádio, televisão e
especialmente o jornal impresso.
Giron (2007) afirma que a cultura regional está edificada pelo conjunto de padrões de
comportamento, de valores materiais e imateriais. Podemos definir então que o perfil de leitores
do CR como sendo de grande predominância de descendentes de imigrantes europeus, religiosos
e agricultores. No entanto, a passagem de gerações somada aos avanços tecnológicos, indica
também mudança de valores e de transformações significativas neste contexto. Mudanças estas
que não extirpam a noção de identificação dos leitores do jornal, mas que é um fator preocupante.
Um indicativo disso é o declínio do número de assinantes.
A partir da retrospectiva histórica das fases que marcaram a evolução do CR, dos
depoimentos de profissionais que pelo jornal passaram, e, de seus leitores e assinantes, foi
possível visualizar os fatores que determinaram a longevidade de um jornal que mudou de
formato tantas vezes, mas que tem na frequência e credibilidade de seu conteúdo, uma das razões
de sua longevidade. O veículo mudou graficamente ao longo das décadas, modernizando-se de
forma evidente. Manteve sua tradição religiosa, mas se abriu para o mundo atual. A
modernização, porém, não modificou suas principais características, ou seja, não alterou
drasticamente o conteúdo publicado em suas edições.
Portanto, podemos afirmar que o Correio Riograndense é, sim, produto e representação
da identidade de seu público leitor. Logo, a sua própria identidade como jornal é híbrida, étnica e
regional.
60
REFERÊNCIAS
ADAMI, João Spadari. História de Caxias do Sul: 1864-1962. t. 1. Caxias do Sul: São Miguel,
1971.
ANTUNES, Duminiense Paranhos. Documentário histórico de Caxias do Sul. São Leopoldo:
Arte Gráfica, 1950.
AMARAL, Luiz. Técnica de jornal e periódico. 3.ed. Fortaleza: Tempo Brasileiro, 1982. 259 p.
BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2005.
110 p.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 4. ed. Rio de Janeiro, RJ: Bertrand Brasil, 2001.
BARATA, Alexandre Mansur. Luzes e sombras: a ação dos pedreiros-livres brasileiros (18701910). Campinas: Editora da Unicamp, 1999.
BOUCHER, Jules. A Simbólica Maçônica. 4º ed. São Paulo: Pensamento, 1997. 400 p.
BARRETO, Margarita. Turismo e legado cultural. Campinas: Papirus, 2000.
BRANDALISE, Ernesto A. Paróquia Santa Teresa - Cem Anos de Fé e História (1884 - 1984).
Caxias do Sul: Editora da UCS (EDUCS), 1985.
BECKER, Howard. Métodos e técnicas de pesquisa em Ciências Sociais. 4. Ed. São Paulo:
Hucitec, 1999.
BAER, Lorenzo. Produção Gráfica. 6 ed. São Paulo: Senac, 2002.
BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica. 4.ed. rev. e aumen. São Paulo: Ática, 1990. 2 v.
BARROS, Antonio e DUARTE, Jorge; Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São
Paulo: Atlas, 2005. xxiv,
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2000. 225 p.
BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um
manual prático. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
BELTRÃO, Luiz. Jornalismo interpretativo: filosofia e técnica. 2.ed. Porto Alegre: Sulina,
1980. 121 p.
BELTRÃO, L. Iniciação à filosofia do jornalismo. Rio de Janeiro, Livraria Agir Editora, 1960.
BRITO, Judith; PEDREIRA, Ricardo. A força dos jornais: os 30 anos da Associação Nacional
de Jornais no processo de democratização brasileiro. Brasília, DF: ANJ, 2009. 156 p.
61
BOCCATO, Vera Regina Casari. Metodologia da pesquisa bibliográfica na área odontológica
e o artigo científico como forma de comunicação. Rev. Odontol. Univ. Cidade São Paulo, São
Paulo, v. 18, n. 3, 2006.
Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande Del Sud: 1875-1925. v. 1, 2. 2
ed. Porto Alegre: Posenato Arte & Cultura, 2000.
CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. 8.ed. rev. e ampl.
São Paulo: Paz e Terra, 2005. 3 v.
CASTELLS, M. O poder da Identidade. Volume 2. São Paulo. Paz e Terra. 8ª Edição. 2008.
CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. Volume 2. São Paulo: Paz e terra, 1999.
CLEMENTE, Elvo; UNGARETTI, Maura. História de Garibaldi. Porto Alegre: EDIPUCRS,
1993. P.36.
COLLARO, Antonio Celso. Produção gráfica: arte e técnica na mídia impressa. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2007 (ebook UCS).
DE BONI, Luis Alberto; COSTA, Rovílio Frei. Os italianos do Rio Grande do Sul. Caxias do
Sul, RS: EST/UCS, 1979.
DUARTE, Jorge. Assessoria de imprensa no Brasil. In: (org.). Assessoria de imprensa e
relacionamento com a mídia: teoria e técnica. São Paulo: Atlas, 2011.
ERBOLATO, Mário L. Técnicas de codificação em jornalismo: redação, captação e edição no
jornal diário. Petrópolis, RJ: Vozes, 1979. 213 p.
FONSECA, João José Saraiva. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002.
Apostila.
FROSI, Vitalina Maria; MIORANZA, Ciro. Dialetos italianos. Caxias do Sul: Educs, 1983.
FLICK, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Bookman, 2004.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.
GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciências
sociais. 3.ed. Rio de Janeiro: Record, 2004.
GARDELIN, Mário; STAWINSKI, Alberto Victor. Capuchinhos italianos e franceses no
Brasil. Porto Alegre: EST; Caxias do Sul:UCS, 1986.
GIRON, Loraine Slomp; RADÜNZ, Roberto. Imigração e cultura. Caxias do Sul, RS: EDUCS,
2007.
62
GIRON, Loraine Slomp, O Imigrante italiano: agente de modernização. In: Imigração
italiana: Estudos. Caxias do Sul, 1977.
GUIBERNAU, Montserrat (1997), Nacionalismos: o Estado Nacional e o Nacionalismo no
Século XX, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor.
HALL, Stuart. Quem precisa de identidade? In: HALL, Stuart; WOODWARD, Kathryn.
Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturias. Petrópolis: Vozes, 2000.
HAUCK, João Fagundes. A Igreja na Emancipação (1808-1840). In: BEOZZO, José Oscar
(org.). História da Igreja no Brasil., t. 2. Petrópolis: Vozes, 1992. p. 13-139.
HAESBAERT, Rogério. Des-territorialização e identidade: a rede “gaúcha” no nordeste.
Niterói: Eduff, 1997
HENRICHS, Liliana Alberti (Org.). Histórias da Imprensa em Caxias do Sul. Museu
Municipal/Arquivo Histórico de Caxias do Sul/Pioneiro, 1998.
HERÉDIA, Vania Beatriz Merlotti; PAVIANI, Neires Maria Soldatelli. Língua, cultura e
valores: um estudo da presença do humanismo latino na produção científica sobre imigração
italiana no sul do Brasil. Porto Alegre: EST, 2003.
JACKS, Nilda. Cultura Regional como mediação simbólica: um estudo de recepção. Porto
Alegre:UFRGS, 1999.
LAGE, Nilson. Estrutura da notícia. 6.ed. rev. e atual. São Paulo: Ática, 2006.
LOPES, Maria Immacolata Vassalo. Pesquisa em comunicação: formulação de um modelo
metodológico. São Paulo, Loyola, 1990.
LUSTOSA, Oscar de Figueiredo. Os bispos do Brasil e a imprensa. São Paulo:
Loyola/CEPEHIB, 1983.
MANFROI, Olívio. A colonização italiana no Rio Grande do Sul, implicações econômicas,
políticas e culturais. Porto Alegre: Grafosul, 1975.
MORAES, Roque; GALIAZZI, Maria do Carmo. Análise textual discursiva. 2.ed. rev. Ijuí, RS:
UNIJUÍ, 2011. 223 p.
MELO, José Marques de. Estudos de jornalismo comparado. São Paulo: Pioneira, 1971.
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios à mediações: comunicação, cultura e hegemonia. 2.ed.
Rio de Janeiro, RJ: UFRJ, 1997.
MARCONDES FILHO, Ciro. Comunicação e jornalismo: A saga dos cães perdidos. São
Paulo, Hacker Editores, 2000.
63
MEDEIROS, João Bosco. Comunicação escrita: a moderna prática da redação. São Paulo:
Atlas, 1988.
MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos e resenhas.
4. Ed. São Paulo: Atlas, 1999.
NETO, Mario Carramillo. Produção gráfica II: papel, tinta, impressão e acabamento. São Paulo:
Global, 1997.
PAGANI, Marcos Fernando. O Nacionalismo na Região Colonial Italiana. Caxias do Sul:
Maneco Livraria. & Editora, 2005.
PINZETTA, Álvaro Luiz. Criação da Diocese de Caxias do Sul (8.9.1934). In: DE BONI, Luis
A. (org.). A presença italiana no Brasil. v. 3. Porto Alegre: EST; Torino: Fondazione Giovanni
Agnelli, 1996, p 534 - 554.
POSSAMAI, Paulo. Imprensa e italianidade: RS (1875-1937). In: DREHER, Martin Norberto
(org.). Imigração & imprensa. Porto Alegre: EST, 2004. p. 561 - 584.
POZENATO, Kenia Maria Menegotto; GIRON, Loraine Slomp.100 anos de imprensa
regional:1897-1997. Caxias do Sul, RS: EDUCS, 2004.
POZENATO, José Clemente. Processo Culturais: reflexos sobre a dinâmica cultural. Caxias do
Sul: EDUCS, 2003.
POZENATO, José Clemente. Algumas considerações sobre região e regionalidade. In:
Processos Culturais: reflexões sobre a dinâmica cultural. Caxias do Sul: Educs, 2003.
POZENATO, José Clemente. A Cocanha. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2000.
PEROTTI, Tânia; RIBEIRO, Cleodes Maria Piazza Júlio. Nanetto Pipetta: modos de
representação. Caxias do Sul, RS, 2007. 126 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade de
Caxias do Sul, Programa de Pós-Graduação em Letras e Cultura Regional, 2007.
RODRIGUES, DUARTE, Adriano. Comunicação e Cultura: a experiência cultural na era da
informação. Lisboa: Presença, 1999.
RODRIGUES, Jimmy. A voz e a palavra: o fluir da vida sob o olhar do cronista. Caxias do
Sul, RS: Belas-Letras, 2008.
RIBEIRO, Cleodes Maria Piazza Júlio. Anotações de literatura e de cultura regional. Caxias
do Sul, EDUCS, 2005.
RIBEIRO, Cleodes Maria Piazza Júlio. Festa & Identidade: como se fez a Festa da Uva. Caxias
do Sul: Educs, 2002.
64
RECH, Maria Helena Bortolon. As representações do trabalho no artigo opinativo do jornal
Correio Riograndense 1950-2004. Dissertação (Mestrado: Programa de Pós-Graduação em
Letras e Cultura Regional) - Universidade de Caxias do Sul (UCS), 2004.
SILVA, Tomaz Tadeu da; HALL, Stuart; WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: a
perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. 133 p
SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1977.
SODRÉ, Muniz; FERRARI, Maria Helena. Técnica de reportagem: notas sobre a narrativa
jornalística. 2.ed. São Paulo: Summus, 1986.
SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE IMIGRAÇÃO ITALIANA, 1996 abr. 24-27, Caxias do
Sul, RS; DAL BÓ, Juventino; IOTTI, Luiza Horn; MACHADO, Maria Beatriz Pinheiro; Fórum
de Estudos Ítalo-brasileiros :(9. 199. Anais … Caxias do Sul, RS: EDUCS, 1999.
SODRÉ, Muniz. A comunicação do grotesco: introdução à cultura de massa brasileira.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1973. Vozes do mundo moderno.
SILVA, Thomaz Tadeu da. “A produção social da identidade e da diferença.” In: SILVA, Tomaz
Tadeu da (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 4. ed. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2000.
TRAQUINA, Nelson. O estudo do jornalismo no século XX. São Leopoldo: UNISINOS, 2001.
TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo. Florianópolis: Insular, 2004-2005. 2 v.
ULLMANN, Reinholdo Aloysio. Antropologia cultural. Porto Alegre: Esc. Sup. de Teologia S.
Lour. de Brinde, 1980. 340 p.
VALDUGA, Gustavo. "Paz, Itália Jesus" Uma identidade para imigrantes italianos e seus
descendentes: o papel do Jornal Correio Riograndense (1930-1945). Dissertação de Pósgraduação em História apresentada na PUCRS em 2007.
Revista do Livro da Fundação Biblioteca Nacional, nº 48, ano 15, março de 2007.
65
Arquivos e Museus:
Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, Caxias do Sul
Museu Municipal de Caxias do Sul, Caxias do Sul
Museu da Força Expedicionária Brasileira na 2ª Guerra Mundial, Caxias do Sul
Monumento Nacional ao Imigrante, Caxias do Sul
Museu da Comunicação Social Hipólito José da Costa, Porto Alegre
Museu Histórico dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul – Muscap, Caxias do Sul
Acervo da Gráfica e Editora São Miguel, Caxias do Sul
Arquivo Histórico Municipal de Garibaldi, Garibaldi
Exposição CORREIO RIOGRANDENSE, UM SÉCULO DE INFORMAÇÃO, Museu dos
Capuchinhos, 2009, fotos da seleção “Olhar e Olhares”, captadas por Moacir Pedro Molon
Jornais Consultados:
JORNAL LA LIBERTÀ, n.2, ano I, Caxias, 13 de fevereiro de 1909.
IL COLONO ITALIANO, Garibadi, 12 de de março de 1910.
STAFFETTA RIO-GRANDENSE, Garibaldi, 05 de julho de 1917.
STAFFETTA RIOGRANDENSE, 07 de abril de 1921.
LA STAFFETTA RIOGRANDENSE, 07 de setembro de 1927.
STAFETA RIOGRANDENSE, 06 de março de 1940.
STAFFETTA RIOGRANDENSE, 15 de janeiro de 1941.
CORREIO RIOGRANDENSE, 10 de setembro de 1941.
CORREIO RIOGRANDENSE, 30 de maio de 1970.
CORREIO RIOGRANDENSE, 06 de junho de 1970.
Vídeos
PROIBIDO FALAR ITALIANO, 2012, Caxias do Sul, RS. [Documentário]. 1 DV (24 min.)
CAXIAS DO SUL – TRADIÇÃO E INOVAÇÃO DE UM POVO, 2010, Caxias do Sul, RS.
[Documentário]. 1 DVD (74 min.)
66
APÊNDICE A – ENTREVISTA FREI ALDO COLOMBO
Entrevista – Frei Aldo Colombo, 77 anos, formado em Filosofia, Teologia e Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), com estágio na Rádio e
Televisão Francesa (ORTF). É colunista do Correio Riograndense e completou em 2014, 50 anos
de vida sacerdotal.
1. De que forma é percebida a identidade regional nas páginas do CR?
Na história do CR com seus quatro nomes, temos dois momentos em sua fase inicial: antes e
depois da aquisição pelos freis capuchinhos. Antes – La Libertá – tinha dois objetivos polêmicos:
defender o Papa e a Igreja Católica contra o anticlericalismo e a oposição maçônica.
No segundo momento – a partir de 1917 – frei Bruno de Gillonnay traçou uma estratégia para
o jornal, com três objetivos:
1. Levar uma página do Evangelho às famílias onde os freis haviam pregado as “Santas
Missões”. Estas Missões aconteciam em três, quatro ou mais anos.
2. Levar algumas noções de higiene, agricultura e afins.
3. Algumas notícias da “velha” Europa dizimada pela Primeira Guerra Mundial. O alvo maior
era a Itália, que os imigrantes conheciam tão bem.
Somente mais tarde começaram a aparecer “notícias locais”: festa do padroeiro, visitas de
autoridades, entre outras. A área do CR foi desenhada pelas Missões. Esta área cresceu com as
migrações: inicialmente para as colônias novas, no norte do Estado. Depois em Santa Catarina e
Paraná. Cada casamento era, potencialmente, uma nova assinatura do jornal.
Podemos, a partir daí traçar o perfil do assinante nos primeiros tempos: católicos,
agricultores e descendentes de italianos. As divisões geográficas pouco interessavam, mesmo
porque os imigrantes dificilmente tinham a ver com o Poder Público. O espaço, portanto,
funcionava na base da região: identidade de culturas, etnias e interesses.
67
2. Como você define a identidade do leitor do CR?
O CR era, praticamente, o único meio de comunicação no interior do RS. Ele ajudou na
integração regional e acompanhou os migrantes na busca de novas terras. O jornal contribuiu com
a divulgação de novas culturas agrícolas, sobretudo, a viticultura. Apoiou fortemente os
sindicatos rurais e o cooperativismo.
É interessante contemplar a importância da coluna I Nostri Morti (Os nossos mortos), breve
notícia sobre falecimentos, contando inclusive com fotografia. Ali se informava onde morou, onde
foi morar, com quem casou, número e nome de filhos, integração do “homem do campo” na
comunidade.
68
APÊNDICE B – ENTREVISTA FREI JOÃO CARLOS ROMANINI
Entrevista – Frei João Carlos Romanini, 52 anos, diretor de redação do Correio
Riograndense, responsável pela supervisão de conteúdos da Redesul de Rádio e Rede Mais Nova
FM. Presidente da Rede Católica de Rádio (RCR). Supervisor de comunicação digital da Redesul
e Mais Nova FM e capuchinhos. Integrante da Associação Católica de Comunicação para a
América Latina e Caribe (Signis/ALC).
1. De que forma é percebida a identidade regional nas páginas do CR?
A linguagem da narrativa do CR é linear, e ela se traduz nas pautas de interesse das pessoas
que tem a região da serra como local de referência.
2. Como você define a identidade do leitor do CR?
Alguém comprometido com as transformações, responsável, o leitor do CR sempre está
integrado a um grupo grande de outros leitores. Escolas, sindicatos, associações, igrejas, e
pessoas que cultivam de alguma forma a tradição local, mas que querem informações selecionadas
e confiáveis para modificar o seu cotidiano. Portanto, o CR é confiável pelos seus “donos”. Que
também estão próximos dos seus leitores.
69
APÊNDICE C – ENTREVISTA FREI MOACIR PEDRO MOLON
Entrevista – Frei Moacir Pedro Molon, 66 anos. Desempenhou a função de diretor de redação
do jornal Correio Riograndense por 25 anos ininterruptos. Com formação em Filosofia, Teologia
e Comunicação pela Unijuí e PUC/RS, foi professor na área de comunicação social, na PUC/RS,
Unisinos e UCS. É Secretário Provincial da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul,
entidade editora do CR, através da Associação Literária São Boaventura.
1. De que forma é percebida a identidade regional nas páginas do CR?
A identidade regional é um conceito que foi se esfacelando nos últimos 30 ou 40 anos. Foi
possível o CR manter a IR até o momento em que não aconteceu a proliferação dos jornais locais.
Ficava fácil ao CR noticiar diferentes áreas do RS ao MT, desde que atendesse o perfil do leitordescendente da primeira emigração sulista. Falo em identidade macrorregional. A IR no sentido
restrito foi o “brete” em que foi lançado o CR nas últimas décadas. Aí, entende-se “regional”
como o conjunto de microrregiões que circundar a Encosta Superior do Nordeste. Como estou há
10 anos fora do CR, observo-o como leitor. E vejo que o jornal não consegue mais cobrir uma
área e/ou um determinado público que possa ser caracterizado como um conjunto que dê razão
ao qualificativo “identidade regional”.
O CR certamente está passando por uma redefinição de seu público e mesmo de sua
plataforma convencional (impresso). O seu leitor tradicional até existe, mas chegar a ele demanda
um investimento não compensador. Assim, o CR terá que redefinir seu conteúdo e ir em busca, de
forma gradual mas não muito lenta, de um novo leitor. Penso que o CR esteja redefinindo seu
conteúdo direcionando-o para um novo quadro-leitor, através de novas plataformas. Sem isso,
com futuro será duvidoso.
2. Como você define a identidade do leitor do CR?
Sim, penso que o leitor do CR seja um buscador de conteúdos ecléticos, mais ou menos
moldados pelos ângulos da qualidade de vida, dos valores da família, do respeito ao meio
ambiente, dos valores do cristianismo (não mais da religião católica), calcados sempre em bons
geradores de conteúdos. Mas, não estou mais falando do leitor “tradicional” do CR. Estou
falando de um nicho a ser identificado, dimensionado e buscado a pequenos passos, cuja única
70
razão convincente será um bom e surpreendente conteúdo, uma plataforma mobile leve, eficaz e
pouco onerosa. Mas, permanece uma verdade histórica: o CR terá leitores (e futuro) se conseguir
percorrer o caminho da produção e da distribuição de bons e surpreendentes conteúdos.
71
APÊNDICE D – ENTREVISTA MARCELINO CARLOS DEZEN
Entrevista – Marcelino Carlos Dezen, 60 anos é jornalista formado pela UCS e trabalha há 31
anos no CR, atualmente é editor-assistente do veículo.
1. De que forma é percebida a identidade regional nas páginas do CR?
O CR, por seu legado e sua longa história, se identifica, ainda, como um jornal da família, dos
católicos, mas também de assinantes de outras religiões, como os evangélicos e luteranos; do
agricultor, pois sempre teve uma ligação muito estreita com o homem do campo e do meio rural.
Por sua seriedade e trajetória, sempre foi considerado um jornal sério e confiável. "Deu no
Correio Riograndense, pode acreditar, pode confiar". Forte é também sua identidade como um
jornal que, mais que informar, forma, orienta, educa. "Aprendi a ler no CR", dizem ainda hoje,
muitos assinantes e leitores. Também é considerado um jornal que defende os valores morais e
cristãos, preserva as tradições italianas, a cultura... Valoriza a pequena agricultura familiar.
2. Como você define a identidade do leitor do CR?
Quanto à identidade do leitor do CR, hoje o perfil está mudando bastante, até porque os
tempos mudam. Mas dá para dizer que os leitores do CR são pessoas que valorizam a boa leitura,
apreciam os valores culturais e religiosos, buscam boa informação e orientação.
Geralmente os assinantes são ligados à famílias bem estruturadas, muitos ainda residindo no
interior (no meio rural). O jornal é valorizado pelas congregações religiosas, pois há padres,
religiosos e religiosas que assinam o CR. Outro detalhe: a maioria dos assinantes que o jornal
possui fora do Rio Grande do Sul, mantém a assinatura como uma forma de ligação com suas
origens, pois geralmente são pessoas que migraram para outras regiões e Estados e, como
tradição, levaram junto o CR.
72
ANEXOS
ANEXO A – 1º EDIÇÃO DO LA LIBERTÀ – 13 DE FEV. DE 1909
73
ANEXO B – 25ª EDIÇÃO DO IL COLONO ITALIANO – 27 DE AGO. DE 1910
74
ANEXO C – 25ª LA STAFFETTA RIOGRANDENSE – 2 DE NOV. DE 1927
75
ANEXO D – Nº 3.860 DO CORREIO RIOGRANDENSE – 25 DE ABR. DE 1984
76
ANEXO E – Nº 5.147 DO CORREIO RIOGRANDENSE – 24 DE JUN. 2009
77
ANEXO F – Nº 5.382 DO CORREIO RIOGRANDENSE – 12 DE FEV. DE 2014
Download

a identidade regional contada nas páginas do correio riograndense