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Do
Por Everon Donato
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magine que você é um grande investidor e deseja montar sua própria empresa. Entre muitos ajustes,
uma das primeiras coisas a serem avaliadas é a formação da equipe. Você precisa de um bom capital
humano para progredir e alcançar os alvos do seu empreendimento. Se a equipe não apresenta o perfil necessário, as chances de ser um investidor de sucesso são reduzidas consideravelmente.
Ogden (2003) apresenta um memorando fictício de forma humorada dos candidatos que Cristo
havia selecionado para lhe acompanharem em seu ministério:
Memorando
Para: Jesus, filho de José.
Oficina de carpintaria, Nazaré.
De: Consultoria Jordão, Jerusalém.
Estimado Senhor,
Muito obrigado por nos enviar o currículo das doze
pessoas que foram selecionadas para ocupar os cargos
de gestão de sua nova organização. A todos eles aplicamos nosso sistema de seleção; agrupamos os resultados com nossa base de dados e também fizemos uma
entrevista pessoal com nossos psicólogos e assessores
laborais.
Todos chegamos à conclusão de que seus candidatos não têm o perfil necessário, não cumprem os
requisitos acadêmicos, nem têm as aptidões, nem a
vocação necessária para formar parte da empresa que
você quer iniciar. Não entendem o conceito de equipe.
Aconselhamos que continue buscando pessoas que
possam provar suas expectativas e eficácia no campo da
administração.
Simão Pedro é emocionalmente instável e de temperamento forte e rebelde. André não tem nenhuma qualidade para a liderança. Os dois irmãos Tiago e João, os
filhos de Zebedeu, antepõem seus próprios interesses à
lealdade. Tomé é muito cético e sua tendência a questionar as coisas pode desanimar o grupo.
Entretanto, um dos candidatos parece ter certo potencial. Tem habilidades sociais e uma mente apta para
os negócios. Também tem contato com altos cargos,
muita motivação, ambição e é responsável. Recomendamos a Judas Iscariotes como diretor administrativo de
sua empresa e sua mão direita. Todos os demais candidatos ficam, a nosso parecer, descartados.
Desejamos o melhor em sua nova empresa.
Atenciosamente,
Consultoria Jordão.
Esses homens estavam longe de terem os perfis
adequados para o investimento da construção do Reino de Deus. Tinham desvantagens acadêmicas, culturais e mesmo psicoemocionais. Falhar na escolha
significaria falhar na missão de estabelecer a Igreja
de Deus nesse mundo. Então, por que Cristo resolveu
investir nessa equipe? Não estava suficientemente
claro que transformá-los seria um trabalho extremamente árduo? Na verdade, ao escolhê-los, Jesus estava deixando uma grande lição de Seu poder transformador. Estava apresentando uma metodologia de
discipulado baseada na força do relacionamento. Investiu em poucos para se multiplicar em muitos.
De acordo com White (2007), Jesus escolheu esses homens para serem Seus colaboradores e dar-lhes a vantagem da convivência com Ele. Depois
disso, já não seriam mais ignorantes e incultos e o
mundo reconheceria que haviam estado com Jesus.
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O discipulado nos dias de Cristo
Para entender melhor o paradigma discipulador de Jesus, é necessário verificar os modelos de
discipulado vigentes em Seus dias. Havia pelo menos dois tipos predominantes de discipulado, o
grego e o hebraico. Ambos tinham diferenças marcadas.
O modelo grego traz como seus principais representantes Sócrates, Platão e Aristóteles,
considerados filósofos do período clássico da Grécia Antiga (VI - IV a. C.). Esse modelo de discipulado
era variado, mas estava baseado sobretudo na academia. Entre os gregos, o costume era de que os
alunos buscassem o mestre. Os mestres aceitavam os alunos quando eram promissores e mostravam uma capacidade mínima, ou quando eram indicados pelos pais que queriam ver os filhos sendo
influenciados por eles.
Por outro lado, temos o modelo hebraico, com características distintas. Alguns representantes
de destaque foram dois rabinos, Hillel e Shammai, que mantinham escolas rivais em Jerusalém e
que atraíam seguidores.
Esses mestres eram muito conceituados entre os judeus do primeiro século. Do mundo inteiro,
eles atraíam alunos a Jerusalém, o centro do conhecimento teológico e jurídico do judaísmo, a fim
de assentar-se aos pés desses mestres. Um jovem judeu que desejasse tornar-se rabino começava
sua educação como aluno em idade muito tenra, talvez logo que fizesse quatorze anos. Ele estava em
contato pessoal com seu mestre, ouvindo suas instruções, imitando seus gestos e aprendendo dele
na sala de aula e na vida prática. Na sala de aula, ele assumia a postura de estudante, assentando-se
aos pés do mestre. Quando dominava a matéria tradicional, ele era nomeado erudito não ordenado. A
ordenação vinha mais tarde, em uma idade prefixada. Nessa ocasião, o título de rabino lhe era dado,
bem como o poder de ligar ou desligar sobre os judeus de todos os tempos e em todos os lugares.
(MELBOURNE, 2008, p. 18).
Verificando esses dois modelos, poderíamos perguntar qual foi o modelo de discipulado de Jesus? A resposta seria: nenhum dos dois. Jesus desenvolveu o Seu próprio modelo de discipulado
transformacional. Seu modelo era o modelo do Reino e Seu alvo era a transferência da Sua vida em
outros que pudessem fazer o mesmo. As diferenças entre os modelos de discipulado mais conhecidos e o de Jesus podem ser verificados no quadro abaixo:
Grego
Hebraico
(Hilel e Shamai)
Jesus
Estudantes escolhiam
o mestre.
Alunos eram atraídos ao Mestre.
O mestre iniciou a relação.
Era comum cobrar uma
taxa de seus alunos.
Recebia compensações.
O preço era o compromisso.
O mestre aceitava
o aluno que era
promissor.
Começava sua educação como
aluno em idade muito tenra
(14 anos).
Jesus os escolheu por aquilo
que podiam se tornar (DTN).
Modelo de cunho
acadêmico formal.
Modelo de instrução conectada à
vida prática.
Modelo relacional de
transferência e transformação.
A ênfase relacional foi o fundamento da estratégia de discipulado do Mestre. “Jesus pôs como
prioridade o discipulado relacional porque seu objetivo era mais do que conseguir dar uma simples
informação, era o de conseguir a integração” (CHOLE, 2001).
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Em um modelo comum de discipulado baseado
em programas, o esquema geralmente segue a seguinte sequência:
Comissão → Programa → Discípulos
essa razão, Seu modelo de discipulado pode ser
representado da seguinte maneira:
Relações → Tempo → Discípulos
Gráfico de Greg Ogden – Discipulado que transforma
Gráfico de Greg Ogden – Discipulado que transforma.
Esse é um modelo formal que espera transmitir
um currículo e, ao final de um período, ter um discípulo formado, pronto para fazer o Reino de Deus
crescer nesse mundo. O problema é que, quando
se trata de pessoas, as coisas não funcionam tão
métricas assim. As respostas são diferentes e o
tempo de maturação também. Isso não quer dizer que os programas não são bons, ou que não
podem contribuir para o crescimento espiritual de
um discípulo. No entanto, se as relações não são
uma prioridade, os ensinamentos propostos pelo
programa tornam-se frios e diminutos em seus
resultados. Se quisermos que as pessoas sejam
transformadas, precisamos desenvolver relacionamentos sinceros com elas. Jesus sabia disso e, por
Jesus, como Mestre em liderança, tinha ciência
de que essa sequência precisava ser seguida para
formar um discípulo. Afinal de contas, não é possível
fazer discípulos sem dedicar tempo e esforço. É necessário ter intencionalidade e relacionamento.
As pessoas produzem muito mais quando são valorizadas do que quando são usadas ou dominadas
em um processo administrativo. Quanto maior a qualidade dos relacionamentos, melhor será a qualidade do discipulado. Por isso, é importante considerar
a sequência apresentada por Jesus, afim de alcançar
três grandes objetivos no processo de discipulado:
conhecimento
valores
habilidades
Porque Jesus desenvolveu um discipulado relacional com poucos?
Marinho (2009) afirma que o sucesso de um líder numa organização é proporcional ao seu nível
de relacionamento com os liderados. O velho conceito é de liderança pelo poder, mas o novo modelo é liderança a partir do relacionamento. Sendo assim, se alguém é líder e deseja multiplicar sua
influência, precisa fazê-lo por meio de relacionamentos saudáveis. Qualquer que seja o método de
discipulado, o foco precisa estar concentrado no desenvolvimento de pessoas. Existem pelo menos
cinco razões pelas quais Cristo investiu em poucos:
1. Interiorização: “Jesus se centralizou em uns poucos porque essa era a única forma de comunicar toda a sua visão e missão [...] A interiorização não se alcança com atividades massivas;
para que se dê é necessário um ambiente mais pessoal. A verdadeira multiplicação só é possível
quando os discípulos interiorizam ou fazem sua a missão de tal forma que estão motivados a
transmiti-la a outros” (OGDEN, 2003, p. 81).
2. Ensino: De acordo com Coleman (2006), um princípio fundamental do ensino é que quanto
mais concentrado e compacto for o grupo a ser orientado, maior será o potencial para uma instrução eficaz. Ao que parece, o objetivo de Jesus não era apenas recrutar, mas manter o grupo
suficientemente pequeno para que pudesse ser bem trabalhado.
3. Liderança: “As multidões de almas em conflito e desnorteadas estavam potencialmente
prontas pra segui-lo, mas Cristo sozinho não poderia dar a elas a atenção pessoal da qual precisavam [...] Por esta razão, Ele concentrou Seus esforços na preparação daqueles que dariam início
a seu método de liderança” (Coleman, 2006, p. 27). Não mais seriam como ovelhas sem pastor.
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4. Interação: Os grupos têm o potencial de ser dinâmicos e frutíferos. Em um grupo, é possível
passar de uma participação programada para uma participação natural. Do diálogo para um intercâmbio dinâmico. De um conhecimento limitado para um conhecimento mais amplo. De uma responsabilidade individual para uma responsabilidade compartilhada.
5. Multiplicação/reprodução: A ordem de Cristo para Seus discípulos foi para que reproduzissem
em outros a vida que haviam encontrado nEle (Jo. 15:8). Através de um processo multiplicador, os
poucos em que Jesus se concentrou alcançariam as multidões. De acordo com Greg Ogden (2003), a
taxa de multiplicação através de um discipulado relacional é de 75%.
Discipulado é reprodução de qualidade que assegura que o processo de multiplicação espiritual
continuará de geração a geração [...] Paulo deixa subentendido que a relação do discipulador com o
seu discípulo estende-se por quatro gerações (II Tm. 2:2) [...] A referência de Paulo a quatro gerações
não é mera coincidência. A pessoa que faz discípulos só fica sabendo quão eficazmente ensinou seu
aluno quando vê o aluno de seu aluno ensinando a outros. (PHILLIPS, 2008, pp. 32 e 33).
Conclusão:
O paradigma discipulador de Jesus é o modelo a ser seguido pela igreja do século XXI. É importante manter o foco na
tarefa, mas fazer isso e esquecer o chamado para formar discípulos é negligenciar a construção do Reino de Deus nesse
mundo. Todo o ministério de Jesus envolveu a preparação de
Seus apóstolos, o que então o meu ministério deveria envolver?
CHOLE, A. B. Aproximação proposital – o modelo de mentoreamento de Jesus. 2001. Disponível em http://enrichmentjournal.
ag.org/200102/062_proximity.cfm
COLEMAN, R. Plano mestre de evangelismo. São Paulo: Mundo cristão, 2006.
MARINHO, R. 4 poderes mágicos do relacionamento. DVD vídeo. São Paulo: Commit, 2009
MELBOURNE, B. Discipulado cristão: Lição da escola sabatina. I trimestre. Tatuí – SP: CPB, 2008.
OGDEN, G. J. Discipulado que transforma: el modelo de Jesús. Barcelona, Espanha: CLIE, 2003.
PHILLIPS, K. A formação de um discípulo. São Paulo: Vida, 2008.
WHITE, E. G. Desejado de todas as nações. Tatuí – SP: CPB, 2007.
EVERON DONATO
O Pr. Everon Donato é líder do Ministério Pessoal da Divisão Sul-Americana. É mestre
em Teologia Pastoral e Mestre em Liderança pela Andrews University. Sua experiência anterior inclui as funções de pastor distrital em Palmares, Pernambuco, e
diretor de Ministério Pessoal na Associação Pernambucana, Associação Bahia e
União Nordeste. Antes de aceitar o chamado para Divisão Sul-Americana o pastor
Everon servia como presidente da Missão Sergipe.
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