Faculdade de Enfermagem - Departamento de Enfermagem Básica
Disciplina: Administração em Enfermagem I
Docente: Bernadete Marinho Bara De Martin Gama
Assunto: Métodos de Trabalho em Enfermagem.
Objetivos: identificar os métodos de trabalho em enfermagem.
“Esta é uma história sobre 4 (quatro) pessoas:
TODO MUNDO, ALGUÉM, QUALQUER UM e NINGUÉM.
Havia um importante trabalho para ser feito, e TODO MUNDO tinha certeza que ALGUÉM o
faria.
QUALQUER UM poderia tê-lo feito, mas NINGUÉM fez.
ALGUÉM se zangou porque era um trabalho de TODO MUNDO.
TODO MUNDO pensou que QUALQUER UM poderia fazê-lo, mas NINGUÉM imaginou que
TODO MUNDO deixasse de fazê-lo.
No final TODO MUNDO culpou ALGUÉM porque NINGUÉM fez o que QUALQUER UM poderia
ter feito “
I. Introdução
O trabalho da enfermagem ocorre através de ações hierarquizadas e divididas
geralmente por nível de complexidade de concepção e execução, isto devido ao fato de
que o mesmo é desenvolvido por profissionais de várias categorias. Assim, podemos
entender que as atividades atribuídas ao enfermeiro observam a lógica capitalista, na qual
todo trabalho realizado coletivamente precisa de “alguém” que assuma a sua
coordenação e gerência, e também de pessoal para outras atribuições, conforme sua
capacitação, de forma que se possa alcançar os objetivos de um serviço de enfermagem.
A equipe de enfermagem passa então, a sentir necessidade de organizar seu
trabalho, para o estabelecimento e alcance destes objetivos, e isto implica em definir e
planejar a assistência de enfermagem num “cenário interativo”. O trabalho desenvolvido
pelo enfermeiro é influenciado por características situacionais e entre elas destacamos o
modo pelo qual a prestação da assistência está estruturada, e esta “divisão de
trabalho” – “distribuição de serviços”, deve necessariamente dispor de metodologia que
proporcione à clientela e equipe segurança nos seus objetivos.
Como nossa proposta é identificar os métodos de trabalho em enfermagem,
estudaremos a partir do referencial de Kron e Gray (1994), os quatro métodos mais
comuns utilizados para a prestação de cuidados de enfermagem, a saber: funcional,
integral ou atendimento total, em equipe e enfermagem primária.
II. Método Funcional
”Distribuição do atendimento, de acordo com tarefas, a várias categorias prestadoras de
atendimento”.
• Neste método, a ênfase é dada às tarefas e procedimentos a serem realizados, e
esta distribuição ocorre considerando a demanda da assistência a ser prestada –
volume de trabalho e a disponibilidade de pessoal – força de trabalho.
• Enfatiza ainda, a descrição das atividades e aquilo que deve ser realizado em cada
turno, de modo que cada um dos elementos do grupo é responsável por algumas
tarefas a serem desenvolvidas junto a um grande número de pacientes. (Por
exemplo: compete ao auxiliar arrumar todos os leitos; ao técnico compete ministrar
medicações e ao enfermeiro prestar os cuidados de maior complexidade e planejar
a assistência para todos os pacientes).
• Sua fundamentação básica está centrada no sistema de Taylor da Administração
Cientifica, e a racionalidade e eficiência são rigorosamente aplicadas nesse
processo, onde a organização clássica de divisão de trabalho preconiza a
delegação de autoridade e responsabilidade vinda de nível superior da via
hierárquica.
• As responsabilidades são atribuídas de acordo com o processo funcional e muitas
vezes este tipo de atendimento é descrito como método de dar atendimento tipo
“linha de montagem”.
• Por conseqüência a assistência pode ser prejudicada pela fragmentação com que
é prestada, havendo pouca comunicação entre os membros da equipe e poucos,
talvez o enfermeiro, conheçam as condições gerais de cada cliente. Quando existe
o planejamento da assistência de enfermagem, corre-se o risco de que na maioria
das vezes, ele não é centrado no cliente, mas torna-se uma repetição das
“instruções médicas”.
• Está sempre presente uma exagerada preocupação em se terminar o trabalho,
mas não com o processo de trabalho, e geralmente os clientes/pacientes não ficam
totalmente satisfeitos com o atendimento que recebem, pois não conhecem bem
quem é responsável por seu atendimento.
• Quando há falta de pessoal este método pode ser utilizado como uma forma de
garantir que todo trabalho seja realizado, entretanto o aspecto qualitativo fica a
desejar, o que contraria a função essencial na busca da qualidade da assistência
de enfermagem.
• Por este método, o paciente é visto como um ser despersonalizado, fragmentado
em doenças, clínicas, tratamentos e cuidados, ficando negligenciado como uma
pessoa que pode interagir no processo de tratamento e cura. Isto pode levá-lo a
sentir-se inseguro por não ser reconhecido em sua totalidade pelos profissionais
que assumem sua assistência. Deve-se considerar também que este paciente
pode desenvolver a necessidade de um relacionamento mais profundo e mais
autêntico com os que o cercam (PEREIRA, 1997).
• Outro grande risco no emprego deste método pode ser a alienação do profissional
de enfermagem, levando a um desempenho automatizado/mecanicista e à perda
de seu potencial criador e embotamento de sua capacidade de tomar decisões. Isto
impõe limites a uma visão global e totalizadora do paciente e da assistência que
lhe é prestada, associada também a um sentimento de frustração do profissional,
pois se torna impossível sentir-se gratificado pelo sucesso de uma única e
determinada atividade.
III. Método Integral
”Designação de alguns pacientes a um determinado profissional de enfermagem que
presta atendimento total aos pacientes durante um turno de trabalho”
• Também chamado de atendimento total ou método de caso para designação de
tarefas, esta metodologia refere-se à prestação de todo atendimento direto a um
paciente, realizado por um enfermeiro.
• Sua fundamentação básica está em se considerar que o enfermeiro é o profissional
melhor preparado para realizar todo o atendimento de enfermagem necessário ao
paciente, mas a prática demonstra que o método é utilizado englobando todos os
profissionais de enfermagem.
• Um fator determinante de como será o resultado da aplicação deste método, é a
filosofia do enfermeiro e do serviço de enfermagem, que influenciara que este seja
centrado em tarefas ou nos pacientes.
• O atendimento não é fragmentado e exige uma grande habilidade de coordenação
por parte do enfermeiro, para que alterações de um turno para outro não
determinem a descontinuidade da assistência.
• Teoricamente, o enfermeiro ou outro profissional de enfermagem, que assumir
integralmente seus pacientes, terá uma significativa oportunidade de conhece-los
bem, para que assim os planos assistenciais possam ser mais individualizados, a
assistência mais efetiva.
• O tempo insuficiente e a dificuldade de comunicação na equipe, pela extensão e
complexidade das ações, podem acarretar atraso nas atividades e os planos não
serem completados a tempo hábil para sua utilização devida.
• Na grande maioria de situações, o método integral tem trazido satisfação para
clientes e profissionais de enfermagem, e às vezes ocorrem situações, que
necessitam de intervenção de qualidade, em que os pacientes desenvolvem certa
dependência em relação ao profissional de enfermagem, quando não há rodízio
destes junto à clientela.
IV. Método de Enfermagem em Equipe
“Designação de um líder que, juntamente com um grupo de responsáveis pelo
atendimento, planeja e dá todo o atendimento durante um turno de serviço”.
• Este método foi criado para ser usado quando as equipes estão compostas de
membros com uma diversidade de educação e capacidades, e se baseia em quatro
pressupostos, conforme Kron e Gray (1994):
1. Todo paciente tem o direito de receber o melhor atendimento possível com a
equipe e tempo disponível;
2. O planejamento dos cuidados de enfermagem é básico para se proporcionar esse
atendimento;
3. Todo o pessoal de enfermagem tem o direito de receber ajuda para fazer seu
trabalho;
4. Um grupo de responsáveis pelos cuidados sob a liderança do enfermeiro pode
proporcionar um melhor atendimento aos pacientes, do que aquelas mesmas
pessoas trabalhando como indivíduos.
• Um fator que exerceu forte influência na concepção e implantação deste método foi
a Teoria das Relações Humanas, cujo precursor foi Elton Mayo, onde a liderança
democrática nasceu. Assim a assistência é centralizada no paciente, e o foco está
no trabalho em grupo, para qual o paciente representa o centro das atividades e as
funções da equipe surgem das necessidades por eles apresentadas.
Como nos aponta Kron e Gray (1994), o trabalho em equipe deve ser orientado pelos
seguintes conceitos:
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A liderança deve ser exercida por um enfermeiro;
Uma comunicação efetiva é necessária para assegurar a continuidade na
prestação do atendimento de enfermagem planejado;
O líder de equipe deve utilizar todas as técnicas da liderança/controle
(orientação/supervisão e monitoramento das ações);
Os membros da equipe têm que aceitar a liderança do líder da equipe;
Todos na equipe são importantes
A prática de enfermagem em equipe não deve ser limitada por um procedimento
fixo.
Ao contrário do método funcional, a enfermagem em equipe pode levar a
satisfação no trabalho, pois cada membro terá possibilidades de utilizar seu
potencial e de desenvolvê-lo, e assim a clientela terá um atendimento qualificado,
personalizado e, portanto humanizado. E mesmo a organização do trabalho sendo
aparentemente centralizada, com controle e supervisão, a dinâmica das atividades
permite uma comunicação mais positiva e interação no grupo como um todo.
• A mesma autora, nos apresenta ainda algumas concepções errôneas a respeito do
trabalho de enfermagem em equipe, e que merecem nossa atenção e reflexão, a
saber:
1. A enfermagem em equipe não é apenas todo método assim designado;
2. Ela não é a distribuição do atendimento numa base funcional a vários membros
da equipe. Quando apenas as tarefas são designadas aos profissionais, a
enfermagem funcional está sendo praticada, independente de que nome seja dado
ao método;
3. Ela não é simplesmente a divisão da unidade à metade ou do número de
pacientes à metade;
4. Ela não é divisão de deveres e pacientes igualmente entre os membros da
equipe;
5. Ela não é terem-se dois grupos de profissionais, cada um com um líder de
equipe designada;
V. Enfermagem Primária
“Designação de um grupo de pacientes a um enfermeiro que planeja, presta (ou dirige)
e avalia todo o atendimento em cada período de 24 horas, durante a estada hospitalar do
mesmo”.
• Conforme descrito por Sullivan e Decker (1985) e citado por Kron e Gray (1994), a
enfermagem primária - primary nursing é um método de prestação de cuidados de
enfermagem no qual o enfermeiro é responsável e presta contas pelo atendimento
de um paciente 24 horas por dia. Esta responsabilidade inclui analisar, planejar,
implementar e avaliar o atendimento de enfermagem desde o momento em que o
paciente é admitido na unidade de internação, até que ele obtenha alta.
•
“O que se deseja com este método é que o enfermeiro retome o cuidado direto do
paciente para si e que isto eleve a qualidade do atendimento visando proporcionar
de acordo com Trevizan (1993) o cuidado compreensivo, planejado e não
fragmentado ao paciente e ainda acentue a responsabilidade do enfermeiro,
buscando a integração dos objetivos organizacionais com os individuais.”
•
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•
O desenvolvimento deste trabalho envolve a própria participação da primary nurse
e de enfermeiras que seguirão o plano proposto nos turnos em que ela estiver
ausente. A estrutura organizacional é mais descentralizada e permite maior
autoridade e responsabilidade e a atribuição de novos pacientes às primary nurses
é feita, de acordo com Trevizan (1993), com base:
na sua avaliação das necessidades do paciente;
no conhecimento dos pacientes que estão sob seus cuidados;
no conhecimento das capacidades, preferências, necessidades e metas das
primary nurses.
O foco da enfermagem é centrado nos pacientes e promove a continuidade do
planejamento, prestação e avaliação do atendimento. A enfermeira coordena o
atendimento e para isso deve ter conhecimentos de todos os recursos disponíveis
e manter uma efetiva relação com toda a equipe multiprofissional, incluindo pessoal
auxiliar e de apoio.
A enfermagem primária pode assegurar apenas uma visibilidade maior das
necessidades a serem atendidas, no modelo de atendimento total à saúde, não
podendo, porém, assegurar a provisão do mais alto nível de atendimento de
enfermagem (KLEIN, 1983 apud KRON e GRAY (1994),
A satisfação do cliente e do enfermeiro, em conseqüência de um processo
comunicativo direto, baseado na necessidade de ambos, e o contínuo aprendizado
do profissional que se dedica a prestar uma assistência integral, são fatores
apontados por Trevizan (1993), como vantagens da enfermagem primária. A
liderança exercida pelo enfermeiro será, portanto criativa e seu potencial para
tomada de decisões terá espaço amplo para se desenvolver.
VI. Considerações Finais
Neste estudo, devemos compreender que o enfermeiro e todo pessoal de
enfermagem precisam estar alerta para a escolha e conseqüências da modalidade de
trabalho que será implementada em sua prática. Através do desenvolvimento de uma
consciência crítica faz-se necessário buscar entender e analisar cada método, e outros
que possam surgir ou mesmo a combinação desses entre si, assumindo
responsabilidades pelas opções feitas e criando condições favoráveis para que mudanças
e inovações possam sempre ocorrer. Assim, a avaliação constante será fundamental,
para que através deste meio – o método de trabalho, não se perca de vista o fim maior
das ações de enfermagem – a qualidade do atendimento.
VII. Referências
GAMA, B.M.B.D.M. Métodos de Trabalho em Enfermagem . Apostila de Curso. Disciplina de
Administração em Enfermagem I. Faculdade de Enfermagem .UFJF,2007.
KRON, T; GRAY, A. Administração dos Cuidados de Enfermagem ao Paciente. Rio de
Janeiro, Interlivros, 1994.
PEREIRA, L.V. et al. O Método Funcional na Enfermagem – análise crítica. Revista Mineira de
Enfermagem. Belo Horizonte, v.01, p. 64-68, nov/dez. 1997.
TREVIZAN A., Liderança do Enfermeiro: O Ideal e o Real no Contexto Hospitalar. São Paulo.
Sarvier, 1993.
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