UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE BIBLIOTECONOMIA
DIRETÓRIO ACADÊMICO DE BIBLIOTECONOMIA
XIV Encontro Regional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência da
Informação e Gestão da informação
Os novos campos da profissão da informação na contemporaneidade
16 a 22 de janeiro de 2011
PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA: resgatando vestígios históricos e culturais
do município de Frei Miguelinho - PE 1
José Aniceto de Lima
Pietro Otávio Santiago
RESUMO
Cada sociedade é dotada de fatores culturais que são transmitidos ao longo do
processo histórico. Esse desenvolvimento dar-se de geração a geração através de
seus artefatos míticos, éticos e religiosos norteando sua forma de pensar e agir.
Tendo em vista que o processo evolutivo de um povo se dá por meio do
conhecimento de sua história, o artigo descreve o projeto de resgate e digitalização
dos de textos e fotos históricas oriundos do município de Frei Miguelinho, realizado
no segundo semestre de 2010, por meio da disciplina de Gestão Documental
ministrada no curso de gestão da informação da UFPE. Por meio da revisão de
literatura, traz a preservação da memória como justificativa para realização dos
esforços empreendidos no resgate de artefatos histórico-cultural do município.
Descreve os procedimentos metodológicos aplicados no processo de tratamento dos
documentos obtidos, assim como os passos utilizados na digitalização do acervo
documental. O projeto foi concluído com a disponibilização on line do material em
uma base de dados especializada sob o domínio da UFPE, possibilitando assim, a
preservação e disponibilização do acervo.
Palavra-chave: Digitalização. Patrimônio Cultural. Frei Miguelinho. Pernambuco
1
Trabalho cientifico de comunicação Oral apresentado ao GT 1 – História e memória da Biblioteconomia e
Ciência da Informação
Graduando no curso de Gestão da Informação pela Universidade Federal de Pernambuco ,
[email protected].
Graduando no curso de Biblioteconomia pela Universidade Federal de Pernambuco, estagiário do Tribunal de
Justiça de Pernambuco – TJPE, [email protected].
1. PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA
A preservação da memória é um tema em destaque nos últimos anos, a
preocupação com a conservação de registros de memória, nos diferentes contextos e suportes,
justifica a reflexão sobre o perigo de esquecer ou perder tais registros que relatam fatos
históricos marcantes de uma determinada sociedade.
O conceito memória enquanto um fenômeno social se apresenta como um
processo histórico e tradicional que observa e analisa as características culturais de um
determinado povo. Nesse sentido, Monteiro; Carelle e Pickler (2008), afirmam que esse tipo
de memória pode ser interpretada como coletiva, isto é, aquela que faz parte das
características de um grupo de pessoas, e que ultrapassa a memória individual e biológica de
um indivíduo tornando-se a memória de uma sociedade.
A sociedade como produtora de conhecimento deve sem dúvidas, preservar sua
história e sua cultura, pois entende-se que delas provem a atual identidade do povo.
Para Santos (2003) preservação significa um conjunto de procedimentos e
medidas que proporcionam a segurança física de documentos de arquivos, bibliotecas etc.;
contra agentes de deterioração. Observa-se então, a preservação como ato ou efeito de
salvaguardar alguma coisa contra agentes que venham a por em risco os artefatos que
representam à memória de uma sociedade. Segundo o Dicionário de Terminologias
Arquivísticas (1996, p.61) preservação é a função arquivística destinada a assegurar as
atividades de acondicionamento, armazenamento, conservação restauração de documentos.
Ao argumentar sobre memória, história e relíquias, Loweenthal (1989, p 27)
utiliza-se do conceito de memória como insumo colaborativo para a construção do
conhecimento de um povo. Assim, a memória não seria um conhecimento produzido
intencionalmente, mas formada subjetivamente, apresentando-se como um meio de
transmissão de experiências do passado para o presente. A memória é, portanto, o único meio
de rever o passado no presente.
Entendemos que, a importância de preservar informações em quaisquer tipos de
suporte provem da necessidade de resguardar o passado, no intuito de entender o
presente e fazer prospecções ao futuro com base nas experiências vivenciadas
anteriormente. (MENDES; SANTOS e SANTIAGO, 2010, p.2)
As estruturas de organização de uma sociedade no decorrer dos tempos podem ser
percebíveis nos diversos fatores que formam a sua cultura. Assim, a palavra cultura, deve ser
interpretada como um fruto da sociedade e que precisa ser percebida e internalizada como
artefato da coletividade humana. Como argumenta Reisewitz (2004),
[...] onde há ser humano há cultura. Onde quer que o ser humano toque, o que quer
que faça, está a modificar a realidade e a si próprio e, assim, que interfere no mundo
natural ou dele participa, está a criar um mundo cultural”. (REISEWITZ, 2004, p.
81)
Portanto, deve-se perceber a cultura como um contínuo de artefatos, que
proporcione a identificação das singularidades de uma determinada sociedade, em qualquer
época.
No contexto de homogeneização vivenciado atualmente pelas civilizações,
decorrente dos efeitos da globalização, observa-se o surgimento de vertentes culturais que
busca a singularidade dos lugares e das sociedades, percebe-se assim, um grande crescimento
pela busca de registros do passado, ou seja, busca-se responder a perguntas do presente
referenciando-se e baseando-se em informações do passado. O documento publico, chamado
de Carta de Burra, elaborado pelo ICOMOS- Conselho Internacional de Monumentos e Sítios,
na década de 80 já identificava essa preocupação de preservar o passado pensando nas
perspectivas ao futuro.
A preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural é necessária, pois esse
patrimônio é o testemunho vivo da herança cultural de gerações passadas que exerce
papel fundamental no momento presente e se projeta para o futuro, transmitindo às
gerações por vir as referências de um tempo e de um espaço singulares, que jamais
serão revividos, mas revisitados, criando a consciência da intercomunicabilidade da
história. (ICOMOS, 1980)
Diante dos argumentos acima relatados sobre a importância de se preservar a
memória histórica e cultural de uma sociedade, contextualizou-se essa necessidade no
município de Frei Miguelinho através da conservação do registro das informações
organizadas no livro das origens do município de como também das imagens resgatadas
necessitam de ser preservadas urgentemente, pois estes registros carregam a memória
histórico-cultural da sociedade freimiguelinense.
Salvaguardar a memória do município de Frei Miguelinho, através deste trabalho,
é apenas o início de uma jornada, ou seja, é uma semente que está sendo plantada afim de
corroborar para construção de um “novo estado” de conscientização e interesse da sociedade
freimiguelinense por sua história bem como surgimento de novas pesquisas na área.
Para isso se faz necessário um preâmbulo histórico do município de Frei
Miguelinho.
2. O MUNICIPIO DE FREI MIGUELINHO
O município de Frei Miguelinho foi criado pela lei nº 4.997 de 20 de dezembro de
1963, que entrou em vigor a partir de 1º de Janeiro de 1964, antes integrava o território de
Taquaritinga do Norte e após o desligamento da cidade de Vertentes, ficou pertencendo a esta
última (IBGE, 2010).
O povoado nasceu de uma fazenda de Tomé de Moura que vindo do município de
Bezerros a procura de alguns animais que havia desaparecido de sua fazenda encontrou o
gado perto de uma fonte natural de água. Devido aos grandes períodos de estiagem que
atingem a região do agreste pernambucano e conseqüentemente proporciona a escassez de
água potável para o consumo humano e dos animais, o descobridor passou a residir às
margens da fonte. Nesta fonte vários animais bebiam água dentre estes, havia uma grande
quantidade de onças, assim, surgiu à denominação de Olho D'água da Onça, primeiro nome
do município, contudo, atualmente o município denomina-se Frei Miguelinho, em
homenagem ao religioso Frei Miguel, conhecido como Frei Miguelinho que, em sua saída e
fuga da revolução pernambucana de 1817, passou alguns anos na localidade (MOURA, 1982).
Segundo o IBGE (2010) o município de Frei Miguelinho possui aproximadamente
14.855 habitantes, em uma área de 213 km², ficando a uma distância de aproximadamente 146
km da capital do estado, Recife. Esta localizado na Mesorregião do Agreste pernambucano,
na micro-região do Alto do Capibaribe. Administrativamente o município esta formado pela
sede Frei Miguelinho, por povoado, sítios e fazendas. Os principais povoados são: Algodão
do Manso, Capivara, Chã do Carmo, Chã Grande, Lagoa de João Carlos, Patos, Placa e
Valdemar Lima.
Pode-se observar nos argumentos acima relatados que o município de Frei
Miguelinho dispõe de uma riquíssima história cultural no que tange a identidade do seu povo.
Através da preservação da história e da cultura da cidade de Frei Miguelinho podese resgatar relatos, documentos, fotos, entre outros, existentes no livro sobre a história de Frei
Miguelinho e em documentos encontrados nas antigas capelas da cidade. O livro escrito no
século passado é fruto de um trabalho investigativo profundo, onde se levantou informações
dos mais diversos suportes existentes na própria cidade e nas cidades vizinhas. Estas
informações foram frutos de relatos das pessoas mais antigas da cidade como também da
disponibilização de imagens e antigos escritos que a população possuía. A partir destes
argumentos pode-se perceber a importância deste livro como o meio mais completo, de
preservação da memória histórico-cultural da cidade. Tendo em vista que muitos dos relatos,
das fotos, e de informações de outros documentos mais antigos disponibilizados no livro não
existem mais.
Atualmente existem poucos exemplares deste livro em estado de conservação
crítico, com folhas amareladas, fungos e folhas soltas.
No resgate das fotos antigas que relatam à história da cidade, observou-se que as
imagens que melhor representam os momentos importantes da história e da cultura do
município, estão principalmente nas capelas dos povoados e com as pessoas mais antigas da
cidade, na maioria dos casos, têm-se relatos das pessoas argumentando que tinham fotos com
tal perfil, que estas imagens se perderam com o passar dos tempos, as que ainda existem e que
foram cedidas, infelizmente boa parte estão rasgadas, furadas, com a visibilidade danificadas,
enfim, estão em péssimo estado de conservação.
Perder este acervo significa a perda da verdadeira história e identidade da
formação da sociedade freimiguelinense.
3. O PROJETO
O projeto é fruto de um trabalho de pesquisa e aquisição de um exemplar do livro
que relata a história do município de Frei Miguelinho. Livro este escrito pelo senhor Severino
Rodrigues de Moura em 1982, na época, vendido distribuído nas editoras pernambucanas,
mas que foram extraviados restando atualmente pouquíssimos exemplares, como também de
imagens (fotografias) de épocas passadas que retratam os fenômenos e eventos da formação
histórico-cultural da sociedade freimiguelinense.
Nesse contexto o objetivo geral do projeto era resgatar e preservar o acervo
histórico-cultural da criação e formação do município de Frei Miguelinho, a história e a
identidade do seu povo. Para isso o objetivo foi distribuído em objetivos específicos;
digitalizar o livro sobre a história do município de Frei Miguelinho; Digitalizar imagens que
relatem a formação histórico-cultural da sociedade freimiguelinense; tratar o acervo digital e
inserir o acervo em uma base para fins de disponibilização a comunidade.
4. PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS
No 1º momento ouve a seleção e escolha das imagens mais antigas e que
representam com maior ênfase os eventos que formaram a história do município. Nesta
seleção constatou-se o crítico estado de conservação dos registros, aqueles que ainda existem,
pois a maioria destes foram extraviados, estão rasgados, furados, com fungos e com a imagem
apagada. Após a aquisição dos registros eles foram digitalizados em scanner de ultima
geração, no LIBER – Laboratório de Tecnologia da Informação, mantido pelo Departamento
de Ciência da Informação da UFPE. O fluxo das etapas ocorreu de acordo com a figura 1.
Figura 1 - Etapas do projeto
O livro é formado por 190 páginas, dentre estas existe 20 imagens em preto e
branco. O livro e as imagens em preto e branco foram digitalizados em formato TIFF, em 300
DPIs, para fins de preservação e em escala de cinza já as imagens coloridas em formato
colorido.
No processo de digitalização pôde-se constatar as falhas existentes no material,
originadas pelas rasuras, pelos fungos enfim pelos agentes de degradação agregados ao longo
dos tempos, contudo o tratamento das imagens no programa Photoshop possibilitou a
otimização da qualidade das fotografias, por meio da otimização da nitidez, do contraste, do
brilho, da cor etc.
No estágio final as fotografias foram convertidas para o formato JPEG, com
baixa resolução, possibilitando assim, a indexação destas na base de dados especializada
“Miguelinho”.
Vale ressaltar que as imagens foram salvas também no formato TIFF com 300
DPIs sem compressão, com alta resolução no intuito de preserva uma cópia exata da imagem,
possibilitando assim, o resgate da imagem, no caso de extravio de alguma no suporte de
papel.
No que diz respeito ao processo de digitalização do livro as páginas sem a
presença de fotografias foram digitalizadas por meio do programa ABBYY FINEREADER e
salvo no formato do Word 2007 com as margens da página em A5 para edição de livros.
Posteriormente foi realizada a correção dos caracteres não lidos pelo OCR, a inserção das
imagens que pertencem ao seu conteúdo no suporte físico, a conversão para a extensão PDF,
por atender aos critérios e padrões internacionais e finalmente sendo indexado na base de
dados especializada “Miguelinho”.
O trabalho de indexação dos arquivos na base de dados “Miguelinho” se deu
por meio da escolha dos campos dos descritores, a inserção dos melhores metadados para a
descrição do documento e finalmente o armazenamento do documento na base de dados.
5. CONCLUSÃO
A partir deste trabalho, o livro que conta a história das origens do município de
Frei Miguelinho atualmente pode ser encontrado na extensão do programa ABBYY
FINEREADER para fins de novos tratamentos e talvez de novas edições; no formato de PDF,
para fins de disponibilização via Web; e na base de dados “Miguelinho”, em formato digital,
com a possibilidade de recuperação do arquivo por meio do cadastro na base.
Por meio do referido trabalho hoje se tem 124 imagens, consideradas relíquias,
que relatam a formação da história da sociedade freimiguelinense em formato digital, em duas
extensões: em TIFF para meio de preservação para no caso de extravio do formato em papel
haver a possibilidade do resgate de uma cópia fiel e em formato JPEG formato este com baixa
resolução, mas, com perda não perceptível a visão humana ideal para a indexação via Web.
Ambos os arquivos indexados em uma base de dados disponibilizada pela UFPE
através do portal eletrônico no link <http:// http://www.liber.ufpe.br/bdedata/>, administrada
pelo sistema “CLIO”, antes de se chegar a este processo foram informados os campos que
deveriam existir na base de dados para a indexação de descritores que posteriormente
proporcionem a recuperação de tais arquivos .
Tal acervo se apresenta atualmente como uma grande fonte de informação
servindo como meio para suprir as necessidades informacionais de indivíduos interessados
pelo tema “Frei Miguelinho”. Portanto, podendo proporcionar e estimular o surgimento de
novas pesquisas na área, já que há pouquíssima literatura sobre a origem da sociedade
freimiguelinense.
PRESERVATION OF MEMORY: recovering traces the historical and
cultural city of Frei Miguelinho - PE
ABSTRACT
Each society is endowed with cultural factors that are transmitted over the historical
process. This development is given from generation to generation through their
artifacts mythical, religious and ethical guiding their way of thinking and acting.
Given that the evolutionary process of a people is through the knowledge of its
history, the article describes the project to rescue and digitization of texts and
historical photos from the municipality of Frei Miguelinho held in the second half of
2010, for through the discipline of Document Management course taught in
information management, UFPE. Through literature review, brings the preservation
of memory as a justification for carrying out the rescue efforts in the historical and
cultural artifacts of the city. Describes the methodological procedures applied in the
treatment process of the documents obtained, and the steps used in the digitization of
documentary information. The project was completed with the availability of online
material in a specialized database under the rule of UFPE, thus enabling the
preservation and availability of the acquis.
Keywords: Scan. Cultural Heritage. Frei Miguelinho. Pernambuco.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatísticas. Cidades, Contagem Populacional. Disponível em: <
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1> Acesso em: 03 mai 2010.
DICIONÁRIO DE TERMINOLOGIA ARQUIVÍSTICA. São Paulo: Associação dos
Arquivistas Brasileiros – Núcleo Regional de São Paulo: Secretaria de Estado da
Cultura,1996.
ICOMOS (Org.). Carta de Burra (1980). Disponível em:
<http://embarecr.com/cartas%20patrimoniais/documentos/CARTA%20DE%20BURRA.pdf>.
Acesso em: 27 dez. 2010.
LOWENTHAL, David. The past is a foreign country. Cambridge: University Press, 1989.
MENDES, Amélia; SANTOS, Charlene; SANTIAGO, Pietro. Preservação do acervo
histórico da oficina guaianases de gravura. In: ENCONTRO NACIONAL DOS
ESTUDANTES DE BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO, GESTÃO DA
INFORMAÇÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 33., 2010, João Pessoa - PB. Anais 33º
ENEBD. João Pessoa - PB: UFPB, 2010. p. 1 - 10. Disponível em:
<http://dci.ccsa.ufpb.br/enebd/index.php/enebd/article/view/44>. Acesso em: 22 dez. 2010.
MONTEIRO, S. D.; CARELLI, A. E.; PICKLER. A Ciência da Informação, Memória e
Esquecimento. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação - v.9 n.6, dez 08.
Disponível em:<http://www.datagramazero.org.br/dez08/Art_02.htm>. Acesso em: 02 mai.
2009.
MOURA, Severíno Rodrigues de. História de Frei Miguelinho. Recife: Editora De
Pernambuco, 1982. 190 p.
REISEWITZ, Lúcia. Direito ambiental e patrimônio cultural: direito à preservação
SANTOS, G. C. A. Siglas e termos técnicos: arquivística, biblioteconomia, documentação,
informática. Campinas, SP: Editora, Ática, 2003. 277p.
Download

PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA: resgatando vestígios