Educação Linguística
na Globalização Cultural
(AULA 10) – 27/05/09
Disciplina:
O ensino de línguas na contemporaneidade
Docente: Profa. Dra. Maria Helena Vieira-Abrahão
Discentes: Carlos Alberto Gonçalves Pavan
Luciano Alan Oger
Trajetória do Seminário
1) KUMARAVADIVELU (2006) – Cap. 5
2) KUMARAVADIVELU (2008)
Prefácio
Cap. 1
Cap. 2 e 3
Culture and Its Complexities
1) Anthropologist ‘Mary Catherine
Bateson’, (2000)
2) Conservative Columnist ‘ Patrick
Buchanan’, (1992)
3) Political Scientist ‘Samuel Huntington’
(1993)
3
vozes = um fator, “CULTURA”.
“Cultura” essa que possui um poder
extraordinário de semear as sementes da
dissensão entre membros de uma família,
entre as comunidades de uma nação, entre
as nações do mundo. O que é exatamente
essa entidade chamada de ‘cultura’, que
parece ter se tornado uma força dominante,
que ao mesmo tempo une e divide
indivíduos, comunidades e nações?
The idea of Culture
 Raymond
Williams (1976) = Cultura é uma
das duas ou três palavras mais
complicadas da língua inglesa. “Nada é
mais indeterminado do que essa palavra, e
nada é mais enganoso”.
É um dos
conceitos mais estudados da história
humana, ainda sem consenso sobre sua
definição.
 Filósofo alemão Johann Herder = KULTUR
 Antropólogo
americano, Clifford Geertz,
diz que cultura denota um padrão histórico
transmitido de significados/ símbolos, um
sistema de concepções em formas
simbólicas herdadas, das quais as pessoas
se
comunicam,
desenvolvem
seu
conhecimento de vida, atitudes etc. (1979,
p.89)
What is culture?
Arte, arquitetura, teatro, dança, música, literatura?
CULTURA
Costumes, crenças,
valores, princípios morais?
Mitos, valores, teorias científicas,
normas sociais, romances?

Hall enfatiza que o importante não é o que
a cultura é, mas sim o que a cultura faz!

Geertz (1973/2000), ‘cultura representa um
papel
dominante
e
global
no
desenvolvimento de um indivíduo.’
 Cultura
 Em
= civilização (problemática?)
outras palavras, como nenhuma cultura
pode existir na sua forma mais pura, toda
cultura, quer queira quer não, é uma
cultura híbrida.
►
Michel de Certeau (1997), antecipou o
impacto da globalização cultural e
econômica, quando afirmou que “para
a homogeneização das estruturas
econômicas
deverá
haver
uma
diversificação
correspondente
às
expressões culturais e instituições.
Quanto mais unificada é uma
economia, mais variada será a
cultura.”(p.68)
Comunidade
católica,
evangélica etc.
Interações
complexas
entre
indivíduos
Comunidade
negra, branca,
hispânica, etc.
Cultura
X
Comunidade
Gemeinschaft
Comunidade
Noção geral de
coletividade
institucionalizada
Senso de
identidade
individualizada
Gesellschaft
Sociedade
►
Uma análise abrangente da relação dialética entre o indivíduo
e a sociedade, pelo teórico francês Bordieu (1977, 1991,
2000), para ele, indivíduos adquirem um conjunto de ‘habitus’
através de um envolvimento intensivo e extensivo, na prática
diária, que condiciona suas ações, suas palavras e suas
atitudes. É um produto de forças sociais e criação de ações
individuais.
►
É por meio dessa ação diária, auxiliada sem dúvida pelas
condições hierárquicas, que os indivíduos acumulam o que
Bordieu chama de bagagem cultural. (...) Bagagem essa que
permite aos indivíduos explorarem e estabelecerem estratégias
e práticas culturais alternativas que contribuam não somente
para o seu crescimento cultural, mas também para mudança
cultural de suas respectivas comunidades.
Sociólogos dividiram o mundo em duas dimensões,
‘coletivismo’ e ‘individualismo’.
Ocidente = campo
do individualismo
Indivíduo pode
viver separado da
sociedade, etc.
Oriente = campo
do coletivismo
O indivíduo é
membro de
um grupo,
parte do
coletivo
Os trabalhos de Fanon, Memmi e Said, entre outros pensadores póscoloniais, revelam claramente que a imagem cultural dos outros povos,
que muitos de nós temos construídas em nossas mentes, pode ser não
mais do que pobres representações da realidade.
Língua e Cultura
A conexão entre língua e cultura tem sido tema de especulação intelectual. Uma
articulação teórica bem conhecida e muito debatida dessa conexão é a hipótese de
Sapir-Whorf, que diz que ‘língua(gem) determina o pensamento’, ou seja, a
maneira que pensamos e nos comportamos é condicionada e restringida pela
língua que usamos (grifo nosso).
Princípio da relatividade lingüística= usuários de várias gramáticas tem
diferentes observações, estimativas e visões de mundo, etc.
Falam diferente, pois
pensam diferente?
Língua(gem) determina
o pensamento?
Língua(gem) influencia
O pensamento?
Pinker (1995)- não existe evidência científica que a língua(gem)
determina o modo de pensar dos falantes. “...just because words are
more palpable than thoughts”.
“O modo como a língua(gem) divide o mundo, irá influenciar como inicialmente pensamos
sobre algo, mas não irá determinar como terminamos de pensar sobre este algo.”
Lingüista aplicado,
(Gee, 1993, p.11)
►
A discussão entre língua(gem) e cultura está está conectada,
mas não inextricavelmente, pois sem a hipótese de Whorf, não
seríamos capazes de traduzir de uma língua para outra, nem
engajar-nos em comunicações inter-culturais.
►
(...) é uma nova língua que vagamente lembra o inglês, mas
tem características próprias que a distinguem fonológica,
morfológica e sintaticamente. Venho chamando-a de “World
English” – o “inglês do mundo”. Essa língua não tem dono,
não pertence nem aos ingleses, escoceses, estadunidenses
etc. Ela pertence a todos aqueles milhões de pessoas que dela
fazem uso diário no mundo inteiro. (...) Ela é um exemplo de
mestiçagem lingüística que marca os nossos dias pósmodernos. É evidente que no ensino de inglês – uma atividade
que envolve bilhões de dólares no mundo inteiro – vai ter que
se ajustar à nova língua. É também o nosso grande desafio
pela frente. (cf. Rajagopalan, no prelo).
Educação Lingüística e Cultura
Louis Kelly (1969)- a orientação cultural no ensino de línguas, nunca foi
considerada parte do currículo do ensino de línguas. A compreensão cultural
assumiu ser um subproduto da aprendizagem de línguas. Com o pós-guerra, o
advento do comércio internacional e a migração extensiva da década 1990, os
educadores reconheceram a necessidade e importância do ensino da cultura.
Lafayette (2003) lista 5 objetivos (5 C’s), referente ao ensino de língua
estrangeira: Comunicação, Culturas, Conexões, Comparações, Comunidades.
Nível 2.1: Estudantes demonstram uma compreensão da relação entre as
práticas e as perspectivas da cultura estudada.
Nível 2.2: Estudantes demonstram uma compreensão da relação entre os
produtos e as perspectivas da cultura estudada.
Nível 3.2: Estudantes adquirem informação e reconhecem os pontos de vista
característicos que só estão disponíveis através da língua estrangeira e suas
culturas.
Nível 4.2: Estudantes demonstram compreensão do conceito de cultura através
de comparações das culturas estudadas e da sua própria cultura.
“ Estudantes americanos necessitam desenvolver uma consciência sobre a
visão de mundo das outras pessoas, do seu modo de vida particular, dos seus
costumes, seus comportamentos...
... como estas pessoas organizam seu próprio mundo, também como aprender
sobre suas contribuições para o mundo, como um todo, e as soluções que elas
oferecem para os problemas comuns da humanidade. (...)
... Tal consciência ajudará a combater o etnocentrismo que frequentemente
domina o pensamento das pessoas jovens.” A força motriz por trás da razão,
também como o documento inteiro, preocupam-se como vivemos num mundo
culturalmente complexo, e uma verdadeira compreensão das outras culturas do
que a nossa própria é um ingrediente básico no desenvolvimento dos cidadãos
do século XXI.
(Standards for Foreign Language Learning: Preparing for the 21st Century)
Concluindo,
para recomeçar...
Diversos
questionamentos, incertezas, provocações são e serão
levantados, sobre o ensino da cultura na área de educação da língua
estrangeira, através da LA. Enquanto as culturas têm características
distintas, elas estão interligadas tão fortemente, que podem ser
consideradas como uma só cultura híbrida. E isso também está
intimamente ligado com a língua(gem).
A
tarefa enfrentada pelos educadores de línguas é ainda mais
formidável, uma vez que as forças da globalização estão moldando o
fluxo global do interesse pelo conhecimento e bagagem cultural. Assim,
a globalização cultural é um enorme elefante que foi introduzido
furtivamente na arena da educação lingüística. Recentemente, tem forte
impacto nas comunidades em geral, e nas comunidades virtuais também,
através da Internet. A profissão de ensino de línguas não pode ignorar
este processo emergente da globalização cultural.
Globalização Cultural e seus processos
Business Process Outsourcing (BPO) = Terceirização empresarial, industrial
etc. Ex:CALL Centers em países como Índia, China, Irlanda, Filipinas e Rússia, de
empresas como: Bancos, Companhias Aéreas, Empresas de suporte técnico
(software, Web sites), Telefônicas, Exportadoras, Seguradoras etc.
A motivação primária para a terceirização é a mão de obra barata.
Empresas americanas negam este fato, e citam algumas vantagens,
como a inovação rápida e o crescimento econômico das empresas.
Intel / Hewlett-Packard
6.000+6.400 demissões
General Electric (GE)
11.000 demissões em 2009.
ORACLE (Sun)
14.000 futuras demissões
Enquanto a terceirização certamente impulsionou a economia dos países emergentes, ela
aparentemente causou demissões, prejudicando trabalhadores comuns, mesmo que
temporariamente. Logo, trabalhadores mostraram-se contra a terceirização.
“...vários trabalhadores de call centers na Índia, entre 19 e 21 anos, sofrem sérios problemas
de saúde, psicológicos e sociais. Pois a maioria trabalha de madrugada, alimentam-se mal,
tem insônia, stress, cansaço etc; dupla personalidade, por falarem inglês com falso sotaque,
durante 8 horas por dia, perdem sua vida social por não passarem mais tempo com a família.”
O CONCEITO DE GLOBALIZAÇÃO
ECONOMIA
EDUCAÇÃO
SOCIOLOGIA
ANTROPOLOGIA
ESTUDOS
CULTURAIS
CIÊNCIAS
POLÍTICAS
SOCIAIS
HISTÓRIA
“...globalização refere-se a uma força dominante e motriz que modela as novas formas de
interconexões e inter-relações entre as nações, as economias, e os povos. Ela resulta da
transformação contemporânea da vida social em todas as suas dimensões econômicas,
políticas, tecnológicas, ecológicas e individuais.” (Kumaravadivelu, 2008, p.32)

GLOBALIZAÇÃO = um conjunto multidimensional de
processos sociais que criam, multiplicam, estendem e
intensificam as relações de interdependência e troca
mundiais, e ao mesmo tempo promove nas pessoas e povos
a consciência do aumento das conexões/ relações entre o
local e o global. (Steger, 2003, p.13)
É necessário entender antes o desenvolvimento histórico do conceito
de globalização.

Cientista
político, Manfred Steger,
introduction”.
Historiador,
“Globalization: A very short
Robbie Robertson, “The Three Waves of Globalization: A
History of a Developing Global Consciousness”.
STEGER (2003)
ROBERTSON (2003)
5 períodos históricos diferentes
(em aprox. 12.000 anos)
TRÊS ONDAS DA GLOBALIZAÇÃO
(em aprox. 500 anos)
1.Pré-histórico (10.000-3500 a.C.), 2.Prémoderno (3500 a.C – 1500 d.C.), 3.’Quase
Moderno’ (1500-1750 d.C.), 4.Moderno (17501970 d.C.) 5.Contemporâneo (1970) até hoje.
1.Espanha e Portugal exploram comércio
regional. 2.Industrialização da Inglaterra
3. Pós-Guerra liderado pelo E.U.A.
“...marcou um salto quântico na história
da globalização, com a dramática criação,
expansão e aceleração das trocas e
interdependências mundiais.”
“...após 1945, uma nova era de
cooperação/disputa internacional. E.U.A
versus U.R.S.S., dividem o mundo em 2
partes, capitalismo e comunismo.
Mundo pós-guerra liderado
pelos Estados Unidos
O desenvolvimento / modernização
(imperialismo dos EUA),
“Ocidentalização”
Criação do FMI (Fundo Monetário Internacional), Banco Mundial
(World Bank), OMC (Organização Mundial do Comércio). Criados para
incentivar o livre comércio americano, promover o estilo de vida
americano, acelerando o colapso das U.R.S.S. em 1980s.
Fase

atual da Globalização
United Nations Report (1999), “a globalização está mudando o cenário
mundial em três diferentes correntes.” 1.Encolhendo espaços (vida
pessoal), 2.Encurtando o tempo (mundo veloz), 3.Fronteiras
desapareceram.
Destaque para a força da comunicação eletrônica global (Internet),
com a revolução da comunicação em 1990 (Netscape).

Transferências de capitais pela WEB, saltaram de US$ 400 bilhões em
2000, para US$6 trilhões em 2003.

Empresas (IBM, Siemens, GMC) são mais poderosas economicamente
que muitos países.


Mundo está ficando sem fronteiras, políticas e econômicas.
Globalização Cultural
Reflete e refrata como o contato entre as pessoas e suas culturas, suas
idéias, seus valores e suas crenças, seu modo de viver, que estão se
dirigindo para caminhos nunca vistos antes. (grifo nosso)
Domínio da
Cultura local e religião estão
Tensão caótica entre local
homogeneização cultural sendo reforçadas, através da
e global = Glocalização
pelo consumismo
Heterogeneização cultural.
Appadurai, Robertson e
da cultura americana.
Giddens, Huntington e
Roland Robertson.
Barber, Fukuyama, Ritzer.
Tomlinson
“...em relação as três linhas de pensamento acima, o autor não sugere que todas as escolas e
linhas de pensamento cairão nitidamente numa dessas três categorias. De fato, todas estão
interligadas entre si, coincidindo também a consistência do seu discurso dialético. O autor
também não impõe que as escolas e linhas de pensamento que ele associa detém visões
idênticas sem nenhuma diferença de opinião entre elas. O objetivo do autor é facilitar a rápida
compreensão do processo contínuo de globalização cultura.”
Homogeneização
Cultural
W
W
Westernization
W
W
W
Ocidentalização
W
W
McDONALDIZATION
31 mil restaurantes, em 118 países, US$ 45 bilhões /ano
Hyper-globalizadores
Destaque para as idéias sobre o individualismo e consumismo
americano que circulam mais deliberadamente e são largamente mais
aceitos, como evidenciam as pessoas mais jovens de vários países, que
vestem roupas jeans Levi’s, tênis Nike, blusas do Chicago Bulls etc.
 Indústria do ENTRETENIMENTO, exporta mais do que todos outros
segmentos.
 Capacidade do americano de disseminar seus valores culturais.
 Hollywood exporta mais do que entretenimento; ela exporta valores
culturais concebidos e construídos pelos trabalhadores da cultura
americana. (85% do faturamento do cinema mundial)
 Luta incessante para preservar e proteger a diversidade da expressão
cultural (UNESCO, 2005), colocando medidas para proteger os países da
cultura de massa dos norte-americanos.
 (...) sobre as forças do globalismo e as forças do tribalismo, ambas
enfraquecem os valores democráticos e a liberdade civil.

Heterogeneização
Cultural (Localizers)
Rejeição da cultura norte-americana e seu domínio sobre o resto.
 Giddens (2000), a globalização está cada vez mais descentralizada.
Sugere a colonização reversa, ex: Latinização de Los Angeles, venda de
programas de TV brasileiros para Portugal, etc.
 Rápida expansão do canal de TV árabe AL-JAZEERA, através de
satélites internacionais e do idioma inglês.
 Bollywood (Índia), produz 1000 filmes por ano, contra 740 de
Hollywood, que passa a fazer investimentos em estúdios indianos.
 Descartam a idéia que uma cultural global simples e unificada está
emergindo.
 Não resolveram a questão da força cultural contemporânea do
Ocidente. Após todas as críticas a cultura ocidental, suas instituições se
mantém firmes, desenvolvendo a sua cultura global – uma questão feita
pelos que propõe a glocalização cultural.

GLOCALIZAÇÃO
CULTURAL
Robertson (1992) – “global localization”, usada frequentemente pela
comunidade empresarial japonesa, através do slogan:
“...think globally, act locally.”

As duas forças são, de fato, dois lados do mesmo processo, no qual o
global é trazido conjuntamente com o local, e o local é modificado para
acomodar o global.
Ex: McDonald’s, vendendo comida ‘Kosher’ em Israel, conforme as leis da religião judaica.
Na busca pela identidade global e local, espera a futura manifestação de
sinais dinâmicos da vida num grande concerto do planeta globalizado.
Instiga os educadores a perseguirem todas as pedagogias possíveis que
irão preparar nossas crianças, para enfrentarem o mundo globalizado.
Nessa busca, os educadores de línguas tem um papel especial a
desempenhar.
Globalização Cultural e Educação Lingüística
“Professores de línguas têm o desafio e oportunidades para ajudar os aprendizes
na construção da sua própria identidade e subjetividade. Weeden (1987) aponta
que a língua é o lugar atual onde formas possíveis de organização social e
provavelmente suas conseqüências políticas e sociais são definidas e contestadas.
Também onde nosso senso e nossa subjetividade são construídas.”
Nos dias de globalização cultural, a identidade do indivíduo pode ser
construída e reconstruída somente com uma boa fundamentação do
conhecimento cultural global (...) Porém, há poucos programas de
educação de L2, que buscam desenvolver a consciência cultural global
no aprendiz.
“...Se formos sérios em preparar nossos aprendizes de línguas para enfrentar as disputas do
século XXI, nós precisamos promover neles a consciência cultural global. Nós precisamos
rever nossa prática do passado e presente, do ensino da cultura, afim de revisar nossa ação
futura.”
..............fim
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AULA 10 - LUCIANO & PAVAN