Artigo Original: Fitness
ISSN 1519-9088
Efeito de um programa de treinamento
físico desenvolvido no Espaço Bem Estar do
CENPES/PETROBRAS na pressão arterial em
hipertensos não-medicados
Roberto Simão1
[email protected]
1
Escola de Educação Física e Desportos – Universidade Federal do Rio de Janeiro
(EEFD/UFRJ)
Rhodes Serra1
[email protected]
2
SMS/CENPES/PETROBRAS
1
Marcos A. Albuquerque
[email protected]
Paulo Rebelo2
[email protected]
Alexandre M. Mello1
[email protected]
Simão R, Serra R, Albuquerque MA, Rebelo P, Mello AM. Efeito de um programa de treinamento físico desenvolvido no Espaço Bem
Estar do CENPES/PETROBRAS na pressão arterial em hipertensos não-medicados. Fit Perf J. 2007;6(4):213-7.
RESUMO: A modificação no estilo de vida tem sido recomendada para a prevenção, tratamento e controle da pressão arterial
(PA). O objetivo do presente experimento foi verificar o comportamento da PA após 4 meses de treinamento no Espaço Bem Estar
(EBE) CENPES/PETROBRAS, em indivíduos hipertensos não-medicados. Concluíram o experimento 57 indivíduos, sedentários há
pelo menos um ano, divididos em 2 grupos: grupo treinamento (GT) e grupo controle (GC). Todos os sujeitos passaram por uma
avaliação física e o GT realizou 3 sessões semanais em dias alternados, totalizando 48 sessões com duração média de 60 minutos.
Inicialmente, era realizado o treinamento aeróbico, que consistia de 25 minutos entre 50 e 70% da freqüência cardíaca de reserva.
O treinamento de força foi realizado em 2 séries, variando entre 8 e 12 repetições. O treinamento da flexibilidade foi realizado pelo
método de alongamento estático. A PA foi aferida em repouso, por meio auscultatório pré e pós-treinamento, e os dados foram
tratados pela ANOVA two-way com a utilização do post hoc de Scheffé, quando necessário (p<0,05), para comparação intra e
intergrupos. O resultado intragrupo para GT demonstrou uma redução de 11,4% na PA sistólica (PAS) (p<0,05) e de 5,3% na PA
diastólica (p>0,05). O GC não apresentou modificações na PA (p>0,05). Ao compararmos GC e GT, houve diferença significativa
na PAS em situação de pós-treinamento, não ocorrendo o mesmo nas outras medidas. Em conclusão, o programa EBE realizado
durante 4 meses promoveu redução da PA após um programa de exercícios em hipertensos não-medicados.
Palavras-chave: hipertensão, pressão arterial, treinamento de força, exercícios resistidos, hipotensão.
Endereço para correspondência:
Universidade Federal do Rio de Janeiro - Escola de Educação Física e Desportos - Departamento de Ginástica - Av. Carlos Chagas Filho, 540 - Ilha do Fundão - 21941-590 Rio de Janeiro - RJ
Data de Recebimento: Abril / 2007
Data de Aprovação: Maio / 2007
Copyright© 2007 por Colégio Brasileiro de Atividade Física Saúde e Esporte.
Fit Perf J
Rio de Janeiro
6
4
213-217
jul/ago 2007
213
ABSTRACT
RESUMEN
Effect of a physical training program developed in the Espaço Bem
Estar of CENPES/PETROBRAS/PETROBRÁS in the blood pressure in
no-medicated hypertense
Efecto de un programa de entrenamiento físico desarrollado en el
espacio bien estar del CENPES/ PETROBRAS, en la PRESIÓN ARTERIAL
en hipertensos no-medicados
The lifestyle modification has been recommended for the prevention, treatment
and control of the blood pressure (BP). The objective of the present experiment
was to verify the behavior of the BP after four months of training in the Espaço
Bem Estar (EBE) of CENPES/PETROBRÁS, in no-medicated hypertense individuals.
Concluded the experiment 57 individuals, sedentary for at least one year, divided
in 2 groups: training group (TG) and control group (GC). All the subjects passed
by a physical evaluation and TG accomplished 3 weekly sessions in alternate days,
totaling 48 sessions with medium duration of 60 minutes. Initially, the aerobic
training was accomplished, that consisted of 25 minutes among 50 and 70% of
reservation’s heart frequency. The strength training was accomplished in 2 series,
varying between 8 and 12 repetitions. The flexibility training was accomplished by
the method of static prolongation. The BP was checked in rest, by auscultatory way
before and post training, and the data were treated by the ANOVA two-way with
the use of the Scheffé post hoc when necessary (p<0,05), for intra and intergroups
comparison. The intragroup result for TG demonstrated a reduction of 11,4%
in the systolic BP (SBP) (p<0,05) and of 5,3% in the diastolic BP (p>0,05). CG
didn’t present modifications in the BP (p>0,05). When compared CG and TG,
there was significant difference in the SBP in post-training situation, not happening the same in other measures. In conclusion, the program EBE accomplished
for four months promoted reduction of the BP after a program of exercises in
no-medicated hipertenses.
La modificación en el estilo de vida está siendo recomendada para la prevención,
tratamiento y control de la presión arterial (PA). El objetivo del presente experimento fue a verificar el comportamiento de PA tras 4 meses de entrenamiento
en el Espacio Bien Estar (EBE) CENPES/PETROBRAS, en individuos hipertensos
no-medicados. Concluyeron el experimento 57 individuos, sedentarios hay al
menos un año, divididos en 2 grupos: grupo entrenamiento (GT) y grupo control (GC). Todos los sujetos pasaron por una evaluación física y el GT realizó
3 sesiones semanales en días alternos, totalizando 48 sesiones con duración
media de 60 minutos. Inicialmente, era realizado el entrenamiento aeróbico, que
consistía de 25 minutos entre 50 y 70% de la frecuencia cardiaca de reserva.
El entrenamiento de fuerza fue realizado en 2 series, variando entre 8 y 12
repeticiones. El entrenamiento de la flexibilidad fue realizado por el método de
estiramiento estático. La PA fue contrastada en reposo, por medio auscultatorio
pre y tras-entrenamiento, y los datos habían sido tratados por la ANOVA twoway con la utilización del post hoc de Scheffé cuando necesario (p<0,05), para
comparación intra e intergrupos. El resultado intragrupo para GT demostró una
reducción de 11,4% en PA sistólica (PAS) (p<0,05) y de 5,3% en PA diastólica
(p>0,05). El GC no presentó modificaciones en PA (p>0,05). Al comparemos GC
y GT, hubo diferencia significativa en la PAS en situación de tras-entrenamiento,
no ocurriendo lo mismo en las otras medidas. En conclusión, el programa EBE
realizado durante 4 meses promovió reducción de PA tras un programa de
ejercicios en hipertensos no-medicados.
Keywords: hypertension, blood pressure, strength training, resisted exercises,
hypotension.
Palabras clave: hipertensión, presión arterial, entrenamiento de fuerza, ejercicios resistidos, hipotensión.
INTRODUÇÃO
O processo de industrialização e urbanização verificado nos
últimos 50 anos fez com que a modernidade também exibisse
a sua face sombria. Atualmente, a população moderna tem
adotado um estilo de vida basicamente caracterizado por falta
de atividade física, má alimentação, sedentarismo e estresse. A
inatividade física está diretamente associada à ocorrência de
uma série de distúrbios orgânicos, o que comumente têm-se
denominado doenças hipocinéticas1,2. Essas doenças são enfermidades apresentadas por homens e mulheres contemporâneos,
que podem se agravar muito devido ao estilo de vida sedentário,
caracterizado pelo mínimo esforço físico nas atividades diárias.
As principais doenças que podemos destacar, são: obesidade,
hipertensão, diabetes, dislipidemia, osteoporose e doenças
cardiovasculares2,3.
A hipertensão arterial é classificada como a principal doença
cardiovascular nas nações industrializadas. Sua exposição crônica
está associada à lesão de órgãos-alvo, sendo considerada um
dos principais fatores de risco para doença arterial coronariana,
acidente vascular encefálico, insuficiência cardíaca, doença
arterial periférica e insuficiência renal crônica1,4. No Brasil, em
1998, a prevalência de hipertensão arterial na população de
adultos encontrava-se entre 15 e 20%4.
A modificação no estilo de vida tem sido recomendada para
a prevenção, tratamento e controle da pressão arterial (PA),
214
sendo o exercício físico um componente essencial na abordagem não-farmacológica5-7. Estudos mostram que apenas uma
única sessão de exercício físico provoca redução da PA em
relação aos valores pré-exercício5,8,9. Além disso, parece que a
resposta crônica da hipotensão pós-exercício (HPE), resultante
da exposição freqüente e regular a sessões de exercício, tem
demonstrado ser mais duradoura e com maior magnitude do
que uma sessão isolada de exercício4,7,10. Portanto, para que
o efeito da HPE tenha importância clínica, é interessante que a
mesma permaneça abaixo dos valores normais pelo maior tempo
possível subseqüente ao esforço. Segundo Martins et al.6, estudos
relataram redução da PA em pacientes hipertensos por períodos
de 12,7 horas, 16 horas e 22 horas no pós-exercício. Contudo,
ainda são relativamente escassos os estudos que investigaram
de forma longitudinal a HPE após um programa de exercícios
em hipertensos não-medicados.
O programa Espaço e Bem Estar (EBE) de atividades físicas,
desenvolvido no CENPES/PETROBRAS, é composto por programas de exercícios que contêm atividades de características
aeróbica, de força e de flexibilidade, organizadas metodologicamente no mesmo padrão de treinamento, tendo como
principal amostra indivíduos hipertensos. Assim, o objetivo
do presente estudo foi verificar o comportamento da PA após
4 meses de treinamento no EBE em indivíduos hipertensos nãomedicados.
Fit Perf J, Rio de Janeiro, 6, 4, 214, jul/ago 2007
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi utilizada balança antropométrica calibrada e adipômetro
igualmente aferido.
Amostra
Protocolo de Treinamento
A amostra inicial foi composta por 82 homens, sem quaisquer
limitações funcionais para a realização dos exercícios propostos
na metodologia de treinamento físico do EBE (centro de atividade física direcionada à promoção de saúde), que funciona
em conjunto com a Escola de Educação Física da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. O estudo teve a duração de 4 meses, ocorrendo nesse período a desistência de 25 participantes.
Assim, efetivamente, concluíram o experimento 57 indivíduos
sedentários há pelo menos um ano. Os sujeitos foram divididos
em dois grupos, sendo o grupo controle (GC) composto por 20
sujeitos (idade: 40,2±8,1 anos; massa corporal: 90,1±14,6kg;
IMC: 28±4,5kg.m-2; percentual de gordura: 23,1±6,8%; relação cintura/quadril RC/Q 0,92±0,09; VO2máx: 32,3±8,8ml.
kg-1.min-1) e o grupo que realizou o treinamento (GT) composto por 37 participantes (42,9±9,1 anos; 89,8±16,3kg;
29±4,7kg.m-2; 23,4±7,3 %G; 0,93±0,07 RC/Q; 33,7±9,5
ml.kg-1.min-1). Antes da coleta de dados, todos os indivíduos
responderam negativamente ao questionário PAR-Q2, realizaram um processo de avaliação clinica e física, e assinaram um
termo de consentimento pós-informado, conforme a resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil. O estudo
foi aprovado por um comitê de ética, formado por professores
doutores do laboratório, com o intuito de avaliar o grau de
risco e os direitos dos avaliados, conforme a necessidade de
proteção dos sujeitos.
O GC manteve suas atividades diárias sem a realização de exercícios físicos direcionados. Já o GT realizou o treinamento em 3
sessões semanais, realizadas em dias alternados, totalizando 48
sessões, com duração média de 60 minutos diários. Inicialmente
era realizado o treinamento aeróbico que consistia de 25 minutos
de atividade com intensidade entre 50 e 70% da FC de reserva.
Simultaneamente, foi utilizada a escala CR-10 da percepção
subjetiva de esforço (Borg CR -10).
Todos os sujeitos foram caracterizados como hipertensos leves
através da avaliação do médico responsável e não faziam uso
de medicamentos hipotensores ou diuréticos (tabela 1).
Avaliação do VO2máx
Antes de iniciar o programa de exercícios no EBE, os integrantes
da amostra foram inicialmente submetidos a um teste sub-máximo no protocolo de Astrand para obtenção do VO2máx. Os
indivíduos foram encorajados verbalmente a permanecerem
até o final do teste ou até que um dos seguintes sinais ou
sintomas fosse identificado: a) fadiga voluntária; b) resposta
hipertensiva ou isquêmica; c) sintomas ou sinais limitantes,
conforme os critérios de interrupção descritos nas diretrizes da
Sociedade Brasileira de Cardiologia para a realização de testes
ergométricos; ou d) obtenção de 90% da freqüência cardíaca
(FC) máxima prevista. Durante a realização do teste, a FC, a
PA sistólica (PAS) e a PA diastólica (PAD) foram aferidas ao final
de cada estágio do teste por meio auscultatório (Tycos – Adult
Size CE 0050). Para a identificação das PAS e PAD foram
identificadas as fases I e IV de Korotkoff, respectivamente. O
mesmo protocolo de avaliação foi realizado após os 4 meses
de treinamento.
Avaliação Antropométrica
Realizou-se uma avaliação pré e pós-treinamento da composição corporal, pelo protocolo de Jackson & Pollock – 7 dobras
(Masculino) - com aferição das medidas antropométricas, massa
corporal, estatura, circunferências corporais e dobras cutâneas1.
Fit Perf J, Rio de Janeiro, 6, 4, 215, jul/ago 2007
O treinamento de força foi composto por 8 exercícios realizados
em 2 séries, variando entre 8 e 12 repetições, com exceção do
exercício abdominal, executado em 3 séries de 15 a 20 repetições. Quando os indivíduos ultrapassavam os maiores valores das
faixas de repetições estabelecidas, as cargas eram reajustadas. O
intervalo entre as séries foi estipulado entre 40 e 60s. A duração
total do treinamento de força foi definida entre 20 e 25min.
O treinamento da flexibilidade acontecia após o treinamento de
força, em um período em torno de 10 a 15 minutos, pelo método
de alongamento estático sub-limiar, para os grandes grupamentos
musculares. Cada movimento foi realizado 2 vezes até o início
do desconforto, quando foram sustentados por aproximadamente
20s em cada posição.
Monitorização da Pressão Arterial
Antes de iniciar a primeira sessão de treinamento no EBE
CENPES/PETROBRAS, os sujeitos permaneceram sentados por
aproximadamente 10min, quando então a PA foi aferida através
do método auscultatório. Um avaliador experiente realizou as
medidas de repouso, sendo que a reprodutibilidade da medida
foi previamente aferida antes da realização do experimento (ICC
= 0,98). Para a medida de repouso, o sujeito posicionou o braço
esquerdo relaxado em uma superfície plana, à altura do ombro.
A fixação do manguito no braço ocorreu com aproximadamente 2,5cm de distância entre sua extremidade inferior e a fossa
antecubital. Após o manguito inflado, iniciou-se o processo de
esvaziamento numa razão de 2mmHg.s-1 até se possível distinguir
o primeiro e o quinto ruídos de Korotkfoff, correspondente aos
valores sistólicos e diastólicos, respectivamente.
Após os 4 meses de treinamento, todo o procedimento de medida
da PA foi similar ao realizado na condição de pré-treinamento. No
entanto, a PA foi aferida somente 72 horas após a última sessão
de treinamento. Em cada indivíduo, os dados foram coletados
nos mesmos horários, tanto na situação de pré quanto na de
pós-treinamento, tanto no GT quanto no GC.
Análise Estatística
Os dados obtidos nas medidas de pré e pós-treinamento, inter
e intragrupos, das PAS e PAD, do VO2, da composição corporal,
da massa corporal, das circunferências corporais e das dobras
cutâneas, foram tratados pela ANOVA two-way com a utilização
do post hoc de Scheffé, quando necessário. Adotou-se como nível
de significância, p<0,05. O programa Statistica 6.0 (Statsoft,
USA) foi utilizado para os cálculos.
215
RESULTADOS
Os valores médios da PAS e da PAD do GT, obtidos em estado
de repouso nas situações de pré e pós-treinamento, são apresentados na tabela 1. Ocorreu uma redução de 11,4% na PAS
(p<0,05) e de 5,3% na PAD (P>0,05), após os 4 meses de
treinamento.
A comparação intergrupos demonstrou diferença significativa
somente da PAS na fase de pós-treinamento (tabela 1). O mesmo
não ocorreu na PAD pré e pós-treinamento e nem na PAS em
situação de pré-treinamento.
pós-treinamento
PAS (mmHg)
140 ± 4
124 ± 4 @
PAD (mmHg)
95 ± 4
90 ± 4
α Diferença significativa em relação à situação de pré-treinamento
-
@ - Diferença significativa em relação à situação de pós-treinamento no GC
Os valores médios da PAS e da PAD do GC, obtidos em estado
de repouso nas situações de pré e pós-avaliação nos 4 meses,
são apresentados na tabela 2.
Tabela 2 – Valores pré e após 4 meses no GC
pré-treinamento
pós-treinamento
PAS (mmHg)
140 ± 4
140 ± 6
PAD (mmHg)
90 ± 4
90 ± 4
Na tabela 3 são demonstrados os valores obtidos nas duas
medidas (pré e pós-treinamento) do VO2máx, da composição
corporal, da massa corporal, das circunferências corporais e das
dobras cutâneas do GT.
Tabela 3 – Medidas do GT
prétreinamento
póstreinamento
massa corporal (kg)
89,8 ± 16,3
87,1 ± 16,9@
% de gordura
23,4 ± 7,3
21,5 ± 6,5@
0,93 ± 0,07
0,92 ± 0,07
33,7 ± 9,5
37 ± 8,9α@
29 ± 4,7
28,2 ± 3,8
-1
VO2máx (ml.kg .min )
IMC (kg.m-2)
α - Diferença significativa em relação à situação de pré-treinamento
@ - Diferença significativa em relação à situação de pós-treinamento no GC
A comparação intergrupos demonstrou diferença significativa da
massa corporal, % de gordura e VO2, na fase de pós-treinamento.
O mesmo não ocorreu na situação de pós-treinamento nas outras
medidas verificadas. Em situação de pré-treinamento nenhuma
diferença significativa foi observada em nenhuma das medidas
avaliadas (tabela 3).
216
variável
prétreinamento
póstreinamento
massa corporal (kg)
90,1 ± 14,6
89,7 ± 15,2
% de gordura
23,1 ± 6,8
23,4 ± 6,2
0,92 ± 0,09
0,92 ± 0,06
32,3 ± 8,8
32,2 ± 8,1
28 ± 4,5
28,1 ± 4,0
RC/Q
-1
VO2máx (ml.kg .min )
pré-treinamento
-1
Tabela 4 – Medidas do GC
-1
Tabela 1 – Valores pré e pós-treinamento no GT
RC/Q
Na tabela 4 são demonstrados os valores obtidos nas duas medidas (pré e pós-treinamento) do VO2, da composição corporal,
da massa corporal, das circunferências corporais e das dobras
cutâneas do GC.
-2
IMC (kg.m )
DISCUSSÃO
O principal resultado obtido no presente experimento demonstra redução significativa da PAS após as 48 sessões de
exercícios propostos pelo EBE, com a utilização de exercícios
aeróbicos, de força e de flexibilidade, em conjunto. No entanto, na PAD as reduções não foram significativas, ocorrendo
uma redução de 5,2%. Nas outras medidas, somente o VO2máx
apresentou diferença significativa em relação ao pré-treinamento. Nas outras variáveis observamos decréscimos nas
medidas, mas não de forma significativa. Vale ressaltar que
esses decréscimos, mesmo não sendo significativos, foram
positivos.
Em relação ao comportamento da PA após o exercício físico,
a maioria dos estudos investigaram o efeito hipotensor após
o trabalho aeróbico3,4,10. Em relação a este tipo de atividade,
parece que a HPE poderia ser influenciada pela massa muscular envolvida, mas não haveria influência da intensidade ou
do volume de trabalho9. Já em relação ao exercício de força,
poucos estudos foram direcionados à investigação da HPE5,11.
Nesse sentido, têm-se informações conflitantes em relação ao
comportamento da PA pós-esforço, como redução, aumento ou
nenhuma alteração significativa6. Quando são combinadas as 3
atividades (aeróbica, força e flexibilidade), os dados disponíveis
na literatura ainda são escassos.
Em um experimento realizado por Martins et al.6, que acompanharam durante 12 horas a PA em pessoas hipertensas, medicadas
e submetidas a uma sessão de exercícios de força, aeróbico e
de flexibilidade, verificou-se que ao término da 8ª semana de
treinamento não foram identificadas diferenças significativas
em relação aos valores de repouso de ambos os grupos. Entretanto, o comportamento da PA no GT assumiu uma tendência
à redução, enquanto o GC exibiu um caráter oscilatório ao
longo da monitorização. Todos os sujeitos foram avaliados por
monitorização ambulatorial da PA durante 12 horas em ciclos
de 2 horas. Dessa maneira, a conclusão dos autores foi que um
programa de exercícios parece provocar HPE, mesmo em sujeitos
hipertensos medicados.
Fit Perf J, Rio de Janeiro, 6, 4, 216, jul/ago 2007
Em que pesem diferenças metodológicas entre o nosso experimento e o proposto por Martins et al.6, os resultados
foram muito similares. Talvez tenhamos encontrado maiores
reduções na PA porque nossa amostra foi composta por hipertensos não-medicados. O fato de não usar medicamento
hipotensor pode ter causado maiores benefícios fisiológicos
mensuráveis, decorrentes do programa EBE. Outra diferença
clara é que o nosso treinamento proposto durou 16 semanas,
sendo o dobro do proposto por Martins et al.6. Essa duração
mais prolongada certamente causou maiores benefícios na
redução da PA e nas outras variáveis verificadas, bem como
o incremento no VO2máx.
Independente da atividade realizada, algumas informações ainda
merecem mais estudos, como o tempo no qual a PA permanece
abaixo dos valores de repouso após uma sessão de exercícios.
Existem dados que relatam uma HPE variando entre poucos
minutos12 e 22 horas13,14. A maioria dos estudos têm realizado
mensurações por um período curto (entre 1 e 2h) após o exercício. No entanto, na maioria desses estudos, os valores da PA
têm se direcionado aos valores basais após o encerramento das
mensurações. A HPE teria validade clínica apenas se a hipotensão relativa fosse sustentada por duração significante e durante
atividades da vida diária15. Para isso, faz-se necessário a utilização da monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA).
Utilizando esse recurso, foram observadas reduções significativas
da PA durante 12,7 horas em indivíduos hipertensos15. Outros
dados reportam uma redução ainda mais prolongada, como 16
horas16 e 22 horas13,14.
Os nossos achados, no presente experimento, mostraram que
ocorreu uma redução da PA em repouso. A nossa medida, 48
horas após a última sessão, foi realizada dessa maneira para
evitarmos o efeito agudo hipotensivo pós-esforço. Os sujeitos
exibiram reduções clinicamente importantes da PA por um período
de 48 horas após a última sessão.
Em uma publicação de Simão et al.5, abordou-se que, embora
o efeito hipotensivo na PA pós-esforço tem sido atribuído principalmente a uma diminuição da resistência vascular, as causas
fundamentais dessas diminuições ainda não foram elucidadas.
É improvável que o efeito hipotensivo pós-esforço seja resultado
da termorregulação ou trocas no volume sangüíneo. Embora
alguns dados sugiram diminuições na atividade do nervo eferente
após o esforço, resultados contraditórios são encontrados em
humanos e em ratos de laboratórios. Talvez os principais fatos
relacionados a essa questão da atividade do nervo eferente sejam
os barorreceptores e hormônios específicos, mas investigações
futuras ainda são necessárias.
Significantes evidências em estudos realizados com roedores
sugerem que níveis de serotonina centrais podem influenciar
no efeito hipotensivo. Porém, recentes estudos em humanos
não suportam essas evidências em modelos animais. Outros
fatores locais parecem mediar o efeito hipotensivo, dentre os
quais os hormônios circulantes. A mensuração de hormônios
com potenciais vasodilatadores, como a adrenalina, adenosina,
potássio e atrial natriuréico peptídeo, foram reportados como
aumentando ou se mantendo inalterados durante o efeito
Fit Perf J, Rio de Janeiro, 6, 4, 217, jul/ago 2007
hipotensivo. Agentes vasoconstritores, tais como a renina, a
angiotensina II e o hormônio antidiurético, foram aumentados,
diminuídos ou inalterados após o esforço. Existem evidências de
que o efeito hipotensivo pode perdurar por até 17 horas após
o exercício. Nesse tempo, cada uma dessas substâncias, presumivelmente, retornaria aos valores de repouso. A possibilidade
de nenhuma dessas substâncias serem fundamentais no efeito
hipotensivo, é presumivelmente real. As alterações no óxido
nítrico têm sido responsabilizadas por um efeito hipotensor.
Contraditórios resultados encontrados entre os mecanismos
originados no cérebro e centros de controle cardiovascular,
ainda são obscuros.
CONCLUSÃO
Em conclusão, os nossos resultados sugerem que a intensidade e
o volume de treinamento aplicados no EBE CENPES/PETROBRAS
podem influenciar o efeito hipotensivo em indivíduos hipertensos não-medicados. Nesse sentido, o exercício supervisionado
mostrou-se eficaz como variável interveniente para a redução
da PA em repouso.
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