Análise
VENDA DE CRUZEIROS:
Uma aposta de sucesso
A procura está a crescer, o público-alvo é cada vez mais diversificado e mais receptivo, é um negócio
rentável, satisfaz os clientes, fideliza-os, praticamente não regista reclamações e não tem, por
enquanto, a concorrência dos próprios fornecedores. Estas são, de acordo com a opinião dos vários
operadores, agentes de viagens e representantes de companhias de cruzeiros inquiridos pela Revista
APAVT*, as principais razões pelas quais vale a pena apostar nas vendas deste produto turístico.
“É
o segmento de turismo com maior
taxa de crescimento e, analisando
a oferta de cruzeiros disponível na
Europa, manterá esta performance
durante toda a década”, vaticina
Francisco Teixeira, o director-geral da
Melair em Portugal, que representa a
Royal Caribbean Cruise Lines (RCCL). As
estatísticas internacionais comprovam a
afirmação”.
Relativamente ao mercado português, no
ano passado e face a 2008, “registámos
um crescimento de 8,3% em passageiros
totais”, afirma o responsável. Por seu
lado, o delegado para Portugal da Costa
Cruzeiros, Jorge Carreiras, refere um
crescimento de 10% para 6.000
passageiros em 2009.
A evolução positiva das vendas de
cruzeiros em Portugal é também referida
pela generalidade dos agentes de viagens
inquiridos. Entre outros com registos
semelhantes, Gonçalo Salgado, da
GeoStar, adianta que “nos últimos 10 anos
as vendas de cruzeiros têm crescido a dois
dígitos, com excepção do ano passado em
que tivemos uma quebra de vendas de
aproximadamente 15%”. Ricardo Teles,
da Best Travel, afirma que “nos últimos
cinco anos temos crescido cerca de 12%
por ano, sendo que nos dois últimos anos o
crescimento acelerou para cerca de 20%.
P OTENCIAL P ARA C RESCER
Apesar deste ritmo crescimento,
beneficiado pelo facto de a base de
partida ser em Portugal relativamente
pequena, o peso das vendas de cruzeiros
nas receitas dos agentes de viagens tem
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ainda, em média, uma pequena expressão
quando comparado com outros produtos
na área do lazer.
De acordo com o inquérito levado a cabo
pela Revista APAVT, as receitas da venda
de cruzeiros variam entre o “residual”,
como refere o responsável de uma rede na
qual este produto é apenas responsável
por 1% das vendas totais, até aos 20%
indicados por uma outra rede. Pelo meio,
outros referem valores relativos na casa
dos 2,9%, 5% ou 10%, embora todos
afirmem um aumento significativo do peso
relativo deste produto nos últimos anos,
por vezes atingindo a duplicação do share
no conjunto de produtos comercializados.
R AZÕES
DE C RESCIMENTO
O crescimento registou-se sobretudo no
segmento de individuais e adveio
sobretudo do “aumento considerável da
oferta na Europa, seguida de um elevado
nível de satisfação do passageiro, que
através do eficiente “boca a boca” tem
permitido registar maior apetência do
mercado de potenciais e de agências de
viagens.
Como
consequência,
a
proliferação de este modelo de férias tem
vindo a registar cada vez mais interessados”,
explica Francisco Teixeira. Para Jorge
Carreira, “a experiência vivida em primeira
mão e transmitida ao círculo social dos
nossos passageiros é um factor
Argumentos de Venda aos Clientes
- Permite conhecer várias cidades/países sem
o incómodo de desfazer/fazer malas e esperar
em check-ins.
- Dispõe de múltiplas opções de
entretenimento a bordo, para todas os
gostos, idades e orçamentos
- Elevada qualidade de alojamento e serviço a
preços concorrenciais
- Pensão Completa
determinante para “desmistificar” alguns
preconceitos em relação aos cruzeiros,
nomeadamente as questões relacionadas
com os preços e com a faixa etária a bordo
dos nossos navios”. O responsável da Costa
destaca também “todo o trabalho de
promoção da companhia junto da
distribuição, conjugado com o forte
empenho dos agentes de viagem que reconhecendo a alta rentabilidade e
fidelização do cliente de cruzeiros - apostam
cada vez mais nos nossos produtos”.
Os Cruzeiros na oferta dos Operadores
A evolução do mercado de cruzeiros não tem passado despercebido aos Operadores Turísticos.
Se, de uma forma geral, este produto já há muito integrava a oferta dos operadores, nos
últimos anos tem-se verificado uma maior aposta, através, nomeadamente, do estabelecimento
de parcerias com as companhias de cruzeiros e o desenvolvimento de brochuras exclusivamente
dedicadas a este produto. Exemplos desta aposta são a brochura da Nortravel, operador que,
mesmo depois de ter deixado a representação da MSC, continua a vender pacotes exclusivamente
assentes na oferta daquela companhia e, mais recentemente, o Mundovip, que estabeleceu uma
parceria com a RCCL, espelhada numa brochura também ela exclusivamente dedicada a cruzeiros.
Além da facilidade de um produto já com todos os componentes da oferta incluídos,
nomeadamente as viagens para/dos locais de embarque/desembarque e os transferes, há
outros argumentos de venda. A Nortravel, por exemplo, destaca o facto de assegurar, em
itinerários e partidas seleccionadas, a presença de um guia a bordo para prestar assistência aos
seus clientes.
A A POSTA
DOS A GENTES DE V IAGENS
“Comunicação, Formação e Preço” são,
para Ricardo Teles, da rede Best Travel,
as razões por detrás da crescente aposta
dos agentes de viagens na venda de
cruzeiros, uma opinião que sintetiza a
argumentação
manifestada
pela
generalidade dos agentes inquiridos.
“Primeiro existiu uma grande força de
comunicação das companhias de
cruzeiros, no sentido de desmistificarem a
crença geral de que os cruzeiros seriam só
para idosos. Mostraram dinâmica e
conseguiram atrair camadas mais jovens
da população. Posteriormente, com as
escalas a aumentarem em Lisboa, muitos
agentes de viagens, que nunca tinham
estado num navio, tiveram formação in
loco, tornando-lhes muito mais fácil
conseguir vender este produto. Por
último, obviamente que numa fase de
tanta pressão do pricing, o facto de os
preços dos cruzeiros terem reduzido
drasticamente também ajudou bastante a
esta subida”, esclarece.
“Nos últimos anos têm surgido no mercado
alguns cruzeiros com um posicionamento e
preços mais atractivos que têm
contribuído para o aumento deste
mercado” afirma Gonçalo Salgado, da
GeoStar, que destaca também o
crescimento e diversificação da oferta.
“Uma melhor relação qualidade/preço” diz,
por seu lado, Pedro Vitorino da
Mundiclasse, para quem a formação é,
contudo, indispensável, já que os
cruzeiros constituem um “produto
específico, que só vende quem sabe o que
realmente está a vender. Na dúvida, o
agente não arrisca e descarta a venda do
cruzeiro”.
A D EMOCRATIZAÇÃO
DOS C RUZEIROS
“O aparecimento de novos produtos com
preços muito competitivos, permitiu uma
maior democratização dos cruzeiros. Por
outro lado, a maioria das agências também
dedica hoje um maior esforço na promoção
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também um dos factores que tem facilitado
o crescimento deste produto, a par da
saturação do espaço aéreo e dos voos, que
evidencia a comodidade de um cruzeiro, e da
maior diversificação da oferta de itinerários.
diz que “nos dias de hoje, e considerando
que o grupo RCCL pratica tarifas baseadas
no yield management, qualquer preço é
possível encontrar nos seus cruzeiros”. Para
o director-geral da Melair, este facto tem
também a vantagem de alargar “as
competências de uma agência de viagens no
aconselhamento e reserva de um cruzeiro,
porque com base nos objectivos e
necessidades do cliente conseguir-se-á
encontrar quase sempre a melhor opção”.
P REÇOS P ARA T ODAS
P ORQUÊ V ENDER C RUZEIROS?
O essencial para crescer: A opinião dos entrevistados
- Maior formação (e contínua) das redes de vendas
- Maior especialização dos técnicos de vendas das AV’s
- aposta em produtos diversificados e de qualidade
- mais partidas de portos nacionais (sobretudo com melhores itinerários)
a este produto”, sustenta Gonçalo
Salgado. Maria José Silva, da RAVT,
sublinha também o papel da maior
formação que os agentes têm, além de
uma maior promoção deste produto.
Pedro Vitorino da Mundiclasse também fala
de uma mais eficaz divulgação, bem como
do aparecimento de opções mais
económicas que permite que este produto
seja “acessível a uma classe média/baixa e
isso favorece ao escoamento do produto!”
A quebra dos preços médios, porém e na
opinião dos responsáveis da rede Top
Atlântico, tem duas faces – se por um lado
tem levado à conquista de um novo
público-alvo para Cruzeiros, “por outro
lado, contribui para uma diminuição de
margens que o crescimento ainda não
compensa”. Para esta rede, o aumento da
oferta de cruzeiros à partida de Lisboa é
AS B OLSAS
Existem opções para quase todas as bolsas,
como faz notar Jorge Carreiras, ao afirmar
que “a Costa Crociere tem preços desde 399
euros mais taxas, para cruzeiros de oito
dias. Tudo depende da época e da duração.
Mas é interessante notar que existem
clientes em Portugal para cruzeiros de maior
duração e consequentemente de preço mais
elevado. Uma Grand Suite no nosso cruzeiro
da Volta ao Mundo em 100 dias pode custar
até 35.199 euros por pessoa”. Também a
MSC oferece preços desde 380 euros mais
taxas e, no caso da RCCL, Francisco Teixeira
Além de constituir uma resposta óbvia ao
aumento da procura que se tem vindo a
sentir e se perspectiva continue, trata-se de
um produto que, em regra, corresponde ou
ultrapassa mesmo as expectativas dos
clientes. Esta satisfação de expectativas
não só fideliza o cliente ao produtocruzeiros, como também, pela construção de
uma relação de confiança com o vendedor, o
fideliza à própria agência de viagens.
O cliente satisfeito “reconhecerá a agência
que lhe propôs e apoiou na selecção do seu
cruzeiro e, penso eu, poderá voltar a eleger
essa agência na marcação das suas
próximas férias”, afirma Francisco Teixeira.
“Em regra, quem faz um cruzeiro repete a
experiência”, destaca Jorge Carreira. “É a
melhor forma comercial de estar perto do
consumidor final, em termos de informação,
de atendimento, de reclamações, etc.” diz,
por seu lado, Eduardo Cabrita.
A propósito de reclamações, o gabinete do
Provedor do Cliente confirma a sua quase
inexistência. “Praticamente nenhumas, e as
poucas que houve diziam respeito a extravio
de bagagem nos voos de ligação aos portos
de embarque, ou mesmo a atrasos que
impossibilitaram o embarque dos clientes”,
afiança fonte do gabinete de Vera Jardim.
U M N EGÓCIO R ENTÁVEL
Se a existência de mercado e a garantia de
satisfação do cliente são por si só uma boa
motivação, outra boa razão para a venda de
cruzeiros assenta no facto de ser um negócio
“com altas margens de rentabilidade”, como
diz Eduardo Cabrita, uma afirmação
corroborada pelos agentes de viagens
inquiridos, casos da Top Atlântico ou da
RAVT.
Fontes de mercado revelam que a comissão
pela venda de cruzeiros anda em torno de
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15%, e em muitos casos acima desta
percentagem. “É um produto com uma boa
remuneração, quando comparamos com
outros produtos” refere Jorge Carreira,
acrescentando que, além das comissões, “é
importante não esquecer que, quando se
vende um cruzeiro, o agente pode vender
uma série de outros produtos agregados,
como sejam a parte aérea, as estadias, as
excursões pré e pós cruzeiro, o rent-a-car e
por aí adiante”.
AGENTES DE VIAGENS CONSTITUEM
PRINCIPAL CANAL DE DISTRIBUIÇÃO
A complexidade do produto-cruzeiros, assim
como o avolumar da informação disponível
através da internet, seja em sites de
viagens, empresariais, de opinião, fóruns ou
redes sociais, conduz a que o Agente de
Destinos preferidos
1º Mediterrâneo
2º Caraíbas
3º Norte da Europa
Viagens tenha, cada vez mais, um
importante papel no aconselhamento do
cliente e, em consequência, uma igualmente
crescente importância enquanto canal de
distribuição. “Estou em querer que não só
para a comercialização de cruzeiros mas de
todos os produtos não padronizados, seja
na variedade da oferta ou na especificidade
do produto, o consumidor reconhecerá quem
providenciar um serviço de aconselhamento
e apoio de qualidade que permita uma
decisão e escolha de férias sustentada na
informação objectiva”, considera Francisco
Teixeira. O director geral da Melair deixa,
contudo, um alerta: “É aconselhável a
definição do posicionamento de cada um,
pois estou em crer que o consumidor tem
tendência a criar referências das marcas e o
mesmo se passará com as agências de
viagens”.
EVOLUÇÃO DO PRODUTO ATRAI NOVOS
CLIENTES
Longe vai o tempo em que os cruzeiros eram
quase um exclusivo de passageiros sénior,
com elevado poder de compra, que
procuravam sobretudo o sossego e o
conforto semi-deitados numa cadeira de
convés, apenas intervalado pelas refeições
em ambiente tão luxuoso quanto formal.
Naturalmente, este público-alvo continua a
dispor de respostas à altura das suas
exigências, mas o actual panorama dos
cruzeiros é muito mais alargado, sem
contudo sacrificar a qualidade de serviço que
sempre lhes foi característica dominante.
Novos navios, alguns dos quais são
verdadeiras cidades flutuantes, com
capacidades que atingem os 5.400
passageiros, oferecendo uma miríade de
opções em matéria de restauração,
comércio, entretenimento e todo o tipo de
actividades lúdicas, para mais e menos
jovens. “Os navios são em si mesmo um
destino” como afirma Eduardo Cabrita, a
somar às escalas do itinerário que
percorrem.
A QUEM VENDER?
Para casais, famílias e grupos de amigos os
cruzeiros constituem uma resposta
adequada. “O cliente típico de cruzeiros
evoluiu claramente desde há dez anos a esta
parte. De uma pequena percentagem de
conhecedores, normalmente classe a e
b+, faixa etária acima dos 45 anos e
repetente, passamos para um leque muito
mais alargado classe a e b, idades a
começar nos 25 anos (enquanto clientes),
e alargando-se muito ao sub-segmento
famílias , evoluindo do sub-segmento
casais”, descreve fonte da rede Top
Atlântico. “Cada vez mais popular para
famílias com crianças” reforça Gonçalo
Salgado. “Tornou-se um produto familiar”
diz por seu lado Francisco Teixeira. “Com a
proliferação de oferta, o cliente é cada
vez mais jovem e a curta duração dá
oportunidade a casais mais jovens e com
menor disponibilidade de tempo” remata
Maria José Silva.
2010 COM PERSPECTIVAS ANIMADORAS
Apesar do contexto de crise económica, as
perspectivas para este ano no que diz
respeito às vendas de cruzeiros são muito
animadoras. O representante da Royal
Caribbean afirma que “iremos registar um
crescimento de passageiros na ordem dos
50%”, o da Costa Cruzeiros refere ter
“fortes indicadores que nos permitem
antever um crescimento acima dos 35%,
representando cerca de 8.100 passageiros”
e o da MSC fala em “duplicar o número de
2009”.
O optimismo estende-se, naturalmente, às
agências de viagens, que na generalidade
referem ter perspectivas de subida. Os
“transtornos que o transporte aéreo tem
causado e o facto de os cruzeiros se
tornarem cada vez mais um produto/destino
turístico por si só”, como afirma Maria José
Silva, são razões adicionais para a
expectativa de um bom ano de venda de
cruzeiros. Apesar do optimismo, o gabinete
de comunicação da Top Atlântico deixa uma
nota de cautela: “um excesso de oferta ou
uma oferta demasiado focada em preço /
concorrência pode, de alguma forma,
afectar negativamente o crescimento de um
bom produto, como são os cruzeiros”
*A Revista APAVT agradece aos seguintes profissionais a disponibilidade manifestada para as
respostas necessárias à redacção deste trabalho:
Francisco Teixeira (Melair/RCCL); Eduardo Cabrita (MSC); Jorge Carreira (Costa Crociere);
Gab.de Comunicação da ES Viagens; Gonçalo Salgado (GeoStar); Ricardo Teles (Best Travel);
Maria José Silva (RAVT); Pedro Vitorino (Mundiclasse); António Gama (Nortravel); Pedro
Costa Ferreira (Mundovip).
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Portos Portugueses:
Quase um milhão de
passageiros em 2009
U
m total de 945.034 passageiros de
cruzeiro passou pelos portos
portugueses ao longo de 2009. Ou seja,
quase um milhão de turistas ou potenciais
turistas, número que se perspectiva seja
atingido, ou mesmo ultrapassado, no
decurso de 2010.
Em média, o número de passageiros de
cruzeiros registado no nosso País, ao longo
da última década, tem crescido a um ritmo
superior a 10% ao ano. Entre 2000 e 2009,
no conjunto dos portos continentais
(Cascais, Leixões, Lisboa, Portimão e Viana
do Castelo) e insulares (Açores e Madeira), a
variação atinge os 143%, o que espelha bem
o peso e importância deste segmento de
mercado para o Turismo Receptivo.
O Funchal detém a primeira posição do
ranking no que diz respeito a movimento
total de passageiros, seguido de perto do
porto da capital que, em 2008, chegou
mesmo a destronar o seu congénere
madeirense. Em conjunto, estes dois portos
concentram cerca de 90% do movimento de
passageiros nacional (851.508 em 2009). Em
terceiro lugar, os portos açorianos, com a
quase totalidade dos movimentos
concentrada em Ponta Delgada, atingiram
50.526 movimentos de passageiros no ano
passado, tendo registado em 2007 o seu
recorde, com 69.727 movimentos. Portimão
passou no ano transacto a 4º do ranking,
com 23.588 movimentos, seguido do porto
de Leixões, que em igual período registou
17.624 movimentos. No final da lista surgem
os portos de Cascais, que em 2009 recebeu
quatro escalas, e o de Viana do Castelo, que
recebeu uma visita de um navio, com cerca
de 300 passageiros.
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C RUZEIRISTAS
EM T ERRA F IRME
Em rigor, não se pode afirmar que as
estatísticas dos portos expressam o número
real de turistas que, estando em trânsito,
visitam os portos de escala, na medida em
que são feitas a partir da declaração do
número de passageiros que o navio
transporta e nem todos, naturalmente,
aproveitam para se passear. Por outro lado,
e em sinal oposto, as estatísticas oficiais
também não contabilizam o número de
tripulantes que saem durante a escala,
transformando-se temporariamente em
turistas. Atendendo a que alguns navios de
cruzeiro chegam a ter ao seu serviço mais de
um milhar de tripulantes, o número não é de
todo displicente. Em todo o caso, as
estatísticas reflectem a tendência da
evolução deste segmento do Turismo
receptivo e constituem um importante indício
do seu volume.
I MPACTO DO T URISMO
NO R ECEPTIVO
DE
C RUZEIROS
Na actividade turística, os principais
beneficiários do movimento de cruzeiros,
que constitui sem dúvida uma importante
fonte de receitas para os destinos, são as
DMC’s e outras empresas do sector do
turismo receptivo, a restauração e o
comércio, já que a larga maioria dos
movimentos de passageiros (em média 80%)
corresponde a trânsitos, logo sem impacto
na hotelaria.
A realização de excursões organizadas,
adquiridas a bordo é, em regra, a principal
opção daqueles que aproveitam a escala
para conhecer novos destinos.
O gasto médio diário por cruzeirista em
portos europeus deverá rondar os 90 euros
nas cidades onde embarca e 60 euros nas
cidades de escala, de acordo com dados do
Conselho Europeu de Cruzeiros (ECC),
organização que reúne as principais
companhias de cruzeiros a operar nesta
região. Estes gastos são constituídos,
sobretudo, pelas excursões ou meios de
transporte, entradas em museus,
monumentos e outras atracções, refeições e
toda a gama de “souvenirs”.
A média, naturalmente, encerra realidades
distintas em função de múltiplas variáveis,
incluindo os próprios destinos ou escalas.
Num estudo da Associação de Turismo de
Lisboa (ATL), levado a cabo em 2009, os
Funchal inaugura novo Terminal
AA nova Gare Marítima Internacional do Porto do Funchal, inaugurada a 31 de Maio, reflecte
a continuada aposta do primeiro porto de cruzeiros nacional neste segmento de mercado. No
cais sul (Pontinha) foi desenvolvida uma nova estrutura dedicada ao embarque e desembarque
de passageiros, um investimento que atingiu os treze milhões de euros.
Leixões: Novo terminal concluído em Março 2011
Decorrem as obras do Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, cuja conclusão está prevista
para Março do próximo ano. Um cais para cruzeiros e uma estação de passageiros integram o
projecto, a par de um porto para a náutica de recreio e um cais flúvio-marítimo para acostagem
de embarcações vocacionadas para os cruzeiros no rio Douro. No total, o investimento estimado
é de 49 milhões de euros, dos quais 28 milhões para o edifício e 21 milhões para a obra marítima.
As obras, que se iniciaram em Setembro do ano passado, permitirão a Leixões receber navios
de grandes dimensões, estando já previstas 60 escalas em 2011, das quais 15 relativas a navios
de dimensão acima da actual capacidade, qualquer deles com capacidade para mais de 2.000
passageiros.
Portimão prepara-se para a expansão
Depois das dragagens concluídas em 2008, que permitiram aos navios de cruzeiro atracar, ao
invés de fundear ao largo, assegurando assim maior conforto nas operações de embarque e
desembarque, o projecto de desenvolvimento desta infra-estrutura consiste no prolongamento
do cais para 700 metros, capaz de acolher em simultâneo dois navios com capacidade superior
a 2.000 passageiros, dragagem de estabelecimento de fundos a 10 metros na barra, canal de
navegação e bacia de manobra, requalificação do Terminal de Passageiros, entre outros.
Lisboa: Novo Terminal em 2013
O novo Terminal de Cruzeiros de Lisboa, em Santa Apolónia, deverá estar concluído em finais
de 2013, de acordo com informação veiculada pela APL. Estando em curso a 2ª fase das obras
de reabilitação e reforço dos cais entre Santa Apolónia e o Jardim do Tabaco, será feita a
reabilitação do molhe montante e o prolongamento do cais, bem como a construção do edifício
do terminal de cruzeiros e os respectivos arranjos exteriores. O novo terminal, que representa
um investimento de mais de 25 milhões de euros, terá cerca de oito mil metros quadrados, um
parque de estacionamento com 500 lugares para viaturas ligeiras, 80 lugares para autocarros de
turismo e uma praça de táxis com capacidade para meia centena de viaturas.
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cruzeiristas inquiridos revelaram gastar, em
média, 46,15 euros durante a visita à capital
portuguesa, sendo a maior parcela da
despesa efectuada com compras, em
particular vinho, pastelaria, postais e
artesanato.
Com base nestes indicadores, pode-se
afirmar que as receitas turísticas
provenientes dos cruzeiros em Portugal, só
no ano passado, poderão situar-se entre os
34 e os 45 milhões de euros. A este valor
dever-se-á também adicionar o gasto
efectuado pelos tripulantes, quando em
terra. O impacto do negócio na economia
nacional é, no entanto, bastante superior a
este, na medida em que haveria que
adicionar o valor dos serviços e taxas
portuárias associados às escalas, bem como
dos abastecimentos de navios e uma miríade
de outras receitas directas e indirectamente
relacionadas com esta actividade.
Os passageiros em “turnaround”, ou seja,
aqueles que embarcam ou desembarcam nos
portos nacionais (cerca de 20%, em média),
oferecem também algum potencial para a
hotelaria, na medida em que à partida e/ou
no regresso poderão pernoitar na cidade
portuária. Em todo o caso, um crescente
número destes passageiros em “turnaround”
é fruto do também crescente número de
portugueses que faz cruzeiros à partida de
portos nacionais, uma boa parte dos não
terá que recorrer a alojamento e, por outro
lado, o aumento da oferta de ligações
aéreas diminui também a necessidade de
pernoita para aqueles passageiros que,
sendo residentes noutros países, embarcam
ou desembarcam em Portugal.
O cruzeirista apresenta também algum
potencial enquanto futuro turista em férias
de terra nos destinos por onde passa. No já
referido estudo da ATL, 18,1% dos
inquiridos manifestaram interesse em
regressar a Lisboa em lazer. Percentagem
superior (25,7%), no entanto, admitiu ter a
intenção de voltar a esta cidade portuária
em cruzeiro.
O M ERCADO B RITÂNICO
C RUZEIROS
E OS
O Reino Unido permanece como o principal
mercado europeu emissor de cruzeiristas, e
o segundo a nível mundial, uma posição cada
vez mais disputada pela Alemanha.
De acordo com a Passenger Shipping
Association (PSA) do Reino Unido, o número
de passageiros de cruzeiro britânicos
cresceu, no ano passado, 4% para 1,5
milhões, estando a caminho de atingir os
1,75 milhões em 2011 e os dois milhões em
2014. Este ano, as estimativas da PSA
apontam para um crescimento de 8% para
1,65 milhões de cruzeiristas, sobretudo pelo
aumento da oferta decorrente da chegada
de novos navios especialmente dedicados
essencialmente à operação a partir dos
portos do Reino Unido.
Não só há mais britânicos a fazer cruzeiros,
como também estão a fazê-lo mais do que
uma vez por ano. Em 2009, mais do que um
em cada dez pacotes de férias foi um
cruzeiro, quando há 12 anos era de apenas
um em quase 30, refere também a mesma
associação.
Se o crescimento deste mercado constitui,
naturalmente, uma boa notícia para
Portugal, o aspecto negativo reside no facto
de as preferências dos britânicos se estar a
voltar para os itinerários do norte da Europa.
“Talvez os britânicos estejam fartos do
Aquecimento Global, na medida em que, em
2009, um número maior de passageiros
optou por fazer rumo aos fiordes e aos
glaciares do Norte da Europa, em detrimento
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do Sol de todo o ano das Caraíbas”, afirma a
PSA. De facto, as estatísticas revelam que
os portos do Mediterrâneo, embora
continuem a ser o maior destino dos
cruzeiristas britânicos, sofreu no ano
passado uma quebra de 2% para 595.000
face a 2008. Para as Ilhas Atlânticas, o
decréscimo foi de 6% para 101.000
passageiros. Em sentido inverso, os portos
do Norte da Europa registaram um
crescimento de 20% para 296.000 nas
preferências dos súbditos de Sua Majestade
e as Caraíbas beneficiaram igualmente de um
crescimento, de 8%, para 275.000.
Vale também a pena registar que as agências
de viagens continuam a ser o canal mais
utilizado pelos britânicos para as reservas de
cruzeiros: oito em cada dez (80%) preferem
a reserva num agente de viagens, seja caraa-cara (25%) por telefone (38%) ou online
(17%). Relativamente a 2008 registou-se
mesmo um crescimento de 20%, para uma
em cada quatro reservas, no que diz
respeito a reservas feitas em balcões de
agências de viagens. A procura de
informações, no entanto, é crescentemente
feita na Internet.
Qual o perfil do cruzeirista em Lisboa?
Em 2009 foram maioritariamente britânicos, com uma média de 52,4 anos de idade, formação
académica superior, viajando em casal, sem filhos e com experiência prévia de cruzeiros. A
percentagem de estreantes atingiu contudo os 46,9%, um aumento substancial relativamente ao
ano anterior (35%). Os dados integram o inquérito da ATL a passageiros internacionais de
cruzeiro.
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Uma aposta de sucesso