Senador Pedro Taques – Discurso Manifestações Senhor presidente, Senhoras senadoras, senhores senadores Amigos das redes sociais que também estão nas ruas Estamos em época de competição de futebol. Nosso povo tem a paixão desse esporte, uma paixão coletiva. Sofre nas derrotas, mas se une, se integra, na alegria compartilhada das conquistas. O futebol une as pessoas, dá um sentido comum à sua emoção e às suas atitudes. Mas, e nos últimos dias? O que uniu milhares de pessoas que foram às ruas em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, no Pará, no Brasil inteiro? Foram os vinte centavos da passagem? Com certeza não! Precisamos reconhecer a nossa surpresa. Ninguém aqui nesta Casa, ninguém dentro da classe política, pode chegar aqui e dizer que sabe o que o povo está querendo dizer quando se une e vai às ruas. Temos que reconhecer que ainda precisamos ouvir muito a voz dessas pessoas, desses jovens. Precisamos pensar muito sobre o que eles querem comunicar. Mas uma coisa é certa: a bronca é com a classe política, a bronca é com o que se faz com o poder que o povo confere nas urnas. Até ontem, o cidadão brasileiro aceitava o baixíssimo grau de legitimidade participativa nos atos do Poder Público, e as consequências disso sobre a sua própria vida. Mas, agora, o que presenciamos foi uma implosão dessa falta de legitimidade. O povo quer mais! Por dezenas de motivos, o CIDADÃO foi e continua nas ruas para reclamar diretamente a sua soberania ‐ a titularidade do seu poder legítimo. Exige educação de qualidade, saúde pública, é contra o aumento das tarifas do transporte público, contra a desumanidade que é esse mesmo transporte público nas nossas cidades, contra a corrupção, contras os gastos exagerados com as obras da Copa do Mundo, contra a PEC 37 que traz a impunidade aos corruptos... O que vemos é a multidão dos direitos invisíveis tentando ganhar visibilidade, tentando se fazer vista. É o cidadão cansado do mundo das desigualdades, do mundo das perseguições sociais, do atraso, do ódio e do preconceito. É o cidadão cansado do mundo onde a dignidade da pessoa humana é ofendida todos os dias. Senhores senadores, Precisamos ler a história de acordo com o momento histórico. O que esta multidão ensina é que não existe uma única razão para mais de um milhão de pessoas já terem ido às ruas protestar. Não há que se falar em falta de causa. A causa é a indignação! Como dizia um dos cartazes: “Tem tanta coisa errada que não cabe em um único cartaz!”. Hoje, cada cidadão é um partido político. Ele não precisa mais de intermediários para manifestar sua indignação. E o povo exige equipamentos públicos de qualidade, serviços públicos decentes, os valores universais do bom uso do dinheiro público! O cidadão se exaltou e, em casos extremos, extrapolou o direito alheio ao se cansar de ver o seu próprio direito desprezado... Mas, a luta dos direitos não pode ser resumida a uma guerra. Esse é o problema das lutas, elas não podem ser resumidas a um vencedor ou a um perdedor! Isso é manter os limites, manter a guerra. E não podemos deslegitimar a manifestação da vontade popular, muito menos impor limites pela violência. É preciso ser menos cético em relação a essas manifestações. Menos pessimista e sem frases como: "não vai dar em nada"... Esse sentimento apenas destrói, joga ao esquecimento, massifica, descarta e produz lixo. É necessário tornar isso discurso; colocar em palavras; fazer com que essas questões sejam lembradas! Um único exemplo que ilustra bem a força do movimento diz respeito à PEC 37. Lançamos no Portal Avaaz, uma petição online contra a proposta que pretende retirar poderes de investigação do Ministério Público. De ontem pra hoje, Já estamos atingindo a marca de MEIO MILHÃO de assinaturas contra a PEC 37. O cidadão está atento! Sabe que proposta pode ser aprovada já na próxima semana na Câmara e vir para o Senado. No meio da queda de braço, entram aqueles que, embora não sejam parlamentares, querem reafirmar a importância de um Ministério Público atuante, principalmente, nas ações de combate à corrupção. Vocês entendem que isso quebra qualquer argumento a respeito do chamado “ativismo de sofá”? A internet permite a "autocomunicação"; ela está retirando a mediação dos meios de comunicação. As manifestações nascem na rede e ganham as ruas. É um grande sinal de uma progressão participativa e “emancipatória” do povo, que avança em grau e qualidade que surpreendem. Senhor presidente, Senhoras e senhores senadores, Alguns dos amigos que nos assistem podem estar inquietos, pensando: mas e os problemas reais que estão sendo denunciados na rua? O Senador Pedro Taques vai fingir que eles não existem? Não, claro que não. Vou enfrentar cada um deles nesta tribuna e nos meus atos parlamentares. Aliás, já venho fazendo isso. Já venho denunciando, cobrando, propondo, defendendo, emendando. Quase sempre em minoria, atropelado pelo rolo compressor da maioria governista cooptada pelos favores do Planalto. Mas hoje, na semana em que os brasileiros tomaram em suas mãos a vida política, virando pelo avesso todos os nossos argumentos e dando novos significados às questões aqui discutidas, minha primeira atitude é a de reconhecer que o povo falou. Falou de forma diferente da que costuma usar, falou com novas linguagens, novas expectativas. Colocou novos temas na mesa, e deu novas cores e novos sentidos àqueles problemas que já estavam aqui. A única coisa digna que podemos, todos nós, fazer é ouvir. Com respeito, atenção, empenho. Ouvir de verdade. E ouvir com alegria, pois é ouvir aquilo que resulta do exercício da liberdade em seu sentido mais amplo. Deste ouvido atento vamos aprender muito, vamos corrigir muito. Estar aberto à mudança é a nossa maior necessidade, pois a mudança é a natureza da história humana. É Saber que este é um primeiro passo e que não se encerrará aqui e jamais. Se alguém aqui neste Senado, na classe política, tinha a arrogância de dizer que entendia tudo o que o povo queria, foi desmentido. A humildade, aprendemos agora, não é só uma virtude cristã, mas também uma qualidade de sabedoria cívica e política. Sejamos humildes ao reconhecer que os brasileiros são muito mais do que o sistema político e governamental brasileiro está produzindo. E sejamos humildes para arregaçar as mangas e ouvir, analisar, pesquisar, interpretar. Sejamos humildes para trazer soluções para esses irmãos que nos fazem o grande favor de alertar de que muita coisa não anda bem, ao contrário do discurso do governo e de seus comandados aqui dentro do Legislativo. Senhores senadores, Concretizar a democracia é, num certo sentido, remover bloqueios, desobstruir caminhos de participação, afastar obstáculos que lhes foram erguidos ou lhe são levantados com freqüência para estancar‐lhe a correnteza das ideias. É como dizia outro cartaz de manifestante na frente do Congresso: “Momento de reintegração de posse”. Sim, eu concordo: o povo está retornando à sua casa. A chave para o nosso futuro reside na democracia participativa, um direito constitucional “progressivo e vanguardeiro”. Ela que faz soberano o cidadão‐povo, o cidadão‐governante, o cidadão‐nação que é supremo e decisivo. Obrigado! 
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É o cidadão cansado do mundo das desigualdades