CARACTERIZAÇÃO DA CRIANÇA NA DIVERSIDADE E NA
CONTEMPORANEIDADE
E. M. E. F. PRESIDENTE JOÃO GOULART
DIRETORA: SANDRA SEEWALD
PROFESSORA ROSALIE ISABEL JAEGER
ANO 2010
Caracterização da Criança na Diversidade e na
Contemporaneidade
Como professora dos anos iniciais há anos atrás,
retornei no ano de 2010 a alfabetização e pude constatar que a
criança mudou muito, e muda a cada ano rapidamente, está
mais ágil, mais esperta, mais sensível e também mais
vulnerável as intempéries de uma sociedade cada vez mais
contraditória. Isto quer dizer que no papel as leis existem, as
regras e combinações estão para serem cumpridas, mas o
exemplo que os adultos dão as crianças, não é nada favorável.
Tudo se modificou ao longo dos anos, a escola
também. Muitos dizem que a escola é o único espaço onde não
muda que sempre é tudo totalmente igual, mesmo passando
por décadas e décadas. Vejo-me no direito de contrariar esta
idéia.
Não estamos mais vivendo em que determinados
profissionais e pessoas possuem a verdade, tudo está em
transformação a cada dia. A mídia, os meios de comunicação
das mais variadas formas, Internet e TV por assinatura.
Crianças pequenas que muitas vezes detém
informações que ultrapassam as que muitos adultos possuem.
Informações superficiais? Talvez, mas que no dia a dia são
importantes no mundo atual. O segredo está em conseguir
relacionar, refletir as informações adquiridas dentro da teoria
e da prática, tanto os pais, a escola e a sociedade. Aí está o
grande bum da questão. Como fazer isto se muitas histórias
familiares dos alunos (as) relatadas e lidas nas entrelinhas
estão confusas, sem norte? Os pais muitas vezes trabalham o
dia inteiro, ou sem paciência para lidar com esta criança que
hoje em dia está plugada, sem parar um minuto.
Os pais em casa não conseguem ou nem sabem dar a
devida atenção ao filho (a). Aí vêm os amigos da criança, a
televisão, computador e ou vídeo game. Nesse sentido, o
Psiquiatra e Diretor da Academia de Inteligência Augusto Cury,
em seu livro “Pais brilhantes, professores fascinantes”
argumenta que a educação passa por uma crise sem
precedentes na história. Os alunos não se concentram, não
tem prazer em aprender e são ansiosos. Cury sugere que os
culpados disso não são nem pais nem professores, mas as
causas principais são frutos do sistema social que estimulou de
maneira assustadora os fenômenos que constroem os
pensamentos.
Inicio com esta reflexão, pois o projeto “SER
CRIANÇA” partiu da história de vida de cada um, sua
identidade, sua família. A turma confeccionou um álbum de sua
vida e sua família. Partindo do pressuposto que a família é a
referencia inicial desta criança. Os pais educam e a escola
socializa esta educação com outras relações, manifestando
uma diversidade de histórias, experiências trazidas pelos
alunos de suas famílias.
O que pude constatar com o resultado deste trabalho
que os valores dos pais são passados aos filhos (as) com
convicção com o que acreditam, com suas opiniões e história
de vida e isto todos os indivíduos levam junto em sua própria
bagagem.
Deixado por sua própria conta, fora do alcance dos holofotes da história e antes da
primeira sessão de ajuste com os planejadores, o mundo não é ordenado nem
caótico, nem limpo nem sujo. É o projeto humano que evoca a desordem
juntamente com a visão da ordem, a sujeira juntamente com o plano da pureza [...]
O mundo é administrável e exige ser administrado, já que tem sido refeito na
medida da compreensão humana [...]. (BAUMAN, 2005, p.29)
A postura é uma predisposição do sujeito para sentir/
perceber, pensar, valorar e agir de determinada forma. É uma
atitude frente a realidade, que revela a maneira de ser, a
concepção de fundo, corresponde também a uma questão de
enraizamento de certas intenções. Compreende componentes
cognitivos, afetivos e comportamentais.
Demonstrado que a pequena planta do Paraíso não pode crescer desregradamente,
mas precisa de muitos cuidados, resta ver quem deve assumir essa
responsabilidade. Ela cabe, naturalmente, aos pais, que, tendo sido autores da vida,
devem ser autores também da vida intelectual, moral e religiosa [...]. (COMENIUS,
1997, p.83)
No 26º Aniversário da nossa Escola João Goulart, foram
feitas pesquisas e estudos para os alunos conhecerem mais ainda o
espaço escolar, também foi retomado as regras e combinações
feitas em Assembléia com toda a escola, importância para um
espaço de união e de amizade. O Pré Conselho Participativo é uma
conquista que une as famílias num momento de reflexão do que
está bom e o que precisa ser revisto. Importantíssimo para os
alunos (as), professores (as) e familiares num momento dialético
para reflexão sobre a ação.
Na Semana da Valorização da Vida em abril de 2010, tivemos a
presença do professor Selmiro Wolfarth. Os alunos iniciaram uma busca
de conhecimentos sobre o seu corpo, o que é saudável para o corpo e a
mente. Alimentação saudável, frutas, brincar, higiene e também o lado
da união, amizade, respeito com os professores (as), colegas, pais e
todos que fazem parte da sua vida. Demonstrando com situações
concretas os malefícios de um corpo descuidado. A mente também para
ser saudável precisa manter ótimas amizades, pensamentos sadios,
brincar muito, ser amigo, dormir bem e principalmente cultivar o amor
no coração. Nesta semana foram concretizadas na família, na escola e
na comunidade mediações de resgate de valores e reflexão sobre
atitudes individuais e coletivas. Aquilo que está lá no alto, por uma
complexa teia de relações, tem a ver conosco. Neste contexto é que
entra a esperança e a mudança: os educadores fazem parte desta
mediação, embora constitua um coletivo limitado, sendo que o
“sistema” ainda tem nos usado para se “realizar”.
Durante a Assembléia Geral das Nações Unidas, no dia 20 de
Novembro de 1959, representantes de centenas de países aprovaram a
Declaração dos Direitos da Criança. Ela foi adaptada da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, porém, voltada para as crianças.
1- Todas as crianças são iguais e têm os mesmo direitos, não importa sua
cor, raça, sexo, religião, origem social ou nacionalidade. 2- Todas as
crianças devem ser protegidas pela família, pela sociedade e pelo Estado,
para que possa se desenvolver física e intelectualmente. 3- Todas as
crianças têm direito a um nome e a uma nacionalidade. 4- Todas as
crianças têm direito a alimentação e ao atendimento médico, antes e
depois do seu nascimento. Esse direito também se aplica à sua mãe 5- As
crianças portadoras de dificuldades especiais, físicas ou mentais, têm o
direito a educação e cuidados especiais. 6- Todas as crianças têm direito
ao amor e à compreensão dos pais e da sociedade. 7- Todas as crianças
têm direito à educação gratuita e ao lazer 8- Todas as crianças têm
direito de ser socorrida em primeiro lugar em caso de acidentes ou
catástrofes. 9- Todas as crianças devem ser protegidas contra o
abandono e a exploração no trabalho. 10- Todas as crianças têm o direito
de crescer em ambiente de solidariedade, compreensão, amizade e
justiça entre os povos.
Do “EU” de cada um, sua família, a escola, as
combinações para vivermos em grupo e termos relações
saudáveis, partimos para outro contexto. O “EU” criança e suas
características nos mais variados contextos, mesmo que sempre
estávamos focados na criança fomos a campo conhecer a vida de
crianças que vivem numa cultura completamente diferente da
nossa. Fomos num passeio de estudos no Museu do Índio, pedi
para a orientadora do museu previamente destacar mais a
criança índio (a), como vivem nos locais que ainda existem as
reservas indígenas de uma forma bem pura, sem interferência
do homem branco e da criança índio (a) que não vive em
reservas, mas sim nas cidades grandes tentando uma vida digna
como todo o ser humano tem direito. O nosso interesse pelas
crianças indígenas fez com que descobríssemos que os pais indígenas
ensinam as tarefas desde pequenos e também fazem brinquedos
extraídos da natureza, como bichinhos de madeira, pinturas extraídas de
plantas, colares de sementes e de ossos. Descobrimos que o índio
preserva muito a natureza e só usa o que vai realmente necessitar, não
armazenando lixo. As crianças indígenas dão muito valor ao que o
adulto fala e eles no final do dia se reúnem para cantar e dançar,
fazendo uma reflexão do seu dia. Os avós contam histórias como nós
para as crianças e elas vão para a escola, aprendem a sua língua
indígena e a língua Portuguesa.
O índio que vive nas grandes cidades já não possui a
mesma sorte, tem uma vida difícil, sem ter casa para morar, vivendo
de confecção e venda de artesanatos, uma vida muito marginalizada e
o mais triste, sem poder conviver e ser feliz com sua cultura de que
tanto dão valor.
A sociedade brasileira caracteriza-se por uma
pluralidade étnica, sendo este produto de um processo
histórico. Um país inegavelmente miscigenado. As diferenças
se acentuaram, levando à formação de uma hierarquia de
classes que deixa evidentes à distância e o prestígio social. Os
índios e, em especial, os negros permaneceram em situação
de desigualdade situando-se na marginalidade e exclusão
social, compreendida por uma relação assimétrica em
dimensões múltiplas: econômica, política, cultural. Sem a
assistência devida dos órgãos responsáveis, os sujeitos
tornam - se alheios ao exercício da cidadania.
Fazendo uma ligação com este assunto os alunos
assistiram um documentário “Crianças Invisíveis” somente duas
partes, Bilu e João, duas crianças que moram em São Paulo, não
freqüentam a escola e são catadoras de lixo. O assunto do filme
é como estas crianças trabalham e são exploradas pelos adultos.
No Brasil muitas crianças catam lixo o dia inteiro, nas sinaleiras
pedem esmolas, vendem balas para ajudar no sustento da
família. Também crianças que vivem no Continente africano,
guerreando como adultos, sem poderem ser crianças,
freqüentarem uma escola e ou saberem o que é brincar.
Assistimos também “Pinóquio 3000” filme que trata
da criança que mente que não quer ir à escola e que não
obedece aos adultos ou não os tem como referencia. A Criança
precisa ser amada pelos adultos, protegida, garantir a
alimentação, higiene, amor e também saber respeitar e amar as
pessoas escutando os adultos como as crianças índios para
sempre serem felizes e possuírem uma referencia adulta e
positiva.
Enfatizando os direitos das crianças no mês de maio aconteceu
também a Semana das Mães na Escola em nossa turma, foi maravilhoso.
As mães puderam vir compartilhar com seus filhos (as) e com os
colegas deles suas habilidades e também participar um pouco do
cotidiano escolar de seus filhos (as). As mães foram muito especiais,
todas elas nos surpreenderam pelo carinho, pelo esforço de fazer algo
interessante para os alunos. Menino e menina entenderam que podem
fazer as mesmas coisas, que existem diferenças físicas entre as
meninas e meninos, como existem diferenças entre todas as pessoas,
depois da vinda das mães, abordamos a questão do gênero.
A partir da construção de conhecimentos do ser
criança, da necessidade que a criança tem de viver como
criança, brincar, ter um lar, ser protegida e amada fizemos
uma pesquisa com a turma: Como é ser criança?
Como é ser CRIANÇA?
A pesquisa a seguir foi realizada com 44 crianças, que aleatoriamente
deram 34 respostas, conforme abaixo:
Outras respostas
34%
Brincar
27%
Ser feliz
5%
Ir na escola
5%
Estudar
14%
Legal
6%
Ter amigos
9%
Brincar
Estudar
Ter amigos
Legal
Ir na escola
Ser feliz
Outras respostas
Com isto, entrou a diversidade, que não somos iguais a
ninguém, que todos são diferentes e partimos para a questão da
discriminação racial, discriminação entre crianças com
deficiência física, mental ou intelectual. Com a história “Menina
bonita do laço de fita” e o “Patinho Feio” aprendemos que na
verdade somos multicoloridos, isto é, de várias raças misturadas,
que nossos antepassados podem ser índios, alguns de pele
branca podem ter descendência negra. Fizemos uma pergunta
aos pais se sabiam de sua descendência como tema de casa e no
outro dia foi conversado sobre as várias origens que cada pessoa
pode ter e muitas vezes nem sabe disto. Tem pessoas que
discriminam o negro e tem descentes negros na família. Como foi
a época da abolição da escravatura, 13 de maio, fizemos um
debate em sala de aula, com mapas, globo terrestre. Desde o
surgimento dos Europeus aqui no Brasil e que encontraram os
índios, que eram donos das terras e hoje vivem a margem,
vendendo artesanato nas sinaleiras para sobreviver e também a
busca dos negros africanos para trabalharem para os brancos.
O índio e o negro passaram as mais horríveis humilhações
como seres humanos e ainda sofrem. O negro ficou mais de
três séculos trabalhando, sendo escravo, maltratado pelos
brancos. Foi dada a liberdade a eles, mas também
simplesmente largaram eles sem dar terras, lugar para morar e
até os dias de hoje cotidianamente temos o desprazer de ver
pessoas desvalorizando o negro no trabalho, na sociedade, nas
instituições escolares. Este povo veio do continente africano.
Curiosos os alunos resolveram pesquisar onde é este lugar.
Em grupos pesquisaram sobre as comidas africanas, as roupas,
a dança, a música, a cultura, Como é um continente africano.
Composto de 53 países e nele 12 países falam a língua
portuguesa pôde se notar muito que dentro deste continente
existem riquezas desconhecidas por nós. As Pirâmides do
Egito, O Deserto do Saara, o maior deserto do mundo,
começamos a fazer ligação entre os animais Selvagens, a
África do Sul, local da COPA 2010.
Os alunos confeccionaram bonecos com colchetes, com
toda a diversidade possível e imaginável, com toda esta
criatividade, tiveram que apresentar seu boneco em forma de
teatrinho de marionetes, assim foi votado no boneco mais
interessante. Foram votados dois um menino e uma menina
para serem Mascotes da turma e todo final de semana um aluno
leva através de sorteio para casa e depois faz um desenho e um
relato, tipo um diário. No final serão juntados estes relatos e
montaremos um livro. “As memórias de Yuri e de Karina” Os
alunos que batizaram seus bonecos, deram a idade para eles. O
Yuri é negro e têm sete anos, Karina é branca e tem oito anos.
Os dois fazem aniversário em maio. Confeccionados de pano
pela mãe Márcia, estudante de magistério, voluntária da escola.
No projeto “SER CRIANÇA” foi contemplado com a
presença da artista plástica Raquel da Silva, deficiente auditiva que
fez uma exposição e iniciou a pintura de um quadro. Sua mãe
Bernadete conversou conosco sobre o exemplo de superação de
vida da artista Raquel. Órfão de pai e mãe, adotada pela Bernadete
e seu José. A presença da coordenadora da Mídia e Educação da
Prefeitura Municipal Maria Ester neste dia também através de uma
história “Tanto, Tanto” explorou a questão da igualdade entre as
pessoas e com todas as diversidades que existem no mundo, é
importante vivenciarmos o amor, a amizade, o respeito entre as
pessoas. Juntamente fizemos a apresentação oficial do Yuri e
Karina criados por dois alunos e através do voto eleitos mascotes
da nossa turma. Foi feita uma homenagem para a Márcia que
confeccionou e para os alunos criadores dos bonecos, Diego e
Maria Clara. Os familiares também foram convidados a partir das
10h para apreciarem a exposição. Foi uma manhã prazerosa, com
muito conhecimento e cidadania.
O cotidiano escolar deve apresentar um ambiente de
solidariedade entre todos, envolvendo os alunos a todo o tipo de
diversidade tornando um ambiente natural, sem preconceitos, um
trabalho lento, mas acredito estar tendo relevantes avanços, pois estamos
lidando com crianças em processo de desenvolvimento emocional,
cognitivo e social, que podem incorporar mais facilmente as mensagens
com conteúdos colaborativos e de igualdade em suas relações sociais e
consolidar a união de todos. A escola tem uma grande responsabilidade,
tanto de poder ser um espaço de disseminação quanto um meio eficaz de
prevenção e diminuição do preconceito.
Todos estes acontecimentos vivenciados por nós nos fizeram
entender que os saberes estão envolvidos em uma época da história, com
uma forma de pensar, agir e necessidades individuais e coletivas, isto faz
com que os saberes sempre resultam em uma ação social e o
conhecimento é o maior meio de democratização, cidadania e igualdade
entre as pessoas e na construção de um mundo cada vez mais justo.
Referências Bibliográficas:
BAUMAN, Zygmunt. Vidas Desperdiçadas. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
CURY, Augusto. Pais brilhantes, professores
fasciantes. São Paulo:sextante, 2003.
COMENIUS. Didática Magna. São Paulo: Martins
Fontes, 1997.
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