Luísa Schmidt Crise Energética e Problemas Sociais Projecto: PNAEE – Eficiência Energética e Comportamentos sociais (ICS-UL, APAP, APODEMO, Quercus) Luisa Schmidt - Crise energética e problemas sociais Problema energético = Problema Social Porquê? - As políticas energéticas requerem alterações drásticas nos hábitos de consumo - Os hábitos de consumo não são um fenómeno linear nem simples: a) Têm antecedentes que os determinam profundamente b) Organizam-se segundo representações sociais tenazes c) Fazem-no de forma socialmente muito diferenciada Luisa Schmidt - Crise energética e problemas sociais A eficácia de qualquer mudança nos consumos de energia depende dos recursos tecno-científicos disponíveis e também da capacidade social para os assumir Esta determinação social das políticas energéticas está presente à escala internacional, comunitária, nacional - Estudos internacionais regulares sobre eficiência energética e comportamentos sociais (ACEEE, EUA) - Estudos comunitários (ECEE, UE; DEFRA, UK) - Em Portugal, na sequência do PNAEE, reconheceuse a necessidade de desenvolver estudos neste âmbito (DR nrº 97 de 20/5/08; RCM 80/2008) Luisa Schmidt - Crise energética e problemas sociais Projecto: PNAEE - eficiência energética e comportamentos sociais Procedimentos: - análise comparativa de estudos internacionais - análise comparativa de inquéritos internacionais, europeus (Eurobarómetros) e nacionais - levantamento e análise de projectos escolares sobre educação para a energia e alterações climáticas Luisa Schmidt - Crise energética e problemas sociais Principais Resultados 1. Quanto às percepções gerais sobre energia: a) Incapacidade de conceptualizar a questão energética: - Ignora-se a dependência das energias fósseis; - Não se reconhece o peso dos transportes como consumidor; - Considera-se que cidadãos têm pouco impacto nos consumos b) Dificuldade em compreender a composição da factura: - Despesa com electricidade tem enorme peso na percepção dos gastos de energia (em detrimento da gasolina); - falta de consciência do gasto energético associado a rotinas domésticas (sobretudo electrodomésticos) e das emissões CO2 c) Relutância em vislumbrar a passagem à prática: - não entendem como se poderá poupar energia de forma simples; - esperam que as soluções passem pelo desenvolvimento tecnológico, e não pela mudança social e individual Luisa Schmidt - Crise energética e problemas sociais 2. Quanto à informação e desinformação: a) Desinformação é generalizada e auto-reconhecida: - 51% gostaria de ter mais informação sobre como poupar energia; - 62% acha que a prioridade do Governo para se reduzir o consumo de energia, é facultar mais informação (49% média UE) b) Os equívocos são constantes: - não pretendem alterar hábitos de consumo de energia e simultaneamente não estão preparados para pagar mais c) Desconfiança nas instituições oficiais e consequente descrédito nos incentivos fiscais: - confiam sobretudo nos cientistas (72%) e ONG (70%), na UE (57%), jornalistas (45%); e… instituições regionais/locais(43%) ; - desvalorizam políticas como os incentivos fiscais ou o controlo da aplicação dos padrões de eficiência energética, (face à média UE) Luisa Schmidt - Crise energética e problemas sociais 3. Quanto às práticas de consumo: - os agregados familiares menos favorecidos gastam menos energia, porém, é para estes que as despesas com energia têm maior peso no orçamento; - a tarifa eléctrica contratada por 68% das famílias é a simples, sendo o principal motivo indicado para não se usar outro contador o desconhecimento ou falta de informação; - a eficiência energética dos equipamentos no momento de compra conta muito menos do que para a média dos europeus; Luisa Schmidt - Crise energética e problemas sociais 4. Quanto à predisposição para a mudança: - dificultada pela inércia dos hábitos de consumo e pela falta de disponibilidade financeira a) Hábitos de consumo: - maior disponibilidade para reduzir consumo de energia a nível da iluminação e uso de electrodomésticos do que no uso do carro; - são os europeus que menos dizem ter tomado medidas para melhorar o desempenho energético das suas casas (9% para33%) b) Falta de disponibilidade financeira: - medidas que impliquem custos adicionais para o consumidor obtêm apoios consideravelmente baixos; - medidas compensatórias geram maior adesão (não concordam com o aumento de preços - apenas 11%) ; 86,3% concordariam com «compensações a quem consome menos energia»); Luisa Schmidt - Crise energética e problemas sociais 5. Quanto às percepções sobre tecnologias, mercado e futuro a) Desconfiança no Estado e nas suas medidas de incentivo: - as decisões sobre energia devem competir, sobretudo, à UE; - apenas 20% considera credível os «incentivos financeiros para aqueles que adquiram produtos eficientes», (média UE é 47%); - preferem a manutenção de preços baixos ao consumidor; b) Reticências face ao uso de tecnologias das renováveis: - atitude positiva em relação ao gás natural e uma forte presença das barragens no imaginário nacional; - dúvidas em relação às renováveis, sobretudo pelo investimento elevado e por não as considerarem “totalmente fiáveis”. c) Incapacidade de perspectivar as questões energéticas: - elevados níveis de não-respostas em questões acerca do futuro; - quem não sabe hoje e não soube ontem, não consegue perceber o amanhã… Luisa Schmidt - Crise energética e problemas sociais Em síntese a. Nível de informação muito baixo e com equívocos - Necessidade de informar; comunicar pro-activamente b.Circunstâncias económicas adversas geradoras de indisponibilidade para a mudança - Necessidade de clarificar vantagens financeiras das medidas c.Dificuldade do tema energia (invisível, distante, inadequado) - Acções didácticas, baseadas em experiências directas e metodologias de acompanhamento de proximidade local d. Antecedentes desfavoráveis sobre energias renováveis - Estratégias de divulgação das energias renováveis aplicadas ao sector doméstico; credibilizar as tecnologias e os seus agentes Luisa Schmidt - Crise energética e problemas sociais Em síntese: d. Hábitos recentes de conforto pessoal - Ponderar cautelosamente as interferências com esses hábitos f. Falta de confiança nos interlocutores institucionais - Integrar acções de comunicação institucional de forma articulada e não contraditória, garantindo continuidade e consistência g. Cadeia de responsabilidade das entidades nas condições de mudança - Identificar para cada medida os agentes envolvidos na sua execução e criar as condições adequadas no terreno (infraestruturas, apoios, interlocutores) que levem à passagem à prática Luisa Schmidt - Crise energética e problemas sociais Em termos gerais: A dimensão social desempenha um papel central na análise e compreensão da situação energética, na construção de políticas e na programação de medidas: - tem a ver com os perfis cognitivos, ligando-se às dificuldades de conceptualização da energia - tem a ver com a mudança de hábitos de consumo, ligando-se às condições económicas e físicas inerentes às rotinas de consumo instaladas - os perfis cognitivos e as práticas de consumo diferenciam-se socialmente, segundo variáveis de classe etária, nível socio-económico, nível de instrução e contextos territoriais de residência Luisa Schmidt - Crise energética e problemas sociais Campos de intervenção estratégica: 1. Ao nível do Conhecimento Quadro geral de carência Dificuldade na representação da energia consumida Estereótipo negativo associado às renováveis 2. Ao nível da Condição económica Disponibilidade limitada para novas despesas Retracção face à suspeita de diminuição do conforto 3. Ao nível da estrutura de comunicação Reforçar a credibilidade e recuperar o valor da confiança Necessidade de considerar o quadro de diferenciações sociais nas abordagens comunicativas Efemeridade dos efeitos das campanhas publicitárias / nova cultura sobre o consumo energético (portas dentro e fora) Luisa Schmidt - Crise energética e problemas sociais Uma questão decisiva: a equidade - A crise energética vem acentuar as desigualdades sociais - A rapidez das mudanças torna o problema altamente sensível às tensões sociais - A percepção pública da equidade das medidas assenta em políticas estruturantes de transportes e de urbanismo, ou seja, numa política de mobilidade e uma politica de solos