DESEMPENHO CATARINENSE NA PISCICULTURA DE ÁGUA DOCE
2014
Epagri/Cedap: Fernando Soares Silveira, Oceanógrafo,
[email protected]; Fabiano Müller Silva, Engenheiro-agrônomo,
[email protected]; Epagri/Cepaf: Jorge de Matos Casaca,
Médico-veterinário, [email protected]
Produção mundial da pesca e da aquicultura
A pesca é a atividade que apenas captura organismos aquáticos na
natureza e, a aquicultura, é a atividade que cultiva organismos aquáticos
em confinamento. Até aproximadamente cinquenta, sessenta anos atrás,
praticamente toda proteína de origem aquática usada como alimento no
mundo vinha da pesca. A exceção eram os países asiáticos que já usavam
a aquicultura como forma de produzir alimentos há milênios,
sobremaneira, a China, onde criar peixes, por exemplo, é uma prática há
quatro mil anos. Outra exceção é o Egito, que cria peixes há
aproximadamente o mesmo tempo.
Atualmente, a aquicultura se difundiu por todo o planeta na produção de
pescados (peixes, moluscos, crustáceos, algas e outros). A China
continua a produzir organismos cultivados e atualmente é a maior
produtora do planeta, (além de ser a primeira na pesca também) e, o
Egito, se mantém como um dos grandes cultivadores, estando em 9º
lugar entre os quinze maiores países produtores. Nessa lista, o Brasil
aparece em 12º lugar, conforme a FAO 2014.
Dado o crescimento vertiginoso da população no mundo (hoje em 7.1
bilhões de pessoas), a produção de pescados oriundos apenas da pesca
começou a ficar insuficiente. Os números da captura não crescem há
vários anos, por mais que se aumente o “esforço de pesca”, representado
por mais barcos, mais homens, mais redes etc. Têm permanecido em
torno das 90 milhões de toneladas há vários anos, com pequenas
variações. O motivo principal dessa estagnação é a sobrepesca, isto é, a
captura em excesso, inclusive, de fêmeas ovadas e peixes fora do
tamanho mínimo. Os estoques não estão conseguindo se recompor e
muitas espécies até se extinguiram. Em 2012, últimos dados divulgados
pela FAO em 2014, as capturas chegaram a 91,3 milhões de toneladas.
No entanto, no caso da aquicultura, o crescimento vem aumentando a
passos largos. De 2007 até 2012, para exemplificar, a aquicultura
cresceu 33,46% buscando suprir a defasagem da pesca na oferta de
proteína animal. Para se perceber a importância desse alimento para o
ser humano, uma porção de peixe de 150g supre de 50 a 60% das
necessidades diárias de proteínas de um adulto!
Atualmente, a aquicultura representa quase a metade (42,17%) de todo o
pescado consumido no mundo, ficando a pesca extrativa com 57,82%
(Fonte: FAO 2014). Mesmo que a pesca seja a maior fonte proteica
aquática no momento, em futuro próximo os volumes obtidos na captura
deverão ser ultrapassados tendo em vista o ritmo de crescimento e a
sustentabilidade inerente à aquicultura.
Na Figura 1, abaixo, é mostrado como estão estruturadas as atividades
da aquicultura e da pesca, e como cada uma se compõe.
Figura 1 - Configuração da Aquicultura e da Pesca (Fonte: Epagri/Cedap)
A produção da piscicultura catarinense
Conforme o MPA (Ministério da Pesca e Aquicultura, 2014), Santa
Catarina figura entre os principais produtores de peixes de água doce do
Brasil por meio da aquicultura. Mesmo com uma área que representa
1,3% de todo o território brasileiro e tendo obstáculos naturais que
impedem um maior desenvolvimento da atividade, como terrenos
declivosos, altas montanhas e um inverno rigoroso, em 2013 a produção
catarinense de peixes alcançou 36.801 toneladas (Figura 2), resultado do
trabalho de seus 28.998 piscicultores.
Separando as produções por categoria, os 26.153 amadores produziram
14.377 toneladas de peixes (produção para lazer e ganho eventual) e, os
2.845 profissionais, produziram 22.423 toneladas. A maior produção por
um menor número de produtores profissionais se deve ao uso de
tecnologias de ponta. Grande parte dos produtores comerciais
catarinenses participaram de cursos profissionalizantes para aprender as
técnicas de produção e têm, ainda, assistência técnica disponível (Fonte:
Epagri/Cedap 2014).
Para obter os dados completos acesse www.epagri.sc.gov.br/
Informações
Técnicas/Aquicultura
e
Pesca/
Estatísticas
da
aquicultura/”planilhas com os dados de produção da piscicultura
catarinense 2013” ou pelo link http://www.epagri.sc.gov.br/?page_id=676
Figura 2 – Evolução da piscicultura catarinense mostrando a influência na produção de
peixes devido aos cursos profissionalizantes de piscicultura ministrados pela Epagri e a
disponibilidade de assistência técnica do Estado (Fonte: Epagri/Cedap/2014)
O mercado catarinense de peixes de água doce
Os principais mercados de peixes do Estado absorvem as seguintes
produções: indústrias - 30%; pesque-pagues - 50%, e o chamado
Mercado Local (feiras, restaurantes, peixarias, propriedade etc) os 20%
restantes (Figura 3). Esses percentuais são uma média estadual, pois
dependendo da região os valores são bem alterados. Existem regiões que
dão preferência às indústrias, outras aos pesque-pagues e, outras ainda,
ao mercado local, mas na média os pesque-pagues lideram a preferência.
Figura 3 – Resumo da Cadeia Produtiva mostrando as interações entre as necessidades
do piscicultor para produzir, os principais mercados existentes em Santa Catarina e o
destino da produção (Fonte: Epagri/Cedap 2014)
No entanto, existe a tendência de aumentar as entregas para as
indústrias em detrimento dos pesque-pagues, dado que muitos
produtores preferem ganhar menos e entregar toda a produção de uma só
vez. O motivo é que os pesque-pagues pagam mais pelo quilograma do
peixe, mas fazem encomendas parceladas, criando problemas de
mortalidade dos peixes a cada despesca e o aumento dos custos para o
fornecedor. Outro motivo é a dificuldade em vender para pesque-pagues,
tendo em vista que esses já têm seus fornecedores tradicionais,
dificultando a entrada de novos. Além do mais, existem somente 115
pesque-pagues em Santa Catarina, os quais não conseguem absorver
toda a produção. Isso obriga os produtores a buscar novos mercados nos
Estados vizinhos (Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo), com todos os
problemas de logística envolvidos.
Custos e lucros da piscicultura catarinense
São aproximadamente vinte espécies trabalhadas no Estado, onde as
principais são as tilápias (66,4% da produção) e as carpas, 25,3% (Figura
4). Grande parte das tilápias são produzidas em monocultivo arraçoado,
ou seja, só com ração, enquanto as carpas são mais trabalhadas em
policultivo (várias espécies juntas) integradas com outros animais, como
as aves ou os suínos. Nessa integração, o esterco dos animais serve
como fertilizante da água para incrementar o plâncton, alimento natural
de peixes filtradores. Em certas regiões, o sistema de integração é o
mais adotado.
Enquanto criar peixes apenas com ração tem um alto custo de produção
em Santa Catarina (± R$ 3,25/kg), o policultivo integrado tem um custo
bem reduzido (± R$ 1,49/kg). Mas a diferença aparece nos volumes de
produção obtidos e no tempo de cultivo: enquanto o monocultivo
arraçoado pode produzir em torno de 15 a 25 toneladas de tilápias em 6 a
8 meses, o policultivo integrado leva mais de um ano para produzir 4 a 6
toneladas, sendo uma opção para produtores menos capitalizados ou se a
ideia é obter um lucro maior. Para exemplificar: no oeste catarinense o
quilograma do peixe vendido em feiras de peixe vivo vale R$ 5,00. Se o
custo foi de R$ 1,49, sobram R$ 3,51 de lucro por cada quilograma
vendido! Multiplicando por uma produção de 4.000 kg (o mínimo
profissional), o lucro foi de R$ 14.040,00/ha na safra. Quem trabalha com
piscicultura familiar sabe que isso não é pouco. Principalmente se o
produtor tiver alguns hectares em produção.
Figura. 4 - Gráfico mostrando a distribuição percentual dos principais peixes produzidos
em Santa Catarina em 2013 (o jundiá está separado dos outros bagres para destacar a
recente importância que vêm adquirindo a partir de 2007). (Fonte: Epagri/Cedap 2014)
Uma das formas de cultivo que vem se firmando em todo o Estado é a
mistura das duas técnicas. Se usa o plâncton e a ração juntas como forma
de alimentar os peixes. Esse modelo de criação é mais intensificado do
que usar apenas o plâncton como alimento, mas com menor uso de ração
em relação ao monocultivo arraçoado. Normalmente é feito em policultivo
integrado e com o uso de aeradores (equipamentos elétricos flutuantes
para colocar mais oxigênio na água e/ou quebrar estratificações de
temperatura/químicas). A criação se inicia com a integração animal para
produzir o plâncton (ótimo alimento para peixes filtradores em
crescimento como as tilápias e as carpas) e se faz o uso da ração
somente no final do cultivo (últimos dois a três meses). Esta combinação
reduz drasticamente os custos de produção, de 30 a 35%, comparada ao
uso exclusivo de ração, e reduz o tempo de cultivo para 10 a 11 meses,
comparada ao uso exclusivo de plâncton.
Além do mais, a produtividade do sistema fica entre 09 e 17
toneladas/ha/ano, com custo médio de produção de R$ 2,25/kg. Nessa
forma de criar peixes, a tilápia é o peixe principal por estar em maiores
quantidades e, as carpas, as secundárias. Geralmente as tilápias menores
vão para as indústrias e as carpas e as tilápias maiores para os pesquepagues. O sucesso do modelo se mostrou tão eficaz que se espalhou por
diversas regiões, com tendências a crescer.
Se for aplicada uma média de R$ 3,80 por quilograma de peixe vendidos
apenas pelos 2.845 produtores profissionais catarinenses que foram
registrados no levantamento, a produção das 22 mil toneladas por eles
produzidas terá rendido aproximadamente R$ 83,6 milhões. O Estado
agradece!
Essas são as pisciculturas praticadas em Santa Catarina!
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Desempenho da Piscicultura Catarinense de água doce