UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
Por:
VIVIANE GRAÇA DA SILVA
ORIENTADOR:
Professora: Fabiane Muniz
RIO DE JANEIRO
Fevereiro de 2003
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
Por:
VIVIANE GRAÇA DA SILVA
Trabalho monográfico apresentado como
Requisito parcial para obtenção do Grau
de Especialista em Psicopedagogia.
RIO DE JANEIRO
Fevereiro de 2003
Agradeço a Deus e aos meus pais que
sempre estiveram presentes em minha
vida nesta caminhada, aos meus amigos
de trabalho e aos professores que muito
contribuíram para a chegada final.
Esta pesquisa é dedicada a minha
família, meus amigos, meus alunos e a
todos os professores que se preocupam
em formar cidadãos.
iii
“Excelente é o mestre, que ensinando
faz nascer no espírito do discípulo
um grande desejo de aprender”.
Fernando Sabino
Iv
RESUMO
Como já está estabelecido pela sociedade, o aprendizado escolar é um
dos meios fundamentais de progresso profissional e de ascensão social. Sabemos
que muitas são as pessoas que se encontram comprometidas com o aprendizado,
nos mais diversos graus e pelas mais variadas causas.
Num país aonde os índices de reprovação escolar chegam há limites
considerados injustificados, os distúrbios e dificuldades de aprendizagem constituem
um dos temas mais envolventes e significativos da atualidade, não abordando
apenas a problemática da criança que não aprende, mas todo um sistema que
envolve a família, a escola, profissionais de diversas áreas de atuação, que
procuram buscar respostas à pergunta: por que esta criança não aprende?
É muito importante que os professores conheçam e saibam identificar
estes distúrbios tanto em seus alunos como em si mesmos, em suas aulas, no
ambiente educacional e social escolar, ou ainda no meio social mais amplo em que
está inserida a escola.
Encontraremos nesta pesquisa algumas causas, conseqüências e alguns
fatores que interferem no desenvolvimento da aprendizagem levando a criança a
apresentar dificuldades.
É fundamental que o professor conheça a realidade de seus alunos para
que possa intervir de maneira consciente e responsável para o desenvolvimento
pleno de seus educandos.
V
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO------------------------------------------------------------------------------------------ 01
CAPÍTULO 1 – APRENDIZAGEM---------------------------------------------------------------------- 02
1.1- CONDIÇÕES NECESSÁRIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM-- 05
CAPÍTULO 2 – PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA ESCRITA------------------- 09
2.1 – O PROCESSO DE LEITURA------------------------------------------------------------- 11
CAPÍTULO 3 – OS DISTÚRBIOS E OUTRA CAUSAS RESPONSÁVEIS POR PROBLEMAS DE
LEITURA E ESCRITA E DE APRENDIZAGEM GERAL ----------------------------------------------------13
CAPÍTULO 4 – A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM--------17
4.1 – FATORES DO AMBIENTE FAMILIAR QUE INFLUENCIAM NO APARECIMENTO DE
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM---------------------------------------------------------------------21
4.2 – NÍVEL CULTURAL, EDUCACIONAL E SÓCIO-ECONÔMICO DA FAMÍLIA-------------23
CONCLUSÃO-------------------------------------------------------------------------------------------26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS--------------------------------------------------------------28
BIBLIOGRAFIAS RECOMENDADAS-----------------------------------------------------------30
ANEXOS-------------------------------------------------------------------------------------------------31
Vi
INTRODUÇÃO
Desde a colonização até os dias atuais nosso país tem passado por várias
transformações. E com a educação não é diferente. Infelizmente sabemos que há
uma grande desigualdade social e as classes menos favorecidas são as mais
sofridas, pois as crianças desde cedo necessitam trabalhar para ajudar os pais com
as despesas, principalmente na zona rural, onde há uma grande carência e um alto
número de analfabetos o que tem prejudicado e interferido no desenvolvimento do
aprendizado dos educandos.
Com intuito de compreender melhor os problemas os
quais interferem no aprendizado dessas crianças, temos como objetivo geral através
de
pesquisas bibliográficas de diversos autores, identificar as causas e
conseqüências dos fatores que interferem no desenvolvimento do aprendizado
escolar, principalmente nas crianças das classes menos favorecidas.
Há vários fatores que interferem no desenvolvimento do aprendizado das
crianças em nosso país, e um dos mais agravantes é a desigualdade social que
existe, pois a população mais carente busca vários meios para sobreviverem, muitas
famílias da zona rural são imigrantes que trabalham como caseiros, com gados e na
roça e não permanecem muito tempo no mesmo local. Com várias mudanças, as
crianças que chegam a freqüentar a escola, muitas vezes só tem acesso a esta com
idades avançadas e antes que se adaptem ao novo meio precisam se mudar.
Outro fator que também está relacionado às dificuldades é a
desestruturação familiar, pois a família é a base, é o primeiro grupo social que a
criança tem acesso. Porém, a realidade nos mostra que a cada dia é maior a
distância entre pais e escola. Os pais estão muito ausentes e uma grande parte são
analfabetos pois não tiveram acesso a uma escola, o que também prejudica muito,
pois sentem dificuldades de acompanhar o trabalho dos filhos e acabam se
afastando.
02
Há também a violência, o álcool, a falta de diálogo e a exploração do trabalho infantil,
pois no horário em que não estão na escola, estão trabalhando com carroça,
entregando leite ou em casa cuidando dos irmãos menores, ou na roça ajudando os
pais.
São crianças e adolescentes que tem uma grande experiência de vida,
pois desde cedo adquirem responsabilidades de adultos e não vivem as fases da
infância.
O único acesso ao mundo letrado que os alunos tem é a escola, pois em
casa não têm acesso a livros, jornais e revistas.
É uma realidade muito triste principalmente para nós educadores que
muitas vezes nos tornamos impotentes, porém acreditamos que podemos inverter
essa situação nos aperfeiçoando, pesquisando e buscando a cada dia novos
conhecimentos, os quais possam contribuir para o desenvolvimento de nossos
educandos principalmente os das classes menos favorecidas.
CAPÍTULO 1
APRENDIZAGEM
[...] as mudanças necessárias para enfrentar sobre bases novas a
alfabetização inicial não se resolvem com um novo método de ensino,
nem com novos testes de prontidão nem com novos materiais didáticos. É
preciso mudar os pontos por onde nós fazemos passar o eixo central das
nossas discussões. Temos uma imagem empobrecida da criança que
aprende: a reduzimos a um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão
que pega um instrumento para marcar e um aparelho fonador que emite
sons. Atrás disso há um sujeito cognoscente, alguém que pensa, que
constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu.
Emilia Ferreiro
A aprendizagem é possivelmente um dos processos mais importantes do
comportamento humano. Pode-se afirmar que praticamente tudo que o ser humano
faz, pensa e percebe é aprendido. Aprendemos o que comer e beber, como nos
abrigar e vestir, como falar e agir. Aprendemos nossos papéis sociais, nossos
preconceitos, valores e atitudes. Aprendemos a aprender.
O ato de aprender, ou “aprendizagem” é algo extremamente complexo,
que começa desde o nascimento e, talvez mesmo, na vida intra-uterina.
Pierre Weil (1988 p.100) diz que: “Aprendizagem é, em geral. Definida
como sendo o processo de integração e de adaptação do ser humano no seu
ambiente”.
Uma vez que este meio ambiente não é estático, mas está em constante
mudança, aprendemos a nos modificar constantemente também.
04
A criança não tem meios de sobreviver sozinha no início da vida, o passar
do tempo e a maturação física somente não são suficientes. É necessário que sua
estrutura cognitiva se desenvolva e se modifique constantemente em resposta às
crescentes complexidades do meio, ajustando sua capacidade de responder a elas.
Este processo é chamado de aprendizado e pode ser definido como modificações
nos estilos de resposta em função dos efeitos da experiência.
Alguns autores definem aprendizagem como sendo a aquisição de novos
comportamentos. Porém para Schmitz (1982 p. 53) “Aprendizagem é um processo
de aquisição e assimilação, mais ou menos consciente, de novos padrões e novas
formas de perceber, ser, pensar e agir”.
O termo comportamento geralmente é reduzido a algo exterior e
observável, exclui-se dela o que tem de mais essencial: a consciência, a formação
de novos valores, disposições e formas interiores de pensar, ser e sentir que se
exteriorizam apenas em algumas atitudes e ações, mas nem sempre são
imediatamente observáveis.
Segundo Teixeira (1971 p.60); “Só se aprende para a vida quando não
somente se pode fazer a coisa de outro modo, mas também se quer fazer de outro
modo”. Para ele só esta aprendizagem interessa à vida e, portanto a escola, pois é
mais complexa do que a simples aprendizagem informativa.
Aprendizagem de acordo com Topczewski (2000, p.17) “É a capacidade e
a possibilidade que as pessoas têm para perceber, conhecer, compreender e reter
na memória as informações obtidas”.
Segundo este autor trata-se de um processo complexo que possibilita a
criação e o desenvolvimento de novos conhecimentos que leva à ampliação e ao
enriquecimento das experiências anteriormente vividas. É por meio do aprendizado
que se modifica o comportamento intelectual e social dos indivíduos.
É comum as pessoas restringirem o conceito de aprendizagem somente
aos fenômenos que ocorrem na escola, como resultado de ensino. Entretanto, como
05
podemos observar nas definições dos autores acima citados, o termo tem um sentido
mais amplo: abrange os hábitos que formamos, os aspectos de nossa vida afetiva e
a assimilação de valores culturais. Enfim, a aprendizagem se refere a aspectos
funcionais e resulta de toda estimulação ambiental recebida pelo indivíduo no
decorrer da vida. É o resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo já
maturo, que se expressa, diante de uma situação-problema, sob a forma de uma
mudança de comportamento em função da experiência.
A aprendizagem foi estudada, de modo experimental, tanto em animais
(sobretudo ratos e macacos) como em seres humanos. Destas experiências, foram
tirada uma série de conclusões práticas e de aplicação imediata no campo da
Pedagogia.
Uma das mais importantes, sem dúvida, é a de que a aprendizagem mais
eficiente se faz através da experiência pessoal, isto é, da atividade; aprende-se
melhor fazendo do que ouvindo.
1.1- CONDIÇÕES
NECESSÁRIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA
APRENDIZAGEM.
“A aprendizagem é o olho da mente”
Thomas Drake.
O aprendizado necessita de estruturas cerebrais íntegras, devidamente
maturadas, para que as funções específicas sejam elaboradas de modo adequado e
eficiente. A integridade dos componentes cerebrais é fundamental para que o
aprendizado se desenvolva; no entanto, somente isso não é suficiente, pois a
integração cerebral com várias outras áreas, por meio das redes neurais, tais como a
06
visual, auditiva e motora, é essencial e necessária para que o aprendizado se
processe com o sucesso esperado.
A aprendizagem é a capacidade e a possibilidade que as pessoas têm
para perceber, conhecer, compreender e reter na memória as informações obtidas. É
este o cortejo que leva à ampliação e ao enriquecimento das experiências
anteriormente vividas; trata-se de um processo complexo que possibilita a criação e
o desenvolvimento de novos conhecimentos. A aprendizagem é gradual, isto é,
vamos aprendendo pouco a pouco, durante toda a nossa vida. Portanto ela é um
processo constante, contínuo. Cada indivíduo tem seu ritmo próprio de
aprendizagem (ritmo biológico) que, aliado ao seu esquema próprio de ação, irá
constituir sua individualidade.
No processo ensino-aprendizagem há quatro elementos fundamentais:
·
Comunicador ou emissor - representado pelo professor ou pelas máquinas de
ensinar, como transmissores de informações ou agentes de conhecimentos.
·
Mensagem – que é o conteúdo educativo, a mensagem deve ser clara e precisa
para ser bem entendida.
·
Receptor da mensagem – que é o aluno, deve ser um recebedor crítico dos
conhecimentos e informações que lhe são transmitidos.
·
Meio ambiente – que é o meio escolar, familiar e social, onde se efetiva o
processo de ensino aprendizagem. O meio ambiente deve ser estimulador da
aprendizagem e, portanto, propício ao bom desenvolvimento do processo
educativo.
É muito importante o papel desses elementos no processo ensino-
aprendizagem. Se qualquer um deles falhar, haverá um obstáculo à comunicação, o
que poderá causar problemas de aprendizagem.
Segundo Rocha Drouet (2001 p.09), existem sete fatores fundamentais
para que a aprendizagem se efetive, seja qual for a teoria de aprendizagem
considerada: saúde física e mental, motivação, prévio domínio, maturação,
inteligência, concentração ou atenção, memória.
07
Brunner (1969), chamou de prontidão para a aprendizagem ao conjunto
de todos esses elementos.
Segundo Poppovic e Moraes (1996 p.5), “prontidão para alfabetização
significa ter um nível suficiente, sob determinados aspectos, para iniciar o processo
da função simbólica, que é a leitura, e sua transposição gráfica, que é a escrita”.
Rocha Drouet (2001 p.27), define prontidão como “um conjunto de
habilidades que a criança deverá desenvolver de modo a se tornar capaz de
executar determinadas atividades”.
De acordo com a autora a criança está pronta para aprender, quando ela
apresenta um conjunto de condições, capacidades, habilidades e aptidões
consideradas como pré-requisitos para o início de qualquer aprendizagem.
A prontidão para aprender já foi definida por vários autores. Todos
tentaram considerá-la como um nível suficiente de preparação para iniciar uma
aprendizagem, ou a capacidade específica para realizar determinada tarefa; as
diferenças individuais seriam, na realidade, diferenças na prontidão para aprender.
Porém, Emilia Ferreiro diz que as capacidades relacionadas à
discriminação visual e auditiva, à lateralidade, ao raciocínio lógico e à coordenação
motora são importantes para o desenvolvimento global das pessoas, mas não estão
diretamente relacionadas à aprendizagem da leitura e da escrita. Não são pré–
requisitos para aprender a ler e a escrever. Exemplo disso é que há crianças e
pessoas
adultas com um raciocínio lógico comprometido e que escrevem bem,
deficientes físicos com parcial ou total comprometimento da coordenação motora que
são leitores e escritores competentes, cegos e surdos que utilizam a língua escrita de
forma muito eficaz... E há também o inverso: adultos com excelente raciocínio lógico,
boa coordenação motora, boa lateralidade e que , a despeito disso, continuam
analfabetos. E há ainda muitos de nós, adultos, que nos atrapalhamos com a
lateralidade, sem que isso interfira absolutamente na nossa capacidade de ler e
escrever.
08
O desenvolvimento é, portanto, um processo contínuo e a educação, o
meio pelo qual o ser humano pode desenvolver integralmente sua capacidade
psicomotora, cognitiva, afetiva e social.
CAPÍTULO 2
PROCESSOS DE APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA
ESCRITA
“Se a criança não pode aprender da maneira que é
ensinada, é melhor ensiná-la da maneira que ela
pode aprender.”
Marion Welchmann.
Os processos de ensino e aprendizagem são processos diferentes e não
necessariamente coincidente: entretanto, ensinar é fazer aprender. Todo ensino que
não tem como resultado a aprendizagem não cumpre seu papel – por essa razão
sempre que não conquistarmos bons resultados em relação à aprendizagem dos
alunos, temos de analisar cuidadosamente a qualidade das nossas propostas de
ensino.
A
leitura
faz
parte
de
um
complexo
processo
lingüístico
de
desenvolvimento da linguagem. Este processo tem etapas bem definidas, que vão
avançando gradativamente. A leitura e a escrita representam as etapas superiores.
Os primeiros estímulos da linguagem que a criança recebe são auditivos, visuais,
táteis, olfativos e gustativos, portanto, estímulos sensoriais. Estes estímulos se
associam e formam a linguagem interna do indivíduo.
As aprendizagens de leitura e da escrita não são atividades isoladas,
fazem parte de um processo de desenvolvimento da linguagem, e suas dificuldades
se devem a uma deficiência qualquer na estruturação e na organização da
linguagem como um todo.
10
A alfabetização é um processo de construção de hipóteses sobre o
funcionamento e as regras de geração do sistema alfabético de escrita.
Só se pode compreender adequadamente a natureza e as características
de propostas de ensino alternativas às propostas convencionais, no interior de um
processo de discussão teórica sobre suas razões. E a razão primeira, que justifica
uma mudança radical nas práticas de alfabetização, é o conhecimento sobre os
processos de aprendizagem da leitura e da escrita. É porque hoje sabemos como
crianças, jovens e adultos aprendem, que não temos como fugir da responsabilidade
de transformar nossas formas de ensinar.
É o conhecimento sobre os processos de aprendizagem que renova o
nosso olhar e nos faz enxergar novas possibilidades de ensinar – possibilidades que
só podem ser compreendidas se o nosso olhar estiver iluminado por outra forma de
perceber as mesmas coisas.
Como vimos, a alfabetização é um processo de construção; por isso, a
estratégia necessária para o aluno se alfabetizar não é a memorização de sílabas,
pois ela não garante a compreensão das regras de geração e funcionamento do
sistema de escrita alfabético. Mas, a reflexão sobre a escrita. Isto quer dizer que o
sistema alfabético de escrita é um conteúdo complexo, e para compreendê-lo não
basta memorizar infinitas famílias silábicas, é preciso um processo sistemático de
reflexão sobre suas características e sobre seu funcionamento.
As idéias que os alunos constroem sobre a escrita (as hipóteses de
escrita) são erros construtivos ou seja, são erros necessários para que se aproximem
cada vez mais da escrita convencional. Embora sejam erros considerados
necessários, isso não quer dizer, de forma alguma, que o professor deva referendálos porque fazem parte do processo de aprendizagem, ou esperar que eles sejam
superados espontaneamente, de acordo com o “ritmo do aluno”. As hipóteses de
escrita superam-se umas às outras, em maior ou menor tempo, dependendo de
como o professor organiza as situações didáticas: o mais importante é planejar
intencionalmente o trabalho pedagógico, de forma a atender às necessidades de
aprendizagem dos alunos.
11
2.1 - O PROCESSO DE LEITURA
“Uma prática de leitura que não
desperte nem cultive o desejo de ler
não é uma prática pedagógica eficiente”.
Alberto Manguel
Não existe uma idade ideal para o aprendizado da leitura. Há crianças que
aprendem a ler muito cedo, em geral porque a leitura passa a ter tanta importância
para elas que não conseguem ficar sem saber.
A leitura é um processo de compreensão abrangente que envolve
aspectos sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, bem como
culturais e políticos. É a correspondência entre os sons e os sinais gráficos e a
compreensão do conceito ou idéia.
Tanto quanto a fala, a leitura não é um comportamento natural, mas um
processo adquirido a longo prazo e em certas circunstâncias de vida que determinam
o sucesso ou o fracasso da aprendizagem.
No texto “Para ensinar a ler” de Rosaura Soligo, ela diz que:
“Inúmeros especialistas em dificuldades de aprendizagem
afirmam que pouquíssimos adolescentes e crianças possuem
comprometimento cognitivo real, ou seja, não são capazes de
aprender os conteúdos escolares como os outros. Então, se a
esmagadora maioria das crianças pode aprender, é preciso
considerar que há um sério comprometimento nas práticas de
ensino; ou seja, a escola não está conseguindo cumprir seu mais
antigo papel: ensinar a ler e escrever. É preciso socializar cada vez
mais os conhecimentos disponíveis a respeito dos processos de
aprendizagem: quanto melhor o professor entender o processo de
construção do conhecimento, mais eficiente será seu trabalho.
Afinal, ensinar de fato é fazer aprender”.
(Rosaura soligo, texto extraído do PROFA, 2001 p. 55)
12
No processo inicial da leitura ocorre o que chamamos de decodificação, ou
seja, o envolvimento da discriminação visual dos símbolos impressos e a associação
entre a palavra impressa e o som.
Dois fatores determinam a leitura: o texto impresso, que é visto pelos
olhos, e aquilo que está “por trás” dos olhos: o conhecimento prévio do leitor.
Uma criança não alfabetizada pode ter as melhores informações a respeito
do assunto tratado em um texto, mas, mesmo assim, não será capaz de ler, pois não
dispõem dos recursos de decodificação necessários à leitura. Ela tem conhecimento
prévio, mas não é capaz de desvendar a informação captada pelos olhos.
O contrário também ocorre; às vezes o leitor domina perfeitamente a
linguagem escrita, mas, por falta de familiaridade com o assunto tratado, acaba não
conseguindo compreender o texto que tem diante dos olhos.
O conhecimento prévio necessário à leitura, no entanto, não se resume ao
conhecimento do assunto tratado pelo texto: envolve também o que se sabe acerca
da linguagem e da própria leitura.
A visão, o tato, a audição, o olfato e o gosto são referenciais elementais na
aquisição dos símbolos gráficos, pois essa leitura sensorial começa muito cedo em
nossa vida. Inicialmente a leitura do universo adulto que nos cerca quando ainda
somos bebês, e continuamos essa leitura por toda nossa vida.
Os alunos devem ver na leitura algo interessante e desafiador, uma
conquista capaz de dar autonomia e independência. E devem estar confiantes,
condição para enfrentar o desafio e “aprender fazendo”.
CAPÍTULO 3
OS DISTÚRBIOS E OUTRAS CAUSAS
RESPONSÁVEIS POR PROBLEMAS DE LEITURA E
ESCRITA E DE APRENDIZAGEM GERAL
“Fatos não deixam de existir
porque são ignorados”.
Willian Burroughs
Atualmente, o número de educandos com dificuldades de aprendizagem é
muito alto, principalmente nas redes públicas de ensino, onde existe a aprovação
automática e os ciclos de alfabetização, e que muitos professores ainda não
compreendem como se dá este processo.
Os maiores prejudicados são os educandos, que “passam de série”
mesmo sem estarem alfabetizados, e quando chegam ao 3º ano do ciclo, antiga 2ª
série ficam retidos por vários anos e são rotulados como “alunos problemático”, que
não tem mais jeito. Quantas vezes já ouvimos ou falamos algo desse tipo, e muitas
vezes, mesmo sem o conhecimento necessário, afirmamos que o aluno tem
“problema de cabeça”. Não procuramos entender o motivo pelo qual o educando não
consegue desenvolver a aprendizagem, quais as causas e como podemos intervir
para ajudar esses indivíduos que acabam se tornando excluído dentro da própria
sala de aula.
14
O sistema nervoso comanda todos os outros sistemas do nosso corpo.
Por esse motivo, ele interfere em várias atividades humanas, especialmente no
campo da aprendizagem.
Muitos distúrbios neurológicos podem atingir tanto crianças quanto
adultos, causando problemas de fala, de locomoção, de memória, do próprio
funcionamento do cérebro (raciocínio) etc. esses distúrbios prejudicam qualquer tipo
de aprendizagem.
De
acordo com Topczewski, (2000 p.18), “considera-se distúrbio do
aprendizado escolar como sendo um processo que interfere ou impede a evolução
adequada da criança nas diversas atividades escolares”. Por conta dessa
dificuldade, o aluno mantém-se defasado, se compará-lo com os outros colegas do
seu grupo. Deve-se salientar que o comprometimento do aprendizado pode estar
relacionado à defasagem no desenvolvimento da escrita, da leitura ou do raciocínio
matemático.
Tarnopol, (1981) diz que Para alguns médicos, psicólogos ou educadores,
distúrbios são problemas ou dificuldades no processo de ensino-aprendizagem. Isso
porque,
para esse grupo, “distúrbios são perturbações de origem biológica,
neurológica, intelectual, psicológica, sócio-econômica ou educacional, encontradas
em escolares, que podem tornar-se problemas para a aprendizagem dessas
crianças”.
Um segundo grupo, por sugestão de Kirk e Bateman, preferem reservar a
expressão distúrbios de aprendizagem apenas para aqueles casos de crianças com
dificuldade de aprendizagem de causas desconhecidas, uma vez que essas crianças
não apresentam defeitos físicos, sensoriais, emocionais ou intelectuais de espécie
alguma.
Segundo Lester e Muriel Tarnopol, que fizeram uma pesquisa mundial
sobre problemas de aprendizagem, em muitos países é grande a preocupação a
respeito dos distúrbios encontrados na aprendizagem da leitura e da escrita. Em
todos esses países existem crianças inteligentes que, no entanto, têm grande
15
dificuldade para aprender a ler ou a escrever, em uma situação de escolarização
normal.
Nessa pesquisa mundial, psicólogos, educadores e médicos de quase
todos os países acabaram por concordar que as principais causas desses distúrbios
podem
ser
classificadas
como
neurológicas,
algumas
vezes
genéticas,
possivelmente intensificadas por distúrbios emocionais secundários. Alguns
especialistas referiram-se ainda à privação cultural, devido ao status
sócio-
econômico inferior, como causas desses problemas de aprendizagem.
A psicóloga clínica escolar Sara Pain, em seu livro Diagnóstico e
tratamento dos problemas de aprendizagem, chama de problemas de aprendizagem
a todos os distúrbios psicopedagógicos
que interferem diretamente na
aprendizagem. Sara faz um estudo da patologia da aprendizagem como se
apresenta na escola e no consultório. Para isso leva em conta a análise de vários
fatores:
·
Fatores orgânicos e constitucionais da criança;
·
Fatores específicos, localizados principalmente na área
perceptivo-motora (visão, audição, coordenação motora);
·
Fatores psicógenos, que compreendem os fatores emocionais
e intelectuais;
·
Fatores ambientais, representados pelo lar, pela escola e pela
comunidade como um todo.
Como vimos, é difícil fazer uma classificação dos distúrbios que prejudicam
a aprendizagem, uma vez que não existe uma definição precisa do que seja um
distúrbio
de comportamento, nem o que seja um comportamento considerado
normal. Qualquer definição de mudança ou variação de um comportamento será
sempre relativa ao ambiente cultural, social e histórico que cerca o indivíduo.
16
Em geral as dificuldades de leitura e escrita conduzem a outras
dificuldades de aprendizagem. As crianças que não conseguem aprender a ler e a
escrever acabam por fracassar nas outras disciplinas escolares que implicam no
conhecimento da linguagem. Na vida prática não conseguem se orientar sozinhas,
pois não lêem sinais, avisos e advertências. Não se mantêm atualizados, pois não
são capazes de ler jornais, revistas, livros. Portanto, não se desenvolvem
intelectualmente, como poderiam, se lessem e escrevesse, além de não terem uma
realização social e emocional plena.
Muitas crianças falham ao tentar atingir um padrão adequado de
alfabetização. Muitas delas permanecem analfabetas, tornando-se não só um
problema escolar, mas, em longo prazo, um problema social. Essas crianças devem
ter um distúrbio de uma determinada origem que as impede de aprender. Esse
distúrbio deverá ser diagnosticado por um especialista. Cabe ao professor observar
as crianças, perceber aquelas que apresentam problemas de aprendizagem e
encaminhá-las ao especialista adequado para diagnóstico e tratamento.
CAPÍTULO 4
A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO PROCESSO
ENSINO-APRENDIZADO
(...) É preciso enxergar na diversidade não apenas os
pontos de fragilidade, mas também a riqueza das respostas
possíveis encontradas pelos grupos familiares, dentro de sua
cultura, para as suas necessidades e projetos.
Afonso & Figueiras
Desde Freud, família, e, em especial , a relação mãe-filho, tem aparecido
como referencial explicativo para o desenvolvimento emocional da criança. A
descoberta de que os anos iniciais de vida são cruciais para o desenvolvimento
emocional posterior focalizou a família como locus potencialmente produtor de
pessoas saudáveis, emocionalmente estáveis, felizes e equilibradas, ou como o
núcleo gerador de inseguranças, desequilíbrios e toda sorte de desvios de
comportamento.
Segundo Souza, (1985 p.16) “A família é o microcosmo, tudo que passou
no mundo externo tem sua origem primeira no grupo familiar”.
Entendemos que a família, célula mater da sociedade, pode ser enfocada
sob uma dupla ótica. Se vista pelo seu lado interno, refere-se ao indivíduo, sua
origem, desenvolvimento e crescimento que o tornam capaz de vir a ser participante
em sua sociedade. E este seria o lado externo da família voltado para o mundo à
sua volta.
18
Daí podermos inferir que a família é, ao mesmo tempo, origem e conseqüência da
influência de forças diversas, quer psicológicas como sociológicas, econômicas,
culturais e todas as outras que fazem parte do universo.
A compreensão deste microcosmo representado pela família deve buscar
a inter relação e o conhecimento de como tais forças se integram na realidade de
cada família, cada grupo social em um dado momento.
Uma grande parte dos distúrbios de comportamento reflete
o
desequilíbrio social e emocional das relações existentes na família.
A família é a primeira unidade com a qual a criança tem ( ou deveria ter)
contato contínuo e é também o primeiro contexto no qual se desenvolvem padrões
de socialização e problemas sociais.
Há uma estreita relação entre lar e escola, os distúrbios provenientes de
uma educação familiar mal orientada podem resultar em problemas de
aprendizagem.
A influência do lar como hábitat da criança e da família, assim como a
influência do meio social mais amplo, é muito grande, principalmente na primeira
infância e na adolescência. Estas são as fases criticas do desenvolvimento humano,
que sempre requerem um maior cuidado e atenção.
Quando se pretende refletir sobre o lugar da família na política social na
sociedade contemporânea é preciso ressaltar algumas premissas básicas: As
expectativas em relação à família estão, no imaginário coletivo, ainda impregnadas
de idealizações, das quais a chamada família nuclear é um dos símbolos. A maior
expectativa é de que ela produza cuidados, proteção, aprendizado dos afetos,
construção de identidade e vínculos relacionais de pertencimento , capazes de
promover melhor qualidade de vida a seus membros e efetiva inclusão social na
comunidade e sociedade em que vivem. No entanto, estas expectativas são
possibilidades, e não garantias. A família vive num dado contexto que pode ser
fortalecedor ou esfacelador de suas possibilidades e potencialidades.
19
É preciso olhar a família no seu movimento. Evitando a naturalização da
família, precisamos compreendê-la como grupo social cujos movimentos de
organização-desorganização-reorganização mantêm estreita relação com o contexto
sociocultural.
Desde tempos muito remotos a influência da família sempre foi
considerada como elemento fundamental no desenvolvimento do caráter do
indivíduo.
Carl Jung, (1981) dizia que: “a principal importância dessa influência
reside no fato de o lar e a vida familiar proporcionarem, através de seu ambiente
físico e social, as condições necessárias ao desenvolvimento da personalidade da
criança”.
Sabe-se que a família é a referência mais importante para a criança, a
qual se constitui no maior suporte para a sua segurança afetiva. Assim sendo, todos
os indicadores que são demonstrados à criança, sugerindo a possibilidade de algum
abalo na estrutura familiar, podem alterar o seu estado emocional e gerar resultados
negativos no aprendizado escolar.
No Brasil, nota-se perfeitamente esse fato. Os ambientes, nas diferentes
famílias, têm uma influência decisiva na formação da personalidade das crianças.
Com poucas exceções, a constituição desses lares é tradicional, conservadora
mesmo, nos usos e costumes de nossos antepassados. Geralmente o marido
desempenha o papel de chefe da família, mesmo nesta época de emancipação
feminina.
Do ponto de vista sócio-econômico geralmente a mulher que trabalha fora
do lar contribui com seu ordenado para aumentar a renda familiar, mais não assume
o papel principal na família, que ainda pertence ao homem.
Quanto ao aspecto emocional, a mulher ainda tende a desempenhar o
papel que sempre lhe coube: criar e cuidar bem dos filhos, orientá-los nos estudos e
prepará-los para a vida, além de cuidar do lar. Para a mulher que trabalha fora, tem
sido bastante difícil e desgastante conjugar os três papéis: o de dona-de-casa, o de
mãe de família e o de profissional.
20
Há de se lembrar, também, que os casos de violência (física, sexual,
psicológica) as doenças graves em membros da família, o alcoolismo, os conflitos
com os pais, o litígio entre estes, as desavenças com outros membros da família ou
outros fatores de instabilidade que ameaçam o equilíbrio familiar podem ser fatores
de interferência no desempenho escolar.
Devemos, ainda citar os modelos de família pouco estruturados ou os
modelos que “fogem” aos padrões habituais, como determinantes de instabilidade
emocional e de interferência no rendimento escolar. Outra circunstância que
determina grande ansiedade na criança é a exagerada expectativa, dos pais, em
relação ao seu desempenho no aprendizado. Muitos pais insistem na alfabetização
precoce, ignorando e desrespeitando o processo obrigatório de amadurecimento
neurológico do seu filho. Vale mencionar a desmotivação, por parte da criança para o
aprendizado, pelo sentimento de inferioridade gerado pela super proteção que os
pais lhe dispensam.
Em situação oposta, encontram-se pais que pouco participam da vida dos
filhos, ou até os rejeitam, pelos motivos mais variados. Portanto, os descompassos
familiares exercem uma forte influência no desempenho escolar da criança, levandoa ao insucesso.
A existência de dificuldades na adaptação social e ambiental interfere no
estado emocional da criança e a leva à defasagem no aprendizado escolar.
Dentro da família existem problemas que afetam direta ou indiretamente a
criança, refletindo-se no desempenho escolar. Neste caso, um trabalho conjunto
entre família e escola pode sem dúvida ajudar a criança a vencer as dificuldades.
21
4.1 FATORES DO AMBIENTE FAMILIAR QUE INFLUENCIAM NO
APARECIMENTO DE DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
“O processo de aprendizagem se desenvolve pela
incidência de certos estímulos de forma direta,
representa uma pressão do ambiente que rodeia o
organismo que aprende.”
Azcoaga, 1979
Uma grande parte dos problemas educacionais infantis continua a se
originar no lar. Os reflexos inerentes às dificuldades escolares interferem em várias
atividades cotidianas e podem comprometer as relações, sejam elas familiares,
sociais, culturais ou emocionais, do indivíduo.
Segundo Drouet, (2001 P. 208) “Independente do nível econômico da
família, a organização do lar tem influência na disciplina diária, nos horários, enfim na
rotina de vida dessa família”.
O clima amigável e de respeito mútuo é o ideal para o lar. As brigas e
discussões dão origem a perturbações emocionais, tanto nas crianças como nos
adultos. Do clima emocional que se estabelece em um lar, depende muito o
relacionamento entre pais e filhos. A harmonia do casal e o tratamento igual
dispensado a todos os filhos, sem privilegiar um ou outro, são elementos
fundamentais para a obtenção de um bom clima emocional.
Há crianças que se sentem incompreendidas pelos pais, por estes serem
muito severos, impondo-lhes castigos violentos ou submetendo-as a uma disciplina
rígida. Diante disso elas não se sentem amadas e tornam-se inseguras. Esta
insegurança reflete-se na aprendizagem e no seu rendimento escolar.
Filhos de pai ou mãe autoritários podem manifestar comportamentos
bastante diversos. Alguns submetem-se à tirania paterna ou materna, tornando-se
pessoas tímidas, apagadas, introvertidas, incapazes de reagir. Outros, ao contrário,
22
rebelam-se contra castigos e ordens dos pais e acabam por se indispor com a
família, chegando mesmo a abandonar o lar.
Quando, ao contrário, o pai é muito liberal, dando ampla liberdade aos
filhos, eles podem tornar-se voluntariosos, querendo que sempre prevaleça sua
vontade. Na escola, são aqueles alunos que perturbam o professor com suas
exigências e demonstrações de crianças mimadas. Principalmente os filhos únicos
costumam apresentar esses problemas. Tornam-se alunos desagradáveis para os
colegas e antipáticos aos professores.
É preciso que professores compreendam essas situações e evitem os
castigos drásticos e as repreensões violentas, pois em casos extremos essa atitude
pode gerar na criança distúrbios psíquicos extremamente negativos.
Segundo Hans Muller, a criança pode recorrer à fuga, que se manifesta
sob a forma de:
·
Agressão, quando a criança reage à violência dos adultos (fuga
para fora);
·
Isolamento, que é uma fuga para dentro de si mesmo;
·
Regressão, que é uma fuga para trás; a criança regride para
estágios mais atrasados de desenvolvimento, na fala e no
comportamento que se tornam infantis novamente.
Na escola, descarregam todas as suas tensões, apresentando-se como
alunos insubordinados e perturbadores da ordem. São revoltados, tanto na escola
como no trabalho.
As crianças passam a sofrer uma série de interferências negativas, nos
diversos ambientes que freqüentam; em várias ocasiões são rejeitadas pelos amigos
que as consideram menos capazes e menos inteligentes; o seu progresso escolar e
intelectual processa-se de modo ineficiente ou insuficiente, colocando-as em uma
23
posição de inferioridade; o somatório desses fatores interfere, de forma acentuada,
no seu estado emocional; uma vez comprometido o seu estado emocional,
manifestam-se as alterações comportamentais nas mais variadas formas.
4.2 - NÍVEL CULTURAL, EDUCACIONAL E
SÓCIO-ECONÔMICO DA FAMÍLIA
“Conseguir o que se quer é o sucesso, mas
querer o que se consegue é a felicidade”.
(autor desconhecido)
O nível cultural e educacional da família influi grandemente nos resultados
acadêmicos das crianças.
As diferenças individuais entre alunos, devidas à sua origem familiar, à sua
educação no lar e à sua própria personalidade, irão produzir resultados diferentes no
processo de ensino-aprendizagem. Uns terão total sucesso, até mesmo além das
expectativas dos professores. A maioria se manterá em um nível razoável de
aprendizagem, que lhes permitirá passar de ano e progredir nos estudos. Um outro
grupo terá muitas dificuldades e precisará vencer muitos obstáculos para conseguir
aprender.
Se a família for dedicada às artes e às letras, desde cedo as crianças
desenvolveram o gosto pela leitura, pelo teatro, pela pintura e por todas as formas do
belo. Se tiver tendência para Ciências Exatas ou Biológicas, as crianças irão para a
escola com boa base em Matemática e ciências.
Os pais que não tem instrução, ou cursaram apenas as quatro primeiras
séries do primeiro grau, ou são analfabetos, não podem oferecer esse currículo
oculto a seus filhos, mas podem ensinar-lhes conhecimentos práticos muito úteis.
24
Tanto os trabalhadores da zona rural como os operários das cidades costumam
transmitir suas técnicas ou seus conhecimentos artesanais a seus descendentes.
De acordo com Drouet (2001 p.211), “a esta soma de conhecimentos
adquiridos antes de a criança ingressar na escola de primeiro grau é que se chama
de capital cultural ou currículo oculto, fator de influência decisiva em sua futura
escolarização”.
Os hábitos de estudo e a valorização da escola são passados pela tradição
cultural de cada família. Essa tradição é muito valiosa. Isso porque, dependendo do
grau de importância que se dá à formação acadêmica, maior será o empenho dos
jovens em estudar, cursar uma universidade, conseguir uma profissão liberal,
aperfeiçoando-se cada vez mais. A educação é considerada por quase todas as
sociedades como elevador social por excelência.
Outro fator importante que exerce uma enorme influência no aparecimento
de problemas de aprendizagem é o nível sócio-econômico da família.
Graças às características individuais dos alunos, cada classe reúne um
grupo heterogêneo de pessoas, com peculiaridades próprias, que se diferenciam
umas das outras, apesar de pertencerem ao mesmo nível de adiantamento nos
estudos e à mesma escola.
Assim como os alunos são diferentes entre si, eles também provêm de
lares diferentes. Seus pais têm pensamentos, atitudes, modos de encarar a vida, a
escola e sobretudo a educação completamente diversas. Seu grau de instrução,
seus comportamentos e papéis sociais são diferentes, e eles ocupam diferentes
posições na sociedade.
Também os níveis de aspirações desses pais variam. Alguns colocam
objetivos muito altos para seus filhos: a universidade e as profissões liberais. Outros
são mais modestos, querem apenas que seu filho saia apto para iniciar-se em um
ofício prático ou em um emprego qualquer de escritório ou de fábrica. Todas essas
aspirações familiares se refletem no aluno, portanto indiretamente, os diferentes
objetivos das famílias irão se refletir no processo de ensino-aprendizagem.
25
A família que pertence à classe social alta, cuja posição é muito boa e
estável, terá todas as possibilidades de oferecer uma boa educação às crianças. Os
pais podem pagar os melhores colégios, organizar uma biblioteca particular para
seus filhos, proporcionar-lhes viagens e estudos complementares, colocando-os em
situação privilegiada junto a seus colegas. Na verdade dependerá também da
capacidade intelectual da criança, seu maior ou menor aproveitamento.
As crianças oriundas de famílias da classe média e da classe média baixa
são capazes de alcançar também altos níveis de desenvolvimento intelectual e de
ser muito bem sucedidas nos estudos. Sendo inteligentes, mesmo não contando com
os recursos já citados, poderão superar as dificuldades e conseguir atingir os
mesmos níveis das crianças pertencentes às classes mais altas.
Já as crianças que se originam das classes populares, de média baixa à
baixa, principalmente os da zona rural que na maioria das vezes não tem acesso a
uma instituição escolar, e quando conseguem ingressar em uma escola, inúmeras
são as dificuldades que os levam a desistir antes mesmos de concluírem a 4ª série
do ensino fundamental.
Essas crianças que se originam dessas classes populares, lutarão contra
inúmeras dificuldades educacionais. A ausência de currículo oculto, a freqüência a
escolas públicas, nem sempre tão eficientes no ensino quanto as particulares, além
da falta de oportunidades de leitura de bons livros, de viagens ilustrativas, de cursos
complementares ou mesmo de aulas particulares de reforço, são grandes entraves
ao seu pleno desenvolvimento.
Mesmo sendo inteligentes e estudiosos, essas crianças terão que
despender um esforço redobrado para alcançar as outras crianças mais adiantadas.
Alguns estudantes, no entanto, apesar dessas condições adversas, conseguem
destacar-se e ser bem sucedidos, chegando à universidade.
CONCLUSÃO
Concluímos através desta pesquisa,
a importância do conhecimento,
principalmente quando se refere à educação de nossas crianças. Infelizmente
sabemos que atualmente é muito grande o número de educandos que apresentam
dificuldades específicas de aprendizagem, e nós professores e pais por falta de
conhecimentos, falta de habilidades para ajudá-los a diminuir ou até mesmo superar
essas dificuldades, muitas vezes contribuímos para que essas crianças se tornem
mais um excluído, com baixa estima e sem estímulos para desenvolverem a
aprendizagem.
É necessário que todos se conscientizem que muitas são as causas que
contribuem para o aparecimento das dificuldades de aprendizagem, e que elas
podem aparecer em qualquer criança, independente do estrato social a que
pertença, sendo que, o meio ambiente no qual ela está inserida tem uma grande
influência em seu desenvolvimento.
Existem vários fatores que interferem na aprendizagem, porém um dos
mais importantes é a família, que atualmente estão muito desestruturadas, e a
maioria da nossa população são das classes menos favorecidas, por isso os pais
não tem tempo para acompanharem o desenvolvimento escolar dos filhos, pois
vivem em busca de trabalho para sobreviverem e muitas vezes as próprias crianças
trabalham para ajudar os pais.
Em condições habituais, todo o indivíduo tem possibilidades para o
aprendizado escolar, mas a abrangência e a velocidade são variáveis e podem ficar
aquém das expectativas dos pais, professores e da própria criança.
Como vimos é difícil fazer uma classificação dos distúrbios que prejudicam
a aprendizagem. Em geral as dificuldades de leitura e escrita conduzem a outras
dificuldades de aprendizagem.
27
Nós, professores e pais temos uma grande responsabilidade, pois se
identificarmos as causas que interferem no desenvolvimento da aprendizagem no
início e fizermos as intervenções necessárias, buscando soluções para que as
dificuldades sejam superadas, teremos um grande avanço no desenvolvimento
educacional em nosso país, e as conseqüências não serão tão agravantes como se
encontra atualmente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRUNER, S. Jerome. Uma nova teoria da aprendizagem. 2ª ed. Rio de Janeiro,
Bloch, 1969.
DROUET, Ruth Caribe da Rocha. Distúrbios da aprendizagem. São Paulo, editora
Ática, 2001.
PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem, Porto
Alegre, Artes Médicas, 1985
POPPOVIC, Ana Maria e GOLUBI, Genny de Moraes. Prontidão para
alfabetização; programa para o desenvolvimento de funções específicas. São
Paulo, Vetor. 1996
PROFA, Programa de formação de professores alfabetizadores. Ministério de
Educação, 2001.
SCHMITZ, E. F. Didática Moderna. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos,
1982.
SOUZA, Ana Maria Nunes de. A família e seu espaço: uma proposta de terapia
familiar. Rio de Janeiro; Agir, 1985.
TARNOPOL, Lester et. al. Distúrbios de leitura; uma perspectiva internacional.
São Paulo, Edart/Edusp, 1981.
29
TEIXEIRA, A. Pequena introdução à Filosofia da Educação. São Paulo, Nacional,
1971.
TOPCZEWSKI, Abram. Aprendizado e suas desabilidades: como lidar?. São
Paulo, Casa do Psicólogo, 2000.
WEIL, Pierre. A criança, o lar e a escola. Editora vozes – RJ, Petrópolis, 1988
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
BARBOSA, José Juvêncio,. Alfabetização e leitura, editora Cortez, 2ª ed. São
Paulo, 1994.
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e lingüística, editora Scipione. 9ª edição,
São Paulo, 1996.
CARRAHER, Terezinha Nunes. Aprender Pensando, contribuições da Psicologia
cognitiva para a educação. Ed. Vozes, 10ª edição.
CARVALHO, Maria do Carmo Brant de. A família contemporânea em debate. São
Paulo; Educ/Cortez, 2002
FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão, editora Artes médicas. Porto Alegre,
RS. 1ª ed, 1994.
JOSÉ, Elisabete da assunção e COELHO, Maria Teresa. Problemas de
Aprendizagem. Ed. Ática 12º edição, São Paulo, 2001
ANEXOS
Download

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM