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Na empresa
Ginástica Laboral garante um trabalho mais saudável
Paloma Oliveto - Correio Braziliense
11/05/2010 10:54
Além dos tradicionais e fundamentais alongamentos de tempos em tempos, ginástica laboral agora
inclui pilates, ioga e atividades ligadas à medicina tradicional chinesa como forma de melhorar a
saúde dos trabalhadores
Edílson Rodrigues/CB/D.A Press
Grupo de funcionários do Sabin em uma de suas paradas diárias para a ginástica laboral: empresa
também oferece academia e clube de corrida
Todos os anos, pelo menos 20 mil brasileiros são afastados do trabalho devido a doenças
ocupacionais. O boletim mais recente do Ministério da Previdência Social mostra que, de janeiro a
novembro de 2009, uma média de 8 mil benefícios foram concedidos, mensalmente, a vítimas de
doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, como artrites e tendinites. Só no ano
passado, os gastos do governo federal com os afastamentos ultrapassaram R$ 2 bilhões, sem contar
os danos econômicos das empresas. O mais prejudicado, porém, é o trabalhador, que, além de
incapacitado, sofre com as dores adquiridas no ambiente laboral.
As chamadas lesões por esforço repetitivo (LER) ou distúrbios osteomusculares relacionados ao
trabalho (Dort) podem ser prevenidos ou amenizados com a prática diária de movimentos que
compensam os danos provocados por algumas atividades, como ficar sentado por muito tempo,
digitar com frequência ou falar bastante ao telefone. Diversos estudos indicam que adotar a
ginástica laboral reduz em aproximadamente 80% a quantidade de faltas ao trabalho e que, a cada
dólar investido na prática, a empresa ganha três a mais, em aumento de produtividade.
Hoje, as atividades não se restringem a alongamentos tradicionais, que continuam importantes e
necessários para o fortalecimento e a reabilitação dos músculos, mas se somaram a outros
exercícios, como o pilates. “O nome ginástica laboral é mais comum. Porém, quando pensamos em
ginástica, lembramos de malhação, e esse não é o objetivo principal dos movimentos. Não
entendemos o procedimento como uma ginástica, mas como uma atenção para promover a saúde e
prevenir a doença”, explica o fisioterapeuta do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia
Ocupacional (Coffito) Wilen Heil.
Segundo o especialista, técnicas de liang gong (prática da medicina tradicional chinesa), da ioga, da
RPG (reeducação postural) e do pilates foram incorporadas aos tradicionais movimentos, trazendo
mais benefícios para a saúde do trabalhador. “As atividades são de acordo com a necessidade de
cada área. Adotamos a ergonomia com movimentos que visam fortalecer alguns músculos e também
podemos desenvolver, por exemplo, técnicas para a musculatura dos olhos, da face e do sistema
digestivo”, esclarece.
O educador físico Luís Carlos Pereira, que também trabalha com ginástica laboral, afirma que
outras atividades, como exercícios localizados, corrida e musculação devem ser oferecidas pelas
empresas como forma de prevenir as doenças osteomusculares. Ele coordena há oito anos o setor de
esportes do Laboratório Sabin, que tem um clube de corrida e uma academia para os funcionários, e
conta que os benefícios são evidentes. No ano passado, a empresa investiu R$ 5,1 milhões em
programas de promoção de bem-estar dos funcionários, e o resultado foi que o índice de
absenteísmo caiu de 5,7% por ano, em 2003, para 2,5%. Entre as pessoas que participam do clube
de corrida, 99% não faltaram ao trabalho no ano passado.
Todos os dias, Wanessa Maria Gomes, 29 anos, faz cinco minutos de ginástica laboral pela manhã e
à tarde. Ela trabalha na área de atendimento e costuma ficar longos períodos no computador. “Faz
muita diferença. Às vezes, você está com uma dorzinha, faz o exercício e logo passa. Me sinto mais
relaxada”, diz. Antes de trabalhar no laboratório, ela havia passado por outras empresas que não
ofereciam a prática e já chegou a ficar afastada devido a uma tendinite. Desde que começou a fazer
os exercícios, há dois anos, Wanessa nunca mais adoeceu. Ela conta que leva para casa o que
aprende durante a prática. “Quando minha filha está com alguma dor, eu já aplico algum
movimento. Também presto mais atenção à postura. Mesmo quando estou relaxada, no sofá,
procuro deixar a coluna reta”, diz.
Colega de Wanessa no Sabin, o auxiliar de enfermagem Luís Severo, 36 anos, faz coleta de sangue
e, por isso, pode ser alvo de dores lombares, já que fica em pé por muito tempo. “Com a ginástica,
porém, não sinto dores. Faço todos os dias, por cinco minutos, de manhã e à tarde. Você sente a
diferença porque trabalha com mais ânimo e disponibilidade”, garante.
Efeito psicológico
De acordo com o fisioterapeuta Wilen Heil, a ginástica laboral costuma provocar essa sensação de
ânimo não somente por causa da parte física, mas também da psicológica. “Ela mexe com a
autoestima, porque mostra a preocupação da empresa com os funcionários, além de ajudar a integrar
socialmente. O trabalho não é só no campo físico, mas também para prevenir doenças mentais,
como a depressão e a síndrome de Burnout”, diz. O preparador físico Luís Carlos Pereira concorda.
“Com essas atividades, os funcionários acabam se conhecendo e interagindo mais”, avalia.
Em relação ao organismo, Heil diz que os movimentos ajudam a aumentar a circulação sanguínea, o
que leva mais oxigênio aos músculos e tendões. Consequentemente, há menos acúmulo de ácido
láctico, melhorando a mobilidade e a flexibilidade das articulações e diminuindo as inflamações e
traumas. Ele explica que não há necessidade de realizar os exercícios por muito tempo. “Entre 10 e
15 minutos diários já é o suficiente.”
Técnica secular
A ginástica laboral surgiu na Polônia, em 1925, depois que operários começaram a reclamar por
melhores condições de saúde. “Com a revolução industrial, a tendência era tratar os funcionários
como máquinas, e isso foi bem retratado por Charlie Chaplin no filme Tempos modernos”, lembra o
fisioterapeuta Wilen Heil, do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito).
Quando foi adotada nas fábricas polonesas, a ginástica era mais uma pausa do trabalho do que
propriamente exercícios voltados à reabilitação e prevenção de lesões.
Três anos depois, o Japão adotou a prática, por meio da Rádio Taiso, até hoje popular no país. Tratase da realização de exercícios de aquecimento acompanhados por música, transmitida pela rádio.
Todas as manhãs, nas fábricas, os trabalhadores ouviam as músicas suaves da emissora
governamental NHKradio e acompanhavam o ritmo com movimentos leves de respiração e
alongamento de cabeça, tronco, braços e pernas.
No Brasil, já havia registros de exercícios físicos realizados por funcionários de fábricas em 1901,
mas a ginástica laboral só começou a ser praticada na década de 1960. Em 1973, as primeiras
diretrizes da atividade foram publicadas, com a adesão de empresas como o Banco do Brasil. Na
mesma década, foi introduzida no país a Rádio Taiso, que ainda atrai praticantes, principalmente nas
cidades onde há concentração de imigrantes japoneses. (PO)
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