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Ricardo de Oliveira
DESAFIOS, DISCUSSÕES E
PERSPECTIVAS
CRÔNICAS ACADÊMICAS
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Desafios, Discussões e Perspectivas - [organizado por] Ricardo de Oliveira –
Florianópolis, 2011.
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Ricardo de Oliveira
DESAFIOS E DISCURSSÕES
CRÔNICAS ACADÊMICAS
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Agradecimento
Ao FONAPER, que de forma calorosa abriu as portas que eu pudesse divulgar
os meus conhecimentos adquiridos.
Aos
PROFESSORES
(AS),
que
acompanharam-me
e
estão
me
acompanhando no processo educacional.
Ao meu amigo VALTER CARDOSO JUNIOR, que sempre me deu forças para
que eu continuasse caminhando e produzindo as minhas crônicas acadêmicas.
Aos meus FAMILIARES, que são à base de sustentação nos meu processo
acadêmico, e no meu processo de tornar-me uma pessoa cada vez mais
humana.
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Sumário
AGRADECIMENTO.............................................................................................4
INTRODUÇÃO.....................................................................................................7
1.
A
DIVERSIDADE
RELIGIOSA
NA
SOCIEDADE
COMTEMPORÂNEA...........................................................................................8
2. DIVERSIDADE CULTURAL RELIGIOSA DOS POVOS INDÍGENAS:
PILARES DA PRÁTICA DA ÉTICA DA ALTERIDADE....................................12
3.
DIVERSIDADE
RELIGIOSA:
ALÉM
DAS
MURALHAS
EDUCACIONAIS?............................................................................................15
4. DIVERSIDADE RELIGIOSA: O DESENCONTRO DO OUTRO: COMO SE
DÁ?....................................................................................................................19
5. DIVERSIDADE RELIGIOSA: UMA LUTA DO FONPER, LUTA DE
TODOS..............................................................................................................23
6. DIVERSIDADE RELIGIOSA E ENSINO RELIGIOSO: ÉTICA, MORAL E
ALTERIDADE....................................................................................................25
7. DIVERSIDADE RELIGIOSA E ESCOLA: COMO ESTABELECER UM
MOMENTO DE ACOLHIMENTO A DIVERSIDAE RELIGIOSA SEM SER
PROSÉLITO?....................................................................................................29
8. ENSINO RELIGIOSO: DA DIVERSIDADE Á UM ENSINO RELIGIOSO QUE
ABORDA POESIA, ÉTICA E POLÍTICA...........................................................33
9. ENSINO RELIGIOSO E LIBRAS: DESAFIO ESCOLAR..............................35
10. ESSÊNCIA DO ENSINO RELIGIOSO: UMA DISCUSSÃO DO SER
ANTROPOLÓGICO ATRAVÉZ DO FENÔMENO RELIGIOSO........................39
11. NUANCES DA DIVERSIDADE RELIGIOSA..............................................42
12. O PROFESSOR E SUA IDENTIDADE RELIGIOSA NO CONVÍVIO COM A
DIVERSIDADE..................................................................................................45
5
6
13.
POESIA NO ÂMBITO LITERÁRIO FOCADO NA DIVERSIDADE
RELIGIOSA NA PERSPECTIVA DO ENSINO RELIGIOSO............................49
14. REVOLUÇÃO EDUCACIONAL: A INTERDISCIPLINARIDADE PASSA
PELA COLETIVIDADE......................................................................................53
15. RITO DE PASSAGEM: “ADOLESCÊNCIA” – QUAL É O “OLHAR” DO
EDUCADOR DE ER PARA O “FENÔMENO ADOLESCÊNCIA”?..................57
16. SEBORANIA AMERICANA: DO TERRORISMO A UM POSSÍVEL
RESPEITO À DIVERSIDADE............................................................................61
17. LIBRAS
COMO COMPONENTE CURRICULAR
– INCLUSÃO E
EXCLUSÃO.......................................................................................................66
CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................73
6
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Introdução
Crônicas são um gênero literário, de tamanho reduzido, muito comum
em jornais e em revistas, onde numa breve reflexão do assunto abordado,
ganha relevância do cotidiano. Existe crônicas poéticas ou líricas, humorísticas,
ensaio, descritiva, narrativa, dissertativa, reflexiva, metafísica, jornalística,
historiográfica etc.
Em pesquisas para ver a existência de uma crônica acadêmica,
percebe-se que não há menção sobre quaisquer vestígios que possa ter da
existência dessas crônicas, até o presente momento. Conforme o a concepção
apresentada no inicio desta introdução, surgiu as CRÔNICAS ACADÊMICAS.
Esse tipo de crônica toma forma científica de reflexão de temáticas
relevantes que sejam atuais ou não, mas que possibilite um dialogo entre o
interlocutor (cronista acadêmico) e o seu leitor. Aproxima-se do formato de
artigo por conter estruturas semelhantes, mas tendo características próprias,
que o identifica como Crônica acadêmica.
Assim, este livro traz os desafios, discussões e perspectivas de temas
que entrelaçam-se, perpassando pela diversidade religiosa, libras, ensino
religioso, adolescência, o professor e sua identidade, poesia, ética, moram,
alteridade entre outros. A sociedade precisa destas discussões para ter nosso
olhar para o que está acontecendo, somente desta forma é que haverá a
construção de um mundo mais humanizado, que respeite a diversidade
presente no mundo, numa pluralidade de pensamentos e idéias, onde a
excusão passará a dá lugar para a inclusão.
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A DIVERSIDADE RELIGIOSA NA SOCIEDADE
COMTEMPORÂNEA
Se é outra noite mal dormida, não sei, só sei que vivemos em um mundo
contemporâneo onde ainda se espera que a diversidade religiosa seja
definitivamente respeitada e que os preconceitos e distanciamentos possam
cessarem em meio a grandes “turbulências” geradas por nos mesmos, os seres
humanos pensantes e ativos, por tanto, somos responsáveis por aquilo que
fazemos sendo uma ação que venha uma reação esperadamente boa ou não.
Viver com o diferente nunca foi fácil, porém, a grandes chances de
melhorarmos a nos mesmos e a esse quadro “deplorável” que se tornou a
nossa SOCIEDADE.
Historicamente, “a realidade sócio-cultural brasileira heterogênea e
diversificada, principalmente no campo religioso, começou a ser (re) conhecida
como
portadora
de
uma
rica
diversidade,
marcada
pela
luta
por
reconhecimento dos povos indígenas e afro-descendentes [...]” (OLIVEIRA1;
CECCHETTI2 2010, pg. 15).
Os indígenas e lutando para manter a sua
tradição, uma vez que a história conta e reconta à forma brusca com que os
Jesuítas tentaram plantar uma cultura cristã, como nos adultos isso já era mais
complexo, as crianças tornaram-se alvos para que toda a cultura cristã
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Lilian Blanck de Oliveira – Doutora em Teologia – Área: Educação e Religião. Pedagoga e
Especialista nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental e Educação Pré-Escolar. Docente no
Programa de Mestrado em Educação e Desenvolvimento Regional e no Curso de Ciências da
Religião – Licenciatura em Ensino Religioso da Fundação Universidade Regional de Blumenau
(FURB/SC). Líder do Grupo de Pesquisa: Ethos, Alteridade e Desenvolvimento (GPEAD).
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Mestre em Educação pela UFSC. Especialista em Fundamentos e Metodologias do Ensino
Religioso em Ciências da Religião pela FURB. Graduado em Ciências da Religião-Licenciatura
em ensino religioso pela FURB. Coordenador de Programas de Formação Continuada e responsável
pelo Ensino Religioso na Secretária de Educação de Santa Catarina (SED). Membro do Grupo
de Pesquisa: Ethos, Alteridade e Desenvolvimento (GPEAD/FURB). Coordenador do Fórum Nacional
Permanente de Ensino Religioso (FONAPER)
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pudesse ser inserida, deixando rastros de “crueldade”, “ignorância” e total
desrespeita para com a cultura do OUTRO.
Se com os índios já foi a “selvageria” dos homens que acabou uma
cultura religiosa intrínseca de um povo rico em suas tradições, com os afros
não seria diferente, a escravidão, a falta de importar-se com o OUTRO, fez
com que fossem privados de sua religiosidade, para por imposição, exigir que
se deixem de lado as crenças, para que a religião oficial (Cristianismo) pudesse
prevalecer numa época em que os homens, por natureza “animal”, viessem a
violar o direito do OUTRO. Imagino o quanto foi doloroso para os índios e
afros, pois, me imagino naquela época, ferozmente sendo arrancado de mim as
minhas crenças, valores e tradições em prol de uma imposição de “poderio”.
Hoje, discretamente, ainda acontece de modo que me deixa até sem palavras
para escrever tamanha atrocidade.
A diversidade na sociedade contemporânea, “não é mais suficiente
pensar sobre diferentes religiões, é necessário considerar como pensamos as
diferentes formas de religião” (SILVA3 2004, pg. 9). Quando pensarmos de
forma mais coerente na dimensão que é a realidade da palavra “COMO”,
daremos o primeiro passo, para se conseguir um respeito mutuo direcionada a
todas as raças, etnias, credos, visando uma sociedade mais justa e menos
pensante em si mesma. A idade contemporânea vem desde a revolução
francesa até os dias atuais e é neste contexto atual, que esta crônica vem
seguindo caminho, mas é preciso ver o lado da história para compreendermos
de certa forma, o porquê da diversidade religiosa ser tão discutida em
congressos e simpósios de ensino religioso.
Essas discussões, já na década de 1980, moviam a elaboração da nova
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional visando ser “o imperativo
intransferível de respeito e acolhida á diversidade religiosa no contexto social
[...]” (OLIVEIRA; CECCHETTI 2010, pg. 105), sabemos o quanto o
intransferível do dever ético de cada ser humano em respeitar e acolher a
diversidade religiosa na sociedade é importante para o progresso e processo
de uma cidadania mais equilibrada, isso não vejo acontecer na sociedade
3
Professora Doutora do Departamento de História/IFCH/UNICAMP
9
10
contemporânea, o que vejo é uma “renuncia do OUTRO”. E como acontece? E
porque acontece? Questionamentos para que se abra a mente humana em
tempos de guerra.
A renuncia do OUTRO é um fator a ser discutido numa outra crônica,
enquanto isso desafio a todos a pensarem numa resposta que possa me
auxiliar na elaboração de um novo texto, onde essas perguntas são
fundamentais para que possamos entender cada vez mais a diversidade
religioso em na sociedade. “Vivemos num mundo em contínuo e acelerado
processo de mudanças em todos os âmbitos da vida dos indivíduos e da
sociedade” (SENA4; CARNIATO5 2010, pg. 177). Afinal, o ser humano não
pode mudar assim como a sociedade? Sociedade é um conjunto de seres
humanos regido por normas e regras, então, a mudança pode acontecer
independente das normas e regras em que a sociedade impõe ao homem,
sabemos que essas regras e normas impedem do homem ter a liberdade, mas
sem elas, não saberíamos viver de forma pacificadora.
Mudanças existem para bagunças as estruturas econômicas, sociais,
religiosas de um sujeito, portanto, na sociedade contemporânea, as guerras, o
desrespeito, a acolhida da diversidade religiosa, embora seja em passos
curtos, tende a se modificar, chegando ao estado de vivencia pacifica e
eticamente cabível no conceito de SOCIEDADE. A luta ainda não acabou, hoje
se temos uma associação como o FONAPER, criado em 26 de setembro de
1995 e prestes a completar 16 anos, foi como muito esforço e dedicação em
favor da DIVERSIDADE RELIGIOSA na sociedade, do ENSINO RELIGIOSO
de qualidade e não de quantidade nas escolas publicas, onde hoje a educação
não mais supera as expectativa de um povo que tenta lutar contra o poder que
a cada dia leva um pouco do pouco que ainda lhe restam e, a que dá vazão a
mais desconfiança no essência (educação) para que se tenha condições mais
expressivas de se ir para frente...
4
Luzia M. de Oliveira Sena – Graduada em Teologia e Filosofia, mestranda em Ciências da Religião, pela
PUC-SP.
5
Mara Inês Cardniato – Graduada e Mestre em Teologia.
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Referencias
OLIVEIRA, Lilian Blanck de; CECCHETTI, Elcio. Direitos Humanos e
Diversidade Cultural Religiosa: Desafios e Perspectivas para a Formação
Docente. In FERREIRA, Lúcia de Fátima Guerra; ZENAIDE, Maria de Nazaré
Tavares; PEQUENO, Marconi (orgs). Direitos Humanos na educação
superior: Subsídios para a educação em direitos humanos na pedagogia,
2010.
OLIVEIRA, Lilian Blanck de; CECCHETTI, Elcio. Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Formação de Professores de Ensino Religioso. In
Diversidade religiosa e ensino religioso no Brasil: memórias, propostas e
desafios – Obra comemorativa aos 15 anos do FONAPER/ [Organizado por]
Adecir Pozzer et al. – São Leopoldo: Nova Harmonia, 2010.
SILVA, Eliane Moura da. Religião, Diversidade e Valores Culturais:
conceitos teóricos e a educação para cidadania. Revista de Estudos da
Religião,
N°2/
2004,
pp.
1-14.
Disponível
em
http:
pucsp.br/rever/rv2_2004/p_silva.pdf .
SENA, Oliveira M. Luzia de; CARNIATO, Inês Maria. Diálogo: Educação para
a Diversidade. In Diversidade religiosa e ensino religioso no Brasil:
memórias, propostas e desafios – Obra comemorativa aos 15 anos do
FONAPER/ [Organizado por] Adecir Pozzer et al. – São Leopoldo: Nova
Harmonia, 2010.
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DIVERSIDADE CULTURAL RELIGIOSA DOS POVOS
INDÍGENAS: PILARES DA PRÁTICA DA ÉTICA DA
ALTERIDADE
Quando penso em Diversidade Religiosa, faço uma construção histórica
no eixo temático: ”povos indígenas”, e como já é do meu fértil está atento as
notícias do FONAPER, não poderia deixar de escrever está crônica
homenageando a diversidade cultural religiosa dos povos indígenas que no dia
09 de agosto se celebrou a sua existência e suas ações benéficas para o
mundo. A ONU vendo que os povos indígenas têm na sociedade uma
importância institui em 1995 o “DIA INTERNACIONAL DOS POVOS
INDÍGENAS”. Sua cultura e tradição vêm historicamente deixando heranças de
muita luta, conhecimento e combate contra a discriminação.
Tradições ancestrais que permeiam os valores indígenas ensinando
para cada um de nos os valores que devem ser preservados e não
exterminados num mundo onde as coisas estão em constante transformação.
“Os povos e pessoas indígenas são livres e iguais a todos os demais povos e
indivíduos e têm o direito de não serem submetidos a nenhuma forma de
discriminação no exercício dos seus direitos” [...] (NAÇÕES UNIDAS 2008,
art.2, pg.6-7) assim como os islâmicos, judeus, afro-descendentes, os direitos
são parte integrante do cidadão e no caso dos indígenas, está pautado na
Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas6. Hoje
ainda podemos ver o quanto à intolerância vem tomando espaço, privando a
liberdade de expressão, de cultuar, de ter a própria identidade.
“A intolerância de qualquer natureza para com o Outro, gera a
discriminação, o preconceito, o conflito, a violência e a guerra” (SILVEIRA;
OLIVEIRA; KOCH; CECCHETTI, pg.6) E é assim desde os tempos remotos,
mais será que ainda dá tempo para que aja uma mudança nesse quadro
6
Na integra no site: www.fonaper.com.br
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contemporâneo? Tenho ainda que pequena, comigo, uma leve impressão de
que a transformação do mundo está acontecendo e que essa transformação
poderá surgir novas esperanças para que um dia possamos viver na
construção de uma paz, sem “recusa do OUTRO”, apenas o respeito e a
compreensão dos povos que tanto contribuíram e ainda contribuem para um
pensar de uma “nova teoria do conceito de sociedade”.
É a identidade que identifica o outro, pois é muitas vezes o rosto do
OUTRO que “o EU encontra a sua própria identificação” (Idem, ibidem, pg.6) e
ao encontrar essa identificação, encontra-se a “aproximação do OUTRO”, a
relação de respeito, de dialogo, dando lugar ao caminhar na mesma direção,
mesmo sendo diferente. A humanidade hoje é bastante pluralista, isso faz com
que ela seja rica em cultura, em beleza e em história de povos como os
indígenas, que pela proteção da TERRA, pela liberdade de expressão, dão
inúmeras razões para ao fim da jornada que não tem prazo de validade para
terminar, todos num só coro dizer que temos orgulho de ser quem somos, de
dizer parte do processo de construção de uma sociedade mais justa.
A ética tem princípios básicos da alteridade para se chegar ao
entendimento da diversidade cultural religiosa em especial aos dos povos
indígenas que é o tema desta crônica. Esses princípios estão alicerçados no
respeito para com o OUTRO, nessa dinâmica da prática que tentamos aos
menos exercer, percebemos que “o rosto do outro convoca, interpela e
convida”.
(Idem,
ibidem,
pg.6).
Convoca-nos
a
abandonarmos
nos
egocentrismos, interpela-nos para que o diálogo conduza ao falar com o outro,
ao invés de falar do outro e ai é que convida-nos a termos a “abertura da
prática da ética da alteridade”.
Devemos estar cientes, que para acolher e respeitar os povos indígenas
ou qualquer diversidade precisamos urgentemente de quatro pilares que
chamarei de “pilares da prática da ética da alteridade” que são 1) conhecer; 2)
aproximação do OUTRO; 3) ouvir e 4) dialogar. O CONHECER – Compreender
que sem o devido “conhecimento do outro”, não há como ter a aproximação do
outro e nem dialogar, uma vez que nem chega à outra pessoa ou respeitará se
não conhece a sua tradição, sua cultura, sua história, sua identidade. A
APROXIMAÇÃO DO OUTRO - Ato de iniciação de uma comunicação, é meio
13
14
caminho andado para que aconteça o ouvir. O OUVIR – Ato de deixar com que
o OUTRO fale da sua própria história. O DIALOGAR – É o último estágio para
entender o outro, sentir e viver o outro, construção de relação humana e
respeitosa, acolhedora, pacifica, valorização.
A partir desses quatro pilares, iremos “entender o sentido da vida a partir
das respostas elaboradas pelas tradições religiosas” (HOLANDA 2009, pg. 15),
pelos povos indígenas, sem proselitismo, sem dá vazão ao preconceito, a
discriminação e todas as formas “vulgares” de violência. “Os povos indígenas
têm direito a que a dignidade e a diversidade de suas culturas, tradições,
histórias e aspirações sejam devidamente refletidas [...]” (NAÇÕES UNIDAS
2008, art.15 par.1, pg.10) seja nas escolas públicas, seja nas associações,
organizações, enfim, na sociedade em geral.
Hoje, cabe-nos essa reflexão diante dos acontecimentos deste século
XXI, reflexão de como estamos deixando o nosso ego falar mais forte do que o
“importa-se com o OUTRO” para que não aja em tempos futuros a inexistência
dos povos indígenas, mas sim, a inclusão, a preservação da CULTURA, dos
VALORES, das TRADIÇÕES e, da ARTE de ser companhia existencial, para
que ganhe voz por ser presença para a humanidade.
Referencia
NAÇÕES UNIDAS. Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos
Povos Indígenas – Rio de Janeiro, 2008.
SILVEIRA, Godoy Maria Rosa; OLIVEIRA, Blanck Lilian de; KOCH – Riske,
Simone; CECCHETTI, Elcio. Diversidade Religiosa e Direitos Humanos.
(mímeo)
HOLANDA, Ribeiro Maria Ângela. Desafios e perspectivas da docência de
Ensino Religioso. Diálogo – Revista de Ensino Religioso, n.54. Ano XIV
mai/jun, 2009.
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Diversidade Religiosa: Além das Muralhas Educacionais?
As noites em que não dormimos, é o suficiente para escrevermos
crônicas com relevância, e a pergunta que não pude deixar de fazer e que
permeou toda uma discussão enriquecedora entre os acadêmicos do curso de
ciências da Religião e o educador dentro de uma proposta, instigado por Miguel
Arroyo em um dos seus textos intitulados de “O Subsolo comum de nossa
docência”, veio trazer a razão critica da minha pergunta e que por sinal,
também foi levantado na discussão em alguns momentos. Essa pergunta me
deixou bastante intrigado pelo fato de ser uma pergunta simples e ao mesmo
tempo desafiadora.
Diversidade Religiosa: Além das muralhas educacionais? Sabemos que
o ensino religioso é bem mais do que Alteridade, e que diversidade religiosa é
muito além do que variação de crenças, mas será que é tão complexo a ponto
de ultrapassar as muralhas da educação? E o que é Educação? É por ai que
caminharemos na perspectiva de que a diversidade religiosa, papel importante
na sociedade, possa de fato ir além dos âmbitos educacionais no qual estamos
acostumados a olharmos com os olhos do não complexo.
Esse olhar não complexo, no sentido de não enxergar além daquilo que
está ao nosso alcance, não nos possibilita ter uma visão total das coisas. Se a
diversidade religiosa é contemplada nas escolas, muitas vezes o meu mundo
limita-se somente as escolas e não para “fora das muralhas”. Para o professor
de outras áreas, mas irei me ater no profissional do ensino religioso, a
“sensibilidade” de perceber as diferenças fora do contexto escolar, é tão
importante, pois é esta cosmovisão que auxiliará o educado na compreensão
de que a complexibilidade da diversidade religiosa da escola em que atua, é
vaste no conceito em que ela aparece. Vejam! Para entender a diversidade na
sala de aula, é necessário entender a cultura daquela comunidade e, entender
a cultura da comunidade é entender a diversidade religiosa que carrega
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consigo na própria identidade dos educandos fortes vestígios de significados,
símbolos e comportamentos.
“A Educação é, como outras, uma fração do modo de vida dos grupos
sociais que criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em
sua sociedade.” (BRANDÃO 1995, pg. 10). A forma como cada educando na
sua diversidade cultural religiosa vive sua experiência dentro de um âmbito
educacional, é base para chegarmos à conclusão de que as invenções
humanas que criam e criam instrumentos de vivencias partir da sua cultura, dá
vazão para construir o conceito de “cultura da escola”. “A cultura da escola
compreende o cotidiano do estabelecimento de ensino, a multiplicidade de
sentido do qual ele é produto e produtor [...].” (SOUZA 2008, pg. 16). É nesse
processo que a diversidade religiosa encontra-se, os alunos produzem ao
mesmo tempo em que são produtores de “conhecimentos culturais” no
cotidiano que não permanece só na escola, mas que transporta-se para fora do
cotidiano escolar.
O educador deve ter bem claro essa dimensão processual de gerar
conhecimentos culturais das varias “fases da diversidade religiosa” fora, pois é
essas fases que a diversidade religiosa dá-se a conhecer a partir da sua
própria identidade e com isso o educador irá “reconhecer que todas as culturas,
embora internamente diversas, possuem saberes e valores próprios que
constituem fonte para o desenvolvimento humano” (Pozzer, Cecchetti, Koch
2009, pg.275) que transita dentro e fora das instituições em que ela faz
presente.
Nessa perspectiva, “sabemos, ou vamos aprendendo, que o que fica
para a vida, para o desenvolvimento humano são conhecimentos que
ensinamos [...]” (ARROYO 2009, pg.110) por que temos base e sensibilidade
para não deixarmos sermos meros “reprodutivistas do maçante método de
ensino” (repetição), mas sim um educador “diferente” no meio da diversidade
religiosa que escala as muralhas para não ser um mero “recapitulo” de um
conhecimento que não interfere nem mexe com a vida pessoal.” (WACHS
2010, pg.64), mas uma capítulo novo que influencia tanto o produtor quanto o
que produz e vice e versa.
Como um educador pode compreender a
16
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diversidade religiosa não do seu mundo multicolorido, mas fora dele se nem ao
menos “vivenciar o OUTRO”?
Cada dia estou me convencendo de que não adianta olhar somente para
o meu “eu”, mas para o meu “coletivo”. É o coletivo que vai dando possibilidade
para que “acreditemos que é importante que cada pessoa tome consciência e
assuma as tendências teóricas e saiba dialogar com a diversidade [...]”
(WACHS 2010, pg.65). O dialogo é ainda a melhor arte para ver a diversidade
além das muralhas educacionais, entretanto, nem sempre é uma arte fácil de
ser ministrada, mais com criatividade, coletividade, podem-se driblar as
“armadilhas do cotidiano escolar”.
A interdisciplinaridade é o dialogar com as outras áreas, vejo que pouco
acontece. Uma interação não só de aluno com educador, ou de educador para
com o aluno, ou de aluno para com aluno, mas de educador para educador,
onde o fato de chegar à sala dos professores e conversar não é integração,
mas sim, um dialogar superficial, isso não demonstra o essencial do dialogo,
assim, não há construção, não há vivencia, não há momentos onde pudesse
estabelecer um “dialogo de experiências” do que a diversidade religiosa é para
além das muralhas existentes, muitas vezes imaginarias, mas está lá, no
contexto da escola.
Para Rubem Alves, “o rosto do professor revelar ao aluno o segredo
do seu olhar” e que “os educadores pertencem a mesmo classe dos poetas e
dos artistas” (ALVES 2010, pp. 232,240). Não dá para negar que tudo isso é
uma mistura de conhecimento, valorização e didática em perceber que o
diferente não vive 24horas por dia num mundo escolar, mas que busca algo
mais quando se estar interagindo com o OUTRO, na sua participação
comunitária.
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Referencias
ALVES, Rubem. Do universo á jabuticaba/Rubem Alves. – São Paulo: Editora
Planeta do Brasil, 2010.
ARROYO, Miguel G. O Subsolo comum de nossa docência. In: Oficio de
Mestre: imagens e auto-imagens. Petrópolis: Vozes, 2009.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. 33 ed, São Paulo:
Brasiliense, 1995.
POZZER, Adecir, CECCHETTI, Elcio, KOCH – Riske, Simone. Ensino
Religioso em Santa Catarina: Exercícios na Perspectiva de uma Educação
Intercultural in: Cultura e diversidade religiosa na América Latina: pesquisas
e perspectivas pedagógicas/ Lilian Blanck de Oliveira (org.) - Blumenau:
Edifurb; São Leopoldo: Nova Harmonia, 2009.
SOUZA, Ana Maria Borges de. Organização escolar/ Ana Maria Borges de
Souza, Terezinha Maria Cardozo. – Florianópolis: UFSC/EAD/CEB/ CFM,
2008.
WACHS, Carlos Manfredo. A pessoa do professor e a religiosidade: conflitos e
praticas em sala de aula in: Ensino Religioso: religiosidades e práticas
educativas: VII Simpósio de Ensino Religioso da Faculdade EST e I Seminário
Estadual de Ensino Religioso do CONER/RS / [Organizado por] Manfredo
Carlos Wachs et al. – São Leopoldo: Sinodal/EST, 2010.
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Diversidade Religiosa: O Desencontro do Outro
Como e onde se dá?
A aula de libra foi fundamental para desmitificar muitas coisas a respeito
do que seria libras. É uma língua ou uma linguagem? Surdo Mudo ou Surdo?
Mas a temática desta crônica não é esta, mas sim a Diversidade Religiosa: O
Desencontro do Outro, tendo como subtítulo: como e onde se dá esse
desencontro. Da maioria das vezes a nossa intolerância gera desconforto para
o diferente que torna-se indiferente para o Outro. A condição de estar
indiferente, não dá vazão para que o Outro perceba o rosto do Outro pedindo
por compreensão e por respeito.
E a intolerância é o principio máxima da “recusa do Outro”,
impossibilitando a identificação do Outro, é “no rosto do Outro que o Eu
encontra a sua própria identificação.” (SILVEIRA; OLIVEIRA; RISKE-KOCH,
CECCHETTI 7p.6). È na dinâmica de tentar identificar o Outro como “espelho
da nossa face” que construímos o encontro, a convivência cotidiana com a
diversidade cultural religiosa. O Espelho da nossa face é muito mais do que
enxergar-nos no Outro como prática da alteridade, ela perpassa por nossa
valorização enquanto ser humano, que respeita a si mesmo.
O desencontro se dá na escola, quando não percebemos o Outro como
companheiros existenciais, nas Igrejas, na comunidade, em fim, na sociedade
capitalista e mundana que faz do Outro um ser cada vez mais dependente da
massa social e excludente de uma proposta de pensar por si mesmo, sendo
mais um (a) na mão da sociedade que manipula sem dá voz e nem vez. “É no
exercício do dialogo com o diferente que, o ser humano gesta a possibilidade
7
SILVEIRA, Rosa Maria Godoy; OLIVEIRA, Lilian Blanck; RISKE-KOCH, Simone;
CECCHETTI, Elcio. Diversidade Religiosa e Direitos Humanos (mímeo).
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20
de se flagrar também um diferente e um Outro, diante de alguém Outro”
(SILVEIRA; OLIVEIRA; RISKE-KOCH; CECCHETTI p.7).
Nessa perspectiva que precisamos caminharmos para que não aja um
desencontro, mais sim, um encontro do Outra que quebra os paradigmas ainda
existentes nesta sociedade contemporiza brasileira. Ser como o Outro é sinal
de respeito e de reverência para com a alteridade. Assim, não se extinguirá
toda e qualquer discriminação do Outro, construindo com o Outro uma relação
de transformadora de si mesmo e do meio onde está inserido (a).
O desencontro é fator excludente do Outro na medida em que não nos
percebemos como o Outro e não damos condições para que aja uma inclusão
dentro do contexto da sociedade. Caminhamos ainda como cegos na
escuridão, sem nos darmos conta de que o Outro é importante pra mim tanto
quanto sou importante para o Outro. Pensar que tolerar é simplesmente um ato
de inclusão, é ser totalmente equivocado(a) a respeito da diversidade religiosa.
O fato é que tolerar já não mais é suficiente, como não é suficiente “pensar
sobre diferentes religiões, é necessário considerar como pensarmos as
diferentes formas de religião”. (SILVA 82004, p. 9). E como pensarmos as
diferentes formas de religião? Uma pergunta pertinente, mas que temos que
refletir quando tratamos do desencontro do Outro na nossa convivência e
atitudes.
Um bom passo é quando deixamos de lado por um instante a nossa
identidade religiosa e nos colocamos no lugar de cada ser humano que
também possui sua identidade(s). O desencontro termina na “aproximidade do
Outro” e dessa aproximidade estabelece um dialogo entre as varias
experiências religiosas, respeitando a liberdade e a peculiaridade de cada
sujeito, deixando ele/ela ter sua voz e sua vez. “Pensar a diversidade em sua
multiplicidade de textos e contextos, presentes nas singularidades na
pluralidade [...], é pauta intransferível para todo é qualquer processo [...]”
(SILVEIRA; OLIVEIRA; RISKE-KOCH, p.9).
8
SILVA, Eliane Moura da. Religião, Diversidade e Valores Culturais: conceitos teóricos e a educação
para a Cidadania. Rever – Revista de Estudos da Religião. N° 2, 2004, pp.1-14.
20
21
E o processo se dá através do encontro e não do desencontro, através
da alteridade e não da intolerância ou indiferença, da valorização e inclusão e
não da desvalorização e da exclusão, do respeito e não do desrespeito, da
construção da paz e não de desconstrução dela, do conviver e não do
isolamento, do descobrir o lugar e não do (não) lugar da diversidade cultural
religião, da afirmação e não da negação. Ao afirmar que o Outro existe e é
patrimônio da humanidade, não deixamos espaços para a negação de que o
Outro não tem lugar na sociedade. E qual é o lugar da diversidade religiosa?
“[...] Reconhecendo que cada cultura tem em sua estruturação e em
sua manutenção o substrato religioso que a caracteriza, pelo qual se
fundamentam crenças,
comportamentos, atitudes, valores, símbolos e
referencias [...]” (CECCHETTI 92010, p.145) que rompem com o “daltonismo”
existente. “Daltonismo” é sinônimo de “legitimidade do preconceito”, ou seja, o
Eu sobressaindo o Outro que tenta se comunicar. A renúncia da existencial do
Outro é o daltonismo ditando as regras de exclusão. O preconceito é o
desencontro do Outro enquanto sujeito em busca da revelação do
Transcendente e da sua própria existência.
“O Outro é transcendente, mas o eu só pode responder na
imanência. Não há igualdade, mas diferença. O social se institui
na relação de cada um com sua diferença, porém, ao colocar-se
na relação com o rosto do Outro, o eu não pode afirmar sua
diferença, pois é a diferença do Outro que o constitui.”
10
(CECCHETTI 2008, p. 37)
Afirmar a diferença na convivência com o Outro abolindo o desencontro
que acontece em virtude da renúncia existencial do Outro, é ver-se na
diferença do Outro a sua própria diferença. É na diferença de cada ser humano
que encontra-se o Outro como ser transcendente. Não é mais cabível causar o
desencontro, uma vez que o rosto do Outro é que constitui a minha diferença
enquanto ser.
9
CECCHETTI, Elcio. O (não) lugar da diversidade religiosa na escola pública in: Ensino Religioso:
religiosidades e práticas educativas: VII Simpósio de Ensino Religioso da Faculdade EST e I Seminário
Estadual de Ensino Religioso do CONER/RS/ [Organizado por] Manfredo Carlos Wachs et al. – São
Leopoldo: Sinodal/EST, 2010.
10
CECCHETTI, Elcio. Diversidade Cultural Religiosa na Cultura da Escola. Programa de Pós Graduação
em Educação (Mestrado em Educação). Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2008.
21
22
Por isso é que devemos pensar em como enxergar-se no Outro como
um caminho de integração sociológico, antropológico, educacional e parte de si
mesmo. Somente dessa forma “destituiremos” o “daltonismo” que gera do
desencontro com o Outro que é a diversidade que faz da sociedade ser plural e
laica, embora não seja na prática.
Diante desta reflexão é que poderemos seguir mais adiante na
concepção muito mais humano e de encontro do que gerar desumanidade e
desconforto. Encontrar novas possibilidades de “envolvimento com a
convivência do Outro”, fazer com que o Outro seja parte integral da minha
participação na sociedade, na comunidade e no mundo, deixando-o ser quem
ele é e eu sendo para o Outro quem eu realmente sou.
Que oxalá, o Transcende, Allá, seja qual for o nome, ouça o canto do
diferente e veja o quanto é importante o Outro na construção de um mundo
melhor e que a sua existência é o motivo para derrubar o desencontro e
estabelecer de forma coerente o “encontro vivencial” na busca que todos nos
fazemos perante as indagações no qual “o ser humano desenvolve
conhecimentos que lhe possibilitam interagir no meio e em si próprio.”
(FONAPER 112009, p.31).
11
FONAPER. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Religioso/Fórum Nacional Permanente do
Ensino Religioso – São Paulo: Mundo Mirim, 2009.
22
23
5
Diversidade Religiosa: Uma luta do Fonaper, luta de todos.
Como podemos ver a luta do Fonaper (Fórum Nacional Permanente do
Ensino Religioso)? Como um marco histórico em nossa caminhada enquanto
professores de ensino religioso, enquanto estudantes de uma área de
conhecimento, enquanto ser humanos. Não podemos deixar de medir esforços
para que a diversidade religiosa seja diversificada nas escolas públicas, uma
vez que o conhecimento é cultural e, dessa cultura, nasce o “conhecimento
religioso”.
Lembrar que num país que se diz ser “laico”, deveria existir o respeito
pautado na alteridade, mas não é o que vemos acontecendo, na medida em
que tomamos consciência de que há outras realidades presentes na escola,
não podemos nos tornar “distantes”, “neutros” na presença do “outro”, ou seja,
não nos é possível olhar com os olhos da “indiferença” a diversidade religiosa.
A variedade de crenças é um patrimônio da humanidade que deve ser
contempladas nas instituições escolares, tendo o devido cuidado por parte dos
professores e da própria gestão, em proporcionar outro olhar, sem
discriminação alguma, onde não é mais possível o proselitismo.
Vejo a cada dia um passo a mais na construção de uma “educação
respeitosa”, até por ter o Fonaper focado nesta construção de mentes que
possam “reconhecer” e “valorizar” a diversidade presentes no campo escolar. A
luta ainda não terminou, muitas conquistas ainda estarão por vir. “O diferente é
o saber conviver” não causando intolerância, mas também a tolerância não
significa somente tolerar o meu semelhante, é multo mais complexo do isso,
significa que as pessoas de diferentes culturas, etnias, religiões, são
companheiros de aventura existencial.
Esta crônica nos vem relatando o quanto é importante a diversidade
religiosa, apelo as autoridades do Estado que vejam o que diz os Direitos
23
24
Humanos, para que ajam um compreensão melhor da problemática e que não
deixem de por em suas cabeceira os Parâmetros Curriculares Nacionais do
Ensino Religioso (PCNER), nele terão a clareza do que é o “fenômeno
religioso”. Wachs diz que “antes é preciso compreender qual o espaço que
nossa religiosidade ocupa em nossas vidas [...]” 12e Silva completa dizendo que
“valorizar os direitos de outras pessoas a crenças variadas e diferentes é um
passo fundamental para apreciar a diversidade religiosa.”
13
O dialogo sobre a diversidade religiosa não vem de hoje, mas de leituras
e debates deste a fundação do Fonaper, sendo uma constante busca por um
Estado mais justo e que venha a compreender o lugar do Ensino Religioso, o
lugar do outro, o lugar da humanidade, o lugar da cultura, o lugar do ser
humano e sua capacidade de respeitar e de ser valorizado e de valorizar, a
capacidade de ter senso critico, liberdade de pensar, de se expressar, de
cultuar. A construção da paz se dar na “humildade para reconhecer que a
verdade não é monopólio da própria fé religiosa ou política. E, no ER, pelo
espírito de reverência ás crenças alheias (e não só pela tolerância),
desencadeia – se o profundo respeito mútuo que pode conduzir à paz”.
(FONAPER 2009, p. 33).
14
12
WACHS, Carlos Manfredo. A pessoa do professor e a religiosidade: conflitos e praticas em
sala de aula in Ensino Religioso: religiosidades e práticas educativas: VII Simpósio de Ensino
Religioso da Faculdade EST e I Seminário Estadual de Ensino Religioso do CONER/RS /
[Organizado por] Manfredo Carlos Wachs et al. – São Leopoldo: Sinodal/EST, 2010.
13
SILVA, da Moura Eliane. Religião, Diversidade e Valores Culturais: conceitos teóricos e a
educação para a cidadania. Revista de Estudos da Religião, pg. 1 a 14, 2004.
14
FONAPER. Parâmetros Curriculares Nacionais - Ensino Religioso / Fórum Nacional
Permanente do Ensino Religioso – São Paulo: Mundo Mirim, 2009
24
25
6
Diversidade Religiosa e Ensino Religioso: Ética, Moral e
Alteridade
Estava reescrevendo o meu artigo, fazendo as alterações cabíveis e o
que ficou no pensamento foi o suficiente para escrever esta crônica acadêmica,
mas a aula de Movimentos Sociais e Movimentos Religiosos deu-me outra
cutucada e nesse momento minhas duvidas em relação ao que escreveria foi
sanada. Ética, Moral e Alteridade, palavras que permeiam a discussão sobre
Diversidade Religiosa dentro do Ensino Religioso. Suas concepções são
relevantes para que possamos trabalhar nas escolas com a pluralidade
existentes ou não nelas.
A face do OUTRO, nos dá a possibilidade de respeito e de alteridade,
pois é no contato com o diferente que se constrói uma relação humana e
aberta de dialogo, na medida em que “perceber o Outro em sua alteridade
implica reconhecê-lo em sua diferença. Implica também acolhê-lo em sua
realidade concreta, sócio-histórico-cultural, pois o humano depende do Outro
para humanizar-se, para aprender, para construir sua própria identidade(s)”
(CECHETTI15 2008, p. 34). A alteridade é posicionar no lugar do Outro, ser o
Outro, conviver com o Outro e é a face do Outro que reflete a nos mesmo.
É na alteridade que encontramos base para o respeito e a acolhida do
individuo que não quer ser excluído da sociedade, não quer ser excluído da
liberdade de expressão, mas que clama no deserto por um pouco de
compreensão, por alguém que dê significado e que indique o melhor caminho
para que ele possa buscar as suas próprias afirmações, a sua experiência com
o Transcendente. Humanizar-se é construir-se na caminhada com o Outro, o
15
CECCHETTI, Elcio. Diversidade Cultural Religiosa na Cultura da Escola. Programa de
Pós Graduação em Educação (Mestrado em Educação). Florianópolis: Universidade Federal
de Santa Catarina, 2008.
25
26
Outro que possui valores, o Outro que possui outra visão, o Outro que tem
diferentes idéias e idéias é (re) conhecer o diferente e só é possível no ato de
dialogar.
Através deste ato, que o ser humano conhece-se a si mesmo e
seu comportamento, muitas vezes de recusa do Outro passa a uma
transformação ética, mais humanizada e propensa a construção da paz. A ética
por sua vez, é interpretada equivocadamente, por pessoas que não vão à raiz
da originalidade. As palavras gregas Ethos e Daimom
entendimento correto da concepção de ética e de moral.
16
nos dão o
Daimon não é
demônio, mais o inverso dessa definição, pois o anjo bom, o protetor,
significado da palavra Daimom remete a Ethos que não é Ética, mas sim,
morada humana.
A ética é parte da filosofia. A moral é a parte da vida concreta. “Uma
pessoa é ética quando se orienta por princípios e convicções.” (BOFF
17
2003,
p.37). Princípios que são modelados no âmbito familiar, mas que também é (re)
significado na própria escola que por meio do educador-mediador, vão sendo
lhe apresentada outras cosmovisões de mundo, de sociedade, de comunidade,
se o educador estiver totalmente a par do contexto da comunidade onde
ministra. A experiência do individuo vai além das muralhas educacionais, são
experiências coletivas ou individuais, uma construção de conhecimentos
adquiridos que o levarão a caminhar regido pela orientação de seus próprios
princípios.
E através desses princípios que vem a prática dela, a moral. Seus
hábitos, valores, são estabelecidos pela moral, ou seja, “uma pessoa é moral
quando age em conformidade com os costumes e valores consagrados” (Idem,
ibidem p.37). A ética não é móvel, mais a moral sim, essa pode mudar ao longo
do tempo para o individuo, a ética é questão de princípios, é única e tem
fundamentos, mas que podem ser (re) significados, mas não alterados. Assim,
o ensino religioso também deve cuidar da questão ética e moral do ser humano
16
Ethos e Daimon são palavras gregas que nos permitem ter um resgate dos fundamentos da ética.
BOFF, Leonardo. Ética e moral: a busca dos fundamentos/Leonardo Boff. – Petrópolis, RJ:
Vozes, 2003.
17
26
27
que os encaminhará para uma construção de paz e a uma prática de
alteridade.
Nessa perspectiva, é que os educadores não devem ficar sem formação
continua, pois é na formação que se aplica a ação. E não a como escapar das
amarras da ética e da moral, pois os educandos necessitam apropriar-se de
certos conceitos para que suas condutas perante a sociedade que só cria
mecanismos capitalistas e formas de modelar os indivíduos a sua própria
imagem. Criam meios para cada vez mais lhes induzir a caminharem conforme
a própria sociedade acredita ser favorável a ela, uma alienação que insiste em
podar o ser pensante, privando-lhe de ter conhecimentos e questionamentos a
cerca da sociedade, da educação, da economia, da religião.
Os educadores devem estar preparados para lidarem com a diversidade
religiosa, mas ainda com a construção do ser humano na sua formação ética e
moral. Questões como estas podem sim ser fomentadas nas discussões em
sala de aula pela disciplina de ensino religioso. É na verdade, um dever
contemplar na disciplina questões como a ética e a moral, além da alteridade.
Respeitar o Outro é ético, portanto, um exercício da moral.
Questiono-me sobre como os profissionais da educação estão
conceituando ética e moral nas escolas? Qual (ais) são os instrumentos que
estão usando para dialogar sobre ética e moral? Como os educandos estão
reagindo a essas questões fomentadas não só na disciplina de ensino religioso,
mas nas outras áreas de conhecimento nas salas de aula? Quando reescrevia
o meu artigo, não havia ainda perguntas como estas para uma possível
reflexão, mas escrevendo esta crônica, nitidamente fazia uma reflexão das
perguntas que aos poucos iria tomando forma. Porém, tomei cuidado em expor
conceitos de alteridade, ética e moral, por serem questões difíceis de serem
tratadas, principalmente quando se fala em ética e moral.
Muitos educadores possuem dificuldades em fomentar em sala de aula
ética e moral, por isso mencionei sobre a formação continua e atualizada dos
educadores. Será que nessas formações é abordada ética e moral? Se não,
deveria. Um dos títulos para um congresso ou simpósio seria o titulo desta
crônica: Diversidade Religiosa e Ensino Religioso: Ética, Moral e Alteridade.
Sugestão que precisa ser levada em consideração os questionamentos
fomentado nesta pequena reflexão, tendo em vista que ética, moral é alteridade
27
28
permeiam os processos de formação do individuo e que são temáticas que não
podemos negar a eles. Desafios e perspectivas para um viver mais consciente
e menos abertura para a manipuladora da sociedade em que prestamos
contas.
28
29
7
Diversidade Religiosa e Escola
Como estabelecer um momento de acolhimento a diversidade
religiosa sem ser prosélito?
“A escola é, portanto, uma instituição social e política. E, como
tal, tem sua limitação, mas também é portadora de possibilidades
18
de transformação.” (BRANDENBURG 2004, p.13)
Lendo as notícias do site do Fonaper, como que de costume, as crônicas
surgem às vezes do nada. Mas não é do nada que fazemos reflexões. A
atenção voltada a notícias em que falava da escola e os desafios frente à
diversidade cultural religiosa, e como uma oração pode ocasionar caos no
âmbito escolar. A escola, como Brandenburg menciona é portadora de
possibilidades de transformação, a crônica traz toda reflexão em cima de temas
polêmicos, atualizados.
Uma pergunta intriga-me: Como estabelecer um
momento de acolhimento a diversidade religiosa sem ser prosélito?
A diversidade religiosa tem que ser contemplada em todas as dimensões
e é dever da escola e de seus atores respeitarem a particularidade de cada ser
humano que compõem a escola. Não deixar que suas crenças interfiram no
andamento do processo é muito delicado e um exercício não tão fácil assim de
ser executado. O bom senso é o medidor, onde nos diz quando estamos além
dos limites estabelecidos, assim, não nos deixa violar os direitos humanos de
cada individuo sem violar o que estabelece a LDB.
Porém, a falta de conhecimento também é um dos fatores que fazem da
instituição um sistema excludente das diferenças existentes no seu contexto
escolar. Mas precisamos entender o que nos diz os direitos humanos e a
própria LDB. Somente a luzes desses dois documentos nos varão entender o
quanto é importante não nos deixarmos ser guiados por nossas identidades
religiosas, afim de que não corramos o risco de estarmos cometendo certas
“violências” no meio escolar.
18
BRANDENBURG, Laude Erandi. A interação pedagógico Ensino Religioso. São Leopoldo: Sinodal, 2004.
29
30
“Toda pessoa tem direito á liberdade de pensamento, consciência e
religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a
liberdade de manifestar essa religião ou crença [...]” (DIREITOS HUMANOS
19
2004, art.18, p.9). A liberdade é o bem precioso da diversidade religiosa, a
oração feita ou qualquer tipo de liturgia característica de cada religião seja de
matriz africana, seja de matriz indígena, seja de matriz semita, é uma quebra
nos direitos do OUTRO. A violência é uma forma de auto-exclusão, isso
corrobora de certo modo com uma carga negativista no processo de
aprendizagem e na própria identidade do ser humano. Se respeitar é valorizar,
então precisamos (re) significar nossos conceitos do que é para cada individuo
a diversidade religiosa. “O ensino religioso, de matricula facultativa, é parte
integrante da formação básica do cidadão [...] assegurando o respeito á
diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de
proselitismo.” (LDB 20– Lei nº9. 475/97. art.33).
A disciplina de ensino religioso por ser uma área do conhecimento, não
pode ser usada por seus atores como “disciplina de catequese” ou algo
parecido. Estamos lidando com seres humanos que buscam entender a sua
existência e a revelação com o Transcendente, tendo consigo as suas
referências, símbolos, significados, religiosidade. Sua peculiaridade deve ser
respeitado e preservado sem foiçá-lo a se auto-excluir. Na medida em que
fazemos praticas somente de nossas crenças, o Outro senti-se isolado dos
restantes. Portanto, os calendários devem ser revistos e atividades que isole o
Outro deve ser repensadas de maneira que, aja uma inclusão do Outro no
processo de aprendizado que por direito é dele.
Quanto ao educador (a), é livre para praticar as suas crenças, visto que
também carregam símbolos, religiosidade, significados, mas que durante as
aulas de ensino religioso nas escolas publicas, deve-se manter-se não na
neutralidade, mas reservar-se de suas convicções, pois, o respeito começa
quando o Outro é importante pra mim. A pergunta feita nesta crônica pode-se
relembrada para que fique mais fácil para compreendermos o tamanho da
19
BRASIL. Cartilha dos Direitos Humanos. Brasília, 2004.
BRASIL. Lei n° 9.475, de 22 de julho de 1997. Estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional. Brasília: Diário Oficial da União, 1997.
20
30
31
situação que vem acontecendo em inúmeros estados brasileiros e em várias
escolas.
Como estabelecer um momento de acolhimento a diversidade religiosa
sem ser prosélito? Criando novas formas de atividades para que aja uma
interação entre a diversidade cultural religiosa, sem comprometer a liberdade.
Esse é o caminho em que todos nos devemos trilhar. A tolerância não é vista
somente em tolerar o Outro que é diferente, mas em fazer dele um
companheiro (a) de existência. Um companheiro (a) de aventura e dialogo. Se
não há dialogo, então não há nada. E o nada por si só não faz o respeito e nem
a integração que a escola necessita para que o aprendizado seja cada vez
mais uma construção de algo concreto na vida e uma experiência saudável
para ambos os lados, tanto educadores quanto os educandos que possui
experiências.
A guerra santa pode dá lugar ao dialogo respeitoso e a um envolvimento
significativo na construção da paz. A alteridade faz parte de um processo desta
construção de paz que buscamos e almejamos, cabe cada um fazer a sua
parte. Vem a mente uma citação dos direitos humanos para que possamos de
forma imediata refletir sobre tudo o que foi construído durante esta crônica. “A
pluralidade, construída por várias raças, culturas, religiões, permite que todos
sejam iguais, cada um com suas diferenças. É o que faz o Brasil, Brasil”
(DIREITOS HUMANOS 2004, p.6) Se dermos exemplos, por menor que seja,
por mais que a escola que é feito por nos educadores, educandos, gestores
etc. tenha seus limitações, a sociedade contemporânea será uma bela
sociedade e o Brasil, será pólo de “aproximação do Outro”, aos invés de
“recusa do Outro”.
Nada vale mais do que ver no rosto do Outro o reflexo da valorização.
Porque “a juventude é como um espelho retrovisor que reflete as ambivalências
e as contradições da sociedade em que vive” (NOVAES21, 2010, p.11). É o
presente e o futuro, são novos educadores em processo árduo de construção,
são presentes que a escola tem por obrigação apostar todas as possibilidades
21
NOVAES, Regina. Juventude e religiões: diversidade e novas possibilidades. Revista
Diálogo, São Paulo, n°59, p. 8, ago/set.2010.
31
32
de aprendizado, pois serão os mestres e doutores que a sociedade precisa,
onde respeitaram a diversidade religiosa e a valorização será uma revolução
no Brasil que necessita urgentemente de novos “semblantes” que refletiram a
justiça e a liberdade.
32
33
8
Ensino Religioso: Da Diversidade Religiosa Á Um Ensino
Religioso que aborda Poesia, Ética e Política
Quando penso que a realidade poderia ser outra, penso o quando cada
um pode dá um pouco de si e contribuir para um ensino religioso mais
qualificado. Sabemos o quanto é importante para a formação humana do
individuo, onde como filósofos tendem a se perguntarem: - Quem sou? De
onde vim? Para onde vou?
Lembro – me com carinho a época em que eu tinha como disciplina a
“Religião” e por falar nela, é interessante sabermos o termo que traz o conceito
de “religião”. Esse termo vem do latim “Religio” que significa religar, religar o
que? O homem ao Transcendente.
Hoje o ensino religioso tomou proporções enormes nas escolas públicas
e a diversidade religiosa é a grande manifestação chave da abertura de mentes
para um mundo cada vez mais plural, se falo de pluralismo? Penso nesse
momento em multiculturalismo, a existência de muitas culturas numa
determinada localidade, nesse caso o meu pensamento vai longe, mas fico
somente com o estado de Santa Catarina.
Se meus versos poéticos pudessem dialogar comigo neste momento,
diria que o ensino religioso ajuda o individuo a respeitar as diferenças e como
temos diferenças, porém, somos únicos e iguais. Mas que diferenças são
essas e que igualdade estamos falando?
Diferenças étnicas – raciais – religiosas e a igualdade de direitos e
deveres. O direito de sermos respeitados e o dever de retornar este respeito
mutuo a qual nos é dado. Não é difícil pararmos para pensar deste assunto tão
pertinente nos dias de hoje e os que antecederam este dia em que vivemos
numa política não muito ética, onde professores lutam por seus direitos a fim
de continuarem exercendo os seus deveres?
33
34
Penso hoje num ensino religioso que aborda temas como a POESIA,
ÉTICA E POLÍTICA, pois se indivíduos estão sendo levados a pensar em sua
formação para um futuro muito mais próximo do que distante de suas
realidades, não a como deixarmos de lado questões que os encaminharam
para um exercer de cidadania muito mais coerente do que encontrar amigos
em um „bar‟ logo aí na esquina...
É por isso que grupos de pessoas estão discutindo e trabalhando dia – a – dia
para que cada sonho, cada pedaço de chão possa ser alicerçado. O FONAPER
(FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO) é uma
construção de conhecimentos e práticas que tentam amenizar a doença de
Santa Catarina, o mal do desrespeito, do descaso e das injustiças, nada
diferente de outros Estados que conhecemos por aí...
34
35
9
Ensino Religioso e Libras
Desafio Escolar
Ao voltar-se os olhos para o ensino religioso, percebe-se que há a
variação de diversidade religiosa presente nas salas de aula nas escolas tanto
públicas quanto privadas não confessionais e até as confessionais. Porém, não
podemos negar que há a existência freqüente dos sujeitos que necessitam de
uma atenção não diferenciada, mas de uma atenção que vise a construção de
formas de fazer esses educandos(as) terem uma compreensão do conteúdo a
ser abordado nas aulas de ER.
Contudo, podemos perceber que não há profissionais que entenderão
das linguagens dos sinais, precisando ser orientados pelos interpretes.
Sabemos que a pessoa interprete somente irá traduzir literalmente o que os
educadores estão explanando. Quando se fala de libras, temos que
desmistificar algumas idéias e conceitos, como por exemplo, em relação à
disciplina LIBRAS, no que se refere à linguagem, ou seria língua? A concepção
de Surdo Mudo, ou Surdo?
A historicidade22 da caminhada das Libras é originária na língua de sinais
Francesa, não universais, portanto, sedo de caráter regional, ou seja, cada pais
ou região há mudanças na LS, sofrendo influencia da língua nacional. Os sinais
são formados a partir das combinações da forma e do movimento das mãos e
no ponto do corpo onde são feitos os sinais, assim, a LS é corporal e a
sensibilidade é a chave para desempenhar um bom funcionamento da
disciplina, mas a pratica é extremamente relevante, visto que esqueceremos
facilmente da LS se deixarmos incansavelmente de praticá-la.
“Nós não podemos deixar de reconhecer que a história do povo
Surdo mostra que por muitos séculos de existência, a pedagogia,
as políticas e muitos outros aspectos próprios do povo surdo têm
sido organizados geralmente no ponto de vista dos sujeitos
ouvintes e não dos sujeitos surdos que, quase sempre, são
22
Sobre a historicidade, ver o site do portal de Libras: http://www.libras.org.br/index.php
35
36
incógnitos como profissionais que poderiam contribuir com suas
competências essenciais e de sua diferença do Ser Surdo.”
23
(PERLIN; STROBEL 2006, p.9).
O desafio escolar e do ER em questão, é justamente “olhar” para o Ser
Surdo, não como incógnitos (as), mas como Sujeitos, uma vez que a
concepção correta é Surdo, por serem atores e não meros coadjuvantes na
sociedade contemporânea, até por que os Sujeitos de alguma forma se
comunicam, e se há comunicação, então não são mudos de forma que nas
aulas de ER são Sujeitos em processo de aprendizagem e Sujeitos
contribuintes para a diversidade.
Olhar o Ser Surdo é (...) olhar a identidade surda dentro dos
componentes que constituem as identidades essenciais com as quais se
agenciam as dinâmicas
de poder. É uma experiência na convivência do ser na diferença (apud PERLIN
e MIRANDA
24
2003, p.217). E na diferença é que vemos no Outra o reflexo de
nossa diferença, a experiência de estarmos interagindo como o Outro, pois o
Outro é companheiro existencial. As escolas devem adaptar-se a realidade e
fazer da realidade uma inclusão ao invés de exclusão, sabendo que os Sujeitos
são pessoas que carregam consigo sua religiosidade, seus significados,
símbolos, e vivenciais que podem acrescentar na comunidade escolar.
Trabalhar as variações de dimensões do Ser Surdo, não é uma tarefa
fácil para os educadores que não contemplam o Sujeito por não ter o mínimo
de formação, por esse motivo, é necessário nas universidades e centos
universitários estabelercer a construção formadora dos futuros educadores
através da disciplina de Libras decretada e sancionada na lei n° 10.436/02 que
reconhece a Libra como “meio legal de comunicação e expressão a Língua
23
PERLIN, Gladis; STROBEL, Karin. Fundamentos da Educação de Surdos. Curso de Licenciatura em
Letras-Libras. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2006.
24
Sobre este referencial, ver PERLIN Gladis e MIRANDA WILSON. Surdos: o Narrar e a Política In Estudos
Surdos – Ponto de Vista: Revista de Educação e Processos Inclusivos nº5, UFSC/ NUP/CED, Florianópolis,
2003.
36
37
Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados.”
(BRASIL25 2002, at.1)”.
Sendo assim, uma disciplina obrigatória na formação do Sujeito que
busca cada vez mais desafios para quebrar paradigmas existentes no contexto
escolar onde atua. As possibilidades de entendimento entre o educador e o Ser
Surdo não se limitará apenas na convivência escolar, mas como um todo, pois,
também estará incluindo o Sujeito na sociedade, no qual ganhará espaço de
grandes proporções em congressos nacionais ou outros espaços de
discussões.
Hoje, o Se Surdo está cada vez mais ganhando espaços e direitos de
voz e votos, pois tenho percebido em congressos, as discussões por direitos
que a sociedade, como pólo manipulador, acabam encontrando formas de
negar a eles o que lhes é devido. Se respeitamos a diversidade religiosa, por
que não respeitar o Ser Surdo que questiona, que luta, que na negação da
sociedade, busca seu lugar?
“No princípio da história de educação de surdos os sujeitos surdos eram
considerados intelectualmente „inferiores‟, por isso eram trancados em asilos
[...]” (BERLIN;STROBEL 2006, p.18), no entanto, a negação de direitos e de
alteridade, os tornam inferiores aos demais na medida em que negamos que
eles possuem a capacidade de interagirem e de aprenderem. Por isso, o
ensino religioso tem pela frente o desafio de na pratica da alteridade não negar
o conhecimento, mas sim, com formação, proporcionar a afirmação da
capacidade de aprender o saber. Por esse motivo, libras também é uma área
de conhecimento interagindo com outras áreas do conhecimento, uma vez que
a transdisciplinaridade é a forma coletiva de se trabalhar em prol da educação.
Valorizar o Outro é aceitar que todos fazem parte de um mundo que
tenta humanizar-se na evolução que sai da “barbárie” para a “civilização” que
ao olhar para a diversidade, enxerga a si mesma na construção da paz. Pensar
educação é pensar na possibilidade de comungar diferentes ritos, diferentes
identidades, diferentes símbolos, diferentes significados, diferentes culturas,
25
BRASIL. Lei n° 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá
outras providencias .
37
38
diferentes linguagens, diferentes sonhos, diferentes canções, diferentes versos,
diferentes concepções, diferentes mistérios, diferentes cosmovisões, diferentes
universos, diferentes perspectivas, diferentes costumes, diferentes em tudo,
mas ao mesmo tempo reflexo da nossa imagem.
Ensino religioso e Libras são componentes distintos, mas com objetivos
pautados na valorização do ser humano, onde a liberdade de expressão é a
razão de procurar vencer desafios escolares numa sociedade capitalista,
consumista e na valorização não no Sujeito, mas sim na renda de produção
que beneficiará a economia que traduz o quanto a intolerância parece
sobressair o respeito mutuo. O paradigma talvez seja o “como olhar” para o
“como ensinar” e não “ensinar” para simplesmente “aprender”.
38
39
10
ESSÊNCIA DO ENSINO RELIGIOSO: UMA DISCUSSÃO DO SER
ANTROPOLÓGICO ATRAVÉZ DO FENÔMENO RELIGIOSO
Não sei quanto tempo àquelas palavras ficaram martelando na minha
cabeça, provavelmente quase a noite toda, mas a verdade é que fiquei me
perguntando, qual é a essência do ensino religioso? Saber que o ensino
religioso é muito mais do que ALTERIDADE, isso a minha mente sã já me
cutucava, mais afinal, qual é a essência? Eu que não sou bobo e nem nada,
corri atrás de referencial teórico em que eu pudesse obter respostas este
questionamento e até mesmo uma suporte para escrever esta crônica, se bem
que ela poderá ser um artigo bem relevante.
O ensino religioso é tão amplo que acabou por ser uma “área de todos,
mas é, ao mesmo tempo, área de ninguém” (BRANDENBURG 2004, pg.59),
pois não há uma compreensão totalitária do que seria essa disciplina,
ocasionando ai uma distorção, tanto de pensamentos como da própria
moneclatura que carrega uma carga pesada sem ser, pois o ensino religioso
não é uma “TEOLOGIA”, não está inserida num contexto CATEQUÉTICO.
Muitos profissionais ainda não tem claro em suas concepções de mundo, o que
é está rica disciplina e para que serve.
Mas qual é a essência do ensino religioso? Não desejo provar nada,
muito menos que alguém me diga, mas sim tentar por mim mesmo entender
qual é a essência do ensino religioso, quanto mais eu me aproximar do objeto
de estudo, mesmo se é a verdade for verdadeira, ou se a verdade for falsa,
correta ou errado, aí poderei entender o que é na raiz o ENSINO RELIGIOSO.
E para chegar à raiz da questão, o objeto tem que subentendido na mente de
qualquer pesquisador ou professor de ensino religioso, pois é nele que
poderemos encontra a essência da própria disciplina abordada aqui.
39
40
Visto que o “conhecimento resulta das respostas oferecidas ás
perguntas que o ser humano faz a si mesmo” (FONAPER 2009, pg. 41),
percebe-se uma busca frenética pelo mistério: o TRANSCENDENTE. Assim, o
ensino religioso prepara o caminho para que este ser que está sendo formado,
possa buscar as respostas para os seus questionamentos e uma explicação
plausível para a sua religiosidade, pois o ser não nasce religioso, é uma
construção ao longo da sua existência seja coletiva ou impessoal. “O objeto do
ensino religioso é o fenômeno religioso, e não se restringe nem se reduz á
manifestação da religião [...]” (WACHS26 2010, pg. 62), ou seja, vai além das
instituições religiosas, das doutrinas, mas se constitui a partir da identidade de
cada ser humano, das experiências que cada um experimentou, da
particularidade que está intrínseca no ser pensante e na arte de ser diferente
na
sua
cultura,
na
relação
com
o
OUTRO,
nos
símbolos/representações/manifestações que cada um carrega na sua trajetória
existencial.
Fico pensando em tudo isso, o que é o fenômeno religioso? Será que
essa é essência do ensino religioso que precisamos com urgência buscar,
perceber, vivenciar, trabalhar? Pode-se se entendido como fenômeno religioso
“a manifestação da busca pela transcendentalidade da própria existência
humana e da revelação do transcendente [...]” (Idem, Ibdem pg.62), portando
temos dois elementos: 1) A busca; 2) A revelação. A busca pelo o seu EU que
faz com que transcenda numa experiência única com o transcendente e dessa
manifestação, a revelação do próprio “numinoso27” como mencionou Rudolf
Otto 28no seu livro O SAGRADO.29
Tudo isso me faz compreender o quanto estou próximo do que seria a
essência do ensino religioso e ao mesmo tempo, mais distante, pois falar dessa
essência é tão complexo quanto o próprio fenômeno religioso, uma que lida
com a “revelação do transcendente, seja compreendido como Transcendente,
no singular ou no plural, e/ou como manifestação antropológica do que
26
Docente na Faculdade EST e no Instituto Superior de Educação Ivoti - ISEI
27
Por numinoso, Otto entende a característica essencial e exclusiva da religião “e sem ele, a religião
perderia as
suas características”.
28
Teólogo, filósofo e historiador alemão das religiões
29
OTTO, Rudolff (1992) O Sagrado. Sobre o Irracional na Idéia do
Divino e sua Relação com o Irracional. Lisboa: Edições 70.
40
41
transcende a própria pessoa” (WACHS 2010, pg. 63). O fato é que estamos
tratando do ser antropológico que tende a entender as dimensões
transcendentais da revelação do Transcendente através do fenômeno religioso,
cujo ensino religioso irá dá subsídios para que através do conflito (impessoal)
que é um crescimento intelectual do próprio ser a ser instigado nas aulas de
ensino religioso.
A essência vital desta disciplina, nada mais é do o próprio objeto de
estudo em minhas conclusões não finais desta crônica, assim, “nenhuma teoria
sozinha explica completamente o processo humano” (FONAPER 2009, p.45),
até por que o ser é uma incógnita na sua transcendência e na revelação com o
Transcendente, sendo motivo de longas discussões, onde a experiência conta
no decorrer da história da humanidade. Somente entenderemos o ensino
religioso como tal, mediante ao fenômeno religioso e nessa perspectiva é que
poderemos identificar em nos mesmos, enquanto docentes, na identidade
religiosa ou não, o equilíbrio de um ensino de qualidade e no olhar dos
educandos, um entender de mundo.
Referencias
BRANDENBURG, Laude Erandi. A Interação Pedagógica no Ensino
Religioso. São Leopoldo: Sinodal, 2004.
FONAPER. Parâmetros Curriculares Nacionais - Ensino Religioso/Fórum
Nacional Permanente do Ensino Religioso. São Paulo: Mundo Mirim, 2009.
WACHS, Manfredo. A pessoa do professor e a religiosidade: conflitos e
práticas em sala de aula in Ensino Religioso: religiosidades e praticas eductivas:
VII Simpósio de Ensino Religioso da Faculdade EST e I Seminário Estadual de
Ensino Religioso do CONER/RS / [Organizado por] Manfredo Wachs et al – São
Leopoldo: Sinodal/EST, 2010.
41
42
11
NUANCES DA DIVERSIDADE RELIGIOSA
Há dias em que o mundo traz na sua face um verso de
sensibilidade e respeito para podermos olhar para dentro de nos mesmos e vê
as belezas que é ser diferentes e ao mesmo tempo semelhantes ao OUTRO
que traz consigo sua particularidade. Jamais entenderia de ALTERIDADE se
não tivesse aprendido na academia e levado de dentro para fora, as nuances
da diversidade religiosa.
Não é fácil compreender o OUTRO, não é fácil enxergar o OUTRO e não
é da natureza humana, lidar com o DIFERENTE. Lutamos o tempo todo contra
nos mesmos, por quais motivos hoje, faríamos o inverso disso tudo? A guerra é
somente para os mais fortes e a competição mancham a existência da
construção da paz. Anos atrás pensava que a diversidade religiosa não deveria
existir que não era possível estarmos juntos no mesmo espaço, ora, dois
corpos nãos ocupam o mesmo espaço conforme aprendemos na Física.
Onde equivocamos? Devemos muito ler e aprender a lidar com o
OUTRO, até por que o mundo não é particular, somente o mundo interior, mas
somos coletivos, e nessa coletividade é que não estamos sozinhos, feito ilhas
sem barco para navega. Precisamos um dos outros como a poesia precisa do
poeta para continuar a existir. Essa diversidade religiosa que vem da cultural
são “companheiros de aventura existencial” (SILVA 302004, p.5).
E lendo um texto intitulado de Ensino Confessional, laico ou interreligioso? Qual a melhor resposta? cuja os autores são Dora Icontri e
Alessandro Cesar Bigheto, podemos perceber o quanto existem clássicos que
com outras linguagens da época, também dialogaram sobre a mesma temática
que hoje discutimos, a diversidade religiosa. Os autores colocam que
educadores como COMENIUS,31 ROUSSEAU32 E PESTALOZZ
33
também
30
Professora Doutora no Departamento de História /IFCH/UNICAMP.
Professor, cientista e escritor checo considerado o fundador da Didática Moderna.
32
Filósofo Teórico político, escritor e compositor autodidata suíço considerado um dos
31
42
43
vêem que a educação escolar deve despertar para “o respeito por todas as
formas de religiosidade” (ICONTRI; 34BIGHETO35 2004, p.45).
Por outro lado, DURKHEIM36, em seu celebre livro As Formas
Elementares da Vida Religiosa37, chama a atenção para o fenômeno social
quando diz que “a religião é coletiva porque a crença é coletiva”, dá um sentido
de ALTERIDADE, pois, se a reflexão é de que a crença é coletiva, a religião é
um conjunto dessas crenças, assim, é um fato social, uma vez que vivemos
num mundo não de isolamento, mas em um mundo rico em linguagens,
símbolos, representações, diversidades culturais e religiosas, onde há uma
grande variedade de crenças.
Umbandistas, espíritas, católicos, protestantes, luteranos, islâmicos,
judaicos entre outros que permeiam o mesmo espaço em que nos
encontramos. Como não pode haver valorização diante de fatos tão
relevantes? “Se as pessoas não têm um bom conhecimento das características
de sua própria religião ou confissão religiosa, como, então, poderão dialogar
com o diferente?” (BRANDENBURG38 2004, pg. 60-61). Isso é a realidade do
mundo e a resposta para a pergunta anterior, não pode haver valorização sem
conhecimento da própria identidade religiosa. A partir do momento em que
passamos a entender a própria identidade religiosa, então praticaremos
alteridade e da pratica, respeitaremos o OUTRO.
Hoje, vejo as coisas diferentes, vejo que compreendo, ainda que quase
nada da minha identidade religiosa, que adquirir posturas e conhecimentos,
capazes de dialogar com o diferente. Não sou especialista na discussão da
DIVERSIDADE RELIGIOSA, apenas gosto da relevância que essa temática já
tratou e está sendo tratada neste século XXI, mas que se eu pudesse me
principais filósofos do iluminismo e precursor do romantismo.
33
Pedagogo suíço e educador pioneiro da reforma educacional
34
Dora Incontri – Jornalista, pós-doutorada em Educação na USP
35
Alessandro Cesar Bigheto – Pedagogo,mestrando em educação na Unicamp.
36
Sociólogo, Acadêmico, Antropólogo, filósofo Frances considerado um dos pais da sociologia moderna.
37
[Também publicado em São Paulo:Paulinas, 1989).
38
Professora Dra. Erandi Brandenburg – Graduada em Pedagogia pela UNISINOS,
especialista em educação Infantil pela PUC/RS, é Doutora em Teologia pelo Instituto
Ecumênico de Pós-Graduação da Escola Superior de Teologia/RS
43
44
especializar em alguma temática, esse, é um dos meus favoritos. Ver a
diversidade religiosa como ela é, sem proselitismo, sem preconceito, sem
guerra, seja nas escolas ou em outros espaços, é uma luta diária em
entendermos primeiro a nos mesmos...
Referências
BRANDENBURG, Laude Erandi. A Interação Pedagógica no Ensino
Religioso. São Leopoldo: Sinodal, 2004.
DURKHEIM, Émile. As Formas Elementares da Vida Religiosa – O Sistema
totêmico na Austrália. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
INCONTRI, Dora e BIGHETO, Alessandro. Ensino confessional, laico ou
inter-religioso? Qual a melhor resposta?Revista de Educação CEAP, ano
XII – N° 45 – Salvador, jun-ago/2004, pp.39-49.
SILVA, Eliane Moura da. Religião, Diversidade e Valores Culturais:
conceitos teóricos e a educação para cidadania. Revista de Estudos da
Religião,
N°2/
2004,
pp.
1-14.
Disponível
em
http:
pucsp.br/rever/rv2_2004/p_silva.pdf .
44
45
12
O professor e sua identidade religiosa no convívio com a
diversidade
Questiono-me se o/a professor (a) deve numa sala de aula expor sua
identidade religiosa? Se estamos vivendo num estado aparentemente laico,
parece não ter problemas em relação a essa questão, porém a linguagem deve
sempre ser cuidada para não fugir da ética. A identidade religiosa é facilitadora
de um contato didático e respeitoso, por isso, o/a educador (a) deve expressar
sua identidade ao grupo de alunos no qual ministra. É comum na sala de aula
alunos questionando o educador (a) na divulgação de sua pertença religiosa.
Ficar com medo de responder a esses anseios, traz a sensação de malestar para a pessoa do professor (a), mas por outro lado, isso gera
desconfiança, desconforto e não possibilita criar uma relação mais centrada do
aluno. Ninguém é neutro e ninguém deixa para traz os símbolos, os
significados, a cultura, a religiosidade, portanto, o receio de que não será
compreendido (a), a exemplo das matrizes afro-brasileiras, é mera “falta de
entendimento da própria estrutura religiosa” a qual pertence. Será que a
pessoa do professor (a) não estaria impregnada de preconceito da própria
identidade?
“A identidade é construída e se desenvolve por meio de elementos
simbólicos: ela é uma trama que se tece pelas relações do sujeito com a
realidade e a cultura, numa intersecção criativa da práxis e sua interpretação”.
(CECCHETTI39 2008, p.32). Assim, as relações do sujeito com a realidade não
pode ser de recuo, uma vez que para que aja a abertura de dialogo, o
professor (a) deve ter convicção de sua pertença, sendo que Identificar
significa reconhecer algo ou alguém por meio de características que
39
CECCHETTI, Elcio. Diversidade Cultural Religiosa na Cultura da Escola. Programa de
Pós Graduação em Educação (Mestrado em Educação). Florianópolis: Universidade Federal
de Santa Catarina, 2008.
45
46
determinam
sua
“mesmidade”,
sua
unidade
e
sua
individualidade”
(CECCHETTI 2008, p.32). Respeitar a individualidade de cada ser humano é
dá a ele a liberdade de ser quem realmente é.
O convívio com a diversidade é fator interessante para que se quebrem
paradigmas quanto à recusa da identificação do sujeito, uma vez que é na
pratica que o ser humano evolui e passa para um novo estagio do viver com o
outro. Recordo-me dos novos professores (a) que são ACT‟s e entram na sala
de aula acreditando que sua identidade será mantida no mais completo sigilo e
que a neutralidade é a forma mais viável para preservar-lo (a) de uma possível
relação com o outro. Mas sabemos o quanto é importante lidarmos com isso de
maneira que não venha a ferir a liberdade do sujeito que ministra, e dos
sujeitos que estão ali na sala de aula para dialogarem, no entanto, também não
estamos imunes a questionamentos a respeito da identidade religiosa. Minha
experiência teve vestígios disso, alunos que me perguntavam: - Qual é a
religião do professor? O professor é católico? Neutralidade não existe, por isso
é que com convicção na minha pertença é que respondi a cerca da minha
identidade.
A confiança dos alunos na pessoa do professor (a) passa por essa etapa
de identificação, na medida em que considerar “a diversidade religiosa somente
é possível quando se trabalha com a pessoa do professor, lidando com o seu
imaginário religioso, com suas concepções, com seus “pré-conceitos” (WACHS
2010, p. 63) que a prática da docência torna-se mais prazerosa é mais
acessível do que uma prática da docência em que a relação entre professor
(a)/aluno não passa de uma “divisão de territórios”, onde a figura do educador
não pode ultrapassar os limites do aprendizado do aluno.
Não dá para pensar o ensino religioso como apenas uma disciplina, mais
sim como ela é, uma área de conhecimento. Por isso, a centralidade no aluno e
não no sistema educacional, por isso a relação de unidade, por isso, a vivencia
pautado no respeito do Outro, por isso a valorização do Outro. “Isso significa
que não se pode desconsiderar a experiência religiosa [...]” (WACHS 40 2010, p.
40
WACHS, Carlos Manfredo. A pessoa do professor e a religiosidade: conflitos e praticas em
sala de aula in Ensino Religioso: religiosidades e práticas educativas: VII Simpósio de Ensino
Religioso da Faculdade EST e I Seminário Estadual de Ensino Religioso do CONER/RS
46
47
61) do aluno e do professor (a), tento a experiência como foco do objeto de
estudo do ensino religioso, o fenômeno religioso.
Nada é mais significativa do que a experiência vivenciada na vida dos
sujeitos que fazem a escola acontecer. É através da experiência que o dialogo
acontece e que a prática da ética da alteridade começa a ser exercida dentro e
fora das muralhas educacionais. A experiência que muitas vezes é privado do
sujeito, podando assim, um processo de aprendizagem eficaz e mais produtiva,
é o inicio do identificar da identidade ou identidades do sujeito enquanto
produtor de conhecimento.
Não dá para viver escondendo a pertença, a identidade. Não é possível
a “separação da experiência”, é ela que dá corpo ao dialogo inter-religioso que
tanto buscamos. Ao acolhimento do Outro que tentamos praticar. A construção
da paz que desejamos. “Como é possível um/a futuro/a docente ministrar os
conteúdos do componente curricular do Ensino Religioso considerando o
respeito à diversidade religiosa, quando ele/ela está enraizado em tradições
religiosas intolerantes [...]” (WACHS 2010, p. 64), ou seja, quando ele/ela não
respeitam a sua identidade religiosa? Só é possível à medida que aja uma
relação de conforto com a própria identidade, é um gostar de si mesmo, fica
mais fácil, só não de passar os conteúdos, mas sim, de expor também a sua
identidade.
O/a professor (a) deve numa sala de aula expor sua identidade
religiosa? Esse foi o meu questionamento principal no inicio desta crônica. Não
só pode como é essencial que isso ao longo do processo de aprendizado
aconteça. Os conflitos internos dão mais abertura de pensamento do que se
opor a eles e, os enfrentamentos fazem parte do universo do sujeito desde
tempos remotos, então, o crescimento torna-se mais promotor de um dialogo
que estabeleça uma caminhada de experiências vividas pelos sujeitos na sua
formação e interação, quando eliminados os paradigmas que cercam suas
identidades religiosas.
/ [Organizado por] Manfredo Carlos Wachs et al. – São Leopoldo: Sinodal/EST,
2010.
47
48
Contudo, “a presença de diversas culturas, com suas diferentes
expressões de ordem lingüística, artística, religiosa, etc., num sistema
educacional [...]” (OLIVEIRA; JUNQUEIRA; ALVES; KEIM41 2007, p.110) dá
vazão a valorização da identidade como parte integrante do ser humano que
com suas variadas experiências, cada vez mais busca entender a sua própria
existência e a revelação do Transcendente. Sendo assim, a desvalorização é
um cuidado que se deve ter para que não aja uma exclusão da identidade do
Outro, ocasionando um caos que poderá marcar agressivamente as dimensões
do ser humano.
41
OLIVEIRA, Lilian Blanck de; JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; ALVES, Luiz Alberto
Souza; KEIM, Ernesto Jacob. Ensino Religioso no Ensino Fundamental - São Paulo: Cortez,
2007.
48
49
13
POESIA NO ÂMBITO LITERÁRIO FOCADO NA DIVERSIDADE
RELIGIOSA NA PERSPECTIVA DO ENSINO RELIGIOSO
“A Sensibilidade é a ponte de acesso a esse universo [...] é a arte
que nos convence de que o mundo em que vivemos não é o único
mundo possível”
(Nabor Nunes Filho)
Estava pensando comigo mesmo, falado com o meu “EU” interior. Será
que a arte imita a vida ou a vida imita a arte? Ainda melhor, será a poesia
adentra na religião ou não há relação nenhuma entre as duas? E o no ensino
religioso, há como se trabalhar poesia no âmbito literário focando na
Diversidade ou é um caso impossível? Vejo que temáticas como estas dariam
uma bela discurso em um congresso, porém, é preciso compreender, ter
leituras diversificadas para que se chegue a uma resposta coerente para tais
perguntas feitas nesta crônica. A literatura para ser entendida, há as funções
que chamamos de “teoria da linguagem” que consiste em seis funções: 1) a
referencial; 2) a emotiva; 3) a conativa; 4) a fática; 5) a metalingüística e 6) a
poética.
A referencial tem por função transmitir um conhecimento, um conteúdo
racional, a emotiva está centrada na expressão pessoal, ou seja, entonação,
interjeições, projeções sonoras, a conativa é a que volta para o destinatário, ou
seja, faz o trabalho de estimulá-lo, impulsioná-lo, a fática faz com que
estabeleça um contato lingüístico, assim, mantendo-o funcionando. A
metalingüística verifica a eficácia da linguagem. É dever da poética estar
centrada na própria mensagem, e esta mensagem é a expressão máxima da
arte de se dialogar, pois, “símbolos, arte e religião caminham juntos,
completando – se, pois mostram e refletem a cultura, que diferencia a todos os
povos”
(SCHLATTER;
TOCCHETTO
2010,
pg.115).
A
escrita
esta
historicamente inserida no contexto da diversificada cultura religiosa e, cada
religião tem a sua peculiaridade, suas representações simbólicas, suas
49
50
maneiras de expressar-se dentro de uma linguagem que dá “vida”, “riqueza” ao
mundo contemporâneo.
A poesia “quando expresso pelo aluno, o objeto simbólico e seu
significado são expressos de forma tímida, pois desvendam um universo
religioso pessoal [...]” (SCHLATTER; TOCCHETTO 2010, pg.116), um universo
tão complexo de um mundo somente dele, que faz com que as perguntas sobre
a sua existência humana e a relação com o Transcendente seja preservada e é
dever do educador de ensino religioso instigá-lo na medida do possível,
respeitando sua liberdade e processo educacional, ajudando-o a libertar-se as
amarras que não o deixam de forma segura ter criatividade e motivação para
ludicamente sentir o desejo pelo conhecimento religioso que o levará ao
dialogo inter-religioso com o educador e seus colegas de classe. Arte é “uma
forma de expressão extremamente significativa. Ela possibilita que o indivíduo
potencialize seus conhecimentos, sentimentos e criatividade em forma de
ação”. (SCHLATTER; TOCCHETTO 2010, pg.122), ação que vai além dos
muros do cotidiano religioso, pois sabemos que cada um carrega consigo a sua
espiritualidade. Espiritualidade de modo pessoal e intransferível, independente
de estar ou não envolvido dentro de uma instituição religiosa.
Portanto, a poesia pode mediar o aluno na relação com o
transcendente, numa perspectiva antropológica, dando a ele a possibilidade de
conhecer a si mesmo, conhecer o OUTRO e vivenciar a espiritualidade, na
busca por uma cosmovisão de mundo que vai conduzi-lo a um “exercer de
cidadania” de forma que seja critico no meio da sociedade. Seus
enfrentamentos perante a indagações desenvolverá “conhecimentos que lhe
possibilitam interagir no meio e em si próprio.” (FONAPER 2009, pg. 31). A
importância de construção poética não é só dever dos profissionais da língua
portuguesa, mas permeia o ensino religioso, que encontrará na arte um
motivador, pois tanto a espiritualidade quanto a arte “expressam a
sensibilidade, a plenitude a vida, lançada á luz da história” (SCHLATTER;
TOCCHETTO 2010, pg.116) e do conhecimento religioso na “tarefa de buscar
fundamentos para o ensino religioso [...]” e “na finitude que se procura
fundamentar o fenômeno religioso, que torna o ser humano capaz de construir se na liberdade” (FONAPER 2009, pg.34).
50
51
A arte não imita a vida e nem a vida imita a arte quando damos um novo
significado e (re) significado no conceito de POESIA, RELIGIÃO E ENSINO
RELIGIOSO, no entanto, as possibilidades mostram que a poesia pode no
ensino religioso interagir com a diversidade religiosa tranquilamente, pois
“fornece elementos para que esse aluno queira aprender e conhecer novas
culturas [...]” (SCHLATTER; TOCCHETTO 2010, pg.124), assim incentivando
o respeito a todas as crenças existentes em sala de aula. Podemos fazer em
conjunto uma poesia sobre o respeito para com o diferente e como cada uma
das religiões contempla a poesia em seus textos sagrados, uma oportunidade
que dá a conhecer as literaturas que dão valores e riquezas ao mundo tão
pluralista. “Reconhecer que todas as culturas, embora internamente diversas,
possuem
saberes
e
valores
próprios que
constituem
fonte
para
o
desenvolvimento humano, educando para o diálogo intercultural [...]” (POZZER;
CECCHETTI; KOCH 2009, pg. 275), traz construções formadoras e
transformadoras no que se diz respeito ao processo do individuo em todas as
suas dimensões. Enfim, o poeta português Fernando Pessoa dizia que “a arte
consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os libertar deles
mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial libertação”, já
para Mario Quintana a
arte é “a arte de viver é simplesmente a arte de
conviver ... simplesmente, disse eu? Mas como é difícil!
A poesia é a pratica da alteridade, viver o outro, sentir o outro e conviver
com o outro é a chave para que possamos fazer a integração de nos mesmos
para a construção de um dialogo eficaz. “Diálogos que buscam a graça da
convivência entre pessoas de leituras e concepções religiosas diferentes, não
em decorrência de suas semelhanças, mas com as suas diferenças” (POZZER;
CECCHETTI; KOCH 2009, pg. 266), concomitantemente com a poesia que
também é um dos suportes lúdicos para que venha acontecer este
entendimento de diálogo. A identidade de cada ser humano é a abertura para
que o OLHAR não seja de “recusa do outro”, mais sim um “respeitoso”
momento de “(re) conhecimento” do outro”. Estar ciente de si mesmo para
expressar-se na arte ou em qualquer outra atividade a “valorização do outro”
que está ao lado em parceria como companheiros existenciais.
51
52
Referencias
CARVALHO, Mariano Vinícius de. Religião e Literatura: Algumas InterRelações Possíveis. Numen: revista de estudos e pesquisa da religião, Juiz de
Fora. v.4, n.1, p. 31-59.
FILHO, Nabor Nunes. Arte: a religião de corpo inteiro. Revista Diálogo, São
Paulo: Paulinas, n.33, p. 12. Fev.2004.
FONAPER. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Religioso / Fórum
Nacional Permanente do Ensino Religioso – São Paulo: Mundo Mirim, 2009.
POZZER, Adecir; CECCHETTI; Elcio; KOCH, Riske Simone. Ensino Religioso
Em Santa Catarina: Exercícios Na Perspectiva De Uma Educação
Intercultural. In Cultura e diversidade religiosa na América Latina:
pesquisas e perspectivas pedagógicas / Lilian Blanck de Oliveira (org.). –
Blumenau:Edifurb; São Leopoldo: Nova Harmonia, 2009.
SCHLATTER, Scherik Francisca Agnes; TOCCHETTO, Ângela. Arte e
Religião: expressão da vida. In Ensino Religioso: religiosidades e práticas
educativas: VII Simpósio de Ensino Religioso da Faculdades EST e I Seminário
Estadual de Ensino Religioso do CONER/RS/ [Organizado por] Manfredo
Carlos Wachs et al.- São Leopoldo: Sinodal/EST, 2010.
52
53
14
Revolução Educacional: A Interdisciplinaridade passa pela
Coletividade
O Coletivo é a interação entre as áreas do saber, a partir dela é que o
processo educacional passa não mais a ser centralizado no egocentrismo, mas
numa troca de saberes que permeia todo um contexto escolar. Como podemos
ser um educador se não estamos abertos ao coletivo que nos cerca durante
momentos oportunos dentro do âmbito escolar? Desde a chegada na escola,
até o inicio das aulas, a interação dos membros que fazem a escola acontecer,
não deve ser somente um bate papo escolar para passar o tempo, mas uma
discussão construtiva nessa troca de “olhares do saber”.
Não vivemos num mundo isolado em nos mesmos, mas “o coletivo de
educadores-docentes tem de dominar com profissionalismo um saber-fazer
[...]” (ARROYO42, 2009, pg.113) o processo educacional, e é aí que nos
igualamos, não sendo mais diferentes onde a competitividade na busca para
quem forma mais, ou consegue passar com eficiência os conteúdos
programáticos, seja transformados em contribuições para ajudar o educando a
ter diferentes comovisões do mesmo conteúdo permeando por vários saberes.
“A interdisciplinaridade tem sentido aí e não em intercâmbios tangenciais
entre temáticas das disciplinas”. (ARROYO 2009, pg. 113). Assim, a utilidade
do profissional da educação estará pautada no fazer e conviver com a
diversidade religiosa, na sua cultura, tradição, linguagem contemplada e
42
Prof. Dr. Miguel Arroyo - Pós-Doutorado. Universidad Complutense de Madrid, U.C.M.,
Espanha. Doutorado em Phd Em Educação. Stanford University, SU, Estados Unidos.
Mestrado em Ciência Política. Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG Graduação em
Ciências Sociais. Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG Professor Emérito, Faculdade
de Educação da UFMG. Autor de vários livros: Por uma educação do campo. 1. ed. Petrópolis:
Vozes, 2004 Imagens quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. 1. ed. Petrópolis:
Vozes, 2004. Ofício de mestre: imagens e auto-imagens. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. 251
Autor do Projeto Escola de Ciclos Ex. Secretario da Educação de Belo Horizonte
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54
sentida no âmbito comunitário. Não dá para vivermos em pé de guerra com
outras áreas do saber, mas entender que a coletividade é uma forma social da
própria sociedade, ou seja, para Durkheim, seria um fenômeno social. Para que
aja mais que um entrosamento ou uma afinidade entre educadores x
educadores, a interdisciplinaridade deve acontecer gradativamente e não só
durante um determinado momento, mas sim constantemente.
Visto que não é fácil lidarmos de forma sociológica, mesmo que a nossa
natureza
antropológica
seja
individualizada,
promover
um
evento
de
socialização é um fator merecedor e digno de tentar trazer os profissionais a
descobertas em comum de aprendizado para si mesmo e do como trabalhar
coletivamente para que o educando tenha mais possibilidade de enfrentamento
que diariamente surge num mundo onde a mudança está cada vez tomando
proporções diversas. Se acostumamos na sala de aula, levantar discussões de
trabalhos em grupos, por que a dificuldade de nos mesmos interagir com outras
disciplinas? É um jogo de cintura e uma construção que ao longo do tempo vai
transformando o egocentrismo em coletivismo, que busque o como saber-fazer
o educando pensar e elaborar as suas próprias teorias.
A questão é como (re) conhecer algo em comum na diversidade de
áreas que cada educador tem de certa forma que dá conta, possa servir de
experiência para a construção educacional do individuo que está na sala de
aula para aprender? Lidar com a sede de preparar o educando para que tenha
uma vida promissora dentro de uma sociedade capitalista é fundamental, mas
até que ponto a interdisciplinaridade, o produzir no coletivo, ajudará o aluno
que também tem sede, esperança, pensa no próprio desenrolar de sua história.
A interdisciplinaridade é algo construtivo que precisa ser melhor aplicado
e para que ela ocorra, é fundamental que os atores participantes estejam
conscientes no como fazer com que ela siga caminhos, embora tortuosos, mas
que seja benéfico aos educandos e até mesmo para a própria comunidade. A
escola tem que ajudar a promover questões de integração, só assim é que se
pensa escola, não mais o eu como o centro, mais o educando como o
centralizador de toda uma evolução educacional.
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Arroyo foi brilhante quando ao escrever este capítulo, pensou no
coletivo, pois vejo que o andar da educação somente é construída através da
“relação coletiva”. Não dá para pensar escola sem mencionar a prática de
alteridade, em uma das crônicas, citei os pilares da prática da ética da
alteridade, seria até de bom senso, recordarmos deles: 1. CONHECER, 2.
APROXIMAÇÃO DO OUTRO, 3. OUVIR e 4. DIAOGAR.
Bases em que
devemos nos empenhar para que a educação seja a porta de entrada para um
novo caminhar na evolução civilizatória.
Conhecer a realidade do outro, aproximar do outro, deixar que o outro
fale e dialogar com o outro, essa é a interdisciplinaridade que quebrará as
muralhas do preconceito, as muralhas do tenho que dá conta do meu
conteúdo, das muralhas do egoísmo, do egocentrismo, da individualidade para
que nasça em tempos em que a correria do dia-a-dia do educador, carregado
de significados, de símbolos, de religiosidade, venha de forma conjunta trocar
os tijolos quebrados do entender o que é de fato EDUCAÇAO.
E como eu gostaria de uma revolução educacional, pois do jeito que ela
anda, nem o HU dará conta de dá assistência. É preciso de uma (re) laboração
de conceitos, é preciso de uma nova perspectiva, é preciso de uma nova
roupagem, é preciso de uma ruptura em certas estâncias como a secretaria de
educação. Repensar os cargos comissionados, rever a gestão. A face da
escola deve ser de acordo com a comunidade, é ela que faz a escola, seus
atores não são coadjuvantes de um grande espetáculo, são protagonistas em
tempo integral.
É nosso papel lutar por toda essa caminhada histórica, é nosso papel ter
condições próprias, é nosso papel ter voz e vez, é nosso papel ter sensibilidade
para ver aonde equivocamos, é nosso papel questionarmos e em conjunto
instigar os educandos a questionar o próprio sistema, mesmo que não seja fácil
fazer isso. Esta crônica não deve ser somente uma discussão ou um desejo do
autor que a escreveu, mas sim do coletivo que ainda tem força e presença
como grandes mestres da arte de saber-fazer, saber-ensinar, saber-vivenciar,
saber-compreender, saber-valorizar, saber-constuir, saber-interagir, saberintervir e tantos saberes que se torna imensurável mencioná-las.
55
56
A construção da paz é desejo coletivo, e uma linha do tempo a ser
buscada, e se não for interagindo com outros saberes que é o inicio para que
isso venha acontecer, então paramos de sermos educadores, de sermos
acadêmicos, de sermos pesquisadores e paramos de sonhar. O sonhar é estar
com o pé no chão em conjunto com nossos ideais, podemos até te-los
individualizados, mais que alguns são comuns a todos, isso sim, é “sonhar
coletivo”. Continuemos sonhando e alcançaremos vôos mais rasantes.
Referencia
ARROYO, Miguel G. O Subsolo comum de nossa docência. In: Oficio de
Mestre: imagens e auto-imagens. Petrópolis: Vozes, 2009.
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Rito de Passagem: “Adolescência”.
Qual é o “olhar” do educador de ER para o “fenômeno da
adolescência”?
Adolescência? Não dá para negar que de certa forma cada ser humano
passou por esse desenvolvimento corporal e social. Corporal pela forma como
são desenvolvidas as estruturas do corpo, onde o ser humano passa por
transformações hormonais. Ao mesmo tempo, acontece o desenvolvimento
social, uma fez que uma das características desta fase é a afirmação de si
mesmo, no qual o adolescente não encontrando espaço onde tenha a
possibilidade de ganhar voz e vez, socialmente tenta se auto-afirmar numa
sociedade excludente.
A concepção de adolescência trazida à luz da sócio-históica é concebida
diferentemente da psicologia que falará de uma naturalização do processo do
“fenômeno da adolescência”. Essa concepção na sócio-histórica traz outros
vestígios de uma adolescência na perspectiva social, uma vez que o ser
humano interage na sociedade contemporânea. “A cultura aparece apenas
como molde da expressão de uma adolescência natural, que em contrapartida
sofre com a pressão exercida pela sociedade atual, a qual impõe a moratória
ao adolescente [...]” (BOCK 432004, p.33-34).
Não há como fazer a “negação da cultura” no âmbito social, já que ela é
a expressão carregada de simbolismo e significado, uma bagagem que o
adolescente carrega consigo tendo como contrapartida a exclusão da
sociedade que não entende o adolescente. A sociedade impõe certas regras ao
edolescente não possibilitando a “liberação da liberdade” que tanto ele busca.
Quando falo de cultura do adolescente e da imposição da sociedade, elaboro a
43
BOCH, Ana Mercês Bahia. A Perspectiva Sócio-Histórico de Leontiev e a Crítica á Naturalização da
Formação do Ser Humano: A Adolescência em Questão. Cad. Cedes, campinas, v.24, n.62, p.26-43, abril
2004.
57
58
seguinte problemática: Qual é o “olhar” do educador de ER para o “fenômeno
da adolescência”? Por isso, a psicologia da religião deve ser entendida como
“um campo científico de médio tamanho com um número limitado de
participantes pelo mundo.” (BELZEN44 2009, p. 4).
Isso nos dá condições para entender a adolescência como um processo
social onde a cultura religiosa interage com a sociedade contemporânea. A
problemática abordada traz consigo um olhar atento para o “rito de passagem”
de cada adolescente, visto que a adolescência consiste na faixa etária dos 9
aos 30 anos, visto que número de pessoas que ainda depende dos pais é a
realidade de uma sociedade que está cada vez mais envelhecendo.
Envelhecendo por que o mercado de trabalho hoje não pressa mais a
experiência, mas sim, o capital que este individuo vai poder gerar.
O olhar do educador para estes adolescentes deve ser um olhar de
respeito pautado na prática da alteridade, mas um olhar minucioso para o
processo de transição para a vida adulta. Um olhar compreensivo, onde para
compreender o fenômeno da adolescência precisa conhecer a sua cultura.
Somente na cultura é que podemos lidar com os adolescentes que querem ser
compreendidos, ouvidos e respeitados.
A escola muitas vezes não está
preparada para esse fenômeno, diante disto, ao invés de pedagogicamente
tentar criar um projeto que dê a eles a possibilidade de expressar-se, acaba por
podando todo um “processo de passagem” que deveria estar sendo bem
estruturado.
Não cabe ao educador ser mãe ou pai, mais cabe a ele/ela a inclusão
nos diálogos e atividades que demonstrem suas aptidões e demonstrarem algo
que é somente deles. A psicologia cultural traz vários tópicos que trabalha o
psíquico do ser humano, é nessa perspectiva que podem ser elaboradas
formas de atividades como parâmetros a ajudar o adolescente a se “descobrir”
no seu próprio processo.
A)
B)
C)
D)
Cognição e emoção
O Self
Altoestima e bem estar
Motivação
44
BELZEN, Jacob A. Psicologia Cultural da Religião: Perspectivas, Desafios, Possibilidades. Rever –
Revista de Estudos da Religião, dez. 2009, pp.1-29)
58
59
(BELZEN 2009, p.13 – 15)
Cognição vai além do processamento das informações, o individuo
cognitivo percebe o sentido da própria experiência. Segundo ARNON-JONES45
(apud BELZEN 2009, p. 13), as emoções “Não são respostas naturais eliciadas
por fatores igualmente naturais dados por uma determinada situação, mas
padrões sócio-culturalmente adquiridos e determinados de experiência e
expressão [...]”, assim como as crenças. “Em concepções do self enquanto
fruto da compreensão e experiência do funcionamento
psíquico do próprio indivíduo existe uma diferença qualitativa com relação ao
self concebido a partir dos modos interpessoais do mesmo funcionamento.”
(BELZEN 2009, p. 14.) O self é definido por aquilo que a pessoa é na sua
individualidade, o EU ou ego, por isso a cultura, a religiosidade que são
bagagens de cada adolescentes no qual torna-se peças fundamentais para se
trabalhar nas aulas de ensino religioso.
Altoestima e bem estar são componentes vitais para que o adolescente
se sinta confortável para expor suas dúvidas, seus anseios e que aja uma
abertura ao dialogo de forma motivada. A motivação fará com que os
adolescentes tenham mais desejo se querer saber, de procurar investigar, de
ser participativo de forma coletiva. O adolescente autônomo dará mais
elementos do que qualquer um que não consigo ter a autonomia para buscar
seus próprios mecanismos. Esses mecanismos levarão o adolescente a
inquietude e na inquietude é que encontramos as respostas que nos dará
vazão a outros questionamentos que ajudará tanto o próprio individuo na sua
individualidade como também no coletivo, fazendo da aula de ER uma aula
dinâmica e de dialogo entre seus participantes.
O olhar para o “fenômeno da adolescência” possibilitará uma
compreensão entre o Ser que tem como características “decorrentes do
“amadurecer” (BOCH 2004, p.34), a transformação hormonal e o Ser enquanto
busca pela revelação do Transcendente e da existência de si mesmo. “O
adolescente como parceiro social é visto com desconfiança e suas ações são
45
A referente citação encontra-se no referencial: ARNON-JONES, C. 1986 “The Thesis of
Construcionism” in HARRÉ, R. (Ed). The Social Construction of the Emotions, Oxford, Blackwell, pp. 32-56.
59
60
tomadas como imaturas” (BOCH 2004, p.35) por conta de todo o rito de
passagem e pelo mau entendimento da sociedade, quando na verdade, os
adolescentes nem sempre são imaturos, pois os próprios adultos também
tornam-se em suas ações um Ser imaturo e sem autonomia.
Está crônica traz uma reflexão acerca do fenômeno que não pode ser
abolida da sociedade, pois está presente nas escolas, em casa, na rua. A
adolescência deve ser vista não como uma fase de “aborrecencia” pelo
aborrecimento que esta fase traz aos familiares, mas sim, como uma “dinâmica
evolucional” que tem como objetivo desprender-se do mundo “secreto” onde
viveu para um mundo “existencial” da realidade que transita nos dias de hoje.
Ao ER, o desafio é de proporcionar diferentes cosmovisões e construir com os
adolescentes a idéia de responsabilidade, trazendo como elementos os seus
símbolos e significações de experiências vivias somente por eles, e entendidas
por eles, onde encontraram na pessoa do educador um amparo para se sentir
liberdade de dialogarem.
60
61
16
Soberania Americana
Do Terrorismo a um possível respeito à diversidade
Resumo
Nesta crônica acadêmica abordará no primeiro tópico a reconstrução da cidade
nova-iorquina, no segundo a soberania americana que foi destruída através
dos atentados de 11 de setembro, o terceiro tópico trata do terrorismo e a
diversidade religiosa, sendo dividida em dois momentos, a concepção de
terrorismo em relação com a diversidade e, a passagem do terrorismo á
diversidade religiosa, especificamente do Islamismo, por conta da construção
do templo.
Palavras-chave:
Nova
York
e
Reconstrução,
Soberania
Americana,
Terrorismo, Diversidade Religiosa.
1. Nova York e a Reconstrução
Quem não se recorda dos ataques de 11 de setembro em direção ao
coração americano? Torres gêmeas sendo destruídas e, pessoas sendo
soterradas e em meio a tudo isso, multidões em pavorosa numa fúria
avassaladora, onde a angústia de familiares que não sabiam se seus parentes
haviam sobrevivido misturados com a incompreensão de não conseguirem
assimilar a tragédia que assolou a soberania americana.
E tudo isso é motivo para que as reconstruções após 10 anos dos
atentados fossem voltados para o respeito e a compreensão a diversidade
61
62
existentes nos territórios dos Estados Unidos, Nova York ainda é tomada por
lembranças frenéticas de quem sobreviveu e não pôde esquecer-se dos
minutos que antecederam e dos minutos que se passarem em uma questão de
tempos em que seus olhos contemplaram a tragédia não grega, mas
americana. E o sonho acabou?
Mas o que tudo isso tem haver com o respeito à diversidade? Tem haver
com o que pode manifestar-se como fenômeno religioso após 10 anos de
turbulência que fez americanos de Nova York tremerem, chorarem e pararem
diante do efeito do terrorismo. Hoje, vemos na mídia que no lugar das torres
gêmeas estão sendo reescrita um novo capítulo no lugar daquele que não
deixará a história dos que tentam ainda em tempos futuros terem uma vida
normal.
Um aranha-céu alcançando 1.776 pés (541 metros), tornando-se o
prédio mais alto dos Estados Unidos. O segundo prédio um pouco menor, faz
de Nova York, a “face nova” dos nova-iorquinos. Entre as novas construções
será construída uma estação de trem, um espaço subterrâneo para o comércio
varejista e um museu memorial dos 11 de setembro.
Uma deslumbrante
construção dando novos ares na capital que viu seu poder e sua autosuficiência perder-se nas poeiras do egocentrismo.
2. Soberania Americana
A soberania americana se dá pelo poder financeiro que fazia dos Estados
Unidos os melhores do mundo, mas com os atentados as torres gêmeas no
holocausto de 11 de setembro, o mundo viu o poder americano se esvair diante
uma nação inteira e orgulhosa por ser a capital primeira do mundo. Não há
como negar que os Estados Unidos antes do atentado já não é mais o país que
vemos hoje.
No tópico anterior podemos notar que a reconstrução é a vida nova que
está se construindo em Nova York, mas que a história dos atentados ainda
será lida e relida nos livros, crônicas e artigos futuros. A partir da perda da
62
63
soberania americana, o que fica ou deveria ficar é a releitura de novos olhares
dos nova-iorquinos perante a diversidade religiosa que se pararmos para
pensar, veremos que a existência da diversidade está presente na sociedade
americana.
Soberania que não haverá mais de ser alcançada e que no lugar dela,
poderá surgir um novo espírito para que a construção da paz seja devolvida a
cidade de Nova York. Em um momento de luto, a cerimônia do marco Zero,
reuniu pessoas que encontravam-se no cargo a 10 anos, como o ex-presidente
George W. Bush. O jornal americano The New York Time de 11 de setembro
de 2011 traz em seu texto uma frase do prefeito de Nova Jersey, Michael R.
Bloomberg. dissendo que os ataques tinham transformado "numa manhã de
céu azul-perfeito" em "mais negra das noites." "Nós nunca podem ignorar o que
aconteceu aqui", disse o prefeito. 46
Se não se pode ignorar que os atentados destruíram com a soberania
americana, então não se pode ignorar o fato de um templo judaico ser
construída na cidade de Nova York, então, o respeito à diversidade passa a ser
possível quando os olhos se deparam com as noites escuras sob o céu azul da
capital do poder que agora tenta se erguer-se, embora ainda possam ocorrer
outros atentados, pondo mais uma vez, a prova os nova-iorquinos.
3.
3.1.
Terrorismo e Diversidade Religiosa
A concepção de um Terror 47
Terrorismo passou a ter relevância desde o inicio do século XXI, sendo
declarada como principal ameaça a humanidade. A idéia de terrorismo surgiu
como instrumento de luta política e religiosa nos anos 1800. Grupos
46
The New York Time. Nova York, 11 de setembro de 2011.
Para conferir está reportagem, ver o site: http://www.nytimes.com/
47
GEOMUNDO. O que é Terrorismo? Disponível em http://www.geomundo.com.br/geografia30120.htm. Acesso em 11. Set.2011.
63
64
espalhados pelo mundo se utilizam de mecanismo como uma estratégia de
luta.
O terror na contemporaneidade que cortou o cordão umbilical, forte ligação
do poder americano, partiu de uma falta de desrespeito para com o Outro que,
embora estivesse inserido na sociedade americana, seguia sua vida normal,
com seus valores, significados e religiosidade.
Tendo em vista que, o terrorismo foi praticado por um homem que,
aparentemente possuía raízes religiosas, fez com que o pensamento e o olhar
para o Outro seja de revolta e de repudio, se partimos da premissa de que o
Outro é o nosso espelho, o reflexo da nossa imagem. É difícil praticar a
alteridade, tendo em vista que o terrorismo desencadeia uma crise de “falta de
confiança e de respeito ao Outro. Assim, a “recusa” do Outro se poderá ser de
“aproximação do Outro” a partir de novos olhares.
“Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 e a repercussão do
discurso do choque de civilizações certamente foram um fator importante para
atrair a atenção da Europa para as questões religiosas”. (CASANOVA48 2010,
p. 8). Assim, podemos perceber o quanto a diversidade religiosa deve ter
olhares americanos após o terrorismo ocorrido, pois uma nova cidade é
transformada à medida que a diversidade religiosa, mais especificamente o
Islamismo é contemplada dentro de uma estrutura, no qual a soberania já não
é mais o “poderio” europeu ocidental.
3.2.
Do Terrorismo á Diversidade Religiosa: Nova York e seu templo
Islâmico
Não tendo mais a soberania, Nova York vai do terrorismo á diversidade
religiosa, quando perto do marco zero, é construída um templo islâmico para dá
inicio a fase nova após os 10 anos de terror e pânico, onde o maior poder
financeiro de Nova York desaba na presença de seus cidadãos nova-iorquinos.
48
CASANOVA, José. O problema da Religião e as Ansiedades da Democracia Secular Européia. Rever –
Revista de Estudos da Religião. Ano 10, 2010.
64
65
“A diversidade é uma das marcas da vida social [...]” (OLIVEIRA; JUNQUEIRA;
ALVES; KEIM 2007, p. 19) e cultural religiosa, por isso que diante da vida da
capital americana, o olhar deve ser pautado no respeito e na prática da
alteridade, tendo como fenômeno religioso a convivência com os islâmicos que
vivem na cidade.
Desafio que não é fácil, mas que aos poucos vai acontecendo, pois, já
não é mais aceitável negar a existência do Outro como espelho de nossa
própria diferença, mas também “permitir ao outro ser sujeito de sua cultura [...]”
(OLIVEIRA; JUNQUEIRA; ALVES; KEIM49 2007, p. 36), ou seja, deixar que o
Outro se mostre como ele é e, que o Outro possa ter liberdade de culto e de
crença, mesmo estando no solo americanizado.
O templo islâmico é a prova de que agora a paz deve ser estabelecida,
mas sabemos que ainda há vestígios de novos ataques, mesmo assim, o
islamismo dá um novo rumo à história nova que iniciou-se após o massacre de
11 de setembro. Se a construção do templo, causou polemica, foi por parte de
pessoas que não deram espaço para a aceitação do diferente, mas que em
tempos presentes se consolidou, ganhando, talvez uma possível abertura de
dialogo e de respeito.
Se paramos para pensar no futuro dos Estados Unidos, o dialogo interreligioso com o islamismo é um passo para uma nova releitura de olhares que
levará os nova-iorquinos a “aprender a conhecer a diversidade religiosa
(grifo meu), a fim de compreender as diferenças étnicas, culturais e religiosas
como um fator de riqueza e identidade na multiplicidade de interações [...]”
(OLIVEIRA; JUNQUEIRA; ALVES; KEIM 2007, p. 20), tendo em vista que fará
dos Estados Unidos uma “vibrante nação inovadora, que cultiva o espírito [...]”
(LIMA50 2011, p.21) de uma verdadeira nação humanizada.
49
OLIVEIRA, Lilian Blank de; JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; ALVES, Luis Alberto Souza, KEIM,
Ernesto Jacob. Ensino Religioso no Ensino Fundamental. São Paulo: Cortez, 2007
50
LIMA, Renato. A força dos EUA se mantém firme. Jornal Notícias do Dia, Florianópolis, 10 e 11
set.2011. Folha Empresa, Especial, p.21.
Renato Lima: Jornalista (UFPE) – Universidade Federal de Pernambuco, Mestre em Estudos da América
Latina pela Universidade de Illinois (EUA) e Doutorando em ciência política no MIT - Massachusetts
Institute of Technology.
65
66
17
Libras como Componente Curricular
Inclusão e Exclusão
Resumo
Nesta crônica acadêmica será abordada no primeiro tópico a formação do
cientista da religião para a licenciatura a partir da disciplina de Libras e do
cientista da religião para o bacharelado. O segundo tópico tratará do Ser Surdo
enquanto SUJEITO. No terceiro tópico será fomentada a discussão da
disciplina de Libras como componente curricular nas escolas a partir da
proposta do anteprojeto de decreto da lei de Libras publicado em dezembro de
2001 em Santa Catarina. Por fim, no último tópico a inclusão e a exclusão
tendo duas possibilidades, a inclusão tendo nas escolas o lugar da Libras e a
exclusão tendo nas escolas o (não lugar da Libras.
Palavras – chave: Libras e Ciências da Religião – Ser Surdo como Sujeito –
Componente Curricular – Inclusão e Exclusão.
1. Libras e Ciências da Religião
1.1.
Formação do cientista da religião para a licenciatura
Partindo da licenciatura, a disciplina de Libras tem um papel fundamental
na formação do cientista da religião de caráter licenciado para entrar em
sala de aula e ter contato com a diversidade presente na escola, seja
66
67
pública, seja privada. A pessoa do professor de ensino religioso, ao ter a
disciplina de Libras, passa a compreender o Outro como Ser Sujeito e
protagonista central no contexto da escola e da comunidade onde está
inserido.
A partir das Libras, o educador passa a ser “orientado por princípios de
uma educação inclusiva”. (SANTOS
51
p.3), ou seja, tendo a visão do Outro
como reflexo de sua diferença, o Outro como espelho. Assim, a inclusão
torna-se uma “pratica inclusiva, pois o educador tendo uma base alicerçada
sobre a linguagem de sinais volta-se o olhar para as peculiaridades de cada
sujeito, nesse caso especifico o Ser Surdo, tendo o “encantamento pela
diversidade humana.
Esse encantamento também está na construção da formação do
educador enquanto acadêmico, pois “quanto mais soubermos como o ser
humano se desenvolve em suas diferentes áreas (lingüística, cognitiva,
social, moral, afetiva, física, motora e religiosa (grifo meu) [...]”) (Idem,
ibidem), mas nos tornamos inclusivo e compreensivo ao respeito e ao
diálogo do diferente, muito mais saberemos como lidar com o Ser Surdo no
contexto escolar.
Por isso é que torna-se obrigatório a contemplação da disciplina de
Libras nas universidades, para que nosso olhar de “aproximidade do Outro”,
deixe de ser uma “recusa do Outro” e passe a ser uma “pratica da inclusão
do Outro”, tendo a percepção de que o Outro (Ser Surdo) tem o seu
processo gradativo e que o aprendizado pode sim, acontecer a medida em
que despimo-nos de nossa roupagem para que didaticamente
e
estrategicamente seja elaborado formas diversas de como saber ensinar
através da prática de alteridade.
51
SANTOS, Mônica Pereira. Práticas de Inclusão em educação: Dicas para professores. Programa de Pós
Graduação em Educação (Mestrado em Educação). Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de
Janeiro,
67
68
1.2.
Formação do cientista da religião para o bacharelado
O pesquisar em suas pesquisar a respeito das religiões tendo como foco o
fenômeno religioso, objeto das ciências da religião e do ensino religioso, não
deve
somente
ser
visto
com
psicologicamente,
antropologicamente,
sociologicamente, historicamente, mas também perpassa pela disciplina de
Libras, uma vez que na academia, o Ser Sujeito, ganha também centralidade
quando tomamos conhecimento do Ser Surdo como nosso próprio espelho.
Após a formação acadêmica, o pesquisador formado em ciências da
religião, tece sua pesquisa no âmbito educacional, onde o diferente é o objeto
centralizador para entender vários aspectos atuais que acontece no mundo
contemporâneo. Como estão sendo tratados os Surdos na sua peculiaridade
em sala de aula? O Educador tem formação especifica em Libras ou pelo
menos alguma noção do seu conceito? A escola está preparada para ser
inclusiva ou exclusiva? Libra tem um lugar nas escolas ou um (não) lugar?
Como o ensino religioso contempla o Ser Surdo em todas as suas dimensões?
Perguntas como estas são construídas a partir da formação do pesquisador
em sala de aula na disciplina de Libras nos centros universitários e nas
universidades existentes na sociedade brasileira. O pesquisador também deve
estar preparado para entrar em campo e ver as posições dos atores em que irá
pesquisar, sem se esquecer de que não é neutro, mas que a sua experiência
não deve aparecer na pesquisa e nem seu envolvimento dever acontecer,
senão a pesquisa poderá ficar comprometida.
Por outro lado, o cuidado em pesquisar temas como o Ser Surdo na escola
e sua religiosidade, visando que “o contexto pessoal de vida do aluno, sua
comunidade, sua cultura própria” (SANTOS, p.6) são ponto de partida para
uma perspectiva de como o Ser Surdo como SUJEITO, é parte integrante da
sociedade, e como a linguagem de sinais pode expressar a sua experiência
com o Transcendente. Cabe ao pesquisar em sua formação ter noção do que é
LIBRAS.
68
69
2. Ser Surdo como Sujeito
O Ser Surdo possui comunicação que o identifica como um Ser Sujeito, por
esse motivo é que não há a existência da concepção de Surdo Mudo,
assim, deve ser contemplado nos âmbitos educacionais, políticos, sociais,
artístico e religiosa.. A inclusão do Ser Surdo como Sujeito, SUJEITO que
se mostra na sua peculiaridade, uma experiência de vida que deve ser
valorizada como um todo.
Sua
experiência
culturalmente,
mas
não
se
refere
religiosamente,
somente
a
aquela
educacionalmente
adquirida
entre
outras
experiências vividas que são de grande contribuição para o docente que
ministra o ensino religioso. “Quando nós observamos atentamente a
situação atual da educação de surdos, nós podemos perceber que houve
ruptura em alguma parte de historia de surdos [...]” (PERLIN; STROBEL
52
2006, p. 11), hoje, a educação de surdos está centralizada no Se Surdo
como SUJEITO, mas será que em todas as escolas isso é realmente visto?
“Até recentemente os povos surdos sofreram com esta ruptura, pois
para a maioria deles a educação verdadeira começou somente depois
quando saíram da escola na idade de adolescência [...]” (Idem, ibidem p.11)
tendo um contato com o Outro nas associações de Surdos. É no contato
que o Outro como Sujeito consegue se relacionar e o seu processo passam
a se desenvolver com mais facilitado que no “desconhecimento do Outro”,
privasse o Sujeito de ser diferente, o que o torna ainda mais igual e como
os mesmos direitos e valores.
As escolas muitas vezes não estão preparadas para atender o Ser
Surdo como Sujeito e acabam por não implementar a disciplina de Libras
como componente curricular, pois sabemos que o Ser Surdo necessita de
orientação e em muitos casos de um interprete nas salas de aulas, o que
facilitaria muito ambos os lados, o educador que, despreparado, por não ter
52
PERLIN, Gladis; STROBEL, Karin. Fundamentos da educação de Surdos. Curso de Licenciatura – Letras..
Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2006.
69
70
em sua formação acadêmica, a disciplina de Libras e o educando enquanto
SUJEITO, que merece compreender o que o conteúdo que o educador está
ministrando, sendo como um direito de conhecer, evitando o “abandono do
OUTRO, por parte do educador limitado.
3. Libras como componente curricular
Partindo do pressuposto de que muitas vezes as escolas não estão
preparadas para lidar com o Surdo como SUJEITO, não implementam a
disciplina de Libras como um componente curricular, sendo que há a existência
de um decreto que fomenta a proposta onde decreta a inclusão de Libras como
um componente curricular em Santa Catarina. Essa proposta anteprojeto de
decreto Lei para regulamentar a Lei de Libras n° 11.869 de 06 de setembro de
2001 no Estado catarinense diz no capítulo I – Da Inclusão da Libras como
Componente Curricular :
Art.1° A Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS será um
componente curricular obrigatório nos cursos de formação de
professores para o exercício do magistério, em nível médio e
superior, nos cursos da área de saúde, de instituições de ensino
públicas e privadas, do sistema educacional de ensino. (SANTA
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CATARINA , 2001 p.2)
Fica claro a relevância de se ter a disciplina de Libras no Estado de
Santa Catarina para uma formação adequada de nossos profissionais da
educação e para o conhecimento não só de pessoas com licenciaturas, mas
com bacharelado. O curso de Ciências da Religião, tendo a disciplina de
Libras, irá se beneficiar ao construir em nos acadêmicos uma bagagem
cultural de inclusão e de como lidar com o Ser Surdo nas escolas como
Sujeito, despindo-se de seus preconceitos e discriminações.
As escolas devem se preocupar-se em rever seus PPPs e de alguma
forma tentar implementar a Libras como componente curricular, assim,
buscando contatar não só interpretes qualificados, mas profissionais que
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SANTA CATARINA. Proposta do Anteprojeto de Decreto Lei para Regulamentar a Lei de Libras em
Santa Catarina. Federação Nacional de Educação e Integração de Surdo. 06 de dezembro de 2001.
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possa orientar o Ser Surdo, e acompanhá-lo no seu processo de zona de
desenvolvimento proximal, como Vygotsky em seu teoria nos propõem. Mas
há duas possibilidades de haver nas escolas a inclusão e a exclusão do Ser
Surdo. É o que veremos no próximo tópico.
4. Inclusão e Exclusão: Duas possibilidades
4.1.
Inclusão a partir do lugar da Libras nas escolas
A partir do lugar da Libras nas escolas, a inclusão acontece de forma
dinamizada, onde a pessoa que orienta o Ser Surdo pode na medida do
possível trabalhar tanto com o Ser Surdo quanto os educadores, na perspectiva
de lhes dá uma nova visão do diagnostico em termos de “aproximidade do
Outro” como respeito e alteridade, onde a concepções dos Sujeitos que fazem
a escola reformulem a sua maneira de ver as coisas, promovendo a inclusão.
Esse novo olhar se dá em conjunto com todas as disciplinas de
conhecimento, numa transdisciplinaridade, no qual todos possam ajudar o Ser
Surdo como Sujeito a integrar-se no meio social, sem qualquer tipo de
preconceito ou qualquer tipo de discriminação e abandono por parte dos
gestores escolares, por parte dos educadores e por parte dos educandos que
completam o quadro de atores ativos e agentes educacionais.
4.2.
Exclusão a partir do (não) lugar da Libras nas escolas
A exclusão se configura a partir do (não) lugar da Libras nas escolas,
quando não se implementam a Libras como componente curricular. O fechar de
olhos para o Ser Surdo como Sujeito e, negar que ele precisa de
acompanhamento como forma de inclusão, são vestígios de falta de
conhecimento e estão revestidos de seus preconceitos e acabam por deixá-los
de lado.
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Não promovendo a inclusão, promovem a exclusão do Outro e
impedem que o Ser Surdo como Sujeito desenvolva-se suas potencialidades
no decorrer de seu processo educacional, cultural, religioso, social, político e
etc. De nada adianta incluir o Ser Surdo, se não lhes dão a devida assistência?
O sistema pode ser até falho, e é, mas os atores envolvidos, mesmo de mão
atadas, podem buscar recursos como a inclusão da Libras nas escolas. Nesse
sentido, deve caminhar a comunidade escolar.
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Considerações Finais
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Percebemos o quanto é fundamental estas discussões que nos desafia
cada vez mais a pensarmos escola e ensino religioso. Vemos que nas
academias, nos Simpósios e em Congressos, profissionais se reúnem para
discutir temáticas relevantes, numa forma de contribuição e de fazermos
pensar em nossas práticas diante dos diversos desafios.
Nossas experiências não podem e não devem ser meras páginas
escritas e guardadas em qualquer lugar, é preciso trazer-los a luz do contato
humano, onde as trocas de conhecimentos tornam-se relevantes e tece em
nos, não só a valorização, mas o crescimento enquanto educadores,
acadêmicos e pesquisadores.
Não nos deixemo-nos calar diante de assuntos presentes na sociedade
contemporâneas, pois elas precisam ser fomentadas, para que possamos cada
vez mais melhorar-mos o que é preciso melhorar, repensar e recriar, o que for
possível, ainda mais em tempos em que o ensino religioso base por mais um
momento histórico, como área de conhecimento.
Ainda veremos um ensino obrigatório, onde traçará mais uma
caminhada em frente as dificuldades que sabemos, ainda iram surgir.
A
inclusão de todos os seres humanos se dá, a medida em que deixarmos o
Outro ser o espelho, que reflete a nossa própria diferença.
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Este livro foi estruturado a para refletir, discutir, e ter outras perspectivas,
onde o leitor pudesse compreender nos mais variados temas propostos nas
crônicas acadêmicas, o desafio que é o ensino religioso e a diversidade religiosa
nas escolas, seja privada, seja pública.
E que perpassa por todas as áreas de conhecimento: psicológico,
sociológico, literário, na disciplina de libras, antropológico, científico, histórico
filosófico etc. Percebendo então, que “as expressões que procuram explicar a
sede e a necessidade de conhecer [...]” (OLIVEIRA; JUNQUEIRA; ALVES; KEIM
2007, p.43), está intrínseco no ser humano a partir de suas experiências.
 OLIVEIRA, Lilian Blank de; JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; ALVES, Luis Alberto
Souza, KEIM, Ernesto Jacob. Ensino Religioso no Ensino Fundamental. São Paulo: Cortez,
2007
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