II Jornadas Arte e Ciência
UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA
Centro Regional do Porto
Escola das Artes
28 e 29 de Maio de 2004
CENTRO DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO
Estudo da pintura mural de Nossa Senhora da Rosa
na Igreja de S. Francisco do Porto
Estudo histórico, artístico e documental:
Prof. Doutor Vítor Teixeira, Dr.ª Conceição Lobo e Silva, Arqt.ª Sofia Thenaisie Coelho
(docentes da Escola das Artes da UCP)
Estudo técnico estado de conservação:
Prof.ª Doutora Ana Calvo, Dr.ª Maria Aguiar, Dr. Carlos Nodal, Dr.ª Margarida Monteiro
(docentes da Escola das Artes da UCP)
Análises físico-químicas:
Dr.ª Jorgelina Carballo (docente da Escola das Artes da UCP), Prof. Doutor José Ferrero
(ICMUValencia – Espanha)
Documentação fotográfica:
Dr. Luís Bravo (docente da Escola das Artes da UCP)
Estudo histórico, artístico e documental
S. Francisco do Porto destaca-se na paisagem urbana ribeirinha da nossa cidade como o seu
expoente maior da arquitectura religiosa do gótico, naquilo que muitos classificam,
abusivamente, de “mendicante”. Mas nada no despojamento e simplicidade de linhas do seu
exterior faz adivinhar o esplendor dourado e o brilho artístico de todo o seu interior. Que não é
R. Diogo Botelho, 1327 4169-005 Porto - Portugal Tel. 226196240
Fax 226196244
E-mail: [email protected]
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apenas refulgência do ouro, mas também nobreza e qualidade na pintura. Mural, refira-se, e
mais concretamente, a da notável composição que é designada por “Nossa Senhora da
Rosa”.
Uma pintura mural que remontará à primeira metade do século XV, ao Quattrocento
português, uma época em que, entre todas as disciplinas artísticas cultivadas em Portugal, a
pintura terá sido a que atingiu maior nível, como já referira Pedro Dias. Como ilustração
plástica desta afirmação, cumpre bem o exemplo desta pintura mural, pela sua significação
histórico-artística, política e ideológica porque não, iconográfica, religiosa, espiritual... Faz
esta obra parte do acervo artístico de um conjunto monumental de maior significância,
notadamente para o mundo gótico português, sob cuja vigência se alterou, entre 1383 e 1410,
no nascimento da polémica dinastia de Avis, configurando a estrutura arquitectónica que hoje
impõe a quem demande a Ribeira portuense. Uma obra de agradecimento ao Porto pelo seu
embandeiramento pela causa das armas portuguesas, uma obra de enaltecimento também
do poder real numa cidade governada por bispos, uma obra que urgia, para a realeza,
valorizar não apenas no edificado mas também em gramáticas decorativas e artísticas que
perpetuassem a afirmação do poder dos reis.
A estrutura leve, simples desta casa franciscana, no seu processo de implantação e
transformação histórico-religiosa e artística são assim o pano de fundo, em articulação aos
poderes, à sociedade portuense, à monarquia de Avis, do conjunto de investigações que nos
pretendemos efectuar, partindo das bases heurísticas, do seu levantamento e filtragem, da
comparação de fontes, com apoio nos registos de imagem e de carácter técnico, até
podermos fixar os percursos histórico-artísticos que emolduram, originam e perpetuam esta
pintura mural e a sua mensagem iconológica. A obra para além da composição, da forma, a
cor, do estilo, a obra no seu conteúdo intrínseco, nas suas motivações e autoria, no seu
significado histórico e na sua articulação com o contexto da época e do lugar, são os escopos
deste projecto de investigação.
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Estudo técnico e estado de conservação
Para além da valorização artística que diferentes historiadores e estudiosos deram à pintura
mural conhecida sob a designação de “Nossa Senhora da Rosa” (José de Figueiredo, Vergílio
Correia, Henrique Franco, Otília Almeida, Paulo Pereira, Dalila Rodrigues, entre outros), não
restam dúvidas de que esta obra se apresenta na igreja de S. Francisco como uma
representação com relevante significação histórica e cultural na cidade do Porto. A presença
dos doadores, identificados por uns como o rei D. Duarte e a rainha D. Leonor, e, por outros,
como sendo o rei D. João I e a rainha D. Filipa de Lencastre, contribui para o seu interesse
artístico e relevância histórica.
As diferentes correntes artísticas que dominaram cada época histórica convivem em S.
Francisco do Porto, sendo esta pintura um exemplo da primitiva decoração do templo, que foi
ulteriormente à sua execução respeitada e adornada por um retábulo barroco do século XVIII
que actualmente lhe serve de moldura.
As atribuições da autoria desta pintura têm-se centrado, tradicionalmente, em António
Florentim, pintor do rei D. João I, e Álvaro Pires de Évora, ambos activos no século XV. É de
referir que foi Henrique Franco, em 1943, o primeiro a destacar o carácter da pintura a seco
(têmpera) nesta obra, bem como a diferenciação entre zonas pintadas sobre gesso e outras
sobre argamassa de cal e areia.
Estas circunstâncias, concorrentes com o facto de se encontrar num grave estado de
conservação, determinaram o interesse do Centro de Conservação e Restauro da Escola das
Artes do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa para o estudo desta
obra.
O mau estado de conservação da pintura não é de agora. Quase todos os autores que a ela
se referem, desde meados do século XX, aludem aos danos que apresentava assim como às
várias intervenções que então se podiam apreciar na obra. Também estão documentadas as
inspecções levadas a cabo pelas brigadas de pintura mural do actual Instituto Português de
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CENTRO DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO
Conservação e Restauro, desde 1974 até 1990, com documentação fotográfica, bem como
da intervenção realizada em 1989. Pode-se afirmar que até hoje nunca se concretizou
qualquer estudo técnico aprofundado da obra que permitisse determinar os procedimentos
utilizados na execução da mesma, no sentido de melhor se avaliar a evolução do seu
processo de degradação e determinar os tratamentos de conservação mais adequados.
Assim, partindo da necessária multidisciplinaridade de um estudo como este, iniciámos uma
série de análises que nos permitissem conhecer melhor os materiais e o estado da pintura, a
par das investigações históricas e artísticas realizadas.
Efectuou-se, deste modo, um levantamento fotográfico de toda a obra e seu contexto. Além
do registo de imagens visíveis em luz normal, efectuaram-se fotografias com luz rasante para
se observar a técnica de execução e o estado de conservação da superfície. Foi também a
obra estudada e documentada com iluminação ultravioleta, bem como através de
reflectografia infravermelha. Realizaram-se ainda análises por meio de fluorescência de raios
X, para se determinar os materiais inorgânicos presentes na pintura. Recolheram-se também
microamostras para análises microquímicos e estratigráficos.
Os resultados desta primeira aproximação técnica da obra de “Nossa Senhora da Rosa” da
igreja de S. Francisco do Porto serão apresentados nestas II Jornadas de Arte e Ciência,
dedicadas expressamente à técnica e conservação das pinturas murais.
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