UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA
Faculdade de Arquitectura e A rtes
Mestrado integ rado em Arquitec tura
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Faculdade de Arquitectura e Artes
Mestrado Integrado em Arquitectura
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
Lisboa
Janeiro 2013
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I S B O A
Faculdade de Arquitectura e Artes
Mestrado Integrado em Arquitectura
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
Lisboa
Janeiro 2013
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitectura e
Artes da Universidade Lusíada de Lisboa para a
obtenção do grau de Mestre em Arquitectura.
Orientador: Prof. Doutor
Domingues Hipólito
Arqt.
Fernando
Manuel
Assistente de orientação: Mestre Arqt. José Maria de
Brito Tavares Assis e Santos
Lisboa
Janeiro 2013
Ficha Técnica
Autora
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
Orientador
Prof. Doutor Arqt. Fernando Manuel Domingues Hipólito
Assistente de orientação
Mestre Arqt. José Maria de Brito Tavares Assis e Santos
Título
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Local
Lisboa
Ano
2013
Mediateca da Universidade Lusíada de Lisboa - Catalogação na Publicação
SOUSA, Sandra Isabel Barbosa de, 1986Estruturas de repetição : a malha hexagonal / Sandra Isabel Barbosa de Sousa ; orientado por
Fernando Manuel Domingues Hipólito, José Maria de Brito Tavares Assis e Santos. - Lisboa : [s.n.],
2013. - Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura e Artes da
Universidade Lusíada de Lisboa.
I - HIPÓLITO, Fernando Manuel Domingues, 1964II - SANTOS, José Maria de Brito Tavares Assis e, 1962LCSH
1. Grelhas (Engenharia de estruturas)
2. Pórticos estruturais
3. Edifício Caleidoscópio (Lisboa, Portugal)
4. Centro de Reabilitação Calouste Gulbenkian (Lisboa, Portugal)
5. Casa em Sesimbra (Portugal)
6. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Teses
7. Teses – Portugal - Lisboa
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
Grillages (Structural engineering)
Structural frames
Edifício Caleidoscópio (Lisbon, Portugal)
Centro de Reabilitação Calouste Gulbenkian (Lisbon, Portugal)
House in Sezimbra (Portugal)
Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Dissertations
Dissertations, Academic – Portugal - Lisbon
LCC
1. TA660.G7 S68 2013
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos os docentes, que durante os cinco anos, através da transmissão dos
seus conhecimentos, contribuíram e estimularam o meu interesse e entusiasmo
crescente pela arquitectura. Agradeço em particular ao Prof. Fernando Hipólito e ao
Prof. José Maria Assis, pela disponibilidade concedida para a realização da presente
dissertação.
Aproveito também para agradecer aos arquitectos Pedro Oliveira e Nuno Portas e à
prof. Isabel, por toda a disponibilidade e simpatia.
Por último agradeço à minha família e amigos, por todo o apoio.
APRESENTAÇÃO
Estruturas de repetição: A malha hexagonal
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
A presente dissertação de mestrado tem como tema central o estudo de projectos de
arquitectura desenvolvidos a partir de malhas hexagonais. O tema surge na sequência
do trabalho desenvolvido na disciplina de projecto no ano lectivo de 2009/2010
Nesta perspectiva, no Capítulo I faz-se uma análise das diferentes aplicações da
malha hexagonal na arquitectura, a nível decorativo, estrutural e espacial, onde se dá
uma especial relevância ao nível espacial pela sua relação directa com a proposta
desenvolvida na cadeira de Projecto III.
Neste seguimento, no Capítulo II analisam-se individualmente três casos de estudo em
Portugal desenvolvidos igualmente a partir da matriz hexagonal, onde se pretende
entender as intenções e motivações que levaram ao uso do plano modular hexagonal
e a respectiva flexibilidade e funcionalidade do plano.
Os conceitos desenvolvidos servem como base teórica para o desenvolvimento do
Capítulo III, onde é feita a análise da proposta desenvolvida para a disciplina de
projecto que consistiu numa residência e escola para o Circo do Chapitô.
Resumidamente, esta dissertação pretende estudar vários exemplos desenvolvidos a
partir
da
malha
hexagonal,
especialmente
a
nível
espacial,
analisando-os
individualmente e comparativamente. Esta análise é efectuada com o objectivo de
alcançar uma melhor compreensão sobre as diversas potencialidades da malha
hexagonal e as diferentes interpretações retiradas desta por parte do arquitecto para
desenvolvimento dos seus projectos.
Palavras-chave:
Hexágonos,
Flexibilidade, Funcionalidade
Malhas,
Malhas
hexagonais,
Plano
modular,
PRESENTATION
Repetition structures: the hexagonal mesh
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
This dissertation is focused on the study of architectural projects developed from
hexagonal mesh. The theme follows the work in the discipline of project in the
academic year 2009/2010
In this perspective, in Chapter I is an analysis of the different applications of hexagonal
mesh in architecture, at the decorative, structural and spacial levels, were is given an
special importance to the spatial level doo to its direct link with the proposal developed
in the discipline of Project III.
Following this, in Chapter II are analyzed individually three case studies developed in
Portugal also from the hexagonal array, which aims to understand the intent and
motives that have led to the use of hexagonal plan and modulate their flexibility and
functionality of the plane.
The concepts developed serve as a theoretical basis for the development of Chapter
III, where is made the analysis of the proposal developed in the discipline of Project
that consisted in a residence and school for the Circus Chapitô.
Briefly, this paper intends to study several examples developed from the hexagonal
mesh, especially in the spatial level, analyzing them individually and comparatively.
This analysis is performed in order to achieve a better understanding the various
potentials of hexagonal mesh and the different interpretations drawn from this by the
architect to develop their projects.
Palavras-chave: Hexagons, meshes, hexagonal meshes, modular Plan, Flexibility,
Functionality
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 - Malhas Regulares: triangular, quadrada e hexagonal ( ilustração nossa)
................................................................................................................................... 25
Ilustração 2 - Retrato de Bernini e Borrimini (Morrisey, 2006) .................................... 29
Ilustração 3 - Cúpula da Igreja “San Andrea al Quirinale”. (The HTA Association,
2006, p.30) ................................................................................................................. 34
Ilustração 4 - Pormenor da lanterna da cúpula da Igreja “San Andrea al Quirinale”.
(The HTA Association, 2006, p.30) ............................................................................. 34
Ilustração 5 - Pormenor da cúpula da Igreja “San Andrea al Quirinale”. (The HTA
Association, 2006, p.30) ............................................................................................. 34
Ilustração 6 - Cúpula da igreja de “San Carlo alle Quattro Fonatane”. (Zalungo, 2012,
p.31) ........................................................................................................................... 34
Ilustração 7 - A auréola de “San Carlo alle Quatro Finatana”. (HTA, 2006, p. 32) ...... 34
Ilustração 8 - Auto retrato de Domenico Beccafumi ................................................... 35
Ilustração 9 - Plano do Pavimento. (Martini, 1900, p.59) ........................................... 39
Ilustração 10 - Perspectiva da malha de painéis hexagonais situada no transepto.
(Martini, 1900, p.45) .................................................................................................... 39
Ilustração 11 - Pormenor de um dos painéis desenvolvidos por Beccafumi: “o
Sacrifício de Elias” (Martini, 1900, p.45)...................................................................... 39
Ilustração 12 - Exemplos de padrões hexagonais na natureza: pormenor da estrutura
da colmeia; conjunto de girafas; formação rochosa no norte da Irlanda; conjunto de
tartarugas. .................................................................................................................. 44
Ilustração 13 - Modelo em acrílico de uma estrutura do favo de mel (colmeia). (HTA,
2006, p.7) ................................................................................................................... 48
Ilustração 14 - Canto superior direito: experiência com a estrutura. (HTA, 2006, p.10)
................................................................................................................................... 48
Ilustração 15 - Canto inferior direito: estrutura favo de mel com os pré-fabricados de
betão pré-esforçados (HTA, 2006, p.12) ..................................................................... 48
Ilustração 16 - Estrutura de uma srmação do fractal do “honeycomb”. (HTA, 2006, p.
27) .............................................................................................................................. 50
Ilustração 17 - Vários tamahnos de modelos hexagonais. (HTA, 2006, p. 27) ........... 50
Ilustração 18 - Padrão fractal do “ honeycomb”. (HTA, 2006, p. 27) .......................... 50
Ilustração 19 - Módulos (vários tipos de organização fractal). (HTA, 2006, p.147). ... 51
Ilustração 20 - Teste às condições da estrutura. (HTA, 2006, p.143). ....................... 51
Ilustração 21 - Falha da estrutura no pequeno hexágono (HTA, 2006, p.147). .......... 51
Ilustração 22 - Falha da estrutura no grande hexágono (HTA, 2006, p.147). ............. 51
Ilustração 23 - Vista da torre HTS projectada para a cidade de Tokyo” (HTA, 2006, p.
72) .............................................................................................................................. 52
Ilustração 24 - “High-density Residential Areas” (Hugo Kohno Architect Associates).
(HTA, 2006, p. 68) ...................................................................................................... 52
Ilustração 25 - Canto superior direito: Vista exterior da guesthouse incluída no
projecto do plano “Suburban Areas” (HTA, 2006, p. 128) .......................................... 52
Ilustração 26 - Canto inferior direito: Vista superior do interior da guesthouse incluída
no projecto do plano “Suburban Areas” (HTA, 2006, p. 128)...................................... 52
Ilustração 27 - Complexo Residencial de baixo crescimento à esquerda e de médio
crescimento à direita (HTA, 2006, p. 124) ................................................................... 53
Ilustração 28 - Vista do complexo de crescimento médio do sudoeste. (HTA, 2006, p.
124) ............................................................................................................................ 53
Ilustração 29 - Vista exterior do complexo de medio crescimento, Scheme A. (HTA,
2006, p. 126) .............................................................................................................. 54
Ilustração 30 - Vista exterior da “Guesthouse. Perspectiva da entrada e garagem.
(HTA, 2006, p. 126) .................................................................................................... 54
Ilustração 31 - Vista interior da “Guesthouse”. Perspectiva a partir do corredor. (HTA,
2006, p. 129) .............................................................................................................. 54
Ilustração 32 - A grande utopia do Domus de Nova Iorque (Fuller, 2005) (Diniz, 2006,
p.53) ........................................................................................................................... 56
Ilustração 33 - O potencial da aplicação dos “hexágonos fractais”. (HTA, 2006, p.141)
................................................................................................................................... 56
Ilustração 34 - A produção dos “hexágonos fractais”. (HTA, 2006, p.141) ................. 56
Ilustração 35 - Buckminster Fuller (Gomes, 1959, p.13) ............................................ 57
Ilustração 36 - Buckminster Fuller com o terceiro modelo da casa Dymaxion (1929).
(Krausse, 2001, p.97) ................................................................................................. 60
Ilustração 37 - Modelo Construído da casa Dymaxion (Krausse, 2001, p.95) ............ 60
Ilustração 38 - esqueletos de radiolários (cienccidade, 2010, p.44) ........................... 61
Ilustração 39 - Pavilhão dos Estados Unidos na Expo de Montreal (HTA, 2006, p. 59)
................................................................................................................................... 65
Ilustração 40 - Relação entre o padrão hexagonal encontrado na radiolária e o módulo
estrutural do Pavilhão Montreal (Fuller, 1967) ............................................................ 66
Ilustração 41 - Interior do Pavilhão dos Estados Unidos na Expo de Montreal (HTA,
2006, p. 59) ................................................................................................................ 68
Ilustração 42 - Pormenor do Pavilhão dos Estados Unidos na Expo de Montreal
(HTA, 2006, p. 59) ...................................................................................................... 68
Ilustração 43 - Retrato de Nicholas Grimshaw (biography.com) ................................ 69
Ilustração 44 - Eden Project de Nicholas Grimshaw (2001). (Allgayer, 2009, p.42) ... 70
Ilustração 45 - Planta geral do projecto do Eden. (Diniz, 2006, p.77) ........................ 71
Ilustração 46 - Perspectiva do interior das cúpulas. ................................................... 71
Ilustração 47 - Perspectiva do projecto do Eden........................................................ 75
Ilustração 48 - Processo de montagem da estrutura (Metálica, 2004) (Diniz, 2006,
p.83) ........................................................................................................................... 75
Ilustração 49 - Processo de montagem da estrutura (Metálica, 2004) (Diniz, 2006,
p.83) ........................................................................................................................... 75
Ilustração 50 - Pormenor das cúpulas. ...................................................................... 75
Ilustração 51 - Perspectiva interior ............................................................................ 75
Ilustração 52 - Combinações horizontais de colunas, pilastras, muros, portas e janelas
(Gouvêa, 1999, p.21) ..................................................................................................... 78
Ilustração 53 - Planta da casa Caine de Mies Van der Rohe. (Gouvêa, 1999, p.25) .. 78
Ilustração 54 - Retrato de Frank Lloyd Wright por volta dos 50 anos de idade..
(Hoffmann, 1986) ........................................................................................................ 79
Ilustração 55 - Vista exterior da casa Hanna ( Califórnia, Estados Unidos), fotografia
de Yukio Futagawa. (Pfeiffer, 1990, p.38) ................................................................... 86
Ilustração 56 Desenho – Perspectiva da casa “Honeycomb” (Califórnia, 1936) –
(Pfeiffer, 1987, p.45) ................................................................................................... 89
Ilustração 57 - Esboço da Casa “Hoenycomb”, (plot plan) – a planta orgânica. A
massa da chaminé em forma de ângulo, colocada no ápice da estrutura, condensa
dinamicamente no espaço de transmissão da acção. Estruturalmente é o núcleo de
encontro dos planos verticais e horizontais: os primeiros convergindo nas linhas da
cobertura, os segundos projectados na paisagem, (Califórnia, 1936) – (Pfeiffer, 1990,
p.24)....................... ..................................................................................................... 89
Ilustração 58 Perspectiva aérea da casa Honeycomb (1935-1937) – fotografia de
Yukio Futagawa................ .......................................................................................... 90
Ilustração 59 - Planta original: 1- entrada; 2- sala de estar/ jantar; 3- cozinha; 4- sala
de jogos; 5- quarto; 6- quarto de estudo; 7- piscina; 8- área de estacionamento (Zevi,
1995, p.174) (planta da casa antes das alterações) – acrsecentar legenda quarto de
convidados, sala de estudo......................................................................................... 90
Ilustração 60 - Pormenor da sala de estar, fotografia de Yukio Futagawa (Pfeiffer,
1990, p.47).............. .................................................................................................... 93
Ilustração 61 -
Pormenor das janelas (Pfeiffer, 1990, p.47) ..................................... 93
Ilustração 62 -
Sala de estar, fotografia de Yukio Futagawa. (Pfeiffer, 1990, p.44 ) . 94
Ilustração 63 - Lareira da sala de estar (pormenor do acabamento em tijolo),
fotografia de Yukio Futagawa. (Pfeiffer, 1990, p.46 ) .................................................. 94
Ilustração 64 - Perspectiva fachada ocidental, ,fotografia de Yukio Futagawa
(Pfeiffer, 1990, p.31) ................................................................................................... 98
Ilustração 65 Perspectiva exterior vista a partir da casa jardim, fotografia de
Yukio Futagawa (Pfeiffer, 1990, p.39) ......................................................................... 98
Ilustração 66 - Área de entrada, fotografia de Yukio Futagawa (Pfeiffer, 1990,
p.39)......................... ................................................................................................... 98
Ilustração 67 -
Sala de estar, fotografia de Yukio Futagawa (Pfeiffer, 1990, p.48) ... 99
Ilustração 68 -
Sala de jantar fotografia de Yukio Futagawa (Pfeiffer, 1990, p.48) .. 99
Ilustração 69 - Sala de jogos convertida na grande Sala de Jantar, fotografia de
Yukio Futagawa (Pfeiffer, 1990, p.50) ......................................................................... 99
Ilustração 70 -
Cozinha, fotografia de Yukio Futagawa (Pfeiffer, 1990, p.52) ........ 100
Ilustração 71 - Quarto principal convertido na biblioteca, fotografia de Yukio
Futagawa (Pfeiffer, 1990, p.54) ................................................................................. 100
Ilustração 72 - Quartos do filho e filha convertido no quarto principal, fotografia de
Yukio Futagawa (Pfeiffer, 1990) ................................................................................ 100
Ilustração 73 - Nuno San Payo. ............................................................................... 101
Ilustração 74 - Órtofotomapa de localização. (iluistração nossa) ............................. 103
Ilustração 75 - Perspectiva da área de acesso ao edifício Caleidoscópio. (ilustração
nossa) ....................................................................................................................... 104
Ilustração 76 - Simulação do local de implantação do edificio. Planta de 1971 – (apud
Pedro Oliveira documentação).................................................................................. 105
Ilustração 77 - Planta de Cobertura do projecto de 1971. (apud Pedro Oliveira
documentação) ......................................................................................................... 105
Ilustração 78 - Arquitecto Pedro Oliveira e a maquete da nova proposta para o edifício
Caleidoscópio (http://www.cm-lisboa.pt/?idc=88&idi=57065 ..................................... 110
Ilustração 79 - Apresentação da nova proposta para o edifício Caleidoscópio.
http://www.cm-lisboa.pt/?idc=88&idi=57065 .............................................................. 110
Ilustração 80 - Ortofotomapa com montegem da implantação do projecto propoto.
(apud Pedro Oliveira documentação ......................................................................... 111
Ilustração 81 - Fotografia maquete do projecto do arquitecto Pedro Oliveira.
(http://www.cm-lisboa.pt/?idc=88&idi=57065) ........................................................... 111
Ilustração 82 - Vista do Caleidocopio a partir do Lago (ilustração nossa). ............... 114
Ilustração 83 - Perspectiva da fachada virada para a rua (ilustração nossa) ........... 115
Ilustração 84 - Pormenor (ilustração ........................................................................ 115
Ilustração 85 - Planta esquemática da organização em módulos.(ilustração nossa) 118
Ilustração 86 - Vista da entrada principal. (ilustração nossa) ................................... 122
Ilustração 87 - Vista do Caleidoscópio a partir do lago (sul). (ilustração nossa)....... 122
Ilustração 88 - Vista a partir do corredor de palmeiras. Aspecto da fachada virada a
norte, antes do incêndio. (ilustração nossa) .............................................................. 122
Vista da fachada virada a norte. Aspecto anterior ao incêndio (ilustração nossa) ..... 122
Ilustração 89 - Ortofotomapa de localização. (ilustração nossa) .............................. 125
Ilustração 90 - Planta de enquadramento. (APPC, 1970, p.15) ............................... 126
Ilustração 91 - Planta Geral do Centro de Reabilitação: 1 - Entrada Coberta; 2 Vestíbulo; 3 - Vestíbulo de Dispersão; 4 – Consulta; 5 – Ensino Mães; 6 – Psicologia,
Testes; 7 – Terapêutica Ocupacional; 8 – Ginásio; 9 – Piscina; 10 – Fisioterapia; 11 –
Terapêutica da Fala; 12 – Aulas; 13 – Recreio Exterior; 14 – Recreio Exterior; 15 –
Serviços Administrativos; 16 – Sala de Reuniões; 17 – Refeitório Pessoal; 18 –
Refeitório; 19 – Aviário; 20 – Cozinha; 21 – Refeitório do Pessoal; 22 – Vestiário do
Pessoal; 23 – Lavandaria; 24 – Central de Aquecimento; 25 – Garagem; 26 – Capela;
27 – Sanitários; 28 – Saída Privada (APPC, 1970, p.13) .......................................... 128
Ilustração 92 - Projecto tridimensional do Centro de Reabiltação. (Costa, 1970, p.
144) .......................................................................................................................... 130
Ilustração 93 - Perspectiva da área coberta da entrada (Costa, 1970, p. 146)......... 131
Ilustração 94 - Perspectiva (Costa, 1970, p. 146) .................................................... 131
Ilustração 95 - Planta esquemtática (ilustração nossa) ............................................ 133
Ilustração 96 - Vista interior da Capela (Costa, 1970, p.147) ................................... 135
Ilustração 97 - Vista interior da Capela (Costa, 1970, p.147) ................................... 135
Ilustração 98 - Vista interior (APPC, 1970, p.7) ....................................................... 135
Ilustração 99 - Vista interior da Capela (Costa, 1970, p.145) ................................... 136
Ilustração 100 - Vista interior da área da piscina (Costa, 1970, p.145) .................... 136
Ilustração 101 - Vista interior. (Costa, 1970, p.145) ................................................. 136
Ilustração 102 - Nuno Teotónio Pereira (fonte desconhecida) ................................. 137
Ilustração 103 - Nuno Portas (fonte desconhecida) ................................................. 137
Ilustração 104 - Ortofotomapa de localização. (ilustração nossa) ............................ 139
Ilustração 105 - Vista da frente da casa. (ilustração nossa) ..................................... 140
Ilustração 106 - Piso Inferior: 1 Alpendre; 2 Sala de jogos; 3 Instalações Sanitárias; 4
Quarto do Pessoal de Serviço; 5 Arrumo. (Portas, 1966, p.116) ............................... 141
Ilustração 107 - Piso Superior: 1 Entrada; 2 Gabinete de Trabalho; 3 Sala de Estar; 4
Sala de Refeição; 5 Costura e Copa; 6 Cozinha; 7 Quartos; 8 Instalações Sanitárias; 9
Terraçoe se Varandas; 10 Despensa. (Portas, 1966, p.116)..................................... 141
Ilustração 108 - Vista exterior das varandas (ilustração nossa) ............................... 144
Ilustração 109 - Canto Superior direito: Os três níveis da cobertura em terraço
praticável. O piso é formado poe lajetas de betão, sobrelevadas em relação à placa
formando uma superfície de sombreamento desta. (ilustração nossa) ..................... 144
Ilustração 110 - Canto inferior Direito: Em primeiro plano, a sala superior com varanda
que faz alpendre sobre a segunda sala, semienterrada, para a sala de jogos,
destinada sobretudo, aos jovens. ............................................................................. 144
Ilustração 111 - Alçado nascente. (Portas, 2012, p.131) (fotografar restantes livro
nuno portas) ............................................................................................................ 146
Ilustração 112 - Corte AB transversal. ( Portas, 1966, p.117) ................................. 146
Ilustração 113 - Vista panorâmica do terraço (ilustração nossa) .............................. 147
Ilustração 114 - Vista panorâmica do terraço (ilustração nossa) .............................. 147
Ilustração 115 - Ortofotomapa de loicalização. (ilustração nossa) ........................... 150
Ilustração 116 - Planta de cobertura. (ilustração nossa) .......................................... 154
Ilustração 117 - Acessos exteriores às diferentes áreas do edifício: vermelho – acesso
à escola ; amarelo - acesso à zona residencial ; verde: acesso à cobertura, sala de
espectáculos * através da escola também existe acesso; a laranja a linha de corte.
(ilustração nossa) ..................................................................................................... 157
Ilustração 118 - Corte (ilustrado no modelo tridimendional da imagem 2). (ilustração
nossa). ...................................................................................................................... 157
Ilustração 119 - Exemplos de padrões hexagonais na natureza: pormenor da estrutura
da colmeia; conjunto de girafas; formação rochosa no norte da Irlanda; conjunto de
tartarugas. ................................................................................................................ 158
Ilustração 120 - Pespectiva da desigualdade das tramas entre as zonas dos bairros
antigos de Lisboa (Mouraria e Alfama) e zona da Baixa Pombalina. (ilustração nossa)
................................................................................................................................. 159
Ilustração 121 - Perspectivas tridimensionais do Chapitô. (ilustração nossa) .......... 161
Ilustração 122 - Canto superior e inferior esquerdo: Vista da praça do edificio pTallin
City Hall dos arquitectos dos arquitectos Bjarke Ingels Group (BIG). (http://www.big.dk)
................................................................................................................................. 162
Canto superior e inferior centro e direito: vista da praça na cobertura do edifício para a
escola do Chapitô. (ilustração nossa). ...................................................................... 162
Ilustração 123 - Planta esquemática. Vermelho: pátios exteriores (elementos centrais
de acesso às áreas circundantes - organização idêntica ao Centro de Reabilitação);
azul área habitacional; verde: área escolar; laranja: área escolar (organização espacial
idêntica ao Caleidoscópio). (ilustração nossa) .......................................................... 165
Ilustração 124 - Perspectivas do modelo tridimensional da sala cobertura e interior da
respectiva sala de espectáculo. (ilustração nossa) ................................................... 167
Ilustração 125 - Planta piso 2 do projecto para a Escola do Chapitô desenvolvido no
5º ano (ilustração nossa) .......................................................................................... 171
Ilustração 126 - Planta de enquadramento da casa Hanna de Frank Lloyd Wright.
(Zevi, 1995, p.174) .................................................................................................... 171
Ilustração 127 - Planta piso -1 do edifício Caleidoscópio de Nuno San Payo (piso do
cinema). (.................................................................................................................. 171
Ilustração 128 - Planta de enquadramento do Centro de Reabilitação. De Palma de
Melo. (APPC, 1970, p.15) ......................................................................................... 171
Ilustração 129 - Piso Superior da casa em Sesimbra de Nuno Teotónio e Nuno
Portas. (Portas, 1966, p.116) .................................................................................... 171
Ilustração 130 - Planta esquemática do edifício Caleidoscópio. Laranja: tratamento
modular. (ilustração nossa) ....................................................................................... 175
Ilustração 131 - Planta esquemática do Centro de Reabilitação. vermelho: principais
centros para acesso aos restantes espaços; verde: espaços ligados aos centros de
acesso. (ilustração nossa) ........................................................................................ 175
Ilustração 132 - Planta esquemática projecto da escola para o Chapitô. Laranja:
tratamento modular; vermelho: pátios exteriores que funcionam como centro de
acesso a diferentes áreas (tratamento idêntico ao do Centro de Reabilitação); verde:
áreas ligadas aos pátios de acesso. (ilustração nossa) ............................................ 175
Ilustração 133 - Painel de Apresentação 1. (ilustração nossa) ................................ 205
Ilustração 134 - Painel de Apresentação 2. Residências + Sala de Espectáculos na
Cobertura (ilustração nossa) ..................................................................................... 207
Ilustração 135 - Painel 3 – Imagens da proposta geral ( Esquiços, modelo 3D,
maquete) .................................................................................................................. 209
Ilustração 136 - Painel zona Residencial (Plantas, Cortes, detalhes construtivos,
maquete). (ilustração nossa)..................................................................................... 209
Ilustração 137 - Planta piso -2. (ilustração nossa) .................................................. 211
Ilustração 138 - Planta piso -1. (ilustração nossa) ................................................... 211
Ilustração 139 - Planta piso 0 (ilustração nossa) ..................................................... 211
Ilustração 140 - Planta piso 1. (ilustração nossa) ................................................... 212
Ilustração 141 - Planta piso 2 (ilustração nossa) ..................................................... 212
Ilustração 142 - Planta piso 3 (ilustração nossa) ..................................................... 212
Ilustração 143 - Planta piso 4 (ilustração nossa) .................................................... 213
Ilustração 144 - Planta piso 5 (ilustração nossa) ..................................................... 213
Ilustração 145 - Planta de Cobertura (ilustração nossa) .......................................... 213
Ilustração 146 - Alçado frente e Alçado Posterior (ilustração nossa) ...................... 214
Ilustração 147 - Alçados Lateral Direito e Alçado lateral Esquerdo. (ilustração nossa)
................................................................................................................................. 214
Ilustração 148 - Cortes A e B. (ilustração nossa) ..................................................... 214
Ilustração 149 - Planta geral do plano urbano: à esquerda complexo habitacional de
baixo crescimento e à direita de alto crescimento. (HTA, 2006, p.122-130) .............. 221
Ilustração 150 - Complexo Residencial de baixo crescimento à esquerda e de médio
crescimento à direita (HTA, 2006, p.122-130) ........................................................... 221
Ilustração 151 - Vista exterior do complexo de medio crescimento. Efeito diurno e
nocturno.Imagem 3 e 4: (HTA, 2006, p.122-130) ...................................................... 221
Ilustração 152 - Vista exterior da “Guesthouse. Perspectiva da entrada e garagem.
Efeito diurno e nocturno (HTA, 2006, p.122-130) ...................................................... 221
Ilustração 153 - Vista exterior da “Guesthouse” (HTA, 2006, p.122-130) ................. 221
Ilustração 154 - Vista interior da Guesthouse (percepcionada de cima) (HTA, 2006,
p.122-130) ................................................................................................................ 221
Ilustração 155 - Vista interior da “Guesthouse”. Perspectiva a partir do corredor (HTA,
2006, p.122-130) ...................................................................................................... 222
Ilustração 156 - Vista interior da “Guesthouse” (HTA, 2006, p.122-130) .................. 222
Ilustração 157 - Planta da casa (piso térreo) (HTA, 2006, p.122-130) ..................... 222
Ilustração 158 - Planta da casa (piso 1) (HTA, 2006, p.122-130)............................. 222
Ilustração 159 - Corte da casa (HTA, 2006, p.122-130).......................................... 222
Ilustração 160 - Alçado da casa (HTA, 2006, p.122-130) ........................................ 222
Ilustração 161 - Modelo Tridimensional do Complexo Residencial. (HTA, 2006, p.69)
................................................................................................................................. 223
Ilustração 162 - Modelo Tridimensional do Complexo Residencial. (HTA, 2006, p.100109) .......................................................................................................................... 223
Ilustração 163 - Modelo Tridimensional do Complexo Residencial. (HTA, 2006, p.110121) .......................................................................................................................... 223
Ilustração 164 Desenho – Perspectiva da casa “Honeycomb” (Califórnia, 1936) –
(Pfeiffer, 1987, p.45) ................................................................................................. 237
Ilustração 165 Esboço da Casa “Hoenycomb”, (plot plan) – a planta orgânica. A
massa da chaminé em forma de ângulo, colocada no ápice da estrutura, condensa
dinamicamente no espaço de transmissão da acção. Estruturalmente é o núcleo de
encontro dos planos verticais e horizontais: os primeiros convergindo nas linhas da
cobertura, os segundos projectados na paisagem, (Califórnia, 1936) – (Pfeiffer, 1990,
p.24)
237
Ilustração 166 - Alçados (Pfeiffer, 1987) .................................................................. 238
Ilustração 167 - Alçados (Pfeiffer, 1987) .................................................................. 238
Ilustração 168 - Alçados (Pfeiffer, 1987) .................................................................. 238
Ilustração 169 - Documentação doProjecto de 1971. (Informação cedida pelo arq.
Pedro Oliveira). (Payo, 1971).................................................................................... 241
Ilustração 170 - Planta de implantação (documentação cedida pelo arquitecto Pedro
Oliveira - Payo, 1971) ............................................................................................... 242
Ilustração 171 - Planta piso -1 (referida na planta como pisko 1). (Payo, 1971) ...... 242
Ilustração 172 - Planta piso 1 ( referida na planta como piso 2). (Payo, 1971) ........ 243
Ilustração 173 - Planta piso 2 (refreida na planta como piso 3) (Payo, 1971) .......... 243
Ilustração 174 - Planta (Payo, 1971) ....................................................................... 243
Ilustração 175 - Planta Cobertura (Payo, 1971) ....................................................... 243
Ilustração 176 - Corte CD (Payo, 1971) ................................................................... 244
Ilustração 177 - Alçado (Payo, 1971)....................................................................... 244
Ilustração 178 - Alçado (Payo, 1971)....................................................................... 244
Ilustração 179 - Planta de implantação (documentação cedida pelo arquitecto Pedro
Oliveira) (Payo, 1974) ............................................................................................... 245
Ilustração 180 - Planta piso -1 (referida na planta como pisko 1). (Payo, 1974) ...... 245
Ilustração 181 - Planta piso 1 ( referida na planta como piso 2). (Payo, 1974) ........ 245
Ilustração 182 - Planta piso 2 (refreida na planta como piso 3) (Payo, 1974) .......... 246
Ilustração 183 - Planta (Payo, 1974) ....................................................................... 246
Ilustração 184 - Planta Cobertura (Payo, 1974) ....................................................... 246
Ilustração 185 - Alçados (Payo, 1974) ..................................................................... 247
Ilustração 186 - Alçado (Payo, 1974)....................................................................... 247
Ilustração 187 - Cortes (Payo, 1974) ....................................................................... 247
Ilustração 188 - Planta piso -1 (documentação cedida pelo arquitecto Pedro Oliveira (Payo, 1984) ............................................................................................................. 248
Ilustração 189 - Alterações pido 1 Planta piso 1 (referida na planta como pisko 1).
(Payo, 1984) ............................................................................................................. 248
Ilustração 190 - Alterações Planta piso 2. (referida na planta como piso 3). (Payo,
1984) ........................................................................................................................ 248
Ilustração 192 - Painel de apresentação da requalificação do jardim do campo grande
e edifício Caleidoscópio ( .......................................................................................... 251
Ilustração 193 - Estudos casa Sesimbra. (Portas, 2012, p. 130-131) ...................... 257
Ilustração 194 - Fotografias do modelo tridimensional da casa Brás de Oliveira na
exposição “O ser Urbano: nos caminhos de Nuno Portas” em Guimarães. ............... 257
SUMÁRIO
1. Introdução .................................................................................................... 19
2. As várias aplicações da malha hexagonal ................................................... 23
2.1. A malha hexagonal decorativa ............................................................... 27
2.2. A malha hexagonal estrutural ................................................................ 41
2.3. a malha hexagonal espacial .................................................................. 76
3. Três casos de estudo em Portugal............................................................. 101
3.1. Caleidoscópio: Nuno San Payo ........................................................... 101
Plano Modular Hexagonal ....................................................................... 114
Funcionalidade e Flexibilidade ............................................................... 118
3.2. Centro de Reabilitação Calouste Gulbenkian: Palma de Melo ............ 123
Plano Modular Hexagonal ....................................................................... 129
Funcionalidade e Flexibilidade ................................................................ 132
3.3. Habitação em Sesimbra: Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas ......... 137
Plano Modular Hexagonal ....................................................................... 142
Funcionalidade e Flexibilidade ................................................................ 145
4. Projecto III - 5º ano................................................................................... 149
4.1. Residência e Escola de Circo Chapitô ................................................. 149
Plano modular hexagonal........................................................................ 158
Funcionalidade e Flexibilidade ............................................................... 163
5. Analogias dos casos de estudo.................................................................. 169
6. Conclusão .................................................................................................. 177
Referências .................................................................................................... 181
Bibliografia...................................................................................................... 187
Apêndices....................................................................................................... 189
Lista de Apêndices ..................................................................................... 191
Apêndice A .............................................................................................. 193
Apêndice B .............................................................................................. 197
Apêndice C.............................................................................................. 203
Anexos ........................................................................................................... 215
Lista de Anexos .......................................................................................... 217
Anexo A................................................................................................... 219
Anexo B................................................................................................... 225
Anexo C .................................................................................................. 235
Anexo D .................................................................................................. 239
Anexo E................................................................................................... 249
Anexo F ................................................................................................... 255
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
1. INTRODUÇÃO
Esta dissertação de mestrado tem como tema central o estudo das malhas hexagonais
aplicadas nos edifícios a nível espacial.
Este tema surge na sequência do projecto desenvolvido no segundo semestre do ano
lectivo de 2009/2010 na disciplina de Projecto III. Tem um carácter de
desenvolvimento teórico de uma proposta que consistiu na concepção de uma escola
e sala de espectáculos para a escola do Chapitô e respectivas áreas residenciais.
Numa fase inicial do projecto, onde se pretendia criar uma base consistente de
desenvolvimento do edifício e uma relação com a envolvente, foram traçadas
repetidamente linhas paralelas de acordo com as direções das ruas envolventes. O
resultado do cruzamento dessas mesmas linhas deram origem a uma malha, através
das quais se podiam identificar três tipos de malhas regulares distintas: a hexagonal,
triangular e quadrada.
Entre todas essas malhas, a hexagonal foi eleita como base geradora do projecto,
uma vez que perante um programa extenso e com base numa extensa pesquisa, esta
demostrou ser a mais eficiente, flexível, funcional, e com um maior número de
possibilidades de resposta às intenções pretendidas. Deste modo, a malha hexagonal
foi usada como princípio gerador sobre a qual o desenvolvimento do projecto se
encontrava submetido.
Neste sentido a pertinência do estudo em torno deste tema relaciona-se com a
intenção de se ampliar o conhecimento acerca da aplicação das malhas hexagonais
nos projectos de arquitectura, essencialmente a nível espacial; demonstrar que as
malhas não têm que ser interpretadas como um factor limitativo e devido ao facto de
se tratar de um assunto relativamente pouco abordado, especialmente em
dissertações de arquitectura.
Com base nesta perspectiva, a dissertação organiza-se em três capítulos distintos. O
primeiro capítulo subdivide-se em três partes onde se analisam as diferentes
aplicações da malha hexagonal, a nível decorativo, estrutural e espacial.
A análise das diferentes aplicações da malha, assenta na intenção de se entenderem
as motivações que levaram os diferentes artistas a adoptarem a malha hexagonal,
assim como as respectivas potencialidades evidenciadas em cada um dos projectos.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
19
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Entre todas as aplicações, a utilização a nível espacial detém uma particular
importância uma vez que se encontra relacionada com o exercício desenvolvido na
cadeira de Projecto III e funcionar como uma espécie de motor de arranque para o
posterior desenvolvimento da dissertação.
Deste modo, na aplicação a nível espacial tem-se como referência o projecto da casa
“Hanna”, da autoria de Frank Lloyd Wright1, que para além de representar um dos
muitos projectos que Wright desenvolveu a partir das malhas, trata-se ainda de um
dos mais reconhecidos exemplos de projectos desenvolvidos sobre a malha hexagonal
na história da arquitectura2.
No seguimento da análise a nível espacial surgem algumas questões tais como, será a
malha hexagonal considerada um factor limitativo? O facto desta estabelecer uma
espécie de regra por todo o edificio implicará ou terá alguma influência na linha de
raciocínio e desenvolvimento do projecto do arquitecto? Será a malha um elemento
neutro ou pode conferir personalidade e particularidade ao projecto?
Como resposta a estas questões e como componente importante desta dissertação, o
segundo capítulo, procura abordar as referências desta tipologia no contexto
português. A escolha dos projectos em Portugal, reside na importância em analisar
esta tipologia num contexto mais limitado.
Neste sentido, passando pela análise de três casos de estudo construídos entre o
inicio das décadas de 60 e 70 em Portugal, cada um dos casos de estudo subdivide-se
em duas partes onde se analisa em primeiramente - o plano modular hexagonal onde se pretende obter um melhor entendimento das influências ou motivações que
levaram os arquitectos a desenvolverem os seus projectos sobre um a plano modular
hexagonal; e em segundo a - flexibilidade e funcionalidade do plano - onde se
pretende entender as diferentes interpretações retiradas da malha hexagonal por parte
1
Frank Lloyd Wright- (1867-1959) Arquitecto Americano; Desenhou mais de mil projectos, sendo
concretizados mais de quinhentos; Desenvolveu a arquitectura orgânica, como por exemplo Fallingwater;
É autor de livros e artigos não só na América mas também na Europa.
2
2
A casa Honeycomb foi desenhada em 1936, aproximadamente 1 ano após a casa Fallingwater e obteve
um grande prestígio ao ser designada pelo Instituto Americano de Arquitectos como uma das dezassete
obras Americanas desenhadas por Wright para ser conservada como um exemplo da contribuição
arquitectónica para a cultura Americana; (National Historic Landmark (NHL).
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
20
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
de cada arquitecto relativamente à organização espacial. Esta abordagem torna-se
importante para se estabelecerem as respectivas conclusões .
O terceiro capítulo constitui a última fase desta dissertação, onde é feita a análise do
exercício desenvolvido na cadeira de Projecto III. Esta é efectuada em conformidade
com os casos de estudo em Portugal, ou seja, mantendo uma leitura homogénea e
idêntica aos casos de estudo analisados em Portugal. Deste modo cria-se um melhor
entendimento de cada projecto em particular, e ao mesmo tempo torna-se mais fácil
fazer uma análise comparativa entre os diferentes casos.
Em ultimo lugar posteriormente à análise de cada um dos projectos, faz-se uma
analise comparativa com a qual se pretende responder às questões em torno do uso
da malha hexagonal assim como o seu verdadeiro potencial como elemento gerador a
nível espacial nos projectos de arquitectura.
Limitações encontradas:
Durante o desenvolvimento da dissertação, assim como dos projectos foram-se
encontrando algumas limitações, entre todas, a principal e maior condicionante foi a
disponibilidade de informação relacionada com o tema das malhas hexagonais.
Apesar de se encontrarem facilmente exemplos de projectos recentes na internet,
estes ainda não tinham sido construídos e a informação era escassa.
Relativamente aos casos de estudo em Portugal, a informação documental sobre os
projectos também é reduzida e por vezes difícil de se encontrar, sendo que em alguns
casos a fonte de informação mais rica foi o contacto directo com os arquitectos
responsáveis.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
21
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
22
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
2. AS VÁRIAS APLICAÇÕES DA MALHA HEXAGONAL
As “estruturas de repetição” são um termo bastante amplo, no entanto, puderam
conter diversas interpretações dependendo do tema e do contexto em que são
abordadas. Deste modo, torna-se importante esclarecer que as mesmas fazem
referência às malhas. As malhas entendem-se por “um sistema de dois ou mais
conjuntos de linhas paralelas regularmente espaçadas que se entrecruzam, gerando
um padrão geométrico de pontos regularmente espaçados nas intersecções das linhas
e campos regularmente moldados, definidos pelas próprias linhas.” (Ching, 2008, p.70)
Por conseguinte, a malha é então entendida como um espaço aberto entre os pontos
de intercepção de uma rede, quando estas intercepções se interligam segundo
segmentos de recta, encontrando-se situadas num plano. Os espaços abertos entre si
formam polígonos planos. A união entre os segmentos determinam os próprios
vértices do polígono ou pontos de intercepção da malha. Todavia, no caso dos pontos
de intercepção não se encontrarem contidos no mesmo plano, os mesmos, definirão
uma rede espacial.
Entre os vários tipos de malhas poligonais existem: a malha regular, sendo formada
por apenas um tipo de polígono regular, podendo ser o triângulo, o quadrado ou o
hexágono; a malha semi-regular, formada por combinações de polígonos regulares em
torno de um ponto de intercepção; a malha dual, que têm como pontos de intercepção
os centros dos polígonos definidos pelas malhas semi-regulares3; e por último, a
malha deformada, consistindo na deformação da malha plana, sendo a mesma
efectuada pela sua dimensão numa das direcções ou em ambas, ou em relação ao
ângulo formado entre as direcções quer seja retirando ou acrescentando partes.
As malhas regulares são formadas pela justaposição de um só tipo de polígonos
regulares e para a sua formação, os ângulos internos dos polígonos devem formar
ângulos de 360º ao serem colocados através da sobreposição em torno de um ponto.
Essa condição restringe a formação da malha regular para apenas três polígonos: o
quadrado, o triângulo e o hexágono.
3
As malhas regulares são duais de si mesmas, ou seja, a triangular é dual da hexagonal e vice-versa, e a
quadrada é dual dela própria. As semi-regulares, têm suas próprias duais, com características definidas.
(BARISON, Maria Bernardete. (2005) – Geometrica: Desenho Geometria e Arquitectura vol.1 nº12ª).
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
23
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Os padrões em malha, tornam-se mais familiares na medida em que estes se
encontram presentes nas coisas mais simples do quotidiano, tal como nas pedras da
calçada, objectos de decoração, no mobiliário ou até mesmo vestuário. Relativamente
à malha hexagonal, o Homem está mais familiarizado com a mesma até com o próprio
hexágono, na medida em que, estes constituem em certo modo exemplos na sua
maioria relacionados com padrões de crescimento4 presentes na natureza como a
base da estrutura alveolar interna de uma colmeia, a beleza dos cristais, simetria dos
flocos de neve, o padrão das manchas das girafas, a estrutura da espuma de sabão,
na estereotomia das carapaças das tartarugas, nas formações de rocha em grande
escala como a “Giant´s Causeway”5 no norte da Irlanda, entre outros.
A estrutura hexagonal tem vindo a ser estudada e aplicada em diversas áreas
profissionais, tal como a ciência, engenharia, arquitectura entre outros. Trata-se de
uma estrutura interessante e visualmente cativante, e até aos dias de hoje “cientistas
intrigaram-se com a sua complexidade, engenheiros maravilharam-se com a sua força
e arquitectos deliciaram-se com a sua beleza.” (Yahya, 1999). o entanto, não foi
somente a sua aparente beleza que interessou aos arquitectos, inspirados nessas
descobertas científicas e de engenharia em torno dos “módulos” hexagonais, estes
exploraram as suas várias potencialidades e aplicaram-nas ao longo da história, quer
a nível decorativo, estrutural e espacial, com base na intenção de melhorarem ou
enriquecerem as suas “criações arquitectónicas”.
4
Os padrões de crescimento na natureza encontram-se relacionados com o Diagrama de Voronoi. “O
diagrama de voronoi consiste numa decomposição do espaço métrico em regiões, de acordo com a
distância entre pontos distintos situados nesse espaço métrico cujo resultado da conjugação dessas
regiões gera uma geometria.” O diagrama de voronoi é de domínio matemático, à semelhança de outras,
como o número de ouro, pela sua lógica das proporções, explica muitas das obras da natureza, sendo
algumas também explicadas simultaneamente pela geometria do diagrama de voronoi”. O seu conceito foi
redescoberto por muitos estudiosos, em épocas diferentes. O diagrama de Voronoi é uma ferramenta que
tem vindo a ser aplicada para fazer análises a certas questões em várias disciplinas, como a arqueologia,
cartografia, biologia, geometria computacional, fisiologia, mineralogia, metereologia, estatística, fisiologia ,
entre outras. (Cunha, 2010, p.93).
5
Calçada dos Gigantes (tradução nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
24
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 1 - Malhas Regulares: triangular, quadrada e hexagonal ( ilustração nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
25
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
26
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
2.1. A MALHA HEXAGONAL DECORATIVA
Os hexágonos têm sido usados em diversos motivos artísticos nos países orientais e
islâmicos. Nomeadamente na Arquitectura, segundo motivos decorativos6, como os
azulejos (padrões) típicos na arquitectura e arte islâmicos, assim como na decoração
das paredes do antigo Egipto, entre outros. No entanto, na arte ocidental, os
hexágonos não foram utilizados com tanta frequência, como foram utilizados os
círculos, triângulos e rectângulos, todavia, podem-se encontrar registos de referência a
nível decorativo na Arquitectura. (HTA, 2006, p.28)
Deste modo, o que se pretende neste subcapítulo é a elaboração analítica de alguns
desses exemplos na arquitectura de modo a compreender as suas formas, tal como
as malhas hexagonais foram aplicadas, interpretadas e as suas respectivas
potencialidades a nível decorativo.
6
Uma das principais características da arquitectura islâmica, foi a sua riqueza na decoração, com base
em motivos epigráficos (inscrições com trechos do Alcorão em escritura cúfica ou naskh), vegetais
(palmas, folhas de videira e de acanto) e geométricos (arabescos - onde uma das formas bastantes
frequentes era o da forma hexagonal, quer aplicado pontualmente, quer em malha). (Chorbachi, W.K.
(1989) - In the Tower of Babel: Beyond Symmetry in Islamic Designs. Math Applic. Vol. 17, p. 751-789)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
27
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
28
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
OS HEXÁGONOS DE BERNINI, BORROMINI E BECCAFUMI
Bernini e Borromini
Ilustração 2 - Retrato de Bernini e Borrimini (Morrisey, 2006)
Gian Lorenzo Bernini (1598-1680) e Francesco Borromini (1599-1667) foram dois
arquitectos italianos do barroco que utilizaram as malhas hexagonais como elemento
decorativo, dando um grande contributo com as suas obras para a cidade de Roma.
Numa fase inicial das suas carreiras, Bernini e Borromini chegaram a trabalhar juntos
no “Palazzo Barberini”, mas a competição profissional, a diversidade de carácter e
também a concepção artística trouxeram uma ruptura violenta entre os dois, que se
transformou numa “rivalidade aberta”.
De uma forma sucinta, Bernini, foi filho do escultor Pietro Bernini (1562-1629),
nascido em Nápoles, passou a maior parte da sua vida em Roma, onde foi o arquitecto
favorito de sete papas assim, obteve um grande sucesso. Foi um dos principais
protagonistas da vida artística em Roma e mais do que qualquer outro neste ambiente
ajudou a difundir a cultura do Barroco. Para além de arquitecto, foi também escultor,
pintor, considerado um animador e criativo com grande capacidade técnica,. Além
disso, os efeitos da fase de investigação foram um componente que se reflectiu em
muitas das suas obras. (Zanlungo, 2012, p.28)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
29
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Enquanto isso, Borromini nasce em Canton na Suiça, formando-se em Milão
posteriormente em 1619 muda-se para Roma. Ao contrário da personalidade de
Bernini, era introvertido, ansioso e inquieto. A sua profunda originalidade e o grande
impulso inovador da arte que criou nunca foram devidamente compreendidos e
apreciados pelos seus contemporâneos, foi esmagado pelo sucesso profissional de
Bernini e deparou-se com várias dificuldades para fazer valer o seu talento. A sua
carreira foi marcada pela amargura e decepção, devido à impossibilidade de realizar
os seus projectos de acordo com sua visão artística, aspecto que juntamente com a
sua personalidade “difícil” também causaram problemas na relação com os clientes.
Consequentemente a vida do artista acabou por terminar tragicamente em suicídio.
(Morrissey, 2006, p.2)
A arte de Borromini, que muitas vezes foi mal interpretada pelos seus
contemporâneos, tem sido amplamente reavaliada no decorrer do tempo e hoje em dia
o artista é considerado juntamente com o seu rival Bernini um dos melhores artistas
representantes do barroco romano. Bernini e Borromini, foram assim considerados
dois mestres do barroco italiano tendo ambos usado as formas hexagonais na sua
arquitectura, especialmente na decoração das cúpulas de algumas igrejas e em
algumas esculturas.
Bernini
Entre as várias obras de sucesso, Bernini projectou três igrejas sucessivas no seu
período maturo, duas delas foram San Tommaso di Villanova em Castel Gandolfo, um
subúrbio de Roma, e San Andrea al Quirinale (1658-1661), em Roma. Com elas
Bernini tentou reconstruir espaços clássicos centralizados com diferentes tipos de
planos, onde o primeiro exemplo se desenvolve sobre um plano em cruz grega, e o
último sobre um plano elíptico. Ambas as igrejas representam ainda dois dos
exemplos em que Bernini usou as malhas hexagonais, aplicando-as a nível decorativo
nos tectos abobadados das igrejas.
Em San Tommaso di Villanona, Bernini utilizou um padrão de painéis hexagonais
para cobrir uma cúpula de oito nervuras com um plano circular, onde cada um dos
painéis em hexágonos tornam-se menores à medida que se aproximam da “lanterna”,
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
30
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
e na parte superior; todos os hexágonos são tratados de igual forma à medida que vão
subindo, adaptando-se de uma forma natural e homogénea à cúpula.
A igreja de San Andrea al Quirinale, por outro lado, tem uma cúpula com um plano
elíptico; uma vez que a pré-existência de um mosteiro tornou necessária a construção
da igreja num local raso com uma fachada ampla. Em resposta a esta condição,
Bernini criou um projecto arrojado com um plano em forma de uma elipse como eixo
principal do edifício. Segundo o arquitecto Tsutomu Kamo esta proposta “foi
claramente concebida com a intenção de rivalizar com a já construída San Carlo alle
Quatro Fontane desenhada por Borromini.” (HTA, 2006, p.31)
San Andrea tem uma cúpula de dez nervuras com um plano elíptico, que foi
preenchida por painéis hexagonais, que formam uma malha. Esses mesmos
hexágonos que a preenchem encolhem de acordo com uma progressão regular à
medida que sobem, ou seja, tornam-se menores à medida que vão subindo e se
aproximam do seu ponto remate. Cada painel hexagonal singular desta malha também
é decorado com outros hexágonos menores que vão diminuindo de escala
gradualmente de, ou seja, com “hexágonos dentro de hexágonos” o que ajuda confere
miores detalhes à peça e ao mesmo tempo que a enriquece visualmente. (ilustração
6).
“The hexagonal pattern is subtly altered to fit the ceiling configuration. As a result, the
hexagonal pattern is distorted as it becomes smaller in scale, generating a subtle
7
fluctuation and making the ceiling and the church space dynamic.” (HTA, 2006, p.30)
Borromini
Francesco Borrimini (1599-1667) terminou San Carlo alle Quattro Fontana (16381641) na Via Quinirale antes de San Andrea ter sido construída na mesma rua. O
plano da primeira foi, de uma forma geral, baseada numa elipse como eixo principal
que coincidia com o eixo longitudinal da igreja e que se estendia através de
semicírculos na entrada e no altar principal. As colunas uniformemente espaçadas
posicionadas sobre este plano distorcido suportam um entablamento ondulante que
circunda o interior da igreja, e acima disso existem pendentes no topo dos quais foi
7
O padrão hexagonal foi subtilmente alterado para se ajustar à configuração do tecto, como resultado
disso, à medida que a escala se vai tornando menor o padrão hexagonal vai-se distorcendo, gerando uma
flutuação subtil e fazendo com que o tecto e a igreja se tornem espaços dinâmicos. (tradução nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
31
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
posicionada uma cúpula elíptica. No tecto desta existem arabescos, como o padrão de
uma cruz, elementos octogonais e hexagonais, que foram subtilmente distorcidos à
medida que subiam. No tecto da cúpula, as cruzes e os octógonos vão reduzindo de
uma forma relativamente directa, enquanto que os hexágonos são distorcidos em
diferentes direcções à medida que vão sofrendo reduções no tamanho.” O movimento
destes hexágonos dotam toda a cúpula de uma profundidade tridimensional e
qualidade poderosas.” (Tsutomu Kamo, apud HTA, 2006, p.30)
Existem também outros dois hexágonos em San Carlo alle Quattro Fontane: uma
pequena capela com um plano hexagonal à direita da entrada e uma segunda capela
hexagonal à esquerda do altar principal. Se tivesse sido Bernini, na opinião do
arquitecto Tsutomu Kamo, “com toda a probabilidade teria concebido as capelas
elípticas, mas Borromini, plenamente consciente do dinamismo latente da forma
hexagonal, deu às capelas planos hexagonais.” (HTA, 2006, p.31). Para além disso,
ele achatou todos os hexágonos, como as elipses em San Carlo. Em Santívo alla
Sapienza (1642-50), Borromini utilizou um plano em forma de um hexagrama, isto é,
uma estrela de David em que o hexágono está oculto, e coberto com uma
cúpula.(Morrisey, 2006, p.8). A estrela de David tem obviamente um significado
religioso, mas também revelou claramente uma predilecção espacial de Borromini.
(Zalungo, 2012, p.31)
De uma forma geral, o trabalho de Borromini assim como as suas aplicações da malha
hexagonal nos exemplos dados, devem-se em grande parte às suas fortes inspirações
na natureza e nas suas complexas geometrias e na arte oriental, que resultaram em
trabalhos de arquitectura de expressão naturalista.. As suas obras também remetem
aos estilos do passado, não apenas como imitações, mas sim como transformações
capturadas por uma grande sensibilidade e criatividade.(Zanlungo, 2012, p.30)
O motivo que levou os arquitectos a adoptarem as malhas hexagonais não é
garantido, mas supõe-se que tenha surgido de um paixão de ambos os artistas pelas
formas geométricas e pelas influências de Michelangelo8. No caso de Borromini os
8
Segundo o site oficial da Biography, MIchelangelo nasceu em 6 de março de 1475, em Caprese, Itália.
Nascido numa família de meios moderados no negócio bancário, Michelangelo tornou-se um aprendiz de
um pintor antes de estudar nos jardins de escultura da poderosa família Medici. O que se seguiu foi uma
notável carreira como artista no Renascimento italiano, reconhecido no seu próprio tempo para o seu
virtuosismo artístico. Os seus trabalhos incluem as estátuas de David e Pietá e as pinturas do tecto da
Capela Sistina de Roma, incluindo o Juízo Final. Embora ele sempre se considerou um florentino,
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
32
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
motivos que o levaram a adoptar as malhas tornam-se mais evidentes no livro de
Claudia Zanlungo e Daniela Tarabra onde referem que Borromini chegou a rejeitar a
concepção de uma arquitectura como reflexo das proporções do corpo humano, uma
ideia que tinha sido aceite por todos os arquitectos clássicos, desde Brunelleschi até
Bernini e ao invés disso Borromini disse que “a sua arquitectura era baseada na
natureza, em Michelangelo e no antigo.” (apud David, 2005, p.287). O interesse do
artista na natureza motivado pela sua paixão pela geometria tiveram certamente
influências na adopção do uso das malhas hexagonais. (2012, p.30)
No caso de Bernini, os motivos que o levaram a adoptar as malhas hexagonais são
estudados no livro de George Hersey9, onde este compara as cúpulas de Bernini em
hexágonos com as estruturas marinhas em hexágonos dos radiolários10 que tinham
sido descobertas por Anton van Leeuwenhoek11. (1999, p.22). Este facto é plausível,
uma vez que outros arquitectos o fizeram, mas pode eventualmente ter surgido pelo
interesse de Bernini pela geometria, pela estrutura bela que a malha hexagonal
proporciona ou até pela sua fácil adaptação às formas curvas. Qualquer um destes
aspectos é de se considerar, no entanto, não havendo certezas nem factos que o
comprovem, este factores não retiram a majestosidade com que os arquitectos
trabalharam as malhas hexagonais e as fizeram enriquecer.
Michelangelo viveu a maior parte de sua vida em Roma, onde morreu em 1564, aos 88 anos. Disponivel
online. (http://www.biography.com/people/michelangelo-9407628)
9
George Hersey é um professor reconhecido de Historia de Arte na “Yale University”. É autor de inúmeros
livros, incluindo “The Evolution of Allure: Sexual Selection from the Medicini Venus to the Incredible Hulk”
(MIT Press 1997) e “The Lost Meaning of Classical Architecture: Speculations on Ornament from Vitruvius
to Venturi (MIT Press, 1988).
10
Os esqueletos radiolários são constituídos por sílica sólida, que é um componente de estrutura
cristalina muito resistente ao processo de dissolução na agua do mar. note-se que os radiolários não têm
mobilidade pelo que não se coloca o problema do peso da estrutura sílica compacta. Em certos grupos de
radiolários a estrutura siliciosa é constituída por elemntos ocos com junções de material orgânico. Os
exemplares deste ultimo grupo são de difícil preservação, pois o fcato do seu esqueleto ser oco torna-os
menos resistentes ao processo de dissolução.(Oliveira, 2010, p.42)
11
Anton van Leeuwenhoek (1632-1723), foi comerciante de tecidos, cientista e constructor de
microscópios. Ficou conhecido pelas suas contribuições para o melhoramento dos microscópios, além de
ter contribuído com as observações para a biologia celular. Deste modo, Leeuwenhoek foi o primeiro
homem a testemunhar, descrever e publicar dados sobre as células vivas, protozoários, amebas e
bactérias.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
33
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Mas a aplicação das malhas hexagonais a nível decorativo na arquitectura não se
limitou aos tectos das catedrais, alguns anos antes das cúpulas e até mesmo do
próprio nascimento de Bernini e Borromini, um artista chamado Domenico Beccafumi
(1486 -1551) valeu-se das malhas hexagonais, para a decoração de uma igreja em
Itália. Este não as aplicou em cúpulas nem nos tectos das igrejas, mas antes num dos
Pavimentos considerados mais belos de sempre, o Pavimento da Catedral de Siena,
onde mais tarde Bernini também vir a deixar o seu contributo. (Martini,1900, p.4)
Ilustração 3 - Cúpula da Igreja “San Andrea al Quirinale”. (The HTA Association, 2006, p.30)
Ilustração 4 - Pormenor da lanterna da cúpula da Igreja “San Andrea al Quirinale”. (The HTA Association, 2006, p.30)
Ilustração 5 - Pormenor da cúpula da Igreja “San Andrea al Quirinale”. (The HTA Association, 2006, p.30)
Ilustração 6 - Cúpula da igreja de “San Carlo alle Quattro Fonatane”. (Zalungo, 2012, p.31)
Ilustração 7 - A auréola de “San Carlo alle Quatro Finatana”. (HTA, 2006, p. 32)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
34
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Beccafumi
Ilustração 8 - Auto retrato de Domenico Beccafumi
Domenico di Pace Beccafumi (1486 -1551) foi um pintor italiano do Renascimento e
Maneirismo. Nasceu perto de Siena, filho de um camponês que trabalhava para
Lorenzo Beccafumi, que ao ver o seu talento prematuro para a pintura, adoptou-o e
incentivou-o com os estudos. Chegando a estudar em outras cidades de Itália,
Domenico Beccafumi foi um artista provinciano de Siena, onde se tornou um dos
maiores e mais reconhecidos pintores. Mas a sua arte não se ficou apenas pela
pintura e deixou o seu nome ligado à Catedral de Siena, quando assumiu a liderança
na concepção do piso.
A catedral de Siena também conhecida como “Santa Maria Assunta”, trata-se de uma
igreja medieval em Siena no centro de Itália e foi uma obra extensa que levou mais de
um século para ser finalizada. Esta foi concebida e concluída originalmente entre 1215
e 1263, sobre uma planta em cruz latina com o transepto ligeiramente saliente, uma
cúpula e uma torre sineira. A cúpula ergue-se a partir de uma base hexagonal com
colunas de suporte onde a lanterna do topo da cúpula foi adicionada por Bernini.
Hinterkeuser, 2005, p.40). No transepto direito encontra-se a capela Chigi ou “Capella
della Madonna del Voto”, projectada pelo arquitecto austríaco Johann Paul Schor
(1615–1674), fruto da sua inspiração nas cúpulas de Bernini, na qual o artista
austríaco usou o mesmo padrão hexagonal e adaptou-o à cúpula de uma forma muito
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
35
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
idêntica à de Bernini; ajustando os hexágonos à configuração do tecto e tornando-os
menores à medida que se aproximam da “lanterna”. No transepto norte, encontra-se
uma outra capela “San Giovanni Battista”, desenhada por Giovanni Stefano, cuja
cúpula também foi decorada com formas hexagonais; nesta os hexágonos não surgem
como uma malha, tal como Bernini fez, mas antes como elementos pontuais
distribuídos uniformemente, mais ao estilo da decoração da cúpula da igreja de San
Carlo alle Quattro Fontane de Borromini.
A decoração ornamental da Catedral de Siena, com elementos arquitectónicos, tais
como eixos, colunas e capitéis em cores vivas foi considerada extraordinária.
Contendo também numerosas obras-primas12 de diferentes épocas, esta catedral foi
especialmente reconhecida pelo magnífico pavimento em mosaicos de mármore,
descrito por Giorgio Vasari13 em 1568 como, "o mais bonito, o maior e mais magnífico
alguma vez feito.” (apud Martini,1900, p.4). Os mosaicos de mármore perfazem no
total 56 painéis que retratam os principais temas do Renascimento, a filosofia e a arte
figurativa; os assuntos retratados foram retirados do Antigo Testamento. Esta obra de
mármore incrustado é resultado da contribuição de cerca de 40 artistas reconhecidos
de Siena como Giovanni di Stefano, Neroccio di Bartolomeu, Antonio Federighi
(Pinturicchio), Francesco de Giorgio e Domenico Beccafumi, que utilizaram a técnica
de mármores embutidos para produzirem painéis que mais parecem telas (1372 e
1562). criando assim, “a pavement…a unique exemple of decoration, that is very
12
O Banquete de Herodes, de Donatello; Túmulo do Cardeal Riccardo Petroni, de Tino di Camaino;
Túmulo do Bispo Giovanni di Bartolomeo Pecci, por Donatello; Túmulo do Bispo Tommaso Piccolomini del
Testa, por Neroccio di Bartolomeo Landi; O Altar Piccolomini altar, por Andrea Bregno. As quatro
esculturas nos nichos inferiores foram criadas pelo jovem Michelangelo. No topo do altar, está a Madonna
e Menino, poe Jacopo della Quercia; Capela de São João Batista: com a estátua do santo, feita
por Donatello e oito afrescos de Pinturicchio; Capela Chigi Chapel: onde está a Madonna del Voto;
Biblioteca Piccolomini: contém preciosas iluminuras e afrescos de Pinturicchio, provavelmente baseados
em projetos de Rafael. O efeito visual dos afrescos é impressionante. Contam a história do Cardeal Enea
Silvio Piccolomini, que se tornou o Papa Pio II. Os afrescos são cheios de detalhes e cores vívidas. Cada
cena é descrita em Latim logo abaixo. No meio da Biblioteca encontra-se uma famosa estátua
denominada por “As Três Graças”, provavelmente uma cópia romana da estátua grega original; Batistério:
construído por Camaino di Crescentino. Os afrescos foram pintados por Lorenzo di Pietro (Vecchietta). A
maravilhosa fonte batismal apresenta figuras feitas por Donatello, Lorenzo Ghiberti e Jacopo della
Quercia.
13
Giorgio Vasari (1511-1574), foi um pintor, escritor e arquitecto italiano. Ficou conhecido pelas suas
biografias de artistas renascentistas italianos.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
36
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
difficult to find, even in a reduce scale, such na exemple in older times”14 (Martini,
1900, p.3)
Deste modo os painéis variam entre as formas de hexágonos, rectângulos, círculos,
quadrados e losangos, onde algumas das cenas mais belas podem ser encontradas
no hexágono projectado pelo pintor maneirista Domenico Beccafumi, situado no
transepto sob a cúpula, cuja lanterna foi projectada por Bernini.
Este facto, levanta algumas inquietações sobre o trabalho de Beccafumi teria algum
tipo de influência nas cúpulas decoradas com malhas hexagonais desenvolvidas
posteriormente por Bernini. Esta trata-se assim de apenas mais uma suposição para
as inspirações ou influências tanto de Bernini como Borrimini no uso das malhas
hexagonais para o qual não se obteve uma resposta concreta.
À parte disso, este painel hexagonal representa então a contribuição de Domenico
Beccafumi que a partir de 1517, assumiu a liderança na concepção do piso e trabalhou
assiduamente neste durante os próximos 30 anos (1518-1547), criando os painéis
hexagonais centrais no transepto. (Martini, 1900, p.7)
Deste modo no centro, delimitado nos vértices pelas seis colunas que erguem a
cúpula, encontra-se um hexágono de grande escala, cujo interior se encontra
preenchido por pequenos losangos e um conjunto de sete hexágonos formando uma
malha de painéis hexagonais. Vários painéis da catedral foram decorados com
diferentes tipos de padrões, mas Domenico Beccafumi não usou o padrão hexagonal
ao acaso, ele “brincou” com os diferentes tamanhos de hexágonos e criou uma
espécie de fractal, aplicando-as ao centro do transepto como forma de distinção desta
área em particular, uma vez que acreditava que a forma hexagonal formava um dos
mais belos padrões e estes dariam a importância ambicionada a este espaço central.
(apud Martini, 1900, p.7). A contribuição de Beccafumi para o pavimento da catedral
tornou-se ainda mais distinto, quando com o aperfeiçoamento da arte de mármore
incrustada conseguiu alcançar efeitos claro-escuro e criar uma nova técnica. Com
Beccafumi o pavimento foi concluído, mas os cuidados necessários para mantê-lo e
renová-lo não foram suficientes para o desgaste que sofreu com o “andar” das
pessoas. Deste modo, depois de algumas obras menores, em 1878 com três
14
“um pavimento…um exemplo único de decoração, muito difícil de encontrar, mesmo a uma escala mais
reduzida nos tempos mais antigos.” (tradução nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
37
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
hexágonos e alguns pequenos diamantes menores completamente desgastados, o
artista italiano Alessandro Franchi projectou a cena da profecia de Elias “Ahab’s
death”, “Death of Ahab”, “Elijah Ascension to Heaven” e outras cenas menores como
complemento à obra de Beccafumi. (Martini, 1900, p.7).
Numa breve reflexão deste subcapítulo, podemos concluir que Tanto Bernini,
Borromini como Beccafumi trabalharam as malhas hexagonais a nível decorativo, e
apesar destas terem variado relativamente aos elementos que adornaram, ou seja,
uns terem-na trabalhado no “tecto” e outro tê-la trabalhado no “pavimento”, onde se
criam diferentes percepções e proporcionam diferentes impactos, todos eles
procuraram neste tipo de trama uma adaptação e resposta às suas intenções.
No exemplo da igreja de San Tommaso di Villanova, Bernini pretendia decorar uma
superfície curva, o que por si só condiciona o número de respostas, e nesse sentido a
malha hexagonal mostrou-se uma solução pela sua fácil adaptação às formas curvas
e, com base na incerteza, talvez esta tenha sido uma das suas prioridades ao adoptar
esta malha; aliada à estrutura bela que esta concebe. Já no pavimento da Catedral de
Siena, Beccafumi trabalhou numa base plana, onde a sua principal preocupação
certamente não passava pela mesma de Bernini, mas antes em conseguir criar peças
que ligassem a sua obra a todo aquele “puzzle”. Ligá-lo ao restante piso e à estrutura
dos seis pilares que suportavam a cúpula e o delimitavam, e ao mesmo tempo conferir
a devia importância àquele espaço central. (Martini, 1900, p.7). Apesar dessas
diferentes aplicações, e de Bernini ter trabalhado mais a volumetria dos “painéis”
hexagonais e Beccafumi ter antes explorado a técnica da mármore incrustada, em
ambos os exemplos os artistas “brincaram” com a escala do hexágono. Enquanto
Bernini reduziu a escala dos hexágonos uniformemente à medida que vão subindo em
direcção ao ponto de remate da cúpula e decorou os painéis hexagonais com outros
hexágonos menores no interior, o pintor maneirista trabalhou numa base plana onde
cria um hexágono de maior escala que acaba por preencher com uma malha de
hexágonos de menor escala.
Resumidamente, tratam-se de diferentes exemplos que apesar do grande nível de
detalhe, exigem diferentes técnicas e aptidões, e nesse sentido, com base no sucesso
das obras analisadas, a malha hexagonal mostrou-se uma boa resposta a nível
decorativo, onde para além de responder às intenções dos artistas, por si só,
representa uma estrutura forte bela e dinâmica.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
38
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 9 - Plano do Pavimento. (Martini, 1900, p.59)
Ilustração 10 - Perspectiva da malha de painéis hexagonais situada no transepto. (Martini, 1900, p.45)
Ilustração 11 - Pormenor de um dos painéis desenvolvidos por Beccafumi: “o Sacrifício de Elias” (Martini, 1900, p.45)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
39
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
40
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
2.2. A MALHA HEXAGONAL ESTRUTURAL
O projecto de arquitectura e a estrutura são dois elementos que se encontram
frequentemente interligados. Assim sendo, todas as obras arquitectónicas necessitam
de um suporte estrutural, logo, cria-se aqui uma espécie de relação de dependência
entre ambas, não podendo as mesmas subsistirem uma sem a outra. Desde modo,
recorrendo a uma breve reflexão da história da arquitectura, nomeadamente aos
primórdios da forma de habitar, ou seja, a primeira cabana projectada pelo homem
como forma de abrigo, onde este se valia dos instrumentos mais básicos para pôr em
pratica as suas ideias. Passando assim, pela antiguidade clássica, idade moderna até
à contemporaneidade, existindo assim uma tendência emergente na arquitectura,
designada muitas vezes como “Arquitectura Digital” (Nardelli, 2007, p.28). É de
constatar uma “evolução” mútua e gradual dos projectos e das respectivas estruturas.
Todavia, as mesmas têm evoluído lado a lado, numa relação de interdependência,
onde a evolução de uma implica o desenvolvimento da outra. Ao mesmo tempo, esta
evolução só é possível com as descobertas e avanços de outras áreas como, a
tecnologia, biologia, entre outros. Basicamente trata-se de um sistema que funciona
como uma espécie de acção em rede, onde as aprendizagens, estudos e descobertas
concluídas em cada uma delas pode influenciar a evolução de todas as outras,
gerando-se deste modo uma evolução mútua e contínua. É também através destas
acções em cadeia, que muitas vezes se dão descobertas interessantes e improváveis,
levando assim a avanços incríveis.
A biologia e arquitectura foram ambas as áreas que contribuíram bastante para os
avanços extraordinários. “A observação das formas naturais em si mesmas, como
possível fonte de inspiração para a criação de formas artificiais, não representam, do
ponto de vista arquitectónico, uma atitude portadora de inovação, na medida em que a
biomimese formal15 foi um discurso recorrente ao longo da história da arquitectura.”
(Oliveira, 2010, p.40). No âmbito das relações interdisciplinares entre arquitectura e
15
Segundo a definição do Dicionário Editora da Língua Portuguesa Online, a mimese trata-se da imitação
verosíomil da natureza que constitui, segundo a estética aristotélica e clássica, o fundamento de toda a
arte. (http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa-aao/mimese). A mimese formal ou morfológica é a mais
identificável pois é caracterizada por uma imitação das formas naturais a uma escala macroscópica. A
mais simples e também uma das mais antigas evidências de biomimese é a utilização da simetria em
arquitectura.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
41
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
biologia foram os mecanismos de adequação das estruturas naturais às funções que
importaram analisar. O uso da biologia como meio para criar arte não é um fenómeno
recente, uma vez que os arquitectos foram considerados os precursores da utilização
das referências à biologia nas suas obras. (Oliveira, 2010, p.40).
Frei Otto1617considerou que eram as descobertas de carácter cientifico que conduziam
ao “novo” em arquitectura, atribuía assim o papel fundamental à ciência
perspectivando a arquitectura de um ponto de vista essencialmente tecnológico (apud,
Oliveira, 2010,p. 15). Num registo curiosamente análogo ao de Buckminster Fuller, que
afirmou que o “homem não inventava nada, apenas descobria princípios implícitos na
natureza e descobria modos de os generalizar e reaplicar em direcções
surpreendentes” (apud, Oliveira, 2010,p. 15). Álvaro Siza dizia que “ os arquitectos não
inventavam nada, limitavam-se a transformar a realidade” (apud, Oliveira, 2010,p. 15).
Renzo Piano tinha um ponto de vista de certo modo análogo ao de Frei Otto, no que
tocava ao papel da ciência em arquitectura, mas perspectivava a teia interdisciplinar
do arquitecto de forma mais ampla, afirmando que “A actividade de um arquitecto tem
muitos riscos pois ele trabalha com todo o tipo de matérias-primas. Não somente com
o betão, a madeira e os metais mas também com a história, a geografia, a matemática
e as ciências em geral, a antropologia, a ecologia, a estética, a tecnologia, a
climatologia e a sociedade”. (apud, Oliveira, 2010,p. 15) Neste sentido, para Frei Otto
tratava-se de traduzir a ciência na linguagem arquitectónica; para Buckminster Fuller
era a natureza que reincarnava nos objectos arquitectónicos, enquanto que para
Álvaro Siza, mais do que a natureza seria com a inteira realidade que se plasma a
arquitectura. (apud, Oliveira, 2010,p. 15)
Segundo a matemática Maria Paula Serra de Oliveira e o arquitecto Francesco
Marconi, as primeiras aproximações sistemáticas por parte dos arquitectos e
desenhadores à biologia, viram-se identificados com o renascimento italiano mais
16
Frei Paul Otto nasce a 31 de Maio de 1925. Estuda arquitectura em Berlim e mais tarde interessa-se
também pela engenharia. A sua extensa experiência de construção, em malhas e outros sistemas de
construção têm-lhe dado um lugar entre os arquitectos do séc. XX. Liderando juntamente com Vladímir
Shújov , Buckminster Fuller e Frank Ghery na vanguarda na arquitectura das formas orgânicas.
17
Foi com base nos estudos de experiências com bolas de sabão, que Frei Otto concebeu a superfície
mínima que cobre o Estádio Olímpico de Munique construído em 1972. Frei Otto observou a forma das
bolas de sabão e reinterpretou as formas que observara, pois tal como ele próprio afirmou “a natureza
não deve ser copiada mas sim tornada compreensível”. (apud, Oliveira, 2010,p. 42)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
42
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
concretamente com Leonardo da Vinci, quando projectou as suas máquinas voadoras,
inspirando-se na anatomia de pássaros e morcegos.1819 Ao longo da história
arquitectos como Gaudi20 ou Frei Otto encontraram na natureza um valioso modelo de
inspiração e conhecimento, onde não apenas a forma, mas a estrutura e a
performance se apresentaram entretecidas num sistema contínuo. (2010, p.12)
“Apesar da arquitectura pertencer ao mundo cultural, sempre olhou para a natureza e
tentou aprender com ela. Procurou aproximar-se das imagens deslumbrantes dos
organismos vivos, do seu fascinante comportamento estrutural, dos seus processos de
crescimento, mudança e dinamismo, da sua complexa e equilibrada relação entre
ordem e caos.” (Moisset, 2003)
Entre todas as estruturas naturais, uma das que mais tem vindo a ser estudada até
aos dias de hoje, é a estrutura hexagonal, por sua vez os indivíduos estão
familiarizados com esta estrutura na medida em que constituiu alguns exemplos
presentes na natureza, na sua maioria relacionados com padrões de crescimento21
18
Leonardo da Vinci, Segundo o site fidedigno da Biography , nasceu a 15 de abril de 1452, em Vinci, na
Itália. Foi criado pelo seu pai, ele começou como aprendiz caos 14 anos de idade sob o artista Verrocchio.
Dentro de seis anos, ele foi considerado mestre e começou a ganhar comissões dos clientes ricos. O
seus trabalhos mais conhecidos são dois dos quadros mais famosos de todos os tempos, a Mona Lisa e
A Última Ceia. As suas investigações científicas preencheram 13.000 páginas, que vão desde a anatomia
até máquinas de guerra. (http://www.biography.com/people/leonardo-da-vinci-40396).
19
Curiosamente, séculos mais tarde, foi ainda o estudo das características anatómicas dos morcegos que
permitiu ao engenheiro francês Clément Ader (1841-1926), a invenção de uma máquina voadora. (Oliveira
, 2010, p.12)
20
Segundo o site fidedigno da Biography, Antoni Gaudí (nascido em 25 de junho de 1852), começou a
estudar arquitetura numa idade jovem e frequentou a escola em Barcelona, a cidade que se tornou o lar
de mais de suas grandes obras. Gaudí foi parte do movimento modernista catalão, eventualmente,
transcendendo-o com o seu estilo baseado na natureza orgânica. Gaudí morreu em 10 de junho de 1926.
(http://www.biography.com/people/antoni-gaud%C3%AD-40695).
21
Os padrões de crescimento na natureza encontram-se relacionados com o Diagrama de Voronoi. “O
diagrama de voronoi consiste numa decomposição do espaço métrico em regiões, de acordo com a
distância entre pontos distintos situados nesse espaço métrico cujo resultado da conjugação dessas
regiões gera uma geometria.” O diagrama de voronoi é de domínio matemático, à semelhança de outras,
como o número de ouro, pela sua lógica das proporções, explica muitas das obras da natureza, sendo
algumas também explicadas simultaneamente pela geometria do diagrama de voronoi”. Este diagrama,
que começou como meio de estudo das ciências naturais e fisicas alargando-se pelas ciências sociais,
apresenta uma geometria de base simples que, para além de ser um meio simples e eficaz, apresenta
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
43
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
como a base da estrutura alveolar interna de uma colmeia, a beleza dos cristais,
simetria dos flocos de neve, o padrão das manchas das girafas, a estrutura da espuma
de sabão, estereotomia das carapaças das tartarugas, as formações de rocha em
grande escala como a “Giant´s Causeway”22 no norte da Irlanda, entre outros.
Ilustração 12 - Exemplos de padrões hexagonais na natureza: pormenor da estrutura da colmeia; conjunto de girafas; formação
rochosa no norte da Irlanda; conjunto de tartarugas.
Trata-se de uma estrutura interessante e visualmente cativante, e até aos dias de hoje
“cientistas intrigam-se com a sua complexidade, engenheiros maravilham-se com a
sua força e arquitectos deliciam-se com a sua beleza.” Por estes e outros motivos,
esta tem vindo a ser estudada e aplicada em diversas áreas, onde podemos identificar
duas delas como sendo a biologia e arquitectura.
“…strange social habits of bees and their talents geometric "caught the attention and
admiration of the human spectators, encouraging a lot of research regarding
aggregation tridimendimensional hives, as the example of studies developed by Kepler
(1611), Maraldi (1712) and Gauss (1831).
23
(Weyl, 1952, p.90)
Nomeadamente na biologia já existe um vasto reportório de estudos e teorias que
surgiram em torno desta estrutura sextavada. No século XVII o físico francês Reámur
surge com uma teoria que mais tarde foi confirmada pelo matemático Koenig, em que
explicaram que no exemplo das colmeias, “a abelha constrói as células de modo a
minimizar a quantidade de cera usada na construção.” (apud, Oliveira, 2010, p.41).
uma “imagem” esteticamente interessante e apelativa. As vertentes funcionais e estéticas deste género
de diagrama têm sido exploradas na arquitectura como meio, ou mesmo como resposta às questões de
arquitectura, nomeadamente a fachada, a estrutura e a organização do espaço, entre outros. Ou ainda,
simplesmente como pequenos apontamentos. (Cunha, 2010, p.93).
22
Calçada dos Gigantes (tradução nossa)
23
“…estranhos hábitos sociais das abelhas e os seus talentos geométricos” despertaram a atenção e
admiração dos espectadores humanos, incentivando uma série de pesquisas em relação à agregação
tridimendimensional das colmeias, como o exemplo de estudos desenvolvidos por Kepler (1611), Maraldi
(1712) e Gauss (1831). (tradução nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
44
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Esta teoria foi considerada um princípio de optimização baseado na minimização da
quantidade de material24. Outra das teorias sobre a malha hexagonal, foi a descoberta
de que a recorrência destas configurações hexagonais em organismos naturais,
surgem assim por uma condição de equilíbrio de tensões superficiais e por princípios
de área, dos quais, o exemplo mais representativo é o das configurações das colmeias
de abelhas.(apud, Oliveira 2010, p.41).
Foi também através do estudo das colmeias que se provou que a estrutura hexagonal
além de oferecer um grande número de vantagens significativas, tal como a
estabilidade, possui também um óptimo comportamento sísmico. Assim sendo, esta
última constatação foi efectuada através da análise do comportamento da estrutura
das colmeias, demonstram que enquanto as abelhas constroem as colmeias, as
mesmas comunicam entre si e para tal elas fazem o chamado “waggle dance”, este
movimento provoca uma vibração que numa estrutura tão pequena como a colmeia, é
comparada a um terramoto, onde as paredes da colmeia absorvem essas vibrações
potencialmente prejudiciais. (Yahya, 1999, p.156). Na revista “Nature” foi publicado um
relatório que afirma que os arquitectos podem usar esta estrutura para projectarem
edifícios à prova de terramotos, esse mesmo relatório inclui a seguinte declaração de
Jurgen Autz, da Universidade de Würzburg, na Alemanha:
“Vibrations in honeybee nests are like miniature earthquakes generated by the bees, so
it’s very interesting to see how the structure responds to it. Understanding the phase
reversal could help architects predict which parts of a building will be especially
vulnerable to earthquakes... They could then strengthen these areas, or even introduce
24
A identificação desses princípios de optimização, princípios que em linguagem não matemática se
poderiam designar por princípios de economia dos meios, foram baseados numa classificados
apresentada por Eugene Tsui no seu livro “Evolutionary Architecture, Nature as a Basis for Design”. O
exemplo da estrutura dos hexágonos das colmeias foi incluída no 1º príncipio de optimização:
minimização da quantidade de material. Enumeração dos princípios de optimização: 1. minimização de
quantidade de material utilizado; 2. Maximização do volume, entre todos os que são limitados por uma
superfície com uma área determinada; 3. Minimização da área de uma superfície de entre todas as que
definem sólidos com determinado volume; 4. Maximização da robustez estrutural; 5. Estabelecimento de
uma relação entre textura, cor e função; 6. Selecção de matérias que permitem realizar os princípios
anteriores de modo eficiente; 7. Criação de continuidade entre interior e exterior sem interrupções nem
fracturas; 8. Relação simbiótica entre função e forma; 9. Selecção de formas eficientes do ponto de vista
energético e que favoreçam a circulação do ar; 10. Unidade e continuidade das estruturas; 11.
Dimensionamento da estrutura de acordo com o material e com as forças internas e externas que sobre
ela actuam. (Oliveira, 2010, p.40)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
45
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
weak spots into non-critical areas of buildings to absorb harmful vibrations”
25
(apud,
Yahya, 1999, p.156)
Como este exemplo mostra, os favos que as abelhas constroem, com uma precisão
impecável, tratam-se de “maravilhas do design”. Contudo, esta introdução não se
pretende sustentar que os arquitectos se devem inspirar na natureza para construírem
as suas obras ou que devem construir como as abelhas. Assim, pretende-se “mostrar”
que foi através do estudo destas estruturas naturais que se fizeram grandes
descobertas acerca do comportamento estrutural hexagonal e que foi com base nestas
que diferentes arquitectos se valeram para projectarem e enriquecerem as suas obras.
Ao longo desta dissertação é possível constatar, a aplicação das malhas hexagonais
quer a nível decorativo, estrutural ou espacial, geralmente encontram-se ligadas ao
tema da natureza.
“the hexagonal is indeed the most efficient – it yields the greatest volume with the least
constructive energy…all the angle are exactly 60º and 120º. And they are extraordinarily
efficient.and then like all space frames, a honeycomb requires a minimum of support. I
hardly need say that the advantages Karl von Frisch sees in the honeycomb’s
hexagonal module apply equally well to human structures.
25
26
(Hersey, 1999, p.65)
“as vibrações nos ninhos de abelhas são como terremotos em miniatura gerados pelas abelhas, por
isso é muito interessante ver como a estrutura responde a isso. Compreender isso podia ajudar os
arquitetos a prever quais são as partes de um edifício que serão especialmente vulneráveis a terremotos
. Eles podiam então reforçar essas áreas, ou mesmo introduzir pontos fracos em áreas não-críticas de
edifícios para absorver vibrações nocivas. (tradução nossa)
26
“O hexágono é de facto mais eficiente – que produz o maio volume com o mínimo de energia
construtiva…todos os ângulos são exactamente de 60º e 12º. E eles são extremamente eficientes. E em
seguida, como todos os armação um “favo de mel” requer o mínimo de suporte. Nem preciso será dizer
que as vantagens que Karl von Frisch viu no módulo hexagonal do favo de mel se aplica igualmente bem
a estruturas humanas.” (tradução nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
46
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
OS HEXÁGONOS DA “HTA ASSOCIATION”, R. BUCKMINSTER FULLER E
N.GRIMSHAW
HTA Association – “Suburban Areas”
A HTA Association (Honeycomb Tube Architecture)27 é uma empresa Japonesa
formada por um grupo de arquitectos cujos interesses são comuns, resolveram assim
associar-se. Deste modo, o interesse mútuo pelas estruturas hexagonais na natureza,
levaram os arquitectos a desenvolverem estudos e testes que comprovassem as
potencialidades do comportamento destas estruturas em projectos de arquitectura,
nomeadamente a nível estrutural.
Deste modo, os arquitectos estudaram e inspiraram-se especialmente nas células das
membranas da cera das abelhas, nos nanotubos de carbono, e nos fractais em forma
hexagonal e desenvolveram unidades hexagonais de pré-fabricados de betão préesforçado, que depois de montados criaram uma espécie de “estrutura em tubo”.
Estas estruturas puderam ser estudadas unicamente graças à tecnologia avançada
dos computadores, onde através de ambientes controlados puderam ser executados
testes em larga escala e verificar as capacidades estruturais do “favo de mel”.
“We conducted several full-scale tests on PC members to verify the structural
capabilities of the honeycomb frame. As a result, we were able to confirm that the
sectional capabilities surpassed the design conditions with sufficient strength. We were
also able to obtain an origin-oriented hysteresis curve that reflects the basic properties
of PC frame. In PC structures, cracks that may occur during large seismic activity will
close and thus it is possible to continue using the building after larger earthquakes. This
is referred to as origin-oriented hysteresis, for wich a typical curve that indicates this
property is obtained through testing.” (Tsutomu Kamo, HTA, 2006, p.9)
Através deste método do betão pré-esforçado, o controlo completo de qualidade
garantiu a alta durabilidade, as ligações simples, o grau excepcional de liberdade e o
bom comportamento sísmico. (Kunio Watanabe, HTA, 2006, p.7).
27
Arquitectura do tudo de favo de mel (tradução nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
47
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
O método de construção racional, de uma execução de módulos pré-fabricados para a
posterior montagem da estrutura, demonstrou que a distinção das estruturas tubulares
de betão pré-esforçado em hexágonos não residiu apenas na racionalidade dinâmica,
mas também na construção rápida e simples. No entanto, no que diz respeito às
preocupações ambientais, a utilização deste método garantiu ainda a forte redução de
quantidade de CO2 libertados durante a construção. (Kunio Watanabe, HTA, 2006,
p.11)
“We believe that HTA has long-lasting potential as a sustainable house architectural
system that can accommodate the vertiginously changing functions and usages of
urban residential architecture design for lifelong occupancy as well as those
multifunctional, mixed-use architecture, To that end, we endeavor to deeply pursue an
alternative spatial model by combining natural energy sources and cutting-edge
technologies.
28
(Tsutomu Kamo, HTA, 2006, p.6)
Ilustração 13 - Modelo em acrílico de uma estrutura do favo de mel (colmeia). (HTA, 2006, p.7)
Ilustração 14 - Canto superior direito: experiência com a estrutura. (HTA, 2006, p.10)
Ilustração 15 - Canto inferior direito: estrutura favo de mel com os pré-fabricados de betão pré-esforçados (HTA, 2006, p.12)
28
“Acreditamos que a HTA tem um potencial de longa duração como um sistema de arquitectura de casas
sustentáveis, que podem acomodar vertiginosas alterações de funções e ser usada como residência
urbana como ocupação ao longo da vida, bem como aqueles multifuncional, arquitetura de uso misto,
para o efeito, nos esforçamos para profundamente buscar um modelo alternativo espacial através da
combinação de fontes de energia naturais e tecnologias de ponta. (Tsutomu Kamo, 2006, pág.6)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
48
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Mais tarde a associação HTA também desenvolveu o conceito e o sistema das
“honeycomb dynamics”29. Este sistema foi inspirado e desenvolvido com base nas
estruturas hexagonais na natureza em forma de fractal30, como o cristal e floco de
neve e os exemplos de Gosper Island, Sierpinski arrowhead, Sierpinski carpet, entre
outros. Assim, Os arquitectos da HTA acreditavam que estas estruturas naturais
apesar da aparente forma estática podiam ser vistas como uma dinâmica de “auto
organização” ou “dinâmica padrão”, e que esses padrões podiam ser percebidos não
como imagens estáticas, mas como um agregado de dinâmica. (HTA, 2006, p.32).
Deste modo, para uma melhor compreensão do comportamento destas estruturas
naturais os arquitectos estudaram e inspiraram-se em exemplos da arquitectura
barroca deixados pelos arquitectos Bernini e Borromini. Nomeadamente a cúpula da
Igreja “San Andrea al Quirinale, na qual Bernini usou diferentes escalas nos
hexágonos idêntica à forma dos “fractais”, onde os hexágonos se adaptam à cúpula e
tornam menores à medida que sobem e se aproximam da “lanterna”; e cada painel
hexagonal singular é decorado com hexágonos menores. Para os arquitectos este foi
um exemplo de “fractal” na arquitectura, onde existe uma malha hexagonal que remete
para a natureza e ainda um “tratamento” idêntico aos dos fractais que remete à
geometria, o que resulta numa espécie de fusão entre ambas (geometria-natureza).
(HTA, 2006, p.30) Por este prisma pode-se então concluir que apesar de se tratar de
um exemplo distinto também os hexágonos de Beccafumi no piso da Catedral de
Siena se trataram igualmente de exemplos de fractais.
“Though there was a difference of expression, both Bernini and Borromini layered
ellipses and hexagons on ceilings. Hexagons are used inside hexagons. Theirs are truly
nested, fractal spaces…Thus the Baroque space that Bernini and Borromini envisioned
can be said to have a dual structure with both a fractal geometry and superfluity of folds.
29
30
Dinâmicas do favo de mel (tradução nossa)
Segundo a definição do Dicionário Editora da Língua Portuguesa Online, fractal é uma forma
geométrica complexa, de aspecto fragmentado, que pode ser subdividida indefinidamente em elemntos
que parecem cópias reduzidas do todo. (http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa-aao/fractal). O conceito
dos fractais foi criado pelo pesquisador Benoit Mandelbrot B. em 1975. Os exemplos de fractais presentes
na natureza podem ser encontrados em estruturas divergentes como a forma dos galhos das árvores, as
veias das folhas, os padrões das redes dos rios, as rugas do cérebro e os padrões das redes sanguíneas
dos animais.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
49
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
The fractal geometry invoked the celestial order or principles, and folds invoked the
movements and images of real nature on earth.” (HTA, 2006, p.31)
Com base nestas teorias e inspirações, as estruturas do novo sistema “honeycomb
dynamics”, são geradas por um sistema de sistemas de armações de favo de mel,
montadas a partir de armações de aço (aço-moldado), distinto do antigo precursor
betão pré-esforçado dos “sistemas dos favos de mel”. Durante os testes de vibração e
carga executados à estrutura em aço organizada em formas de fractais, esta mostrouse mais rígida e resistente do que as anteriores em betão pré-esforçado.(HTA, 2006,
p. 141).
Através dos testes simuladores às estruturas, os arquitetos conseguiram comprovar
que entre um hexágono regular e um outro composto por outro 3 hexágonos da
mesma escala entre si, no interior, a força da estrutura aumenta drasticamente. Os
estudos efectuados em ambientes controlados comprovaram ainda que a rigidez da
estrutura pode ser controlada através do tipo de “organização fractal” das estruturas
hexagonais, ou seja, de acordo com o número de hexágonos usados assim como a
distribuição das forças entre estes. “The potential of the fractal honeycomb is hidden in
its construction method”31 (HTA, 2006, p.140). Deste modo, as peças estruturais em
hexágonos podem ser fundidas e estandardizadas para uma produção massiva.
Ilustração 16 - Estrutura de uma srmação do fractal do “honeycomb”. (HTA, 2006, p. 27)
Ilustração 17 - Vários tamahnos de modelos hexagonais. (HTA, 2006, p. 27)
Ilustração 18 - Padrão fractal do “ honeycomb”. (HTA, 2006, p. 27)
31
“O potencial do favo de mel fractal está escondido no seu método de construção” (tradução nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
50
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
De uma forma geral, estas estruturas foram utilizadas em vários projectos, tal como
hotéis, arranha céus, projectos urbanísticos, e em complexos de habitação. Com
estas estruturas de malha hexagonal a intenção passou por se criarem projectos que
fossem dotados de uma grande organicidade exterior, económicos, estruturalmente
estáveis e que de algum modo proporcionassem melhor qualidade de vida às pessoas.
No exemplo do projecto dos arranha céus, as estruturas do “favo de mel”, tal como foi
referido anteriormente, puderam ser testadas graças à elevada tecnologia dos
computadores, onde demonstraram um bom comportamento sísmico, para protecção
dos edifícios não só contra terremotos, mas também contra ventos fortes; sempre com
o objectivo de melhorar a segurança, economia e habitabilidade. Relativamente aos
planos urbanos, com a intenção de comprovar a dinâmica do “favo de mel” na
arquitectura a nível urbano, a HTA desenvolveu seis projectos todos eles situados no
Japão, onde tentaram mostrar como a malha hexagonal podia transformar a cidade,
bem como a forma como este sistema se podia adaptar ao ambiente urbano. Em
algumas das habitações a malha hexagonal foi aplicada tanto a nível estrutural como
espacial,
e
tal
como
nos
outros
exemplos
a
estrutura
correspondeu
às
correspondências.
Tal como Bernini e Borromini e Beccafumi, os arquitectos da HTA “brincaram” com as
escalas dos hexágonos nos seus projectos. Contudo, a escala é outra e aplicação, não
se trata apenas da “decoração” de uma cúpula ou de um pavimento, mas antes de
estruturas de grande escala. Na verdade estas estruturas em hexágonos fractais
também podem ser reconhecidas pelo cariz decorativo, pois conferem um aspecto
dinâmico e belo, onde os desenhos das próprias fachadas servem para criar belos
jogos de luz no interior dos edifícios ao mesmo tempo que os estruturam.
Ilustração 19 - Módulos (vários tipos de organização fractal). (HTA, 2006, p.147).
Ilustração 20 - Teste às condições da estrutura. (HTA, 2006, p.143).
Ilustração 21 - Falha da estrutura no pequeno hexágono (HTA, 2006, p.147).
Ilustração 22 - Falha da estrutura no grande hexágono (HTA, 2006, p.147).
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
51
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Todavia, o projecto “Suburban Areas” ou “Áreas Suburbanas” tratou-se de um dos
casos de estudo da HTA onde os arquitectos usaram as estruturas em malha
hexagonal – “honeycomb dynamics – desde a escala urbana à escala habitacional.
HTA - “Suburban Areas”: Interdesign Associates + Hugo Kohno Architect Associates
+ Taichi Tomuro Architect & Associates
O “Suburban Areas” ou “Áreas Suburbanas” tratou-se de um dos casos de estudo da
HTA. Neste projecto os arquitectos analisaram as áreas de intervenção, as respectivas
problemáticas e posteriormente desenvolveram uma proposta para essa mesma área.
Nessa análise os autores constactaram que os subúrbios tinham sido criados entre as
cidades e as aldeias, como áreas residênciais para a classe trabalhadora, através da
qual esta se poderia deslocar para o centro da cidade. Mas agora, numa sociedade
mais actual, os padrões de trabalho e estilo de vida tinham vindo a sofrer alterações e
era pouco provável que essas áreas se mantivessem exclusivamente residênciais.
Nesse contexto, eles defenderam que era necessária a construção de comunidades às
quais fossem fornecidos esses usos mistos. (HTA, 2006, p.125)
Ilustração 23 - Vista da torre HTS projectada para a cidade de Tokyo” (HTA, 2006, p. 72)
Ilustração 24 - “High-density Residential Areas” (Hugo Kohno Architect Associates). (HTA, 2006, p. 68)
Ilustração 25 - Canto superior direito: Vista exterior da guesthouse incluída no projecto do plano “Suburban Areas” (HTA, 2006, p. 128)
Ilustração 26 - Canto inferior direito: Vista superior do interior da guesthouse incluída no projecto do plano “Suburban Areas” (HTA,
2006, p. 128)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
52
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
O projecto proposto foi o de uma cidade jardim rodeada de ”hortas-jardim”. Esta foi
uma tentativa de propor zonas de revitalização onde a vegetação, terra e ar fossem
apreciados como ponte entre a cidade e a “quinta na aldeia”.
A intenção desta proposta foi criar “clubhouses” para visitantes, Hotel, spa, instalações
desportivas e espaços comerciais para um complexo de habitação colectivo num lugar
com aproximadamente 11 ha que coexistisse com o ambiente da cidade-jardim. Para
tal foi adoptada uma malha hexagonal como módulo para o local. Neste plano urbano,
a trama hexagonal tem um papel importante não só na estrutura dos edifícios como no
arranjo espacial.
Relativamente à organização espacial, o complexo de médio crescimento foi
organizado ao longo da avenida principal e o conjunto de baixo crescimento, das
instalações residenciais mistas, foram distribuídas entre os recintos vegetais e os
jardins de recreio.
No complexo de médio crescimento, a malha hexagonal faz um “zigzag” nas paredes
paredes dinâmicas em forma de hexágonos e entrelaça os espaços interiores e
exteriores onde cria uma maior ligação e harmonia entre os espaços. (HTA, 2006,
p.127) A rotação axial do plano do chão criou uma relação fluida do arranjo local,
desde o Norte-Sul ao Este-Oeste.
No planeamento do traçado da zona de baixo crescimento residencial, cada unidade
habitacional oferece a interacção com o ambiente em todos os seus seis lados de
forma a fortalecer a relação com o exterior e proporcionar ambientes mais saudáveis e
estimulantes. O interior das unidades, também foi desenhado sobre uma trama
hexagonal, onde existe uma sala com duplo pé direito livre de colunas e formada por
um hexágono com 6 metros em planta.
Ilustração 27 - Complexo Residencial de baixo crescimento à esquerda e de médio crescimento à direita (HTA, 2006, p. 124)
Ilustração 28 - Vista do complexo de crescimento médio do sudoeste. (HTA, 2006, p. 124)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
53
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Este espaço funciona como uma espécie de “nó” ou “ligação” entre os seis diferentes
espaços adjacentes, no fundo trata-se do espaço de convívio e maior movimento da
casa. Esta forma de organização espacial em malha hexagonal permite que os
espaços fluam melhor entre si e melhorem as relações humanas, mas esse é um tema
que será profundado mais à frente nesta dissertação.
Relativamente às estruturas dos edifícios os arquitectos aplicaram a estrutura em aço
em forma de hexágonos fractais, que se apelidaram de “honeycomb dynamics”.
Adoptaram
esta
estrutura
pois
acreditavam
que
esta
podia
ser
aplicada
arquitecturalmente também noutros países. Este tipo de estruturas permitiram
diferentes arranjos e abriram novas perspectivas para a “modulagem escultural”, onde
os hexágonos organizam-se dentro de hexágonos em várias escalas como os fractais,
e criam assim um conjunto dinâmico e visualmente atraente. Esta estrutura, uma vez
que é montada com peças estandardizadas, permite uma construção mais fácil,
rápida,
económica, sustentável e estruturalmente estável (comportamento sísmico
favorável). (HTA, 2006, p.124). Resumidamente a organização fractal da estrutura em
aço permitiu um maior reforço das estruturas “favo de mel” em malhas hexagonais, um
melhor comportamento antissísmico, uma maior durabilidade, uma construção rápida e
eficaz e ao mesmo tempo a possibilidade de estruturas visualmente mais atraentes e
dinâmicas.
“We believe that HTA has long-lasting potential as a sustainable house architectural
system that can accommodate the vertiginously changing functions and usages of
urban residential architecture design for lifelong occupancy as well as those
multifunctional, mixed-use architecture, To that end, we endeavour to deeply pursue an
alternative spatial model by combining natural energy sources and cutting-edge
technologies.” (Tsutomu Kamo apud HTA, 2006, pág.6)
Ilustração 29 - Vista exterior do complexo de medio crescimento, Scheme A. (HTA, 2006, p. 126)
Ilustração 30 - Vista exterior da “Guesthouse. Perspectiva da entrada e garagem. (HTA, 2006, p. 126)
Ilustração 31 - Vista interior da “Guesthouse”. Perspectiva a partir do corredor. (HTA, 2006, p. 129)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
54
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
O interesse do arquitectos da HTA nas estruturas dos “hexágonos fractais” não se
ficaram somente pelas estruturas dos edifícios comuns, mas também pelo seu
potencial como um princípio estrutural das estruturas maciças, onde consideraram
cúpulas de grande escala. Na construção de cúpulas, fosse pela geometria, pelos
membros de composição ou juntas de conexão, a uniformidade foi geralmente o
objectivo. (HTA, 2006, p. 140).
Grande parte dos estudos e referências dos autores da HTA tanto para as estruturas
dos edifícios como as cúpulas em malha hexagonal, foram baseadas no trabalho de
Buckminster Fuller. Um dos exemplos foi um plano urbanístico projectado pela
associação HTA, em que consistia numa cúpula que cobria uma parte de uma de uma
cidade, esta ideia foi muito similar ao conceito do projecto da Cúpula de Manhattan de
Buckminster Fuller, que basicamente consistia numa megaestrutura de uma cúpula
que cobria uma grande área da cidade de Nova Iorque; estas propostas surgiram
como uma proposta de controle ambiental, climático e energético. Outro dos projectos
de Fuller foi uma a cúpula projectada para o pavilhão dos Estados Unidos na feira
internacional Expo 1967 na ilha de Sainte-Hélène em Montreal, no Canadá. Esta
cúpula apresenta a altura de aproximadamente 20 andares e representou o interesse
do arquitecto pela natureza. A estrutura desta cúpula é transparente e em forma de
uma bolha com 250 metros de diâmetro. A intenção de Fuller foi propôr um tipo de
estrutura que optimizasse a sustentação com uma quantidade reduzida de material, e
dessa forma prover eficiência estrutural com um menor consumo de recursos.“The
geodesic dome conceived by America’s great engineer, Buckminster Fuller, is
representative of this pursuit. He was successful in achieving a dome of beautiful
homogeneous composition.”32 (HTA, 2006, p. 140).
Os estudos dos arquitectos da HTA relativamente às estruturas geodésicas ainda não
foram concluídos, no entanto tanto as suas propostas como as de Fuller são reflexo de
um sentido de inovação. A pequena grande diferença entre elas foram os meios que
cada um dos arquitectos obteve para efectuar os estudos necessários. Enquanto, os
autores da HTA tiveram a disponibilidade e ajuda da tecnologia dos computadores
para criarem os modelos espaciais que permitiram efectuar testes avançados para
32
A cúpula geodésica concebida pelo grande engenheiro americano, Buckminster Fuller, é representativa
desta busca. Ele foi bem sucedido em conseguir uma cúpula de composição homogênea bonita.
(tradução nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
55
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
perceberem o comportamento das estruturas, Buckminster Fuller não se podia dar a
esses privilégios. Este intervalo de aproximadamente 90 anos que os separa, apenas
demonstrar o quanto Fuller foi um homem à frente no seu tempo. Talvez por isso,
muitos dos seus projectos nem sempre tenham sido de fácil aceitação, as suas ideias
desenvolvidas sobre uma visão tão futurista nem sempre foram bem aceites. Apesar
disso a criação das cúpulas geodésicas33, foram um grande sucesso.
Ilustração 32 - A grande utopia do Domus de Nova Iorque (Fuller, 2005) (Diniz, 2006, p.53)
Ilustração 33 - O potencial da aplicação dos “hexágonos fractais”. (HTA, 2006, p.141)
Ilustração 34 - A produção dos “hexágonos fractais”. (HTA, 2006, p.141)
33
A palavra Geodésica provém do termo Geodesia que é a ciência geológica que trata do tamanho e da
forma da terra, aparece no francês como Geodesie, no latim novo aparece como Geodaesia, e no grego
como Geôdaisia, e significam a divisão da terra, onde geo significa terra e daiesthai significa dividir. Neste
estudo a Estrutura Geodésica é uma trama composta por polígonos planos diversos onde a intersecção
das linhas rectas desses polígonos, ou os seus vértices, coincidem com uma superfície esférica ou oval.
(referência)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
56
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
AS CUPULAS DE R. BUCKMINSTER FULLER E NICHOLAS GRIMSHAW
Richard Buckminster Fuller – A Cúpula de Montreal
Ilustração 35 - Buckminster Fuller (Gomes, 1959, p.13)
“..o homem não inventa nada, descobre princípios implícitos na natureza, e descobre
modos de os generalizar e reaplicar em direcções surpreendentes” (B.Fuller, apud
Oliveira, 2010, p.23)
Buckminster Fuller (1895-1983), foi considerado por muitos como um dos mais
importantes inovadores do século XX, foi arquitecto, engenheiro, designer, inventor,
escritor e futurista34. Foi aclamado como "uma das maiores mentes do nosso tempo,
R. Buckminster Fuller foi famoso pela sua perspectiva abrangente sobre os problemas
do mundo. Durante mais de cinco décadas, desenvolveu soluções pioneiras que
refletiram o seu compromisso com o potencial de design inovador para criar tecnologia
34
Durante a sua vida, escreveu 28 livros, foi considerado Doutor Honorário 47 vezes em instituições de
Artes, Ciências da Natureza, Engenharia e Ciências Humanas, recebeu vários prémios ligados à a
arquitetura e design nos Estados Unidos e Inglaterra. Seu trabalho esteve permanentemente em museus
de todo o mundo. (referência)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
57
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
que fazia "mais com menos" e assim, melhorava a vida das pessoas.35 (Krausse,
2001, p.14)
Para um melhor entendimento da forma de pensar de Buckminster Fuller e do seu
trabalho, pensa-se ser relevante fazer uma pequena referência a uma fase curiosa da
sua vida que o mudou enquanto pessoa, assim como a sua visão do mundo.
Aos 32 anos, depois de ter sido expulso da universidade e feito serviço militar na
marinha norte-americana durante a 1ª Guerra Mundial, Buckminster Fuller viu-se na
bancarrota e desempregado. Vivia em Chicago em condições precárias e nessa altura
viu a sua filha morrer de pneumonia/meningite durante o Inverno. Devastado e com
sentimento de culpa refugiou-se no álcool e pensou em suicidar-se, mas, segundo as
suas palavras, quando ia consumar o acto, decidiu fazer uma experiência e descobrir
o quanto poderia um único individuo contribuir para mudar o mundo e beneficiar toda a
humanidade. Nos anos seguintes começou a recuperar e trabalhar de forma
independente. Mais tarde apresentou ao mundo várias ideias, desde projectos a
invenções, que propunham essencialmente a eficiência e o baixo custo de habitações
e transportes. Buckminster Fuller foi visto como um homem muito à frente no seu
tempo devido às pesquisas e invenções que realizou na sua vida, tentava sempre
antecipar os problemas que a sociedade enfrentava e procurava as soluções para
estes através da tecnologia. dos pontos principais do objectivo principal do seu
trabalho foi o de proporcionar uma maior qualidade de vida às pessoas com cada vez
menos recursos. Esta mentalidade tinha muito a haver com a mentalidade e o espirito
da época.3637, e a visão que Fuller possuía do mundo foi marcada exactamente pela
sua confiança na capacidade da humanidade para desenvolver tecnologias e
35
Informação retirada do site Biography. (http://www.biography.com/people/richard-buckminster-fuller-
9303955)
36
Na primeira metade do século XX, o mundo ocidental, e principalmente os Estados Unidos da América
viveram uma relação de amor e ódio com a tecnologia e o desenvolvimento a ser conseguido a qualquer
preço. A experiência das duas guerras mundiais e os efeitos preocupantes da guerra fria colocaram uma
série de mentes pensantes em alerta, em busca de novos caminhos que revisassem as novas
descobertas e avanços científicos e industriais, e que propusessem uma nova ética e uma nova maneira
de pensar a natureza, a ciência e a indústria. (Diniz, 2006, p.50)
37
Informação retirada do site Biography. (http://www.biography.com/people/richard-buckminster-fuller-
9303955)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
58
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
artefactos para o benefício de todos, para reconhecer as possibilidades e os limites da
sua existência planetária, e para iludir os perigos previsíveis. (Sieden, 2000, p.72)
Algumas invenções de Fuller mostraram-nos a sua habilidade empreendedora e
provocadora. Entre esses artefactos temos um exemplo de 1933, com o carro
Dymaxion, que foi uma espécie de veículo bastante leve, ágil e veloz que podia
transportar até 11 pessoas com uma economia considerável de produção e
combustível. (Oliveira, 2010, p. 13). Nas observações da Natureza, Fuller apreciava a
hidrodinâmica e aerodinâmica perfeitas dos pássaros e peixes, bem como o design de
qualquer outro ser natural cuja forma resultasse no maximo de eficciencia e minimo de
resistência.Na sua imaginação Buckminster pretendia desenvolver um veiculo para
terra, mar e ar. (Verschleisser, 2008, p.96)
“..Para construir o Dymaxion, Buckminster Fuller reflectiu sobre o facto que a forma de
uma gota de chuva que cai na atmosfera é variável no tempo para optimizar a resposta
à resistência atmosférica: primeiro esférica, assumindo progressivamente a forma de
uma lagrima. Estabeleceu então uma analogi com a resistência atmosférica a que esta
submetido um veiculo em movimento.” (Oliveira, 2010, p. 14)
Outro projecto dos anos 20, foi a sua proposta da casa Dymaxion38, onde vários
conceitos de conservação de energia e de uso coerente dos materiais e dos espaços
já estavam presentes39. No entanto a casa s foi construída efectivamente em 1945. O
edifício tratou-se inicialmente de uma casa hexagonal que mais tarde foi modificada e
passou a ser redonda. A intenção era que esse artecfacto fosse capaz de ser
produzido em massa, que tivesse um baixo custo, facilmente transportável e reduzisse
o impacto ambiental. Deste modo, a casa foi construída em materiais que não
precisavam de pintura nem manutenção, e o protótipo mostrou que resistia a
tempestades e terramotos. Na altura em que foi construída, o preço da casa era
equivalente ao de um Cadilac, e a intenção era que fosse produzida em massa tal
como os automóveis; desse modo ela podia ser vendida em massa como os
38
Dymaxion foi um termo que Fuller deu a várias das suas invenções que considerava que em parte ou
de uma forma geral melhorava as condições de vida da humanidade. (Krausse, 2001, p.84)
39
Fuller propôs também na mesma época a instalção sanitária Dymaxyon, que consistia num kit sanitário
em plástico injectado que poderia ser ligado às construções existentes trazendo assim uma série de
vantagens ergonómicas e sanitárias ao mesmo tempo que propunha economia e a não poluição da água.
(Krausse, 2001, p.95)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
59
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
automóveis para que o custo delas fosse financiado em cinco anos. (Krausse, 2001, p.
83-97)
Outro dos princípios de Fuller era idêntico aos aplicado pelos arquitectos da HTA, era
o de ver a Natureza como uma grande mestra na qual o homem se devia inspirar.
Deste modo, pela convicção de que os projectos “da natureza” compunham modelos
maravilhosos, ficou conhecido como um dos arquitectos famosos por usar formas da
natureza nas estruturas que projectou. (Oliveira, 2010, p.23)
Uma das “criações” mais importantes de Fuller e pelas quais ficou especialmente
conhecido, foram as cúpulas geodésicas40, que curiosamente também partiram de
princípios primordiais da natureza. (Gomes, 1959, p.13). Buckminster sempre se
interessou pelas formas esféricas encontradas na natureza. Quando se questionou
acerca do tema, “como seria possível criar-se uma esfera tão perfeita, como uma
bolha, ser construída e destruída tão rapidamente” (apud Verchleisser, 2008, p.100)
desenvolveu, com base nos modelos e sistemas reais, pesquisas e experimentações
com a intenção de registrar e compreender tecnicamente como se chegava a estas
formas. (Verchleisser, 2008, p.100).
Ilustração 36 - Buckminster Fuller com o terceiro modelo da casa Dymaxion (1929). (Krausse, 2001, p.97)
Ilustração 37 - Modelo Construído da casa Dymaxion (Krausse, 2001, p.95)
40
Segundo Yarnall antes de existirem as Estruturas Geodésicas o mundo primitivo já conhecia a
construção das cúpulas circulares ou Domus. No começo do segundo milênio por volta de 1300 aC a arte
de construção com pedra já estava evoluída, temos o exemplo da construção da Tumba de Atreus em
Micenas na Grécia com diâmetros de 16,00 m em sua base. Este tipo de construção pode ser chamada
de ´falso domus´ e é executada através da colocação de anéis de pedras sobrepostos a partir da
fundação que vão sucessivamente diminuindo em diâmetro até alcançar o topo onde é colocada a última
pedra. A Tumba de Atreus foi coberta na época da sua construção por uma pequena montanha de terra o
que ajudou na sua preservação até os dias actuais. (1978, p.10)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
60
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Mais tarde em 1945, as estruturas estruturas microscópicas do plâncton marinho, os
Radiolários4142 despertaram a curiosidade e criatividade de Fuller. (Rohan apud
Allgayer, 2009, p.40). Através da observação dos padrões existentes nesses
organismos marinhos, Fuller aplicou os seus conceitos geométricos na formulação de
regras compositivas para a estruturação das famosas formas geodésicas. Esta atitude
de Fuller remete à usada pelos arquitecto da HTA, que se inspiraram nas formas
naturais dos nanotubos de carbono e nos fractais para desenvolverem as suas
estruturas.
Ilustração 38 - esqueletos de radiolários (cienccidade, 2010, p.44)
41
As estruturas ósseas de seres vivos como os radiolários e vertebrados foram umas das estruturas
estudadas e que fizeram parte dos princípios de oprtimização classificados e apresentados por Eugene
Tsui no seu livro livro “Evolutionary Architecture, Nature as a Basis for Design”. Estes foram incluídos no
4º principio de optimização: Maximização da robustez estrutural. Este principio aponta para a selecção da
forma óptima como a que maximiza a robustez das estruturas, poder-se-ia também traduzir, de modo
sensivelmente equivalente, pela afirmação que nas estruturas naturais a forma é resultante das forças
exteriores aplicadas; este principio está também patente na capacidade que as estruturas naturais têm
para suportar forças de compressão com um valor cerca de duas mil e duzentas vezes superiores ao seu
próprio peso. (Oliveira, 2010, p.24)
42
Os radiolários são seres unicelulares, com cerca de 600 milhões de anos de história, que assumem
formas muito diferentes, desde formas esféricas a formas com simetria radial ou bilateral, evidenciando
esta variedade que a natureza, mesmo à escala microscópica, opta por formas ordenadas de grande
variedade e luxúria.(Oliveira, 2010, p.43). Os esqueletos radiolários são constituídos por sílica sólida, que
é um componente de estrutura cristalina muito resistente ao processo de dissolução na agua do mar.
note-se que os radiolários não têm mobilidade pelo que não se coloca o problema do peso da estrutura
sílica compacta. Em certos grupos de radiolários a estrutura siliciosa é constituidapor elemntos ocos com
junções de material orgânico. Os exemplares deste ultimo grupo são de difícil preservação, pois o fcato
do seu esqueleto ser oco torna-os menos resistentes ao processo de dissolução. (Oliveira, 2010, p.42)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
61
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Mas será que foi realmente a partir da observação das estruturas naturais que surgiu a
sua inspiração para a criação dos Domus Geodésicos? Uns acreditam que foi um
processo instintivo, outros acreditam que se tratou simplesmente do progresso natural
dos seus estudos. (Gomes, 1958, p.15). Mas há ainda quem vá mais longe e afirme
que Fuller não foi inventor das cúpulas geodésicas. Segundo Kahn (1979, p.84) essa
referência a Fuller tem sido errada, ele destacou que a primeira estrutura Geodésica
foi construída no século XX, e foi a cúpula para o Planetário da indústria ótica Zeiss,
que foi concluída no ano de 1922 na cidade de Jena, na Alemanha. A ideia para esta
foi gerada de uma consequência da invenção do Projetor Planetário por parte de
Walter Bauersfield. Ela foi composta por 8000 barras de aço, tinha um vão de 25m e
foi coberta por uma camada de betão com 6cm de espessura.
Então surge a questão…Será que Fuller já teria conhecimento destas estruturas
criadas ainda antes dele? Ou será que foi uma simples coincidência que fez jus ao
velho ditado “mentes brilhantes pensam de igual forma” e realmente Fuller inspirou-se
na natureza para chegar a estas estruturas…Ou simplesmente terá sido a junção de
ambas?
Na verdade, talvez esse facto não seja tão importante, nem retire a admirável
inteligência com que Fuller projectou as cúpulas geodésicas. O arquitecto dedicou
grande parte da sua vida a este tema, e independentemente das teorias de onde
possa ter surgido a inspiração de Fuller, o formato geodésico com a estrutura em
malha hexagonal emergiu de forma natural a partir de sólidos regulares; o que unificou
os princípios de área mínima da esfera e agregou a forma triangular. (Prenis, 1976).
Estas estruturas partiram assim do trabalho de Fuller com as formas triangulares e
tetraédricas que combinadas formavam a malha hexagonal e por sua vez as
superfícies esféricas.
Deste modo, de uma forma geral as cúpulas geodésicas de Fuller consistem em
formatos poliédricos cuja modulação foi praticada através de polígonos regulares, que
permitem o uso de elementos compridos de dimensões constantes unidas por peças
padronizadas de conexão. Buckminster patenteou o formato geodésico construído a
partir de polígonos regulares, nos quais especificou uma quantidade de conexões
possíveis para obter configurações diversas. (Prenis, 1976). Na sua maioria as
estruturas dessas configurações são formadas por triângulos e hexágonos, uma vez
que formam uma forte estrutura que facilmente se adaptam à forma curva das cúpulas
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
62
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
e fazem uma melhor distribuição das forças. Outras configurações menos usadas
consistiram em hexágonos e pentágonos, o que demonstra outra das vantagens da
forma hexagonal relativamente à capacidade de “deformação” e adaptação a outro tipo
de formas. (Shuji Kitada apud HTA 2006, pág.8)
Este princípio das cúpulas geodésicas43 foi desenvolvido por Fuller em 1947, e mais
tarde vieram-se a tornar uma das suas maiores invenções de sucesso, o que se tornou
num grande salto para carreira internacional de Buckminster. (Allgayer, 2009, p.40).
Fuller defendia que a estrutura das cúpulas esféricas podiam-se transformar numa
atmosfera eficiente para a ocupação humana, uma vez que a energia e o ar
circulavam sem obstrução, o que promovia a ventilação natural e o aquecimento; as
que já foram construídas têm-se mostrado eficientes em diferentes temperaturas e
climas. “Buckminster Fuller geodesic dome offers the largest possible bench and
volume área with de least surface área. The result is less expensive heating
requirements and better air circulation than in other greenhouses.”44 (Suzanne Slesin,
apud Fiell, 1973, p.524).
Ainda segundo Fuller cúpulas geodésicas é energeticamente eficientes por diversos
motivos como: o decréscimo da área superficial necessitava de menos materiais de
construção; a exposição ao frio no inverno e ao calor no verão decrescia porque sendo
esférico havia menor área superficial por unidade de volume por estrutura; O interior
côncavo criava um fluxo de ar natural que permitia que o ar quente ou frio fluísse
uniformemente através da Cúpula; as turbulências externas do vento eram
minimizadas porque este vento que contribuía para aquecer ou esfriar perdia força em
torno da Cúpula, por efeito aerodinâmico; as cúpulas funcionavam como um grande
ponto reflector, reflectia e concentrava a temperatura interior, evitando a perda de
calor radiante nos climas mais frios. (apud Diniz, 2006, p.34)
Neste seguimento, as cúpulas geodésicas eram construídas de cima para baixo, e
cada nova secção era colocada em movimento circular baseado num mastro central. A
43
O nome que teve origem na expressão “linhas geodésicas”, utilizada por Einsteinn e pelo matemático
alemão Riemman, significando “ a relação económica entre acontecimentos universais”.
44
“A cúpula Geodéscia de Buckminster Fuller oferece maior área possível com menor área de superfície
O resultado são necessidades de aquecuimento mais baratas e uma maelhor circulação doar doque nas
outras “greenhouses”. (tradução nossa).
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
63
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
integridade de forças em equilíbrio permitiu que Fuller usasse materiais mais baratos
nas suas construções. (Duarte, 1999, p.89) Foram consideradas estruturas de grande
leveza, com economia de material, baixo custo energético e de construção, e podiam
ser construídas em aço, alumínio, contraplacado, plásticos e ate cartão, ou
combinações dos preferidos materiais.
Na revista binário Manuel Tainha escreveu referiu, que estas estruturas foram
utilizadas maioritariamente como auditórios, edifícios para exposições, restaurantes,
estábulos, estufas, hangares para helicópteros, armazéns e habitações. Actualmente
existem mais de 2.000 cúpulas espalhadas pelo mundo com diâmetros que variam
entre os 3 aos 100 metros e têm-se mostrado eficientes em diferentes climas e
temperaturas. (1995, p.13).
De um modo geral, as cúpulas de Fuller eram presas às fundações com ferros, ou ao
solo com âncoras e cabos, chegando a resistir a ventos cíclicos de 300 km/h, o que
podia parecer pouco improvável visto que a primeira cúpula de Fuller tinha 24metros
de diâmetro e pesava apenas 7.700 quilogramas. Já as mais pequenas podiam ser
montadas por apenas seis operários apenas numa hora mostrando-se bastante
eficientes.
Estas estruturas esféricas começaram a atrair a atenção do mundo inteiro em 1954,
quando Fuller desenvolveu um modelo de cartão impermeabilizado e de alumínio
revestido a nylon concebido com 11 metros de diâmetro e obteve o grande prémio da
Exposição Internacional Trienal de Artes Decorativas Modernas de Milão. (Tainha,
1959, p.16)
Entre todas as cúpulas geodésicas projectadas por Buckiminster Fuller, a mais
conhecida e divulgada foi projectada para o pavilhão dos Estados Unidos na feira
internacional Expo 1967 na ilha de Sainte-Hélène em Montreal, no Canadá e
apresenta uma altura de aproximadamente 20 andares. (Boake, apud, Diniz 2006,
p.67)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
64
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Cúpula de Montreal
Ilustração 39 - Pavilhão dos Estados Unidos na Expo de Montreal (HTA, 2006, p. 59)
A cúpula de Montreal, projectada para o Pavilhão Americano da Expo’67 em Montreal,
no Canadá foi considerada uma das estruturas geodésicas mais complexas,
projectadas por Fuller.
Assim que a feira foi inaugurada, esta estrutura transparente, em forma de bolha com
250 metros de diâmetro “assumiu destaque absoluto, e ficou caracterizada como a
grande transformação arquitectónica.” ( Duarte, 1999, p.89).
Ao projectar esta superfície esférica, Fuller pretendia propôr um tipo de estrutura que
optimizasse a sustentação com uma quantidade reduzida de material, e dessa forma
pudesse prover a eficiência estrutural com um menor consumo de recursos. De acordo
com Rohan (2003), a superfície esférica do Pavilhão Americano na Expo’67 de
Montreal representou ainda o interesse de Fuller pela natureza e as formas biológicas
como forma de representação “microscópica do macrocosmo”45.
45
O químico inglês Harold Kroto que nos anos 90 do séc. XX chefiava uma equipa que trabalhava sobre a
estrutura do Carbono 60, curiosamente visitou a Exposição Universal em Montreal no Canadá e ficou
muito impressionado com a cúpula de Buckminster Fuller. Harry Kroto pensou que, tal como Fuller tinha
construído uma cúpula redonda encurvando uma rede geométrica plana hexagonal, também ele poderia
encurvar uma rede de grafite para formar uma esfera. Deste modo ele resolveu a questão da distribuição
espacial dos 60 átomos de carbono, propondo uma estrutura constituída por hexágonos e pentágonos
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
65
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Como em outras cúpulas de B. Fuller, neste modelo empregou um módulo estrutural
tridimensional que apresenta uma malha em triângulos na face externa e uma malha
em hexágonos no lado interno curvado de modo a ajustar-se ao arco dado. Estes
elementos encontram-se distanciados 1metro na base e vão-se aproximando à medida
que a edificação vai ganhando altura.46 No total a estrutura completa é fechada por
1900 painéis moldados em acrílico, onde os elementos conectados distribuem o peso
da estrutura por toda a superfície externa até tocar no solo. Todos os cabos que
formam a estrutura em hexágonos são visíveis interna e externamente; os elemntos
em acrílico transparente serviu para ilustrar as potencialidades tecnológica da a
estrutura. (Duarte, 1999, p.89)
De uma forma geral, relativamente à qualidade da malha hexagonal, esta compõe uma
estrutura forte capaz de suportar ventos fortes e ainda uma altura equivalente a 20
andares, é dotada de uma óptima adaptabilidade à superfície curva da cúpula e ainda
confere à estrutura um aspecto atraente, orgânico e dinâmico.
Ilustração 40 - Relação entre o padrão hexagonal encontrado na radiolária e o módulo estrutural do Pavilhão Montreal (Fuller, 1967)
que designou por “Buckminsterfullereno” Posteriormente, a cúpula de Buckminster Fuller foi citada pelos
virologistas Donald Caspar e Aaron Klug, como possível modelo de referencia nos estudo invólucro
proteico de alguns vírus. Numa analise sintetizada desta relação não devemos limitar-nos a considerar
que terá existido uma influência formal de Buckminster Fuller em Harry Kroto, Caspar e Klug. Para além
de uma possível influencia formal, parece logico admitir que que existiu a intuição comum de que a forma
poliédrica escolhida possuía a estabilidade que todos procuravam para as diferentes estruturas que
estudavam. (Oliveira, 2010, p.24)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
66
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
O sucesso desta construção ficou mais do que comprovado, ao atrair cerca de 11
milhões de pessoas em seis meses e ao ficar famosa até aos dias de hoje pela sua
forma marcante e inovadora.
Actualmente a cúpula de Montreal funciona como um museu interactivo. Em função da
arquitectura específica desta estrutura, o consumo de energia é bastante reduzido, e
comparando comas opções eléctricas convencionais, o sistema geométrico promove
uma redução no consumo de energia de 21% em cada ano, o que ainda é um valor
considerável uma vez o uso extensivo de janelas na construção e o clima frio no
Canadá. (Diniz, 2006, p.75)
Mas estas construções não se ficaram por aqui. No entanto, os princípios de
construção geodésica desenvolvidos por Buckminster Fuller a meio do século
passado, como parte dos seus esforços para usar a ciência e a tecnologia para tratar
de questões universais, têm vindo a inspirar sucessivas gerações de arquitetos, e
designs geodésicos têm desempenhado um papel fundamental na definição da
paisagem arquitectónica das últimas décadas.
Um exemplo disso foram os projectos desenvolvidos pelos arquitectos da associação
HTA, que tal como Fuller projectaram estruturas com malhas. Apesar das influências
do arquitecto das estruturas geodésicas, enquanto Fuller se valeu de outras malhas
como a triangular e conjugou os hexágonos com outras formas como o pentágono, os
arquitectos da HTA trabalharam exaustivamente e unicamente as estruturas em
malhas e formas hexagonais. No entanto, apesar de se tratarem de estruturas
distintas, ambas tiraram partido das potencialidades da malha hexagonal. Ambas as
estruturas partiram da inspiração dos arquitectos na natureza e mostraram-se bastante
resistentes e eficientes. Enquanto nas cúpulas geodésicas a mlaha hexagonal permitiu
criar estruturas curvas e leves que suportam uma grande dimensão, nos projectos da
HTA na sua maioria a malha hexagonal foi aplicada em edifícios ao nível das fachadas
onde apresentaram um óptimo comportamento em edifícios altos como os arranha
céus, nomeadamente a nível sísmico. De uma forma geral em ambos os exemplos, a
malha hexagonal conferiu um aspecto dinâmico, aparentemente atraente orgânico;
algumas das caracteristicas que parecem se manter inerentes às malhas hexagonais
independentemente do tipo de aplicação.
Independentemente das analogias entre ambas as estruturas é interessante notar
como passados tantos anos, Fuller, que na sua altura não tinha acesso às tecnologias
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
67
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
dos dias de hoje, conseguiu criar obras que ainda hoje continuam a inspirar
sucessivas gerações de arquitectos.
Outro desses exemplos trata-se do arquitecto inglês Nicholas Grimshaw que não
desenvolveu cúpulas geodésicas massivamente como Fuller, mas utilizou os mesmos
princípios de estruturação na concepção do Eden Project, que Fuller tinha usado nos
domus geodésicos, 50 anos antes. Independentemente disso, ambos os projectos
representaram duas estruturas geodésicas notáveis.
A análise sucinta desta obra de Girmshaw, surge nesta dissertação como
entendimento das diferentes interpretações da malha hexagonal em estruturas
idênticas e complemento à análise das estruturas geodésicas de Buckminster Fuller.
“until this building was created, Fuller’s domes stood for ambition rather than practice. A
number of modest ones had been built, but the idea for dome entirely cover Manhattan
obviously went bit too far. The design of domes was always hampered by standard
design difficulties: edges and links. A dome must stand on something, needs an entry
and may need be linked to other building elements. The idea for a structure can be
magnificient, but it always has to prove itself in the way it ends and how it relates. That
is where eden has improved on earlier solutions. “
47
(Hinte, 2003, p. 100)
Ilustração 41 - Interior do Pavilhão dos Estados Unidos na Expo de Montreal (HTA, 2006, p. 59)
Ilustração 42 - Pormenor do Pavilhão dos Estados Unidos na Expo de Montreal (HTA, 2006, p. 59)
47
Até este edifício ter sido criado, as cúpulas de Fuller ficaram-se mais pela ambição do que pela prática.
Um numero modesto delas foram construídas, mas a ideias de uma cúpula para cobrir totalmente a
cidade de Manhattan obviamente foi longe demais. O projecto das cúpulas foi sempre possuindo algumas
dificuldades de projecto: “bordas e ligações”. a cupula deve-se suportar em alguma “coisa”, necessita de
uma entrada e pode precisar de se ligar a outros elemntos de construção. a ideia de estrutura pode ser
magnifica, mas tem sempre que provar a si memso como termina e como se relaciona. É neste sentido
que o projecto do Eden melhorou em relação a soluções anteriores.” (tradução nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
68
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Nicholas Grimshaw - “Eden Project”
Ilustração 43 - Retrato de Nicholas Grimshaw (biography.com)
“I think that it is true the buildings should stand on their own and speak for themselves”
48
Nicholas Grimshaw49 nasceu no ano de 1939 em Hove, Inglaterra, Reino Unido. Foi
um arquitecto inglês de destaque, particularmente pelos seus projectos modernistas. A
prática da sua arquitectura continua a crescer com escritórios espalhados por
Londres, Nova Iorque e mais recentemente, em 2010, Sydney. O seu trabalho foi
comumente comparado com o de Norman Foster, pois o seu estilo era muito idêntico
ao de Norman.
Entre todos os projectos que efectuou o que mais se destacou foi o projecto do Éden,
concluído em 2001 e situado em St.Austell em Inglaterra. Esta foi a maior estufa já
alguma vez construída e foi considerada uma das principais atrações do Reino Unido.
48
A citação foi retirada de uma entrevista feita ao arquitecto. E pode ser consultada online no site oficial
da BBC, (http://www.bbc.co.uk/radio3/johntusainterview/grimshaw_transcript.shtml)
49
Em 1989 ganhou o prémio nacional RIBA; em 1994 recebeu o prémio “Edificio do Ano” com o terminal
ferroviário em Londres “Waterloo”; nesse mesmo ano também foi eleito vice-presidente da “Architectural
Association, membro da Royal Academy e membro do Instituto Americano dos Arquitectos. (referência)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
69
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
”The biomes received 1.956 million visitor in their first year opening. The project is now
one of the top three charging attractions in the UK and the second most visited
destination outside London.”50 (Cornwall, UK)51
resumidamente consistiu num conjunto de bolhas translúcidas climatizadas, com um
clima florestal tropical que serviram para abrigar as mais variadas espécies vegetais52,
algumas delas de grandes dimensões; daí a a grande escala.(TYAS, 2003, p.107).
Estas bolhas translucidas climatizadas situam-se dentro de uma antiga área de
mineira, criam um micro clima protegido devido à disposição do complexo abaixo do
nível dos terrenos circundantes.
“Eden Project”
Ilustração 44 - Eden Project de Nicholas Grimshaw (2001). (Allgayer, 2009, p.42)
O complexo consiste em três partes. A maior foi designada por “Humid Tropic Biomes”
(HTB), que abriga plantas da África Ocidental, Malásia, entre outras. Se observarmos
a (ilustração 48), podemos confirmar que o conjunto “HTB” é composto por 4 cúpulas
(ABCD), onde a B é a maior entre todas. Possui um diâmetro de quase 125m e a
altura interna livre ronda os 55m para que deste modo as arvores de maior dimensão
possam crescer livremente. Uma vez que estas plantas necessitam mais luz solar para
crescer, estes domo foram posicionados de forma a uma maior entrada de luz solar.
As outras 4 cúpulas (EFGH) formam o “Warm Temperature Biome” (WTB), que possui
50
“Os biomas receberam 1,956 milhões de visitantes no primeiro anos de abertura. O projecto é agora
uma das três principais atracções no Reino Unindo e o segundo mais visitadpo fora da cidade de
Londres.” (tradução nossa)
51
Citação retirada do site oficial do arquitecto Grimshaw. Esta informação pode ser consultada online no
(link: http://grimshaw-architects.com/project/the-eden-project-the-biomes/)
52
Abrigaram espécies da Amazônia, África, Malásia, Estados Unidos da America, do Mediterrâneo, Chile,
Himalaia e Australásia.(TYAS, 2003, p.107)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
70
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
um comprimento interno com cerca de 150m, 56m de largura e uma altura de 35m.
Nestas cúpulas, as plantas são típicas da seca e áreas quentes como África do Sul,
Califórnia ou área do Mediterrâneo.
Ambos os conjuntos encontram-se ligados por um edificio, através do qual se faz o
acesso para ambas as cúpulas, e onde se encontram umas instalações, restaurante e
espaços de repouso. Além destas estruturas existe uma área central exterior com
cerca de 15 ha. Nesta área exterior existem ainda outras plantas de outras áreas do
mundo que crescem sem a necessidade de abrigo.
As cúpulas, formadas por uma “rede de hexágonos”, com diferentes diâmetros foram
interligadas através de arcos. As variações dos diâmetros deveram-se tanto às
necessidades de adaptação à topografia, como às exigências dos espaços internos, o
que acabou por resultar no aspecto de um organismo biomórfico. A sinergia entre a
arquitectura e paisagem é fundamental para entender a filosofia do projecto Eden.
(Diniz, 2006, p.78). O terreno tratava-se de uma cratera no topo de uma colina, e neste
exemplo, o módulo hexagonal, mais uma vez, demonstrou uma boa capacidade de
adaptação às variações da topografia do terreno. Grimshaw descreveu esta adaptação
ao terreno como “bolhas” que se encaixaram no terreno como uma espécie de
casulo53.
Ilustração 45 - Planta geral do projecto do Eden. (Diniz, 2006, p.77)
Ilustração 46 - Perspectiva do interior das cúpulas. 54
53
Citação de Grimshaw durante uma entrevista da BBC. A entrevista pode ser consultada online no site
oficial da BBC. (link: http://www.bbc.co.uk/radio3/johntusainterview/grimshaw_transcript.shtml)
54
As imagens cuja fonte não é referenciada foram retiradas da pagina oficial do arquitecto Grimshaw.
Disponível online em: (http://grimshaw-architects.com/project/the-eden-project-the-biomes/). Nota válida
para as (ilustrações 47, 48, 51 e 52).
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
71
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ao contrário das cúpulas de Fuller, Grimshaw não projectou as mesmas
individualmente, mas sim interligou-as, dinamizando os espaços ao criar uma
atmosfera onde os espaços não se limitam a cada uma das esferas mas fluem entre si
ininterruptamente. No livro “smart architecture” um dos autores refere-se a esta
adaptação ao terreno como “a snakelike chain of several geodesic domes”55 (Hinte,
2003, p.100)
Deste modo, esta cobertura transparente autoportante cobre uma área de 23.000m2
com painéis hexagonais individuais, com diâmetros que variam entre os 6 e 8 metros.
No total a estrutura é composta por 232 painéis que foram controlados por computador
e operáveis por ventilação; um sistema de ventilação idêntico ao que foi aplicado na
cúpula de Fuller para a Expo 67 em Montreal, masque nunca funcionou, presume-se
que a tecnologia não era avançada o suficiente na altura.
Mas esta não foi a sua primeira proposta, numa primeira tentativa o arquitecto
projectou as cúpulas com outras formas estruturais que não a hexagonal, o que exigiu
uma estrutura metálica muito pesada reforçada com o peso do vidro. Numa segunda
tentativa o arquitecto projectou a estrutura com base nas Cúpulas, em duas camadas
com geometria hexagonal que se mostraram mais apropriadas, com melhor adaptação
ao terreno, e ao mesmo tempo mais leves e com menos componentes metálicos.
(Diniz, 2006, p. 79). Tal como Fuller, o arquitecto inglês pesquisou materiais mais
leves, e na cobertura de cada módulo estrutural hexagonal, nos painéis de folhas ele
aplicou folhas de ETFE56 (ethiltetrafluoretireno) transparente cheias de ar, que
formaram uma espécie de almofadas de ar, o que ajudou na redução do peso,
comparativamente ao vidro.
“Grimshaw’s design of the biomes is na exercise in efficiency, both of space ando f
material…the efficiency of the frame relies on the componentes of the geometric
shapes: steel tubes and joints that are light, relatively small and easily transportable.
The cladding panels are triple-layered pillows of high ETFE foil and environmentally
55
Cobra em cadeia de várias cúpulas geodésicas. (tradução nossa)
56
O material ETFE tem sido usado há mais de 20 anos, é extremamente leve e transparente. A superfície
é lisa e suave de forma a que a sujidade externa seja lavada pela chuva. Esses painéis tipo “almofadas
de ar” nunca tinham sido executada anteriormente com a dimensão dos do Éden Project.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
72
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
efficient, with maximum surface area and minimum perimeter detailing.”
UK)
57
(Cornwall,
58
Tal como no exemplo da cúpula de Montreal de de Buckminster Fuller, a rede
estrutural da cúpula para o Éden Project também consiste em duas redes esféricas e
concêntricas. As redes internas e externas foram interconectadas por um jogo de
linhas diagonais que dão origem a uma malha esférica de duas camadas com um
comportamento tridimensional. A malha externa trata-se de uma rede hexagonal,
enquanto a interna é composta por triângulos e hexágonos, ao contrário da cúpula de
Montreal que manteve a malha hexagonal do exterior e a hexagonal na interior. O
interior como nas cúpulas de Fuller é livre de colunas.
Os arcos e os elementos superiores funcionam como vigas e os elementos inferiores e
diagonais servem de modelos como treliças. A estabilidade da estrutura foi reforçada
pelo método usado na cúpula da Expo 67, onde os elementos conectados serviram
para distribuir o peso da estrutura por toda a superfície externa até tocar no solo. Para
confirmar a resistência da estrutura, foram efectuados os testes necessários, com os
quais Grimshaw conseguiu confirmar que a estrutura em malha hexagonal se tratava
de uma estrutura forte e mesmo que levasse com algum tipo de carga externa, como
neve e houvesse o colapso de alguns elementos, a estabilidade da estrutura não era
comprometida. (Grimshaw, 1993)
De uma forma geral a estrutura em malha hexagonal trouxe algumas vantagens, para
além da fácil adaptação ao terreno, o tamanho dos elementos hexagonais permitem
uma maior entrada de luz solar. (Diniz, 2006, p.79). Tratam-se de estruturas que
permitem que os espaços fluam entre si sem qualquer tipo de colunas. Aparentemente
possuem uma imagem atraente e uma estrutura económica e de rápida construção.
De um modo geral o projecto do Eden foi considerado um projeto (?)
57
Concepção de Grimshaw dos biomas é um exercício de eficiência, tanto de espaço como de
material…a eficiência da estrutura baseia-se nos componentes do formas geométricas: tubos de aço e as
articulações que são leves, relativamente pequenas e facilmente transportáveis. Os painéis de
revestimento são camadas triplas de travesseiros em folha de ETFE ambientalmente eficiente, com uma
área máxima de superfície e perímetro mínimo detalhando.” (tradução nossa)
58
Citação retirada do site oficial do arquitecto Grimshaw. Esta informação pode ser consultada online no
(link: http://grimshaw-architects.com/project/the-eden-project-the-biomes/)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
73
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Grimshaw não trabalhou as estruturas geodésicas exaustivamente como Fuller, no
entanto, isso não o impediu de se valer da malha hexagonal para projectar uma das
mais belas estruturas geodésicas. (Hinte, 2003, p.100). Como é natural Grimshaw
possui a informação e os meios tecnológicos necessarios garantir a estabilidades da
sua estrutura, enquanto para Fuller o mesmo não podia ser facultado. No entanto
mesmo com menos recursos, Buckminster conseguiu entender e demonstrar as fortes
potencialidades das mlahas hexagonais, e isso valeu-lhe também na inspiração que
deixou para os novos artistas, como Grimshaw. O projecto deo Eden reflecte e o seu
interesse pelas estruturas naturais assim como as suas influências nas estruturas
geodésicas de Fuller, no entanto Grimshaw não se limitou a “copiar” as estruturas de
Fuller, e com consciência das capacidades da malha hexagonal foi mais além e criou
uma atmosfera de estruturas geodésicas que para além da dinâmica presenta pela
estrutura curva em hexágonos é reforçadas pela variação em diâmetro e altura.
Como nota conclusiva, todos os exemplos referidos neste sub-capitulo das malhas
aplicadas a nível estrutural, encontram-se de algum modo relacionadas. O principal
elemento que os ligam para além do uso malha hexagonal nas suas estruturas, talvez
seja a influência que tiveram nas obras geodésicas desenvolvidas por Buckminster
Fuller. Apesar dos diferentes usos da malha, que por vezes forma aplicadas em
superficies planas ou curvas, todas as estruturas tiveram pontos em comum. Tanto as
estruturas da empresa HTA como as cúpulas de Fuller ou o projecto do Eden
mostraram ser estruturas fortes e de grande resistência. São estruturas com uma
aparência dinâmica e atraente. Em todas elas a malha hexagonal demonstrou
potencialidades, quer pela facilidade de construção, pela possibilidade de se criarem
estruturas mais leves e construídas com materiais mais baratos. Com as estruturas em
malhas hexagonais criaram-se estruturas de grande dimensão, desde arranha céus
com óptimo comportamento sísmico, a cúpulas com 150m de altura e mesmo assim
resistentes. Deste modo podemos concluir que independentemente das intenções de
cada arquitecto ao recorrer a este tipo de estrutura, em todos os exemplos a malha
hexagonal mostrou-se uma mais valia e um enriquecimento para o projecto.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
74
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 47 - Perspectiva do projecto do Eden
Ilustração 48 - Processo de montagem da estrutura (Metálica, 2004) (Diniz, 2006, p.83)
Ilustração 49 - Processo de montagem da estrutura (Metálica, 2004) (Diniz, 2006, p.83)
Ilustração 50 - Pormenor das cúpulas.
Ilustração 51 - Perspectiva interior
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
75
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
2.3. A MALHA HEXAGONAL ESPACIAL
Segundo o historiador de arquitectura Colin Rowe59 a malha veio a possuir um valor
para a arquitectura contemporânea idêntica ao da coluna para a Antiguidade Clássica
e Renascença. Assim como a coluna, a grelha estabeleceu por todo o edifício uma
razão comum à qual todas as demais partes reportaram; assim como o arco ogival na
catedral gótica, ela ditou um sistema ao qual todas as demais partes se submeteram.
(Rowe, 1976 .p.90.)
Um grande arquitecto neo-clássico que se interessou pelo estudo das malhas foi o
discípulo mais próximo de Boullé, Jean Nicolas Louis Durand60, que tal como o seu
“mestre”, foi professor de arquitectura na célebre “École de Ponts et Chaussées”.
Durand escreveu dois livros, Précis d'Architecture e Recueil et Parallèle des Fabriques
Classiques, que ao contrário dos tratados de Boullée61 ou Ledoux62, não se
destinavam a “homens de poder” (reis, príncipes etc), mas eram manuais dirigidos a
estudantes.
No “Précis d'Architecture” Durand, apresentou primeiramente um instrumento de
trabalho que foi incorporado definitivamente no ensino da arquitectura até aos nossos
dias, as malhas ortogonais63. (Gouvea, 1999, p.20)
59
Colin Rowe nasceu em Yorkshire em 1920 e morreu em Arlington County em 1999. Foi arquitecto e
historiador de arquitectura, crítico, teórico e professor; reconhecido como uma grande influência
intelectual sobre arquitectura e urbanismo mundo na segunda metade do século XX e além,
particularmente nas áreas de planejamento urbano, regeneração e desenho urbano.
60
Jean Nicolas Louis Durand naceu em Paris no ano de 1760 e morreu em Thiais no ano de 1834. Autor,
professor e arquitecto francês, Durand foi uma importante figura no Neoclassicismo, assim como o seu
sistema de desenho em que usava elementos modulares simples, antecipando os modelos modernos
componentes de construção industrializados.
61
Étienne-Louis Boullée (1728 – 1799) foi um arquitecto neoclássico francês, e teve grande influência
nasua geração.
62
Claude-Nicolas Ledoux (1736 - 1806) foi um dos primeiros expoentes da arquitetura neoclássica
francesa. Usou o seu conhecimento de teoria da arquitetura para projetar não só na arquitectura, mas
também para o planeamento da cidade;.
63
Os vestígios de malhas, ou padrões em malha, foram são encontrados nos mais antigos registos da
história humana, na construção das cidades. Desde a altura dos antigos gregos que a construção das
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
76
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Para Durand, apud Gouvea a malha era um instrumento do projecto, e era tão simples
e adequada ao trabalho do arquitecto que chegou mesmo a deixar registado, segundo
um dos seus biógrafos Werner Szambien, “a sua admiração pelo facto deste ainda não
ter sido proposto, em escolas, ainda antes dele.” (1999, p.20)
Ao analisar algumas das obras e escritos de mestres de arquitectura deste século,
vamos notar que muitos deles tiveram influências ou como base estudos feitos pelo
professor Durand. Tendo como exemplo, Mies Van der Rohe64 que ao longo da sua
vida profissional experimentou várias malhas ortogonais, e Frank Lloyd Wright65 que
para além das malhas ortogonais também utilizou malhas triangulares que o levaram a
malhas mais complexas como as hexagonais.66 Wright desenvolveu inúmeros
projectos com bases em malhas, numa primeira fase ortogonais e numa segunda
triangulares e consequentemente hexagonais. A malha triangular foi considerada a
mais densa de todas, mas a hexagonal, derivada da triangular, foi considerada uma
estrutura forte67. Apenas um hexágono é menos estável do que o quadrado, mas a
cidades através de uma configuração em grelha é bastante conhecida.“…linhas que se cruzam
representam um modo elementar de fazer ruas, seguindo o padrão em grelha” (Sennet, 1990, p.46-47). A
malha quadrada foi a que mais se aplicou para o desenvolvimento de planos urbanísticos.
64
Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969), foi um arquitecto alemão. Foi considerado um dos principais
nomes da arquitectura do século XX, e é normalmente colocado ao mesmo nível de arquitectos como Le
Corbusier e Frank Lloyd Wright. O seu primeiro grande trabalho foi o Pavilhão Alemão para a Exposição
Internacional no ano de 1929 em Barcelona. (referências)
65
Frank Lloyd Wright nasceu a 8 de junho de 1867, em Richland Center, Wisconsin. Após a faculdade,
tornou-se assistente-chefe arquiteto Louis Sullivan. Conhecido como um arquitecto organicista, grande
parte das suas obras construídas foram residências, totalizando mais de 300. Durante a sua carreira,
Wright criou numerosos edifícios emblemáticos. Acabou por morrer a 09 de abril de 1959. (referências)
66
Le Corbusier também se serviu das malhas ordenadoras, mas introduziu algumas revisões. A primeira
é que o arquitecto, sempre que puder, deverá contrariar os eixos de simetria bilateral que se impõem,
mecanicamente, no método estrito do professor neoclássico. Esta crítica está registada no seu livro Vers
une Architecture, ao reproduzir a descrição de Choisy para a aproximação da Acropole de Atenas, desde
os propileus até os templos e sua disposição no cume.
67
Já no exemplo anteriormente referido da igreja SantÍvo alla Sapienza (1642-50), Borromini tinha
revelado uma preferência para a aplicação da forma hexagonal a nivel espacial. Ele utilizou um plano em
forma de um hexagrama, isto é, uma estrela de David em que o hexágono foi oculto, e coberto com uma
cúpula. A estrela de David teve obviamente um significado religioso, mas também revelou claramente
uma predilecção espacial de Borromini. (Zalungo, 2012, p.31)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
77
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
malha hexagonal é quase tão rígida quanto a malha triangular e tem ainda a vantagem
de ser menos densa. (Ching, 2008, p.70)
Segundo Wright as malhas hexagonais possibilitavam-lhe uma maior fluidez e
disponibilidade para o crescimento. Com estas, Wright conseguiu alcançar o que tanto
esperançava, abandonar o “formato caixa”, os cantos rectos e desenhar edifícios com
as formas hexagonais mais flexíveis como as abelhas do favo de mel.
Ilustração 52 - Combinações horizontais de colunas, pilastras, muros, portas e janelas (Gouvêa, 1999, p.21)
Ilustração 53 - Planta da casa Caine de Mies Van der Rohe. (Gouvêa, 1999, p.25)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
78
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Frank Lloyd Wright – “Hanna House”
Ilustração 54 - Retrato de Frank Lloyd Wright por volta dos 50 anos de idade.. (Hoffmann, 1986)
“A malha hexagonal adapta-se ao movimento humano bastante melhor do que as
formas geométricas quadradas.” (F.L.Wright apud Zevi, 1995, p.174).
O arquitecto americano Frank Lloyd Wright (1867-1959) durante os 92 anos da sua
fecunda existência, projectou mais de mil projectos, dos quais aproximadamente 400
foram construídos, sendo assim considerado um dos arquitectos mais influentes do
seu tempo. Wright influenciou os rumos da arquitectura moderna com suas ideias e
obras, rompeu com o rígido do século XIX, concebido a partir do formato “caixa” e
demonstrou que as edificações podiam ser mais complexas e fluentes, mais ricas de
possibilidades e muito mais harmoniosas em relação à natureza.
No início da carreira Wrihgt trabalhou com o arquitecto Louis Sullivan68, que teve uma
grande influência na sua forma de ver e projectar arquitectura. Tal como Sullivan,
68
Louis Henry Sullivan (1856-1924) – foi um arquitecto americano e era chamado de “pai do modernismo”
e “pai dos arranha-céus”. Era arquitecto e critico influente na Escola de Chicago e foi mentor de Frank
Lloyd Wright.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
79
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Wright partia do princípio “a forma segue a função”69, este era um dos objectivos
principais que tinha em mente quando projectava os seus edifícios, outro dos seus
conceitos centrais era a individualidade do projecto de acordo com a sua localização e
finalidade. (Pfeiffer, 1991, p.11) Wright procurava a unidade entre o homem e a
natureza nos seus projectos, acreditava na “santidade do lar”, sentia que o lar deveria
ser como um refúgio do mundo, o centro para a família e as suas actividades.
Grande parte das obras construídas de Wright trataram-se de residências, totalizando
mais de 300. Esse conjunto dividiu-se em 3 fases distintas: As “Prairie Houses” (19001914), concentradas na região do subúrbio de Chicago; as “Textile Block Houses”
(1917-1927), no sul da Califórnia; e as “Usonian Houses” (1936-1959), que se
espalharam por todo o território norte-americano, especialmente nos Estados de
Winsconsin, Michigan e Illinois e representaram a última fase da sua arquitectura
residencial.
Entre todas elas uma das mais marcantes na carreira de Wright foram nos anos 30, as
“Usonian Houses”70 ou casas Usonian. O conceito da casa usonian surgiu durante a
“Grande Depressão” e foi moldada pelas dificuldades financeiras e escassez de
materiais que assolaram aquela época, mas os seus princípios de um tamanho
modesto, da economia de materiais e da sensibilidade para o meio ambiente
mantiveram-se até aos dias de hoje. (Wright, 1954, p.167).
69
Este princípio foi associado à arquitectura moderna no século XX, e defende que a forma de um edifício
ou objecto deve basear-se essencialmente na sua função ou finalidade., ou seja, o projectista deve
atender às necessidade gerais da sociedade configurando a forma de acordo especifico com a função do
objecto a ser produzido. Esta frase também ficou conhecida por ter sido mencionada inúmeras vezes pelo
arquitecto Louis Sullivan.
70
Existem muitas explicações possíveis a respeito de como ou onde Frank Lloyd Wright foi “buscar” o
termo “Usonian”. Algumas dessas explicações dizem que os Europeus pretendiam alterar a sigla dos EUA
(Estados Unidos da América) para USONIA, para não confundirem os Estados Unidos da America (EUA)
com a África do Sul (ZA), ou que este poderia ter sido apenas apenas um nome criado por Wright.
Independemntemente disso, a palavra “Usonian” foi utilizado pelo arquitecto norte americano para se
referir à sua visão da paisagem dos Estados Unidos, incluindo o planeamento das cidades e a
arquitectura dos edifícios. Frank Lloyd Wright Wright propôs o uso do adjetivo Usonian em vez do
americano para distinguir o caráter particular das paisagens americanas do Novo Mundo das convenções
de estilos arquitectónicos anteriores. Este termo teve uma importância significativa para a arquitectura
desde então.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
80
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Neste contexto as “usonian houses” ou “casas usonianas” trataram-se resumidamente
de casas pequenas e económicas, que deviam servir de exemplo para uma vida mais
simplificada e agradável e como modelo da residência para a cidade “ideal” de Wright
(Fishman, 1982). Wright acreditava numa arquitectura americana que não derivasse
de um outro tempo ou lugar, assim inspirou-se na paisagem americana e atendeu às
necessidades do estilo de vida americano. Neste contexto, as casas Usonianas foram
firmemente enraizadas nesse princípio democrático.
Contrariamente ao que fez com as prairie houses, em que as casas foram mais
apropriadas a clientes com maiores capacidades monetárias, com as usonian houses
Wright procurou responder às necessidades do cidadão americano e encontrar a
solução “perfeita” para a sociedade Americana. Com estas casas Wright “criou” o
programa de construção de casas melhor sucedido, de longa duração e a preços
acessíveis. (Wright, 1954, p.167).
A base filosófica, arquitectónica e estrutural das casas usonianas foram a simplificação
e tal como já foi referido elas ficaram caracterizadas pelo facto de terem sido
pequenas, económicas e de se terem baseado num projecto modulado para ser
construída rapidamente e economicamente. Com estas o arquitecto pretendia
simplificar a vida dos seus clientes, para que estas se adaptassem ao estilo de vida
americano e fossem acessíveis ao nível de vida médio do cidadão. “There is no reason
why the assembled house, fabricated in the factory should not be made as beautiful as
the modern automobile.”71 (Wright, 1932; p.124)
Wright pretendeu solucionar o problema das “casas de custo moderado” a partir de
múltiplas perspectivas incluindo a concepção modular, métodos de construção únicos,
e com o contacto directo com os proprietários.(Lind, 1994, p.13). Nesta perspectiva, o
arquitecto teve de repensar os métodos de construção e reduzir os custos de trabalho.
Uma das medidas que ele tomou para tal, foi estandardizar métodos de construção
para a casa, eliminar elementos da casa comumente aceites, incluindo sótão, porões72
71
“Não existe nenhum motivo para que a casa montada, pré-fabricada em fábrica não deva ser tão bonita
como um automóvel.” (tradução nossa)
72
O facto de não haver porão nem fundações pesadas, gerou uma maior economia; Wright desenvolveu
um método de fundação chamado por ele de “dry Wall footing”, que consistia em criar uma vala com
cerca de um metro de profundidade, na área onde a casa seria construída, e preencher, de maneira
organizada, com pedriscos. Dessa maneira, drenava-se a humidade e construia-se uma sólida fundação
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
81
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
e garagens, e apesar de ter mantido a sala de estar com uma área considerável
reduziu os restantes espaços. As residências basearam-se numa malha com
aproximadamente 0,60m x 1,20m ou 1,20m x 1,20m, pois proporcionava uma
construção mais económica, antevia pouca ou nenhuma perda de material, uma
regularidade da construção e a possibilidade de ampliações futuras. (Wright, 1954,
p.81) A área da lareira foi definida estrategicamente, para que o núcleo maciço fosse
construído na zona central da casa; esse centro funcionava como um centro de
convergência entre as prumadas da cozinha e das instalações sanitárias, de modo a
simplificar o espaço e o orçamento. Esta atitude de Wright demonstrou, tal como
Buckminster Fuller, a preocupação de proporcionar uma maior qualidade de vida às
pessoas com cada vez menos recursos.
Deste modo, a residência usonian foi um modelo de habitação para a cidade
idealizada por Wight. O arquitecto propôs uma nova realidade de cidade, divulgada
através de uma forma particular de apropriação do território, no qual os limites entre
urbano e rural se fundem, e a tecnologia e o tradicional eram dependentes entre si de
forma peculiar.(apud, Tagliari, 2011, p.113)
Com as casas Usonianas, Wright ambicionava mais, ele pretendia que o edifício
vivesse e respirasse. “Out of the ground and into the light”73 (Wright, 1932, p.18). Cada
construção era feita de acordo com o terreno e com o proprietário a que esta se
destinava, cada uma devia ter a sua própria “personalidade” tal como cada um dos
seus clientes. Isto fez com que todas as casas fossem diferentes e isso era
exactamente o que Wright pretendia; isto também criou uma evolução ao longo do
tempo, tanto a nível formal como conceptual.
A casa Usoniana trouxe um novo sentido de luz, espaço e liberdade. O conceito de
casa usoniana era também o de um espaço em que o plano foi zoneado para segregar
a área mais “vivida” da casa como a sala de estar e jantar, da área mais “silenciosa”
como os quartos. A sala de estar e jantar tratou-se de um plano aberto, do qual as
paredes foram eliminadas permitindo espaços mais fluidos entre si e criando-se assim
a ilusão de expansividade. Prevaleceram os conceitos económicos e sociais, o facto
para suportar a edificação. Esse método económico de conceber as fundações foi utilizado em grande
parte das usonian. (The Natural House,1954).
73
“para fora do chão, em direcção à luz” (tradução nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
82
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
de poucas famílias americanas empregarem servidores e empregadas domésticas
tornou-se cada vez mais informal, o que também teve a sua influência na moldagem
do plano. As cozinhas ou como Wright se referia a estas, “espaços de trabalho”, eram
espaços compactos, e foram integradas com o sector social e espaço de refeições de
forma a agilizar as tarefas da dona de casa. Esta também não foi definida por quatro
paredes, mas pelos elementos que a compõe como a pia, o fogão, frigorifico etc.
Wright achava que isso fazia da casa um edifício do senso comum porque a maioria
das vezes em que as pessoas se encontram em casa, se não estão a dormir, estão a
comer. O arquitecto acreditava que a realidade de uma casa era para ser encontrada
no espaço entre o tecto e as paredes, e não no tecto e nas paredes em si. Mais
significativamente, a área de estar da casa foi sempre o espaço maior e
arquitecturalmente o mais importante e propício para os encontros familiares. Por
outro lado os quartos foram reduzidos a um espaço mínimo funcional. Geralmente a
ala dos quartos era estendida conforme o número de quartos necessários, acabando
por terminar no quarto principal. Em todos os espaços pensados e desenvolvidos por
Wright, em cada detalhe nota-se que umas das suas maiores preocupações era a de
conferir uma melhor qualidade de vida aos seus clientes e à sua respectiva família.
(Tagliari, 2011, p.113)
As casas Usonian representaram um desafio para Wright em diversos sentidos, não só
pelos baixos orçamentos, mas pelos tipos de terreno que variaram desde a costa leste
até o oeste e desde desertos a montanhas. O sitio assim como a localização
geográfica tiveram sempre uma importância fundamental nos seus projectos. As casas
demonstraram a crença do arquitecto de que “ o edifício é um organismo somente se o
interior estiver em concordância com o exterior e ambos com o caracter e natureza do
propósito do arquitecto. Tudo isso foi o senso comum da arquitectura orgânica. (Lind,
1994, p.9).
Deste modo, perante estas condicionantes Wright desenhou diferentes tipo de casas
usonian, que John Sergeant74 categorizou em 5 tipos distintos, as “Polliwog Usonian”,
“Diagonal Usonian”, “In-line Usonian”, “Hexagonal Usonian e as “Raised Usonian”.
Estes diferentes tipos de casas Usonianas assemelham-se no conceito, mas diferem
na sua aparência. Todas elas foram introduzidas dentro de 5 anos, o que não
significava que sempre que um novo tipo fosse introduzido, Wright parasse de usar os
tipos mais antigos. A invenção de diferentes “Casas Usonianas” foi um esforço para
74
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
83
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
criar um edifício que encaixasse no local que Wright estava a projectar para um
determinado momento.
O primeiro tipo a ser intoduzido foi a “Polliwog Usonian” ou “Usoniana Girino” no ano
de 1936 com a Casa Jacobs situada em Madison. Este tipo foi considerado um
surpresa relativamente à habitação tradicional americana. A “Polliwog Usonian” podia
ser expandida por etapas, pois tinha a concepção de um ”girino”. O corpo era
composto pela sala e cozinha, e a ala dos dormitórios era a “cauda”, daí o nome da
casa.
Foi o projecto mais utilizado, uma vez que foi o primeiro a ser implementado, e foi
usado apenas em sítios planos em oposição a alguns projectos desenvolvidos mais
tarde por Wright que lhe permitiram construir em penhascos.
O segundo tipo, apelidadas de “Diagonal Usonian” ou “Usoniana Diagonal” eram
basicamente idênticas ao primeiro tipo, o tipo “Polliwog”, mas com elementos
diagonais adicionados. Os elementos diagonais não foram feitos para incorporar uma
malha diferente da “Usonian Polliwog”, tais como as casas que desenvolveu sobre
malhas hexagonais. As mudanças de geometria foram introduzidas para mostrar
alterações de zoneamentos potenciais na casa, como por exemplo, a diferença entre
áreas públicas e privadas.
O terceiro tipo de Casas Usonianas foram as chamadas “In-line Usonian” ou
“Usoniana em linha”. Este tipo era tipicamente um plano de um bloco único
semelhante à construção Polliwog, mas com espaços de circulação mais reduzidos e
com menor perímetro.
O quarto tipo foram as “Hexagonal Usonian” ou “Usoniana Hexagonal” e uma vez que
estas vão ser o principal objecto de estudo ir-se-ão desenvolver posteriormente.
O último projecto, ou o quinto tipo a ser desenvolvido, foram as “Raised Usonian” ou
“Usoniana Elevada”. Este tipo era amplo representava todo o tipo de casas usonianas
que se encontravam elevadas d chão. Estas casas foram praticamente encontradas
próximas de ravinas ou de água. Temos o exemplo da “Casa Pew”, construída em
1940 em Wisconsin e foi uma das primeiras “Usonianas elevadas”. O local para esta
casa era estreito, e a casa assentava na diagonal, com a finalidade de se diferenciar
da dos vizinhos. Continha dois pisos, com espaços comuns mais usados no piso
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
84
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
inferior e os quartos no piso superior. À medida que se fazia uma aproximação da
casa percebia-se visualmente o quanto esta que enquadrava naquela na ravina.
O quarto tipo de casas usonian tal como foi referido anteriormente foram as
“Hexagonal Usonian” ou “Usoniana Hexagonal”. Tal como o nome indica este tipo de
casas foram desenvolvidas a partir de um plano modular hexagonal. Apesar de Wright
ter usado o octógono em alguns dos seus planos anteriores nas Prairie, não existem
registos da forma hexagonal antes das casas usonian. (Pfeiffer, 1991, p.9)
As Casas Usonian do tipo Hexagonal representaram os primeiros modelos
desenvolvidos a partir de uma malha hexagonal. Este tipo de malha não surgiu com
um intuito tendencioso, mas antes como uma forma de libertação dos planos
ortogonais que o arquitecto tinha desenvolvido até então. Wright usou a mesma
geometria em diferentes projectos porque acreditava que ângulos de 60 graus dos
hexágonos eram “mais adequados para os seres humanos”. (apud Zevi, 1995,
p.174).75. No total se contabilizarmos tambémos projectos que não passaram do papel,
Wright projectou aproximadamente 17 casas usonian hexagonais.
75
A grelha hexagonal adapta-se ao movimento humano bastante melhor do que as formas geométricas
quadradas
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85
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
“HANNA HOUSE”
Ilustração 55 - Vista exterior da casa Hanna ( Califórnia, Estados Unidos), fotografia de Yukio Futagawa. (Pfeiffer, 1990, p.38)
Entre todos os exemplos das Casas “Usonian” Hexagonais houve uma casa em
especial que o arquitecto projectou para um jovem casal que teve um lugar privilegiado
entre todas elas, a que Wright apelidou de “Honeycomb76 House” ou “Casa Favo de
Mel”, apesar de muitas vezes aparecer referida como casa “Hanna”, tal como o apelido
do casal proprietário. Embora esta habitação tenha sido consideravelmente maior,
mais complexa e expansiva do que as típicas casas Usonian, a casa Hanna foi
agrupada como uma casa usonian pois a sua concepção teve o mesmo planeamento
e procedimento de construção desenvolvida para as restantes casas “usonianas”.
(MacCarter, 1999, p.260)77
76
Tradução segundo os dicionários EDITORA de inglês-português (1984: p. 435): favo de mel; colmeia;
alvéolo; qualquer estrutura com o aspecto de favo.
77
Apesar de Wright primeiramente ter usado esta ideia do plano hexagonal de uma forma mais
rudimentar, em 1928 na casa Cudney em San Marcos-in-the-Desert, na qual a unidade é a forma do
diamante e onde as paredes muitas vezes possuem a forma de grandes hexágonos, foi com a casa “Favo
de Mel” que Wright pela primeira vez que desenvolveu um projecto a partir de uma malha hexagonal, daí
o nome da casa. (Pfeiffer, 1990, p.13)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
86
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
A casa Honeycomb foi desenhada em 1936, aproximadamente 1 ano após a casa
Fallingwater78 e obteve um grande prestígio ao ser designada pelo Instituto Americano
de Arquitectos como uma das dezassete obras Americanas desenhadas por Wright
para ser conservada como um exemplo da contribuição arquitectónica para a cultura
Americana; (National Historic Landmark (NHL))79, o que representou um marco notável
na carreira estendia de Wright.
A casa “Honeycomb” ou casa “Hanna”, localiza-se na Califórnia nos Estados Unidos
da América e foi o primeiro projecto do arquitecto americano nesta região. A casa foi
projectada para Paul R. Hanna e a sua esposa Jean, ambos professores especialistas
em educação infantil. O casal sempre partilhou o sonho de viver numa casa projectada
pelo arquitecto Frank Lloyd Wright e em 1935, assim que reuniram as condições ideais
para tal, encontraram-se com o arquitecto para que este pudesse começar a projectar
a sua casa na Califórnia. Mais tarde nesse mesmo ano Wright começou a trabalhar
nos seus planos.
A primeira vez que o casal Hanna visitou o arquitecto, em 1931, Wright partilhou com
eles o que tanto esperançava, um dia abandonar o “formato caixa”, os cantos em
ângulos rectos e desenhar um edifício com as formas hexagonais mais flexíveis como
as abelhas do favo de mel.(apud Pffeifer, 1987, p.12) Em pouco tempo o casal
percebeu que estavam envolvidos num plano novo, inovador e revolucionário. (o que
fez deste plano revolucionário) de alguma forma Wright sentiu que este jovem casal
era o casal ideal, pois tinham a coragem e perseverança para aceitarem algo
extraordinário.
A casa foi iniciada em 1936, e foi o primeiro projecto em que o arquitecto não usou
formas quadradas ou rectangulares, suscitou-lhe maior interesse sondar novos termos
funcionais e expressivos. O arquitecto pretendia uma experimentação radical que lhe
permitisse explorar o ordenamento do espaço aberto, para isso o arquitecto estudou o
hexágono, que lhe possibilitava uma maior fluidez e por conseguinte maior
78
Conhecida também como “Casa da Cascata”, foi projectada pelo arquitecto Frank Lloyd Wright, em
1935, na zona rural do sudoeste da Pensilvânia. Construída em parte sobre uma cascata esta casa
tornou-se um dos projectos mais reconhecidos e marcantes da vida do arquitecto.
79
NHL: um edifício, local, estrutura, objecto ou distrito que é oficialmente reconhecido pelo governo dos
Estados Unidos pelo seu significado histórico. Dos mais de 80.000 locais no Registo Nacional de Lugares
Históricos apenas cerca de 2.430 são NHL.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
87
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
disponibilidade para o crescimento. Mas Wright não foi o primeiro arquitecto a usar a
forma hexagonal, outros arquitectos já o tinham feito antes, porém, o que fez desta
casa realmente inovadora, foi o uso do hexágono como sistema de unidade sobre o
qual toda a obra foi prevista. De acordo com Wright The logic of the plan, 1928): “[…]
In the logic of the plan what we call standardization is seen to be fundamental
groundwork in architecture.”80 (apud, Tagliari, 2011, p.107)
A planta da casa foi construída num plano em “L”, sobre um terreno escolhido pelo
casal, que tal como o arquitecto apreciava, situava-se numa área com bastante área
verde e numa área inclinada. Com as Usonianas hexagonais Wright conseguiu o que
as suas casas usonianas “Polliwog”81, já referidas anteriormente, não permitiam,
projectar uma casa num terreno inclinado. Não foi por acaso que Wright usou este tipo
de plano na casa Hanna, a casa foi acondicionada em torno do cume de um monte
para formar um pequeno pátio centrado numa piscina e num grande carvalho,
semelhante ao que sucedia na casa de férias de Wright “Taliesin” em Wisconsin.
(Storrer, 1978).
O arquitecto americano não assumiu a topografia do terreno como um obstáculo mas
antes como um elemento vantajoso para o projecto, no qual Wright organizou as
células hexagonais de forma a que acompanhassem as variações altimétricas do solo.
Neste contexto pode-se dizer que o plano hexagonal foi uma mais valia, tal como
Frederick Ivor-Campbell escreveu na “American National Biography”, "The Honeycomb
House showed how Wright's system of Polygonal modules could provide the openness
that he associated with freedom of movement while gracefully integrating the house
with its sloping topography.” 82
Deste modo, segundo o que Robert MacCarter escreveu, o plano da casa foi também
uma variação das plantas usonian em “L”, mas com diferenças significativas; com
80
Na lógica do plano o que chamamos de padronização é visto como uma base fundamental na
arquitetura. " (tradução nossa)
81
Foram o 1º tipo de casas Usonianas a serem desenvolvidas por Wright. Maioritariamente rectilineas
estas casas destinavam-se sempre a terrenos planos. (Tagliari, 2011, p.100)
82
“a casa Honeycomb mostrou como o sistema modular hexagonal de Wright poderia proporcionar a
abertura que ele associou à liberdade de movimento ao mesmo tempo integrava graciosamente a casa
com a sua topografia inclinada.” (tradução nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
88
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
maior privacidade da rua, na parte inferior do monte orientado para sul, a sala foi
colocada no canto externo, com uma vista ampla nas quatro direcções. A ala principal
continha os quartos virados a noroeste e a sudeste virados para a sala de jogos,
enquanto a ala menor abrangia a área de estacionamento exterior e estava ancorada
no final pelo quarto de convidados.(1999).
Neste contexto, a casa desenvolveu-se unicamente sobre o piso térreo e tal como era
típico das casas usonian, no projecto da casa Hanna o arquitecto segregou a área
mais “vivida” da casa como a sala de estar e jantar, da área mais “silenciosa” como os
quartos, não incluiu alguns elementos como o sótão, porão e garagem e a sala de
estar manteve uma área considerável enquanto os restantes espaços foram reduzidos.
A sala de estar manteve-se como espaço principal da casa, dedicado à reunião da
família e fazia ligação directa com a sala de jantar. A ambas as salas foram eliminadas
as paredes divisórias permitindo espaços mais fluidos entre si, criando uma ilusão de
expansividade. A cozinha para além de ter deixado de se encontrar limitada por quatro
paredes e passado a ser definida pelos elementos que a compõe (bancada, fogão), foi
colocada em estreita proximidade com a sala de estar e de jantar, o que permitia maior
fluência entre os três espaços. Ainda na área mais vivida da casa, com acesso a partir
da sala de jantar ou da zona dos quartos existia uma ampla sala de jogos, criada a
pensar nos mais jovens.
Ilustração 56 -
Desenho – Perspectiva da casa “Honeycomb” (Califórnia, 1936) – (Pfeiffer, 1987, p.45)
Ilustração 57 -
Esboço da Casa “Hoenycomb”, (plot plan) – a planta orgânica. A massa da chaminé em forma de ângulo,
colocada no ápice da estrutura, condensa dinamicamente no espaço de transmissão da acção. Estruturalmente é o núcleo de encontro
dos planos verticais e horizontais: os primeiros convergindo nas linhas da cobertura, os segundos projectados na paisagem, (Califórnia,
1936) – (Pfeiffer, 1990, p.24)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
89
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
A restante área interior da casa, era dedicada ao espaço “silencioso”, ou zona de
quartos, onde existiam, cinco quartos, um quarto principal e na continuação da ala dos
quartos havia uma espécie extensão ou “braço” da casa, um pouco mais afastado dos
restantes espaços da casa com um pouco mais de privacidade que ia dar ao quarto de
visitas. Quando Wright enviou os esquiços da nova casa Hanna, juntamente enviou
uma carta explicativa do projecto onde escreveu:
“I hope the unusual shape of the rooms won´t disturb you because in reality they would
be more quiet than rectangular ones and you should scarcely be aware of any
irregularity…While the plan is spacious and spreads itself, it is not unduly extravagant, I
think…I hope you will both like it as I do when you become familiar with somewhat
unusual proportions. It is so much more practical – I believe – than the conventional
house that you will find little comparison.” (Frank Lloyd Wright apud Pfeiffer, 1990,
p.12)
83
Ilustração 58 - Perspectiva aérea da casa Honeycomb (1935-1937) – fotografia de Yukio Futagawa
Ilustração 59 -
Planta original: 1- entrada; 2- sala de estar/ jantar; 3- cozinha; 4- sala de jogos; 5- quarto; 6- quarto de estudo; 7-
piscina; 8- área de estacionamento (Zevi, 1995, p.174) (planta da casa antes das alterações) – acrsecentar legenda quarto de
convidados, sala de estudo
83
“ Espero que a forma pouco usual dos quartos não vos perturbe porque na realidade eles serão mais
silenciosos do que os rectangulares e você certamente, não terá que se preocupar com nenhum tipo de
irregularidade…enquanto o plano do projecto é espaçoso, ele aumenta por si mesmo, e não é
exageradamente extravagante, penso eu…espero que ambos gostem tanto como eu quando se tornarem
familiares com estas proporções de alguma forma pouco usuais. É muito mais prático eu acredito, do que
as formas convencionais das casas, com as quais vocês vão encontrar pequenas comparações.”
(tradução nossa).
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
90
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
A relação entre o interior e exterior esteve sempre presente. Toda a casa foi
projectada sobre o piso térreo e circundada por um terraço, e um factor interessante
que se percebe de imediato na análise da planta, é que, à parte das instalações
sanitárias e da cozinha, e do quarto de visitas, todas as restantes divisões da casa
encontram-se em contacto directo com o exterior. Esse contacto quer visual quer físico
com o exterior só é possível devido às paredes que o arquitecto utilizou, que
demonstraram nitidamente a influência da arte Japonesa em Wright.
As paredes foram desenhadas por Wright como uma espécie de rendilhado de
madeira que atravessava o vidro, criando-se assim uma delicada tela. O arquitecto
referiu-se a estas como as “paredes envidraçadas”. Apesar de apenas uma parte
delas se mostrar móvel, elas foram planeadas como painéis movíveis que assentavam
num plano em ziguezague, balançavam para trás e se abriam de forma a que as
paredes dos quartos, sala de estar, sala de estudo e de jogos se tornassem “non-wall”
84
. Deste modo o espaço fluía de forma ininterrupta sobre os terraços de betão que
circundavam a casa, permitindo alterações consideráveis do espaço interior.(apud
Pfeiffer, 1990, p.14). Esta característica da casa permitia um contacto quer visual ou
físico com o exterior, criando-se assim um sentido de maior proximidade com o local e
toda a área verde envolvente.
"The dominant feeling was of wonderful, secluded shelter, with the kind of aura I knew
in the big old houses of my childhood...In view of the fact that no house of my childhood
was ever so casually joined to the outdoors, so profusely fenestrated and skylighted, or
so varied in levels and ceiling heights, I was surprised that I was so emotionally familiar
with the place. To feel so secure without the dark and gloom of restricting walls, yet I felt
free. Not the kind of airiness associated with open, glass walls, which makes me feel as
though I might fall out the windows, but a feeling of having space to move around in and
somewhere to go.” (Wright, apud, Sergeant, 1981, p32-33).
84
85
“não-parede”, termo usado pelo arquitecto para descrever o efeito dos planos amovíveis das janelas,
“que se abriam por completo e criavam a sensação de não existir qualquer parede.”
85
“O sentimento dominante foi maravilhoso, de abrigo isolado, com um tipo de aura que eu conhecia das
grandes e velhas casas da minha infância…com vista no facto de que nenhuma casa da minha infância
nunca foi tão casualmente unida ao ar livre, de modo profusamente fenestrado e naturalmente iluminada,
ou tão variada quer relativamente ao seus níveis e alturas de telhados, fiquei surpreendido por ter ficado
tão emocionalmente familiarizado com este lugar. Sentir-se tão seguro, sem a escuridão e melancolia da
restrição das paredes, no entanto senti-me livre. Não o tipo de leveza associado ao aberto, paredes de
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
91
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
“The view out of the folded glass wall of the living room, with the landscape seen
through both the geometric mullions and the knurled oak limbs, is particularly indicative
of Wright's capacity to compose views outwards that subtly act to return our attention to
the space within.”
86
(MacCarter , 1999, p.262)
Ao trabalhar no projecto da casa Hanna, a primeira experiencia com o hexágono como
forma de circulação humana, Wright acreditava que se tinha libertado do “formato
caixa”, dos ângulos rectos e dos cantos protuberantes. Wright defendia que a malha
hexagonal aptava-se ao movimento humano melhor do que as formas geométricas
quadradas, que nesta os espaços fluíam, e que fluxo e movimento presentes no
projecto eram uma característica que se emprestava admiravelmente à vida, como se
a vida fosse para ser vivida dentro. (apud Pfeiffer, 1991, p.44)
Para a forma de pensar de Wright daquela altura, esta era a forma natural do
progresso do quadrado ou do rectângulo, onde os ângulos se encontravam a 90º, para
o circulo, onde o ângulo era completamente substituído por uma curva contínua. O
circulo obviamente dava uma flexibilidade extrema ao plano, mas os ângulos obtusos,
como se vê na casa Hanna, aproximavam-se. (apud, Pfeiffer, 1990, p.107) Ao
seleccionar o hexágono como sistema de unidade do projecto, permitiu a Wright
explorar um plano espacial mais aberto e livre onde as paredes se encontravam-se
umas com as outras em ângulos obtusos de 120º.
Para além de incorporar malha hexagonal no plano da casa, Wright adicionou as
figuras de seis lados nos azulejos do terraço e até mesmo no mobiliário interior. Esta
preocupação do autor em relação a todos estes pormenores, desde os materiais
aplicados, ao tipo de janelas aplicadas, ao design do mobiliário interior, sempre de
acordo com o tipo de plano sobre o qual o projecto se ergue, criou uma espécie de
“atmosfera”, harmonia e demonstrou o nível de perfecionismo de Wright em já eram
características do autor.
vidro, que me fazem sentir como se eu pudesse cair pelas janelas, mas antes um sentimento de ter
espaço para me mover e de ter para onde ir. (tradução nossa)
86A vista para o exterior da parede de vidro dobrada da sala de estar, com a paisagem vista através de
ambos os montantes geométricas e os membros de carvalho serrilhados, é particularmente indicativo da
capacidade de Wright para compor vistas para o exterior que sutilmente agem para retornar a nossa
atenção para o espaço interior. (tradução nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
92
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Outra das características do arquitecto foi o interesse que sempre demonstrou
relativamente ao entendimento dos materiais e técnicas construtivas para desenvolver
os seus projectos. Bruce B. Pfeiffer observou que, Wright desenvolveu novos
procedimentos no trato dos materiais e nas técnicas construtivas, de acordo com a
região. Enquanto nas casas Prairie o material predominante foi o tijolo, nas Textile
Block foram os blocos de betão e nas casas Usonianas foi a madeira (1991, p.8)87. Na
casa Hanna, tal como nas restantes usonian, o material predominante foi a madeira,
mas tanto o tijolo como o betão também se encontraram presentes. Na verdade, foi na
casa Hanna que o piso em betão foi usado pela primeira vez, e o uso do tijolo foi uma
mais valia, pois em vez de se ter que cortar ou fazer um tijolo especial para atender ao
sistema de unidades hexagonais, estes puderam-se reunir nos cantos em cursos
alternados de tijolos e vazios. Esta ocorrência do tijolo exposto nas extremidades foi
inesperada e não só salvou o que podia ter sido um problema dispendioso, como criou
um delicioso jogo de ângulos e sombras que correram ao longo dos cantos. (Pfeiffer,
1990, p.14). Relativamente aos telhados, estes foram baixos e combinados com as
diferentes alturas do piso produziram grandes variações de alturas no interior da casa.
Sobre a cozinha e o wc, Wright providenciou um telhado duplo, permitindo que a brisa
passasse pela casa de modo a criar um sistema de ventilação que extraísse o ar de
cima da cozinha e do wc através das aberturas dos tectos operáveis.
Ilustração 60 - Pormenor da sala de estar, fotografia de Yukio Futagawa (Pfeiffer, 1990, p.47)
Ilustração 61 - Pormenor das janelas (Pfeiffer, 1990, p.47)
87
No texto The logic of the plan, Wright explica que a leveza da tabua de Madeira requer um
espaçamento diferente do tijolo, assim como o da pedra ou do bloco de betão. Assim, cada material irá
conferir diferentes proporções ao conjunto construído, nunca se esquecendo que todas essas relações de
escala e proporção devem estar relacionadas essencialmente às proporções humanas. (WRIGHT, 1928)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
93
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Anos mais tarde, depois da residencia já se encontrar concluída, apesar do casal se
ter mostrado muito satisfeito com o resultado final da casa, esta foi iniciada quando
Paul e Jean eram ainda um jovem casal e ao longo do tempo surgiu a necessidade
desta ser modificada e ampliada, conforme as necessidades profissionais e pessoais
do casal se foram alterando. Para essas alterações o casal não sentiu a necessidade
de recorrer a Wright, no entanto a sua fisionomia originária manteve-se, a flexibilidade
do plano, adaptou-se na perfeição às alterações e extensões, assim como às
necessidades e condições que surgiram. (Zevi, 1995,p.174). A casa de chá, casa de
hóspedes, cascatas de água, terraços foram adicionados todos em consonância com a
gramática original do projecto.
A flexibilidade do plano ficou mais do que provada quando os filhos do casal
cresceram e saíram de casa, e se realizaram uma série de “conversões”: a sala de
jogos tornou-se numa ampla sala de jantar, a sala de estudo e o quarto principal
passaram a ser a biblioteca, o wc da filha, e o gabinete privado tornou-se no wc
principal, os quarto do filho e da filha passaram a ser o quarto principal, o quarto de
um outro filho passou a quarto de visitas. Até mesmo quando foram feitos acrescentos
como a casa de chá, casa de hóspedes, cascatas de água e terraços, estes foram
adicionados todos em consonância com a geometria original do projecto. (Pfeiffer,
1990, p.13).
Ilustração 62 - Sala de estar, fotografia de Yukio Futagawa. (Pfeiffer, 1990, p.44 )
Ilustração 63 - Lareira da sala de estar (pormenor do acabamento em tijolo), fotografia de Yukio Futagawa. (Pfeiffer, 1990, p.46 )
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
94
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Deste modo, casa Hanna foi sem dúvida uma autêntica obra de arte com uma
classificação única no mundo da arquitectura, e Wright tinha consciência que projectar
esta casa só lhe foi possível com a ajuda do casal Hanna, que ofereceram as suas
vidas a esta experiência, e se assim não fosse, nada disto tinha seguido nesta
direcção.”(F.L.Wright apud Pfeiffer, 1991, p.44). O casal e o arquitecto acabaram por
criar uma relação de amizade e chegaram a convidar por várias vezes Frank Lloyd
Wright e a sua esposa para os visitarem na sua casa, na primeira visita o arquitecto
disse, “why, it´s more beautiful than I had imagined; we have created a symphony
here.” (F.L.Wright apud Pfeiffer, 1990, p.13)88.
Actualmente a casa não pertence mais ao casal, em 1974, depois de viverem na casa
durante 38 anos, este deu a propriedade à Universidade de Stanford, onde o Paul,
marido de Jean deu aulas. Esta era usada abrigava professores e reitores, e
ocasionalmente usada para funções da universidade, como seminários e recepções.
Mais tarde, em 1989 com o terramoto de Loma Prieta a casa necessitou de uma
restauração completa e complicada, devido ao seu design único, acabando por ser
reaberta ao público em 1999.
Resumidamente em relação ao uso da malha hexagonal e contrariamente à velha
tendência de se associar o uso das malhas a um factor limitativo, neste exemplo a
malha revelou um sentido de “abertura”, liberdade e demonstrou uma multiplicidade de
possibilidades no arranjo espacial. Foi por este motivo que Wright foi considerado por
vários críticos como o arquitecto que melhor trabalhou a malha hexagonal. Wright
soube tirar proveito das propriedades que a malha lhe proporcionava, e por isso não a
interpretou como um conjunto de células hexagonais “contidas” em si, mas antes como
um conjunto de possibilidades.
Posteriormente Wright usou a mesma geometria da casa Hanna em diferentes
projectos porque acreditava que ângulos de 60 graus dos hexágonos eram “mais
adequados para os seres humanos”. (F.L.Wright apud Zevi, 1995, p.174)
Em 1939, apenas três anos após a casa Hanna, Wright projectou duas residências, a
casa “Auldbrass” ou Stevens, e a casa “Sidney” ou Bazett. A primeira, não se tratou
propriamente de uma casa singular, mas antes um complexo para uma quinta com
uma casa principal situada a leste de Yemassee em River Road. Tal como a casa
88
“Porque é que ainda é mais bonito do que eu tinha imaginado; criamos sinfonia aqui”. (tradução nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
95
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Hanna, o sistema de unidade foi definido por uma série de hexágonos, que criaram um
plano livre, aberto e flexível. As formas hexagonais e as paredes inclinadas foram
característica desta casa e do complexo89. Este foi um projecto que nunca se deu por
terminado, primeiro por dificuldades monetárias do proprietário, depois porque este
alterou várias vezes o projecto conforme as suas necessidades se foram alterando e
em 1952 houve um incêndio que apesar de não ter afectado a casa principal, destruiu
os edifícios agrícolas.
A segunda residência, “Sidney” situou-se em Hillborough e foi construída num plano
em “L”. Tal como a casa Hanna, teve proporções modestas, e também se baseou na
unidade hexagonal.
A residência Richardson, foi das mais complexas de Wright e situou-se em New
Jersey. Esta casa foi projectada em 1940, sobre um grande lote suburbano, mas só foi
construída uma década mais tarde. Foi mais umas das usonian desenvolvidas com
base em módulos de unidade hexagonal. Este tipo de casa normalmente tinham uma
sala de jantar formal, mas esse exemplo não se aplicou a este caso. Os materiais
aplicados foram os típicos aplicados deste tipo de residências, o tijolo, a madeira e o
vidro.
A casa “Snowflake” ou Carlton, também foi projectada para um jovem casal e foi
construída em 1941, em Michigan, sobre um sistema de unidades hexagonais , muito
parecido ao que tinha sido usado 6 anos antes na casa Hanna. Uma vez que se tratou
de um plano mais complexo foi colocada numa categoria mais cara do que as
restantes casas deste tipo. Tal como o nome da casa “Hanna” ou “honeycomb” estava
associado à estrutura hexagonal dos favos de mel, o nome “Snowflake”, também lhe
foi atribuído devido à forma do floco de neve. Igualmente à casa Honeycomb, a
residência Snowflake também se encontra situada numa colina, e por isso houveram
igualmente uma série de mudanças de níveis, o que mais uma vez ajudou a
demonstrar a adaptação deste tipo de plano às variações da topografia terreno.
Ao contrario de algumas das casas usonian com os telhados direitos esta, tal como a
hanna house possuiu telhados inclinados. Contrariamente à maioria das casas
89
O complexo foi composto pela casa principal com uma cozinha individual, um estábulo e um canil, uma
casa de hóspedes, “farm buildings”, cabines e casas de banho para o “pessoal”, piscina e serviço de
lavandaria
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
96
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
usoniana e da casa hanna, a casa snowflake separou sala de estar e de jantar em
duas áreas individuais. Essa separação foi conseguida através de uma “massa”
central que continha a cozinha, e consistiu em dois hexágonos, um hexágono para a
área de trabalho principal com um tecto alto, e um outro hexágono que funcionava
como uma espécie de lavandaria. Esta mesma massa central também fornecia à sala
uma grande lareira.
Devido ao facto dos triângulos e hexágonos terem sido usados extensivamente em
toda a casa, tanto na alvenaria de tijolo como na carpintaria, o design em geral foi rico
em texturas e em cada pormenor. A forma dos hexágonos como era típico neste tipo
de casa encontra-se presente em vários elementos do mobiliário. Tal como era típico
de Wright, os grandes vãos e entradas de luz, permitiam uma relação com a paisagem
exterior que dava a sensação de trazer “o exterior para o interior”.
Estes foram apenas, alguns exemplos das casas de Wright projectadas sobre a mlaha
hexagonal. Outras casas também foram concebidas, mas nunca chegaram concluídas.
Todas essas casas foram projectadas pelo arquitecto com o intuito encontrar um plano
melhor para uma maneira melhor e menos complicada de viver. Com estas, Wright
procurou uma melhor interpretação de materiais e tecnologia, uma melhor integração
da casa no local, e uma melhor compreensão da amplitude e da graça do espaço
interior. Essa sensação de espaço interior tornou-se fundamental para Wright, que se
tornou muito alma e razão de ser de toda a sua obra.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 64 - Perspectiva fachada ocidental, ,fotografia de Yukio Futagawa (Pfeiffer, 1990, p.31)
Ilustração 65 - Perspectiva exterior vista a partir da casa jardim, fotografia de Yukio Futagawa (Pfeiffer, 1990, p.39)
Ilustração 66 - Área de entrada, fotografia de Yukio Futagawa (Pfeiffer, 1990, p.39)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 67 - Sala de estar, fotografia de Yukio Futagawa (Pfeiffer, 1990, p.48)
Ilustração 68 - Sala de jantar fotografia de Yukio Futagawa (Pfeiffer, 1990, p.48)
Ilustração 69 - Sala de jogos convertida na grande Sala de Jantar, fotografia de Yukio Futagawa (Pfeiffer, 1990, p.50)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 70 - Cozinha, fotografia de Yukio Futagawa (Pfeiffer, 1990, p.52)
Ilustração 71 - Quarto principal convertido na biblioteca, fotografia de Yukio Futagawa (Pfeiffer, 1990, p.54)
Ilustração 72 - Quartos do filho e filha convertido no quarto principal, fotografia de Yukio Futagawa (Pfeiffer, 1990)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
100
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
3. TRÊS CASOS DE ESTUDO EM PORTUGAL
3.1. CALEIDOSCÓPIO: NUNO SAN PAYO
O arquitecto e artista plástico, filho do célebre
fotógrafo San-Payo, nasceu em Lisboa no ano de
1926 e licenciou-se em arquitectura na Escola de
Belas Artes tanto de Lisboa como do Porto.
Ilustração 73 - Nuno San Payo.
“A malha hexagonal dá-nos mais liberdade, mais
variantes,
saídas
e
possibilidades…permite-nos
fantasiar.” (San Payo, entrevista, 27 Março 14:00)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
101
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Contextualização
O Campo Grande é uma freguesia do concelho de Lisboa, onde se localizam áreas
relevantes da cidade como a Cidade Universitária de Lisboa, o maior campus de
ensino do país, e o Jardim do Campo Grande.
O Jardim do Campo Grande, situa-se numa das antigas entradas de Lisboa e é uma
das presenças mais significantes deste concelho. Este jardim, é mais um dos muitos
refúgios mágicos de Lisboa, que muitas vezes deixamos escondidos atrás da “
indiferença que nos apressa o passo”. Referenciado frequentemente como um “Oasis”,
este estende-se por uma das raras planícies de Lisboa.
Durante séculos este foi um campo de manobras militares, e a partir de 1778 foi um
terreiro onde se realizou a grande “Feira do Campo Grande” ou a ”Feira das Nozes”.
Na passagem para o século XIX, por vontade de D.Maria I, foram plantados inúmeros
eucaliptos, plátanos e palmeiras, que acabaram por criar um frondoso parque. Este foi
sendo enriquecido até ao final dos anos de oitocentos através de diversos grandes
melhoramentos, como o grande lago, que se mantém até hoje, onde haviam os barcos
de recreio, que aos domingos atraía multidões de lisboetas; as gentes dos povo, e
além destas, as consideradas “gentes finas” que também se refugiavam com
frequência “na frescura” do Campo Grande, pois nessa altura era sempre chique
cruzarem-se com a família real que também costumava ir “apanhar ar fresco” às
sombras do parque. No Campo grande também se passaram a realizar as chamadas
“batalhas de flores”, festas e quermesses e foi igualmente um espaço dedicado a
vários desportos, como as corridas de cavalos, automóveis e até de provas de
aviação.
Mais tarde, já o jardim do Campo Grande se encontrava muito degradado quando o
violento temporal de 1941 o destruiu quase por completo. Então no ano de 1945, a
Câmara Municipal de Lisboa, decidiu modernizar o traçado do parque e redesenhar a
disposição do jardim. Convidou o arquitecto Francisco Kiel do Amaral90 para a
eleboração do projecto de remodelação e ampliação do espaço, que decorreu entre
1944 e 1948. Este elaborou a respectiva remodelação, com a ampliação do jardim,
90
Francisco Kiel do Amaral (1910-1975) – foi um arquitecto Português, que deixou o seu nome ligado a a
uma vasta obra construída. O seu trabalho foi considerado determinante para a consolidação de uma
plena consciência na arquitectura de Portugal.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
102
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
valorizando os pontos de interesse já existentes e introduzindo novos equipamentos e
funções, dos quais se destacou um restaurante, que iremos referir mais à frente, e
umas piscinas que foram edificadas nos anos 60.
Actualmente o Jardim do Campo Grande, dividido em duas zonas, norte e sul, é
envolvido pelas tradicionais vias de acesso Norte à cidade o que lhe condiciona, de
alguma forma, o uso. Todavia, este jardim alimenta um convite permanente ao
passeio e ao repouso, este pulmão verde que resiste no coração da cidade entre
essas vias que o ladeiam permanece fiel ao desejo de promover o bem-estar,
funcionando quase como um escape que ensurdece o sonoro dos carros e faz
esquecer a confusão da cidade. Entre essa, já característica, frondosa vegetação
inspirada no estilo do Passeio Romântico, ainda se podem encontrar memórias do
passado como diversos bustos e esculturas91. Neste existem também áreas
desportivas – polidesportivo/ ténis, e uma pista para se percorrer a pé ou de bicicleta.
Este jardim está rodeado de importantes equipamentos como, os museus da cidade e
Bordalo Pinheiro, a Biblioteca Nacional, o campus Universitário da Universidade de
Lisboa e o edifício central da Câmara Municipal de Lisboa.
Ilustração 74 - Órtofotomapa de localização. (iluistração nossa)
91
No topo norte: Estátuas de D. Afonso Henriques e D.João I ; No topo sul: monumento ao humorista e
caricaturista Rafael Bordalo Pinheiro cujo Museu que se encontra nas imediações do jardim.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
103
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Especificamente, na zona norte, pode-se encontrar o lago central, onde ainda se
podem fazer os famosos passeios de barco a remos, rodeado por tapetes de relva
onde existem umas escadas e uma “pontezinha” que serve como passagem para uma
pequena
ilha
que
se
ergue
no
meio
do
lago
com
palmeiras
e
uma
esplanada/restaurante. Enquanto isso, no recanto oposto entre as margens do lago e
alinhado com o “corrredor” de palmeiras, esconde-se um centro comercial de
construção mais recente, conhecido como o “Caleidoscópio”. Este centro comercial
inicialmente foi projectado como uma espécie de restaurante que supõe-se ter sido
projectado para tomar o lugar do antigo restaurante projectado pelo arquitecto
Francisco Kiel do Amaral, na sua remodelação do Jardim do Campo Grande.
CALEIDOSCÓPIO
Ilustração 75 - Perspectiva da área de acesso ao edifício Caleidoscópio. (ilustração nossa)
O edifício Caleidoscópio foi construído no início dos anos 70 e é da autoria do
Arquitecto Nuno San Payo. Implanta-se no topo Norte do grande lago a eixo com a
Alameda das Palmeiras, a meio do limite Sudoeste da zona norte do Jardim, junto à
Avenida do Campo Grande e em frente à Faculdade de Ciências da UL. De fácil
acesso automóvel e com um amplo estacionamento do lado da Faculdade, torna este
local uma das potenciais entradas do jardim e lugar de ligação com o Campus
Universitário e com a cidade. (Payo, 1971)92
O actual edifício Caleidoscópio tem vindo a ser objecto de sucessivas transformações,
das quais grande parte não consta na obra do edifício, este facto provoca uma certa
indefinição relativamente à apreciação dos projectos de alterações. Deste modo, com
92
Toda a informação referente à obra em estudo foi com base na documentação cedida pelo arquitecto
Pedro Oliveira. a informação encontra-se referida nas referencias como “documentação não publicada” e
pode ainda ser consultada no Arquivo da Câmara Municipal de Lisboa
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
104
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
base nos documentos e plantas de alterações documentados, para um melhor
entendimento do projecto, vai-se primeiramente fazer referência às grandes
transformações que o edifício sofreu e a respectiva leitura do funcionamento espacial
de cada um deles.9394
1971
O actual projecto “Caleidoscópio”, foi originalmente projectado em 1971. Tal como
muitas das residências de Frank Lloyd Wright e especificamente a casa Hanna,
desenvolveu-se sobre uma planta em “L” e foi planeado a partir de um plano modular
hexagonal, no entanto apesar do programa, o local de implantação e outras
condicionantes terem sido opostas, ambos os arquitectos fizeram uso/abordagem da
malha hexagonal de forma bastante distinta. Mas esse é um assunto que se abordará
mais à frente.
As confrontações do edificio eram e são ainda hoje, a Norte com o parque ajardinado,
a Nascente também com o parque ajardinado, a Sul com o lago e a Poente com a rua
ocidental do Campo Grande.
Ilustração 76 - Simulação do local de implantação do edificio. Planta de 1971 – (apud Pedro Oliveira documentação)
Ilustração 77 - Planta de Cobertura do projecto de 1971. (apud Pedro Oliveira documentação)
93
Para se entenderem melhor estas transformações pode-se ir acompanhando a leitura com as
respectivas plantas e documentos que se encontram anexados.
94
Toda a informação presente sobre o projecto foi com base na documentação cedida pelo arquitecto
Pedro Oliveira. Alguns dos documentos encontram-se disponíveis em anexo nesta dissertação.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
105
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Projectado originalmente como um grande restaurante que funcionava como posto de
recepção para turistas, este foi apelidado de “Restaurantes Alvalade”. A sua
construção foi iniciada no mesmo local, após a demolição do antigo “pavilhão
restaurante” projectado pelo arquitecto Francisco do Amaral95.
O funcionamento desta unidade do início dos anos 70, compreendeu a exploração de
três restaurantes diferenciados no seu serviço e de um estabelecimento de artigos
regionais, bem como todas as dependências complementares. Em resumo o projecto
desenvolveu-se em 3 pisos, Piso Inferior, Piso Intermédio ou de entrada e Piso
Superior.
O Piso Inferior destinava-se especialmente à sala de espectáculos, simultaneamente
restaurante típico. Nele efectuavam-se banquetes, congressos, espectáculos bem
como projecções cinematográficas. Este piso continha instalações sanitárias, cozinha,
um vasto salão destinado à exposição e venda de artigos artesanais e ainda um
pequeno bar independente.
O Piso Intermédio dispunha-se à cota do pavimento da rua de acesso. Era a partir
dele que se fazia o acesso ao restaurante panorâmico do piso superior e ao salão de
espectáculos do piso inferior; tratava-se do ponto de partida para a exploração das
restante áreas. Neste piso localizava-se um grande vestíbulo onde se encontrava o
bengaleiro e uma serie de vitrines expositoras de tabacaria e revistas. Ligado ao
vestíbulo encontrava-se um bar, que funcionava simultaneamente como recinto para
provas de vinho regionais e se podia disfrutar em sossego as vistas sobre o parque
arborizado. Um dos extremos do edifício era destinado aos artistas, e tinha uma
entrada independente, a zona destinada ao pessoal também tinha uma entrada
diferenciada.
O acesso ao Piso Superior era feito através de uma larga escadaria e neste existia
também um restaurante. No topo da sala do restaurante localizava-se uma
arrecadação geral, enquanto no outro extremo encontrava-se um núcleo de
instalações
sanitárias,
que
serviam
simultaneamente
um
outro
restaurante
considerado de luxo. Neste piso também se encontrava uma cozinha, com as
95
Arquitecto que ficou responsável pela eleboração do projecto de remodelação e ampliação do espaço,
que decorreu entre 1944 e 1948.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
106
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
respectivas sub-divisões, e ainda uma zona administrativa da empresa. (apud Pedro
Oliveira documentação)
1974
Apenas três anos mais tarde, em 1974 este edifício sofreu uma profunda alteração
programática e de organização interna. Este projecto, também da autoria do Arquiteto
San Payo, compreendeu a redução a uma, as três salas de refeição e a transformação
dos restantes espaços, numa sala de cinema, áreas comerciais e respetivas áreas de
apoio. Este novo centro comercial foi apelidado de “Caleidoscópio.
Contrariamente à aparência exterior que se manteve intacta, o interior sofreu algumas
alterações.
No Piso Inferior, a antiga sala correspondente ao restaurante dava agora lugar a uma
sala de cinema com um grande pé direito que abrangia o piso intermédio. Os restantes
espaços como a área de exposição do artesanato e a cozinha, com o acrescento e
remoção de algumas paredes, passaram a destinar-se a áreas de comércio, e alguns
armazéns e a um pequeno bar de apoio. Algumas destas unidades foram agrupadas
formando unidades maiores. As únicas áreas que mantiveram a funcionalidade original
foram as instalações sanitárias, e caixa de escadas.
O Piso Intermédio, ficou com uma área bastante mais reduzida devido ao espaço
ocupado pelo cinema. Neste piso existiram dois espaços que se mantiveram, assim
como a sua funcionalidade, as instalações sanitárias e o bar que sofreu apenas um
pequeno acrescento de uma espécie de arrecadação, da qual a área era pertencente
da antiga cozinha. A área do antigo bengaleiro situado junto à entrada deu lugar a uma
loja assim como outros espaços como um cofre privado que se situava próximo com a
cozinha junto da entrada privada para o pessoal, existindo no total apenas 3 lojas.
Outra das transformações, foram os antigos camarins dos artistas que davam agora
lugar a armazéns, que por norma eram usados pelos donos das lojas. Situado ao nível
do solo este continha um entrada para o restaurante do 3º piso, e o hall de entrada
dava acesso à cave e ao resto do 3º piso e uma parte de serviço.
No último piso, o restaurante antigo de luxo manteve-se com a mesma função e foi
sujeito a alterações mínimas, foi acrescentado um bar de apoio e o acesso a este era
agora feito não apenas por um mas sim por dois acessos distinto, o novo acesso era
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
107
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
feito pela área antiga no qual o acesso era privado para o “pessoal”. O antigo escritório
manteve-se, foi ampliado e abrangeu também uma parte da área da antiga cozinha. A
restante área da cozinha foi dividida ao meio, metade manteve-se como uma cozinha
para servir o restaurante e a outra foi transformada num snack-bar. A restante área
que correspondia ao segundo restaurante deste piso e que cobria agora a área do
cinema, foi dividida em alvéolos hexagonais e ocupada por lojas. Os restantes
espaços eram arrecadações. (apud Pedro Oliveira documentação)
1984
As alterações neste ano foram requeridas pela Empresa Turistica do Campo Grande,
concessionária deste edifício camarário. Essas transformações desta vez não foram
tao radicais uma vez que o edificio manteve a sua funcionalidade como centro
comercial.
No Piso Inferior na área de um antigo armazém foram construídas instalações
sanitárias para o pessoal e a disposição das lojas sofreram alterações de organização
espacial. As dimensões destas foram reduzidas, mas em contrapartida passaram a
haver mais. Esta intervenção a nível espacial teve algum impacto relativamente à
abordagem feita pelo arquitecto a este tipo de plano até então, mas isso analisaremos
pormenorizadamente mais à frente. Os restantes espaços não sofreram alterações
significativas.
No Piso Intermédio, foram anuladas as instalações sanitárias do pessoal e ampliada
uma das lojas.
No Piso Superior onde que anteriormente eram o escritório passou a ser uma bar de
apoio ao restaurante, o escritório por sua vez foi reduzido a uma área mínima. A área
do snack-bar foi ampliada e uma arrecadação de topo foi ocupada por uma cozinha de
apoio. Uma das lojas que se situavam sobre área do cinema tratava-se de uma
cafetaria e neste projecto a área da cafetaria foi ampliada com a deslocação das
divisórias amovíveis de forma a ocupar a área de galeria de acesso às lojas agora
inexistentes. Desta forma criou-se assim um espaço mais amplo semelhante ao que
existiu no projecto original em que toda essa ala sobre o cinema era uma única sala.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
108
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
As
restantes
áreas
mantiveram-se
nos
mesmos
espaços
e
as
mesmas
funcionalidades. (apud Pedro Oliveira documentação)
2011
Durante as décadas seguintes, diversas alterações foram feitas ao interior e alguns
acrescentos exteriores ao edifício, foram descaracterizando a sua imagem e a original
correspondência entre sistema estrutural e distribuição espacial, caracterizada pela
geometria de matriz hexagonal. Presentemente tendo como único ocupante a Livraria
Escola Editora enquanto os restantes espaços do edifício permanecem abandonados,
alguns em avançado estado de degradação, este foi sujeito, uma vez mais, a um
projecto de reabilitação.
Em finais de 2010, foi decidido que o mesmo seria alvo de uma profunda intervenção
durante o corrente ano tendo em vista a sua requalificação, a qual previa devolver ao
local parte do esplendor de outrora. Deste modo. “A Universidade de Lisboa,
articulando com a Câmara Municipal de Lisboa o projecto de requalificação do Jardim
do Campo Grande, no âmbito de um protocolo feito com esta e das Comemorações do
Centenário da sua Refundação, pretendia a criação de um Centro Académico no
edifício do Caleidoscópio, transformando-o numa peça fundamental na revitalização do
Jardim - lugar de extensão do Campus Universitário e de encontro entre diferentes
instituições universitárias.”96
Relativamente ao Jardim, a área do projecto incide sobre a Zona Norte, com cerca de
64.833m2. Resumidamente os principais objectivos do projecto de arquitectura
paisagista, basearam-se na revisão de um projecto de execução de 2004 no qual
foram diagnosticadas algumas necessidades
Com base na revisão de um projecto de execução de 2004 no qual foram
diagnosticadas algumas necessidades97, os principais objectivos do projecto de
96
Informação online no site da câmara municipal de Lisboa ou em anexo nesta dissertação.
(http://www.cm-lisboa.pt/?idc=88&idi=57065)
97
“O
jardim, encontra-se há várias décadas, exclusivamente sujeito a operações de manutenção e
conservação. A estrutura vegetal desenvolveu-se consideravelmente e a estrutura arbórea criou amplas
zonas de sombra alterando as condições de crescimento das espécies arbustivas. Torna-se agora óbvia a
necessidade de rever as plantações e sementeiras e respectivo sistema de rega. De igual modo o
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
109
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
arquitectura paisagista resumidamente consistiram no (re)desenho do Jardim;
Restauro e revitalização da estrutura vegetal e lagos; Segurança, Acessibilidades e
Gestão do jardim; Dinamização do Espaço.
Respectivamente ao edifício Caleidoscópio, este volta a ser submetido a uma forte
transformação prpgramática. Este espaço foi cedido pela Câmara Municipal à
Universidade de Lisboa para a instalação de um Centro Académico, e vai ser alvo de
uma remodelação integral do seu interior . O responsável pelo projecto é o arquitecto
português Pedro Oliveira, que no dia da apresentação da requalificação explicou que
“o que se pretende é fazer deste edifício mais uma “porta de entrada” para o Jardim do
Campo Grande em ligação com o campus universitário e um “ponto de encontro” das
diversas instituições universitárias adjacentes.
Ilustração 78 - Arquitecto Pedro Oliveira e a maquete da nova proposta para o edifício Caleidoscópio (http://www.cmlisboa.pt/?idc=88&idi=57065
Ilustração 79 - Apresentação da nova proposta para o edifício Caleidoscópio. http://www.cm-lisboa.pt/?idc=88&idi=57065
Durante as décadas seguintes à transformação de 1974, diversas alterações ao
interior e alguns acrescentos exteriores do Centro Comercial, descaracterizaram a sua
imagem e a original correspondência entre sistema estrutural e distribuição espacial,
caracterizada pela geometria de matriz hexagonal. Actualmente tem como único
ocupante a Livraria Escola Editora estando os restantes espaços do edifício
abandonados, alguns em avançado estado de degradação.
equipamento tornou-se obsoleto e a estrutura de caminhos revela-se pouco funcional e inadequada
relativamente ao conjunto. O espaço encontra-se na sua totalidade particularmente exposto ao tráfego
rodoviário pelo que se torna necessário definir uma maior interioridade de modo a garantir o conforto e a
segurança do jardim. É igualmente urgente encontrar novas soluções para o sistema de drenagem das
águas nos pavimentos, que se apresentam bastante degradados. O jardim revela graves problemas de
segurança e acessibilidade tanto nocturna como diurna.” (Salema, R., 2004 in “Memória Descritiva do
Projecto de Execução do Jardim do Campo Grande”); (http://www.cm-lisboa.pt/?idc=88&idi=57065)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
110
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Deparando-se com esta problemática, o arquitecto Pedro Oliveira propôs manter a
fisionomia exterior inalterada, onde seriam removidos apenas os elementos
acrescentados, recuperando-se desta forma a originalidade do edifício.Exterior
A estratégia de intervenção do arquitecto assentou em dois pontos fundamentais, a
caracterização Câmara e a adequação do edifício aos novos usos - cafetaria, livraria,
restaurante, auditório da área envolvente ao edifício, proposta desenvolvida em
coordenação com a e sala de estudo - promovendo uma maior relação entre aquele e
o jardim.
Dito isto, propôs-se assumir o edifício e sua envolvente próxima como uma das
entradas do Jardim do Campo Grande, devolvendo ao edifício, o carácter icónico que
teve nos finais da década de setenta para a cidade de Lisboa. Neste seguimento a
ideia proposta foi a de ampliação dos passeios em frente à fachada virada para a rua,
a redução do número de lugares de estacionamento, eventualmente só para cargas e
descargas, o redesenho do acesso Norte e a criação de uma esplanada virada a Sul
ao longo da fachada Sudoeste, lugar privilegiado de relação com o lago.
Sobre essa esplanada e o Jardim, foi proposta uma pala luminosa com uma geometria
rigorosa de acordo com o desenho do edifício. Esta pala iria servir para delimitar o
lugar de mediação entre o interior e exterior, de assumida ambiguidade; por um lado
como espaço de vestíbulo - lugar de passagem - e por outro como espaço da
esplanada - lugar de paragem e de contemplação
Ilustração 80 - Ortofotomapa com montegem da implantação do projecto propoto. (apud Pedro Oliveira documentação
Ilustração 81 - Fotografia maquete do projecto do arquitecto Pedro Oliveira. (http://www.cm-lisboa.pt/?idc=88&idi=57065)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
111
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Interior
No espaço interior algumas das princiapais intenções foram, criar uma relação mais
directa com o jardim e limpar todos os elementos acessórios ao desenho inicial da
edificação98, com isto pretende-se uma limpeza do interior e também uma
reorganização espacial que reponha a correspondência inicial entre o sistema
estrutural e o sistema espacial.
Piso -1
O piso -1 organiza-se em duas áreas distintas e autónomas: uma área pública de
acesso a partir do átrio do piso 0 e uma área de serviço, com acesso independente a
partir de uma escada exterior. A primeira configura um percurso entre a escada
existente junto ao acesso principal e a nova escada virada para o jardim através da
sala de exposições e rematado por uma abertura na laje que introduz luz natural neste
espaço. É ao longo deste percurso que se localizam o centro de cópias, as instalações
sanitárias e o acesso à cota baixa do auditório. A segunda área contém; as áreas
técnicas, os arrumos, as escadas e o elevador de serviço do edifício; os vestiários,
balneários e instalações sanitárias de serviço do restaurante e as áreas de apoio,
camarins, balneários e instalações sanitárias do auditório.
Piso 0
Neste piso de forma a aumentar a respectiva permeabilidade, o arquitecto propõe
aumentar o número de acessos tanto do lado da rua como do lado do jardim e a
substituição dos panos de paredes existentes em alvenaria por vãos envidraçados,
sempre que o programa o exigir. (ou permitir)
Neste piso a cafetaria e o auditório estão projectados no mesmo espaço, e
desenvolvem-se ao longo de dois planos inclinados num continuum espacial. Estes
espaços estão desenhados de forma a manter uma relação forte com o exterior, que
liga funcional e espacialmente o piso 0 ao piso -1. Um patamar intermédio entre estes
dois planos liga ainda a uma nova escada, substituição da existente, que atravessa
todo o edifício e garante a ligação ao jardim. Espaço caracterizado pela sua
98
Retirada das fachadas e da cobertura: máquinas de climatização e de ventilação, tubagens, toldos,
anexos, antenas, depósito de água, painéis publicitários entre outros.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
112
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
verticalidade e pela inscrição, numa das suas paredes, da Carta Universal dos Direitos
do Homem.
No ponto de maior cota da rampa da cafetaria um acesso liga esta à esplanada. A
cozinha e espaços de apoio localizam-se junto das instalações sanitárias assegurando
uma entrada de serviço direta ao exterior.
A livraria, a norte do átrio, funciona de forma autónoma do resto do edifício, com
acesso a partir da rua e do jardim e diretamente do interior. Espaço aberto, de grande
transparência, contém ainda uma pequena área de apoio - gabinete, arrumos e
instalação sanitária.
No topo Norte do edifício localizam-se os gabinetes - 5 gabinetes menores (15m2) e 5
gabinetes maiores (30m2) - distribuídos pelo dois pisos e com acesso independente.
Piso 1
Do átrio, através da escada existente, acedemos ao piso 1, da qual duas entradas
independentes ligam à sala de estudo e ao restaurante. O restaurante, com a área um
pouco mais reduzida, é projectado no mesmo local do restaurante existente.
A nascente, olhando, a Sul o lago e a Norte o jardim, desenvolve-se a Grande Sala de
Estudo. Um pequeno átrio, que contém os equipamentos de impressão, articula aquela
com as instalações sanitárias e com as salas de estudo em grupo de menor dimensão.
É ainda a partir destas que é feita a ligação ao núcleo de gabinetes. A nova escada,
no extremo oposto à entrada da sala, liga-a ao jardim e à cafetaria.
O restaurante desenvolve-se ao longo da fachada da rua prolongando-se a sala de
refeições ao exterior através de um terraço a Sul, e tendo a Norte um segundo acesso,
pelas escadas do núcleo de gabinetes. No lado contrário à fachada localizam-se as
instalações sanitárias e os espaços de serviço: cozinhas, copas e respectivos acessos
verticais. (MD, Lisboa. Março 2011)99
99
Informação referente à requalificação do edifício Caleidoscópio disponível online no site da Câmara
Municipal de lisboa ou em anexo nesta dissertação. (http://www.cm-lisboa.pt/?idc=88&idi=57065)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
113
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
PLANO MODULAR HEXAGONAL
Depois da extensa análise destas sucessivas transformações a que o edifício do
centro comercial foi submetido o que se pretende agora é uma análise mais específica
relativa ao plano modular hexagonal e entender quais os motivos que levaram o
arquitecto a usar este tipo de plano como base geradora sobre o qual toda a estrutura
e arranjo espacial do edifício se desenvolveram.
Segundo as palavras do arquitecto Nuno San Payo, ele procurou encontrar um partido
arquitectónico que, para além de uma eficaz articulação de espaços e de um rigoroso
cumprimento ao programa proposto se adaptasse harmoniosamente ao conjunto verde
do parque. Este explicou que a malha surgiu nos primeiros desenhos de uma forma
muito natural, que toda aquela envolvente orgânica do parque, os elementos verdes e
a forma do lago, o encaminharam nesse sentido. Para o arquitecto tudo surgiu de uma
forma instantânea, quase que intuitiva, e depois do desenho concluído percebeu que
este era o tipo de malha que melhor respondia ao que ele pretendia e que se
enquadrava no local de forma bastante harmoniosa. (apud, Pedro Oliveira,
documentação).
“A malha hexagonal presta-se a várias direcções ao contrário das ortogonais. Este tipo
de malha dá-nos uma maior liberdade, mais variantes, mais saídas e possibilidades.
Permitiu-me explorar um maior leque de opções, permitiu-me fantasiar. “ (San Payo,
entrevista, 27 Março 14:00)
100
Ilustração 82 - Vista do Caleidocopio a partir do Lago (ilustração nossa).
100
Entrevista disponível em apêndice nesta dissertação.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
114
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Este não se tratou do primeiro exemplo em que o arquitecto utilizou as formas
hexagonais, já o tinha feito anteriormente numa habitação no Estoril, onde o hexágono
foi usado como remate. (San Payo, entrevista, 27 Março, 14:00)
Como já foi referido anteriormente tal como a casa Hanna de Frank Lloyd Wright,
analisada no capitulo anterior, a planta do Caleidoscópio também se desenvolve numa
planta em “L” regrada em módulos hexagonais. Ambos os projectos usam a malha
hexagonal para criarem uma maior integração na envolvente orgânica. No entanto,
sem esquecer as dissemelhanças das funcionalidades entre ambas, é interessante
analisar como diferentes arquitectos podem partir de uma mesma “ideia” ou “principio”
e estes resultarem em projectos tão distintos.
Fazendo referência à implantação e aspecto construtivo exterior do edifício, que
apesar das transformações do edifício se foi mantendo intacto, na casa Hanna os
módulos hexagonais dispersam de forma orgânica quase como se fossem apoderando
do terreno enquanto que no exemplo do Caleidoscópio estes foram trabalhados de
uma forma mais contida, onde a planta em “L” parece ter dominado e determinado os
limites da trama hexagonal, o que acabou por lhe conferir um aspecto mais rígido e
menos liberto.(Pedro Oliveira, entrevista, 15 Maio, 11:00)101 O facto de se tratar de um
edifício que se desenvolve em mais do que um piso e do número escasso de
aberturas para o exterior dá-lhe uma aparência mais “pesada” e “maciça”, essa ideia é
ainda mais reforçada com a adição de um espécie de “bainha” que remata o topo da
construção e que contorna todo o edifício. Contudo, as paredes em “zigzag” conferemlhe alguma dinâmica relacionando-o com o aspecto orgânico do parque.
Ilustração 83 - Perspectiva da fachada virada para a rua (ilustração nossa)
Ilustração 84 - Pormenor (ilustração
101
Entrevista disponível em apêndice. (Pedro Oliveira, entrevista, 15 Maio, 11h)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
115
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Com o novo projecto proposto pelo arquitecto Pedro Oliveira, este demonstrou uma
maior preocupação nesse sentido e propôs a substituição dos panos das paredes
existentes em alvenaria por vãos envidraçados e a criação de uma esplanada virada a
sul com vista para o lago. Com isto, a sua intenção seria fortalecer a relação entre o
interior e o exterior, criando também uma maior dinâmica entre ambos e enriquecendo
as vivências dos diferentes espaços.(MD Pedro Oliveira102
Relativamente ao tratamento interior o arquitecto San Payo, manteve-se fiel ao
tratamento modular hexagonal. Ao longo dos anos, ocorreram várias transformações
no interior do edificio, e em todas elas o arquitecto mantem uma abordagem muito
semelhante, em que as diferentes áreas são definidas pelos módulos hexagonais.
Como no exemplo, das instalações sanitárias, algumas lojas e armazéns são definidas
por um hexágono, por vezes algumas lojas, ou espaços como os restaurantes
correspondem a um conjunto entre 2 a 8 hexágonos. O efeito do hexágono, tal como
na casa Hanna foi sublinhado e reforçado pelo desenho dos pavimentos e pela
orientação das paredes divisórias.
Tanto exterior como interiormente, os autores do projecto tiveram que conciliar
projectos financeiros de empreendimento com o partido arquitectónico e a escolha
estrutural também surgiu como resultado dessa preocupação. Os pisos constituídos
por favos hexagonais, permitiram a colocação de pilares nos vértices dos hexágonos,
e as vigas ao longo dos lados dos mesmos. O jogo de vigas aparentes em tal estrutura
foi só por si um efeito decorativo, em virtude de não abundar em construções
similares.
“Tendo em atenção o projecto de arquitectura desta zona, verifica-se que os vários
pisos são constituídos por favos hexagonais, permitindo a colocação de pilares nos
vértices dos hexágonos, e das vigas ao longo dos lados mesmos. Assim a estrutura
resistente deste corpo é constituída por lajes hexagonais que apoiam em todo o seu
contorno em vigas. Estas vigas apoiam nos pilares que se encontram localizados nos
vértices dos hexágonos” (Payo, 1971)
O autor do projecto julga ter criado uma edificação que pela sua “transparência” e
movimento irregular das paredes, se integra com harmonia no enquadramento de
102
Informação retirada da memória descritiva do arquitecto Pedro Oliveira, disponibilizada no site da
câmara e presente em anexo nesta dissertação.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
116
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
verdura do parque, e onde a presença do lago enriquece todo o conjunto criado.
(apud, Pedro Oliveira, documentação MD)
Com o passar dos anos os edifício foi sendo descaracterizado com a adição de
acrescentos, mas com o novo projecto proposto para o espaço Caleidoscópio, o
arquitecto Pedro Oliveira, que nunca tinha experienciado trabalhar com uma malha
modular de qualquer espécie, demonstrou uma preocupação em manter a
originalidade do projecto e no processo de reabilitação do edifício o ponto de partida
foi limpar todos esses acrescentos que foram descaracterizando o edifício. O
tratamento e organização interiores do projecto são muito idênticos ao que San Payo
desenvolveu. “Durante todo o processo de alteração do projecto, depois de terem sido
retirados os elementos acrescentados, foi interessante analisar as primeiras plantas,
em que se percebe que os desenhos estavam muito dentro da lógica do hexágono e
do triângulo.” (Pedro Oliveira, entrevista, 15 Maio, 11:00)
Entre todas as fases de transformação do edifício, o tipo de abordagem do plano
modular foi bastante distinto do que foi usado por Wright, que por sua vez se libertou
mais da trama hexagonal. Wright usou a malha hexagonal apenas como uma espécie
de referência, onde tirou proveito de ângulos e direcções, não se cingindo nem a
interpretando como um conjunto de módulos, mas antes como um meio de criar várias
possibilidades.
Resumidamente o aspecto interior, tal como o exterior, mostrou-se mais livre e
dinâmico, onde os espaços se sucedem com fluidez. Este aspecto também se pode
dever à escala da malha utilizada em ambos os exemplos, uma vez que no
Caleidoscópio os módulos são significativamente maiores do que na casa Hanna. Se
observarmos as plantas de ambos podemos notar que, enquanto no exemplo do
centro comercial, cada módulo hexagonal limita áreas como lojas e armazéns, no
exemplo da casa Hanna o mesmo não acontece, comparativamente à escala dos
hexágonos, cada área é formada por um conjunto de favos mais pequenos e
repetitivos. A escala reduzida, permite uma maior variedade de possibilidades,
transformações, direções entre outros.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
117
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
FUNCIONALIDADE
E FLEXIBILIDADE
Inicialmente projectado como um restaurante, presentemente como um centro
comercial, e futuramente como um centro académico, este edifício tem vindo a sofrer
várias transformações ao longo do tempo. Neste momento, pretende-se demonstrar
até que ponto este tipo de plano permitiu ou teve influência numa melhor
funcionalidade do projecto. Tendo vindo a sofrer diversas transformações e já
futuramente novamente sujeito um novo processo de reabilitação, para melhor se
entenderem estas alterações vai-se fazer uma análise segundo as diferentes alturas e
respectivas transformações.
No projecto original, em 1971, no tratamento espacial, como foi referido, o arquitecto
reforçou a malha ao desenhar os espaços dentro de módulos hexagonais, poucos
foram os espaços em que o arquitecto não adoptou este tratamento na organização
espacial. As instalações sanitárias foram delimitadas por um hexágono, bem como
áreas de entrada e caixas de escadas, os espaços maiores como por exemplo os
restaurantes foram delimitados por conjuntos de alvéolos hexagonais. A circulação no
interior, e a relação entre as diversas áreas era ampla e a ligação entre as diversas
áreas fluida. A malha hexagonal “dá-nos maior liberdade, mais variantes, mais saídas
e possibilidades”. (San Payo, entrevista, 27 Março)
Ilustração 85 - Planta esquemática da organização em módulos.(ilustração nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
118
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Com a alteração programática e de organização interna em 1974, o arranjo espacial
manteve-se muito idêntico ao anterior. Tanto as lojas como os armazéns
correspondiam à organização espacial de um ou dois hexágonos enquanto a maioria
dos restantes espaços se manteve com a mesma configuração.
Em 1984, e apesar das alterações nas décadas seguintes é o projecto mais idêntico
ao que existe presentemente. No piso -1, nota-se uma pequena alteração do arranjo
espacial, desta vez os hexágonos não funcionam como unidades inteiras, mas são
antes divididos em algumas partes pelas suas diagonais, deste modo, a percepção
dos espaços hexagonais não se mantem tão clara como nos exemplos anteriores.
Este exemplo demonstra talvez uma tentativa de uma abordagem diferente ao plano
modular, ou então pode mesmo ter surgido por uma necessidade de cumprimento
programático.
Independentemente
dos
motivos
nota-se
uma
diferença
comparativamente aos projectos antecedentes. Já nos restantes pisos a mesma
alteração não se nota.
No entanto, apesar de todas as transformações, os espaços mantêm-se amplos e
fluidos entre si. Segundo a descrição do arquitecto Pedro Oliveira, na sua primeira
visita ao edifício, em 2011, “o uso do hexágono cria e transmite-nos
sensações,
funciona quase como se desmontasse a geometria, não se consegue perceber de
imediato como funciona, as direcções que toma nem onde acaba. Mesmo no seu
interior essa percepção não se torna evidente. Somente em planta consegui perceber
como funcionava.”. (entrevista, 15 Maio, 11:00)
Durante as décadas seguintes, diversas alterações ao seu interior e alguns
acrescentos exteriores foram descaracterizando a sua imagem e a original
correspondência entre sistema estrutural e distribuição espacial, caracterizada pela
geometria de matriz hexagonal. Nesse contexto quando o arquitecto Pedro Oliveira
ficou encarregue da reabilitação do projecto, um dos seus principais objectivos foi
limpar todos os elementos acrescentados, mantendo a fisionomia exterior inalterada e
recuperando desta forma a originalidade do edifício. (entrevista, 15 Maio, 11:00)
“apesar de nunca ter trabalhado com este tipo de plano em malha hexagonal e de se
tratar de uma “coisa” que tendencialmente não faria, trata-se de um projecto
interessante, e acredito que o facto de se tratarem de hexágonos como unidades de
repetição tornam o plano mais flexível, provoca outro impacto deixando de haver linhas
direitas, passando a haver linhas quebradas. Tratando-se de uma matriz tão regular de
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
119
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
módulos hexagonais, criam-se também algumas capacidades de surpresa nos
espaços”. .(entrevista, 15 Maio, 11:00)
Consciente disso, o arquitecto Pedro Oliveira propôs tornar a estrutura o mais visível
possível, tanto nas lajes como nos próprios espaços existentes e a partir daí organizar
o programa.
No projecto de reabilitação o arquiteto interpreta a malha como uma espécie de regra
um pouco limitativa, no entanto acredita que esta faculta uma espécie de conjunto de
regras ou um conjunto de formas de agir que podem dar uma série de espaços
interessantes.
Para o arquitecto, a tarefa mais difícil foi criar espaços de circulação sem “desperdício
de espaço”, uma vez que ao definirem-se as novas áreas criaram-se cantos difíceis de
resolver. Por outro lado assumiu que esta tendência podia ser vista como um ponto
bastante favorável pois obrigava os espaços a manterem-se mais amplos, abertos,
tornando-se mais ricos. Na opinião do arquitecto se a malha fosse outra que não a
hexagonal, o espaço podia-se aproveitar de outra forma, mas provavelmente não se
obtinha a mesma qualidade.”O plano hexagonal funciona bem quando se trabalha com
uma determinada dimensão, principalmente na questão palaciana, em que não
existem corredores e os espaços sucedem-se”, daí talvez ter resultado tão bem com
as residências de Wright em que os espaços se sucedem ininterruptos. (entrevista, 15
Maio, 11:00)
Com o novo projecto, o arquitecto perspectiva também fortalecer a relação e dinâmica
entre o futuro centro académico e o jardim. Para isso, pretende abrir o piso térreo para
o exterior de modo a criar uma maior relação visual com o jardim, uma vez que a partir
deste não se estabelece nenhum tipo de contacto visual para o exterior. Ao mesmo
tempo propõe uma pala para fazer uma espécie de prolongamento do interior de forma
a que o edifício se prolongue de alguma maneira e não fique tão contido. Grande parte
do r/ch vai passar a ter as fachadas em vidro para por um lado haver uma maior
relação do interior com o exterior e por outro lado do exterior se perceber o que se
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
120
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
passa no interior e haver assim umas transparências neste sentido. (MD Pedro
Oliveira).103
De uma forma geral e resumida, a flexibilidade do plano ficou comprovada com todas
as transformações a que o edifício foi sujeito com o passar dos anos, em que algumas
das divisões deram lugar a novos espaços sem nenhuma alteração espacial
considerável.
Na opinião do arquitecto Pedro Oliveira, o “uso” da malha hexagonal no edifício do
Centro de Reabilitação Calouste Gulbenkian que também se desenvolveu sobre um
plano modular hexagonal, comparativamente ao Caleidoscópio, tratou-se de um
exemplo mais livre e orgânico remetendo mais os exemplos desenvolvidos por
F.L.Wright. (entrevista, 15 Maio, 11:00)
103
Informação retirada da memória descritiva do arquitecto Pedro Oliveira, disponibilizada no site da
câmara e em anexo nesta dissertação.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
121
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 86 - Vista da entrada principal. (ilustração nossa)
Ilustração 87 - Vista do Caleidoscópio a partir do lago (sul). (ilustração nossa)
Ilustração 88 - Vista a partir do corredor de palmeiras. Aspecto da fachada virada a norte, antes do incêndio. (ilustração nossa)
Vista da fachada virada a norte. Aspecto anterior ao incêndio (ilustração nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
122
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
3.2. CENTRO DE REABILITAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN: PALMA DE
MELO
O arquitecto português Cândido Palma Teixeira de Melo
(1922-2003), formou-se na Faculdade de Arquitectura da
Universidade Técnica de Lisboa, e foi membro Honorário
da Associação dos Arquitetos Portugueses em 1994.
Com o sucesso do sue projecto do Centro de
Reabilitação Profissional da Associação Portuguesa de
Paralisia Cerebral em Lisboa, o arquitecto foi convidado a
projectar outras casas de reabilitação de paralisia cerebral,
como a de Coimbra no ano de 1990. Projectou também
várias obras como o conjunto habitacional de quatro
blocos nos Olivais Norte em Lisboa projecto conjunto
com Artur Pires Martins, Projecto de construção da sede
da "Associação Casapiana de Solidariedade" em Lisboa,
Estádio do Bonfim (1962), Estádio Pina Manique com o
arq. João Simões, entre outros.
“...o elemento hexagonal sextavado, além de permitir
uma grande liberdade na ordenação dos espaços
assegura
facilmente
a
possibilidade
de
quaisquer
alterações ou ampliações futuras”. (Palma de Melo, apud
Costa, 1970, p.148)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
123
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Contextualização
O centro
Esta associação foi criada há pouco mais de dez anos por um grupo de pais e técnicos
com a principal finalidade de promover e desenvolver a reabilitação e integração social
da criança com paralisia cerebral. Foi no seu género a primeira criada no País, tendo
os seus estatutos sido aprovados a 26 de Julho de 1960 pelo Ministro da Saúde e
Assistência, ao mesmo tempo que era considerada uma instituição de utilidade pública
e administrativa.
Inicialmente as suas actividades numa velha casa, cedida por empréstimo. Pouco
tempos mais tarde, em Janeiro de 1962 esta associação recebeu o seu primeiro
grande impulso, quando a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, cedeu um andar
situado na Avenida Casal Ribeiro, e um subsídio de manutenção no valor de cem
contos. Contudo, o centro revelou e confirmou a necessidade da construção de novas
instalações que substituíssem as existentes e que servissem de exemplo para as que
fossem construídas posteriormente nas principais cidades do País. Deste modo, a
Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral (A.P.P.C) desenvolveu nesse sentido
todos os esforços, de modo a concretizar este empreendimento. Para tal, procurou
apoio da Misericórdia, Câmara Municipal de Lisboa, Ministérios da Saúde e das Obras
Públicas e da Fundação Calouste Gulbenkian.
Em Julho de 1965, assinalando o décimo aniversário do falecimento de Calouste
Gulbenkian, esta Fundação atribuiu um subsídio para a construção de um Centro de
Paralisia Cerebral com capacidade para assistir a um maior número de crianças e as
exigências técnicas necessárias ao seu funcionamento. Para além da construção, a
Fundação Calouste Gulbenkian contribuiu para o desenvolvimento técnico do centro,
promovendo a especialização no estrangeiro de vários membros da equipa técnica,
proporcionando cursos no País ministrados por técnicos estrangeiros, concedendo
apetrechamento técnico e possibilitando a instalação provisoria do Centro, na Av.
Columbano Bordalo Pinheiro, onde esteve a funcionar por 5 anos.
Em 1968 depois a Câmara Municipal de Lisboa facultou a aquisição de um terreno
com a área de 10 800 m2, na Av. D. Amélia para a construção do Centro de
Reabilitação. Depois de reunidas as condições, através conjugação de todos os
auxílios das entidades referidas e da actuação da Associação e do seu corpo técnico,
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
124
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
resultou na elaboração dos estudos e a construção do edifício que apresentamos
neste caso de estudo.
Ilustração 89 - Ortofotomapa de localização. (ilustração nossa)
Situado na zona do Lumiar, este centro tem por finalidade a reabilitação e educação
da criança com Paralisia Cerebral, desenvolvendo ao máximo as suas capacidades e
permitindo-lhe a sua integração social de modo a torná-la uma criança mais feliz e
igual às outras, e no futuro um indivíduo útil e produtivo na sociedade.
O programa base da orgânica do Centro previa quatro sectores diferenciados,
correspondentes ao esquema funcionaI das instalações: I – Consulta externa; II –
Tratamentos; III – Ensino Escolar; IV – Serviços gerais. Estes grupos de serviços
admitiam a seguinte programação - cujos máximos se fixaram em relação a um
número de crianças considerado razoável. 70 crianças – em relação aos múltiplos
factores que condicionam esse limite: (APPC, 1970, p.15)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
125
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
I – Consulta Externa e Anexos: entrada coberta; vestíbulo de espera; 3 gabinetes de
consulta; 1 sala de ensino às mães; 1 sala de psicologia - teste; serviço de secretaria;
1 sala de reuniões (biblioteca);
II – Tratamento: vestíbulo de dispersão; 2 salas de terapêutica ocupacional; ginásio;
piscina; 1 sala – fisioterapia; 1 sala -. Terapêutica da fala (4 posições)
III – Ensino Escolar: 8 salas de aula, incluindo 2 aulas destinadas a Jardim «Jardim
Infantil», em franco contacto com o exterior; recreios, interior e exterior.
IV – Serviços Gerais: refeitórios, com recanto para o pessoal técnico; cozinha;
lavandaria; garagem;104
Face a este programa, foi estabelecido um esquema-base, desenvolvido pelo autor do
projecto, o arquitecto Palma de Melo. Mantendo um estreito contacto com os técnicos
das várias especialidades, o arquitecto pretendia conseguir interpretar o espírito
funcional que os técnicos desejavam ver satisfeitas nos seus serviços, para assim, de
acordo com a previsão-base de todo o complexo se pudessem procurar as soluções
que melhor respondessem às necessidades.
Contudo, desde o início, a intenção dominante do arquitecto foi a de tentar ultrapassar
o chamado “meio-ambiente-hospitalar”, procurando antes, criar um ambiente aberto e
estimulante de relações humanas, onde as crianças pudessem sentir que não se vão
tratar, mas antes reabilitar. Ao mesmo tempo evitou uma hierarquização espacial
rígida dos vários sectores. (apud Costa, 1970, p.148).
Ilustração 90 - Planta de enquadramento. (APPC, 1970, p.15)
104
Como elemento complementar foi, durante os estudo, introduzido no programa uma capela para
assistência religiosa às crianças, cujas famílias tal desejassem.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
126
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Segundo o arquitecto Palma de Melo “estas intenções foram plenamente
concretizadas neste edifício, em muitos pormenores de solução simples e correcta, no
arranjo e equipamento sóbrio e eficazes e, principalmente, no carácter despretensioso
e acolhedor que todo o edifício manifesta” (apud Costa, 1970, p.148). Estes objectivos
só foram concretizados com o complemento do arranjo dos espaços exteriores
envolventes, que tiveram e têm ainda hoje neste Centro de Reabilitação uma grande
importância.
Arranjo Paisagístico
Trata-se não só de um enquadramento para o edifício, mas também uma forma de
criar um conjunto elementos que funcione como um “todo”, e que se integre nos
objectivos do Centro; os jardins para além de constituírem um elemento valioso de
exercício e recreio, deverão também no campo da educação uma fonte de beleza e
um elo de contacto indispensável com a Natureza. Um dos objectivos principais
consistiu, no isolamento das áreas descobertas do centro relativamente à rua
contígua, aos blocos habitacionais fronteiros e ao Sanatório D. Carlos I. O relevo do
terreno está gradualmente mais elevado em relação à Avenida R. D. Amélia.
No lado Norte uma fila contínua de arbustos protegem os conjunto, dos ventos
dominantes daquela área. Cada espaço escolar tem espaço relvado correspondente,
para recreio e também protegido por um muro. Contiguo a estes espaços e na parte
mais elevada do terreno, plantou-se uma pequena mata que permite a criação de um
ambiente diferenciado. Na orla da área central de recreio e continuando a estrutura
hexagonal do edifício, localizam-se pequenos espaços de estar, e “hortas” de
“ocupação terapêutica” para os alunos. (APPC, 1970, p.16)
A vegetação apresenta-se de forma livre e natural, como se tivesse nascido
espontaneamente, a não espinhosa, entra em contacto com os percursos feitos pelos
alunos, todavia, como forma de defesa foram construídos arbustos maciços e
compactos a meio dos taludes, de modo a impossibilitarem o atravessamento. Nos
jardins não existem degraus e as áreas de estadia são ensolaradas, o que contrasta
com as zonas em sombra. De forma a reforçar o contacto com natureza pretendido,
foi considerada a construção de um aviário, que contrariamente a uma simples gaiola,
foi construído com rochas e vegetação. ” (Costa, 1970, p.148).
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
127
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Relativamente ao esquema arquitectónico adoptado, na sequência do tema em
desenvolvimento e de acordo com os restantes casos de estudo, o caso em questão,
referente a outro projecto em Portugal, desenvolve-se sobre um plano modular
hexagonal.
Ilustração 91 - Planta Geral do Centro de Reabilitação: 1 - Entrada Coberta; 2 - Vestíbulo; 3 - Vestíbulo de Dispersão; 4 – Consulta; 5 –
Ensino Mães; 6 – Psicologia, Testes; 7 – Terapêutica Ocupacional; 8 – Ginásio; 9 – Piscina; 10 – Fisioterapia; 11 – Terapêutica da Fala;
12 – Aulas; 13 – Recreio Exterior; 14 – Recreio Exterior; 15 – Serviços Administrativos; 16 – Sala de Reuniões; 17 – Refeitório Pessoal;
18 – Refeitório; 19 – Aviário; 20 – Cozinha; 21 – Refeitório do Pessoal; 22 – Vestiário do Pessoal; 23 – Lavandaria; 24 – Central de
Aquecimento; 25 – Garagem; 26 – Capela; 27 – Sanitários; 28 – Saída Privada (APPC, 1970, p.13)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
128
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
PLANO MODULAR HEXAGONAL
O esquema arquitectónico adoptado baseia-se em elementos poligonais sextavados.
Este esquema não foi usado pelo arquitecto ao acaso, foi fruto de uma vasta pesquisa
e estreito contacto com os especialistas na expectativa de encontrar o plano que
melhor respondesse às necessidades funcionais de cada serviço e melhorasse a
vivência das crianças e profissionais em geral.
Deste modo, desde o início um dos principais objectivos do arquitecto foi tentar
ultrapassar o “meio ambiente hospitalar”, procurando antes proporcionar um ambiente
aberto
e
estimulante
de
relações
humanas,
nomeadamente
evitando
uma
hierarquização espacial e rígida dos vários sectores.
“Embora um Centro seja um misto de tratamento e educação, onde a par de uma
equipa de médicos especialistas se move uma outra de funções pedagógicas, e
embora também o factor fisioterápico possa de certo modo adquirir proporções
dominantes, tentamos neste projecto, através de uma organização espacial
homogeneizada , dominar o factor ambiente, de modo a (sem necessidade de recorrer
a processos de trucagem), conseguir-se para a criança não um local onde se trata mas
um local onde se recupera. Para isso tentamos detectar, para além do programa de
necessidades posto pelos técnicos, quais os condicionamentos subjectivos que
corresponderiam, em complemento, aos esquemas funcionais que a experiência, e não
a rotina, aconselham”. (Palma de Melo apud Costa, 1970, p.148)
Sendo assim todo o projecto foi definido a partir dessa base hexagonal. Desde o
exterior ao interior forma poligonal encontra-se sempre presente. As paredes
exteriores foram delimitada por hexágonos, bem como as que definiram os espaços
interiores. O arquitecto acreditava que a malha hexagonal representava uma base
ordenadora não só em relação à definição dos elementos resistentes e estruturais,
como também em relação aos elementos separativos que definem e compartimentam
o espaço definido por esses elementos. Isto é, para um programa diversificado, uma
solução uniforme. (Palma de Melo apud Costa, 1970, p.148).
As experiências, ou melhor, as soluções propostas, embora já testadas e aceites,
foram, no entanto, em determinado período da obra, motivo de grande tensão e
dúvida, o que originou novas controvérsias entre o arquitecto e os técnicos, ao ponto
de em determinado momento assaltar a dúvida se o caminho que estavam a seguir
era válido, na medida em que se afastava das soluções conhecidas e usuais. No
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
129
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
entanto, à medida que a obra se foi definindo e consequentemente os ambientes e os
espaços, essa dúvida desapareceu e deu-se a inversão de posições, isto é, o
esquema proposto acabou por definir e a caracterizar aquilo a que se viria a chamar o
Centro, ou seja, a sua personalidade. (Costa, 1970, p.148).
Toda a dinâmica e organicidade inerente ao plano foi projectada harmoniosamente
relacionando-se com o arranjo orgânico do jardim, onde através dos desenhos da
planta se pode ver que os favos hexagonais se espalham pelo terreno de forma
natural. Com isto, a intenção foi fazer com que ambos funcionem como um “todo”, criar
uma relação harmoniosa entre área natural e construída e fazer deste conjunto, um
complemento essencial para concretização dos objectivos do Centro de Reabilitação.
Numa curta análise comparativa, este tratamento espacial apesar de não ser tão
orgânico e livre como o exemplo da casa Hanna do arquitecto F.L.Wright, é menos
contido do que o edifício Caleidoscópio, estudado anteriormente, que se cinge e retém
numa planta em “L”. Neste exemplo os elementos hexagonais espalham-se pelo
jardim como se não houvessem regras nem limites.
Outra grande diferença entre estes foi relativamente ao remate no topo das paredes
junto à cobertura si. Enquanto que no exemplo do Caleidoscópio o arquitecto mantém
a mesma altura por todo o edifício e remata o topo das paredes exteriores com uma
espécie de bainha, o que lhe confere um ar “pesado” e mais grosseiro, no Centro de
Reabilitação o arquitecto cria uma variação de altura dos elementos hexagonais, o que
proporciona mais organicidade e “leveza” ao edifício.
Ilustração 92 - Projecto tridimensional do Centro de Reabiltação. (Costa, 1970, p. 144)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
130
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Os hexágonos elevados não foram escolhidos ao acaso, estes correspondem às
principais áreas de circulação e são também os que não possuem nenhum contacto
directo com o exterior, deste modo, a elevação destes permite criar entradas e jogos
de luz naturais. Os restantes módulos hexagonais de uma forma geral, quando não
possuem vãos maiores, são também rematados com uma abertura junto à cobertura
que contorna todo o hexágono, permitindo também a incidência de luz natural nos
espaços interiores. Estes aspectos construtivos demonstram também a preocupação
em normalizar e reduzir o número de elementos e a sobriedade dos acabamentos. No
exterior, o edifício é pintado a branco, com um acabamento com base no mosaico
vitroso na cobertura (listas de cores alternadas), o que se justifica uma vez que se
trata de um edifício visível a partir dos edifícios circundantes.
A maioria dos pormenores referidos foram pensados com vista na melhoria da
qualidade de vida das pessoas que vivenciam estes espaços, tanto das crianças a
reabilitar como dos profissionais e pais que as acompanham em todo o processo.
Ilustração 93 - Perspectiva da área coberta da entrada (Costa, 1970, p. 146)
Ilustração 94 - Perspectiva (Costa, 1970, p. 146)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
131
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
FUNCIONALIDADE E FLEXIBILIDADE
Como já foi referido, o projecto em análise foi desenvolvido pelo arquitecto Palma de
Melo, que teve como principais objectivos, responder às necessidades dos
profissionais nos diferentes sectores, mas acima de tudo criar um espaço propício à
recuperação. A questão da funcionalidade teve um papel fundamental em todas as
fases deste projecto, principalmente devido às necessidades que as actividades neste
necessitam. Deste modo, o arquitecto desenvolveu o edifício a partir de um plano
modular hexagonal que permite uma maior liberdade na ordenação dos espaços e
assegura facilmente a possibilidade de quaisquer alterações futuras. (Costa, 1970,
p.148)
A nível exterior, as variações dos ângulos formados pelas paredes criam, com o
arranjo paisagístico, um conjunto harmonioso. Com a finalidade de reforçar a ligação
com o ambiente natural e melhorar o ambiente do Centro, a partir de alguns dos
módulos hexagonais pode-se fazer acesso directo ao exterior, e tal como no exemplo
da casa Hanna, várias existem vários espaços com paredes envidraçadas,
aumentando o contacto visual com o exterior, e um maior sentido de proximidade com
o local e toda a área verde envolvente.
Respectivamente à organização espacial interior, o arquitecto acreditava que a malha
hexagonal representava uma base ordenadora não só em relação à definição dos
elementos resistentes e estruturais, como também em relação aos elementos
separativos que definem e compartimentam o espaço definido por esses elementos.
Isto é, para um programa diversificado, uma solução uniforme. (apud Costa, 1970,
p.148).
Deste modo a interpretação do arquitecto relativamente à malha, apesar de se
identificar com a organização modular do Caleidoscópio, onde os espaços são
definidos por módulos hexagonais, no Centro as unidades hexagonais dispersam pelo
terreno de forma natural e interiormente os espaços são amplos e mais abertos
permitindo uma maior fluidez entre os espaços e conferindo ao Centro um aspecto
mais orgânico, amplos e livre.
“o esquema arquitectónico adoptado baseia-se num elemnto poligonal sextavado, que
além de permitir uma grande liberdade na ordenação dos espaços assegura facilmente
a possibilidade de quaisquer alterações ou ampliações”. (Palma de Melo apud Costa,
1970, p.148)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
132
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
A planta do edifício está organizada de forma bastante simples. Resumidamente o
edifício desenvolve-se de forma celular, cada hexágono corresponde a um espaço,
mas estes hexágonos estão organizados numa espécie de hierarquia, existindo assim
alguns elementos hexagonais que funcionam como uma espécie de núcleos principais
a partir dos quais se tem acesso às restantes áreas. Para um melhor entendimento
deste funcionamento celular apresentamos um esquema simples
Portanto, numa zona central existem três hexágonos (vermelho) de maior escala, a
partir dos quais o acesso a dois deles é feito através da entrada coberta – recepção
(azul), estes funcionam como uma espécie de pontos centrais de acesso às restantes
áreas, ou seja, uma vez que se trata de uma malha hexagonal, em torno destes
núcleos/hexágonos centrais desenvolvem-se e faz-se o acesso à maioria dos
restantes espaços (a verde).
Posteriormente, existem também uma espécie de núcleos secundários (laranja), aos
quais o acesso é feito a partir dos núcleos centrais, que por sua vez criam ligação com
outros espaços hexagonais que se encontram directamente ligados a estes.
Existe uma variedade de escalas nos hexágonos, quase como se o arquitecto
pretendesse “brincar” e trazes um pouco mais de dinamismo movimento ao plano, ou
talvez também tenha sido uma forma hierarquizar os espaços. A ligação física entre os
vários hexágonos na maioria das vezes é feita pelas instalações sanitárias (roxo).
.
Ilustração 95 - Planta esquemtática (ilustração nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
133
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Algumas vezes as áreas de circulação entre os espaços foram desenhadas sobre as
arestas dos hexágonos que se ligam entre si na malha hexagonal, mas geralmente
existem espaços amplos de circulação. Essa abertura e liberdade nas áreas de
circulação também se deve à estrutura de pilares, que ao contrário do edifício
Caleidoscópio, em que se encontram nos cantos dos hexágonos, o arquitecto colocouos ao centro do hexágono. Esta simples diferença da posição dos pilares tornou a
circulação entre os espaços mais livre e fluida o que é um aspecto a ter bastante em
conta uma vez que muitas das pessoas que diariamente percorrem estes espaços se
deslocam em condições especiais como cadeiras de rodas que exigem maiores
ângulos de manobras.
Novamente comparando com o exemplo do Caleidoscópio, que teve os pilares
posicionados aos cantos dos hexágonos, o que segundo o arquitecto Pedro Oliveira se
tornou um dos maiores desafios quando teve que reabilitar o edificio pois limitou-lhe
consideravelmente o número de possibilidades na organização dos espaços.
De forma sucinta, esta trama de módulos hexagonais cria uma multiplicidade de
conexões e possibilidades e para além de permitir uma grande liberdade na ordenação
dos espaços assegura facilmente a possibilidade de quaisquer alterações futuras, o
que demonstra um grande carácter de flexibilidade do plano.
Quando a obra se deu por terminada, para o arquitecto e outros envolvidos foi um
enorme prazer ver o seu grande objectivo de “produzir um edifício em que as funções
foram descaracterizadas, não pelo disfarce ou pela ocultação, mas sim pela sua
integração fisionómica numa solução de conjunto, com uma mesma leitura a todos os
níveis e em todas as situações”, se deu por cumprido.
“…Quanto a nós as intenções foram plenamente concretizadas neste edifício, em
muitos pormenores de solução simples e correcta, no arranjo e equipamento sóbrio e
eficazes , principalmente, no carácter despretensioso e acolhedor que todo o edifício
manifesta”. (Palma de Melo apud Costa, 1970, p.148)
A execução e o equipamento deste Centro foram considerados um verdadeiro modelo,
tanto espacialmente como funcionalmente, bem como a formação e especialização do
pessoal técnico no país e no estrangeiro. Esta obra chegou ainda a valer ao arquitecto
uma nomeação para o Prémio Secil de arquitectura em 1992.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
134
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 96 - Vista interior da Capela (Costa, 1970, p.147)
Ilustração 97 - Vista interior da Capela (Costa, 1970, p.147)
Ilustração 98 - Vista interior (APPC, 1970, p.7)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
135
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 99 - Vista interior da Capela (Costa, 1970, p.145)
Ilustração 100 - Vista interior da área da piscina (Costa, 1970, p.145)
Ilustração 101 - Vista interior. (Costa, 1970, p.145)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
136
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
3.3. HABITAÇÃO EM SESIMBRA: NUNO TEOTÓNIO PEREIRA E NUNO
PORTAS
Nuno Teotónio Pereira (1922) e Nuno Portas (1934), com apenas
12 anos de diferença, foram considerados arquitectos de renome.
Durante as suas carreiras tiveram vários pontos em comum, ambos
frequentaram o curso de Arquitectura na Escola Superior de Belas
Artes de Lisboa, em 1952, juntamente com alguns arquitectos e
artistas plásticos, fundaram o Movimento para a Renovação da Arte
Religiosa e cinco anos mais tarde, em 1957, o arquitecto Nuno
Portas começou a trabalhar com Nuno Teotónio Pereira no seu
atelier de arquitectura. Neste ele deixou nome ligado a edifícios
marcantes como a Igreja do Sagrado Coração de Jesus ou o
edifício "Franjinhas" em Lisboa, a Casa de Habitação de Vila
Viçosa, a Casa Sesimbra e a projectos urbanos inovadores como o
do Restelo ou dos Olivais.
Ilustração 102 - Nuno Teotónio Pereira (fonte desconhecida)
Ilustração 103 - Nuno Portas (fonte desconhecida)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
137
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Contextualização
O exemplo da Habitação Sesimbra, foi um dos primeiros projectos desenvolvidos em
parceria por ambos os arquitectos no início do anos sessenta. Por essa altura já eram
outros os tempos que tinham formado Nuno Teotónio Pereira no combate pela
Arquitectura Moderna. Com formações distintas, Teotónio Pereira teve como
referências e influências, Le Corbusier e Alvar Aalto, já Nuno Portas, um jovem
arquitecto recém chegado para trabalhar no atelier de Teotónio Pereira na Rua da
Alegria, assumia-se nos conceitos assimilados e soluções propostas pela escola de
Frank Lloyd Wright, que defendia princípios e teorias de uma arquitectura
desenvolvida em espaços de dentro para fora, com construção e materiais
correspondentes à especificidade da paisagem e ao uso da vista .
Seguno Teotónio Pereira“ foi a entrada do jovem e fogoso Nuno Portas, em 1957, que
marcou decisivamente o atelier. Dotado de uma grande capacidade de trabalho, de
uma informação de ponta sempre actualizada e de uma facilidade de concepção e
criação muito ricas, foi um esteio fundamental para todo o trabalho posterior.
Estabeleceu-se entre nós uma cumplicidade permanente, talvez fruto de uma certa
complementariedade de formações e de temperamento.” (1996, p.159)
“A Arquitectura Escultórica, com exemplos de Frank Lloyd Wright na rampa espiralada
do Guggenheim, ou de Oscar Niemeyer na construção da cidade Brasília, trazia assim
algumas dúvidas sobre pertinência da arquitectura rigorosamente racionalista do pós
guerra, e Nuno Portas protagonizava esse movimento e essa dinâmica que sugeriam o
tratamento do edifício como uma escultura da arquitectura orgânica”. (Campos, 2011)
A habitação unifamiliar constituiu um programa decisivo para a renovação
arquitectónica do Atelier de Terotónio Pereira105, aproveitando a oportunidade para
extrair experiências bem resolvidas que seriam aplicadas em escalas e programas de
maior complexidade. O cruzamento entre os contributos da arquitectura moderna
orgânica e os valores da tradição arquitectónica portuguesa, resultariam na resposta
as questões levantadas pelo lugar, pelo programa e sobretudo pelo modo de vida das
pessoas. As habitações que projectaram foram desenvolvidas para contextos muito
díspares, no entanto todas elas têm um sentido telúrico muito forte, uma vez que todas
105
na década de 60, Portugal padecia de um grave problema de habitação e o atelier da Rua da Alegria
contribuiu pioneiramente com diversas iniciativas para alterar esse panorama.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
138
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
elas estão agarradas ao terreno e à sua envolvente, numa aproximação que procura o
conceito de integração de cada lugar. A casa Sesimbra retrata um grande exemplo
desta preocupação por parte dos arquitectos.
A casa Sesimbra, foi encomendada por um amigo do arquitecto Nuno Teotónio
Pereira, o engenheiro Brás de Oliveira, nome pela qual a casa também ficou
conhecida. Tal como o nome indica a casa localiza-se em Sesimbra, que para o
engenheiro, depois de doze anos em África e atravessada uma vida profissional na
engenharia civil que o levou às antigas colónias de Angola e Moçambique106 e de ter
deixado o seu nome relacionado com outras obras como o Castelo de Bode, Cabril ,
Picote e Mirando do Douro, fazer a sua casa nesse sitio foi o regresso ao local onde
nasceu. Depois de regressar ao continente, no início dos anos sessenta, o engenheiro
pretendia o sítio, e a qualidade de um “lar” no local onde se encontravam as suas
raízes, para ele, a sua esposa e os filhos. (Saraiva, 2001, p.128)
Ilustração 104 - Ortofotomapa de localização. (ilustração nossa)
106
Onde esteva incluído nos projectos de construção de barragens como Cambambe e Cabora Bassa
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
139
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
O terreno escolhido por Brás de Oliveira situa-se numa encosta presenteada com uma
vista privilegiada sobre o mar. Trata-se de uma zona calma e apesar de algumas
habitações vizinhas a casa só é avistada à distância a partir de uma das ruas que a
circundam. A restante área encontra-se envolvida por um conjunto de árvores criando
toda uma atmosfera naquele espaço. Em concordância com esta envolvente orgânica
o plano da casa, tal como todos os restantes casos de estudo, desenvolve-se sobre
uma malha hexagonal, que, ao contrário dos restantes exemplos, o desenho e
concepção foram desenvolvidos, especialmente pelas influências107 do arquitecto
Nuno Portas e da sua particular inspiração na fase da “Hanna House” de Frank Lloyd
Wright.
Ilustração 105 - Vista da frente da casa. (ilustração nossa)
Deste modo, a planta definida em ângulos de 60 e 120 graus, desenvolvendo-se em
planos escalonados, está dividida em dois pisos, um inferior e outro superior. O piso
inferior foi uma área mais privada dedicada aos filhos, onde existia um amplo salão de
jogos e bar, um quarto para o pessoal de serviço, umas instalações sanitárias um
107
A primeira saída estrutural, apontada por Nuno Portas, é “organicista”, partindo dos ensinamentos do
crítico italiano Bruno Zevi, e ficou cristalizada nas complexas geometrias que ensaiou, por rotação,
traslação ou sobreposição de malhas, introduzidas nos projectos elaborados no atelier de Nuno Teotónio
Pereira em em coautoria com este, como no exemplo da casa em Sesimbra ou no Mosteiro de Santa
Maria do Mar, em Sassoeiros, ambos pensados “ao modo” fluido de Frank Lloyd Wright, sempre tão
celebrado nas suas leituras zevianas.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
140
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
espaço para arrumos e uma área de duches para o período de praia. Numa visita à
casa, a filha do casal, referiu que esta área sofreu alterações e foi transformada num
espaço habitacional para si e para a sua filha.
O acesso ao piso superior é feito através de umas escadas exteriores na frente da
casa. O primeiro, ao nível mais baixo e destinado às áreas comuns, contém um
pequeno hall de entrada a partir do qual se faz o acesso, ao um gabinete de trabalho,
à sala de estar que se em todo o piso é a única área que se encontra a um nível mais
baixo que as restantes, e à copa.
A sala de estar é tratada em três zonas principais interligadas, mesa de refeições,
recanto de jogo e lareira, a área de refeições é diferenciada a um nível mais alto; esta,
ainda partilha uma varanda com o gabinete de trabalho. O acesso à copa, que liga à
cozinha e a uma pequena despensa, pode ser feito tanto pelo hall como através da
sala de jantar. A partir de umas escadas junto à entrada faz-se o acesso a outro nível,
onde existem dois quartos com instalações sanitárias, e a dividir estas duas existem
umas escadas que levam ao ultimo nivel mais alto, onde se encontram o quarto
principal com acesso directo a uma pequena varanda, o quarto de vestir também com
varanda e instalações sanitárias. A partir deste último nível pode-se fazer o acesso
directo ao exterior.
Ilustração 106 - Piso Inferior: 1 Alpendre; 2 Sala de jogos; 3 Instalações Sanitárias; 4 Quarto do Pessoal de Serviço; 5 Arrumo.
(Portas, 1966, p.116)
Ilustração 107 - Piso Superior: 1 Entrada; 2 Gabinete de Trabalho; 3 Sala de Estar; 4 Sala de Refeição; 5 Costura e Copa; 6 Cozinha;
7 Quartos; 8 Instalações Sanitárias; 9 Terraçoe se Varandas; 10 Despensa. (Portas, 1966, p.116)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
141
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
PLANO MODULAR HEXAGONAL
Durante a altura da casa em Sesimbra, o arquitecto Nuno Portas atravessava uma
fase de experimentação, existiu um arriscar no desenho e nas soluções propostas,
propondo uma nova forma de entender o espaço, transmitindo novidade e progresso à
vida quotidiana dos utentes. (Portas, 1996, p.159)
Esta fase reflectiu a sua procura sucessiva “da melhor linguagem, de mais
expressivas, maneiras de dizer ou, menos literalmente, os meios formais mais
capazes de dar, ou designar, espaços que queria fossem entendidos como sinais de
certas intenções de vida.” (Portas, 1966, p.115). Neste seguimento, com base nestas
intenções, esta habitação construída em 1963, com desenho e conceção dos
arquitectos Nuno Portas e Teotónio Pereira, assume a sugestão didáctica da fase
“Hanna House” de Frank Lloyd Wright, numa geometria em hexágonos, muito ao gosto
e sensibilidade de Nuno Portas. (Saraiva, 2001, p.128)
Mas este não foi o primeiro exemplo em que os arquitectos usaram a malha como
plano, na casa Dr. Barata dos Santos em Vila Viçosa, também desenvolvida por
ambos os arquitectos pouco tempo antes da casa Brás Oliveira, a geometria partiu de
uma malha geradora ortogonal de base com um outro sistema ortogonal a 45º com o
primeiro. Já no ensaio da casa em Sesimbra, o ângulo recto, frio e racionalista, deram
lugar às geometrias oblíquas, do tipo “colmeia”, capazes de introduzir complexidades e
contradições na sua leitura.
Em Sesimbra, os arquitectos pretenderam uma integração formal da proposta de
forma natural. Perante um terreno de intervenção invulgar, com uma pendente
acentuada e uma configuração irregular, a concepção partiu de uma malha hexagonal
em substituição da organização ortogonal, como constatação que a hexagonal se
adaptava muito bem ao declive, possibilitando uma volumetria fraccionada de encaixe
dos volumes uns nos outros, proporcionando um prolongamento entre o espaço
exterior e interior e assegurando uma continuidade com o terreno, um dos princípios
de concepção desta habitação. Deste modo, a solução deveria tender por uma
volumetria espalhada, mas destacando-se da natureza, pelos planos sucessivos dos
prolongamentos exteriores. (Pereira, 2011, p.167). A casa também se destaca pela
sua posição dominante e elevada na encosta, o movimento interior, e a forma como se
agarra ao declive. Estas características do projecto demonstram de imediato
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
142
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
semelhanças com a casa Hanna, especialmente em relação ao declive acentuado
onde os módulos hexagonais representam uma óptima solução.
No plano do programa, alguns dos principais objectivos dos arquitectos assentaram
na preocupação em dar ambientes variados e estimulantes à vida social da casa, em
expressar bem a individualidade do mundo pessoal respectivamente à zona íntima e
por último uma concepção aberta dos serviços domésticos, evitando uma segregação
de funções que, tendencialmente, entrarão no quotidiano dos membros de toda a
família. Deste modo, os objectivos dos arquitectos iam ao encontro da procura de:
“ambientes variados e estimulantes à vida social da casa, […] ao encontro dos
conceitos de fluência de espaços não estanques, compostos de ambientes
diversificados pelos contornos, pelas variações altimétricas, por obturações focadas,
etc., mas ligadas com um sentido dinâmico, sugerindo o movimento dos seus utentes.
Conceitos de origem confessadamente Wright – Loos – Aalto – Zeviana, mas que, de
qualquer modo, confirmavam uma convicção dominante: a da primazia da formação do
espaço interno de dentro [ainda quando se tratasse de espaço exterior] como aquela
estrutura onde se joga o intimismo e a sociabilidade, sobrepondo-a à anterior primazia
da composição volumétrica ou facial, porque conducente ao neo-academismo de criar
objectos, porventura belos de ver, no seio do vago espaço sobrante.”(Portas, 1966,
p.115)
Este tipo de ambiências foram facultadas através do uso do plano modular hexagonal,
em que os ângulos permitem uma maior abertura e fluência na ligação dos espaços e
um melhor encaixe dos volumes uns nos outros e nas variações do terreno
proporcionando uma maior dinâmica com as variações de altura entre os volumes.
Se observarmos as imagens das plantas e o exterior do edifício percebem-se essas
as variações, onde o “zigzag” das paredes, e saliências das varandas e cobertura
criam um jogo dinâmico de volumes.
Os espaços interiores reflectem, como já foi referido, os objectivos dos arquitectos e a
influência e inspiração em Wright, sempre bastante presente, resultando em espaços
fluidos, onde a presença da forma hexagonal se mantem presente, mas não de uma
forma tão contida como nos casos anteriores, na abertura do plano e criação de
diferentes
ambientes
marcados
pelas
variações
altimétricas.
Todas
estas
características contribuíram para a formulação de um conjunto orgânico e dinâmico.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
143
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
A cobertura, um dos espaços exteriores mais ricos e marcantes, proporciona uma vista
privilegiada sobre o mar e grande parte da cidade. Este terraço é percorrível sobre
toda a área da casa, acompanhando e ligando os 3 planos em que se divide. A
cobertura é também revestida de modo a constituir uma substituição do terreno
natural, que a casa “rouba”. Pensada nas relações humanas, com diferentes níveis
dignos de contemplação, esta ainda possui uma pequena piscina, e está prevista com
uma subida de um monta-pratos integrado na coluna da chaminé, para ser utilizada
para refeições ar livre.
Resumidamente, o terraço foi aproveitado como forma de fortalecer uma relação
intencional com a envolvente, para criar áreas de estar ao ar livre e permitir um
relacionamento muito franco com a paisagem natural, reforçando a sua ligação com a
envolvente orgânica das árvores que criam sobre este um agradável jogo de luz e
sombras.
Por último, relativamente aos materiais aplicados, o valor da tradição cruzado com um
sentido de contemporaneidade, contextualizou a obra no lugar, dando conta da
cultura, e dos novos materiais como o betão, bastante aplicado na casa.
Ilustração 108 - Vista exterior das varandas (ilustração nossa)
Ilustração 109 - Canto Superior direito: Os três níveis da cobertura em terraço praticável. O piso é formado poe lajetas de betão,
sobrelevadas em relação à placa formando uma superfície de sombreamento desta. (ilustração nossa)
Ilustração 110 - Canto inferior Direito: Em primeiro plano, a sala superior com varanda que faz alpendre sobre a segunda sala,
semienterrada, para a sala de jogos, destinada sobretudo, aos jovens.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
144
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
FUNCIONALIDADE E FLEXIBILIDADE
A casa em Sesimbra simboliza uma procura do arquitecto Nuno Portas, criar uma nova
cultura de habitar, uma nova forma de entender o espaço, conferindo progresso à vida
quotidiana, daí ter optado por uma proposta mais arrojada para a altura. Como já
referimos, ao contrário do que os arquitectos fizeram nos restantes casos de estudo
em Portugal, neste exemplo o arquitecto, não interpretou a malha como um conjunto
de módulos, mas antes um conjunto de possibilidades na organização espacial. Essa
interpretação deveu-se em parte à intenção por parte dos arquitectos Nuno Portas e
Teotónio Pereira de criar um edifício ligado ao sítio, e que ao mesmo tempo fosse
resultante de ambientes interiores dinâmicos e variados, que se revelariam
exteriormente.
Partindo deste enquadramento, o arranjo exterior, com a irregularidade das paredes
desenvolvidas a partir da malha hexagonal, com a variação altimétrica dos planos, e
jogo de volumes, enquadra-se harmoniosamente com a organicidade da envolvente.
Esse consiste numa volumetria espalhada pelo terreno pelos planos sucessivos dos
prolongamentos exteriores. A própria curvatura da configuração do terreno, as
conveniências em limitar as vistas para determinadas perspectivas mais interessantes
em toda a zona de uso, sobretudo individual (deixando todo o vasto horizonte
unicamente para a zona frontal de estar) ao encontro dos objectivos de continuidade e
identificação das células levaram os arquitectos a optarem por a malha hexagonal em
detrimento da ortogonal, pela sua flexibilidade de adaptação. (Portas, 1966, p.115)
A geometria adoptada permitiu o encaixe dos volumes uns nos outros, proporcionando
um prolongamento entre o espaço exterior e interior, que foi um dos princípios de
concepção desta habitação. Deste modo, a casa em Sesimbra ficou especialmente
conhecida pela forma como se agarra, idêntica a uma “lapa”108 ,ao declive do terreno.
“Arriscámos uma estrutura celular no sentido literal ou orgânico do termo, seguindo,
[…] a irresístivel sugestão didáctica da fase “Hanna House” de F.L.Wright – como para
saber se o dinamismo formal da construção da planta asseguraria, pelo carácter
sistemático e animado, pelas diferenças de nivéis, um sentido de continuidade a todo o
ambiente, desde as células encerradas aos espaços mais abertos.” (Portas, 1966,
p.115)
108
Termo usado pelo arquitecto Nuno Portas, no documento que publicou na revista arquitectura no ano
de 1966, para descrever esta característica da casa.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
145
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Na organização espacial interior a malha hexagonal revelou, tal como no exemplo da
casa Hanna, um sentido de “abertura” e liberdade espacial. Ao contrário dos exemplos
anteriores, em Sesimbra, os arquitectos não se regraram à forma do hexágono e notase uma libertação da malha, onde esta é interpretada por Nuno Portas quase como
espécie de metodologia. (Portas, 1966, p.115) A geometria usada não é repetitiva,
sem ângulos rectos, cada compartimento tem uma conformação muito própria, cada
geometria dá lugar a uma linguagem dinâmica, fluida e essa era a verdadeira procura
para o espaço interno. A partir da malha hexagonal os arquitectos conferiram ao
espaço interior um carácter diversificado, de intensidade e riquezas singulares,
concebido a partir do interior para o exterior como uma continuidade que nos remete
para a obra de Wright. Esta ainda permitiu, que o movimento, observado no corte
longitudinal
apresentado
na
imagem
seguinte,
fosse
completado
por
uma
movimentação em planta que parece resolver com interesse a adequação das
diferentes áreas ao contorno do lote e às exigências paisagísticas.
O arranjo das áreas comuns, mais vividas, como sala e cozinha, mais uma vez
semelhante ao que acontece na casa Hanna, são segregadas das áreas mais privadas
dos quartos. Nestas os espaços ligam-se fluentemente de forma ininterrupta criando
ambientes variados e estimulantes à vida social da casa. A forma hexagonal é
reforçada pelo posição e ângulos formados entre as paredes.
Apesar da casa em Sesimbra, ter partido de uma malha geométrica isso não
representava uma garantia de sucesso para Nuno Portas. Para o arquitecto” a critica
era necessária, e apesar desta experiência ter tido menos valor na desinibição formal,
ainda o convenceu da necessidade de um sério “controle” ao nível da resultanteespaço, mais do que o feito geométrico, isto é, verificado ambiente a ambiente, e para
o qual uma malha, seja ela ‘ortogonal’, a ‘30º’, ou a ‘45º’ ou em ‘redondos’, não é
instrumento automático ou mágico. Como lhe não é também indiferente – e aqui se
Ilustração 111 - Alçado nascente. (Portas, 2012, p.131) (fotografar restantes livro nuno portas)
Ilustração 112 - Corte AB transversal. ( Portas, 1966, p.117)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
146
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
põe toda a ambiguidade de um problema de estruturalismo linguístico...” (Portas, 1966,
p.115) ou seja, a procura da metodologia arquitectónica com que Nuno Portas se
debateu ao longo da década de 60. (Pereira, 2011, p.169)
Comparando de forma resumida a casa em Sesimbra e a casa Hanna, podem-se notar
claramente várias semelhanças, desde a malha aplicada com a intenção de quebrar
com os ângulos rectos, à forma livre ampla e orgânica que o arquitecto se valeu desta
para desenhar o projecto, aos diferentes níveis aplicados entre nas várias áreas.
Apesar de no final, o exemplo em Sesimbra representar um exemplo mais pobre do
que a “Hanna House”, os arquitectos arriscaram a estrutura no sentido orgânico e
literal do termo.
A flexibilidade e dinamismo formais do plano asseguram pelo seu carácter sistemático
e pelas variações altimétricas um sentido continuo por toda a casa, desde os espaços
mais amplos e com maior sentido de abertura aos mais fechados.
Ilustração 113 - Vista panorâmica do terraço (ilustração nossa)
Ilustração 114 - Vista panorâmica do terraço (ilustração nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
147
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
148
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
4. PROJECTO III - 5º ANO
4.1. RESIDÊNCIA E ESCOLA DE CIRCO CHAPITÔ
Contextualização
A malha urbana de qualquer cidade está constantemente a alterar-se de época para
época. Podendo considerar-se um sistema “vivo”.
No ano de 719 inicia-se o domínio muçulmano, na então denominada “Luxbuna”. A
Lisboa muçulmana abrangia a colina do Castelo, estendendo-se desde a sua Acrópole
até ao rio. Alfama era o centro da cidade moura.
A ”cidade moura” é caracterizada por conter uma malha urbana simples, viva, sem
continuidade, onde os espaços públicos e privados se cruzam, com ruas descontinuas
que são quebradas por cruzamentos ou cotovelos, raramente coincidindo com outros
caminhos ou eixos pedonais, muito densa e irregular.
É no ano de 1755 que ocorre em Lisboa o sismo que destrói grande parte
das
construções existentes, o primeiro-ministro da época, o Marquês de Pombal, desde
logo uma nova malha urbana.
Influenciado por ideias vindas da Europa, o Marques de Pombal decide que a
burguesia é a classe a estimular, desprezando a nobreza e o clero.
Dado que o núcleo central da Baixa tinha sido destruído, o Marques aproveita a
oportunidade para construir no seu lugar uma cidade burguesa. Sem palácios, igrejas
ou conventos, a cidade é agora constituída por habitações, comercio e industrias:
prédios de rendimento, com habitações nos pisos superiores e comercio/oficinas nos
pisos térreos.
A relação entre ruas, e edifícios e praças é crucial. O novo plano urbano apresenta um
desenho muito regular, uniforme e monótono. Os edifícios deste têm paredes lisas,
não têm decoração, são ortogonais e de desenho rigoroso. Esta intervenção é
articulada através de duas praças: o Rossio, antiga praça cívica a Norte e a pareça do
Comercio a Sul. Actualmente estas duas malhas urbanas coexistem. Na baixa, surge
uma malha ortogonal e homogénea. Na colina de Alfama ao Castelo existe uma malha
irregular e heterogénea.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
149
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
O lote de intervenção é no Mercado do Chão-do-Loureiro, situa-se entre duas ruas, a
do largo da Atafona e a Rua Costa do Castelo.em Alfama. Como é sabido Alfama é
conhecido como um dos bairros mais emblemáticos e tradicionais da cidade de
Lisboa, aproxima-se a uma aldeia antiga pelas relações de proximidade entre os
habitantes. Toda a sua configuração labiríntica, estreita, desnivelada representam em
grande parte as ideias urbanísticas da ocupação muçulmana e são das características
mais marcantes deste bairro. O lote situa-se na zona dos bairros antigos de Lisboa.
A envolvência urbana do Mercado é densa e com valor histórico. Exibe edifícios de
referência como a Sede do CDS/PP conhecido como o antigo Palácio do Caldas, o
Hospital Saúde Mútua – ASMECL, o Castelo de São Jorge e ainda o Palácio do Conde
de Penafiel e a baixa pombalina.
Ilustração 115 - Ortofotomapa de loicalização. (ilustração nossa)
Introdução
Neste capitulo ir-se-á desenvolver a justificação da proposta dadesenvolvida no
terceiro exercício na cadeira de Projecto III no ano lectivo de 2009/2010.
Os tema da dissertação e têm andado em torno das estruturas de repetição,
particuylarmente a mlaha hexagonal, porque o exercício agora em analise se
desenvolve sobre uma malha hexagonal.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
150
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Pretende-se apresentar a fundamentação dos assuntos referidos nos capítulos
anteriores, mostrando a linha de raciocínio seguida desde o inicio da concepção do
projecto até à sua fase final.
No âmbito da disciplina de projecto III, o tema 03 propunha uma Residência e Escola
de Circo para Chapitô, no lote actualmente ocupado pelo Mercado do Chão-doLoureiro.
Residência e Escola de Circo para Chapitô
A Residência e escola de circo para o Chapitô foi o tema desenvolvido no 2º semestre
no 5º ano. O objectivo era tal como o nome indica desenvolver uma residência, uma
escola e uma sala de espectáculos para os alunos e professores da escola de artes
circenses “ Chapitô”.
Tratou-se de um programa relativamente diferente dos desenvolvidos até então. O
edifício proposto para a escola Chapitô, consistia em três espaços distintos – uma
residência para alunos/ professores/ convidados (privado) ; uma sala de espectáculos
para performances dos alunos (público); uma escola (semi-público).
O desafio e a principal intenção era o de manter estas áreas interligadas e ao mesmo
tempo garantir que as respectivas utilidades não interferiam com as restantes, de
modo a não descaracterizar ou perder-se a noção ou o sentido do objectivo da
funcionalidade da cada uma delas. De grosso modo, a intenção era que a soma das
partes funcionasse como um todo.
O facto de se tratar de um espaço essencialmente destinado a estudantes e
professores do Chapitô despertou um interesse e entusiasmo ainda maior à aluna uma
vez que se encontra ligada ao meio, o que se torna ainda mais inspirador pois assim
poderia imaginar e idealizar o espaço para si mesma. De certo modo também se
tornava vantajoso na medida em que tinha alguma consciência das principais
necessidades que as actividades e rotinas do dia-a-dia dos alunos implicavam.
Necessidades essas que se aplicavam essencialmente à escola e à sala de
espectáculos, em no exemplo das salas de aulas, estas deveriam ser amplas e com
um maior ângulo de manobra, e possuir um pé direito acima do comum, para se
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
151
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
poderem praticar modalidades como o “trapézio” e o “tecido vertical” entre outros.
Todos estes aspectos seriam de ter em conta, e a familiaridade com o exercício foi
sem dúvida uma mais valia.
Contudo e como em qualquer exercício dever-se-á começar com uma análise do local
de intervenção.
Condicionantes
O lote é caracterizado por um conjunto de condicionantes que serão analisadas de
seguida para um melhor entendimento da área de intervenção.
Perante esta contextualização, de um terreno de intervenção invulgar, uma
configuração irregular com cantos protuberantes difíceis de resolver agravada pela
diferença significativa entre as cotas das ruas circundantes, este tratou-se sem dúvida
de um desafio
A primeira condicionante foi a configuração invulgar do lote, com uma forma irregular
de cantos protuberantes difíceis de resolver .
Essa condicionante foi agravada pela diferença significativa entre as cotas duas ruas
contíguas à intervenção, onde existe uma disparidade de aproximadamente 22m.
A exposição solar foi outra agravante pois para além da sombra exercida pelos
edifícios da envolvente directa, a discrepância entre as cotas das ruas acabaria por
deixar em “sombra” uma grande parte do edifício.
A fase de análise das condicionantes são importantes para se entender melhor o sítio
e o que a intervenção neste envolve. Desta forma a resposta ao exercício pode ser
mais completa com uma maior consciência das condições a que o edifício vai estar
exposto e assim fazer-se uma análise das diferentes possibilidades de resposta e até
se puder esboçar um ponto de partida para uma proposta.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
152
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Programa
Descrita esta breve contextualização e análise, passamos ao programa que é
determinante e fundamental para se começarem a traçar as primeiras ideias e
começar a definir o projecto.
Em termos programáticos, o exercício propõe essencialmente como já foi referido uma
residência e escola para estudantes e professores da escola de artes circenses
Chapitô, uma sala de espectáculos na cobertura do edifício e ainda um parque de
estacionamento privado.
A Residência teria de conter habitações temporárias para estudantes, professores, e
convidados recebidos pela escola. Como apoio a estas existira, lavandaria, cozinha, e
sala comuns, por piso.
A Escola de Circo seria constituída por salas de aula teóricas/práticas, zona
administrativa e uma sala de espectáculos que deveria localizar-se obrigatoriamente
na cobertura. Todavia, o programa permitia a possibilidade de serem acrescentados
outros espaços ou valências que não tenham sido considerados, como bares de apoio
etc.
Depois de se ter conhecimento da contextualização, condicionantes e do programa
passa-se então à fase de concepção da ideia.
Os processos de análise são fundamentais para se criar um melhor entendimento e
familiaridade com o local em que se vai intervir. Desde o contexto cultural, as
condicionantes e nomeadamente o programa vão ser cruciais na estruturação de uma
linha de pensamento e no posterior desenvolvimento de um“conceito” ou ideia.. O
edifício deve manter uma relação forte com o local, deve responder às necessidades
que este requer valorizando-o, fazendo-se sentir como peça fundamental destinada
exclusivamente àquele sítio e de alguma forma valorizando o espaço a que se destina,
caso contrário acaba por ser um edifício pobre, podendo-se tornar até mesmo
disfuncional.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
153
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
PROJECTO III
Perante esta contextualização, de um terreno de intervenção invulgar, uma
configuração irregular com cantos protuberantes difíceis de resolver agravada pela
diferença significativa entre as cotas das ruas circundantes, e a heterogeneidade da
malha urbana, o desenvolvimento deste projecto tratou-se sem dúvida de um desafio.
Deste modo, a primeira intenção foi procurar um “princpio”, uma espécie de lógica que
permitisse desenvolver um projecto que fizesse “sentido” naquele local especifico.
Com base nesta nesta intenção, na procura do que poderia fazer maior sentido
naquele local, naquela cultura, naquele pedaço de história, começamos por traçar
linhas repetidas paralelas aos limites definidores do lote, como tentativa de algum
modo ”agarrar” o projecto ao sítio.
À medida que se traçavam as linhas paralelas sobre todo o lote, essas começaram a
sobrepor-se e a cruzarem-se resultando numa malha. Na verdade, num conjunto de
malhas, visto que nessa sobreposição de linhas podíamos distinguir os 3 tipos de
malhas regulares, a quadrada, triangular e hexagonal.
De certo modo esta base de linhas cruzadas em malha, pareciam importar uma
espécie de regra por todo o terreno, e formavam quase que uma espécie de “costura”
com a envolvente. Neste sentido a malha mostrou-se uma boa solução e uma vez que
a aluna nunca tinha desenvolvido nenhum projecto a partir de uma malha, esta ideia
despertou ainda mais a sua atenção e o desafio foi aceite.
Ilustração 116 - Planta de cobertura. (ilustração nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
154
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Uma vez que a malha se podia desmontar nos três tipos de malhas regulares, a
quadrada, triangular e hexagonal a primeira intenção foi optar unicamente por uma
delas. Desse modo a base da malha tornava-se mais simples e fácil de “controlar”.
Nesse sentido, foi feita uma vasta pesquisa, acerca dos diferentes tipos de malha.
Com base nessa pesquisa, optou-se pelo uso da malha hexagona, uma vez que entre
todas foi a que mostrou mais potencialidades, em relação ao que era pretendido.
Deste modo, a malha hexagonal foi usada como princípio gerador sobre a qual o
desenvolvimento do projecto se encontrava submetido.
Escola Chapitô + Residência
A nível programático, o edificio organizado numa espécie de disposição triangular,
estrutura-se em 7 pisos e possui 3 acessos distintos às diferentes áreas (escola,
habitação, e sala de espectáculos). Os acessos às diferentes áreas foram colocados
em extremidades opostas, a diferentes cotas das ruas, pois tratando-se de áreas
distintas (públicas e privadas) era importante fazer-se esta distinção. Assim, a entrada
para a escola é feita pela antiga entrada principal do Chão do Loureiro, no final da
continuidade dessa rua inclinada encontra-se a entrada para a zona residencial e no
final da segunda rua que contorna o edificio faz-se o acesso à cobertura e à sala de
espectáculos, Uma vez que tanto a sala de espectáculos na cobertura como a escola
se encontram ligadas pelas actividades, criou-se também uma ligação interior entre
ambas. É ainda importante referir que numa tentativa de se contornar a problemática
da iluminação, tanto na zona habitacional como na área escolar criou-se uma espécie
de pátio que atravessa o edifício em altura, permitindo assim a entrada de luz natural.;
o pátio encontra-se ainda ligado directamente à caixa de escadas + elevador, que
juntamente com este percorrem todo o edifício ao longo dos 7 pisos.
Dito isto, os 7 pisos organizam-se do seguinte modo:
Nos pisos subterrâneos -2 e -1 encontram-se os parques de estacionamento, a partir
dos quais se faz o acesso interior a todos os pisos da escola até à cobertura.
No piso 0, exteriormente o acesso pode ser feito a partir do átrio situado na antiga
entrada principal ao edifício do chão-do-Loureiro, ou interiormente pela caixa de
escadas + elevador que liga todos os pisos da escola desde o parque de
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
155
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
estacionamento até à cobertura. Neste piso desenvolve-se a área administrativa, umas
instalações sanitárias e a cantina + bar de apoio. Cada uma destas áreas é definida
por um ou mais hexágonos, assim como as áreas de circulação; este tipo de arranjo
espacial mantém-se nos restantes pisos. Deste modo a circulação entre os espaços
mantem-se sempre ampla. É ainda importante referir que o pátio interior que atravessa
o edifício encontra-se junto à caixa de escadas + elevador e serve ainda como
esplanada para apoio ao bar e cantina.
No piso 1, uma vez que se trata de uma escola de artes circenses foi projectado um
ginásio + balneários, um bar + copa, instalações sanitárias, biblioteca, cinemateca,
armazém de cargas e descargas, arrecadação e auditório;
No piso 2, uma vez que se atinge a cota do acesso à zona habitacional, a organização
altera-se ligeiramente e passa a dividir-se em duas áreas, a escolar e habitacional. Na
escolar encontram-se a sala aula teórica e prática (organizadas em torno do pátio), as
salas de convívio de professores e alunos. A área habitacional é constituída por: um
átrio de entrada através do qual se faz o acesso as habitações, cozinha sala
lavandaria (áreas comuns). As habitações, assim como as áreas comuns das salas e
cozinhas são organizadas em torno do pátio através do qual se faz o acesso. Nos
pisos superiores a organização espacial mantém-se e o pátio exterior reduz-se a uma
espécie de “varanda” que contorna todo o pátio permitindo manter a funcionalidade de
acesso às áreas residenciais.
No piso 3, devido à necessidade de salas de aulas com um elevado pé-direito, neste
piso essas áreas são inexistentes. Já a restante área escolar é ocupada por um
Restaurante + copa + instalações sanitárias que funciona tanto para pessoas internas
como externas à escola do Chapitô. Este restaurante surge na intenção de atrair mais
pessoas a este espaço e promover ao mesmo tempo os espetáculos que acontecem
na cobertura.
No piso 4, uma vez que a sala de espectaculos da cobertura se desenvolve em
anfiteatro, no piso quatro algumas das áreas dão lugar ao anfiteatro da sala de
espectáculos. Deste modo, as restantes áreas livres desenvolvem-se em torno do
pátio exterior, onde se desenvolve um café-concertro, aberto igualmente a estudantes
e ao público e que foi desenvolvido com o mesmo intuito do restaurante no piso 3.
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156
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
No piso 5, encontra-se a cobertura. Nesta desenvolve-se a sala de espectáculos
coberta. que se organiza em anfiteatro, é totalmente simétrica e possui duas grandes
entradas. Um dos pontos mais ricos desta sala é o prolongamento do palco para o
exterior onde o pano de fundo é a vista sobre o rio. O acesso à cobertura assim como
aos espaços nela presentes, podem ser feitos directamente a partir da rua à cota mais
alta, ou através da caixa de escadas e elevador da escola.
Ilustração 117 - Acessos exteriores às diferentes áreas do edifício: vermelho – acesso à escola ; amarelo - acesso à zona residencial ;
verde: acesso à cobertura, sala de espectáculos * através da escola também existe acesso; a laranja a linha de corte. (ilustração nossa)
Ilustração 118 - Corte (ilustrado no modelo tridimendional da imagem 2). (ilustração nossa).
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
157
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
PLANO MODULAR HEXAGONAL
Como se verificou nos anteriores casos de estudo, o uso da malha pode surgir por
diversos motivos, pela inspiração em estruturas naturais, pela intenção de inovar pela
condição de uma envolvente orgânica, por influência de uma configuração irregular ou
pendente acentuada, por mera experimentação, opção, tendência, ou até pela
combinação de alguns destes motivos. Enfim, o uso da malha hexagonal pode surgir
por qualquer motivo relacionado com as potencialidades proporcionadas pela malha
hexagonal.
Neste exemplo, a malha de uma forma geral surgiu de uma forma muito natural,
durante a procura de uma ligação forte e consistente com a envolvente. Entre as
malhas possíveis, quadrada, triangular e a hexagonal existiram alguns factores que
foram fundamentais para a eleição da malha hexagonal como elemento gerador do
projecto.
Perante a problemática da configuração e dimensão do lote, e um programa extenso
que propunha desenvolver uma escola + habitação + sala de espetáculo, a intenção
fundamentou-se em dois pontos, manter o projecto concentrado e ao mesmo tempo
manter a dinâmica da estrutura espacial da zona de alfama. Na procura de uma
solução começou-se por fazer uma pesquisa que se baseava em estruturas que
fossem concentradas e simultaneamente densas. Essa pesquisa, por sua vez induziu
às estruturas naturais como a colmeia de abelhas, aos padrões hexagonais das
girafas, à calçada dos gigantes na Irlanda “Giant’s Causeway” à estereotomia da
carapaça das tartarugas, entre outras. Que por sua vez, se tratava simultaneamente
de uma estrutura interessante, cativante e com grande potencial. Deste modo tal como
Buckminster Fuller se inspirou nas estruturas naturais dos radiolários para desenvolver
as suas estruras, neste exemplo, sem uma base teoria tão aprofundada, esse tratouse de um dos princípios a induzir ao uso da malha.
Ilustração 119 - Exemplos de padrões hexagonais na natureza: pormenor da estrutura da colmeia; conjunto de girafas; formação
rochosa no norte da Irlanda; conjunto de tartarugas.
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158
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Posteriormente o uso da malha em detrimento da quadrada ou da triangular tornou-se
mais evidente, quando surgiu um desenho em particular (ilustração 43) que teve um
grande impacto e peso na escolha da malha hexagonal.
Nessa ilustração, conseguimos perceber com clareza a forte desigualdade das tramas
entre as zonas dos bairros antigos de Lisboa (Mouraria e Alfama) e zona da Baixa
Pombalina. Actualmente estas duas malhas urbanas, claramente opostas coexistem.
Na Baixa com o novo plano, emerge uma malha ortogonal, muito regular e
homogénea, enquanto na colina de Alfama ao Castelo temos uma malha irregular e
heterogénea. Esta “imagem” tão contrastante foi das que se fizeram acompanhar
desde o início da concepção projecto até à sua fase final.
Deste modo, organização da Baixa ia ao encontro do uso de um plano modular,
enquanto a heterogeneidade da malha urbana se relacionaria com os módulos
hexagonais, mais dinâmicos e orgânicos. esta intenção de certo modo relaciona-se
com a intenção de outros arquitectos como Palma de Melo, Nuno Portas ou Nuno San
Payo, enquanto eles usaram a malha hexagonal em concordância de uma envolvente
orgânica, neste caso a maçlha hexagonal pretende-se aplicar em função da
envolvente dinâmica das casas em Alfama. Independentemente da envolvente, em
ambos os casos a malha hexagonal surgiu com o intuito de se criar uma relação com a
envolvente, seja ela natural ou artificial.
Relativamente à definição e organização do projecto em si, com base no estudo das
estruturas naturais e a heterogeneidade de Alfama, a malha hexagonal mostrou-se a
mais vantajosa, pelo seu caris dinâmico e flexível. Ao mesmo tempo esta representava
uma estrutura mais incomum, a organicidade e diferentes orientações dos hexágonos
combinavam com as diferentes direcções tomadas pelos edifícios e ruas envolventes,
permitindo uma série de alinhamentos e possibilidades de desenvolvimento e evolução
do exercício.
Ilustração 120 - Pespectiva da desigualdade das tramas entre as zonas dos bairros antigos de Lisboa (Mouraria e Alfama) e zona da
Baixa Pombalina. (ilustração nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
159
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
“A malha hexagonal presta-se a várias direcções ao contrário das ortogonais. Este tipo
de malha dá-nos uma maior liberdade, mais variantes, mais saídas e possibilidades.
Permitiu-me explorar um maior leque de opções, permitiu-me fantasiar. “ (San Payo,
entrevista, 27 Março 14:00)
Deste modo a malha hexagonal estabelecia uma espécie de regra por todo o terreno
ao mesmo tempo se encaixava e fortalecia a relação com a malha urbana envolvente.
Enquanto os diferentes ângulos criados pelos hexágonos combinavam com as
direcções das ruas e casas envolventes a malha ao estabelecer uma espécie de regra
por todo o terreno, facilitava a organização e hierarquização dos espaços, o que
perante um programa tão extenso, se tornou uma mais valia. “In the logic of the plan
what we call standardization is seen to be fundamental groundwork in architecture.”109
(Wright apud, Tagliari, 2011, p.107)
Esta espécie de regra funcionaria então como um ponto de partida, como se agora
pudéssemos encaixar o edifício em todo aquele labirinto de Alfama com sentido, com
uma base consistente, um ponto de partida. Deste modo, o plano modular hexagonal
permitiu facilmente resolver a “problemática” da configuração do terreno, onde as
células hexagonais ocupam a área do lote sem necessidade de se criarem ou
preencherem cantos, e as variações altimétricas acompanham as diferentes cotas das
ruas envolventes. Neste sentido, a malha hexagonal constribuiu, tal como no exemplo
da Casa em Sesimbra, para um dos principais objectivos deste projecto, o de dar ao
edifício um forte sentido telúrico.
Uma vez que se tratavam de módulos, estes podiam ser tratados individualmente, a
nível exterior e interior, e deste modo esta possibilidade permitia conferir-lhes
diferentes alturas , que para além de lhe conferir um sentido mais dinâmico e divertido,
também combinava com as variações altimétricas características da zona de Alfama.
Estas alturas não foram designadas ao acaso, elas acompanham o sentido de subida
das ruas e altura dos edifício envolventes. A única excepção acontece na rua inclinada
a partir da qual se faz o acesso à cobertura e respectiva sala de espectáculos, em que
a determinada altura os níveis altimétricos da cobertura do circo deixam de
109
“Na lógica do plano o que chamamos de padronização é visto como uma base fundamental na
arquitetura. " (tradução nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
160
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
acompanhar as cotas dos edifícios e começa a ter cotas mais baixas, acabando por
terminar ao nível da rua, tornando-se assim um espaço mais convidativo.
Na organização espacial interior, o uso da malha também funcionou como uma
espécie de experimentação no contexto do “habitar”, resultando igualmente numa
intenção de arriscar, onde tal Wright para a casa Hanna, a visão assentou numa
procura da melhor linguagem, da intenção de “criar” espaços amplos, fluidos,
harmoniosos, agradáveis e favoráveis às relações humanas. (apud, Pfeiffer, 1991,
p.44)
A nível interior tal como a nível exterior mostrou a malha hexagonal garndes
vantagens. Tal como no edifico do Caleidoscópio, houve uma procura direcionada ao
encontro de um partido arquitectónico que, para além de rigoroso cumprimento ao
programa e uma adaptação harmoniosa com a envolvente, também articulasse de
forma eficaz os espaços interiores e os fizessem resultar como um todo.
“ a malha representa uma base ordenadora não só em relação à definição dos
elementos resistentes e estruturais, como também em relação aos elementos
separativos que definem e compartimentam o espaço definido por esses elementos.
Isto é, para um programa diversificado, uma solução uniforme. (Palma de Melo apud
Costa, 1970, p.148).
Deste modo, apesar do tratamento interior ter sido mais contido como no edificio do
Caleidoscopio, assemelha-se ao Centro de Reabilitação do arquitecto Palma de Melo,
no sentido que tanto as paredes exteriores como as interiores assentam no
alinhamento produzido pela malha hexagonal, criando-se assim um efeito dinâmico em
zigzag com as paredes. Este aspecto é reforçado tal como no exemplo da casa Hanna
pelo desenho dos hexágonos no pavimento.
Ilustração 121 - Perspectivas tridimensionais do Chapitô. (ilustração nossa)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
161
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Relativamente à cobertura, esta foi sem dúvida a área mais interessante de se
projectar. Para a projecção deste espaço existiu uma imagem forte (ilustração 48) de
uma espécie de praça (de um projecto vencedor para o concurso internacional para
projectar a nova Câmara Municipal de Tallin, Estónia do edifício Tallinn Town Hall) que
se fez acompanhar desde a fase inicial à fase final. Deste modo houve quase que uma
tentativa de recriação desta ambiência na cobertura do Chapitô.
Nesta perspectiva, ainda que por mero acaso, a malha hexagonal mostrou-se
novamente uma mais valia. Desde os elementos repetitivos, à facilidade de distorção
dos hexágonos, estes permitiram facilmente recriar a essência da imagem de
referência. Ainda que mais pobre, o conjunto pretendido está presente, os espaços
percorríeis na cobertura, a variação de escalas, a sensação de aconchego criada pela
envolvência dos elementos e os pontos de miradouro e contemplação sobre o rio Tejo.
Na cobertura, da mesma forma que Bernini Beccafumi e os arquitectos da HTA
“brincaram” com as escalas hexágonos, neste exemplo também houve a possibilidade
de se “brincar” com a própria forma dos hexágonos, através da extensão de um dos
cantos formando-se “pontas ou bicos afiados”. Esta terminação vincada, para além de
ser mais alta na cobertura da área de espectáculo, confere-lhe uma aparência mais
divertida, dinâmica, leve e que ao mesmo tempo se relacionada com as alternâncias
das coberturas de Alfama. No exemplo do Centro de Reabilitação Palma de Melo
também pretendeu conceber um aspecto mais “leve” e dinâmico ao rematar as
coberturas dos hexágonos com diferentes alturas.
Ilustração 122 - Canto superior e inferior esquerdo: Vista da praça do edificio pTallin City Hall dos arquitectos dos arquitectos Bjarke
Ingels Group (BIG). (http://www.big.dk)
Canto superior e inferior centro e direito: vista da praça na cobertura do edifício para a escola do Chapitô. (ilustração nossa).
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
162
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
FUNCIONALIDADE
E FLEXIBILIDADE
Em todas as fases de desenvolvimento do projecto a malha hexagonal teve um papel
importante, à medida que surgiam os obstáculos, de uma forma ou de outra, esta foise mostrando-se uma óptima “aliada”, o aspecto funcional não foi excepção.
Neste exemplo pretendeu-se, projectar um edifício com um forte sentido telúrico, e que
ao mesmo tempo fosse resultante de ambientes interiores dinâmicos e variados, que
se revelassem também a nível exterior. Dessa forma, o arranjo exterior e interior, com
a irregularidade das paredes desenvolvidas a partir da malha hexagonal, com a
variação altimétrica dos planos, e jogo de volumes, enquadra-se harmoniosamente
com a heterogeneidade de Alfama, enquanto que os ângulos mais abertos dos
hexágonos e as paredes ritmadas em zigzag, marcam espaços mais amplos, variados
e dinâmicos. Neste sentido funcional o uso da malha hexagonal, representou uma
nova forma de investigar novos termos expressivos e funcionais, sempre com a
preocupação e finalidade de se criarem espaços e ambientes favoráveis às vivências e
relações humanas e tal como nuno Portas conferir aos espaços:
“ambientes variados e estimulantes à vida social da casa, […] ao encontro dos
conceitos de fluência de espaços não estanques, compostos de ambientes
diversificados pelos contornos, pelas variações altimétricas, por obturações focadas,
etc., mas ligadas com um sentido dinâmico, sugerindo o movimento dos seus
utentes.”(Portas, 1966, p.115)
Tal como no exemplo do Centro de Reabilitação, a questão da funcionalidade teve um
papel fundamental em todas as fases deste projecto, principalmente devido às
necessidades que as actividades exercidas neste necessitam. Deste modo, o plano
modular hexagonal permitiu uma maior liberdade na ordenação dos espaços e
assegurou facilmente a possibilidade de quaisquer alterações futuras.
Relativamente ao exterior a malha mostrou-se flexível relativamente à forma como
esta permitiu a adaptação tanto às diferentes direcções das casas circundantes, como
aos desníveis das ruas envolventes. O facto de se estarem a trabalhar com módulos
hexagonais também se mostrou uma mais valia pela possibilidade de se estipularem
diferentes alturas ao módulos em concordância com a altura das casas envolventes.
Os ângulos formados pelas paredes criaram, com a envolvente dinâmica, um conjunto
harmonioso.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
163
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Relativamente
à
organização
espacial
interior,
os
espaços
representaram
“interpretações” distintas consoante a área habitacional, escolar ou sala de
espectáculos.
Na área escolar a abordagem da malha, respectivamente à organização em módulos,
foi muito distinta da habitacional. De um modo geral na zona escolar a malha
hexagonal teve uma interpretação “modular”, um pouco idêntico ao edifício do
Caleidoscópio, em que cada espaço foi definido pela forma do hexágono e definido
pelas suas paredes, ou então pela união de mais do que um hexágono. As instalações
sanitárias, salas de aulas corresponderam a uma unidade hexagonal, a cantina, a
zona do bar, biblioteca e salas de convívio entre outras resultaram da união de mais
hexágonos. As áreas de circulação em vantagem deste tipo de interpretação foram
igualmente trataram-se de áreas amplas que se ligam abertamente, com todo o
“espaço de manobra” não havendo necessidade de se criarem corredores nem
espaços asfixiantes. Esta constatação vai ao encontro do que foi dito mais tarde pelo
arquitecto Pedro Oliveira110 relativamente às malhas hexagonais e ao seu bom
funcionamento na questão palaciana, em que os espaços são grandes, amplos e
sucedem-se entre si. .(Pedro Oliveira, entrevista, 15 Maio, 11:00)111
Na área habitacional, cada habitação corresponde a um hexágono, assim como a
caixa de escadas, já os espaços comuns como sala cozinha e lavandaria
correspondem à união de mais do que uma unidade. Todas estas áreas desenvolvemse em torno de um “alvéolo” central, correspondente a um pátio, que para além de
permitir entrada de luz natural, permite uma maior fluidez na circulação entre os
espaços e estabelece uma relação física e visual entre as áreas circundantes. Todas
as áreas possuem janelas orientadas para o pátio, o que para além da disposição em
“circulo” foram pensadas de modo a facultar a relação menos impessoal e mais
“familiar” entre os estudantes, professores e convidados. O facto de se tratar de uma
zona habitacional para estudantes circenses teve alguma influência nesta disposição,
uma vez que se trata de uma área em que os alunos estão acostumados a trabalhar e
treinar nas suas actividades em conjunto.
110
Arquitecto responsável pelo projecto de remodelação do edifício Caleidoscópio no novo Centro
Académico.
111
Entrevista disponível em apêndice. (Pedro Oliveira, entrevista, 15 Maio, 11h)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
164
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Este tipo de arranjo vai mais ao encontro do tratamento utilizado por Palma de Melo no
centro de Reabilitação, onde os três grandes hexágonos centrais servem de circulação
e acesso às áreas que o circundam, tornando a circulação fácil e fluida ao mesmo
tempo que estimula a relação entre as pessoas. Este aspecto de se criarem espaços
estimulantes às relações humanas também foi importante para Frank Lloyd Wright,
que na casa Hanna, projectou a sala como espaço principal estimulante e propricio às
relações humanas. “Better than the square, there are no protuberant corners. It all
flows…that flow movement is, in this design, a characteristic lending itself admirably to
life, as life is to be lived in.”112 (apud Pfeiffer, 1991, p.44)
Na cobertura, o arranjo espacial, foi talvez o mais divertido de todo o projecto.este
espaço que funciona como uma espécie de praça , é ainda complementado pela sala
de espectaculos e um bar de apoio.
A sala de espectáculos é um espaço amplo organizada a partir de um conjunto de 9
hexágonos. Na organização deste espaço a malha hexagonal foi dividida a meio e
criou-se um espaço interior simétrico. Deste modo a entrada pode ser efectuada por
ambos os lados da sala através de um hexagono, de ambos os lados que marcam
uma entrada ampla e convidativa, efectuada através de umas largas escadarias.
Ilustração 123 - Planta esquemática. Vermelho: pátios exteriores (elementos centrais de acesso às áreas circundantes - organização
idêntica ao Centro de Reabilitação); azul área habitacional; verde: área escolar; laranja: área escolar (organização espacial idêntica ao
Caleidoscópio). (ilustração nossa)
112
O que Wrigt pretendia dizer era que “a malha hexagonal aptava-se ao movimento humano melhor do
que as formas geométricas quadradas, que nesta os espaços fluíam, e que fluxo e movimento presentes
no projecto eram uma característica que se emprestava admiravelmente à vida, como se a vida fosse
para ser vivida dentro.” (tradução nossa)
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
No interior da sala de espectáculos, as plateias foram dispostas de ambos os lados e
ao centro formando uma espécie de semicírculo. Ao fundo da sala existe um camarim
em cada um dos lado e ao centro o palco completado com um pano de fundo
deslumbrante de uma vista sobre a cidade e o rio Tejo.
A restante área da cobertura, é talvez o espaço onde a malha hexagonal se torna mais
claro, onde os hexágonos distinguem-se na sua maioria ao assumirem alturas
distintas. este aspecto aliado à distorção em pontas das terminações da cobertura
ajudam a evidenciar a flexibilidade deste tipo de malha.
Os restantes hexágonos, são planos e funcionam como uma espécie de praça. Esta
praça por sua vez é delimitada pelas saliências dos hexágonos envolventes, que para
alem de criarem um jogo dinâmico com a variaçºão de alturas. No final da praça ou
desta espécie de percurso, os visitantes podem-se deixar surpreender com uma
contemplação sobre o rio Tejo.
Relativamente aos materiais aplicados estes foram essencialmente dois, o betão e o
vidro, o uso do vidro foi aplicado em todas as fachadas fortalecendo a relação visual
com o exterior, e criando uma maior proximidade com toda a área envolvente.
De um modo geral o tipo de abordagem feita no projecto da escola para o Chapitô em
relação à malha hexagonal foi mais idêntico em alguns aspectos ao projecto do
Caleidoscópio e ao Centro de Reabilitação.
Relativamente ao exemplo de Frank Lloyd Wright a escola do Chapitô foi nitidamente
mais pobre. Ccontudo o desenvolvimento deste projecto ajudou a um melhor
entendimento de alguns aspecto citados por Wright, quando afirma que os hexágonos
permitem explorar um plano espacial mais aberto e livre onde as paredes se
encontram umas com as outras em ângulos de 120º, uma maior fluidez e uma maior
disponibilidade para o crescimento, de uma forma geral no arranjo espacial e
particularmente nos espaços de circulação, não existem corredores, todos os espaços
são amplos, as células hexagonais sucedem-se sem interrupções. (apud Pfeiffer, ,
p.174)
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 124 - Perspectivas do modelo tridimensional da sala cobertura e interior da respectiva sala de espectáculo. (ilustração
nossa)
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
5. ANALOGIAS DOS CASOS DE ESTUDO
Os projectos em análise comparativa neste capítulo, são referentes aos casos
estudados com aplicação da malha hexagonal a nível espacial.
Nomeadamente o exemplo do capitulo I da “Casa Hanna de Frank Lloyd Wright, do
capítulo II os três casos de estudo do “Edifício Caleidoscópio” de Nuno San Payo,
“Centro de Reabilitação Calouste Gulbenkian“ do arquitecto Palma de Melo e a
“Casa em Sesimbra“ de Teotónio Pereira e Nuno Portas. Por último em analogia aos
restantes casos estudados do capítulo III, o projecto desenvolvido na cadeira de
Projecto III no 5º ano, a “Escola e Residência Chapitô”.
Em todos os casos de estudo os motivos que influenciaram os arquitectos a
adoptarem a malha hexagonal foram vários. Entre eles podemos identificar a influência
da envolvente natural, onde os efeitos dinâmicos como no exemplo das paredes em
zig-zag se relacionam com a envolvente orgânica; na “espécie” de regra e base
ordenadora que a matriz estabelece por todo plano, e a liberdade e abertura que os
ângulos de 60 e 120 graus proporcionam, aliados a uma boa funcionalidade e
dinâmica; na intenção de inovar; por influência de uma configuração irregular ou uma
pendente acentuada do terreno, por mera experimentação, opção, ou até pela
combinação de alguns destes fundamentos.
Entre todos os casos estudados, a casa Hanna teve uma especial importância. Entre o
vasto reportório de projectos desenvolvidos sobre planos modulares hexagonais de
Frank Lloyd Wright, o projecto “Hanna House”, apesar de entre os projectos
analisados “a nível espacial” nesta dissertação ser o mais antigo, retrata o exemplo
mais ousado e inovador. A residência Hanna representa a intenção de F.L.Wright de
quebrar com o formato “caixa” e os ângulos rectos, substituindo-os pelos ângulos de
60 e 120 graus dos hexágonos, possibilitando uma maior fluidez e maior
disponibilidade para o crescimento, mais propícios às vivências e relações humanas,
criando assim novas e melhores formas de habitar.
Neste seguimento, representando um dos melhores exemplos, este projecto funcionou
como uma espécie de motor de “arranque” para os casos de estudo apresentados no
capítulo II e o projecto de 5º ano apresentado no capítulo III.
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
169
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Deste mdo os casos de estudo em Portugal foram analisados, não cronologicamente,
mas antes como uma espécie de hierarquia, do que menos remete ao projecto de
Wright ao que mais se aproxima, ou seja, do projecto que mais se manteve “preso” à
malha ao que mais se libertou e tirou partido do conjunto de possibilidades que esta
permite proporcionar. Com isto, não se pretende mostrar preferencialíssimos nem uma
atitude tendenciosa, mas antes interpretar as diferentes abordagens dos arquitectos
perante o mesmo princípio modular.
À partida podíamos assumir que partindo da mesma base modular, o resultado ou
aspecto final dos projectos fossem semelhantes, mas o facto de todos estes exemplos
partirem do mesmo princípio e partilharem o mesmo ponto em comum, não implica
que o seu resultado final seja semelhante, ou remeta a um outro do mesmo “carácter”.
A intenção independente dos arquitectos é que determina o uso espacial que retiram
desta. Ou seja, apesar de se desenvolverem a partir de um plano modular idêntico,
existem um conjunto de elementos que variam de projecto para projecto conferindolhes diferentes aspectos. Nomeadamente, o programa e respectiva funcionalidade e
extensão do programa, o terreno de implantação e as respectivas características que
lhe são inerentes e acima de tudo a intenção, experiência e influências do arquitecto.
De uma forma geral em todos os casos estudados os conceitos que levaram os
arquitectos a adoptarem a malha hexagonal foram muito idênticos. Em todos os casos
uma das fortes influências foi a envolvente orgânica, à excepção da “Escola do
Chapitô”, onde a influência foi a envolvente dinâmica e heterogénea de Alfama. Nesse
sentido em todos os exemplos a malha ajustou-se e combinou na perfeição com a
envolvente natural.
Existiram ainda outros aspectos aliados a este que levaram ao uso da malha
hexagonal. No exemplo da casa Hanna, Wright pretendeu quebrar com os ângulos
rectos, pois acreditava que os ângulos de 45º eram protuberantes e os ângulos de 60
e 120 graus dos hexágonos, mais orgânicos, permitiam que os espaços fluíssem entre
si e fossem melhores para as relações humanas. Semelhante a este, na casa em
Sesimbra Nuno Portas, inspirou-se em Wright e em particular na casa Hanna, porque
acreditava que esta representava o que o arquitecto pretendia proporcionar, um novo
e melhor conceito de habitar. Este aspecto, relativamente à tentiva de se criarem
melhores formas de se habitar, de certo modo vai ao encontro da intenção do
arquitecto Palma de Melo que usou a malha hexagonal também com o intuito de criar
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
170
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
espaços mais “saudáveis”, agradáveis e propícios à recuperação das crianças distante
do ambiente hospitalar.
Relativamente à organização espacial, entre todos os casos estudados o
Caleidoscópio, apesar de ter sido projectado harmoniosamente com o conjunto verde
do campo grande, limitando-se à forma da planta em “L” trata-se do exemplo mais
contido e preso à trama. Este aspecto torna-se mais interessante quando comparado
com a exemplo da “Casa Hanna” de Wright, que desenvolvendo-se igualmente numa
planta em “L”, apresenta um aspecto muito mais amplo e liberto, onde os hexágonos
se espalham pelo terreno de forma harmoniosa e orgânica, como se as células se
fossem espalhando e apoderando do terreno.
À partida podíamos assumir que estas divergências entre ambos os projectos teriam
alguma influência das variações de escalas usadas na matriz, uma vez que ambas
possuem diferentes proporções, ou seja, enquanto no edifício Caleidoscópio um
módulo hexagonal corresponde a áreas maiores como lojas, armazéns entre outros,
na residência Hanna, Wright usou uma escala menor, onde são precisos um conjunto
de hexágonos para formarem pequenas áreas. A escala mais reduzida adoptada pelo
arquitecto
americano realmente reflecte uma maior
liberdade e cria mais
possibilidades, no entanto, será esta divergência entre escalas um factor
condicionante na liberdade de abordagem da malha?
Ilustração 125 - Planta piso 2 do projecto para a Escola do Chapitô desenvolvido no 5º ano (ilustração nossa)
Ilustração 126 - Planta de enquadramento da casa Hanna de Frank Lloyd Wright. (Zevi, 1995, p.174)
Ilustração 127 - Planta piso -1 do edifício Caleidoscópio de Nuno San Payo (piso do cinema). (
Ilustração 128 - Planta de enquadramento do Centro de Reabilitação. De Palma de Melo. (APPC, 1970, p.15)
Ilustração 129 - Piso Superior da casa em Sesimbra de Nuno Teotónio e Nuno Portas. (Portas, 1966, p.116)
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Se observarmos o segundo caso de estudo do Centro de Reabilitação, podemos
notar que o arquitecto Palma de Melo usou uma escala muito idêntica à de Nuno San
Payo no Caleidoscópio, mas que ainda assim comparativamente a este, tanto a nível
exterior como interior, demostra uma maior dinâmica e fluência tanto em relação com
os espaços exteriores envolventes como entre os espaços interiores. Ou seja, a
diferença de tamanho entre as matrizes não parece relacionar-se com o facto do
edifico se encontrar mais “fechado” ou “contido”, mas
está dependente antes na
atitude e intenções do arquitecto. Os dois exemplos possuem analogias interessantes.
Enquanto exteriormente o Centro de Reabilitação tem um aspecto mais orgânico e
livre, remetendo à casa Hanna, onde os hexágonos se espalham pelo terreno de
forma natural, no Caleidoscópio o aspecto é encerrado e compacto devido à limitação
da planta em “L”, que se desenvolve em dois pisos acima do piso térreo, conferindolhe um aspecto mais pesado.
O Centro possui ainda um aspecto exterior mais leve, reforçado pela variação de
alturas dos elementos hexagonais e pelo remate das janelas no topo das paredes que
contornam a maior parte do edifício, que para além de permitirem jogos de luz natural
nos espaços interiores, retiram o peso da estrutura, dando a sensação das coberturas
se encontrarem elevadas. Já no Caleidoscópio acontece precisamente o oposto, o
topo das paredes também são rematadas, mas invés de janelas possui uma espécie
de bainha saliente que também contorna todo o edifício conferindo-lhe um aspecto
mais grosseiro e “pesado”.
Outro dos aspectos que contribui para o encerramento do edifício do Caleidoscópio
são as escassas aberturas para o exterior, daí o arquitecto Pedro Oliveira, responsável
pelo novo projecto de reabilitação do centro comercial ter proposto mais e maiores
aberturas para o exterior numa tentativa de aumentar e melhorar a relação com o
jardim. A nível interior é interessante notar o arranjo espacial, uma vez que ambos os
que tanto Nuno San Payo como Palma de Melo fazem uma abordagem “modular” da
malha, onde cada hexágono representa um espaço. No Caleidoscópio espaços como
armazéns ou lojas correspondem a um ou mais módulos hexagonais tal como no
Centro de Reabilitação, as células hexagonais dão lugar a salas de terapia consulta ou
apenas de circulação.
No entanto, enquanto no Caleidoscópio os pilares se encontram aos cantos dos
hexágonos reforçando a forma sextavada, ao mesmo tempo limitam as possibilidades
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
de outras configurações, no Centro de Reabilitação, os pilares situam-se ao centro,
permitindo criar espaços mais amplos e de maior fluidez entre eles. Este último
influenciado pelo programa, foi organizado deste modo em grande parte pela intenção
do arquitecto de proporcionar espaços de circulação ininterruptos com vista a melhorar
a qualidade de vida das pessoas que vivenciam estes espaços, tanto das crianças a
reabilitar como dos profissionais e pais que as acompanham em todo o processo.
O facto deste se desenvolver unicamente no piso do rés-do-chão e possuir grandes
“paredes envidraçadas” que permitem o acesso a terraços exteriores que circundam o
edifício, tal como a casa Hanna, aumentam e fortalecem a relação com o exterior ao
mesmo tempo que enriquecem o ambiente interior.
Entre os casos de estudo em Portugal, o Centro de Reabilitação, relativamente à
liberdade com que o plano foi trabalhado, encontra-se no “meio”, sendo menos contido
que o Caleidoscópio que se manteve muito preso à malha e mais contido que a casa
em Sesimbra, que inspirada na casa Hanna representa um projecto mais liberto da
matriz hexagonal.
A Casa em Sesimbra, construída em 1963, com desenho e concepção dos
arquitectos Nuno Portas e Teotónio Pereira, assume a sugestão didáctica da fase
“Hanna House” de Frank Lloyd Wright, numa geometria em hexágonos, muito ao gosto
e sensibilidade de Nuno Portas.
Esta representa, apesar de mais pobre, o caso de estudo em Portugal mais liberto da
malha, em que o arquitecto não interpretou matriz como um conjuntos de módulos,
mas antes um conjunto de possibilidades. Pelas influências em Wright, este projecto
dos arquitectos Teotónio Pereira e Nuno Portas, possui vários pontos em comum com
a casa Hanna. Tal como esta, na casa em Sesimbra o ângulo recto, frio e racionalista,
deu lugar às geometrias oblíquas, do tipo “colmeia”, capazes de introduzir
complexidades e contradições na sua leitura, nesta foi também usada uma escala
mais reduzida na malha, permitindo maiores variações e possibilidades de
organizações espaciais, com a intenção de proporcionar ambientes variados e
estimulantes à vida social da casa e com esta linguagem mais expressiva um novo
“conceito” de habitar. A casa em Sesimbra também se desenvolveu em planos
escalonados como constatação que a hexagonal se adaptava muito bem ao declive,
possibilitando uma volumetria fraccionada de encaixe dos volumes uns nos outros,
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
proporcionando um prolongamento entre o espaço exterior e interior e assegurando
uma continuidade com o terreno, um dos princípios de concepção desta habitação.
“arriscámos uma estrutura celular no sentido literal ou orgânico do termo, seguindo, […]
a irresístivel sugestão didáctica da fase “Hanna House” de F.L.Wright – como para
saber se o dinamismo formal da construção da planta asseguraria, pelo carácter
sistemático e animado, pelas diferenças de nivéis, um sentido de continuidade a todo o
ambiente, desde as células encerradas aos espaços mais abertos.” (Portas, 1966,
p.115)
A nível interior o plano desenvolve a partir de uma escala da malha quase idêntica,
onde ao da casa Hanna, onde a sua organização, apesar de mais pobre, pretende
criar a atmosfera anteriormente criada por Wright. Neste exemplos os espaços
sucedem-de forma fluida sem grandes interrupções, onde a área social não interfere
com as zonas mais íntimas da casa.
Por último, desenvolveremos uma pequena síntese e análise comparativa ao projecto
desenvolvido na cadeira de Projecto. Entre todos casos, o projecto para a Escola do
Chapitô é o que possui o programa mais extenso. Durante a execução do projecto dois
dos desafios principais relacionaram-se primeiro em conciliar este programa XXL no
mesmo edifício e em segundo desenvolver esse mesmo edifício sobre uma malha
hexagonal.
Tal como já foi referido um dos motivos que influenciaram ao uso da malha hexagonal,
ao contrário dos restantes casos estudados, não foi o de fortalecer a relação do
edifício com a envolvente natural, mas antes com a envolvente heterogénea de alfama
e toda a dinâmica que lhe é inerente. Neste contexto a trama ajustou-se na perfeição,
onde o jogo dinâmico das paredes em zig-zag assim como as diferentes alturas
combinam com todas as irregularidades e movimento dos edifícios circundantes.
Com uma escala da malha proporcional à usada nos exemplos do Caleidoscópio e do
Centro de Reabilitação, a abordagem foi, também esta, mais idêntica a estes dois
casos. Devido à grande escala, exteriormente esta noção dos hexágonos perde-se
ganhando-se uma maior consciência destes na cobertura uma vez que estes são
demarcados no pavimento das áreas percorríeis, já a nível interior estes tornam-se
mais evidentes sendo reforçados pelas direcções das paredes interiores.
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Relativamente ao aspecto exterior, a grande escala do edifício, apesar da dinâmica
formada pelas paredes, conferia-lhe um ar pesado. Deste modo, contrariamente ao
Caleidoscópio, com um ar mais grosseiro pelas escassas aberturas para o exterior, no
edifício do Chapitô, pensou-se que a solução seria exactamente criar mais aberturas,
espécies de “paredes envidraçadas” para uma maior relação com o exterior. este
aspecto é ainda reforçado na cobertura, na terminação dos hexágonos a diferentes
alturas, assim como as terminações em formas “pontiagudas” criando a sensação de
movimento e um aspecto mais “leve” e divertido. Esta tentativa de se garantir um ar
mais “leve” ao edifício também se notou no Centro de Reabilitação, no entanto o
arquitecto optou pela solução de elevar os elementos hexagonal.
A nível interior, este projecto representou uma interpretação da malha hexagonal
bastante diferente à de Frank Lloyd Wright na casa Hanna ou de Nuno Portas na
habitação em Sesimbra. Tal como já foi referido, a abordagem espacial do plano
manteve-se presa aos hexágonos, remetendo tanto ao edifício do Caleidoscópio como
ao Centro de Reabilitação. Na área escolar, a organização dos espaços foi mais
idêntica ao edifício do Caleidoscópio, no entanto as áreas dos pátio exteriores
remetem ao edifício do Centro de Reabilitação, uma vez que estes pátios funcionam
como uma espécie de “centro” de ligação a diferentes áreas. Na área habitacional
esse aspecto torna-se mais evidente porque a disposição das habitações, como da
cozinha e sala encontram-se organizadas em torno deste pátio central, uma
organização semelhante aos hexágonos centrais que no Centro de Reabilitação
funcionam como centros de fluidez que facultam o acesso às diferentes áreas.
Ilustração 130 - Planta esquemática do edifício Caleidoscópio. Laranja: tratamento modular. (ilustração nossa)
Ilustração 131 - Planta esquemática do Centro de Reabilitação. vermelho: principais centros para acesso aos restantes espaços;
verde: espaços ligados aos centros de acesso. (ilustração nossa)
Ilustração 132 - Planta esquemática projecto da escola para o Chapitô. Laranja: tratamento modular; vermelho: pátios exteriores que
funcionam como centro de acesso a diferentes áreas (tratamento idêntico ao do Centro de Reabilitação); verde: áreas ligadas aos pátios
de acesso. (ilustração nossa)
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Perante o conjunto de habitações às salas de aulas este tratamento modular fazia todo
o sentido, pois para além de organizar quase que automaticamente todas as áreas,
através da anulação de alguns elementos hexagonais o surgimento desta espécie de
pátios por sua vez iluminam os espaços, resolvendo deste modo uma das maiores
preocupações que era a questão da iluminação natural no edifício nas áreas menos
privilegiadas. Para além desta abordagem modular “soar” mais conveniente alia-se a
uma sensação de maior segurança, pois através desta interpretação e organização
mais “agarrada” à malha cria-se um maior controle dos espaços, quer na disposição
ou na relação entre eles.
Resumidamente, cria-se um maior sentido de segurança e conforto em manter esta
lealdade com a matriz, porque estabelece automaticamente uma espécie de base
regrada e geradora. Neste sentido, sentiu-se que a “condicionante” do programa foi o
factor que mais contribuiu para este resultado, no entanto, depois de todos os estudos
efectuados para esta dissertação, hoje a abordagem seria provavelmente diferente,
com uma atitude mais inovadora, numa tentativa de criarem espaços com maior
capacidade s de surpresa e liberta da trama, especialmente os espaços interiores.
Com base na perspectiva destas analogias podemos referir que, em todos os
exemplos a malha demonstrou um vasto conjunto de potencilalidades como: a
harmonia com envolventes orgânicas e dinâmicas; a regra que estabelece por todo o
terreno; os diferentes ângulos permitem seguir varias direcções, criando-se espaços
mais ricos, dinâmicos, mais harmoniosos fluidos e favoráveis às relações humanas;
permite a adaptação a terrenos irregulares; cria uma espécie de “sentido de unidade”
por todo o edificio;
Deste modo podemos então concluir que a apesar de todos os edifícios partirem do
mesmo principio gerador, não implica que o resultado final seja idêntico. A
interpretação tirada da malha, assim como o resultado vão sempre depender de um
conjunto de factores, como do programa, envolvente, características do terreno,
influências e experiência e intenções do arquitecto.
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
6. CONCLUSÃO
Considerações Finais
A presente dissertação, não pretendendo assumir um carácter científico, constitui, em
todo o caso um momento de reflexão pessoal sobre o tema da malha hexagonal na
arquitectura. Tema este, que tal como já foi referido anteriormente, surgiu no
seguimento do projecto desenvolvido na disciplina de Projecto III, em que todo o
programa proposto se desenvolveu a partir de uma plano modular hexagonal.
A estrutura hexagonal, considerada por muitos uma estrutura cativante, complexa e
forte, despertou a atenção de arquitectos e tem vindo ser aplicada na arquitectura a
nível decorativo, estrutural e espacial, com o intuito da melhoraria dos seus
projectos. Nesta conclusão pretendemos essencialmente entender quais são as
principais vantagens e potencialidades aliadas à malha hexagonal.
Nesta perspectiva, o I capitulo foi subdividido nas três diferentes aplicações.Numa
primeira parte abordou-se a malha aplicada a nível decorativo, onde foram
escolhidos exemplos do barroco, onde artistas como Beccafumi, Bernini e Borromini
se valeram da trama hexagonal pelo seu cariz atraente e especialmente pela sua
capacidade de acomodação às formas curvas das cúpulas.
Inspirados nestes autores, numa segunda parte surgem exemplos a nível estrutural
onde a malha para além de cativante, demonstrou uma fácil adaptação às formas
elípticas desenvolvidas por Buckminster Fuller e Nicholas Grimshaw, formando fortes
estruturas de rápida, económica e fácil construção, e um óptimo comportamento
sísmico e contra ventos fortes nas estruturas desenvolvidas pela associação HTA.
Na terceira e última parte do capítulo I, assim como no II capítulo, foram analisados
projectos que tal como o projecto desenvolvido na cadeira de Projecto III usaram a
aplicação da malha hexagonal a nível espacial.
Numa curta análise comparativa sem nenhum tipo de intenção tendenciosa, entre
todas as abordagens estudadas na dissertação o exemplo da casa Hanna de
F.L.Wright representou, apesar do mais antigo, o projecto mais inovador servindo
ainda nos dias de hoje como referência na história da arquitectura. Já o exemplo do
Caleidoscópio, que usou a malha hexagonal com a intenção de fortalecer a relação do
edifício com a envolvente orgânica do parque, foi o projecto que mostrou a atitude
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
menos inovadora, mostrando um arranjo espacial mais contido e preso à malha, onde
o arquitecto interpretou a matriz como um conjunto de módulos.
Com uma interpretação idêntica, mas mais livre e orgânica temos o exemplo do Centro
de Reabilitação que apesar da abordagem modular foi bastante mais ampla e a
relação entre os espaços mais fluida. Neste exemplo a intenção do arquitecto ao usar
a malha hexagonal foi a de ultrapassar o meio ambiente hospitalar, procurando antes
proporcionar um ambiente aberto e estimulante de relações humanas, permitindo mais
possibilidades e criar um espaço mais “divertido” para as crianças.
Já no exemplo da casa em Sesimbra, com influências de Nuno Portas em Wright, a
interpretação desta foi muito idêntica à da casa Hanna, onde a malha não foi
interpretada como um conjunto de hexágonos, mas antes como um conjunto direcções
e possibilidades no arranjo espacial. Este exemplo, entre os casos estudados em
Portugal representa a atitude mais inovadora, aproveitando melhor todas as
potencialidades que o plano modular lhe permite. Com o uso da malha os arquitectos
Teotónio Pereira e Nuno Portas, tal como Wright pretenderam quebrar com os ângulos
rectos e monótonos substituindo-os pelos ângulos de 60 e 120 graus dos hexágonos,
mais propícios às vivências e relações humanas. Deste modo criaram novas e
melhores formas de habitar, sugerindo uma nova forma de entender o espaço e
transmitindo novidade e progresso à vida quotidiana dos utentes. O uso da malha
representou uma procura “da melhor linguagem, de mais expressivas, maneiras de
dizer ou, menos literalmente, os meios formais mais capazes de dar, ou designar,
espaços que fossem entendidos como sinais de certas intenções de vida.” (Portas,
1966, p.115)
Entre todos os caso de estudo, o edifício da escola do Chapitô relacionou-se com
especialmente com o projecto do Caleidoscópio e o Centro de Reabilitação Calouste
Gulbenkian. De um modo geral menteve uma interpretação modular mais idêntica ao
Edificio do Caleidoscópio e ao mesmo tempo na zona habitacional uma organização
mais liberta, fluida com vista na melhoria das relações humanas mais idêntica ao
Centro de Reabilitação. Comparativamente ao exemplo da casa Hanna e da Casa em
Sesimbra foi bastante mais pobre, relativamente à exploração das potencialidades
que a malha podia proporcionar. Ainda na Escola do Chapitô a malha hexagonal foi
“adoptada” especialmente pela relação que estabelecia com a envolvente dinâmica de
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Alfama, pela base regrada que gerou, e possibilidade de criar diferentes espaços, mais
divertidos relacionados com as actividades da escola de circo
Com base no estudo dos diferentes projectos, podemos concluir de forma sucinta que
apesar de todas as condicionantes que podem envolver o tipo de interpretação
retirados das malhas, a malha hexagonal aplicada a nível espacial não representa um
factor limitativo. Pelo contrário, esta demonstrou várias potencialidades: na harmonia
que estabelece na relação com envolventes orgânicas e dinâmicas; na adaptação a
terrenos desnivelados; na base ordenadora que estabelece por todo o plano
prestando-se a várias direcções; na espécie de “sentido de unidade” que estabelece
por todo o edifício; na liberdade e fluidez que proporciona entre espaços, assim como,
mais variantes, mais saídas e oportunidades;
por ultimo na possibilidade de se
criarem diferentes e melhores formas de habitar.
Deste modo podemos ainda concluir que, o facto de todos estes exemplos partirem do
mesmo plano modular hexagonal, não implica que o seu resultado final seja
semelhante, ou remeta a um outro do mesmo “carácter”. Ou seja, apesar de todos os
exemplos se desenvolverem a partir da malha hexagonal e das potencialidades que
este tipo de plano facultam, existem um conjunto de elementos que variam de projecto
para projecto que interferem no modo como a malha é trabalhada conferindo-lhes
diferentes aspectos. Nomeadamente, o programa, o terreno de implantação e as
respectivas características que lhe são inerentes e acima de tudo a intenção,
experiência, influências e sensibilidade do arquitecto. Tal como Nuno Portas referiu, a
malha por si só não se trata de um instrumento automático ou mágico, como não lhe é
também indiferente, ou seja, a malha estabelece uma espécie de regra ou base
geradora por todo o plano, mas esta por si só não define o edifício, o que o vai definir
é a intenção com que esta surge e o tipo de abordagem ou linguagem de cada
arquitecto. (apud Pereira, 2011, p.169)
A dissertação desenvolvida foi muito enriquecedora, permitiu alargar a visão do mundo
da arquitectura, de percecionar diferente métodos, outras visões, intenções e
interpretações das malhas hexagonais na arquitectura. Todo o trabalho desenvolvido,
antes e durante a dissertação, mostrou-se um desafio, mas ao mesmo tempo bastante
enriquecedor. Apesar da dissertação se resumir a uma centena de paginas, esta
demonstra apenas uma pequena parte do que foi aprendido, e neste sentido, o mais
importante não é o destino, mas sim a viagem.
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Bibliografia
Monografias
BARDESCHI, Marco Dezzi (1980) – Frank Lloyd Wright: I Maestri del Novecento.
Florença: Sansoni editore nuova S.p.A
CONSIGLERI, Victor (1970) – A Morfologia da Arquitectura. Local: Estampa vol.II 2ª
ediçao
BENYUS, Janine M. (1997) – Biomimicry: Innovation Inspired by Nature. New York:
Quill
BRUNES, Tons (1967) - The Secrets of Ancient Geometry : and its use. Copenhagen.
Rhodos
FORD, Edward (1990) - The Details of Modern Architecture. Cambridge, MA: The MIT
Pres. P.334-338.
GREENBERG, M. (1994) - Euclidean and non Euclidean Geometries: development
and history. New York: Freeman and Company.
HOFFMANN, Donald (1986) – Frank Lloyd Wright: Architecture and Nature. New York:
Dover Publications
HTA, Association (2008) – Honeycomb Tube Architecture: The Spatial Potentialities of
Hexagons. Tóquio: SHIKENSHIKU-SHA
HTA, Association (2011) – Honeycomb Tube Architecture Technology. Tóquio:
SHIKENSHIKU-SHA
MENOCAL, Narciso G (1981)– Architecture as Nature: the transcendentalist Idea of
Louis Sullivan. Madison: The University of Wisconsin Press
OTTO, Frei (1985) – Architecture et Bionique Constructions Naturelles. Paris:
Delta&Spes
PAPPAS, Theoni (1998) - Fascínios da Matemática,1.ª Edição, Coimbra: Editora
Replicação, Lda
SAUNDERS, William S. (1990) – Modern Architecture. Nova Iorque: Harry N. Abrams
Publishers. P.75
STORRER, William Allin (1979) - The architecture of Frank Lloyd Wright: a Complete
Catalog. 2ª ed., Cambrigdge MA: MIT Press
SENNET, R. (1990) - The Conscience of the Eye: the design and social life of cities.
New York : Random House.
STORRER, William Allin (1993) - The Frank Lloyd Wright Companion. Chicago: The
University of Chicago Press
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187
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Apêndices
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
1.1.
Lista de Apêndices
Apêndice A - Caleidoscópio - Entrevista ao arquitecto Nuno San Payo.
Apêndice B - Caleidoscópio -Entrevista ao arquitecto Pedro Oliveira.
Apêndice C - Projecto .III – 5º ano – “Escola e Residência hapitô”
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
APÊNDICE A
Caleidoscópio – Entrevista ao arquitecto Nuno San Payo
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CALEIDOSCOPIO – CASO ESTUDO
Entrevista ao arquitecto Nuno San Payo (27 Março 2012 14:00)
- O que o levou a desenvolver o projecto sob um plano modular hexagonal?
O hexágono surgiu de uma forma quase que instantânea, intuitiva, devido à
configuração do terreno, da envolvente orgânica do parque e pela forma circular do
lago.
-Porque escolheu a forma hexagonal como plano modular e não a triangular ou
quadrada?
Entre a forma quadrada ou triangular, a hexagonal não nos limita tanto, o hexágono
presta-se a várias direcções sem ser apenas as ortogonais, pemite-nos fantasiar.
-Que facilidades lhe trouxe a aplicação desta malha hexagonal?
A mlaha hexagonal, dá-nos uma maior liberdade, mais variantes, mais saídas e
possibilidades.
- A função do edifício teve alguma influência na escolha da malha hexagonal
como plano?
Sim, sem dúvida. Se se tratasse de um edifício de escritórios, com certeza não teria
seguido esta ideia, a função do edificio permitiu-me usar a mlaha em hexagonos e
tornar o projecto mais divertido.
-Já havia usado alguma vez a forma hexagonal anteriormente em algum projecto
anterior?
Sim, uma vez numa habitação no Estoril cheguei a usar o hexágono como remate.
Também foi uma experiência engraçada.
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
- Foi a influência de algum arquitecto em especifico ou algum tipo de inspiração
que o levaram a usar este tipo de malha?
Não, usei-o de uma forma muito natural e intuitiva. Comecei por traçar algumas
diagonais relacionadas com alinhamentos envolventes, que me levaram à forma
repetida de hexágonos e à malha hexagonal. A malha demonstrava as qualidades
necessárias para o local e o programa e por isso decidi partir daí.
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
APÊNDICE B
Caleidoscópio -Entrevista ao arquitecto Pedro Oliveira
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Entrevista ao arquitecto Pedro oliveira
Já alguma vez tinha trabalhado a partir de algum plano modular hexagonal?
Não, foi a primeira vez. Trata-se de uma “coisa” que tendencialmente não faria. No
entanto tratou-se de uma experiência interessante, enriquecedora e divertida.
Já tinha vivenciado algum espaço organizado espacialmente com base em
hexágonos?
Se não, qual foi a primeira sensação que reteve da primeira
experiência?
Não. Os elementos hexagonais proporcionam sensações engraçadas. Quando vi o
projecto pela primeira vez e isso é muito interessante o hexágono cria uma sensação
de quase como se desmontasse a geometria. Ou seja, só em planta é que consegui
perceber como era o edifício, quando o visitei não conseguia perceber exactamente
onde é que ele acabava e qual a direcção que tomava. Mesmo no interior não é
evidente.
Como foi a experiência de trabalhar sobre uma malha hexagonal? Acha que de
alguma forma este tipo de plano lhe facilitou a adaptação do espaço ao novo
programa, à sua nova função? Facilitou a reabilitação, ou seja, a adaptação dos
espaços às novas funcionalidades?
Eu acho que iria ter exactamente os mesmos problemas se tratasse de uma malha
ortogonal. No entanto o facto de se tratarem de hexágonos, permitem uma maior
capacidade de surpresa nos espaços, criam-se espaços mais dinâmicos e divertidos e
ao mesmo tempo funcionam bem, uma vez que quando se faz uma abordagem fiel
aos elementos hexagonais, estes “obrigam” a criarem-se espaços mais amplos.
O ponto de partida foi limpar do edifício tudo aquilo que eram acrescentos, deixando
apenas a estrutura “no osso”, mais idêntica ao aspecto original do que era edifício. A
partir daí tentou-se perceber como é que conseguíamos encaixar o programa naquele
tipo de plano modular. Quanto à questão do hexágono é mais o que ele provoca ,
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
deixa de haver plano/linhas direitas e passam a haver linhas quebradas. Portanto a
questão do hexágono, a questão desta métrica, desta matriz tão regular, o facto de se
tratar de uma malha hexagonal cria alguma capacidade de surpresa nos espaços.
No fundo a ideia do projecto quando chegamos ao edifício foi por um lado limpar tudo
o que eram acrescentos. Aliás é interessante analisar as primeiras plantas, em que se
percebe que os desenhos estavam muito mais ligados à lógica do hexágono e do
triângulo. Com o passar do tempo e os posteriores acrescentos essa logica que se
notava de forma evidente foi-se desfazendo. Deste modo, o que propusemos foi pôr a
estrutura o mais próxima àquilo que era a estrutura original, tornar a estrutura o mais
visível possível, tanto nas coberturas, nas lajes como nos próprios espaços. A partir
daí tentar organizar o programa dentro dessa mesma lógica, onde alguns dos espaços
mantiveram funcionalidades semelhantes.
O projecto encontra-se agora numa segunda fase em que já ocorreram algumas
alterações, como por exemplo o restaurante que estava no 1º andar e passou para o
rés-do-chão, mas sempre com o mesmo objectivo de tentar manter ao máximo aquilo
que já existia. Apesar da alteração da localização do restaurante (que mudou uma
série de coisas) vão ocorrer algumas mudanças significativas, mas quanto a esta
questão não se pode desenvolver muito mais pois estas alterações ainda se
encontram em “standby” à espera de resposta. (para saber qual a área que eles
precisam para saber se a proposta se adequa ou não)
Relativamente à intervenção, o grande problema que nos apareceu do edifício foi o
piso térreo que não tinha qualquer relação com o jardim (relação visual), está
completamente fechado para o jardim. Possui alguns vãos, mas nada de significativo,
só o 1º piso é que está aberto.
Deste modo o que se propôs foi abrir todo o piso do rés-do-chão, e ao mesmo tempo
propôr uma pala para fazer uma espécie de prolongamento do interior de forma a que
o edifício se prolonga-se de alguma maneira e não ficasse tão contido. Grande parte
do r/ch vai passar a ser em vidro para por um lado haver uma maior relação entre o
interior e o exterior e por outro lado do exterior se perceber o que se passa la dentro e
haver umas transparências para uma melhor relação interior/exterior. (…)
Isto é de grosso modo a nossa intervenção.
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Relativamente ao uso da malha malha hexagonal. Esta levanta duas questões: a
malha e o hexágono.
Por um lado trabalhar em malha, seja ela qual for, dá-nos uma espécie de regra da, se
por um lado por um lado interpretá-la como uma espécie dde limitação, por outro lado
esta estabelece um conjunto de regras, ou conjunto de formas de agir que nos podem
dar um série de espaços que podem ser interessantes, e nesse aspecto acho-a
bastante interessante, apesar de ser uma coisa que tendencialmente nunca faria,
Portanto dentro dessa perspectiva é interessante para mim fazer parte deste projecto
e experienciar o trabalho sobre a malha..(paredes rectas ou em fol)
Por outro lado a questão do hexágonos é interessante porque este permite criar ao
invés das paredes rectas, as paredes em “fol” mais dinâmicas. Ao memso tempo,
como já referi, perante uma interpretação “modular” da malha, esta incentiva a
criarem-se espaços mais amplo. Penso que este tipo de plano em hexágonos funciona
bem quando trabalhamos com espaço que têm uma certa dimensão, quando
começamos a reduzir muito essa dimensão, começa a criar “recantos” que por vezes
podem ser difíceis de resolver. este tipo de plano funciona bem na questão palaciana
em que não temos corredores e os espaços sucedem-se.
A malha hexagonal, pode surgir de uma simples opção. O importante é o partido que
se tira desta. O projecto do Caleidoscópio trata-se de um edifício mais preso à malha
e um pouco contido aos limites da planta em “L”. Nota-se que não houve um grande
sentido de arriscar novas abordagens da malha hexagonal e das possibiliaddes que
esta podia proporcionar. O mesmo já não acontece no exemplo do edifício do Centro
de Reabilitação. O Centro possui um maior sentido de liberdade quer a nível exterior e
interior. No exterior, os elementos hexagonais não se encontram limitados e parece
que se apropriam do terreno, e no interior existe também uma percepção de um
sentido de abertura e maior fluência entre os espaços. Outro factor interessante de se
analisar é a disposição dos pilares, enquanto no Caleidoscopio os pilares aos cantos
limitam mais os espaços, no Centro os pilares encontram-se ao centro, o que permite
uma maior fluência entre os espaços e uma maior liberdade e abertura do plano. No
entanto podemos ainda referir os projectos que Frank Lloyd Wright desenvolveu sobre
malhas hexagonais, onde trata a malha de uma forma livre e onde se nota a sua
capacidade de libertação da mesma e um maior aproveitamento das potencialidades
que esta pode proporcionar.
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
APÊNDICE C
Projecto .III – 5º ano – Escola e Residência Chapitô
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 133 - Painel de Apresentação 1. (ilustração nossa)
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 134 - Painel de Apresentação 2. Residências + Sala de Espectáculos na Cobertura (ilustração nossa)
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 135 - Painel 3 – Imagens da proposta geral ( Esquiços, modelo 3D, maquete)
Ilustração 136 - Painel zona Residencial (Plantas, Cortes, detalhes construtivos, maquete). (ilustração nossa)
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 137 - Planta piso -2. (ilustração nossa)
Ilustração 138 - Planta piso -1. (ilustração nossa)
Ilustração 139 - Planta piso 0 (ilustração nossa)
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 140 - Planta piso 1. (ilustração nossa)
Ilustração 141 - Planta piso 2 (ilustração nossa)
Ilustração 142 - Planta piso 3 (ilustração nossa)
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 143 - Planta piso 4 (ilustração nossa)
Ilustração 144 - Planta piso 5 (ilustração nossa)
Ilustração 145 - Planta de Cobertura (ilustração nossa)
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 146 - Alçado frente e Alçado Posterior (ilustração nossa)
Ilustração 147 - Alçados Lateral Direito e Alçado lateral Esquerdo. (ilustração nossa)
Ilustração 148 - Cortes A e B. (ilustração nossa)
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Anexos
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
6.1. LISTA DE ANEXOS
Anexo A
Ilustrações Casos de Estudo da Associação HTA
Anexo B - Casas “Usonian” de F.L.Wright
D
Anexo C - Ilustrações da Casa “Hanna” ou “Honeycomb” de F.L.Wright
Anexo D
Documentação Edifício Caleidoscópio
Anexo E
Projecto de Requalificação do edificio Caleidoscópio
Anexo F
Ilustrações da Habitação em Sesimbra
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
ANEXO A
Ilustrações Casos Estudo da Associação HTA
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustrações Caso de Estudo Urbano 06 da HTA: Suburban Areas – [ projecto analisado
no I Capitulo]- Interdesign Associates + Hugo Kohno Architect Associates + Taichi Tomuro Architect & Associates
Ilustração 149 - Planta geral do plano urbano: à esquerda complexo habitacional de baixo crescimento e à direita de alto crescimento.
(HTA, 2006, p.122-130)
Ilustração 150 - Complexo Residencial de baixo crescimento à esquerda e de médio crescimento à direita (HTA, 2006, p.122-130)
Ilustração 151 - Vista exterior do complexo de medio crescimento. Efeito diurno e nocturno.Imagem 3 e 4: (HTA, 2006, p.122-130)
Ilustração 152 - Vista exterior da “Guesthouse. Perspectiva da entrada e garagem. Efeito diurno e nocturno (HTA, 2006, p.122-130)
Ilustração 153 - Vista exterior da “Guesthouse” (HTA, 2006, p.122-130)
Ilustração 154 - Vista interior da Guesthouse (percepcionada de cima) (HTA, 2006, p.122-130)
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 155 - Vista interior da “Guesthouse”. Perspectiva a partir do corredor (HTA, 2006, p.122-130)
Ilustração 156 - Vista interior da “Guesthouse” (HTA, 2006, p.122-130)
Ilustração 157 - Planta da casa (piso térreo) (HTA, 2006, p.122-130)
Ilustração 158 - Planta da casa (piso 1) (HTA, 2006, p.122-130)
Ilustração 159 - Corte da casa (HTA, 2006, p.122-130)
Ilustração 160 - Alçado da casa (HTA, 2006, p.122-130)
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222
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Caso de Estudo Urbano 01: Área de Elevada-densidade Residencial : Hugo Kohno
Architect Associates
Ilustração 161 - Modelo Tridimensional do Complexo Residencial. (HTA, 2006, p.69)
Caso de Estudo Urbano 04: Waterfront Area
Ilustração 162 - Modelo Tridimensional do Complexo Residencial. (HTA, 2006, p.100-109)
Caso de Estudo Urbano 05: Downtown Areas:
Gou Kuramoto Architect & Associates + Hideki
Iwahori Architect & Associates
Ilustração 163 - Modelo Tridimensional do Complexo Residencial. (HTA, 2006, p.110-121)
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223
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
ANEXO B
Casas “Usonian” de F.L.Wright
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225
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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226
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Casas Usonian de Frank Lloy Wright
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227
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
ANEXO C
Ilustrações da Casa “Hanna” ou “Honeycomb” de F.L.Wright
Sandra Isabel Barbosa de Sousa
235
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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236
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustrações da Casa “Hanna” ou “Honeycomb” de F. L. Wright–
Ilustração 164 -
Ilustração 165 -
Desenho – Perspectiva da casa “Honeycomb” (Califórnia, 1936) – (Pfeiffer, 1987, p.45)
Esboço da Casa “Hoenycomb”, (plot plan) – a planta orgânica. A massa da chaminé em forma de ângulo,
colocada no ápice da estrutura, condensa dinamicamente no espaço de transmissão da acção. Estruturalmente é o núcleo de encontro
dos planos verticais e horizontais: os primeiros convergindo nas linhas da cobertura, os segundos projectados na paisagem, (Califórnia,
1936) – (Pfeiffer, 1990, p.24)
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 166 - Alçados (Pfeiffer, 1987)
Ilustração 167 - Alçados (Pfeiffer, 1987)
Ilustração 168 - Alçados (Pfeiffer, 1987)
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238
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
ANEXO D
Documentação do Edifício Caleidoscópio
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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240
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 169 - Documentação doProjecto de 1971. (Informação cedida pelo arq. Pedro Oliveira). (Payo, 1971)
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241
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Projecto 1971 – Plantas e Cortes
Ilustração 170 - Planta de implantação (documentação cedida pelo arquitecto Pedro Oliveira - Payo, 1971)
Ilustração 171 - Planta piso -1 (referida na planta como pisko 1). (Payo, 1971)
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242
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 172 - Planta piso 1 ( referida na planta como piso 2). (Payo, 1971)
Ilustração 173 - Planta piso 2 (refreida na planta como piso 3) (Payo, 1971)
Ilustração 174 - Planta (Payo, 1971)
Ilustração 175 - Planta Cobertura (Payo, 1971)
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243
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 176 - Corte CD (Payo, 1971)
Ilustração 177 - Alçado (Payo, 1971)
Ilustração 178 - Alçado (Payo, 1971)
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244
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Projecto 1974 – Plantas e Cortes
Ilustração 179 - Planta de implantação (documentação cedida pelo arquitecto Pedro Oliveira) (Payo, 1974)
Ilustração 180 - Planta piso -1 (referida na planta como pisko 1). (Payo, 1974)
Ilustração 181 - Planta piso 1 ( referida na planta como piso 2). (Payo, 1974)
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245
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 182 - Planta piso 2 (refreida na planta como piso 3) (Payo, 1974)
Ilustração 183 - Planta (Payo, 1974)
Ilustração 184 - Planta Cobertura (Payo, 1974)
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246
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Ilustração 185 - Alçados (Payo, 1974)
Ilustração 186 - Alçado (Payo, 1974)
Ilustração 187 - Cortes (Payo, 1974)
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247
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Projecto 1984 – Plantas e Cortes
Ilustração 188 - Planta piso -1 (documentação cedida pelo arquitecto Pedro Oliveira - (Payo, 1984)
Ilustração 189 - Alterações pido 1 Planta piso 1 (referida na planta como pisko 1). (Payo, 1984)
Ilustração 190 - Alterações Planta piso 2. (referida na planta como piso 3). (Payo, 1984)
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248
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
ANEXO E
Projecto de Requalificação do edificio Caleidoscópio
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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250
Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Projecto de Requalificação do edifício Caleidoscópio
Novo Centro Académico. Projecto do arq.Pedro Oliveira
Ilustração 192 - Painel de apresentação da requalificação do jardim do campo grande e edifício Caleidoscópio (
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
ANEXO F
Ilustrações da Habitação em Sesimbra
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
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Estruturas de repetição: a malha hexagonal
Habitação em Sesimbra: Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas
Ilustração 193 - Estudos casa Sesimbra. (Portas, 2012, p. 130-131)
Ilustração 194 - Fotografias do modelo tridimensional da casa Brás de Oliveira na exposição “O ser Urbano: nos caminhos de Nuno
Portas” em Guimarães.
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