Organizando o Processo de Elicitação de Requisitos
Utilizando o Conceito de Atividade
Luiz Eduardo Galvão Martins, Beatriz Mascia Daltrini
Univ. Metodista de Piracicaba (UNIMEP), Univ. Estadual de Campinas (UNICAMP)
[email protected], [email protected]
Resumo. O objetivo deste trabalho é apresentar uma proposta de organização
do processo de elicitação de requisitos através do conceito de atividade. Para
isso, apresentamos uma metodologia de elicitação de requisitos centrada neste
conceito. O conceito de atividade é extraído da Teoria da Atividade, uma teoria
da área da Psicologia, que estuda a formação dos processos mentais a partir da
atividade humana. Nesta teoria, a atividade é concebida como uma unidade que
define um contexto de análise das ações realizadas por um sujeito. A
metodologia proposta busca nos elementos constitutivos da atividade
referenciais que auxiliem a organização do processo de elicitação de requisitos.
O artigo apresenta um estudo de caso onde é aplicada a metodologia proposta,
demonstrando como organizar o processo de elicitação de requisitos tendo a
atividade como unidade básica de organização.
Palavras-Chave: Atividade, Elicitação de Requisitos, Teoria da Atividade.
1. Introdução
A elicitação de requisitos é a primeira atividade no processo de engenharia de
requisitos, onde se busca entender quais são as necessidades do usuário que devem ser
atendidas pelo software que será desenvolvido [1]. Várias técnicas de elicitação de
requisitos de software têm sido utilizadas pelos desenvolvedores, de tal forma que as
dificuldades inerentes a esta atividade possam ser enfrentadas de maneira mais
adequada. No entanto, apesar dessas técnicas oferecerem auxílio aos desenvolvedores,
os problemas essenciais da elicitação de requisitos, como: dificuldade do usuário em
saber o que ele realmente precisa, dificuldade no processo de comunicação entre
usuários e desenvolvedores e, consequentemente, dificuldade em organizar os
requisitos do software para o desenvolvimento futuro; ainda constituem um desafio a
ser superado [2].
Para que se possa entender quais são as reais necessidades do usuário é preciso
entender as atividades realizadas por ele no contexto de seu trabalho. Para tanto, uma
análise pormenorizada das ações realizadas pelo usuário, das metas que ele pretende
atingir com suas ações, da comunidade em que ele está inserido, das regras e
ferramentas de mediação que ele utiliza para a execução de suas ações, do
desenvolvimento histórico das atividades que ele realiza, entre outros, se tornam
fundamentais para uma adequada extração dos requisitos do software que irá suportar
o trabalho do usuário.
297
A partir disto, defendemos a idéia de que entender as atividades realizadas pelo
usuário, através de seus principais aspectos, senão todos os passíveis de
reconhecimento, passa a ser central durante a elicitação de requisitos.
Na Psicologia, há algumas décadas vêm se desenvolvendo uma teoria que busca
elucidar a formação dos processos mentais humanos a partir do estudo da atividade.
Esta teoria é denominada Teoria da Atividade.
Neste trabalho, apresentamos uma metodologia de elicitação de requisitos
centrada na análise das atividades realizadas pelos usuários, onde o conceito de
atividade que utilizamos está baseado na Teoria da Atividade.
2. A Teoria da Atividade
A Teoria da Atividade tem como conceito fundamental a atividade humana. A
palavra atividade tem sido a tradução que o mundo ocidental tem empregado para a
palavra russa deyatel’nost. No entanto, deyatel’nost tem um significado muito mais
profundo do que a palavra atividade empregada no nosso cotidiano. Dentro da
psicologia Soviética a palavra deyatel’nost significa uma “unidade organizacional
para a realização de uma função mental”, o que nos traz uma nova dimensão para o
significado de atividade. É por este vértice que a Teoria da Atividade elabora o
conceito de atividade.
A Teoria da Atividade (TA), tal como é conhecida hoje, tem como principais
fundadores Vygotsky e Leont’ev. Os conceitos fundamentais desta teoria foram
elaborados por Vygotsky, mas a consolidação e integração destes conceitos numa
estrutura organizada deve-se a Leont’ev. Ela é formada por um conjunto de princípio
e conceitos que buscam compreender e explicar por que e como as atividades
humanas são desenvolvidas. A TA tem sua origem na psicologia soviética, com fortes
influências advindas dos trabalhos de Marx e Engels [3].
Os princípios básicos da TA [4][5], conforme adotamos neste trabalho, estão
descritos a seguir.
(1) Princípio da unidade entre consciência e atividade.
É considerado o princípio fundamental da Teoria da Atividade, onde consciência e
atividade são concebidas de forma integrada. A consciência1 pode ser entendida como
um conjunto de aspectos psicológicos que são utilizados no âmbito racional, e a
atividade como a interação humana com sua realidade objetiva. A formação dos
processos mentais tem sua gênese na realização das atividades.
Este princípio declara que a mente humana emerge e existe como um componente
especial da interação humana com o seu ambiente (onde a consciência é o repositório
dos resultados dessas interações), surgindo no processo de evolução para ajudar o
Homem a sobreviver. Assim, a mente humana pode ser analisada e entendida somente
dentro do contexto da atividade humana. Pode-se dizer que a consciência humana é
abastecida pelas atividades realizadas pelas pessoas.
1
Uma definição mais profunda do que seja a consciência humana ainda é tema de pesquisa dentro da
própria Psicologia, e portanto procuramos não estabelecer uma definição rígida para a mesma.
298
(2) Princípio da orientação a objetos.
Este princípio enfoca a abordagem da Teoria da Atividade para o ambiente no
qual seres humanos interagem. Seres humanos vivem em ambientes que são
significativos para eles. Este ambientes são formados por entidades (objetos) que
combinam todos os tipos de características objetivas, incluindo aquelas determinadas
culturalmente, e que por sua vez influenciam as formas como as pessoas agem sobre
essas entidades.
Em qualquer atividade que realizamos, nos defrontamos com objetos do mundo
real, que de alguma forma influenciam nossa maneira de executar atividades.
(3) Princípio da estrutura hierárquica da atividade.
A Teoria da Atividade diferencia os procedimentos humanos em três níveis:
atividade, ação e operação, levando em conta os objetivos para os quais estes
procedimentos são orientados. A atividade é orientada a motivos, a ação orientada a
metas e a operação orientada a condições de realização.
Esta diferenciação permite que uma mesma atividade possa ser analisada por
diferentes pontos de vista, levando em consideração a base sobre a qual a análise
pretende ser realizada: motivos, metas ou condições.
(4) Princípio da internalização-externalização.
Este princípio enfoca os mecanismos básicos de origem dos processos mentais.
Ele declara que processos mentais são derivados das ações externas2 através do curso
da internalização. A internalização é o termo usado para descrever a conversão de
processos e objetos materiais externos para processos executados no plano mental, ou
ainda, no plano da consciência [6]. A internalização ocorre a partir do contato com o
ambiente em que a pessoa está inserida.
A externalização é o processo inverso da internalização, onde os processos
mentais se manifestam através de atos, de tal forma que eles possam ser verificados e
corrigidos se necessário.
(5) Princípio da mediação.
A atividade humana é mediada por ferramentas, tanto externas (como um martelo
ou um computador) quanto internas (como uma heurística ou um conceito). As
ferramentas são “veículos” da experiência social e do conhecimento cultural.
Uma questão importante que permeia este conceito não é o fato de que com o uso
de uma ferramenta uma atividade possa ser executada de maneira mais facilitada, mas
sim o fato de que uma nova atividade é criada quando passamos a utilizar um
instrumento de mediação [3].
2
Na Teoria da Atividade há uma diferenciação importante entre elementos externos e internos ao plano
mental. Estes elementos podem ser atividades, ações, processos, objetos etc.
299
(6) Princípio do desenvolvimento.
De acordo com a Teoria da Atividade, entender um fenômeno significa conhecer
como ele se desenvolveu até sua forma atual, pois ao longo do tempo ele sofre
alterações. Compreender estas alterações auxilia no entendimento do seu estado atual.
Os princípios apresentados não são idéias isoladas, eles estão intimamente ligados.
A natureza da Teoria da Atividade se manifesta nesse conjunto de princípios.
Embora a TA possua vários conceitos, daremos ênfase neste trabalho ao conceito
de atividade, pois este é o conceito central utilizado na metodologia de elicitação de
requisitos proposta.
A TA define uma atividade como uma unidade de análise que possui um conjunto
de ações acoplado a um contexto mínimo que permite a sua compreensão. Para toda
atividade existe um motivo, que em termos de atividade humana, é determinado pela
necessidade ou desejo da pessoa que a realiza [7]. A atividade possui uma estrutura
hierárquica compreendida por ações e operações (princípio 3) , ilustrado na figura 1.
Figura 1. Estrutura Hierárquica da Atividade [7]
Segundo a TA, uma atividade normalmente envolve a transformação de um ou
mais objetos em outro objeto, que é o resultado que se pretende alcançar com a
realização da atividade. No entanto, a transformação de um objeto não ocorre de
forma direta, ela é realizada através de uma série de passos conscientes, que são
chamados de ações. Uma ação possui metas bem definidas e imediatas, que irão
contribuir para alcançar o resultado da atividade.
Embora exista uma relação importante entre atividades e ações, elas são
relativamente independentes, pois uma mesma ação pode participar em várias
atividades. Outro ponto importante a ser considerado sobre as ações, é que elas
somente podem ser compreendidas no contexto da atividade a que pertencem. Ações
podem ser decompostas em cadeias de operações. Uma operação é uma tarefa
rotineira, praticamente realizada de forma inconsciente.
Uma atividade é decomposta em ações, e cada ação pode ser decomposta em
operações (vide figuras 2 e 3). Atividades são formações de longo prazo, seus objetos
são transformados em resultados não apenas uma vez, mas sim de forma iterativa, que
tipicamente consiste em várias fases ou etapas. Assim, uma atividade, concebida
300
como tal num dado momento, passou por um processo de evolução, onde ações e
operações podem ter sido criadas, eliminadas e transformadas para que a atividade
chegasse ao seu “formato” atual [8].
Figura 2. Níveis hierárquicos de uma atividade e seus possíveis “movimentos” [9]
possui
Atividade
1
Motivo
1..*
1..*
1..*
orienta
1..*
1..*
possui
Ação
1
0..*
Meta
1..*
1..*
1..*
atende
Operação
*
Condição
1..*
Figura 3. Relacionamento entre os elementos que formam a estrutura hierárquica da
atividade
301
Enquanto uma atividade é orientada a motivos, as ações são orientadas a metas, e
as operações orientadas a condições. Uma atividade é realizada através de ações
cooperativas ou individuais, podendo se estabelecer cadeias ou redes de ações que
estão relacionadas umas com as outras pelo motivo da atividade. As ações que
constituem uma atividade são energizadas por seu motivo [6].
Uma característica importante de uma ação é que ela é planejada antes de sua
execução efetiva, diferentemente de uma operação, que é executada de forma
automática, sem um planejamento prévio, bastando apenas uma análise das condições
atuais para a sua execução. O planejamento de uma ação é feito de forma consciente,
usando-se algum modelo mental para isso, quanto melhor o modelo mais sucesso terá
a ação. Este planejamento para a execução de uma ação é chamado de orientação
Quando uma ação é realizada várias vezes e alcança um nível de maturidade
suficiente para que ela possa ser executada automaticamente, ou seja, sem um
planejamento prévio, então ela passa para o nível de operação. Dessa forma, uma
operação é uma ação que se tornou comum no contexto de uma atividade, pois é
executada com um alto grau de repetição dentro deste contexto.
A figura 3 apresenta o relacionamento existente entre os elementos que formam a
estrutura hierárquica da atividade, onde destacamos que a atividade é uma agregação
de ações, e que uma ação é uma agregação de operações. Uma ação pode fazer
“parte” de várias atividades. Uma ação também pode agregar outras ações. Toda
atividade possui pelo menos um motivo, que no contexto do sistema analisado está
associado a apenas uma atividade. Cada ação possui pelo menos uma meta, que no
contexto do sistema analisado também está associado a apenas uma ação. Os motivos
da atividade orientam as metas das ações da atividade. Uma operação pode atender de
uma a muitas condições, e uma condição pode definir o estado de execução de várias
operações.
Além da estrutura hierárquica da atividade, outro aspecto importante relativo ao
conceito de atividade é a questão da mediação social. De uma forma geral, toda
atividade humana está dentro de um contexto social, e como tal envolve mediações
sociais.
Uma pessoa (sujeito) ao realizar uma atividade faz uso de artefatos, que podem ser
materiais ou conceituais. Os artefatos ajudam a pessoa a transformar o objeto (que
também pode ser físico ou abstrato) no resultado pretendido (o motivo da atividade).
No entanto, as pessoas realizam atividades dentro de uma comunidade, à qual elas
pertencem no momento da execução da atividade, e portanto, formas de mediações
sociais devem existir para que um mínimo de ordem seja mantida dentro da
comunidade. Estas formas de mediações são estabelecidas através de regras e divisão
do trabalho. A figura 4 apresenta o diagrama de Engeström, que modela os principais
componentes envolvidos na atividade dentro da perspectiva das mediações sociais.
No diagrama de Engeström, sujeito, comunidade e objeto são representados como
elementos presentes numa atividade (estabelecendo o contexto da mesma), mediados
por artefato, regras e divisão do trabalho. A relação entre sujeito e objeto é sempre
mediada por um artefato. A relação entre sujeito e comunidade é mediada por um
conjunto de regras, e a relação entre comunidade e objeto é mediada pela divisão do
trabalho.
Segundo Engeström, as regras são “as normas e as sanções que especificam e
regulam os procedimentos corretos esperados e as interações aceitáveis entre os
302
participantes” e a divisão do trabalho é a “distribuição de tarefas, poderes e
responsabilidades entre os participantes do sistema da atividade” [10].
Figura 4. O diagrama de Engeström [10]
3. A Metodologia de Elicitação de Requisitos
Nesta seção apresentamos uma visão geral de uma metodologia de elicitação de
requisitos proposta para a organização do processo de elicitação utilizando o conceito
de atividade, onde destacamos a seqüência e iteração entre as etapas. A metodologia
se divide em três etapas principais, conforme apresentado na Figura 3.
A figura 5 apresenta as três principais etapas da metodologia de elicitação de
requisitos enfatizando que o desdobramento destas etapas deve ocorrer de forma
iterativa e incremental, ou seja, na medida em que as atividades vão sendo
identificadas e descritas os requisitos vão se tornando mais claros e a elicitação de
requisitos vai se desenvolvendo gradativamente.
Cada etapa exibida na figura 5 se divide em etapas menores, que possuem
procedimentos próprios, também executados de forma iterativa e incremental. A
divisão das etapas nos seus procedimentos obedece a seguinte ordem:
1.
Divisão do problema em atividades
1.1. Levantar atividades candidatas
1.2. Selecionar atividades
1.3. Descrever histórico das atividades selecionadas
303
2.
3.
Delineamento do contexto das atividades (para cada atividade)
2.1. Identificar os motivos e resultados da atividade
2.2. Identificar os elementos no nível individual
2.3. Identificar os elementos no nível social
2.4. Modelar a atividade através do diagrama de Engeström
Descrição da estrutura hierárquica das atividades (para cada atividade)
3.1. Identificar as ações e operações da atividade
3.2. Descrever as metas das ações
3.3. Descrever as condições de realização das operações
Figura 5. Etapas da metodologia de elicitação de requisitos proposta
Etapas
1. Divisão do problema
em atividades
2. Delineamento do
contexto das atividades
Procedimentos
Levantar atividades candidatas
Selecionar atividades
Descrever histórico das atividades
selecionadas
Identificar os motivos e resultados da
atividade
Identificar os elementos no nível
individual
Identificar os elementos no nível social
Modelar a atividade através do diagrama
de Engeström
3. Descrição da
Identificar as ações e operações da
estrutura hierárquica das atividade
atividades
Descrever as metas das ações
Descrever as condições de realização das
operações
Definições
(1)
(1,3,5)
-
Princípios
(1)
(3)
(6)
(2,14)
(2)
(7,8,9,10)
(2,5)
(11,12,13)
(7,8,9,10,1
1,
12,13)
(3,5)
(2,5)
(5)
(4)
(5,6)
(3)
(3)
(3)
Tabela 1. Definições e princípios da TA utilizados em cada procedimento
304
Para a execução dos procedimentos citados acima é necessário fazer uso de um
conjunto de definições sobre os elementos apresentados na TA. Estas definições
procuram adaptar os conceitos da TA dentro do processo de elicitação de requisitos de
software. A tabela 1 relaciona as definições empregadas em cada procedimento da
metodologia proposta e os princípios da TA que perpassam cada procedimento.
As definições elaboradas sobre os conceitos da TA são apresentadas nos quadros a
seguir.
Definição 1 {Atividade}: atividade é
uma unidade de elicitação de
requisitos que oferece um contexto
mínimo para o entendimento de um
conjunto de ações cooperantes que
agem sobre um ou mais objetos,
transformando-os num resultado.
Definição 2 {Motivo}: motivo é a
razão que orienta a atividade,
expresso através
de desejos ou
necessidades humanas.
Definição 3 {Ação}: uma ação é um
passo consciente realizado com o
intenção de se atingir uma meta bem
definida no contexto da atividade.
Definição 4 {Meta}: uma meta é um
objetivo imediato a ser atingido por
uma ação.
Definição 5 {Operação}: uma
operação é uma ação que se tornou
rotineira no contexto da atividade, de
tal forma que ela é realizada de
forma automática pelo sujeito.
Definição 6 {Condições}:
um
conjunto de variáveis que possuindo
um determinado estado determina a
execução de uma operação.
Definição 7 {Sujeito}: é um agente
que transforma o objeto da atividade,
através da execução de ações e
operações.
Definição 8 {Objeto}: algo material
ou
abstrato,
que
pode
ser
compartilhado pelos participantes da
atividade.
Definição 9 {Ferramenta Técnica}: é
um artefato físico de mediação
utilizado
pelo
sujeito
na
transformação de um objeto.
Definição
10
{Ferramenta
Psicológica}: é um artefato abstrato
de mediação utilizado pelo sujeito
para visualizar, comunicar ou
representar conceitos.
Definição 11 {Comunidade}: é um
conjunto formado por sujeitos que
influenciam na transformação do
objeto da atividade.
Definição 12 {Regras}: conjunto de
normas e procedimentos dentro de
uma comunidade, que um sujeito
deve atender durante a realização de
uma atividade.
305
Definição 13 {Divisão do Trabalho}:
é o conjunto de papéis e
responsabilidades que os sujeitos
assumem dentro de uma comunidade
durante a realização de uma
atividade.
Definição 14 {Resultado}: é o
produto final do processo de
transformação inerente à atividade.
Na próxima seção apresentamos um estudo de caso onde aplicamos a metodologia
de elicitação de requisitos proposta, demonstrando os procedimentos da metodologia
e os resultados obtidos.
4. Estudo de Caso
O estudo de caso apresentado é sobre a elicitação de requisitos para um software
que deve controlar protocolos da secretaria de uma faculdade. O sistema de
protocolos consiste em controlar os documentos que entram e saem da secretaria da
faculdade. Para qualquer documento que entra ou sai da faculdade deve ser criado um
protocolo que registra a “passagem” deste documento pela secretaria da faculdade. A
secretária que recebe o documento gera um número de protocolo para o documento e
preenche os campos do quadro de registro do protocolo (conforme figura 6).
(1) Protocolo n º ____ (4)Origem
(2) Nome: _________
(3)Assunto:_________
__________________
__________________
__________________
(5)Data
(6)Rec
(7)Destino
(8)Data
(9)Rec
Figura 6. Quadro de registro do protocolo
As informações que constam no quadro de registro do protocolo são anotadas de
forma a se manter registros sobre os documentos que circulam pela secretaria da
faculdade. Esses registros são importantes para comprovar o envio e o recebimento
dos mesmos, bem como para consultas posteriores. Num mesmo protocolo podem ser
registradas até cinco "movimentações" do documento em questão (entrada ou saída do
mesmo documento/processo), que correspondem ao número de linhas que podem ser
utilizadas para cada “movimentação” no quadro de registro do protocolo.
4.1 Abordagem Adotada para a Elicitação dos Requisitos
A seguir apresentamos a execução de todos os procedimentos da metodologia
aplicados para a elicitação dos requisitos do sistema de protocolos.
306
1. Divisão do problema em atividades realizadas no contexto do sistema
Conforme preconiza a metodologia de elicitação de requisitos proposta neste
trabalho, a primeira etapa do processo de elicitação é a divisão do problema em
unidades de elicitação de requisitos. Estas unidades de elicitação correspondem às
atividades identificadas no contexto do problema, conforme declarado na definição
(1).
1.1 Levantamento das Atividades Candidatas
A partir das entrevistas realizadas com as secretárias da faculdade e baseados na
definição (1) da metodologia, levantamos inicialmente as seguintes tarefas como
atividades candidatas:
• Criar protocolo
• Pesquisar número de protocolo
• Gerar número de protocolo
• Consultar protocolo por data
• Preencher quadro de registro do protocolo• Consultar protocolo por assunto
• Atualizar quadro de registro do protocolo
1.2 Seleção das Atividades
As atividades levantadas inicialmente passaram por uma análise mais detalhada,
pois as mesmas foram confrontadas com as definições (1) (3) e (5) onde buscamos
identificar se as atividades abrangiam ações e/ou operações relevantes do problema
descrito. Como resultado deste procedimento selecionamos quatro atividades:
•
•
•
•
Criar protocolo
Atualizar quadro de registro do protocolo
Consultar protocolo por data
Consultar protocolo por assunto
As tarefas gerar número de protocolo, preencher quadro de registro de protocolo
e pesquisar número de protocolo foram desconsideradas como atividades, pois são
realizadas dentro do contexto das atividades selecionadas, e portanto deverão ser
tratadas como ações ou operações (analisadas na etapa 3 da metodologia).
1.3 Descrição do histórico de cada atividade selecionada
Antes de descrevermos as atividades selecionadas nos seus “estados atuais”,
iniciamos com um levantamento sobre a evolução histórica das atividades. Esta
evolução histórica proporciona uma visão dinâmica da atividade, auxiliando no
entendimento do por que a atividade é realizada daquela forma no momento atual.
Para compreendermos melhor as atividades selecionadas no estudo de caso
levantamos dados históricos do desenvolvimento de cada atividade, conforme
apresentado na tabela 2.
307
Criar Protocolo
•
•
•
Os
setores
da
universidade
que
iniciaram com o
controle
de
protocolos
foram
Reitoria e ViceReitorias,
difundindo-se
posteriormente para
os demais setores da
universidade
No início não havia
controle formal dos
protocolos, os setores
criavam
controles
próprios
Alguns
setores
possuiam um livro
onde registravam um
resumo do assunto
que
tratava
o
documento
enviado/recebido, a
data
do
envio/recebimento e
para quem foi/veio o
documento
Atualizar Quadro de
Consultar Protocolo Consultar Protocolo
Registro do Protocolo
por Data
por Assunto
•
Quando havia •
Quando
havia
•
Atividade
registro
do
registro
do
inexistente, pois no
protocolo
em
protocolo
em
início não havia o
algum livro, era
algum livro, era
quadro de registro
feita de forma
feita de forma
do protocolo
seqüencial no
seqüencial
no
•
Toda vez que o
mesmo
mesmo
mesmo documento
retornava para o •
Dificilmente
•
Dificilmente esta
setor, um novo
esta
consulta
consulta
tinha
registro de protocolo
tinha sucesso,
sucesso, pois a
era feito no livro
pois
a
informalidade
(isto acarretava em
informalidade
fazia com que
duplicação
fazia com que
muitos
desnecessária
de
muitos
documentos não
informações)
documentos não
fossem
fossem
protocolados
protocolados
Tabela 2. Descrição dos Históricos das Atividades
2. Delineamento do contexto de cada atividade
Após a divisão do problema em unidades de elicitação, que são as atividades,
delineamos o contexto de cada atividade selecionada. Nesta etapa fizemos uso das
definições (2) (7) (8) (9) (10) (11) (12) (13) e (14).
2.1 Identificação dos motivos e resultados da atividade
Para cada atividade identificamos seus motivos e resultados esperados, conforme
descrito na tabela 3. Para a identificação destes elementos da atividade nos baseamos
nas definições (2) e (14).
2.2 Identificação dos elementos das atividades no nível individual
Após a descrição dos motivos e resultados de cada atividade, nos baseamos nas
definições (8) (9) (10) e (11) para identificarmos os elementos sujeito, ferramenta
(técnicas e psicológicas) e objeto das atividades, conforme descrito na tabela 4.
308
Criar Protocolo
•
M
O
T
I •
V
O
S
•
R
E
S
U
L
T
A
D
O
S
•
Necessidade de
controle dos
documentos que
entram e saem da
Faculdade
Necessidade de
saber o destino final
de um documento
que entrou ou saiu
da Faculdade
Necessidade de
comprovação do
envio/recebimento
do documento
Protocolo realizado
Atualizar Quadro Consultar Protocolo Consultar Protocolo
por Data
por Assunto
de Registro do
Protocolo
Necessidade de
Necessidade de •
•
Necessidade de •
confirmar se um
confirmar se um
rastreamento
documento foi
documento foi
de um
realmente
realmente
documento já
enviado/recebido
enviado/recebid
protocolado
pela Faculdade
o pela
inicialmente
Faculdade
•
Necessidade de
•
Necessidade de
resgatar um
•
Necessidade de
comprovação
documento tendo
resgatar um
do
como base o
documento
envio/recebime
assunto tratado no
tendo como
nto do
mesmo
base algum
documento
intervalo de
tempo
Localização do
•
Localização do •
•
Protocolo
documento
documento
atualizado
pesquisado
pesquisado
Tabela 3. Descrição dos Motivos e Resultados das Atividades
Sujeitos
Ferramentas
Técnicas
Ferramentas
Psicológicas
Objetos
Criar Protocolo
Atualizar Quadro de
Registro do Protocolo
Consultar Protocolo
por Data
Secretária da
Faculdade
Caneta
Carimbo
Capacidade de
Escrita
•
Quadro de
Registro do
Protocolo
•
Documento
Encaminha
do
Secretária da Faculdade
Secretária da Faculdade
Caneta
Nenhuma
•
•
•
Capacidade de
Escrita
Quadro de
Registro do
Protocolo
Linha de
“Movimentação”
Documento
Encaminhado
•
•
•
Capacidade de
Leitura
Livro de
Protocolos
Quadro de
Registro do
Protocolo
Linha de
“Movimentação”
Consultar
Protocolo por
Assunto
Secretária da
Faculdade
Nenhuma
Capacidade de
Leitura
•
Livro de
Protocolos
•
Quadro de
Registro do
Protocolo
•
Linha de
“Moviment
ação”
Tabela 4. Descrição dos Elementos das Atividades no Nível Individual
309
2.3 Identificação dos elementos da atividade no nível social
Criar Protocolo
Comu- •
nidade •
•
•
Regras •
•
•
•
Divisã •
o do
Trabal
ho
•
Atualizar Quadro
de Registro do
Protocolo
•
Secretárias
•
Professores
•
Bolsistas
•
Alunos
• Todos os
campos da linha
de atualização
do protocolo
devem ser
preenchidos
• Se não houver
mais linha de
atualização
disponível no
quadro, deve ser
criado um novo
protocolo
Secretárias
Professores
Bolsistas
Alunos
O campo número do
protocolo deve ser gerado seqüencialmente. O
novo número gerado deve ser igual ao número
do último protocolo
mais um
Os campos número do
protocolo e nome devem ser destacados,
utilizandose cor vermelha para o preenchimento destes campos
Todos os campos do
quadro de registro do
protocolo devem ser
preenchidos, com exceção do campo origem, que quando tem o
mesmo conteúdo do
campo assunto, pode ser
omitido
Todos os documentos
protocolados no livro de
protocolos devem receber um carimbo constando a data em que o
documento chegou na
secretaria da faculdade e
o número do protocolo
gerado
para
esse
documento
•As secretárias são
As secretárias são
responsáveis pelo
responsáveis pelo
envio e
envio/recebimento dos
recebimento dos
documentos que entram
documentos que
e saem da Faculdade
entram e saem da
Os professores, bolsistas
Faculdade
e alunos recebem e
solicitam o envio dos
•Os professores,
documentos
bolsistas e alunos
recebem e
solicitam o envio
dos documentos
Consultar
Protocolo por Data
•
•
•
•
•
Secretárias
Professores
Bolsistas
Alunos
Deve ser
informado a
data de
recebimento
do documento,
que será
utilizado para
consultar o
livro de
protocolos
•
•
•
•
•
•
As secretárias
realizam as
consultas
solicitadas
Os
professores,
bolsistas e
alunos
solicitam a
localização de
documentos
•
•
•
Consultar
Protocolo por
Assunto
Secretárias
Professores
Bolsistas
Alunos
Deve ser
informado o
assunto do
documento,
que será
utilizado para
consultar o
livro de
protocolos
As secretárias
realizam as
consultas
solicitadas
Os
professores,
bolsistas e
alunos
solicitam a
localização de
documentos
Tabela 5. Descrição dos Elementos das Atividades no Nível Social 5
310
Após a identificação dos elementos das atividades no nível individual, nos
baseamos nas definições (12) (13) e (14) para identificarmos os elementos das
atividades no nível social, ou seja, comunidade, regras e divisão do trabalho,
conforme descrito na Tabela 5.
2.4 Modelagem das atividades através do diagrama de Engeström
Após termos identificado e descrito todos os elementos da atividade, tanto no
nível individual como no nível social, temos condições de oferecer uma representação
pictórica da mesma através do diagrama de Engëstrom, que oferece uma visão dos
relacionamentos existentes entre os elementos que definem o contexto da atividade.
Figura 7. Modelo sistêmico para a atividade “Criar Protocolo”
Na Figura 7 apresentamos a modelagem da atividade “Criar Protocolo”3. A
modelagem da atividade se baseia no diagrama de Engeström (também chamado de
modelo sistêmico).
3. Descrição da estrutura hierárquica de cada atividade
3
Apresentamos a modelagem de apenas uma atividade como exemplo deste procedimento. No estudo de
caso, as quatro atividades foram modeladas através do diagrama de Engeström
311
Após definido o contexto de cada atividade, passamos para uma descrição da
estrutura hierárquica das mesmas, ou seja, a definição das ações e operações que
compõem as atividades e suas respectivas metas e condições de realização. Para isso
nos baseamos nas definições (3) (4) (5) e (6).
3.1 Identificação das ações e operações da atividade
Nas tabelas 6 a 8 apresentamos a decomposição das atividades em ações e
operações. Esta decomposição se baseia fortemente nos elementos que foram
identificados nas atividades no nível social, como regras, comunidade e divisão do
trabalho.
Atividade
Criar
protocolo
Ações
Gerar número do protocolo
Preencher 1ª linha do Quadro
de registro de protocolos
Encaminhar documento
Operações
Verificar número do último protocolo
Adicionar um ao número do último protocolo
Preencher campo de "número do protocolo"(1)
Preencher campo (2)
Preencher campo (3)
Preencher campo (4)
Preencher campo (5)
Preencher campo (6)
Preencher campo (7)
Preencher campo (8)
Preencher campo (9)
Carimbar documento a ser enviado
Copiar número do protocolo no documento carimbado
Enviar documento para destinatário
Tabela 5. Decomposição da atividade “Criar Protocolo”
Atividade
Atualizar
protocolo
Ações
Encontrar quadro de registro de
protocolo no livro de protocolos
Operações
Verificar número do protocolo no documento
recebido
Buscar número correspondente no livro de
protocolos
Preencher próxima linha do quadro Preencher campo (4)
de registro do protocolo
Preencher campo (5)
Preencher campo (6)
Preencher campo (7)
Preencher campo (8)
Preencher campo (9)
Tabela 6. Decomposição da atividade “Atualizar Quadro de Registro do Protocolo
Atividade
Consultar
protocolo por
data
Ações
Encontrar protocolos baseado num
intervalo de tempo
Operações
Especificar data para consulta
Buscar números de protocolos de acordo com a
data especificada
Informar protocolos encontrados
Tabela 7. Decomposição da atividade “Consultar Protocolo por Data”
312
Atividade
Consultar
protocolo por
assunto
Ações
Encontrar protocolos baseado num
assunto
Operações
Especificar assunto para consulta
Buscar números de protocolos de acordo com o
assunto especificado
Informar protocolos encontrados
Tabela 8. Decomposição da atividade “Consultar Protocolo por Assunto
3.2 Descrição das metas das ações
Baseado na definição (3), toda ação tem a intenção de atingir uma ou mais metas
bem definidas no contexto da atividade. Nas tabelas 9 a 12 apresentamos as metas
das ações que compõem as atividades selecionadas.
Atividade
Criar
protocolo
Ações
Gerar número do protocolo
•
Metas
Criar uma identificação para o documento
que está sendo protocolado
Preencher 1ª linha do quadro de
registro de protocolos
•
Manter dados sobre o envio/recebimento do
documento protocolado
Encaminhar documento
•
•
Comprovar o registro do documento
Enviar documento para o seu destino
Tabela 9. Descrição das metas das ações que compõem a atividade “Criar Protocolo”
Atividade
Atualizar
protocolo
Ações
Encontrar quadro de registro de
protocolo no livro de protocolos
•
Preencher próxima linha do quadro
de registro do protocolo
•
Metas
Buscar quadro de registro do protocolo cujo
número de protocolo seja igual ao do
documento em mãos
Manter dados sobre o envio/recebimento do
documento protocolado
Tabela 10. Descrição das metas das ações que compõem a atividade
“Atualizar Quadro de Registro do Protocolo”
Atividade
Consultar
protocolo
por data
Ações
Encontrar protocolos baseado num
intervalo de tempo
•
Metas
Buscar quadros de registro de protocolos
cujas datas estejam no intervalo de tempo
especificado
Tabela 11. Descrição das metas das ações que compõem a atividade
“Consultar Protocolo por Data"
313
Atividade
Consultar
protocolo
por assunto
Ações
Encontrar protocolos baseado num
assunto
•
Metas
Buscar quadros de registro de protocolos
cujos assuntos estejam relacionados ao
assunto especificado
Tabela 12. Descrição das metas das ações que compõem a atividade
“Consultar Protocolo por Assunto”
3.3 Descrição das condições de realização das operações
De acordo com as definições (5) e (6) uma operação é executada dependendo das
condições existentes no momento de sua execução. Assim, é importante descrever
todas as condições de execução das operações que compõem as atividades
selecionadas. Nas tabelas 13 a 16 são descritas as condições de execução das
operações identificadas no estudo de caso.
Atividade
Criar
protocolo
Ações
Gerar
número do
protocolo
Preencher 1ª
linha do
quadro de
registro de
protocolos
Encaminhar
documento
Operações
Verificar número do último
protocolo
Adicionar um ao número do
último protocolo
Preencher campo de “número do
protocolo”(1)
Preencher campo (2)
•
•
•
•
Preencher campo (3)
•
Preencher campo (4)
•
Preencher campo (5)
Preencher campo (6)
•
•
Preencher campo (7)
•
Preencher campo (8)
•
Preencher campo (9)
•
Carimbar documento a ser
enviado
Copiar número do protocolo no
documento carimbado
Enviar documento para
destinatário
•
•
•
Condições de Realização
Ter acesso ao livro de protocolos
Ter disponível o último número de
protocolo gerado
Ter disponível o novo número de
protocolo gerado
Ter disponível o nome de quem
encaminhou o documento
Ter disponível o assunto de que
trata o documento
Ter disponível a origem do
documento
Ter disponível a data atual
Ter disponível o nome de quem
recebeu o documento
Ter disponível o destino do
documento
Ter disponível a data em que o
documento foi encaminhado para o
destinatário
Ter o destinatário disponível para
assinatura
Quadro de registro do protocolo
estar preenchido
Ter disponível o novo número de
protocolo gerado
Ter office-boy disponível para o
envio
Tabela 13. Descrição das condições de realização das operações da atividade
“Criar Protocolo”
314
Atividade
Atualizar
protocolo
Ações
Encontrar quadro
de registro de
protocolo no livro
de protocolos
Preencher próxima
linha do quadro de
registro do
protocolo
Operações
Verificar número do protocolo
no documento recebido
Buscar número correspondente
no livro de protocolos
Preencher campo (4)
•
•
•
Preencher campo (5)
Preencher campo (6)
•
•
Preencher campo (7)
•
Preencher campo (8)
•
Preencher campo (9)
•
Condições de Realização
Ter número do protocolo
disponível
Ter acesso ao livro de
protocolos
Ter disponível a origem do
documento
Ter disponível a data atual
Ter disponível o nome de
quem recebeu o documento
Ter disponível o destino do
documento
Ter disponível a data em que
o documento foi
encaminhado para o
destinatário
Ter o destinatário disponível
para assinatura
Tabela 14. Descrição das condições de realização das operações da atividade
“Atualizar Quadro de Registro do Protocolo”
Atividade
Consultar
protocolo
por data
Ações
Encontrar
protocolos baseado
num intervalo de
tempo
Operações
Especificar data para consulta
Buscar números de protocolos de
acordo com a data especificada
Informar protocolos encontrados
Condições de Realização
•
Ter a data de
recebimento do
documento disponível
•
Ter acesso ao livro de
protocolos
•
Chegar a um resultado
para a consulta
Tabela 15. Descrição das condições de realização das operações da atividade
“Consultar Protocolo por Data”
Atividade
Consultar
protocolo
por assunto
Ações
Encontrar
protocolos baseado
num assunto
Operações
Especificar assunto para consulta
Buscar números de protocolos de
acordo com o assunto especificado
Informar protocolos encontrados
Condições de Realização
•
Ter o assunto do
documento disponível
•
Ter acesso ao livro de
protocolos
•
Chegar a um resultado
para a consulta
Tabela 16. Descrição das condições de realização das operações da atividade
“Consultar Protocolo por Assunto”
Da experiência obtida com o estudo de caso, podemos destacar que o processo de
elicitação de requisitos pode de fato ser organizado em atividades, que passam a ser
vistas como unidades de elicitação, embutindo uma série de conceitos relacionados à
atividade. A atividade forma um contexto de análise onde as ações e operações que
são identificadas neste contexto, em grande parte, revelam ser os requisitos do futuro
sistema de software.
315
Um ponto importante a ser destacado é sobre a quantidade de tabelas (e as
informações presentes nelas) que foram elaboradas para descrever os resultados da
elicitação de requisitos realizada. Embora o número de tabelas tenha sido elevado, é
necessário lembrar que a atividade relaciona muitos conceitos, e todos eles nos
parecem relevantes para o entendimento das reais necessidades da comunidade de
usuários do sistema. Portanto, fica claro que esta metodologia pode ser melhor
aproveitada para a elicitação de requisitos em sistemas que visem atender aos anseios
e necessidades de várias comunidades, o que nos leva a indicar o uso desta
metodologia para sistemas de software de natureza mais complexa do que o
apresentado no estudo de caso, como por exemplo para sistemas de informação
corporativos.
Conclusão
O trabalho apresentado neste artigo é uma evolução da proposta embrionária
apresentada no WER’99 [9]. Daquela proposta embrionária nasceu a metodologia de
elicitação de requisitos agora apresentada, onde destacamos a possibilidade de
organizar o processo de elicitação de requisitos em atividades.
Mostramos através do estudo de caso a viabilidade de se organizar o processo de
elicitação de requisitos em torno do conceito de atividade. A metodologia proposta
oferece uma estrutura organizacional para o processo de elicitação de requisitos, no
qual a atividade é reconhecida como uma unidade básica de elicitação, estabelecendo
um contexto bem definido para o entendimento das ações realizadas pelos atores do
sistema. A quantidade de informações obtidas sobre o sistema em questão (sistema de
protocolos), organizadas em torno do conceito de atividade e decompostas em termos
dos elementos constituintes da atividade, nos ofereceu um exemplo de um processo de
elicitação de requisitos promissor.
Técnicas consagradas de elicitação de requisitos, como entrevistas, observação,
análise de discurso, JAD, entre outras, podem ser empregadas de maneira produtiva
no âmbito desta metodologia, que não é uma proposta de substituição dessas técnicas,
mas sim uma proposta de estruturação do processo de elicitação de requisitos.
A atividade, como unidade básica de elicitação dos requisitos, proporciona um
contexto bem definido onde identificamos elementos como sujeito, ferramenta de
mediação, objetos, regras, comunidade e divisão de trabalho, e mais os elementos que
formam a sua estrutura hierárquica, que são as ações e operações. Os elementos que
formam o contexto da atividade oferecem uma base rica de informações para as
etapas seguintes de análise e especificação de requisitos.
Consideramos que a metodologia de elicitação de requisitos apresentada neste
trabalho, vem somar esforços para a melhoria da qualidade do processo de elicitação
de requisitos, oferecendo uma estrutura organizativa para o entendimento e captura
dos requisitos de um sistema, centrada no conceito de atividade.
316
Referências Bibliográficas
[1] Kotonya, G. and Sommerville, I., "Requirements Engineering: Processes and
Techniques", John Wiley and Sons, 1998.
[2] Faulk, S. R., "Software Requirements: A Tutorial", in Software Requirements
Engineering, 2nd. Ed., IEEE CS Press, 1997, pp 128-149.
[3] Werstch, J. V., “The Concept of Activity in Soviet Psychology: An Introduction”,
in The Concept of Activity in Soviet Psychology, M. E. Sharp, 1981. pp 03-36.
[4] Kaptelinin, V., “Activity Theory: Implications for Human-Computer Interaction”
in Context and Consciousness - Activity Theory and Human-Computer Interaction,
MIT Press, 1996, pp. 104-116.
[5] Kaptelinin, V. and Nardi, B. A., “Activity Theory: Basic Concepts and
Applications”, CHI 97 Electronics Publications: Tutorials,
march/1997,
http://www.cwi.nl/~steven/chi97/proceedings/tutorial/bn.html.
[6] Leont`ev, A. N., “The Problem of Activity in Psychology”, in The Concept of
Activity in Soviet Psychology, , M. E. Sharp, 1981. pp. 37-71.
[7] Burd, L., "Desenvolvimento de Software para Atividades Educacionais",
Dissertação de Mestrado apresentada na Faculdade de Engenharia Elétrica e de
Computação, Unicamp, 1999.
[8] Kuuti, K,. “Activity Theory as a Potential Framework for Human-Computer
Interaction” in Context and Consciousness - Activity Theory and HumanComputer Interaction, MIT Press, 1996, pp. 17-44.
[9] Martins, L. E. G. and Daltrini, B. M., “Activity Theory: a Framework to Software
Requirements Elicitation”, WER’99 - Workshop en Requerimentos, 28a JAIIO –
Jornadas Argentinas de Informática e Investigación Operativa, SADIO – IFIP,
1999.
[10] Cole, M. and Engeström, T., “A Cultural-Historical Approach to Distributed
Cognition”, In G. Solomon, ed., Distributed Cognition (pp. 1-47), Cambridge:
Cambridge University Press, 1993.
317
318
Download

As atividades levantadas inicialmente passaram por uma análise