Alimentação do Recém-Nascido Pré-Termo: Revisão Integrativa
Autores: NAYARA MOTA DE AQUINO, MAILA GIL PEDROSA, PAULA
MARCONDES PINHEIRO, AMÉLIA AUGUSTA DE LIMA FRICHE,
Resumo Expandido
Introdução: Os avanços tecnológicos e os investimentos em equipes especializadas
na área da neonatologia tem possibilitado aumento da sobrevida dos recém-nascidos
prematuros, por meio de inúmeros cuidados1,2. O recém-nascido pré-termo é aquele
com idade gestacional inferior a 37 semanas3, e tende a apresentar baixo peso,
sendo inferior a 2500 gramas; imaturidade neurológica e do sistema sensório motor
oral; alterações respiratórias; imaturidade do sistema gastrointestinal; dentre outras
comorbidades associadas, fatores que interferem de forma significativa no
desempenho na alimentação2,4,5. Os prematuros podem apresentar dificuldades
alimentares, sendo a incoordenação entre sucção, deglutição e respiração, uma das
mais frequentes. Esta incoordenação pode desencadear engasgos, tosse, náuseas,
alterações no padrão respiratório, aspirações e consequentemente inadequado ganho
de peso. As dificuldades são ainda agravadas, na maioria das vezes, devido ao uso
prolongado de sondas e de aparelhos respiratórios, fazendo-se necessária a
utilização de via alternativa de alimentação como a parenteral, enteral e/ou
gavagem2,4-6. No Brasil, a equipe multidisciplinar que atua em neonatologia é
composta por diversos profissionais, dentre eles, o fonoaudiólogo, que exerce papel
decisivo no sucesso da alimentação, sua intervenção contribui, portanto, para uma
nutrição segura e eficaz, ganho de peso, transição da via de alimentação e
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aceleração do processo de alta do recém-nascido prematuro1,2,5,7. Nos últimos anos,
houve aumento significativo da produção científica sobre a alimentação do recémnascido pré-termo no âmbito da fonoaudiologia. Entretanto, parece não haver
consenso sobre avaliações, estimulações e quanto aos procedimentos mais eficazes
para o sucesso da alimentação destes bebês. Dessa forma, torna-se necessária a
sistematização dos estudos a fim de estabelecer os parâmetros mais adequados para
avaliação e tratamento desta população sob o enfoque fonoaudiológico. Objetivo:
identificar e analisar metodologicamente as pesquisas publicadas sobre alimentação
do recém-nascido pré-termo, quanto à estruturação e eficácia das avaliações e
intervenções fonoaudiológicas bem como sua relação com a alta hospitalar.
Métodos: Trata-se de revisão integrativa de literatura realizada em três etapas. A
primeira etapa foi realizada por meio de acesso ao conteúdo assinado do Portal de
Periódicos CAPES/MEC. A busca de artigos foi realizada utilizando-se descritores em
português, inglês e em espanhol. Não foi estipulada data na busca. Como resultado,
foram encontrados artigos e teses publicados entre os anos 2003 e 2013, nas bases
de dados Directory of Open Access Journals, SciELO Brazil, Scopus, OneFile,
SciELO, MEDLINE, SciVerse ScienceDirect, SciELO Chile, Dialnet, SAGE Journals,
LILACS e Bireme. Na segunda etapa os artigos encontrados tiveram seus resumos
lidos e foram submetidos aos critérios de inclusão previamente definidos. Finalmente
na terceira e última etapa, os 43 artigos e 1 tese que preencheram os critérios
estabelecidos foram lidos em sua totalidade. Após a classificação e seleção dos
artigos, foi realizada análise descritiva das informações coletadas. Resultados:
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Dentre os 111 artigos selecionados para triagem, 31 artigos foram incluídos na
análise final dos dados, sendo 28 nacionais e 3 internacionais. Entre os 28 estudos
nacionais, verificou-se que a região sudeste contemplou a maioria das publicações.
Quanto à amostra, 28 (90,7%) autores estudaram a população de recém-nascidos
pré-termo, sendo que três (9,3%), utilizaram recém-nascidos prematuros como caso e
a termo como controle. Em 22 (71%) estudos foi realizada avaliação fonoaudiológica,
em dez (45,5%) desses as crianças encontravam-se em alimentação por via
alternativa, no entanto, em seis (27,3%) já estavam se alimentando por via oral. Dos
seis artigos em que o alimento era ofertado por via oral no momento da avaliação
fonoaudiológica, em dois (33,3%) ocorria em seio materno e mamadeira, em dois
(33,3%) em copo e em dois (33,3%) somente em seio materno. Quanto aos
instrumentos de avaliação utilizados, verificou-se que dos 22 estudos que realizaram
avaliação fonoaudiológica, apenas 14 (63,6%) avaliaram a sucção não nutritiva.
Destes, três (21,4%) utilizaram instrumentos próprios das instituições, três (21,4%)
criaram instrumentos próprios adaptados de outros, um (7,2%) utilizou instrumento de
outro autor (Instrumento de avaliação da prontidão do prematuro para início da
alimentação oral – Fuginaga, 2005), sendo que sete (50%) não informaram se foi
utilizado algum instrumento de avaliação. Dos sete instrumentos de avaliação
utilizados, seis (85,7%) não eram validados, em contrapartida com apenas um
(14,3%) validado - Instrumento de avaliação da prontidão do prematuro para início da
alimentação oral (Fuginaga, 2005). No que se refere ao estímulo utilizado na
avaliação da sucção não nutritiva, sete (50%) utilizaram dedo enluvado, dois (14,3%)
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utilizaram dedo enluvado em um grupo e chupeta ortodôntica para pré-termo da
NUKR em outro grupo, enquanto cinco (35,7%) não informaram. Dos 14 artigos que
realizaram avaliação fonoaudiológica da sucção não nutritiva, 11 (78,6%) realizaram
intervenção, dois (14,3%) não realizaram, e um (7,2%) não informou. No entanto, 12
estudos abordaram intervenção fonoaudiológica na sucção não nutritiva, pois um
deles não realizou avaliação da sucção não nutritiva. Portanto, verificou-se que em
três (25%) deles a intervenção foi realizada três vezes ao dia. Destes três estudos,
um realizou pelo período de uma semana, enquanto dois estudos não informaram por
quanto tempo a intervenção foi realizada. Em dois (16,7%) a intervenção foi realizada
uma vez por dia, sendo que em um foi feita por dez dias, e em outro por no mínimo
dez dias. Em outros dois (16,7%) estudos, foi realizada por cinco dias, sendo que em
um foi feita cinco dias por semana, no entanto, ambos não informaram o período total
em que ocorreram. Outros dois (16,7%) estudos realizaram intervenções duas vezes
ao dia por uma semana, enquanto três (25%) não informaram o tempo de
intervenção. Quanto ao estímulo utilizado nestes 12 estudos durante a intervenção,
seis (50%) utilizaram dedo enluvado, dois (16,7%) utilizaram dedo enluvado em um
grupo e chupeta em outro, dois (16,7%) utilizaram dedo enluvado em um grupo e
chupeta ortodôntica para pré-termo NUK R em outro, enquanto dois (16,7%) não
informaram. Já a avaliação da sucção nutritiva foi realizada em 17 (54,8%) artigos.
Destes, em cinco (29,4%) foram feitas com mamadeira, em dois (11,8%) com copo,
em dois (11,8%) ao seio materno, em dois (11,8%) com mamadeira e ao seio
materno, em um (5,9%) com finger-feeding, em um (5,9%) com copo e finger-feeding,
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em um (5,9%) com finger-feeding e ao seio materno, e em três (17,6%) não foi
informado. Quanto aos instrumentos de avaliação, quatro (23,5%) utilizaram
instrumentos próprios das instituições, dois (11,8%) criaram instrumentos próprios
adaptados de outros, e um (5,9%) não informou a origem do instrumento utilizado,
sendo que dez (58,8%) não informaram se foi utilizado algum instrumento de
avaliação. Dos sete instrumentos de avaliação utilizados, seis (85,7%) não foram
validados, enquanto um (14,3%) não informou sobre validação. De 31 artigos, apenas
dez (32,3%) abordaram intervenção fonoaudiológica na sucção nutritiva. Verificou-se
que em dois (20%) deles a intervenção foi realizada duas vezes ao dia, sendo que
destes dois, um estudo realizou por um período de uma semana, enquanto o outro
não informou por quanto tempo a intervenção foi realizada. Em um (10%) a
intervenção foi realizada uma vez por dia, por um período de dez dias. Em um (10%)
outro estudo, foi realizada três vezes ao dia por uma semana. Em um (10%), foram
realizadas onze intervenções no total, não sendo informada a quantidade por dia. Por
fim, cinco (50%) não informaram o tempo de intervenção. Quanto ao estímulo
utilizado nestes 10 estudos durante a intervenção na SN, dois (20%) estudos
utilizaram mamadeira, um (10%) utilizou copo, um (10%) utilizou finger-feeding, um
(10%) copo e finger-feeding, um (10%) seio materno e finger-feeding, um (10%) copo,
seio materno e mamadeira, enquanto três (30%) não informaram. A taxa de
transferência de leite foi informada em apenas três (30%) destes estudos, em
contrapartida, sete (70%) não forneceram este dado. O ganho de peso foi pesquisado
somente em quatro (40%) dos estudos. No que se refere à média do tempo de
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transição entre sonda e via oral plena, cinco (50%) dos estudos informaram este
dado, sendo que em um (10%) a média foi de 11 dias, em um (10%) 14 dias, em um
(10%) 20 dias, em um (10%) outro a média no grupo caso foi de 12 dias enquanto no
grupo controle foi de 9 dias. Em um (10%) estudo não foi fornecida média, no entanto,
esta transição ocorreu entre 5 e 10 dias. No entanto, cinco estudos (50%) não
informaram este dado. Quanto à média de dias decorridos entre a intervenção
fonoaudiológica e a alta hospitalar, esta foi informada em apenas um (10%) estudo,
sendo de 41 dias. Conclusão: Verificou-se que o processo de alimentação bem
como de capacitação do recém-nascido prematuro para se alimentar de forma eficaz,
segura e prazerosa requer muito cuidado devido à sua complexidade e aos fatores
associados à ele, seja de forma direta ou indireta. Sendo assim, por meio da análise
das variáveis descritivas em diversos estudos publicados nos últimos anos, é possível
afirmar que há grande variabilidade no que se refere à metodologia, desenho dos
estudos, critérios e instrumentos de avaliação. Portanto, torna-se necessária
realização de estudos futuros, com maior detalhamento metodológico para que
possam ser reproduzidos por outros pesquisadores, possibilitando padronização dos
aspectos que envolvem avaliação e estimulação, a fim de instrumentalizar a
assistência e propiciar melhor compreensão sobre o processo de alimentação destes
bebês.
Descritores: Prematuro; Comportamento Alimentar; Fonoaudiologia.
Referências
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1. World Health Organization. United Nations Children’s Fund. Global strategy for
infant and young child feeding. UNICEF Executive Board. 2003; 30p.
Disponível
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6. Costa PP, Ruedell AM, Weinmann ARM, Keske-Soares M. Influência da
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