Larry Ellison
o profeta do caos
Do alto de sua montanha de 50 bilhões de
dólares e da fama de enxergar longe e ser
o homem mau do Vale do Silício, o presidente
da Oracle prevê um terremoto na internet
Eurípedes Alcântara, de Redwood Shores
Veja 16/10/2000
Alan Levenson
Ellison: ele deve ser o Gates da era da internet. O
mercado parece concordar e há dois anos infla as
ações de sua empresa, a Oracle, que faz
programas para gerenciar empresas. Fora do
trabalho, ele tem fama de gastador, mulherengo
e de arriscar a vida em aventuras no mar e no ar
Larry Ellison, o segundo homem mais rico do mundo e presidente da empresa
americana Oracle, quer ganhar ainda mais dinheiro e ser o primeiro, à frente de Bill
Gates. Não é tanto pelo dinheiro. Depois do primeiro bilhão, já não faz tanta
diferença ter mais no terreno aquisitivo."Quando você conquista o primeiro bilhão,
os carros ficam mais velozes, os aviões mais confortáveis e as mulheres a sua volta
ficam com as pernas mais compridas." A partir daí, a pessoa já comprou tudo o que
os dólares permitem.
A Oracle, criada por Ellison em 1977, é a segunda maior empresa do mundo de
software, os programas de computador. Ainda perde para a Microsoft, que fabrica o
onipresente Windows. Questão de tempo, acha Ellison. "A Microsoft não vai morrer.
Vai ficar aí como um fóssil de uma era grandiosa mas que, infelizmente, para eles
acabou: a era do computador pessoal. A economia mundial agora gira em torno da
internet. E a empresa de Gates não é 100% de internet, como a Oracle", diz.
Sua empresa valorizou- se 400% no último ano e vem resistindo bravamente ao
terremoto na bolsa de alta tecnologia, a Nasdaq (veja a reportagem seguinte). Ele
tem algo mais assombroso a dizer. Chega a ser assustador vindo de alguém cujos
programas de banco de dados, gerenciamento e contabilidade via internet são
comprados por nove em cada dez empresas de comércio eletrônico na web. Larry
Ellison afirma que vai sobreviver apenas uma de cada 1.000 empresas que estão
tentando viabilizar- se na internet, as chamadas pontocom. "O reino da fantasia
acabou", decreta o bilionário americano. "As companhias gigantes da economia
tradicional vão continuar dominando a cena. A internet caiu do céu para elas. Com
um custo mínimo podem aumentar dramaticamente sua eficiência."
Há alguns anos, ele não seria levado a sério. Primeiro porque se acreditava que a
internet provocaria uma reviravolta sem precedentes na ordem econômica. Pela
primeira vez na história do capitalismo, surgira um meio de inverter a cadeia
alimentar: os tubarões poderiam em tese ser engolidos pelos lambaris. As pontocom
ágeis, tocadas a custo quase zero na internet, iriam pouco a pouco expulsando do
cenário as empresas tradicionais. Isso não aconteceu. Ellison não era ouvido também
por outra razão. Sua própria empresa chamava a atenção menos do que ele próprio.
Era sólida, bem administrada, mas tinha o charme de uma fábrica de bicarbonato. O
próprio Ellison distanciava- se das operações, dedicando todas as suas energias a
gastar bem o primeiro bilhão de dólares. Sua imagem era a de um playboy,
fanfarrão e boquirroto. Estava hipnotizado pelas belas mulheres, as Ferrari, os
veleiros e os jatos. Tentou importar um MiG 29, um caça russo de combate
velocíssimo e difícil de pilotar, mas o governo americano vetou. Contentou-se com
um caça italiano Marchetti, que, sem mísseis nem canhões e com uma eletrônica de
bordo modificada, ainda é um de seus brinquedos favoritos. Numa oportunidade,
depois de ganhar uma regata com larga vantagem sobre os outros velejadores,
Ellison correu para seu jato, decolou e deu rasantes desafiadores sobre os
perdedores. "Foi uma criancice", lembra ele.
Aos 56 anos, depois de três divórcios e dois filhos, Ellison passa por uma fase
pessoal menos intensa. O projeto que mais o absorve atualmente é a construção de
sua casa, réplica de um palácio medieval japonês, orçada em 40 milhões de dólares,
às margens de um lago artificial nas colinas de Sant a Cruz, na costa dourada da
Califórnia. O primeiro bilhão virou 50 bilhões, pela última cotação das ações da
Oracle. Há alguns meses sua fortuna pessoal beirou os 60 bilhões de dólares,
encostando nos 68 bilhões de Bill Gates. Tudo isso faz sua aura tornar- se cada vez
mais iluminada e intrigante, especialmente quando o homem que ela ilumina é muito
parecido com um roqueiro madurão que ainda se dá ares de rebelde.
Nesta fase de perplexidade com os rumos das empresas da internet, neste momento
em que esse mundo virtual parece equilibrar- se no abismo, entre duas eras
diferentes, a da decolagem gloriosa e a do vôo sólido de cruzeiro, aparentemente
mais complicado, Larry Ellison pilota uma máquina que não perdeu o impulso para o
alto. Ao contrário, a Oracle é uma organização administrativa cada vez mais apoiada
na internet e crescentemente mais rica. Todos os processos externos, como venda e
assistência ao consumidor, são feitos pela web. Os internos também. Ninguém usa
papel na Oracle. Todos os relatórios, a maioria das reuniões e todas as ordens de
trabalho são dadas pela web para as 170 filiais espalhadas pelo mundo.
"Usamos a web para tudo e, só com isso, economizamos 1 bilhão de dólares em um
ano. No próximo vou economizar mais 1 bilhão", diz Ellison. "A boa notícia é que
todas as empresas podem fazer o mesmo." Além dessa distinção prática, Ellison tem
sido uma fonte de referência porque poliu sua já famosa reputação de ser um dos
poucos visionários do Vale do Silício capazes de enxergar adiante de seu tempo.
Sobre esse ponto é interessante conhecer o depoimento de Raymond Lane, o
superexecutivo que Ellison contratou para tocar a Oracle em sua fase de playboy e
ele próprio demitiu em junho passado para retomar o comando da companhia.
"Ellison enxerga três, cinco anos à frente dos competidores. Ele sabe que tem agora
a chance real de passar à história como o Bill Gates da era da internet", afirma Lane.
Larry Ellison demitiu- o pelo telefone, mas garante que foi Lane que pediu demissão.
Quando mostra a sala vazia do ex- homem forte da Oracle, ele conta emocionado que
sente falta do colaborador, mas logo recobra a compostura e informa com frieza de
contador que só a estrutura administrativa montada em torno de Ray Lane e seu
quartel-general custava 100 milhões de dólares por ano. Aos 52 anos, Lane levou da
Oracle uma bolada em ações e bônus que, segundo o próprio Ellison, chegou a 2
bilhões de dólares. "Graças à web e a nosso software posso comandar a companhia,
uma empresa que fatura 10 bilhões de dólares e tem filiais em todos os continentes",
diz Ellison. "Nosso sucesso vem daí, de vender aos outros uma solução que nós
mesmos usamos e nos permitirá economizar 2 bilhões de dólares em dois anos."
Como toda grande e genuína revolução tecnológica que a precedeu, a inte
rnet veio
para ficar. Da mesma forma que o desenvolvimento da energia elétrica, das
ferrovias, do telégrafo e do telefone, no final do século XIX, a internet fechou o
século XX como uma euforia econômica muito mais febril que todo seu formidável
potencial permite sonhar. Exatamente como as revoluções anteriores, a rede
mundial começa agora a viver sua hora da verdade, um período de depuração em
que a imensa maioria das aventuras comerciais que foram um sopro de alegria nos
primeiros anos da web vai simplesmente falir. É o que vem dizendo Larry Ellison.
Recentemente, a revista americana de negócios Business Week listou as empresas
que considera as locomotivas da nova economia: Cisco, EMC, Oracle e Sun. Elas têm
duas coisas em comum. Primeiro, pouca gente sabe exatamente o que produzem. O
Windows, da Microsoft, por exemplo, vem numa caixa colorida e pode ser comprado
em lojas especializadas pelo próprio usuário. Todo mundo conhece ou já ouviu falar
do sistema operacional Windows. Por outro lado, os programas da Oracle ou da Sun
são comprados pelo "pessoal de sistema" das empresas e rodam invisíveis aos olhos
dos usuários nas redes de computador e nas máquinas dos provedores de acesso à
web. O segundo ponto em comum é que elas são todas empresas que nada têm a
ver com computadores pessoais. São empresas cujos produtos servem para fazer
funcionar as redes de computadores. "A cada dia surgem maneiras diferentes de se
conectar à internet sem um PC. A internet chega pelo telefone, pelo celular, por
aparelhos simples e baratos", diz Ellison. Isso significa que Microsoft, IBM e Intel
continuam a existir e a prosperar, mas deixam de ser a vanguarda. "Elas saíram de
moda", alfineta Larry Ellison.
Claramente a internet encerra agora sua fase inicial de vida. É o fim do começo, na
avaliação da revista americanaThe Industry Standard, que, com a Fast Company e a
Wired, compõe o tripé das melhores publicações nascidas com a missão de cobrir a
nova economia. O fim do começo tem duas características.Uma delas é a gradativa
mas aparentemente irreversível perda de importância do computador pessoal, em
benefício de aparelhos mais leves, baratos e simples de navegação na web.A outra é
o furacão que se abate sobre as aventuras comerciais nascidas na onda de euforia
dos primeiros anos da internet. Há um pessimismo galopante nessa área. No início
do ano, na famosa reunião anual do Fórum Econômico, em Davos, na Suíça,
Masayoshi Son, o japonês dono do Softbank, diagnosticava do alto de sua autoridade
de maior investidor da web: "Apenas uma em 100 empresas pontocom vai
sobreviver". Nove meses depois, os prognósticos estão muito mais sombrios. Ellison
fala em uma sobrevivente em 1.000. A consultoria americana Merryll Lynch produziu
um relatório cuja previsão é de que 100 das 400 empresas de alta tecnologia com
ações na bolsa Nasdaq vão estar fora do negócio até 2005.Em que a internet
falhou? Com a palavra, Larry Ellison:
"Uma empresa que vende comida de cachorro na internet precisa antes ser uma boa
companhia de comida de cachorro na economia tradicional. Não é porque montou
umas páginas atraentes na internet que ela se viabilizará. E como ela competirá com
dezenas, centenas e até milhares de outros concorrentes que tiveram a mesma
idéia? Um belíssimo restaurante com um chef de primeira linha pode e deve passar a
quilômetros da internet. É preciso parar de pensar em empresas pontocom como
empresas de tecnologia. A maioria das outras pontocom são apenas deformações,
fantasias que logo vão sumir no ar tão rápido quanto surgiram".
As idéias do homem que deve ser
o Bill Gates da era da internet
Larry Ellison, o segundo homem mais rico do mundo, recebeu Eurípedes Alcântara,
diretor adjunto de VEJA, em sua sala na sede da Oracle, em Redwood Shores,
cercanias de San Francisco, Califórnia, para a entrevista que se segue:
Veja – Que diferença faz na vida de uma pessoa ter 1 bilhão ou 50 bilhões
de dólares?
Ellison – Com 50 bilhões você é ouvido. Isso é muito bom.
Veja – Sua fortuna é do tamanho do PIB de alguns países...
Ellison – É uma coisa louca, surreal. Pensei que tinha ficado rico quando comprei
minha primeira casa. Fui criado numa região de classe média, no sul de Chicago.
Nunca tivemos muito dinheiro. Ficamos sem trocar de carro por dez anos. Ter 50
bilhões permite atacar questões que de outra forma continuariam intocáveis.
Profissionalmente, é o máximo. Porque a Oracle ficou tão rica pudemos fazer algo
que nenhuma empresa havia tentado antes, uma solução completade programas
empresariais baseada na internet.
Veja – O que mudou para o senhor pessoalmente?
Ellison – Um bilhão, dois bilhões, um punhado de bilhões de dólares... bem, depois
do primeiro bilhão, é tudo a mesma coisa. Você vira uma celebridade, é isso. Mas
com 1 bilhão não existe nada mais no mundo que você não possa comprar – carros,
casas, jatos, qualquer coisa está dentro de seu orçamento.
Veja – Bem, por maior que seja seu sucesso, o senhor será mais lembrado
como o anti-Bill Gates. Isso o incomoda?
Ellison – Não. A Microsoft, a empresa de Bill Gates, cometeu um crime pelas leis
deste país. Dona de um monopólio, dos sistemas operacionais com o Windows, ela
tentou alavancar outro monopólio, o dos softwares de internet com o Explorer. A
empresa de Gates tem problemas com a Justiça deste país, e eles não vão
abandoná- lo facilmente. Eles agiram fora da lei. Isso não pode ficar impune. Gates e
a Microsoft conseguiram destruir a Netscape. A empresa teve de ser vendida. Do
ponto de vista comercial, o monopólio da Microsoft foi um sucesso, pois destruiu o
concorrente, mas, do ponto de vista legal, eles ficaram bastante encrencados. A
ironia é que eles descobriram muito tarde que roubaram o banco errado. Na visão
deles, a destruição da Netscape asseguraria para a Microsoft o monopólio dos
programas de navegação pela internet.Foi um erro estratégico. A guerra real não se
trava nos PCs individuais de cada usuário, mas num plano mais alto, nos
computadores que chamamos de servidores e que controlam o tráfego na rede, entre
outras coisas. E nesse mercado a presença da Microsoft não é significativa.
Veja – O senhor ainda acredita que prestou um serviço público contratando
uma empresa de detetives para espionar a Microsoft?
Ellison – Sem dúvida. A empresa de Gates queria esconder do público um
segredinho sujo, o de que eles financiavam por baixo do pano algumas empresas e
instituições que defendiam publicamente a Microsoft no processo de abuso do
monopólio que lhe move o governo. Bem, os detetives que nós contratamos
descobriram que os defensores da Microsoft não eram independentes como
pareciam. Eram contratados pela Microsoft. Tornamos essa armação pública, e com
isso acho que prestamos um grande serviço ao povo americano.Claro que os
investigadores fizeram algumas coisas desagradáveis, como fuçar no lixo da
Microsoft, mas foi esse o preço de trazer à tona fatos de interesse público que a
empresa de Gates tentava ocultar.
Veja – Há alguns anos o senhor disse que os PCs estavam com os dias
contados e que as pessoas e empresas acabariam comprando máquinas
mais simples e baratas, capazes apenas de navegar pela internet. O senhor
continua pensando assim?
Ellison – O sol está se pondo sobre a era do computador pessoal. As pessoas não
vão mais pagar caro para tê- los em casa quando tudo que querem é navegar pela
internet. O PC é uma máquina de transição.Mais alguns anos e ele será esquecido.
Não totalmente, é claro. Mas será visto como um equipamento sem charme,
complicado, caro. Ninguém mais escreverá reportagens sobre fábricas de PC ou
sobre a Microsoft e seu sistema operacional Windows. Agora mesmo se multiplicam
os equipamentos para navegar na internet e que não são PCs. A Microsoft vai
continuar existindo, mas não será mais a vanguarda tecnológica. Ela se tornará uma
empresa tão chata quanto uma fábrica de geladeira. Ou em outra comparação:
empresas da era PC, como a Microsoft e a IBM, faziam moda. Agora fazem roupas no
atacado. Quem dita a alta moda agora sou eu e as outras empresas vanguardistas
da era da internet.
Veja – O senhor não acha que as pessoas têm fascínio especial pelo PC,
como têm pelo automóvel? Ou seja, pouco importa que elas tenham à
disposição o melhor sistema de transporte público do mundo, ainda assim
ninguém vai querer abrir mão do próprio carro?
Ellison – É uma questão interessante. Mas eu lhe proponho outra: o que você acha
mais fascinante, um PC que não pode ser conectado à internet ou um equipamento
mais simples e barato cuja única virtude é navegar na rede? Não tenho dúvida de
que a maioria das pessoas ficaria com a segunda opção.As pessoas compram PCs
por hábito. Cada vez mais as funções de um PC estarão sendo feitas totalmente
pelos servidores da internet.
Veja – Qual o próximo passo para a nova economia? Há sensação no ar que
para os otimistas é apenas o fim do começo e para os pessimistas, o começo
do fim.
Ellison – A idéia de que as empresas novas criadas na internet poderiam dominar o
cenário está totalmente sepultada. Elas é que serão varridas da vida econômica
numa velocidade muito maior do que o mais pessimista dos analistas poderia prever.
Essas companhias começaram a vender ações na bolsa e, mesmo sem gerar um
centavo de lucro, passaram a valer, em alguns casos, bilhões de dólares. Ou seja,
milhões de pessoas investiram fortunas nelas e perderam tudo. As companhias
chamadas BtoB, que fazem a intermediação de vendas entre empresas, têm
atividades mais sólidas e certamente não vão desaparecer da noite para o dia. Mas,
com exceção do Yahoo! e da Amazon.com, não vejo muitas outras empresas
pontocom que tenham chance mínima de sobrevivência no médio prazo.
Veja – Em que elas falharam?
Ellison – Primeiro, não souberam entender o que é a internet. Depois, acreditaram
que ela revogaria todas as leis econômicas. A meu ver não existe sequer uma nova
economia. Nem velha. O que existe é apenas a economia. A novidade é a tecnologia,
especialmente a que permite comunicações globais instantâneas a um custo
baixíssimo, ou seja, a internet. Por meio dela, as empresas podem comunicar- se
com seus empregados, clientes, fornecedores em qualquer parte do mundo a um
custo quase insignificante. As companhias da chamada velha economia que reagirem
com vigor a essa nova fronteira aberta pela internet podem tornar- se mais eficientes
do que jamais sonharam. Por essa razão, as empresas que têm mais chance de ser
fabulosamente bem- sucedidas na internet, diferentemente do que diz o senso
comum, são justamente as gigantes da economia tradicional, as GE, as GM, as
multinacionais, as companhias bilionárias com operações globais.Quase todas as
empresas pontocom vão sumir do mapa.
Veja – Mas sua empresa não é uma pontocom?
Ellison – O Citibank é uma empresa da velha economia? A General Motors é da
velha economia? Então eu quero a Oracle funcionando como na velha economia,
tomando o partido das novas tecnologias.
Veja – Bem, pelo jeito vai haver uma sangria ainda maior na Nasdaq, a bolsa
de valores das empresas de alta tecnologia...
Ellison – A imensa maioria das empresas listadas na Nasdaq vai desaparecer,
inevitavelmente. Tive uma conversa interessante com Michael Dell (o maior acionista
da Dell Computers e o homem mais rico do mundo com menos de 40 anos – tem 35)
num jantar em casa há alguns dias. Michael me lembrava que essa febre já existiu
no começo dos anos 80, quando todo mundo achava que podia ficar rico fabricando
computadores pessoais, os PCs. Michael lembrava que existiam cerca de 500
montadoras de PCs. Bem, menos de vinte anos depois sobraram apenas três grandes
fabricantes nos Estados Unidos. A diferença dessa tolice atual de achar que se pode
facilmente fazer fortuna na internet é que, naquela época, os fabricantes de PC não
venderam ações antes de gerar lucros.Hoje, qualquer empresa sem pé nem cabeça,
como essas pet.coms da vida, que vendem comida de cachorro e gato pela internet,
acham que podem ter ações na bolsa.Pobre investidor. Bem, se de 500 fabricantes
de PC sobraram três, eu digo que de cada 5 000 aventuras comerciais na web vão
sobrar quatro ou cinco. Acredite em mim. Eu conheço o coração dessas pontocom
como poucas pessoas no Vale do Silício. Elas parecem nada? Pois bem, elas são
nada.
Veja – Seus críticos dizem que seu sistema de administração via web
transforma as empresas em computadores, em que todo o lado humano se
perde. Os funcionários viram meros robôs...
Ellison – Certos procedimentos funcionam em qualquer parte do mundo. Não
adianta querer inventar. Querer ser muito criativo. Isso custa caro. Quer ser criativo?
Escreva um romance. As empresas não precisam de criatividade. Precisam de
inovação, e isso só se consegue com uma gerência centralizada que una todos os
esforços de todas as filiais espalhadas pelo mundo.Isso só se consegue, por um
preço viável, via internet.Inove ou morra. Seja uma empresa realmente global ou
morra. Esse é nosso lema. Graças à web podemos manter essa estratégia mundial
com eficiência e custo baixo. Não quero que nosso pessoal no Brasil se lance a
produzir um plano de marketing próprio, enquanto a filial alemã está trabalhando
num projeto semelhante. Não quero preços discrepantes.Temos um preço único
para qualquer mercado do mundo. Nos 170 países onde estamos presentes, nossos
programas custam a mesma coisa em dólar. Basta entrar em nosso site na internet e
ver o preço.Acabou aquele blablablá interminável de negociar preços e descontos
que tanto feriu nossa imagem no passado. Chegamos a ter 97 diferentes sistemas de
e- mails funcionando ao mesmo tempo na empresa. Agora, temos apenas um. Via
internet. Todo nosso sistema de e- mail é gerido por um único computador. Antes,
eram quase 100, cada um com sua equipe de técnicos. Nossa receita interna é
justamente os produtos que vendemos a nossos clientes. Se funcionou aqui, se
economizamos 1 bilhão de dólares em um ano, temos segurança de comercializar
nosso sistema. Ou seja, vendemos aos outros a mesma ração que comemos.
Veja – E sua ração tem tido aceitação?
Ellison – Bem, nossas ações valorizaram 400% em um ano.Estamos em mais de
90% dos sites de comércio eletrônico do mundo e mais de 90% das maiores
empresas americanas são nossas clientes. A General Electric, nossa maior cliente, é
considerada a companhia mais admirada dos Estados Unidos. O pessoal da GE tem
usado agressivamente nossos programas e nossa visão com o objetivo de ter uma
presença dominante na internet.Outras megacompanhias nos Estados Unidos estão
fazendo o mesmo. Nós tínhamos um famoso outdoor informando que 93% das
companhias pontocom usam nosso software. Mas esse não é mais o foco. Agora o
foco do nosso negócio são as 500 maiores e tradicionais. Amamos a GE, amamos o
Citibank, amamos os gigantes. A vantagem é que médias e pequenas companhias
podem também comprar nosso software.
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