1 UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL FABRÍCIO D’ARRIGO FURLIN LOVEMARKS – ESTUDO DA MARCA HOT WHEELS CAXIAS DO SUL 2014 2 FABRÍCIO D’ARRIGO FURLIN LOVEMARKS – ESTUDO DA MARCA HOT WHEELS Trabalho de Conclusão de Curso, requisito necessário para a aprovação na disciplina de Monografia II da Universidade de Caxias do Sul, curso de Graduação em Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda. Orientador Montaña CAXIAS DO SUL 2014 Professor Mestre Misael 3 FABRÍCIO D’ARRIGO FURLIN LOVEMARKS – ESTUDO DA MARCA HOT WHEELS Trabalho de Conclusão de Curso, requisito necessário para a aprovação na disciplina de Monografia II da Universidade de Caxias do Sul, curso de Graduação em Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda Aprovado em Banca Examinadora: _____________________________ Professor Mestre Misael Montaña Universidade de Caxias do Sul - UCS _____________________________ Professor Mestre Marcelo Wasserman Universidade de Caxias do Sul - UCS _____________________________ Professora Mestre Ivana Almeida da Silva Universidade de Caxias do Sul - UCS CAXIAS DO SUL 2014 4 Dedico esse trabalho a toda a minha família, em especial para minha mãe e minha avó, as pessoas mais importantes para mim e a minha namorada por estar presente nessa minha jornada. 5 Agradecimentos Agradeço em primeiro lugar a minha mãe, por ser uma pessoa que me auxiliou muito na minha vida e sempre fez o máximo possível para mim. Também agradeço a minha avó, por ser uma mulher guerreira que conseguiu seu sucesso e sua felicidade através de muito esforço e trabalho e que me proporciona muita alegria e conhecimento. Aos meus padrinhos por serem como uma segunda mãe e um segundo pai em vários momentos na minha vida, juntamente com meu padrasto que praticamente me adotou como sendo seu filho desde a primeira vez que me viu. Também agradeço ao meu irmão por estar junto comigo em todos os encontros de Hot Wheels que participei e por ter me acompanhado nessa nossa paixão e a minha namorada que participou e me auxiliou nessas épocas finais de graduação, sempre tendo muita calma e paciência com os meus a fazeres. Agradeço também ao Professor Mestre Misael, pelo ano de orientação, tanto na monografia I quanto na II, por ter me dado uma excelente bibliografia de pesquisa e por ter aceitado esse tema que é uma grande paixão minha. Por último agradeço a todos meus colegas que se transformaram em amigos e que caminharam junto comigo nessa jornada. 6 RESUMO Este trabalho tem como objetivo de pesquisa saber se a marca Hot Wheels pode ser considerada uma Lovemark tendo como base bibliográfica o livro de Kevin Roberts (2005), “O futuro além das marcas, Lovemarks”. Para isso, será relatada a história da marca Hot Wheels, desde a sua criação até o momento em que ela atinge o mercado consumidor adulto. Também será abordada uma pesquisa sobre Lovemarks e como o mercado consumidor dessa marca se comporta. Palavras-chave: Hot Wheels, Lovemarks, relacionamento. 7 ABSTRACT This study aims to research whether the Hot Wheels brand can be considered a Lovemark taking the book as a bibliographic database of Kevin Roberts (2005), "The future beyond brands: Lovemarks". This will be reported to the history of Hot Wheels brand, from its inception to the time it reaches the adult consumer market. Will also be addressed research on Lovemarks and how the consumer market this brand behaves. Keywords: Hot Wheels, Lovemarks, relationship. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Chevrollet El Camino de Bradley...............................................................14 Figura 2 - Sweet 16 ...................................................................................................15 Figura 3 - Custom Volkswagen – Pintura spectraflame e rodas redlines .................16 Figura 4 – Hot Wheels Beach Bomb 1969 ……………………………………....….....17 Figura 5 – Real Riders...............................................................................................20 Figura 6 – Treasure Hunt…………………………………………………………….......22 Figura 7 – VW Drag Bus First Edition…………………………………………….…….23 Figura 8 – site hotwheelscollectors.com....................................................................24 Figura 9 – Miniatura exclusiva do RedLine Club........................................................25 Figura 10 – Lovemarks x marca de confiança............................................................34 Figura 11 – Amor e Respeito......................................................................................39 Figura 12 – Gráfico cartesiano Amor X Respeito.......................................................57 Figura 13 – Quadro construído pelo entrevistado 1...................................................58 Figura 14 – Quadro construído pelo entrevistado 2 ..................................................59 Figura 15 – Quadro construído pelo entrevistado 4...................................................60 Figura 16 – Quadro construído pelo entrevistado 5 ..................................................61 Figura 17 – Quadro construído pelo entrevistado 6...................................................62 9 LISTA DE TABELA Tabela 1 – Dados dos entrevistados..........................................................................43 10 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ……………………………………………………………………….... 11 2. HISTÓRIA DAS MINIATURAS HOT WHEELS.....................................................13 2.1 INÍCIO DA HOT WHEELS....................................................................................13 2.2 A DIFÍCIL ÉPOCA DE 70.....................................................................................17 2.3 ASCENÇÃO DA HOT WHEELS...........................................................................20 3. A EVOLUÇÃO DAS MARCAS TRADICIONAIS À LOVEMARKS........................27 3.1 O CAMINHO DE UMA MARCA ATÉ SEU CONHECIMENTO.............................27 3.1.1 Conscientização da marca.............................................................................28 3.1.2 Qualidade percebida da marca .....................................................................29 3.1.3 Fidelidade à marca..........................................................................................30 3.1.4 Associações com as marcas..........................................................................31 3.2 LOVEMARKS ………………………………………………………………………….32 4. METODOLOGIA....................................................................................................41 4.1 OS ENTREVISTADOS ........................................................................................42 5. ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS.................................................................43 6. CONCLUSÃO........................................................................................................66 7. REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS .......................................................................70 APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA ..........................................................72 APÊNDICE B – MONOGRAFIA 1 ............................................................................74 ANEXO A – CD COM MATERIAL DIGITAL.............................................................90 11 1. INTRODUÇÃO Os brinquedos podem ter um importante papel para o crescimento das crianças. Algumas vezes eles os companheiros que ajudam nos momentos de tristeza e também os que ensinam. Um brinquedo tem poder imenso perante uma criança, isso torna com que esse objeto, que antes era apenas material, vire uma paixão. Porém quando essas crianças tornam-se adultos, os brinquedos acabam perdendo espaço para coisas mais sérias. Mas o que falar sobre aqueles crescidos que mantém aquela paixão pelo brinquedo da sua infância, ou melhor, o que falar sobre aqueles crescidos que são um forte mercado consumidor para marcas que tinham um pensamento voltado apenas para a linha infantil. Assim como eu, existem milhões de colecionadores espalhados pelo mundo. Eles, geralmente não são o alvo principal das campanhas publicitárias, também não são o maior mercado consumidor de um produto, porém eles são aqueles que defenderão a marca como se fosse uma filha, que saberão de tudo sobre ela e que também nunca irão abandoná-la, eles sempre serão fiéis. A Hot Wheels pode ser uma dessas marcas em questão, quando se fala em miniaturas colecionáveis. A marca existe há mais de quarenta anos e durante décadas está fortemente inserida no mercado mundial. Conhecida desde pais até seus filhos, a Hot Wheels passou por gerações sem perder a sua essência, a de trazer alegria para crianças, jovens e adultos apaixonados por veículos e coleções. A fidelidade ou paixão pela marca, demonstrada anteriormente, encaminha uma análise para saber se a Hot Wheels pode ser considerada, segundo Roberts (2005), uma Lovemark. Esse novo conceito de relacionamento com a marca surgiu de uma necessidade das empresas se aproximarem das pessoas. Os consumidores não querem mais realizar compras mecânicas, eles querem sentir algo pelos produtos. Esse sentimento trouxa a tona o quanto as marcas precisam conhecer as pessoas, precisam estar próximo a elas, e essa proximidade eleva algumas empresas em suas marcas em um novo patamar no mercado. Esse estudo foi a base desse trabalho, onde foi buscado estudar a história da marca Hot Wheels ao longo dos seus primeiros quarenta anos de vida, estudar as novas formas de uma marca se relacionar com o mundo e analisar as pessoas que 12 estão inserida nesse universo da marca através de um questionário para se ter a resposta do problema em questão. 13 2. HISTÓRIA DAS MINIATURAS HOT WHEELS A história da marca Hot Wheels pode ser contada dividida em épocas, pois durante todos os seus 46 anos houve grandes mudanças na maneira da marca pensar e agir, e, portanto, se colocar no mercado. O estudo terá como base os autores Ragan (2001), que conta o início da marca até a sua crise na década de 70, e Bogart (2007 e 2009) que mostra os quarenta anos da Hot Wheels e também uma época clássica das miniaturas. Além de relatar a história da marca que já atingiu mais de 10 milhões de pessoas (BOGART, 2007), também será mostrado como ela conquistou um nicho de mercado que não era seu foco principal. 2.1 INÍCIO DA HOT WHEELS Ragan (2001) conta que posteriormente á criação da Mattel, Elliot Handler (co-fundador da empresa), percebeu, após ver seus netos brincando com miniaturas de veículos de uma marca concorrente, que sua empresa de brinquedos ainda não possuía uma linha de carrinhos de ferro para o público masculino infantil. Então, no ano de 1966, Handler decide que a Mattel deveria criar uma linha de diecast1 para competir com a popular marca Matchbox. Juntamente com Jack Ryan (chefe de pesquisa e desenvolvimento), Harvey LaBranch (chefe de engenharia), Howard Newman (responsável pelo departamento de design) e Harry Bradley (designer de carros da Chrysler), Elliot criou a primeira linha da marca no ano de 1968. Essa equipe criada constatou que a maioria das miniaturas de automóveis que eram produzidos pelas grandes marcas da época como Matchbox, Husky, Budgie, Impy e Mini Dinky eram réplicas de carros europeus como Jaguar, Austins, Rovers, Rolls-Royces, e que as marcas americanas como Chevrolet, Pontiac, Ford e Mercury acabavam sendo esquecidas por essas marcas de miniaturas. Foi nessa pesquisa que Ryan pediu para Bradley fazer algo parecido com a Chevrolet El Camino que o próprio Bradley tinha ganhado dos irmãos Alexander (criadores dos hot rods2). Ela estava estacionada na frente do escritório de design da Mattel 1 2 Como é conhecido mundialmente miniaturas de veículos. Transformações em automóveis muito populares na década de 70 e 80 nos Estados Unidos, que tinham como característica deixar o motor a mostra. 14 (chamando a atenção de todos, pois o modelo em produção da El Camino foi lançado somente em 1968 pela Chevrolet), como relata Mac Ragan (2001) em seu livro Hot Wheels Car: “Antigos de empresa dizem que Rayan, ao ver a El Camino personalizado de Bradley no estacionamento, disse que "Esses são mesmos hot wheels” (RAGAN, 2001, p. 15). Figura 1 - Chevrollet El Camino de Bradley Fonte: www.kustomrama.com/index.php?title=File:Harry-bradley-1964-chevrolet-el-camino.jpg Até esse momento a equipe não possuía nem o nome da marca que venderia essas miniaturas. Porém, após Bradley explicar que aquele carro (seu El Camino customizado) se tratava de um hot rod, e a busca da equipe em miniaturas que tivessem pouco atrito das rodas nas pistas de brinquedo, deu-se o nome da nova marca da Mattel de Hot Wheels (hot vindo do hot rod e wheels vindo das novas rodas que as miniaturas de carros estavam recebendo). “Ryan realmente veio com o nome de "Hot Wheels", uma brincadeira com o tema hot rod e da tecnologia envolvida com fazer as rodas de baixo atrito.” (RAGAN, 2001, p. 15) Após escolhido o nome da marca e também que linha de design deveria ser seguida, Bogart (2007) cita que foram criados, em 1968, dezesseis modelos para lançamento, conhecidos como os Sweet 16. Os modelos eram Beatnik Bandit, Custom Barracuda, Custom Camaro, Custom Corvette, Custom Cougar, Custom Eldorado, Custom Firebird, Custom Fleetside, Custom Mustang, Custom Thunderbird, Custom Volkswagen, Deora, Ford J-Car, Hot Heap, Python, Silhouette. 15 Figura 2 - Sweet 16 Fonte: http://onlineredlineguide.com/front/1968_group.jpg Todos os Sweet 16 possuíam pintura spectraflame. Bogart (2009) relata que spectraflame era uma pintura brilhante onde primeiro era aplicada uma tinta dourada ou prateada e logo após era aplicada uma pigmentação com certo nível de transparência para que a miniatura ficasse com a tonalidade escolhida, e também com o brilho do dourado e prateado. O autor também exalta as rodas com eixos individuais também foram uma inovação, onde cada rolamento não dependia do seu par para rodar (isso gerava menos atrito nas pistas de plástico, fazendo com que as miniaturas da Hot Wheels fossem as mais rápidas do mercado. Ragan (2001) demonstra outro fator que diferenciava as miniaturas da Hot Wheels das demais, as suas red lines, que eram faixas vermelhas ao redor dos pneus das miniaturas que davam um ar de esportividade para as diecasts. 16 Figura 3 - Custom Volkswagen – Pintura spectraflame e rodas redlines Fonte: “Hot Wheels Forty Years” (BOGART, p. 23, 2007) A primeira linha de Hot Wheels alcançou um nível de vendas muito mais do que se esperava pela Mattel, dando um novo conceito para o mercado de diecasts da época e dos anos seguintes, “Dentro de um ano, a Mattel mudou a maneira como a maioria dos carros de brinquedo seria feita para os próximos 30 anos.” (RAGAN, 2001, p.8). Não se pode citar o próximo ano da marca, sem comentar sobre a miniatura que foi a pior e a melhor criação da Hot Wheels. Ragan (2001) faz uma pausa na história da marca para mostrar que no ano de 1969, após a saída de Bradley e a entrada de Ira Gilford (ex-designer da Chrysler), a Hot Wheels, pensando em agradar o público europeu, lançou ao mercado, além da Merceds Benz 280SL, Maserati Mistral, Rolls-Royce Silver Shadow, a miniatura Beach Bomb. Essa miniatura é uma Volkswagen Samba3 com duas pranchas de surf na lateral, no melhor estilo californiano. Porém, como relatado anteriormente, ela foi a pior e a melhor miniatura lançada. Primeiramente, a Beach Bomb não foi nem um pouco aceita pelo mercado da época, pois ela era pesada e grande para caber nas pistas de diecasts, além de que o design dela não era o que o mercado procurava (super esportivos e hot rods). Com isso, a Hot Wheels percebendo que toda a linha continuava em crescente venda, menos essa miniatura, eles decidiram cancelar a produção dela após alguns meses de lançamento. Porém, a escassez da Beach Bomb foi o seu grande sucesso. Colecionadores da época, após terem quase concluído a coleção do ano 3 Nos Estados Unidos a Volkswagen Kombi era conhecida por esse nome. 17 de 1969 (24 miniaturas), perceberam que faltava uma das minis, a Beach Bomb4. Foi a partir da escassez que ela se tornou uma raridade, e foi a partir dessa busca do mercado por essa miniatura, que a Hot Wheels percebeu que não estava fazendo somente brinquedo para crianças, e sim uma nova espécie de colecionismo. Figura 4 – Hot Wheels Beach Bomb 1969 Fonte: http://onlineredlineguide.com/69/69_volkswagen_beach_bomb/BeachBomb_LtGreen No final desse ano de 1969, Ragan (2001) relata que a Hot Wheels contratou seu terceiro designer, Larry Wood, que ficaria na empresa até os dias de hoje. 2.2 A “DIFÍCIL” ÉPOCA DE 1970 Bogart (2009) afirma que após a Hot Wheels perceber que tinha atingido um mercado consumidor muito maior do que tinha almejado, a marca focou em conseguir “patrocínios” para os seus carros em miniatura. Esses patrocínios eram colocar marcas de outros produtos em suas miniaturas. O primeiro deles foi recriar os dragsters5 dirigidos por Snake e Mongoose (dois pilotos de arrancada que popularizaram esse tipo de esporte nos Estados Unidos). 4 Mac Ragan relata em seu livro Hot Wheels Car (2001), e que também é de conhecimento de todo o colecionador de Hot Wheels, que uma simples Beach Bomb de 1969 chega a custar hoje no mercado o equivalente a mais de U$ 10.000,00. 5 Estilo de carro para corridas de arrancada. 18 Porém, as coisas rumaram para outro lado quando as primeiras miniaturas da Hot Wheels começaram a descascar e apresentar manchas negras nas pinturas spectraflames, como demonstra Ragan (2001) “Muitas vezes, o verniz do spectraflames estabeleceu em áreas de recesso do corpo de modo que essas áreas se tornaram mais escura” (RAGAN, 2001, p. 10). Isso se aconteceu, pois as miniaturas da Hot Wheels são feitas de Zamac (uma mistura de metais que entre eles estão o zinco, alumínio, cobre e magnésio) e ele não possuía muita aderência para com o tipo de pintura realizado, a spectraflame. Então, após todos esses incidentes de inúmeras miniaturas terem suas cores prejudicadas em menos de dois anos, a Hot Wheels decidiu no ano de 1972 em acabar com a pintura spcatraflame e optar por uma pintura básica. Outras mudanças também foram muito notadas como a exclusão dos bottons que acompanhavam as miniaturas nas embalagens, como mostra Bogart (2007) em seu livro Hot Wheels 40 Years: A mudança mais visível que a Mattel implementou, em 1972, estavam na pintura dos Hot Wheels e na embalagem. Nos pacotes de um número relativamente pequeno de novos modelos oferecidos naquele ano, a Mattel eliminou os botões do colecionador que tinha até então e apareciam com cada carro Hot Wheels. Até aquele momento, as crianças, que compravam os carros, descartavam os botões ou usava-os para negociar os botões entre si. (BOGART, 2007, p. 69) Com essa exclusão do botton e a mudança da pintura, a Mattel conseguiu economizar dois cents por unidade na linha de produção. Mas isso não impediu que naquele ano, cerca de 2.000 funcionários fossem demitidos da empresa. Bogart (2007) também fala sobre a crise da Hot Wheels “Para reduzir ainda mais a sobrecarga, a Mattel demitiu mais de 2.000 funcionários em todas as divisões da empresa, incluindo a concepção e fabricação.” (BOGART, 2007, p. 69). Segundo Bogart (2009), em 1973, a Mattel foi obrigada a reduzir o orçamento destinado para a Hot Wheels devido à inflação que assombrava os Estados Unidos naquela época. Isso fez com que a marca de miniaturas removesse algumas peças móveis (devido ao custo de produção) deixando apenas moldes inteiriços sem capôs ou porta-malas que abrissem e também começaram a implantar plástico em algumas miniaturas. Além dessas modificações, Ragan (2001) também relata que a Hot 19 Wheels teve que parar de adesivar suas miniaturas e começar a fazer os detalhes pintados na própria mini. Essas alterações citadas por Ragan (2001) e Bogart (2007), conseguiram fazer com que a Hot Wheels seguisse no mercado de diecasts e repensasse no futuro da marca. Bogart (2007) relata que a partir da superação dessa crise, surge uma nova era no mercado de miniaturas. A marca percebeu que mesmo alterando algumas características do seu produto, o mercado continuava consumindo-o. Isso fez com que a Mattel desse total liberdade para a Hot Wheels desenvolver alterações nas miniaturas conforme seus pesquisadores analisassem o mercado. A primeira mudança pós-crise foi a troca das rodas red lines por rodas blackwalls (rodas sem as tarjas vermelhas das red lines,), que aconteceu no ano de 1977. Outro marco muito importante nessa época foi um novo método de mercado adotado pela Hot Wheels, a separação das miniaturas por séries, como conta Bogart (2007). Ajudando a recuperação da Companhia, foi criada a era de um novo método de marketing de carrinhos Hot Wheels, colocando-os em categorias de série. Esse método ajudou a que essas séries se popularizassem, e também deixou as crianças e colecionadores a se sentirem inclinados a comprá-los. Super Chromes, Scene Machines, Flying Colors e outras séries contaram com uma variedade de peças com decorações de harmonização e embalagens para torná-los fáceis de identificar em um mar de carros Hot Wheels. (BOGART, 2007, p. 123). Bogart (2007) mostra que após essa divisão por séries, a Mattel retornou com o conceito de 1970 em colocar “patrocínio” em suas miniaturas. A primeira empresa a aderir essa ideia foi a Marvel6, e assim surgiram miniaturas com as imagens do Incrível Hulk, O coisa e o Homem-Aranha. Essa junção entre as duas empresas para fabricar a série fez com que as crianças tivessem o prazer de ter seus super-heróis favoritos junto com suas miniaturas favoritas. 6 Editora de quadrinhos como X-Mens, Hulk, Homem-Aranah, entre outros 20 2.3 ASCENCÃO DA HOT WHEELS Para Bogart (2007), no ano de 1983, a Hot Wheels decidiu investir em peso no design das miniaturas (o que já era um atrativo da marca, pois ela sempre buscou ter profissionais do ramo automobilístico na sua linha de criação) e criou uma nova série especial com um valor um pouco mais alto, que mudou o mercado de miniaturas, os Real Riders. Essa série contava com pneus de borracha com a marca da Goodyear 7, pois antigamente os pneus eram feitos somente de plástico, e design muito próximo ao automóvel real. O lançamento dos Real Riders foi o toque final que a empresa precisava para poder sair da crise que lhe assombrou no início da década de 70. Figura 5 – Real Riders Fonte: http://cj3b.info/Photos/Toys/HotWheels/HWScramblerRealRiders.jpg Antes de entrar na década de 90, a Hot Wheels comemorou seu vigésimo aniversário no ano de 1988. Para isso, Bogart (2007) comenta que a empresa elaborou em conjunto com a maior loja do segmento nos Estados Unidos, a Toys r us, uma série comemorativa aos seus 20 anos. Essa série contava com releitura das miniaturas dos anos de 1968, 1969 e 1970. 7 Marca de pneus que já desenvolveu produtos para a Fórmula 1 e outro tipos de corridas. 21 Porém, Bogart (2007) afirma que foi no ano de 1995 em que a Hot Wheels se consolidou definitivamente no mercado do colecionismo de miniaturas. Colecionismo Belk (2007) é o: [...] processo de adquirir e possuir coisas de forma ativa, seletiva e apaixonada. Esses produtos ou coisas, não são utilizados na sua forma usual e são percebidas como partes de um conjunto de objetos não idênticos. A definição situa o comportamento do colecionador em uma forma mais ampla em relação ao comportamento de uma pessoa que adquire e consume um produto (BELK, 2007, p. 17). A empresa criou uma série chamada First Edition, onde nessa série seriam apenas fabricadas miniaturas nunca antes feitas. Seria uma comprovação de que todos os anos (pois essa séria seria renovada a cada ano) teriam novos modelos no mercado. Em conjuntura com os Firts Editions, também foi lançado uma série chamada Treasure Hunts que levou os colecionadores a lotar os pontos de comércio de diecasts. Bogart (2007) conta com empolgação esse ato: Colecionadores foram levados para lojas de brinquedos e departamentos de brinquedos em números recordes quando a Mattel surgiu com uma surpresa para 1995 ... O quente entre as estréias foi de 12 carro de série Treasure Hunt. Carros Caça ao Tesouro que veio em edição limitada de 10.000 unidades, onde cada um contou com os populares pneus Real Riders. (BOGART, 2007, p.133) Esses Treasures Hunts foram fabricados numa escala muito reduzida e por isso eram muito difíceis de serem encontrados nas lojas. Eles possuíam as rodas com pneus de borracha (diferente das séries normais que possuíam pneus de plásticos) e uma pintura especial para diferenciá-los dos demais. 22 Figura 6 – Treasure Hunt Fonte: http://whitemetal.com/ppro/ttapr99/10k_ltd_3.jpg Bogart (2007) e Ragan (2001) deixam claro que a partir do lançamento dessas duas linhas de miniaturas, a Hot Wheels começou um mercado secundário para seus produtos, o mercado do colecionador. Como afirma Bogart (2007) “A série criou muitos novos colecionadores de Hot Wheels e empresas familiares que vendem os brinquedos no mercado secundário.” (BOGART, 2007, p. 133). Continuando essa mesma ideia de atingir o mercado dos colecionadores, a Hot Wheels lançou no ano de 1996, a miniatura VW Drag Bus, que segundo Bogart (2007) e Ragan (2001), tornou-se a miniatura mais popular já produzida. Essa miniatura tratava-se da popular VW Kombi, porém customizada num estilo dragster. Segundo o site que cataloga todos os modelos já lançados, southtexasdiecast.com, criado por Robert Graves (2003), existe num total de 67 variações de cores e temas dessa miniatura. Abaixo se vê a primeira VW Drag Bus lançada na linha first editions. 23 Figura 7 – VW Drag Bus Firts Edition Fonte: https://lh6.googleusercontent.com/5DK-EGokDOc/s1600/WSProdLG_hot-wheels-fe1996-drag-bus.JPG Continuando sua linha de sucesso, a Mattel decide comprar a sua maior concorrente de mercado, a Matchbox (marca que segundo Ragan (2001) inspirou Handler a criar sua própria marca de minis). Trinta anos após sua fundação, a Hot Wheels estava tirando do mercado sua maior concorrente, era isso o que todos os colecionadores pensavam. Porém, segundo mostra Bogart (2007), a Hot Wheels não agiu de maneira óbvia, ela implementou as linhas da Mathcbox ao portfólio da Mattel. Bogart (2007) explica que: Muitos temiam a consolidação da Hot Wheels e Matchbox sob uma empresa-mãe, seria o fim dos carros Matchbox, mas justamente o contrário aconteceu. Hoje, a Mattel separa as duas divisões, continuando a tradição de oferecer carros Matchbox realistas em sua linha, e centra a sua linha Hot Wheels em hot rods e veículos fantasia (BOGART, 2007, p. 137). A Mattel introduziu por completo a marca Hot Wheels no colecionismo quando, segundo Bogart (2007), criou o website hotwheelscollectors.com, no ano de 2001. Essa era a chance que os colecionadores nunca tiveram, de se comunicar diretamente com a Hot Wheels e com os criadores das diecasts. Nesse site está 24 disponível diversos fóruns onde colecionadores americanos (ou que possuem residência fixa nos Estados Unidos, pois é necessário fazer um cadastro) podem se comunicar, criar debates, mostras suas coleções e também ficar por dentro de todas as novidades que a marca irá lançar no mercado. Figura 8 – site hotwheelscollectors.com Fonte: hotwheelscollectors.com Bogart (2007) conta que nessa mesma linha de privilegiar esse mercado secundário, a Hot Wheels lançou no ano seguinte, 2002, um clube fechado para colecionadores chamado RedLine Club (uma alusão as rodas red lines do início da marca). Nesse clube, o colecionador precisa se cadastrar e pagar uma anuidade para ser sócio. Dentro dessa anuidade está contemplada uma miniatura do clube lançada anualmente, poder de compra de miniaturas exclusivas do clube e facilitações para eventos da marca (convites, mesas e palestras). Bogart (2007) comenta o quão importante foi a criação desse site e do clube para o colecionismo: No RedLine Club e no Hot Wheels Collectors, os membros do clube podem expressar suas opiniões a respeito de qual carros deve ser construído, algumas vezes até a cor e escolha das rodas, compartilhando sua opinião em votação. A partir dos seus computadores domésticos, os sócios votam em séries de quatro veículos que serão lançados, em que cor, design, tampo e, eventualmente, rodas (BOGART, 2007, p. 222). 25 Figura 9 – Miniatura exclusiva do RedLine Club Fonte: www.oldspeed.net/hotwheels/2007%20karman%20ghia%202007%20red%20line%20club.jpg No seu trigésimo quinto aniversário, ano de 2003, a Hot Wheels lançou, segundo Bogart (2007), diversas séries em comemoração a data, como a HW Highway 35, Hot Wheels showcase cars e Hot Wheel sets. As comemorações continuaram até completar seus quarenta anos de existência. Durante esse período de festividades ainda houve tempo da Hot Wheels lançar uma série chama Mistery Car, onde segundo Bogart (2007), a miniatura vinha numa embalagem toda pintada de preta (onde antes era um plástico transparente). Essa pintura preta dificultava saber que mini o comprador estava adquirindo, e assim aflorando ainda mais a expectativa dos colecionadores. Porém, o ano de 2008 foi o ano mais importante para a marca até agora, pois nesse ano ela completou quarenta anos. Além de um grande evento em Las Vegas, a marca lançou ao mercado sua linha 100% Hot Wheels, remetendo aos quarenta anos de história da marca, com miniaturas que fizeram sucesso em toda sua trajetória, como foi catalogado por Graves (2003). A Hot Wheels consagrou uma história de superação e sucesso ao longo de toda sua jornada no comércio de diecasts. Existem até alguns colecionadores que 26 tratam a marca como uma parte presente na sua vida. Ragan (2001) mostra como começou sua paixão pela marca e sua primeira miniature que é lembrada até hoje por ele: Eu cresci admirando: Mustang, Catalinas, Continental. Quando criança, eu brincava por horas com carros de borracha, plástico e de aço pressionado caminhões Tonka. Eu logo mudei para Matchbox e Corgi. Depois vieram os carros Hot Wheels. Eu ainda me lembro do meu primeiro: um T-Bird personalizado verde de 1968. Eu estava tão orgulhoso que eu carregava comigo para a escola ... Como um adulto, comecei a colecionar a sério carros Hot Wheels no começo de 1989 (RAGAN, 2001, p. 10). Bogart (2007) também conta a emoção dos colecionadores em conquistar novas miniaturas: No entanto, mais de 20 anos após a maioria dos adultos ter tocado em seu último carro Hot Wheels, quando as palavras "Hot Wheels" são proferidas, inevitavelmente, certo elenco de carros vem à mente de cada indivíduo ... todo colecionador vai encontrar vários carros que trazem um sorriso a sua cara e, esperançosamente, memórias agradáveis à sua mente (BOGART, 2007, p.240). Nessas citações de Ragan (2001) e Bogart (2007), já se pode notar que a marca possui uma vínculo com as pessoas. Porém, antes de analisar se a Hot Wheels pode ser considerada uma Lovemark, foi aprofundado na pesquisa a relação de uma marca com as pessoas e o que ela precisa para se tornar uma marca do amor. Essa base teórica foi buscada na obra de Roberts (2005), que é o autor do livro sobre as Lovemarks. 27 3. A EVOLUÇÃO DAS MARCAS TRADICIONAIS À LOVEMARKS Neste capítulo será abordado o conceito de marca e como surgem marcas de sucesso através das obras de Aaker (2001) e (2002), onde ele comenta sobre o brand equity, com auxílio na obra de Pinho (1996). Também os novos conceitos para uma marca ter sucesso nesse novo século, com Gobé (2002) e Roberts (2005), serão aprofundados, onde será falado da emoção e sentimentos das marcas com seus consumidores. 3.1 O CAMINHO DE UMA MARCA ATÉ SEU CONHECIMENTO Kotler (1998) diz que “uma Marca é um nome, termo, símbolo, desenho – ou uma contribuição desses elementos – que deve identificar os bens ou serviços de uma empresa ou grupo de empresas e diferenciá-los da concorrência” (KOTLER, 1998, p.393). Moffit; Dover (2012) apresentam o surgimento das marcas registradas datando o ano de 1875 com a marca da cervejaria Bass Ale. Após essa data, por mais de um século, as empresas viam sua marca como o ponto mais forte da sua economia. Essa gestão de marcas era totalmente direcionada ao público de massa, através de meios tradicionais de comunicação, onde o essencial era a produção para que depois se vendesse o que era produzido. Mas, ao passar dos tempos, a percepção dos consumidores foi mudando e eles se tornaram mais exigentes. Miffit; Dover (2012) mostram isso: Os clientes querem se engajar. Eles possuem poder por meio do acesso quase perfeito a informações sobre produtos e comportamento corporativo. Eles interagem a partir de meios de comunicação multidirecionais, cara a cara e altamente personalizados. São eles, e não as companhias, que controlam o mix de marketing (MIFFIT; DOVER, 2012, p. 12). Portanto, na atualidade, uma marca precisa se sobressair perante os seus concorrentes para obter sucesso. Para isso, Aaker (2001) comenta em seu livro, o que uma marca precisa para atingir o sucesso. Aaker (2001) surge com um termo chamado brand equity, que para ele trata-se de: 28 [...] um conjunto de recursos (e deficiências), inerentes a uma marca registrada e a um símbolo, que se agregam (ou são subtraídos) ao valor proporcionado por um produto ou um serviço, em benefício da empresa ou de seus clientes (AAKER, 2001, p. 17). Para que se tenha esse sucesso, Aaker (2002) diz que “A estratégia da marca deve ser influenciada pela estratégia de negócios e deve refletir a mesma visão estratégica e a mesma cultura corporativa” (AAKER, 2002, p. 21). Assim como Gobé (2002) que mostra que “a criação de Marcas Emocionais de produtos é simplesmente o elemento crucial que separa o sucesso da indiferença, no mercado” (GOBÉ, 2002, p. 12). Aaker (2001) divide esses recursos para o sucesso e fortalecimento da marca em quatro principais categorias: conscientização, fidelidade, qualidade percebida e associações relativas à marca. Antes de entrarmos na questão de como uma marca pode se tornar uma Lovemark, precisa-se entender como uma marca comum adquire o seu sucesso. 3.1.1 Conscientização da marca Aaker (2001) afirma que a conscientização da marca está na presença dela na mente dos consumidores. Todos os dias, o consumidor é bombardeado de anúncios nos mais diversos meios de comunicação consumidos por ele, porém somente alguns produtos mostrados são fixados em sua mente. Para isso, Aaker (2001) relata que todo consumidor possui uma espécie de “caixa mental” em sua cabeça, onde nela, guarda no seu subconsciente um produto ou marca que possa ser interessante para sua vida e quando ele necessita desse produto, usa este recurso para que determinada marca venha à tona como em sua primeira lembrança. Para Aaker (2001) existem duas maneiras das marcas serem lembradas: Em primeiro lugar, em que pesem os recursos exigidos para criar níveis de conscientização saudáveis, uma base de vendas ampla é em geral um enorme ativo... Em segundo lugar, as empresas que se tornarem capacitadas a operar fora dos canais de mídia normais, nas décadas futuras – utilizando promoção de eventos, patrocínio, demonstração e amostras e outras táticas para captação da atenção – serão as mais bem-sucedidas na expansão da conscientização da marca. (AAKER, 2001, p.27) 29 Neste trecho, Aaker (2001) já mostrava que as marcas que querem ser lembradas, devem estar presentes em vários lugares para venda de seus produtos e também em vários meios alternativos de comunicação, como vemos hoje publicidades na internet, móbiles e afins. Gobé (2002) também comenta que o futuro da criação de uma marca está em escutar o que as pessoas precisam, para poder desenvolver uma conexão forte e importante com elas. Aaker (2001) e Gobé (2002) mostram que o que é mais importante para uma marca são as pessoas que irão adquiri-la. Essas pessoas podem se tornar um forte mercado consumidor para o sucesso da empresa, desde que a marca dessa empresa esteja presente de uma maneira correta na vida desse público. 3.1.2 Qualidade percebida da marca Outro fator importante para o sucesso de uma marca é a qualidade. Segundo Aaker (2001), “A qualidade percebida é uma associação com a marca que é elevada à condição de recurso por diversas razões” (AAKER, 2001, p. 27). O autor mostra que na qualidade da marca é que fica mais evidenciado o desempenho financeiro, a percepção e a impulsão estratégica de uma marca. Aaker (2001) mostra que a qualidade só pode ser comprovada pela clientela da marca (mercado consumidor). Por isso, muitas vezes, a qualidade real de um produto ou serviço pode ser percebida de uma maneira diferente da real. Aaker (2001) cita quatro aspectos que podem influenciar a percepção de qualidade de um produto. Entre eles estão: a influência de uma imagem que o produto mostrava anteriormente de qualidade inadequada; a empresa buscar qualidade em uma dimensão que os consumidores não consideram importante; os consumidores não buscarem informações o suficiente do produto oferecido; e, por último, os consumidores estarem buscando indicações erradas do produto. Esses fatores citados podem denegrir a qualidade de um produto, e, consequentemente, sua marca. Para isso, Aaker (2001) aponta que: A geração de alta qualidade exige uma compreensão do que significa qualidade para os segmentos da clientela, bem como uma cultura de apoio e um processo de melhoria de qualidade que capacite a 30 organização a fornecer produtos e serviços de qualidades (AAKER, 2001, p. 30). Com esse trecho, o autor buscou mostrar que a marca deve estar inserida no pensamento do consumidor e como ele pode agir em diversas situações de compra. Assim como Gobé (2002), também diz que “A qualidade é uma oferta necessária para quem quiser manter-se no mercado; ela é exigida e é bom que seja entregue” (GOBÉ, 2002, p. 36) e também Pinho (1996): Das dimensões baseadas nas características e atributos do produto – performance, características secundárias, conformidade com as especificações, confiabilidade, durabilidade, serviços adicionais e aparência – podem ser retirados fatos e argumentos compreensíveis e persuasivos para construir com eficácia a reputação de qualidade superior da marca (PINHO, 1996, p. 87). 3.1.3 Fidelidade à marca A fidelidade pode ser considerada de fundamental importância para o sucesso da marca. Aaker (2001) mostra que uma marca sem uma base de clientes fiéis pode se tornar vulnerável, pois não possui um mercado consumidor fixo. Para Aaker (2001): A fidelidade à marca é uma consideração fundamental quando se atribui um valor a uma marca que deverá ser comprada ou vendida, porque é de se esperar que uma base de clientes altamente fiéis gere um fluxo de vendas e lucro muito previsível (AAKER, 2001, p.32). Com isso, a marca consegue ter pelo menos uma base de quanto lucrará por determinado período, devido a esses consumidores que não abandonam a marca, ou seja, que são fiéis. Aaker (2002) retoma a importância de fidelidade à marca em sua outra obra “Como Construir Marcas Líderes”, onde relata que: Fidelidade à marca está no cerne do valor de qualquer marca. O conceito é o de fortalecer o tamanho e a intensidade de cada segmento de fidelidade. Uma marca com uma base de clientes pequena, mas bastante fiel, pode representar um valor considerável (AAKER, 2002, p. 32). 31 O autor também mostra que o impacto da fidelidade à marca se dá em outro aspecto, o valor do custo de marketing. Aaker (2001) ressalta que conservar clientes é simplesmente mais barato que conquistar um novo. Da mesma forma, Pinho (1996) relata que quanto mais tempo a empresa conseguir ter consumidores ao seu lado, mais fácil e barato será lidar com eles. Este gasto que a empresa pode ter em conquistar cada vez mais pessoas torna-se cada vez mais desgastante, pois hoje há vários nichos espalhados em diversos lugares consumindo diferentes meios de comunicação. Gobé (2002) mostra que conseguir que a mensagem de sua marca chegue ao mercado consumidor está cada vez mais difícil. Afinal, as pessoas já não são mais consumidoras midiáticas como eram antigamente. Por isso, a fidelização de um público consumidor é de extrema importância para o crescimento e sucesso de uma marca. Em seu livro, Aaker (2001) demonstra o quanto é importante estudar o mercado consumidor de sua marca. Desta forma, explica que o dinheiro investido em novos consumidores será melhor aplicado. Para Aaker (2001), temos os seguintes grupos de consumidores: não-clientes (os que compram da marca concorrente), pesquisadores (aqueles que analisam tudo, em específico o preço), passivamente fiéis (os que compram pelo hábito e não pela razão), os „em cima do muro‟ (compram sem distinguir marcas) e os comprometidos (consumidor fidelizado). Essa segmentação de mercado mostra onde a marca deve inserir seus esforços de maneira correta para que não perca os clientes fidelizados e também não deixe de adquirir novos consumidores. 3.1.4 Associações com as marcas A última categoria que Aaker (2001) relata para uma marca atingir seu sucesso é a associação com as marcas. Para o autor: “Essas associações podem incluir os atributos dos produtos, um garoto-propaganda célebre ou um determinado símbolo” (AAKER, 2001, p.36). Porém, existem outras formas de associação que podem gerar algo negativo para uma marca. Como aponta Gobé (2002) com o caso da marca Nike, onde ela foi mal vista aos olhos do público, pois segundo o mercado consumidor, a empresa estava explorando o trabalho infantil no exterior, comercializando calçados caros com baixo custo de produção. Vendo essa situação, a Nike começou a mudar sua 32 forma de agir e “Começou a entender que o sucesso na economia atual é concedido pelas pessoas somente às empresas que conseguem ganhar a sua confiança” (GOBÉ, 2002, p. 21). Essas associações, geralmente, são feitas pela própria marca. Elas servem para que, segundo Aaker (2001), o cliente veja a marca de uma maneira que a própria marca deseja ser vista. Pinho (1996) também ressalta o quão é importante é essa associação com as marcas. Para ele, “Uma marca bem posicionada pode ocupar uma posição estratégica competitiva se for sustentada por associações fortes” (PINHO, 1996, p. 99). Porém, surge uma nova forma de as marcas serem vistas pelo mercado consumidor. Hoje, uma marca precisa passar emoção, ter uma personalidade com o seu público. E isso passa a ser abordado a partir de obras como as de Gobé (2002) e Roberts (2005), que demonstram o quão importante são a emoção e o amor que uma marca deve transmitir para o seu público. 3.2 LOVEMARKS Para Roberts (2005) tempos interessantes estão por vir. Nesse novo século, uma empresa possuir uma marca consolidada no mercado não gera mais tanto sucesso como no século passado. Segundo Roberts (2005), as marcas perderam aquela essência que possuíam e pode-se notar isso em alguns aspectos como o excesso de uso, a falta do mistério (pois o consumidor entende que muitas marcas querem somente influenciá-lo e nada mais além disso), a falta de compreensão da marca com o consumidor, a excessiva concorrência entre marcas, a igualdade na formulação das marcas, o conservadorismo, entre outros fatores que são pessoais a maioria de consumidores. Gobé (2002) também mostra que a economia de consumo alterou da racionalidade de comprar algo por necessidade para a necessidade do desejo. Roberts (2005) comenta que essa “fórmula” de sucesso de uma marca chegou ao fim. Roberts (2005) e Gobé (2002) acreditam que uma marca tem o dever de passar um sentimento para o público, ela deve ser dotada de personalidade, enquadrar-se com o seu mercado consumidor, ela deve se personificar, ter sentimentos. 33 Roberts (2005) afirma que: Os consumidores que tomam decisões com base puramente em fatos representam uma ínfima minoria da população mundial. São pessoas sem sentimentos, ou talvez pessoas que põem seu coração e emoções na geladeira, antes de sair de casa pela manhã, e só tiram quando retornam à noite. Mas sempre existe algum produto ou serviço que até mesmo essas pessoas compram com base em um impulso ou emoção (ROBERTS, 2005, p. 42). Gobé (2002) também mostra o quão importante é a emoção no novo processo de compra: Nesse mercado hipercompetitivo, onde os produtos e os serviços por si só não possuem o suficiente para atrair um novo mercado ou mesmo manter os mercados existentes ou os clientes, acredito que é o aspecto emocional dos produtos e seus sistemas de distribuição que serão a diferença-chave entre a escolha final do consumidor e o preço que deverá pagar (GOBÉ, 2002, p. 18). Isso demonstra que o atual mercado consumidor pode estar muito mais inclinado a comprar um produto de certa marca devido a ligação emocional que ele tem com ela do que qualquer outro aspecto que influenciará mais que essa emoção. Para isso, a emoção das marcas se torna algo de primeira importância para o mais novo sucesso delas. Para Gobé (2002) “Criar uma marca emocional é como construir relacionamentos; significa proporcionar a uma marca e a um produto um valor de longo prazo...” (Gobé, 2002, p. 09). Roberts (2005) também mostra a importância dessa emoção: As melhores marcas conquistam consistentemente dois momentos cruciais de verdade. O primeiro acontece na prateleira da loja, quando uma consumidora decide comprar uma ou outra marca. O segundo acontece em casa, quando ela usa essa marca – e fica encantada ou não. As marcas que conquistam esses momentos de verdade estabelecem um vínculo eterno com o consumidor (ROBERTS, 2005, p.9). Roberts (2005) traz em sua obra que existem diversas formas de emoções que a marca pode demonstrar para atingir seu consumidor - como alegria, tristeza, surpresa, orgulho, entre outras -, porém, uma em especial, torna esse vínculo 34 emocional muito mais forte que as outras: o amor. O autor demonstra que o amor que uma marca pode passar para um consumidor, e esse consumidor para com uma marca é o vínculo mais forte que pode existir. O autor surge então com a ideia do termo Lovemark, ou seja, marcas do amor. Segundo Roberts (2005): As Lovemakrs deste novo século serão as marcas e empresas que criarem conexões emocionais genuínas com as comunidades e redes com as quais se relacionam. Isso significa tornar-se próximo e pessoal. E ninguém vai deixar você se aproximar o suficiente para tocá-lo, a menos que respire o que você faz ou quem você é (ROBERTS, 2005, p. 60). As Lovermaks superarão as marcas de confiança (aquelas que obtiveram o sucesso) no mercado, pois as marcas do amor possuem um vínculo muito maior com seu público. Na figura 10, pode-se ver como uma Lovemark e uma marca tradicional se comportam. Figura 10 – Lovemarks x marca de confiança Fonte: “O futuro além das marcas. Lovemarks” (Roberts, p. 70, 2005) 35 Enquanto uma marca tradicional tem como base a informação, uma Lovemark preza pelo relacionamento com seu público. Uma marca do amor é amada pelas pessoas, ela possui histórias de amor, tem um vínculo pessoal, está envolta em mistérios relacionados às pessoas, enquanto marcas tradicionais não se envolvem tanto e preferem manter uma simples conexão de venda e lucro com as pessoas. As Lovemarks se diferenciam das demais devido a essa ressonância emocional. Para Roberts (2005) são três os atributos mais marcantes de uma lovemark: o mistério, a sensualidade e a intimidade. O mistério, para Roberts (2005) consiste em um atributo que instiga as pessoas. O autor mostra que as pessoas gostam de mistérios, pois isso as leva a tentarem descobrir diversas coisas sobre esse “segredo”. Para Roberts (2005): O mistério desencadeia a emoção. Soma-se à complexidade dos relacionamentos e das experiências. Manifesta-se nas histórias, nas metáforas e nos personagens icônicos que conferem textura a um relacionamento. O mistério é fundamental para criar fidelidade além da razão (ROBERTS, 2005, p. 85). Dentro do mistério, Roberts (2005) aborda que uma marca deve contar grandes histórias, pois histórias são contadas de pessoas para outras pessoas. Essas histórias são reduzidas em comerciais de trinta segundos num canal de televisão e pessoas “amam bons comerciais de 30 segundos. É por isso que existem programas de televisão somente de comerciais. E por que as pessoas gostam deles? Porque contam histórias. E as pessoas adoram ouvir histórias” (ROBERTS, p.89, 2005). O autor ressalta a importância de grandes histórias quando afirma que: Grandes marcas sempre estiveram cercadas de grandes histórias. Marcas que aspiram transformam-se em Lovemarks devem desenvolver a habilidade intuitiva de ouvir e gerar meios para coletar histórias das experiências de seus consumidores (ROBERTS, 2005, p. 90). Além de contar grandes histórias, as Lovemarks também devem usar seu passado, presente e futuro. Roberts (2005), conta que as Lovemarks são como as famílias, pois combinam o aprendizado do passado com as situações do presente, para criar grandes futuros. O autor diz que uma lovemark deve se preocupar com toda a sua história através de gerações e também, porque não, se reinventar a cada 36 geração. A criação de uma lovemark é um acúmulo de fatores históricos, Roberts (2005) mostra que “Se você não entende o que significa para os avós, dificilmente descobrirá do que a próxima geração precisa. É por isso que uma Lovemark não é estática” (ROBERTS, 2005, p. 93). Roberts (2005) também mostra que as Lovemarks devem explorar os sonhos dos seus consumidores, devem sonhar junto com eles. As marcas do amor devem transformar em prazer e realidade, aquilo que o seu consumidor sonhou um dia. Roberts (2005) aponta que cabe às marcas explorar os sonhos, pois é uma forma poderosa de mostrar às pessoas que elas entendem os desejos do consumidor e que podem transformá-lo em prazer. Esses sonhos criam vínculo entre marcas e pessoas, fazendo com que seus consumidores possam acreditar que a marca tem uma personalidade bem parecida com a dele. Continuamente à sistemática do mistério dentro das Lovemarks, nota-se que todas elas possuem ícones. Esses ícones são importantes, porque fazem parte delas. Roberts (2005) mostra que os ícones conseguem entrar na mente das pessoas e essa lembrança (memória) é a fonte do coração. Esses ícones somam sentimentos à Lovemark por demonstrar o que essas marcas do amor buscam transmitir. Porém, não se pode deixar de falar sobre mistérios ao tratar desse tema, sem citar a inspiração. Roberts (2005) deixa claro que somente marcas que passam inspiração, podem se tornar Lovemarks. “A coisa mais importante que qualquer adulto pode fazer por uma criança, que qualquer líder pode fazer por seu povo, qualquer produto por seu dono, qualquer evento por seu público é inspirá-los” (ROBERTS, 2005, p. 99). A partir disso, o autor torna possível que se entenda que a inspiração é a alma do amor, esse amor que as marcas precisam passar para seus consumidores. Se o mistério é o que cativa um consumidor, Roberts (2005) diz que a sensualidade através dos sentidos são a via expressa para as emoções humanas. Gobé (2002) também mostra que as experiências sensoriais têm o poder de alterar a vida de um consumidor profundamente, pois essas experiências geralmente são imediatas. Os sentidos de um consumidor são atingidos em uma linguagem não verbal. Esses sentidos passam do olfato, visão, tato, paladar e audição, eles seguem para os sentidos vitais, aqueles sentidos que dizem se está frio ou quente, onde estamos 37 e se estamos confortáveis. Roberts (2005) pressupõe que os nossos sentidos lembram quem nós realmente somos. Gobé (2002) afirma que os elementos sensoriais podem proporcionar experiências produtivas para os consumidores, pois eles conseguem ter a imaginação ao seu lado em suas compras. E, por último, Lindstrom (2007) relata que os diversos sentidos têm maior chance de atingir o objetivo de alcançar o público alvo do que milhões de mensagens espalhadas pelas mídias convencionais. As Lovemarks de hoje, como demonstra Roberts (2005), usam essa sensualidade sensorial através das cores que podem significar inúmeros sentimentos (como o time neozelandês de rúgbi, All Blacks, onde tudo é preto e a cor se tornou algo sagrado dentro do país), dos sons típicos de cada marca (como a Harley-Davidson que de tão imponente, queria registrar o ronco do seu motor), do aroma em suas lojas (Starbucks) e da textura em algumas embalagens. Lindstrom (2007) relata que o estímulo sensorial de uma marca estabelece um vínculo emocional direto com o consumidor. O último atributo de uma marca do amor, citado por Roberts (2005), a intimidade, faz com que uma experiência que seja fornecida a milhões de consumidores se torne única para cada um deles. A intimidade toca diretamente as pessoas, expondo aquilo que o consumidor precisa, quer ter ou quer compartilhar. Roberts (2005) fala que o amor gera intimidade entre as pessoas e, para uma marca ser uma marca do amor, esse sentimento de proximidade (intimidade) deve ser o mesmo. A intimidade possui três faces diferentes, a empatia, o compromisso e a paixão. A empatia pode observada, segundo Roberts (2005), como o tempo entre o som da voz e o silêncio do pretendido. A empatia acontece quando a marca entende as emoções das pessoas e responde a elas. Esse “entender as emoções” consiste em escutar o que o seu público tem a falar. Roberts (2005) mostra que “Se você quer empatia, deve admitir que existe muitíssimo a ouvir” (ROBERTS, 2005, p. 138). A outra face da intimidade, o compromisso, exige uma atenção da marca com o seu consumidor. O que antes era considerado como fidelidade (brand equity), hoje as Lovemarks usam o compromisso para transformar essa fidelidade em “fidelidade além da razão” (termo citado por Roberts, 2005). Roberts (2005) apud Rice relata que “fidelidade pode ser apenas consumidores no piloto automático, que continuam a comprar a mesma marca porque não querem se incomodar com outra escolha” 38 (ROBERTS apud RICE, 2005, p. 138). Já, compromisso combinado com fidelidade (fidelidade além da razão) é: A força que precisamos para aproveitar o poder das Lovemarks. Para chegar a esse lugar crítico onde as pessoas passaram do estágio da informação e das comparações ponto a ponto. Elas fizeram sua escolha. Comprometeram-se com a marca perante seus amigos e familiares e não vão mudar agora.” (ROBERTS, 2005, p. 139). Lindstrom (2007) traz essa fidelidade além da razão como tradição. Para o autor “A tradição é parcialmente formada por fidelidades de longo prazo, que se tornaram tão inseridas na cultura, que o comportamento racional, acaba dando lugar à aflição emocional” (LINDSTROM, 2007, p. 170) Os autores buscam demonstrar que a fidelidade além da razão ultrapassa a forma automática de comprar e passa a ter uma questão de compromisso com a marca, onde mesmo que uma marca possa estar passando por alguma dificuldade, aquele consumidor não irá desistir dela. Para aliar à empatia e ao compromisso, a paixão é a terceira face da intimidade. A paixão é a intensidade que a marca pode dar ao sentimento de amor, deixando esse sentimento ainda mais forte. Para Roberts (2005) a paixão é tão importante, porque é: A intensidade e a impetuosidade, que acompanham somente as emoções mais fortes. Junto com o Amor, podem transformar o produto mais insignificante em algo imprescindível. Têm o poder de dar a um relacionamento a intensidade que o sustentará em tempos bons e ruins (ROBERTS, 2005, p. 142). Portanto, segundo o autor, a paixão fomenta o sentimento de amor com as marcas e fortalece ainda mais esse vínculo. As Lovemarks criam emoções e se conectam com as pessoas através desses atributos. Essas conexões emotivas tornam marca e consumidor muito próximos. Porém, ninguém deixa se aproximar se não for mostrado respeito. Roberts (2005) cogita que o respeito é essencial para uma lovemark, é um de seus princípios, e que sem respeito é improvável que haja amor. Roberts (2005) utiliza-se de um gráfico, como o da figura 11, onde se demonstra o nível de respeito e amor de uma Lovemark. 39 Figura 11 – Amor e Respeito Fonte: “O futuro além das marcas: Lovemarks” (Roberts, p. 147, 2005) Nessa figura, pode-se notar o posicionamento de cada marca dentro do ideal de Roberts (2005) para as Lovemarks. Temos no quadrante inferior esquerdo (pouco amor e pouco respeito) as commodities, que são aqueles produtos que utilizamos no nosso dia a dia, mas que não temos muito apreço por eles, como areia, cascalho, vidro, ferro e outros. O quadrante inferior direito mostra os modismos, aquelas marcas e/ou produtos que possuem validade. Elas são muito amadas, porém não possuem respeito para criar um vínculo de confiança e tempo (compromisso). No quadrante superior direito é que esta a maioria das marcas, segundo Roberts (2005). Essas marcas possuem um grau de respeito elevado, porém não conseguiram passar a barreira para serem amadas pelos seus consumidores. E no último quadrante analisado, o superior esquerdo, estão as Lovemarks, aquelas que conseguiram se fixar no coração do seu consumidor e possuem um vínculo forte com eles. Para Roberts (2005), respeito e amor criam uma Lovemark. Nesse novo século, empresas tentam se aproximar de seus consumidores, inserindo uma personalidade às suas marcas, fazendo com que elas criem vínculos sentimentais com seus consumidores. Eis o início de uma era em que a marca será propriedade do consumidor e não o contrário. 40 Após analisar-se os conceitos de marcas de sucesso e Lovemarks, será realizada uma análise através de uma metodologia de estudo de caso para que se possa verificar se a Hot Wheels pode ser considerada uma Lovemark. 41 4. METODOLOGIA Depois de ter analisado todo histórico da marca Hot Wheels em seus mais de quarenta anos de existência e também a evolução das marcas num foco voltado para as pessoas, foi analisado através de um estudo de caso com entrevista em profundidade, se a marca apresentada até agora pode ser considerada uma Lovemark. Segundo Yin (2001), o estudo de caso se baseia em uma pesquisa em que temos as questões de “como” e “por que” algo acontece, e que esse evento pesquisado se encontra inserido em fenômenos contemporâneos que possuem ligação com a nossa vida real. Ainda segundo o autor, esse tipo de pesquisa fomenta duas fontes de evidência, como a observação direta e a série sistemática de entrevistas, dando uma ampla capacidade de lidar com variedades de evidências. Gil (2009) comenta que o estudo de caso analisa princípios desde o início dos estudos, abrangendo de maneira mais ampla e flexível as propostas pesquisadas. Em suas obras, Gil (2009) e Martins (2008) mostram que um estudo de caso passa pela formulação e delimitação do problema a ser pesquisado, da seleção da amostra, da determinação dos procedimentos para coleta e análise de dados e também a forma de sua interpretação. Parafraseando os autores, pode ser definido que estudo de caso é uma investigação empírica que pesquisa um fenômeno dentro da contemporaneidade, onde que esse fenômeno ainda não está claramente definido dentro de um contexto social. Como o intuito desse trabalho é analisar se a Hot Wheels pode ser considerada uma Lovemark, foi optado pela pesquisa através do estudo de caso, pois esse estudo, segundo Yin (2001) tem como tendência esclarecer uma decisão ou conjunto de decisões como qual o motivo pelo qual foram tomados, como foram implementados e os resultados que alcançou. Tendo em vista essa análise, iremos nos ater a por que as pessoas compram produtos da marca Hot Wheels, como que elas se tornaram adoradores da marca e que consequências isso gerou. Tendo como base esse questionamento, poderemos analisar se a marca poder ser uma Lovemark. Para realizar o estudo de caso, optou-se em realizar uma pesquisa com profundidade com alguns colecionadores da marca e alguns que também podem ser 42 considerados formadores de opinião dentro do universo dos colecionadores da marca dentro do Brasil. Foi escolhido pesquisar colecionadores, pois segundo Roberts (2005) uma Lovemark se faz pelas pessoas que possuem um vínculo com a marca. 4.1 OS ENTREVISTADOS Para que se pudesse analisar com clareza a marca Hot Wheels, selecionamos consumidores que possuem conhecimento da marca, assim como são referências para com o mundo do colecionismo dentro do nosso país e também outros colecionadores que apenas gostam das miniaturas da Hot Wheels. Com isso, foi realizada essa pesquisa para saber se a Hot Wheels pode ser considerada uma Lovemark. Foram entrevistados seis pessoas que são colecionadores da marca, pois segundo Yin (2001) precisa-se de seis fontes de evidência para realizar um estudo de caso. Elaborou-se um roteiro estruturado (em anexo no final do trabalho) com questionamentos sobre a marca, sendo o mesmo questionário para os seis pesquisados. Anterior a aplicação desses questionários, foi realizado um pré-teste com um entrevistado próximo para validar e dar segurança na pesquisa. Dentro desse roteiro de perguntas foi possível que se analisasse o comprometimento e a história deles com a marca e como eles vêem a Hot Wheels inserida no seu dia a dia. Vale ressaltar que também foi utilizado o quadrante de Roberts (2005) da relação do amor e respeito, conforme figura 11. Com isso, buscou-se responder ao problema levantado por esse trabalho a partir das análises: se a Hot Wheels pode ser considerada uma Lovemark. 43 5. ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS No roteiro estruturado para as seis entrevistas em profundidade, foram elaboradas dez perguntas para a análise do problema em questão. Primeiro, foi formulada uma tabela com os dados dos entrevistados. Tabela 1 – Dados dos entrevistados ENTREVISTADO IDADE PROFISSÃO 1 19 Estudante 2 47 Supervisor de Vendas 3 43 Fisioterapeuta 4 42 Gerente de RH 5 27 Publicitário 6 45 Bancário Os entrevistados serão tratados através de números para uma fácil interpretação. Porém, antes de iniciar as análises dos questionamentos, será feita uma breve apresentação de cada entrevistado. O entrevistado 1 possuía uma loja virtual de miniaturas através do site de relacionamentos chamado Orkut, com essa loja o entrevistado viajou a diversos lugares do sul e sudeste do Brasil, participando de eventos e encontros da Hot Wheels. O entrevistado 2 é um antigo colecionador de miniaturas da marca que reside em São Paulo e também participa de eventos na região da capital paulistana. O entrevistado 3 foi um dos criadores do maior clube de colecionadores da Hot Wheels no Brasil, além de ser o criador, é coordenador do clube até hoje. O entrevistado 4 é o idealizador do maior blog de miniaturas da Hot Wheels da América Latina, o “T-Hunted”, tendo milhões de visualizações mensais segundo o próprio entrevistado. Já os entrevistados 5 e 6 são colecionadores que apenas gostam da marca, porém não estão muito inseridos no mundo do colecionismo da Hot Wheels. Primeiramente, os entrevistados foram questionados com a seguinte pergunta: “Você consome a marca Hot Wheels com que frequência?”. Com isso, pretendeu-se conhecer o quanto o entrevistado consumia a marca. Os entrevistados 44 1, 2, 3, 4 e 6 confirmaram que consomem a marca todo o mês, pelo menos uma vez. Já o entrevistado 5 comentou que não possui uma frequência definida, conforme ele está na rua e alguma miniatura chama sua atenção em alguma loja, ele adquiri o produto. Essa compra com frequência mostra que a Hot Wheels está inserida na mente das pessoas. Isso remete a Aaker (2001), quando diz sobre a conscientização da marca, onde toda a pessoa possui uma caixa mental em sua cabeça, onde nela, guarda no seu subconsciente um produto ou marca que possa ser interessante para sua vida e quando ele necessita desse produto, essa marca vem à tona como sua primeira lembrança. Após, foi realizada a segunda pergunta, ainda no âmbito introdutório para fazer com que o entrevistado imergisse no seu sentimento pela marca. A pergunta de número dois foi a seguinte: “Há quanto tempo você possui sua coleção de Hot Wheels e por que começou a colecionar?”. O que seria uma pergunta introdutória já revelou alguns sentimentos pela marca Hot Wheels, pois o entrevistado 1 comentou que começou a consumir a marca devido a brincadeiras de infância e que se lembra delas junto com o seu irmão. Desde bem pequeno, aproximadamente uns 5 ou 6 anos de idade. Comecei a colecionar primeiramente por brincadeira, como toda criança que gosta de brincar. Eu lembro que gostava de brincar nas pistas junto com o meu irmão e logo depois a coleção começou a ficar mais séria (Entrevistado 1). Isso lembra do mistério que uma Lovemark traz. Segundo Roberts (2005), as marcas do amor são alimentadas por histórias, e o entrevistado 1 já se lembrou de uma delas quando realizada a segunda pergunta. O entrevistado 2 citou também que um dos atrativos que fez com que ele começasse a adquirir os produtos da Hot Wheels foi a questão sensorial, o design e a variedade de miniaturas. Faço a coleção há mais de cinco anos. Comecei a coleção porque eu acho os carrinhos muito bem definidos e pela variedade de produtos que a marca possui e também por gostar de carros. Hoje fico contente com isso, pois posso ficar admirando os carrinhos da minha coleção (Entrevistado 2) 45 Isso é notado na obra de Aaker (2001), quando o autor fala sobre qualidade percebida, onde: A geração de alta qualidade exige uma compreensão do que significa qualidade para os segmentos da clientela, bem como uma cultura de apoio e um processo de melhoria de qualidade que capacite a organização a fornecer produtos e serviços de qualidade (AAKER, 2001, p. 30). Gobé (2002) também mostra que o design é a expressão mais potente de uma marca e que é a melhor maneira de criar um elo duradouro entre uma empresa, o varejista e seu público. Roberts (2005), por sua vez, relembra essa questão sensorial dentro da sensualidade de uma Lovemark. O entrevistado 3 mostrou que o início de sua coleção se deu através de seu filho e, mais importante para o nosso estudo, através de uma cor, o rosa. “Coleciono desde 2007. Na verdade coleciono porque gosto de carros e não posso ter a maioria, mas comecei primeiro comprando para o meu filho, até um dia encontrar um Mustang Pink (rosa)” (Entrevistado 3). Lindstrom (2007) nos relata que a cor é essencial para uma marca ou produto, pois ela é o primeiro sinal visível de comunicação. Roberts (2005) aponta que as cores possuem grandes níveis de importância em diversas regiões do mundo e Gobé (2002) relata que a percepção das cores estão fortemente ligadas com córtex cerebral (responsável por ativar pensamentos, a memória e tipos particulares de percepção). O entrevistado 4, relatou que começou a colecionar para ter um hobby e poder ter algo onde relaxar. Esse momento único que o entrevistado tira do seu tempo para relaxar junto à marca, remete ao que Gobé (2002) diz que a marca tem que ter conexões mais fortes com as pessoas e relacionamentos que mostrem que elas são suas parceiras. Isso se torna visível quando o entrevistado 4 percebe o produto da Hot Wheels como uma fuga para o seu descanso. O entrevistado 5 comentou que começou sua coleção devido ao seu apreço por carros e pelo valor das miniaturas. Comecei a colecionar porque eu gosto de carro antes de tudo. E a miniatura da Hot Wheels eu acho ela barata, então tu conseguia comprar a R$ 4,00 quando eu comecei a colecionar, podendo comprar vários por dia. Então olhei essa questão de gostar de carrinhos e de ter muitos carrinhos na infância e agora eu queria 46 colecionar para não estragar eles, porque eu não tenho mais nenhum (da infância) porque eu quebrava os carrinhos, e agora parece que eles são meio que intocáveis (Entrevistado 5). Pode-se notar que o entrevistado 5 já adentrou no quesito de sua infância, fazendo uma ligação da marca com o seu passado. Roberts (2005) fala que as Lovemarks concordam o aprendizado do passado com a dinâmica do presente, para criar grandes amanhãs. Segundo o autor, as marcas do amor fazem parte do passado misturadas ao presente, como se pode notar com o entrevistado 5 ao se lembrar das miniaturas de sua infância que não possui mais e que agora gostaria de tê-las, porém novas. Já o entrevistado 6 comentou que: A minha coleção eu tenho há mais de sete anos e comecei a colecionar porque me lembra muito a minha infância e é uma marca que sempre eu via nas prateleiras e eu achava muito bonito o layout do produto, da marca e os carrinhos que são fascinantes (Entrevistado 6). Nessa resposta, o quesito história (infância) aparece novamente, remetendo ao que Roberts (2005) diz sobre a presença de uma marca no passado até o presente de uma pessoa. Para o autor, “A criação de uma Lovemark é cumulativa. Se você não entende o que significa para os avós, dificilmente descobrirá o que a próxima geração precisa” (ROBERTS, 2005, p. 93). Então esse sentimento que se acumulou na infância do entrevistado, continua presente na sua atualidade. A terceira pergunta começa a adentrar no universo de importância da marca, com o seguinte questionamento: “Qual a importância da sua coleção no seu dia a dia?”. Os entrevistados mostraram que a Hot Wheels está presente no seu dia a dia de maneiras diferenciadas. O entrevistado 1 possuía uma loja virtual de miniaturas através da rede social Orkut, e hoje possui um canal dentro do site Mercado Livre. É perceptível que além de ser um colecionador, ele possibilita que outros colecionadores possuam miniaturas diferenciadas. O entrevistado 2 comentou que a marca fez com que se criasse um ciclo de amizades em sua vida e que esse ciclo continua com fortes laços durante o tempo. Tanto o entrevistado 1 quanto o 2 se encaixam no que Gobé (2002) fala sobre o relacionamento que uma marca proporciona para com as pessoas. Para o autor, esse relacionamento é essencial para o reconhecimento das pessoas. Quando o 47 entrevistado 1 proporciona uma espécie de revenda da marca, ele está se relacionando comercialmente com outros colecionadores. Idem o entrevistado 2, quando comentou que possui um ciclo de amizades devido a Hot Wheels. Porém, o entrevistado 3 se enquadra no que Roberts (2005) mostra como compromisso com uma Lovemark. O entrevistado coordena um clube nacional, conhecido como “Clube Hot Wheel Brasil”, sem nenhuma conexão contratual da marca. O clube foi criado e é administrado somente por colecionadores da marca. Roberts (2005) afirma que isso se encaixa com o compromisso com a Lovemark que, para o autor, “pode transformar a fidelidade, representada por uma aceitação autômata, em um estado de conscientização real impregnado de emoção verdadeira – fidelidade além da razão” (ROBERTS, 2005, p.139). Pode-se notar que o entrevistado 3 possui um compromisso com a marca devido a esse clube que coordena, não tendo nenhum benefício remunerado, faz porque gosta. O entrevistado 4 voltou-se ao sentimento de prazer quando relatou que a marca faz com que ele esqueça “os problemas do mundo”. Um prazer semelhante apareceu na resposta do entrevistado 5, onde ele comentou que na maior parte das vezes fica apenas olhando para a coleção e sente-se bem com isso. Eu me sinto bem olhando para os carrinhos e às vezes até brincando. A importância é tu conseguir em ter um objetivo de colecionar ele, de tu ver que ao longo do tempo por poucos carrinhos que tu vai comprando tu vai formando uma equipe. Meu maior prazer é ver eles, às vezes eu abro a caixa e dou uma olhadinha (Entrevistado 5). Esse prazer, como demonstra Roberts (2005), está inserido nos sonhos das pessoas. Para o autor, essa exploração dos sonhos é uma maneira poderosa de mostrar para as pessoas que as marcas entendem os desejos delas e transforma isso em prazer, como fica evidente com os entrevistados 4 e 5. Ainda sobre a importância da marca em seu cotidiano, o entrevistado 6 comentou que: “numa escala de 1 a 10, eu acho que ela deve ter uns 7,5 ou 8. É que tem que limpar, comercializar, tem que, enfim, trocar com outros colecionadores” (Entrevistado 6). Esse tempo que o entrevistado 6 disponibiliza para as miniaturas da Hot Wheels se encaixa no que Roberts (2005) fala sobre compromisso com a marca. Para o autor, quando uma pessoa desprende algum tempo do seu dia com uma marca, está entrando num compromisso com ela, como 48 se esse tempo fosse somente para a pessoa e a marca, e pode-se notar isso na resposta do entrevistado 6. Na próxima questão, foi perguntado: “Qual o seu envolvimento com a marca Hot Wheels?”. Nesse questionamento, buscou-se entender o grau de comprometimento que eles têm com a marca. O entrevistado 1 voltou a comentar sobre sua antiga loja virtual e também acrescentou que já foi em vários encontros em São Paulo e Porto Alegre. Da mesma forma, o entrevistado 2 participou de encontros e exposições junto aos seus amigos. O entrevistado 6 relatou que se comunica muito via Facebook e tem alguns fóruns e encontros de colecionadores de Hot Wheels em que ele participa. Nesses três casos, volta-se a perceber o compromisso com a marca que Roberts (2005) comenta ser um dos atributos mais vigentes de uma Lovemark. Isso também acontece com o entrevistado 3 que mostra novamente que seu maior vínculo com a marca é a coordenação do clube nacional de colecionadores de Hot Wheels. Já o entrevistado 4 traz em sua narrativa uma ideia de fidelidade: Não sou totalmente fiel à marca. Quando vejo miniaturas de outras marcas que me atraem, compro. As miniaturas da Hot Wheels são mais fáceis de comprar já que estão disponíveis em vários lugares e o preço é acessível. Isso torna mais fácil o envolvimento com a marca (Entrevistado 4). Notou-se então que o entrevistado 4 não possui muita fidelidade a marca. Tal fidelidade para Aaker (2001) é um dos fatores para marcas de sucesso e que também para Roberts (2005) é essencial para que após dessa fidelidade, a marca construa uma confiança com a pessoa, uma fidelidade além da razão. O entrevistado 5 também relatou que não possui muito envolvimento com a marca: Não tenho muito envolvimento com a marca, pois tem algumas coisas que não gosto em Hot Wheels que me incomoda. Talvez se tivesse uma outra marca que tivesse uma qualidade um pouco melhor, eu não vou dizer que eu ia abdicar dos Hot Wheels, mas eu poderia investir nessa outra marca. Eu não ia abrir mão dos que eu já tenho e ia continuar comprando Hot Wheels porque na verdade é um clássico. Tu pode falar, tem a marca A, B, C e Hot Wheels, não interessa, a Hot Wheels vai estar no topo (Entrevistado 5). A falta de fidelidade com a marca, nesse caso, se dá pela falta de qualidade do produto. Porém, o entrevistado 5 falou que mesmo com esses problemas ele não 49 deixaria de comprar as miniaturas da Hot Wheels, comentando que a marca sempre vai estar no topo mesmo existindo outras concorrentes. Também pôde-se perceber que o entrevistado 5 mostrou uma empatia pela Hot Wheels quando comenta que tem algumas coisas que ele não gosta da marca e que lhe incomodam. Roberts (2005) afirma que as pessoas só se incomodam com as marcas quando elas esperam algo em troca, o mesmo acontece nas relações interpessoais. Na quinta pergunta, procurou-se aproximar o entrevistado com o seu passado e a marca, pois para Roberts (2005) reconhecer que o passado, presente e futuro estão entrelaçados é um dos princípios de uma Lovemark. Para isso, foi questionado se “Você possui alguma história junto à marca Hot Wheels?”. As respostas dos entrevistados 1 e 3 mostraram histórias que se tornaram marcantes para a vida deles e a marca estava inserida. O entrevistado 1 comentou que, além de reencontrar antigos amigos, adquiriu experiência em lidar com as pessoas. Como se pode analisar na resposta a seguir: Sim, um fato interessante é um amigo de infância do meu padrinho que nos encontramos novamente, pois ele vende miniaturas em uma loja virtual e eu também, então nós fazemos alguns negócios. Conheci diversas pessoas de diversas culturas e também aprendi a lidar com outras pessoas devido a essa loja virtual (Entrevistado 1). O que também é notável na resposta dada pelo entrevistado 3 em que percebeu-se um sentimento de comunidade e irmandade articulado pela reconhecimento da marca com as pessoas: Possuo várias. Um amigo um dia soube de uma criança que estava doente (câncer) e que ela queria uma determinada pista da Hot Wheels que tinha um dinossauro. Os pais na época entraram em contato com o fabricante, mas essa pista já estava fora de produção. Devido a isso, acabei postando no fórum de colecionadores e acabei fazendo uma campanha para esse menino. Após isso eu conseguia pista. Alguns dias depois o fabricante ficou sabendo da minha campanha e mandou mais quatro pistas. Os colecionadores de todo o Brasil mandaram carrinhos, sendo que alguns mandaram coleções completas. Com isso conseguimos várias pistas e mais de 1000 (um mil) carrinhos para o menino. (Entrevistado 3) A história relatada pelo entrevistado 3 se encaixa em vários itens listados por Roberts (2005) em relação à Lovemarks. Entre eles, destaca-se: a inspiração, pois 50 foi estabelecida uma meta a ser alcançada; o compromisso de um grupo para com a criança buscando satisfazer a vontade dela; e a paixão, porque a criança mesmo em estado de saúde preocupante, queria apenas uma pista da Hot Wheels. Porém, os entrevistados 2 e 5 não se recordam de nenhuma história quando perguntados, mesmo falando em outras perguntas sobre momentos de sua infância e passado. O entrevistado 4 voltou a falar da falta de fidelidade com a marca. Comentou também que preferia a sua concorrente Matchbox a própria Hot Wheels e que só se envolveu com a marca devido ao seu blog que é um dos mais lidos do mundo. Na minha infância, as miniaturas da época eram da Matchbox, e essas sim me trazem boas lembranças. Os Hot Wheels chegaram mais recentemente ao Brasil (final dos anos 90), e já me pegaram em outra época da minha vida. A história que tenho com a marca fica por conta do meu blog, que fala quase que diariamente sobre Hot Wheels, e que se tornou o blog mais lido do mundo no assunto miniaturas. Com isso acabei me envolvendo demais com a marca, com a Mattel e com colecionadores do mundo todo (Entrevistado 4). Esse entrevistado ressaltou em todas as outras perguntas a sua falta de interesse pela Hot Wheels. Por outro lado, o mesmo possui um blog - que por ser um dos mais lidos do mundo inteiro, domina conteúdos de extrema qualidade - e com isso surge o compromisso com a marca, abordado por Roberts (2005). Para o autor, o compromisso é um dos maiores atributos da Lovemark. Já, o entrevistado 6 mostrou que: Tenho uma de uma participação em um evento que a gente fez em Porto Alegre, que foi a BrinkFest que fez e a gente acabou sendo convidados, porque a gente tinha uma coleção bem grande, e a gente acabou sendo convidado para expor, trocar algumas ideias, enfim, fomos bem reconhecidos. Lá estava um dos criadores da Hot Wheels, que faz a parte de criação. Então foi muito bacana mesmo (Entrevistado 6). O entrevistado 6 possui como história marcante os encontros de Hot Wheels que ele já foi, tendo um como especial onde um dos designers da marca estava presente. A presença dessa pessoa de alta importância da Hot Wheels num evento realizado para um público fechado em um país longe da naturalidade da marca, mostra o quanto ela está interessada nas pessoas. Gobé (2002) ressalta o quanto é 51 importante essa presença da marca na vida das pessoas, quando diz que “A presença emocional é sentida. A presença de uma marca pode causar um impacto no consumidor. Pode formar uma conexão permanente e segura com as pessoas, especialmente se estratégia é planejada num programa de estilo de vida” (GOBÉ, 2002, p. 37). Essa presença marcou a vida do entrevistado 6, que recorda até hoje do que aconteceu naquele encontro. Para a sexta pergunta, questionou-se os sonhos dos entrevistados, quesito que Roberts (2005) mostra importante para uma Lovemark. Para o autor “As Lovemarks sabem que as pessoas que as amam são seres humanos passionais, emotivos e frequentemente irracionais” (ROBERTS, 2005, p. 93) e pessoas que amam, também sonham. Pensando nisso, foi perguntado se “As miniaturas da Hot Wheels te remetem ao mesmo sentimento de uma corrida de verdade ou de super carros esportivos?”. Todos os colecionadores responderam que as miniaturas da marca remetem aos carros reais que gostariam de ter. Os entrevistados 3 e 4 apenas comentaram que sim, porém os entrevistados 1, 2, 5 e 6 deram maiores detalhes desse sentimento. Segundo o entrevistado 1: “Acho que sim. Toda a pessoa gosta de ter o carrinho por ela pensar que esse carro real é muito legal então eu vou ter ele em miniatura como uma representação do carro de verdade” (Entrevistado 1). O entrevistado 2 também compartilhou da mesma ideia: Os carrinhos que coleciono e que eu compro são mais antigos como caminhonetes dos anos 60 e 70. Coleciono pois gosto muito de caminhonetes mas nunca tive uma de verdade. Acredito que além da coleção que tu faz, tu acaba admirando o carrinho que tu queria ter de verdade. Por exemplo, eu sempre quis ter uma F-1000, mas nunca tive oportunidade de comprar então acabo comprando o carrinho Hot Wheels justamente por causa disso (Entrevistado 2). E o entrevistado 5 mostrou a sua segmentação dentro da linha de produtos: Na verdade eu não sou um colecionador de qualquer miniatura. Ultimamente a Hot Wheels tem investido muito em carros que não existem e isso está me incomodando ao longo do tempo, eles estão indo para um lado mais infantil. Então eu não gosto disso, vamos dizer que foi lançado carro tal, eu vou querer aquele carrinho pequeninho. Eu gosto de carros de verdade, carros que existam (Entrevistado 5). 52 E o entrevistado 6 mostrou a sua preferência: De certa forma sim, ela remete a carros esportivos, a carros clássicos que eu adoro e eu não gosto muito de umas linhas futuristas que eles fazem, mas alguns carrinhos conceitos que eles fazem são bem bacanas. (Entrevistado 6). Esses quatro entrevistados passaram o que, segundo Roberts (2005), as Lovemarks buscam: os sonhos. Esses sonhos geram ações e ações inspiram os sonhos. Torna-se um ciclo onde a inspiração fortalece ainda mais o desejo da pessoa em ficar próximo à marca. Para a pergunta número sete, foi buscado o sentimento de paixão dos entrevistados pela marca. Para Roberts (2005) a paixão anda ao lado do amor, pois não existe amor sem a paixão. Essa paixão tem como base a extrema felicidade e o ódio, sentimentos extremos, mas que andam juntos nesse quesito. A pergunta foi se “Você já sentiu alguma sensação, seja ela felicidade, ódio ou algo parecido quando a Hot Wheels lançou algum produto de seu agrado ou desagrado?” Todos os entrevistados responderam que sim, como se vê nas seguintes respostas: Ela tem vários segmentos, tanto para crianças com aqueles carrinhos de monstro e que não existem de verdade, como para a parte de coleção como carros de filme e de séries de carros que já existiram. Inicialmente eu fico brabo quando eles lançam algo que não é do meu agrado, mas depois pensando melhor tu vê que eles tiveram um motivo para realizar essa nova invenção (Entrevistado 1) Para o entrevistado 1, notou-se um sentimento de brabeza (parecido ao ódio) quando a Hot Wheels lança no mercado uma linha de produtos que não é de seu agrado. Porém, também relatou que, após analisada a situação, ele concordou que a marca deve ter seus motivos para essa produção. Pode-se notar certa empatia do entrevistado com a marca. Essa empatia, que Roberts (2005) também relata ser essencial para a intimidade de uma Lovemark e para Gobé (2002) esse diálogo é a participação da marca na vida das pessoas. Os entrevistados 2, 5 e 6 também compartilharam dessa ideia de frustração e felicidade com relação aos produtos da marca: 53 Tenho esse sentimento sim. Por exemplo, tem lançamentos que “ficaram a desejar” onde se esperava um carrinho e no final ele possui alguma falha ou alguma cor que não ficou do agrado, ficando aquele sentimento que “deixaram a desejar”. O contrário é verdadeiro também quando lançam um carrinho e você vê que ficou bonito e do agrado por ser colecionador da Hot Wheels. Então existe esse sentimento se frustração e também de contentamento (Entrevistado 2) Sim, ultimamente eu tenho visto muito nas prateleiras avião, helicóptero, tem uns que tu nem sabe definir o que é, filmes, até vi um dos Flintstones esses dias, tudo bem é um carro, mas poxa, não é um carro sabe (?) e isso daí eu não sei se é uma tendência de infantilizar a coisa mas eu percebo que está crescendo isso e na questão de colecionar me incomoda, porque eu gosto de carro mesmo, tem que ter quatro rodas. Eu to sempre pesquisando em sites e quando eu vejo que tem um carro que foi lançado e eu não tenho, eu fico feliz, tenho que ir atrás. Eu gosto muito de Lamborghini, e esse é um momento que acho legal, quando a Hot Wheels investe bastante nos Lamborghinis, eu tenho bastantes, eu quero ter todos e isso me deixa feliz mesmo (Entrevistado 5). Sim, as vezes eu por exemplo fico bem indignado quando eles lançam uma linha inteira e não tem um carro clássico, não tem um carro esportivo e tem só aquela coisa futurista e muito infantil. Não gosto, eu fico com raiva, mas acabo comprando um que outro (Entrevistado 6). Nessas três respostas, foi analisado que todos os entrevistados possuem uma segmentação de coleção dentro das miniaturas da Hot Wheels e ficam contentes quando a marca lança alguma novidade dentro dessa linha. Isso também é visto quando acontece o contrário: o sentimento negativo prevalece quando aparecem miniaturas nas prateleiras que não são do agrado. Porém, o entrevistado 3 comentou a falta de empatia da marca com o colecionador. Essa empatia para Roberts (2005) é essencial para entender as emoções como um todo. O entrevistado 3 relatou que: Sinto muito. Eles não vêem no mercado brasileiro o perfil do colecionador. Eles apenas querem vender “brinquedos”. Não valorizam o colecionismo (aqui) como é valorizado lá fora como mercado americano ou mexicano. Eu amo a marca, não curto é a política do fabricante, mesmo lá fora eles não são tão íntimos com os colecionadores, entende (Entrevistado 3). Essa falta de diálogo da marca com o consumidor dificulta a busca do amor. “Sem empatia, você não cria emoção nem Intimidade – e pode esquecer tudo sobre 54 sinceridade e transformar a visão do consumidor” (ROBERTS, 2005, p. 136). Gobé (2002) também comenta que: Nesse mercado hipercompetitivo, onde os produtos e os serviços por si só não possuem o suficiente para atrair um novo mercado ou mesmo manter os mercados existentes ou os clientes, acredito que é o aspecto emocional dos produtos e seus sistemas de distribuição que serão a diferença-chave entre a escolha final do consumidor e o preço que deverá pagar. Por emocional, quero dizer como uma marca se comunica com os consumidores no nível dos sentidos e das emoções; como uma marca se aviva para as pessoas, forjando uma conexão profunda e duradoura (GOBÉ, 2002 p. 18-19). O autor mostra que outro fator é importante para se captar a emoção das pessoas: o sistema de distribuição. Esse sistema é falho segundo o entrevistado 3, que percebeu que a Hot Wheels prioriza muito mais outros mercados do que o mercado brasileiro. Ressalta-se aqui, que a marca poderia projetar miniaturas específicas que levassem em conta a cultura e o regionalismo diante do cenário global. O entrevistado 4 também comentou sobre a péssima distribuição das miniaturas nas lojas e voltou a falar sobre o sentimento de felicidade e ódio que sente com os produtos: Qualquer colecionador tem relações de amor e ódio com a marca. Ela produz réplicas de carros, mas quase sempre deixa a desejar com falta de detalhes e proporções irregulares em relação ao carro real. Quando ela produz algo melhor, o preço é maior, e a distribuição para as lojas é péssima. Isso gera frustração entre os colecionadores. Mas é muito prazeroso quando você encontra uma miniatura especial para você (Entrevistado 4). Os entrevistados 3 e 4 tiveram um discurso parecido quando questionado sobre a paixão pela Hot Wheels. Porém ambos também adentraram no quesito da empatia e do diálogo. Esse diálogo, que conforme os entrevistados percebem, falta da marca para com as pessoas. Gobé (2002) diz que o verdadeiro diálogo se dá no trânsito em um caminho de mão dupla em uma conversação com as pessoas. Esse diálogo entre a marca e as pessoas, a intimidade e o compromisso foram abordados na próxima pergunta realizada aos entrevistados. Foi questionado se “De alguma forma, você se sente conectado à Hot Wheels?”. O entrevistado 1 relatou que: 55 Antigamente me sentia mais, porque eles realizavam encontros patrocinados por eles no Brasil. Atualmente a Hot Wheels não tem dado muita atenção para o colecionismo no Brasil. Sinto-me mal por isso porque o Brasil é um dos países que mais consomem essa marca no mundo e eles dão prioridade mais para o maior mercado deles que é os Estados Unidos, porém eu acho que eles deviam olhar mais para o Brasil também (Entrevistado 1). Nessa fala, o entrevistado 1 mostrou sua indignação com a Hot Wheels devido a falta de compromisso da marca com o público. Para Roberts (2005) o compromisso de longo prazo é essencial para um relacionamento de Lovemarks. Notou-se que antigamente o entrevistado 1 possuía mais esse sentimento, mas foi se desgastando com tempo devido a falta de intimidade da marca com ele. Roberts (2005) fala que uma Lovemark precisa de emoções, revelações e grandes gestos de relacionamento, porém também precisa de proximidade, confiança e, acima de tudo, intimidade. Isso faltou por parte da Hot Wheels com o entrevistado 1. O entrevistado 2 comentou que: “Sinto-me conectado com a Hot Wheels, por ter uma gama de amigos em que muitas vezes o assunto principal é a Hot Wheels, onde se trocam ideias, compartilham as coleções, trocam, compram, falam sobre a história do carrinho” (Entrevistado 2). Esse ciclo de amizades criado através da relação que se desenvolveu se enquadra no que Gobé (2002) mostra sobre a presença da marca. Para o autor, “A presença de uma marca pode causar um impacto no consumidor. Pode formar uma conexão permanente e segura com as pessoas, especialmente se a estratégia é planejada num programa de estilo de vida” (GOBÉ, 2002, p. 36). Os entrevistados 3 e 4 mostraram o seu compromisso com a marca, quando perguntados sobre a sua conexão com ela. A entrevistada 3 disse que: “Sinto-me conectada por ser coordenadora de um clube que leva o nome da marca” (Entrevistado 3) e o entrevistado 4 mostrou que: “Sim, como disse, meu dia-a-dia com o blog me faz estar conectado a este mundo” (Entrevistado 4). É perceptível que “O compromisso pode transformar a fidelidade, representada por uma aceitação autômata, em um estado de conscientização real impregnado de emoção verdadeira – Fidelidade Além da Razão” (ROBERTS, 2005, p. 139). Contudo, o entrevistado 5, depois de feita essa pergunta, questionou-se sobre o que tinha falado anteriormente: 56 Sim, bastante. Até depois desses questionamentos, eu fico pensando, como eu falei antes, se tivesse outra marca eu não iria abrir mão da Hot Wheels. Então de certa forma tem uma conexão sim. Eu tenho até uma projeção para o futuro de colecionar miniaturas maiores, numa escala maior, mas eu ainda não coleciono porque elas são muito caras e não ia ser como tu comprar um Hot Wheels em qualquer lugar, mas eu não ia deixar de colecionar os pequeninhos (Entrevistado 5). Após essa contradição na resposta do entrevistado 5, ele fez uma projeção para o futuro em relação ao compromisso com a marca. Esse futuro já consolidado pode ser analisado como uma característica de fidelidade. Aaker (2002) mostra o quão importante é essa fidelidade, afinal: Fidelidade à marca está no cerne do valor de qualquer marca. O conceito é o de fortalecer o tamanho e a intensidade de cada segmento de fidelidade. Uma marca com uma base de clientes pequena, mas bastante fiel, pode representar um valor considerável (AAKER, 2002, p. 32). Essa fidelidade apontada por Aaker (2002) em sua obra, volta com uma força ainda maior na obra de Roberts (2005), onde ele aborda a fidelidade além da razão. Essa fidelidade além da razão é o que torna uma marca de confiança em uma Lovemark. As marcas de confiança são o passo seguinte das marcas; Lovemarks são os passos seguintes das marcas de confiança... pense como você ganha mais dinheiro. Ganha quando usuários leais, usuários de peso, usam o seu produto o tempo todo. Portanto, ter um caso de Amor duradouro é melhor do que ter um relacionamento de confiança (ROBERTS, 2005, p. 69). Esse amor duradouro é o que faz com que as marcas amadas se sobressaiam no mercado. Fazer as pessoas pensarem no futuro e terem a marca presente nesse futuro, assim como o entrevistado 5 está fazendo, mostra que a Hot Wheels está inserida na vida dessa pessoa. O entrevistado 6 também acha que possui em elo com a Hot Wheels, quando disse que: Eu acho que a gente tem um elo de ligação desde que eu era pequeno. Aquilo ali remete muito a minha infância e continua sendo presente no meu dia a dia. Todas as vezes que passo em algum 57 lugar eu vejo a marca ou o blister da Hot Wheels eu fico bem feliz e já vou dar uma olhadinha (Entrevistado 6). Esse elo é percebido desde a sua infância. A longa história que o entrevistado 6 possui com a marca remete ao que Lindstrom (2007) fala sobre fidelidade e tradição. Para o autor: “A fidelidade é forte, mas as tradições são ainda mais fortes. A tradição é parcialmente formada por fidelidades de longo prazo, que se tornaram tão inseridas na cultura que o comportamento racional, acaba dando lugar a aflição emocional” (LINDSTROM, 2007, p. 170). Essa tradição dita pelo autor é fortemente notada na resposta do entrevistado quando ele comentou q ue a marca remete a sua infância. Para a nona pergunta, foi utilizado o gráfico cartesiano, que Roberts (2005) apresentou em sua obra, para mostrar o índice de amor e respeito que uma marca possui. Figura 12 – Gráfico cartesiano Amor X Respeito Fonte: “O futuro além das marcas: Lovemarks” (ROBERTS, p. 147, 2005) Esse gráfico ilustra o que as pessoas sentem pela marca nos dois quesitos mais importantes. Para o autor: “Sem Respeito não existe alicerce para relacionamentos duradouros. Sem o desenho preciso, no formato axial, nossa ideias fluíram para sentimentos sem nenhuma base” (ROBERTS, 2005, p. 146). O respeito é a base para se construir o amor, e foi isso que os entrevistados tiveram que responder na pergunta nove. Foram dadas as seguintes marcas: Hot Wheels, seu time de futebol, feijão Tio João, Tamagoshi, Tylenol (remédio para dor de cabeça), 58 seu banco, Coca-Cola, colégio em que estudou e Carrefour, para os entrevistados colocarem nos respectivos quadrantes. Todas as respostas serão analisadas o quadrante superior direito, que é onde estão inseridas as Lovemarks, segundo Roberts (2005). O entrevistado 1 apresentou a seguinte resposta: Figura 13 – Quadro construído pelo entrevistado 1 Fonte: Arquivo pessoal Na resposta do entrevistado 1 notou-se que ele colocou no quadrante superior direito (a parte onde estão as marcas com muito amor e muito respeito) a Coca-Cola, seu time de futebol, o colégio em que estudou e a Hot Wheels. O entrevistado 1 colocou no quadrante das Lovemarks, além do que comentado anteriormente, a Hot Wheels. O entrevistado 2 respondeu da seguinte forma: 59 Figura 14 – Quadro construído pelo entrevistado 2 Fonte: arquivo pessoal O entrevistado 2 apresentou uma resposta igual ao entrevistado 1 no quadrante que apresenta as marcas do amor, o superior direito. Nota-se novamente a Hot Wheels dentro desse espaço destinado para as marcas do amor. A resposta do entrevistado 3 se deu de maneira rápida devida ao curto espaço de tempo que o entrevistado possuía para realizar a entrevista. O entrevistado 3 relatou que possui um grande respeito e um grande amor pela Hot Wheels, o que a enquadraria novamente no espaço das Lovemarks. O entrevistado 4 respondeu da seguinte forma: 60 Figura 15 – Quadro construído pelo entrevistado 4 Fonte: arquivo pessoal O entrevistado 4 demonstrou ser uma pessoa que não possui muito respeito e amor pelas marcas apresentadas, diferentemente dos entrevistados anteriores. Para ele mais de 60% das marcas não o agradam tanto em respeito quanto amor, porém a única em que ele demonstrou que possui um grande sentimento de respeito e muito amor foi a Hot Wheels. Pela quinta vez a marca apareceu no quadrante mais importante. Para o entrevistado 5 a resposta se deu da seguinte maneira: 61 Figura 16 – Quadro construído pelo entrevistado 5 Fonte: arquivo pessoal O entrevistado 5 apresentou respostas diferentes dos outros entrevistados, porém a Hot Wheels continuou mais uma vez no quadrante que diz respeito as Lovemarks. O último entrevistado apresentou o gráfico assim: 62 Figura 17 – Quadro construído pelo entrevistado 6 Fonte: arquivo pessoal Novamente a Hot Wheels apareceu no quadrante superior direito do gráfico. O entrevistado 6 não respondeu de maneira muito diferente dos demais entrevistados, tornando claro que todas as respostas foram parcialmente parecidas e todas as respostas apareceram a Hot Wheels no quadrante de muito respeito e muito amor. Para Roberts (2005) esse quadrante onde a Hot Wheels apareceu em todas as respostas, é o quadrante das Lovemarks. Afinal, “O Amor precisa de respeito desde o começo. Sem ele, o Amor não vai durar. Vai desaparecer assim como todas as paixões e fascinações. Respeito é do que você precisa quando quer algo duradouro” (ROBERTS, 2005, p. 60), e esse quadrante é onde estão as marcas que possuem muito amor e muito respeito. O último questionamento foi direto ao ponto chave do problema a ser estudado. Foi perguntado se o entrevistado, após responder a todos os questionamentos, possuia algum tipo de sentimento pela marca. O entrevistado 1 respondeu da seguinte forma: Claro que sinto, porque eles que foram responsáveis por criar essa marca e que após a gente pôde fazer um negócio em cima dela mesmo. A gente conheceu bastante pessoas, viajamos bastante pelo 63 Rio Grande do Sul e até mesmo para São Paulo por causa dessa marca, se estressamos bastante em alguns momentos com algumas pessoas, fizemos negócios com algumas lojas até do exterior para trazer mercadoria para o Brasil. Eu acho que tem um sentimento sim, não tem como não negar isso. (Entrevistado 1). A resposta do entrevistado 1 mostrou que ele realmente possui um sentimento pela marca, mas ele não soube explicar qual. Gobé (2002) explica o quão importante é esse sentimento, pois para ele “Criar marcas é uma relação de pessoas para pessoas. Uma marca precisa ter qualidades humanas e valores emocionais...” (GOBÉ, 2002, p. 378). Essa relação entre pessoas é fortemente notada na resposta do entrevistado 1, pois ele comentou que conheceu diversas pessoas em viagens por dois estados. O entrevistado 2 e 6 responderam o que estava sendo buscado com esse trabalho, eles relataram que “Tenho de carinho, sentimento de amor, um sentimento de respeito, tenho sim um sentimento pela marca” (Entrevistado 2). O sentimento que eu tenho pela Hot Wheels é um respeito, não chega a ser muito de respeito, mas muito de amor. Gosto muito de saber que são pessoas ou uma indústria que faz uma coisa de brinquedo mas que faz uma coisa séria, que pensa no seu colecionador. Então eu acredito muito na marca Hot Wheels, eu gosto muito da marca Hot Wheels, pois eu acho que o meu elo de ligação hoje pela Hot Wheels é mais, não é comercial, é afetivo (Entrevistado 6). Esse sentimento, mostrado pelos entrevistados 2 e 6, mostrou que eles consideram a Hot Wheels uma marca amada, pois eles apontaram que possuem amor e respeito pela marca. Para Roberts (2005) o respeito é o mais essencial para se construir uma Lovemark, e o amor é o oxigênio dessas marcas do amor. O entrevistado 3 não respondeu de maneira tão positiva à marca, porém também expressou o sentimento de amor, como pode-se analisar: “Eu amo a marca, não curto é a política do fabricante, mesmo lá fora eles não são tão íntimos com os colecionadores” (Entrevistado 3). Além do mesmo sentimento sentido pelo entrevistado 2, o de amor, pode-se perceber que o entrevistado 3 relatou a falta de intimidade da marca com as pessoas. A intimidade “expõe os tipos de relacionamentos que queremos ter, a família de que precisamos, o que compartilhamos ou não, o que define os limites” (ROBERTS, 2005, p. 129). Gobé (2002) também expressa a importância dessa proximidade da marca com as 64 pessoas. Para ele “O verdadeiro diálogo implica o trânsito em um caminho de duas mãos: uma conversação com o consumidor” (GOBÉ, 2002, p. 38). Essa falta de intimidade e diálogo que o entrevistado mostrou que a marca possui para com as pessoas, dificulta o sentimento emocional das pessoas. Afinal, como ressalta Roberts (2005), por muitas vezes no processo de consumo, a emoção ultrapassa a razão. O entrevistado 4 também falou que possui um sentimento. Ele volta com o ideal de ser o seu hobby principal, como se pode ver: Sim, possuo. É uma marca que produz miniaturas que gosto de colecionar, e isso me faz estar informado sobre o que vai chegar às lojas e quais são as principais novidades. Gosto de ter seus produtos, e é meu principal hobby hoje (Entrevistado 4). Além de demonstrar que possui uma emoção pela marca, o entrevistado 4 falou sobre o colecionismo, ou hobby. Belk (2007) mostra que o hobby é importante, pois ele é o: [...] processo de adquirir e possuir coisas de forma ativa, seletiva e apaixonada. Esses produtos ou coisas, não são utilizados na sua forma usual e são percebidas como partes de um conjunto de objetos não idênticos. A definição situa o comportamento do colecionador em uma forma mais ampla em relação ao comportamento de uma pessoa que adquire e consume um produto. (BELK, 2007, p. 17,) Esse processo de adquirir um produto por uma forma apaixonada vai ao encontro do que Roberts (2005) fala sobre paixão, essa paixão é: [...]a intensidade e a impetuosidade, que acompanham somente as emoções mais fortes. Junto com o Amor, podem transformar o produto mais insignificante em algo imprescindível. Têm o poder de dar a uma relacionamento a intensidade que o sustentará em tempos bons e ruins (ROBERTS, 2005, p. 142). Fazer com que a miniatura da Hot Wheels se faça imprescindível na vida do entrevistado 4, quando ele comentou ser seu principal hobby e também ao longo da entrevista, que o faz relaxar, torna-o apaixonado pela marca. O entrevistado 5 deu uma resposta rica em detalhes e já fez algumas projeções para o futuro: 65 É um sentimento de não deixar a marca, eu não quero ver ela terminando. Na verdade eu me sinto na obrigação inclusive de como colecionador de dá continuidade a isso. Eu tenho um compromisso, se eu parar de colecionar e outros vão parando, uma hora a marca vai acabar. Claro que ela tem aquela questão de que as crianças consomem sem saber o que é a marca e colecionar, mas isso nasce lá, quando o pai está dando uma miniatura para a criança talvez aquilo vai gerar no futuro, como gerou em mim. Eu já tive muitas miniaturas, mas elas sumiram da minha vida, então a questão de eu começar a colecionar Hot Wheels quando eu tive o meu primeiro emprego, por exemplo, em 2007, eu podia ter um dinheiro para mim e eu comecei a comprar uma, duas, três, essa daqui eu vou guardar para o resto da vida. Ou seja, uma relação de compromisso e futuramente passar adiante, enfim, se eu tiver um filho (Entrevistado 5). Esse entrevistado demonstrou com clareza que possui quase que um compromisso vitalício com a marca. Pois, ele disse ser parte da marca, porque sem ele e os outros colecionadores, a marca deixaria de existir, ele sente um compromisso com a Hot Wheels. Isso se percebeu também quando ele comentou que gostaria de deixar seu legado de miniaturas para os seus futuros filhos, para que eles pudessem dar continuidade a esse compromisso. Um pai quer deixar apenas coisas boas para o seu filho e analisando a resposta dada pelo entrevistado 5, remete-se ao que Roberts (2005) fala sobre o passado. Para o autor “As Lovemarks são como as melhores famílias – combinam o aprendizado do passado com a dinâmica do presente, para criar grandes futuros” (ROBERTS, 2005, p. 91). O entrevistado 5 quer manter a Hot Wheels presente na família que ele está para criar no futuro, nisso se configura um quesito essencial para se tornar uma Lovemark. Vale ressaltar que durante as respostas houve vários fatores que apontaram a questão do colecionismo. Esse não era o foco principal desse trabalho, porém podese explorar em uma futura pesquisa da marca com os seus consumidores, tendo como base o que aqui foi percebido e analisado. 66 6. CONCLUSÃO Depois de estudado os primeiros 40 anos da Hot Wheels pelas obras de Ragan (2001) e Bogart (2007 e 2009), notou-se uma história de inovações e superações para um produto que algumas vezes é dado como um simples brinquedo: as miniaturas de carro. Os autores trouxeram diversas épocas da marca e também a evolução das miniaturas da Hot Wheels. Como, por exemplo, a velocidade das miniaturas da marca devido ao peso e a maneira que as quatro rodas se movimentavam de forma independente, a pintura diferenciada, o surgimento dos pneus de borracha para as miniaturas e a proximidade das miniaturas com os carros reais. Com o intuito de perceber se a marca Hot Wheels poderia ser considerada uma Lovemark, após a apresentação da história da mesma, formatou-se o conceito de marca através das obras de Aaker (2001 e 2002) e Pinho (1996). Aaker (2001) introduziu o conceito de equidade das marcas, onde apresentou conceitos essenciais para tal denominação. Entre eles estão a conscientização da marca, a qualidade percebida, a fidelidade e a associação com as marcas. Com esse estudo, pode-se observar o início da conscientização das empresas em criarem marcas fortes e de confiança. Não desfazendo a base teórica de Aaker (2001) e Pinho (1996), mas subindo um degrau no relacionamento da marca com as pessoas, Roberts (2005), Gobé (2002) e Lindstrom (2007) mostraram que uma marca precisa de muito mais, ela precisa passar emoção, ter uma personalidade, ela precisa de amor. O tecido social deixa transparecer mais do que nunca. As pessoas estão a procura de conexões novas e emocionais. Elas procuram algo para amar. Insistem em mais opções. Suas expectativas são maiores e precisam de um estímulo emocional que as ajude a tomar decisões. E, por fim, querem outras formas de se conectar a tudo – incluindo as marcas (ROBERTS, 2005, p. 36). Roberts (2005) demonstra isso ao longo de sua obra, onde as marcas precisam demonstrar um sentimento para as pessoas, pois as pessoas estão precisando de emoção, elas não compram somente por motivos racionais. Com isso, foram entrevistados seis colecionadores da Hot Wheels para, através de um estudo de caso, saber se a marca poderia ser considerada uma 67 Lovemark. Foi realizado um pré-teste para que se soubesse da validade dessa pesquisa. A entrevista de pré-teste é fundamental para que possa haver uma segurança e validade nas respostas dos próximos entrevitados e na própria elaboração desses questionamentos. Após confirmado que os questionamentos eram válidos para uma análise sobre a marca Hot Wheels e Lovemarks, aplicou-se os questionários. As primeiras perguntas foram de caráter introdutório para os entrevistados mergulharem no mundo da Hot Wheels e suas coleções particulares, porém desde o início já se observou alguns aspectos que Roberts (2005) considera como essenciais para a definição de uma marca amada pelas pessoas. Dentro deles pôde-se notar os motivos do entrevistado 3 em começar a colecionar, que foi a cor das miniaturas. Esse pensamento está inserido no que Roberts (2005) mostra como sensualidade de uma marca do amor, onde os sentidos se fazem presentes para atrair as pessoas para o produto. Outro fator que já apareceu nas respostas iniciais foi o quesito infância, que esteve muito presente na maioria dos entrevistados. Para eles, a Hot Wheels remetia muito a infância, com lembranças das miniaturas do passado. Gobé (2002) mostra que a presença de uma marca na vida de uma pessoa é um sentimento profundo. A presença de uma marca pode causar um impacto no consumidor. Pode formar uma conexão permanente e segura com as pessoas, especialmente se a estratégia é planejada num programa de estilo de vida (GOBÉ, 2002, p. 37). Essa presença na vida das pessoas também é relatada por Roberts (2005): “Quando experimentar algo e sentir que pode ser uma Lovemark para você, veja como isso reconhece o passado, à medida que avança para o futuro. Se não existe conexão, não é Lovemark” (ROBERTS, 2005, p. 91). Para os entrevistados, conforme observado nas entrevistas em profundidade, sua relação com a Hot Wheels possui sim uma conexão entre passado, presente e futuro. No decorrer da entrevista foram questionados os quesitos que Roberts (2005) apontou como compostos para uma marca do amor, que são mistério, sensualidade e intimidade. Também foi utilizado o quadrante de amor e respeito que o autor utiliza para fortalecer os questionamentos sobre uma Lovemark. 68 Embora os entrevistados não possuíssem o domínio do que é uma Lovemark ou das emoções que uma marca pode transmitir, foram analisadas as perguntas no capítulo anterior. Pode-se dizer que a Hot Wheels está começando a ser inserida como uma Lovemark dentro do universo da marcas. Porém, está passando por uma época “conturbada” dentro desse amor com as pessoas, como se estivesse passando por uma crise no relacionamento. Pois, algumas vezes, os entrevistados se disseram insatisfeitos com os novos produtos lançados pela marca, relatando até que estão deixando os colecionadores um pouco esquecidos. Vale ainda ressaltar a fragilidade da distribuição dos produtos, abdicando de algumas regiões de abrangência da marca. Como base teórica, Gobé (2002) afirma que: Criar marcas é uma relação de pessoas para pessoas e não uma relação de fábrica para pessoas. Uma marca precisa ter qualidades humanas e valores emocionais – precisa ter personalidade, expressando a cultura empresarial através de imagens que seduzem as pessoas. Se conseguirmos fazer que os consumidores queiram formar uma parceria com a marca, criamos com sucesso uma conexão emocional duradoura (GOBÉ, 2002, p. 378). E também Roberts (2005) aponta que: [...] determinada marca poderia ser uma Lovemark, se correspondesse às seguintes definições: Lovemarks conectam companhias, seu pessoal e suas marcas; Lovemarks inspiram a Fidelidade Além da Razão e Lovemarks são propriedades das pessoas que amam (ROBERTS, 2005, p. 78). A Hot Wheels transmite um valor emocional às pessoas, desde a sua infância até sua fase adulta, como foi relatado pelos entrevistados quando eles comentaram que possuíam um elo afetivo, tornando essa conexão de pessoas e marca, uma conexão duradoura. A marca também conecta diferentes pessoas que acabam criando vínculos de amizades devido a ela; possui a fidelidade além da razão quando os entrevistados mostram que adquirem o produto com uma freqüência mesmo esse produto não sendo de necessidade básica; e também as pessoas defendem a marca com fóruns, blogs e lojas virtuais sem nenhum vínculo contratual com a Hot Wheels. 69 Para finalizar, Roberts (2005) mostra o porquê a Hot Wheels pode estar começando a se tornar uma Lovemarks, pois “O fato é que as marcas de amor são criações e propriedades das pessoas que amam. Onde há um cliente apaixonado, há uma marca de amor” (ROBERTS, 2005, p. 71,). E os entrevistados analisados em questão mostraram que isso acontece entre eles e a Hot Wheels, o amor. 70 REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS AAKER, David A. Criando e Administrando Marcas de Sucesso. 3. ed. São Paulo: Futura, 2001 AAKER, David A. e JOACHIMSTHALER, Erich. Como Construir Marcas Líderes. São Paulo: Futura, 2002 BOGART, Angelo Van. Hot Wheels Classics The Red Line Era. Iola: Krause Publications, 2009 BOGART, Angelo Van. Hot Wheels 40 Years. Iola: Krause Publications, 2007 CLUBE Hot Wheels Brasil. [Material provindo da discussão em fóruns do clube]. Disponível em: http://www.clubehotwheelsbrasil.com.br/. Acesso em: 21 mai. 2014, 21:46:00 FERNANDES, Douglas. [Textos diversos T-Hunted]. Disponível em: http://thunted.blogspot.com.br/. Acesso em: 22 mai. 2014, 19:30:00 GIL, Antonio C. Estudo de Caso. São Paulo: Atlas, 2009 GOBÉ, Marc. A Emoção das Marcas. Rio de Janeiro: Negócio Editora, 2002 GRAVES, Robert. South Texas Diecast Collectors – Hot Wheels Guide. Disponível em: http://www.southtexasdiecast.com/hwguide.html. Acesso em: 2 abr. 2014, 21:18:00 KOTLER, Philip. Administração de Marketing: análise, planejamento, implementação e controle. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1998 LINDSTROM, Martin. Brandsense a Marca Multissensorial. Porto Alegre: Bookman, 2007 MARTINS, Gilberto de A. Estudo de Caso: Uma Estratégia de Pesquisa. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2008 MOFFIT, Sean; DOVER, Mike. Wikibrands. Porto Alegre: Bookman, 2012 PINHO, José B. O Poder das Marcas. São Paulo: Summus, 1996 71 RAGAN, Mac. Hot Wheels Cars. St. Paul: MBI Publish Company, 2001 ROBERTS, Kevin. O futuro além das marcas, Lovemarks. São Paulo: M.Books, 2005 YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001 72 APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA ROTEIRO DE ENTREVISTA PERFIL DO ENTREVISTADO Nome: Idade: Profissão: 1. Você consome a marca Hot Wheels com que freqüência? 2. Há quanto tempo você possui a sua coleção de Hot Wheels e por que começou a colecionar? 3. Qual a importância da sua coleção no seu dia a dia? 4. Qual é o seu envolvimento com a marca Hot Wheels? 5. Você possui alguma história junto à marca Hot Wheels? 6. As miniaturas da Hot Wheels te remetem ao mesmo sentimento de uma corrida de verdade ou de supercarros esportivos? 7. Você já sentiu alguma sensação, seja ela felicidade, ódio ou algo parecido quando a Hot Wheels lançou algum produto de seu agrado ou desagrado? 8. De alguma forma, você se sente conectado a Hot Wheels? 9. Levando em consideração o respeito e amor pela marca (quadrante de Roberts (2005), coloque ao lado de cada item se você possui muito/pouco amor e também muito/pouco respeito: 73 Ex.: Lojas Renner – muito respeito (deivdo a ser uma grande marca) e pouco amor (por não consumir produtos da loja) - Hot Wheels - Seu time de futebol - Feijão Tio João - Tamagoshi - Tylenol (remédio para dor de cabeça) - seu banco - Coca-cola - colégio em que estudou - Carrefour 10. Após respondido aos questionamentos anteriores, pode-se dizer que você possui algum tipo de sentimento pela Hot Wheels? Explique para elucidar sua conclusão. 74 APÊNDICE B – MONOGRAFIA 1 UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL FABRÍCIO D'ARRIGO FURLIN LOVEMARKS – ESTUDO DE CASO MARCA HOT WHEELS Caxias do Sul 2013 75 UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA FABRÍCIO D'ARRIGO FURLIN LOVEMARKS – ESTUDO DE CASO MARCA HOT WHEELS Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para aprovação na disciplina de Monografia I. Orientador(a): Misael Montaña Caxias do Sul 2013 76 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................4 2 TEMA.......................................................................................................................5 2.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA.....................................................................................5 3 JUSTIFICATIVA.......................................................................................................6 4 QUESTÃO NORTEADORA.....................................................................................8 5 OBJETIVOS. ...........................................................................................................9 6 METODOLOGIA....................................................................................................10 7 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................................11 8 ROTEIRO DOS CAPÍTULOS.................................................................................13 9 CRONOGRAMA.....................................................................................................15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................16 77 1 INTRODUÇÃO Toda criança sempre sonha um dia em ser adulto. Enquanto essa etapa da vida não chega, todo menino e toda menina parece que treina pelo que está por vir. As garotas com bonecas e todas suas roupas para vestir, mini-cozinhas onde são preparados os melhores alimentos (no conceito dos pais). Já os garotos aliados a super-heróis para salvar o dia, foguetes que conseguem ir até a Lua e voltar em poucos segundos e suas estantes transformadas em garagens lotadas de Hot Wheels. Os brinquedos têm um importante papel para o crescimento das crianças. São eles os companheiros inseparáveis, os que ajudam nos momentos de tristeza e também os que ensinam. Um brinquedo tem poder imenso perante uma criança, isso torna com que esse objeto, que antes era apenas material, vire uma paixão. Porém quando essas crianças tornam-se aquilo que queriam, adultos, os brinquedos acabam perdendo espaço para coisas mais sérias. Mas o que falar sobre aqueles crescidos que mantém aquela paixão pelo brinquedo da sua infância, ou melhor, o que falar sobre aqueles crescidos que são um forte mercado consumidor para marcas que tinham um pensamento voltado apenas para a linha infantil. Assim como eu, existem milhões de colecionadores espalhados pelo mundo. Eles, geralmente não são o alvo principal das campanhas publicitárias, também não são o maior mercado consumidor de um produto, porém eles são aqueles que defenderão a marca como se fosse uma filha, que saberão de tudo sobre ela e que também nunca irão abandoná-la, eles sempre serão fiéis. Essa fidelidade, ou paixão, pela marca, encaminha uma análise para saber se a Hot Wheels pode ser considerada, segundo Roberts (2004), uma Lovemark. Esse estudo será a base desse trabalho, onde irá buscar características da marca, comportamento de seu consumidor e estudo de conceito de Lovemarks. 78 2. TEMA Hot Wheels e o público adulto. 2.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA Analisar o consumo do público adulto pela marca hot wheels, para estudar se ela pode ser considerada uma Lovemark. 79 3. JUSTIFICATIVA Este estudo tem como um dos intuitos analisar um mercado consumidor diferente do target principal da marca Hot Wheels, mesmo sabendo, com dados coletados pela própria empresa, Mattel, de que uma criança possui em média 45 miniaturas e um colecionador adulto possui em média 1550 miniaturas. Segundo dados do “2012 Annual Reports – Mattel” a marca Hot Wheels “gross sales of wheels products increased 3%, driven by higher sales of hot wheels”, dando continuidade ao sucesso da marca de miniaturas automotivas mais rentáveis do mundo. During 2012, Mattel delivered another year of consistent growth. Mattel increased its revenues by maintaining momentum in its core brands such as Hot Wheels, American Girl, and Fisher-Price. Mattel increased its gross margin beyond its long-term target of approximately 50% and operating income exceeded $1 billion for the second consecutive year.² (ANNUAL REPORTS, pág 27, 2012) Conseguindo compreender o que leva um adulto adquirir um produto que antes era somente destinado a um público infantil, inicia-se um estudo para saber se a marca Hot Wheels pode ser comparada a uma Lovemark. Quando falamos em Lovemarks, adentramos em uma área do mercado consumidor onde a razão muitas vezes é superada pela paixão. Lovemarks se diferenciam das marcas tradicionais pela maneira como se relacionam com seus consumidores. 1. As vendas brutas de produtos de miniaturas de carros aumentou 3%, impulsionado pelo aumento das vendas de hot wheels. (tradução do autor) 2. Em 2012, a Mattel entregou mais um ano de crescimento consistente. Mattel aumentou suas receitas em manter a dinâmica em suas principais marcas como Hot Wheels, American Girl, e Fisher-Price. Mattel aumentou sua margem bruta além de sua meta de longo prazo de aproximadamente 50% e o lucro operacional ultrapassou US $ 1 bilhão para o segundo ano consecutivo. (tradução do autor) 80 Os estudos de Lovemarks ainda são muito recentes. Sendo assim, este trabalho tem como objetivo entender o que é uma Lovemark, conjuntando com a análise da marca Hot Wheels, para saber se ela pode ser considerada uma “marca do amor”. 81 4. QUESTÃO NORTEADORA A Hot Wheels poderia ser considerada uma Lovemark, analisando o público adulto que a consome? 82 5. OBJETIVO O objetivo geral do trabalho será analisar se marca Hot Wheels pode ser considerada uma Lovemark, através de seu público consumidor adulto. 5.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Como objetivos específicos, temos: - Estudar o que leva uma marca a se tornar uma Lovemark, - Estudo sobre a história da marca Hot Wheels, - Compreender se a Hot Wheels pode ser considerada uma Lovemark, - Estudar o mercado consumidor da marca através das entrevistas, - Por que as pessoas compram Hot Wheels e como elas se relacionam com a marca. 83 6. METODOLOGIA A metodologia usada nesse trabalho será a de estudo de caso. Essa metodologia consiste, segundo Yin (2010) em “uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo em profundidade e em seu contexto de vida real,...”. Esse estudo se definirá por uma pesquisa de campo aplicada com análises feitas em bibliografias como a de Roberts, “O futuro além das marcas, Lovemarks”. Essa bibliografia, após analisada com os dados coletados, servirá como base do estudo para resolver a questão norteadora. Tomando como norte a teoria de Yin: …toda a análise de estudo de caso deve seguir uma estratégia analítica geral, definido as prioridades para o que analisar e por quê. Quatro estratégias são: contar com as proposições teóricas, desenvolver descrições de caso, usar dados quantitativos e qualitativos e examinar as explanações rivais. (YIN, p. 26, 2010) A metodologia desse estudo se resumirá em três caminhos fundamentais. O primeiro será o estudo da marca Hot Wheels, onde será analisada toda sua história através desses mais de quarenta anos, o crescimento de seu público consumidor e as principais épocas da marca. O segundo caminho a ser analisado será o de conceito de marca, através da obra de Kotler, e o que leva um marca a se tornar uma lovemark, através da obra de Roberts, os encantos que essa marca possui perante seu público, o por que as pessoas defendem ela e como a marca se relaciona com as pessoas. Por último, será realizada uma pesquisa qualitativa aprofundada com o principal target do estudo que será o público adulto da marca, através de um questionário com perguntas específicas de seu relacionamento com a marca estudada. Após analisada essas três etapas, se chegará a uma interpretação dos dados coletados, que trará a resposta para os objetivos almejados. Com o auxilio dessa metodologia, as conclusões serão verdadeiras e de caráter legítimo perante a abordagem do tema proposto. 84 7. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA O estudo será dividido em quatro fases, sendo elas: estudo da história da marca Hot Wheels, o estudo sobre Lovemarks, a análise do público consumidor adulto da marca, e por fim, a análise de dados coletados durante a pesquisa. Estas fases serão guiadas por autores das áreas respectivas, que permitirão a percepção das situações, análises corretas e o alcance do objetivo proposto. Primeiramente iremos estudar a história da marca Hot Wheels. O colecionador e também escritor Angelo Vanbogart analisa toda a marca no seu livro comemorativo aos 40 anos da Hot Wheels, “ Hot Wheels 40 Years”. This book explains the magic of Hot Wheels cars through the eyes of someone who, like many collectors, begged his parents for Hot Wheels car as kid and grew into an adult collector. The creators of Hot Wheels cars, the marketing agents behind the brand and the designers are all part of the magic, and many of them explain the cars and the processes that make that magic³ (BOGART, pág 5, 2008) Nesta primeira etapa também será utilizado o livro do autor Mac Ragan, “Hot Wheels Cars”, onde é abordada uma visão mais pessoal do mundo da marca e de seus consumidores, em especial, os colecionadores. Como será analisado uma marca específica, o uso do livro “Administração de Marketing” de Kotler se faz essencial. Para ele “uma Marca é um nome, termo, símbolo, desenho - ou uma contribuição desses elementos - que deve identificar os bens ou serviços de uma empresa ou grupo de empresas e diferenciá-los da concorrência.” (KOTLER, pág 8, 2006) 3. Este livro explica a magia de carros Hot Wheels através dos olhos de alguém que, como muitos colecionadores, implorou seus pais para carro Hot Wheels como criança e cresceu em um coletor adulto. Os criadores de carros Hot Wheels, os agentes de marketing por trás da marca e os designers fazem parte da magia, e muitos deles explicar os carros e os processos que fazem a magia. (tradução do autor) 85 O estudo sobre Lovemarks será baseada na obra do autor Kevin Roberts, através do seu livro “O futuro além das marcas, Lovemark”. Nele, Roberts, mostra sobre as novas posições que as marcas estão tomando para estabelecer laços afetivos com seus consumidores “As Lovemarks deste novo século serão as marcas e as empresas que criarem conexões emocionais genuínas com as comunidades e redes com as quais se relacionam” (ROBERTS, p.60, 2005). O autor traz três atributos básicos que uma marca deve trazer para poder ser considerada uma Lovemark: mistério, sensualidade e intimidade, e como relata em seu livro “Se as Lovemarks conseguissem alcançar esse status, se tornariam geradoras supremas de lucros diferenciados” (ROBERTS, p. 61, 2005). As informações coletadas com a análise do público alvo juntamente com o estudo de Lovemarks, por Roberts, nos levarão a resposta da questão norteadora. 86 8. ROTEIRO DOS CAPÍTULOS Os capítulos da monografia serão executados da seguinte maneira: 1 Introdução 2 Hot Wheels 2.1 Como surgiu 2.2 Momentos de ascensão 2.3 Início da época dos colecionadores 3 A evolução das marcas tradicionais à Lovemarks 4 Metodologia 5 Análise de dados 6 Conclusão CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO Na introdução irá ser mostrado o que o trabalho apresentará aos seus leitores. CAPÍTULO 2 – HISTÓRIA DA MARCA HOT WHEELS Neste capítulo irá ser abordado toda a história da marca hot wheels, desde seu início até a atualidade, usando autores como Van Bogart (2008) e Ragan (2001). Haverão também algumas breves histórias de miniaturas e eventos que ficaram marcados na história como por exemplo a miniatura “Beach Bomb” e o último evento oficial realizado no Brasil. CAPÍTULO 3 – A evolução das marcas tradicionais à Lovemarks Capítulo em que será estuado o conceito de Lovemarks, por Roberts 87 (2005). Como que marcas tradicionais chegam a se tornar Lovemarks. Também será estudado o conceito de marcas e como ocorre esse valor é agrgado perante algum serviço ou produto, através de Aakar (1998). CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA Neste capítulo será abordado o tipo de pesquisa escolhido para a realização da análise e qual os métodos que serão usados. CAPÍTULO 5 – ANÁLISE DOS DADOS Analisar os dados pesquisados sobre os produtos da marca. Características marcantes que levam ao ato da compra. CAPÍTULO 6 – CONCLUSÃO Conclusão da análise da marca hot wheels e de como ela vende seu produto para o público adulto. 88 9. CRONOGRAMA Ação/Mês Março Abril Maio Junho Pesquisa X X X X X X Bibliográfica Pesquisa de Campo Análise da Pesquisa X X 89 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOGART, Angelo. Hot Wheels 40 Years. Iola, WI: Krause, 2008 KOTLER, Philip e KELLER, Kevin Lane. Administração de Marketing. 10 ed. São Paulo, Pearson Pretince Hall, 2006 MATTEL. Anual Report, 2012 ROBERTS, Kevin. O futuro além das marcas Lovemarks. São Paulo, SP: M.Books, 2005 YIN, Robert K. Estudo de Caso: planejamento e métodos. 4ed. Porto Alegre: Bookman, 2010 90 ANEXO A – CD COM MATERIAL DIGITAL