Soneto: Busque Amor novas artes, novo engenho,
Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde a esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que n’alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.
Este é um dos mais belos e conhecidos sonetos camonianos.
Na 1ª estrofe, o Amor é visto como uma força poderosa, que causa sofrimento; porém
o eu-poemático se mostra indiferente, já que lhe faltam esperanças. Se não as tem,
para que sofrer?
Na estrofe seguinte, reforça a indiferença, alegando não temer os contratempos e as
mudanças das coisas. Afinal vive as “perigosas seguranças”, paradoxo que a vida lhe
impõe. Assim anda pelo mundo como se estivesse num mar muito bravo e sem remo.
Não há saída.
Entretanto sua indiferença , introduzida pelo verbo “não temo contrastes nem
mudanças,” é quebrada pela conjunção adversativa “mas”. A partir daí reconhece que
o Amor é maléfico (“um mal”), mortal (“que mata”), invisível (“não se vê”), indefinível
(“um não sei quê”), de origem desconhecida , inevitável (“vem não sei como”) e
incompreensível (“dói nao sei porquê”).
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