OUTRAS LEITURAS
O projecto Ler Mais e Escrever Melhor, para além de interligar o aperfeiçoamento das
competências de comunicação verbal, nas vertentes da oralidade, leitura e escrita, tem
igualmente em conta o desenvolvimento da competência não verbal, enquanto
comunicação funcional e estética.
Da comunicação não verbal fazem parte a linguagem gestual, icónica, plástica e musical.
O projecto Ler Mais e Escrever Melhor, com a secção Outras Leituras, pretende o
aperfeiçoamento conjunto da comunicação verbal e não verbal, através da compreensão
e interpretação de imagens e filmes, de fotografias e anúncios…
Atendendo à polissemia de qualquer descrição, há que atender à relação entre
observador e objecto de observação, em oscilação pendular de objectividade e
subjectividade. Partindo de
imagens e filmes seleccionados, serão considerados
contextos, assuntos, técnicas, cores, funções, simbologias e transversalidades.
O prazer estético reside no olhar primeiro do criador e no olhar segundo do leitor,
transfigurador da realidade inicial. Ambos, porém, condicionados pelas coordenadas
históricas e culturais de um tempo e de um lugar. Quanto ao momento de descoberta,
esse fica, muitas vezes, resguardado no mais íntimo de cada um. Por isso, agradecemos
a todos aqueles que connosco aceitaram compartilhar uma visão interpretativa da criação
artística, para sempre registada em papel, tela ou filme.
Texto 1: Imagem de António Costa Pinheiro
Autora: Inês Salvador Rodrigues, nº18,12ºB
Professora: Luzia Reis, Português
Data de edição: Janeiro 2009
O Pintor
António Costa Pinheiro nasceu em Moura, em 1932. Frequentou a Escola de Artes
Decorativas António Arroio e a Escola Superior de Belas-Artes, em Lisboa.
Na elaboração dos seus quadros, Costa Pinheiro teve o apoio da imaginação
poética, assim como de várias referências culturais e estéticas.
Descrição de imagem
Costa Pinheiro, ”80 artistas em Portugal”, ed. Heptágono
A imagem é rectangular, expandindo-se na vertical. Parece ser pintada a óleo.
Nela podemos distinguir 3 planos: o céu, o mar e um perfil. É importante referir a
sua profundidade, dada pela sobreposição de diferentes planos, permitindo assim tornar
a pintura mais real.
A imagem pode ser dividida em duas: exteriormente é possível observar os traços
de perfil de um rosto, enquanto na zona central, e encaixando-se dentro das linhas de
perfil, podemos observar uma paisagem exterior, destacando-se o mar, o céu, nuvens,
uma gaivota e uma nau.
É notória a existência de luminosidade na zona interior às linhas de perfil, sendo
visível um surgimento de tonalidades da cor azul que tende a escurecer à medida que
nos aproximamos dos traços do pescoço, sendo a área exterior preenchida a negro.
Analogia com Fernando Pessoa
Esta imagem, a meu ver, é um perfeito retrato interior deste célebre escritor.
A parte central do quadro espelha o pensamento, a imaginação de Fernando
Pessoa. A gaivota colocada num plano de tonalidades claras transmite a liberdade do
pensamento, da imaginação e a fuga muito ambicionada pelo poeta. A tendência do
escurecimento do azul na zona do pescoço pode ser interpretada como a asfixia do
sonho, do mundo perfeito idealizado.
Por sua vez, as nuvens, em constante movimento poderão simbolizar a
efemeridade da vida sentida por Fernando Pessoa. À nau, associada aos descobrimentos,
liga-se o saudosismo e o sucesso, a felicidade desejada pelo poeta na vida. Já o mar, um
elemento constante na sua poesia, é o símbolo da dinâmica da vida, sendo uma marca
da consciência, da razão, da fragmentação do “eu”, no poema Tudo que faço ou medito:
Tudo o que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.
Que nojo de mim fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica
E eu sou um mar de sargaço –
Um mar onde bóiam lentos
Fragmentos de um mar de além...
Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem.
Fernando Pessoa
Finalmente, o preto na periferia do quadro simboliza o sofrimento, a infelicidade, a
ânsia da morte como analgésico da vida.
Nesta imagem é apenas retratada o perfil de um Homem transmitindo, assim, a
ideia de solidão e do conflito interior, o que é uma constante em Fernando Pessoa, assim
como a necessidade de evasão que se reflecte na heteronímia.
Concluindo, esta imagem tem uma função estética pois visa proporcionar um
prazer estético. Permite uma análise subjectiva. Assim, cada um poderá interpretá-la à
sua maneira e fazer diferentes leituras, como, por exemplo, uma aproximação a
Fernando Pessoa.
Texto 2: Figura Com Carne de Francis Bacon
Autora: César Marques, nº5,12ºG
Professora: Luzia Reis, Português
Data de edição: Janeiro 2009
Síntese da apresentação
No âmbito da componente oral da disciplina de Português, foi proposto aos alunos
que associassem um poema de Fernando Pessoa a uma imagem à sua escolha, para
posterior exposição à turma.Deste modo, como matéria-prima para a minha
apresentação oral, seleccionei o poema “O Menino da Sua Mãe”, que relacionei com o
quadro “ Figura Com Carne”, de Francis Bacon.
A composição figurativa de um homem e uma carcaça pendurada compõe este
quadro onde predomina uma paleta de cores frias em contraste com os tons quentes
empregues na representação da carne pendurada.
A associação quadro/poema nasce do paralelismo que entendo existir entre a
temática destes dois elementos: a efemeridade da vida e a fatalidade do destino.
Se por um lado, o poema contém elementos que remetem para esta temática,
como se constata nos versos quinto e sexto da quarta estrofe “E boa a cigarreira/ Ele é
que já não serve”, também o quadro, através da conjugação da figura com a carcaça,
remete para a incapacidade do Homem escapar à morte, salientando a insignificância da
vida humana. Assim, a prevalência da inexistência face à existência causa no Ser
Humano, capaz de alterar o ambiente em seu redor conforme a sua vontade, um
sentimento de frustração que se traduz no medo da morte, ideia acentuada pela
obscuridade da técnica a óleo empregue na obra de Bacon.
A insegurança em relação ao fim conduz a humanidade à histeria em torno da
morte. Deste modo, vivemos vidas intensamente preenchidas na ânsia de desfrutar o
máximo que podemos em cada momento. Contudo, por muito desagrado que possamos
sentir para com esta realidade, tudo o que construímos durante a nossa presença no
mundo dos vivos eclipsa-se no momento da morte tornando-nos apenas mais
umcadáver, algo que não podemos contornar.
Figura com Carne, Francis Bacon 1954, 129.9 x 121.9 cm
O Menino da Sua Mãe
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
-Duas, de lado a ladoJaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe
Fernando Pessoa
Texto 3: O Grito de Edvard Munch
Autor: Henrique Mendes, nº13, 12ºE
Professora: Luzia Reis, Português
Data de edição: Janeiro 2009
Análise descritiva da imagem
O Grito, obra expressionista do artista norueguês Edvard Munch, é uma pintura a óleo
sobre tela, vertical, realizada em 1893, com as dimensões de 91x73.5 cm.
A imagem apresenta um cenário exterior. Num plano mais distante, vemos o céu
com cores quentes (tons de vermelho-sangue e laranja) e, em oposição, abaixo do
horizonte, o frio azul do rio. A paisagem, segundo a minha pesquisa, representa
Oslofjord, visto da colina de Ekeberg, em Oslo, na Noruega (cidade onde o pintor viveu e
viria a morrer). No plano central e mais próximo da imagem, deparamo-nos com uma
figura agoniada, numa crise emocional, sem definição de sexo, ou raça, mais simbólica
do que realista, o que sugere que a dor do indivíduo é tal como muitas outras pessoas
sentem, é universal.
Como curiosidade, descobri que, para além da obra original, Munch realizou outras
mais, sendo que, já por duas vezes, foram roubados quadros de”O Grito”.
O Grito, Edvard Munch, 1893
Sobre a sua obra-prima, o pintor escreveu o seguinte:
"Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue
– eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a vedação – havia sangue e línguas de fogo
sobre o azul-escuro do fiorde e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu
fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza. "
Relacionamento com a obra poética de Fernando Pessoa
Após pesquisar alguns dos poemas de Fernando Pessoa e seus heterónimos e a
pintura Moderna, conclui que tanto o poema “Não, não é cansaço” como o quadro “O
Grito” fazem referência ao desânimo, tédio e angústia humana.
Enquanto Edvard Munch transmite através da pintura a representação visual desse
estado de espírito, com o clímax da angústia representada no grito da personagem,
Álvaro de Campos aborda essa temática através da escrita, centrando-se na descrição do
cansaço, possível causador do grito.
Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
E um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Não. Cansaço por quê?
É uma sensação abstracta
Da vida concreta Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...
Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.
(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)
Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!...
Álvaro de Campos
Plano de Apresentação
1. Referir que a pintura “O Grito”, de Edvard Munch, é de carácter Expressionista.
Mencionar que o Expressionismo foi um movimento artístico e literário surgido nos no
séc. XX, inserido no contexto das vanguardas que viriam a definir o modernismo.
2. Apresentação da pintura “O Grito” de Edvard Munch.
2.1. Reconhecimento do tipo de imagem – pintada a óleo, vertical sobre tela.
2.2. Identificação do assunto – apresentação de um cenário exterior com dois planos, a
paisagem distante, e o indivíduo mais perto.
2.3. Análise da composição da imagem – identificação do tipo de quadro, escolha e
distribuição das cores e mensagem nele contida.
3.Relacionamento da pintura “O Grito” com o heterónimo Álvaro de Campos.
3.1.Explicação da semelhança entre as duas correntes.
3.3. Esclarecimento de possíveis dúvidas e curiosidades sobre o quadro.
Texto 4: Persistência da Memória de Salvador Dalí
Autor: Diogo Jorge Menezes Borges, nº12,12ºB
Professora: Luzia Reis, Português
Data de edição: Janeiro 2009
“Persistência da Memoria”(1931) de Salvador Dalí (1904‐1989), importante pintor catalão, conhecido pelo seu trabalho surrealista. Análise Descritiva da imagem
O quadro “Persistência da Memória”, é uma pintura pintada a óleo, horizontal e
aplicada sobre tela. A imagem inscreve-se num quadro rectangular, organizando-se
segundo linhas de força horizontal, que orientam o olhar, cruzando-se com outra
direcção ortogonal representada pela oliveira.
Na tela podemos observar um cenário exterior onde se apresentam quatro planos
distintos: os rochedos, o mar e a planície e o céu azul.
No fundo da pintura é possível presenciar a paisagem de Porto Lligat, (memória de
infância de Dalí). Os rochedos fazem parte do fundo do enquadramento, o local exacto
onde os Pirenéus vêm morrer no mediterrâneo e juntamente com o mar, símbolo da
dinâmica da vida, ambos fundem-se com o céu infinito.
Na planície, onde se foca o tema do quadro, encontram-se representados três
relógios, que marcam diferentes horas. Cada um representa, nomeadamente, o passado,
presente e o futuro. Salvador Dalí via os relógios como instrumentos normalizados e
exactos que traduziam de forma objectiva a passagem do tempo. A pintura demonstra a
obsessão humana com o tempo e memória, através dos relógios, moles e pendurados.
Querendo dizer que o tempo é maleável, não é rígido e sim mutável. O tempo torna-se
relativo e assim, passado e presente fundem-se.
O próprio Dalí fica auto-retratado nesta pintura, como figura mole também
adormecida sobre uma rocha, sem boca, mas com língua que lhe sai do nariz, como uma
premonição do seu tempo futuro. O contraste entre opostos (figuras moles/duras) é
acentuado pela relação entre o rigor e o detalhe da representação ao nível das formas, e
as dimensões que não são reais permitem a deformação (relógios e o rosto de Dalí).
A escolha e a distribuição de cores frias (verde, azul) e cores quentes (vermelho,
cor-de-laranja e amarelo) dão uma ideia do início da noite. Ao mesmo tempo, evocam
uma visão de algo imaginário.
Concluindo, trata-se de uma imagem com uma função estética que visa
proporcionar um prazer estético.
Relacionamento da pintura com a obra de Fernando Pessoa ortónimo
Após um estudo aprofundado de Fernando Pessoa ortónimo e após a análise da
imagem “Persistência da Memória” de Salvador Dalí posso concluir que ambos artistas
fazem referência, nas suas diferentes correntes (poesia e pintura), à infância e ao tempo.
Salvador Dalí na “Persistência da Memória”, refere-se ao tempo como algo que o Homem
pode moldar consoante as suas exigências, não algo inflexível dai a sua obsessão.
Por outro lado, Fernando Pessoa ortónimo vê o tempo como um factor de
desagregação na medida em que tudo é breve e efémero.
Simultaneamente, Dalí faz uma alusão à sua infância, colocando como fundo da
pintura Porto Lligat, sua terra natal. Fernando Pessoa, similarmente na sua poesia faz a
alusão à infância (única fase feliz da sua vida). Ele usa-a, para superar a angústia
existencial provocada com o passar do tempo.
Plano de Apresentação
1.
Referir que a pintura “Persistência da Memória”, de Salvador Dalí, é de carácter
Surrealista. Mencionar que o Surrealismo foi um movimento artístico e literário surgido
nos anos 20, inserido no contexto das vanguardas que viriam a definir o modernismo.
2.
Apresentação da pintura “Persistência da Memória” de Salvador Dalí.
2.1. Reconhecimento do tipo de imagem – pintada a óleo, horizontal sobre tela.
2.2. Identificação do assunto – apresentação de um cenário exterior com quatro planos
distintos, objectos e formas geométricas com o devido esclarecimento.
2.3. Análise da composição da imagem – identificação do tipo de quadro, linhas de força
utilizadas, escolha e distribuição das cores e a função da imagem.
3.
Relacionamento da pintura “Persistência da Memória” com a obra de Fernando
Pessoa ortónimo
3.1. Interacção com a turma: “Após a analise da pintura, qual/quais a (s) semelhança (s)
entre Salvador Dalí e Fernando Pessoa ortónimo.
3.2. Explicação pessoal da semelhança entre as duas correntes.
3.3. Esclarecimento de possíveis duvidas por parte da turma.
Texto 5: Fotografia da Net «A nostalgia de um bem perdido»
Autora: Marisa Gouveia, nº18,12ºG
Professora: Luzia Reis, Português
Data de edição: Janeiro 2009
São escassas as informações que posso
fornecer àcerca desta imagem, apenas
posso afirmar que se trata de uma
fotografia editada, com origem na
internet, escolhida cuidadosamente para
ilustrar a temática “A nostalgia de um
bem perdido”, servindo-se do poema,
apenas como referência “Não sei, ama,
onde
era”
e
a
dicotomia
“Sonho/Realidade” presente no poema
“Não sei se é sonho, se realidade”, uma
vez que estabeleci relações entre elas.
A vivacidade do verde que preenche o fundo, desperta a nossa atenção e remete-nos
para a vida. Após a nossa atenção ter sido captada, o nosso olhar é orientado pela linha
suave e quase invisível que dá lugar à bolha de sabão. Observamos minuciosamente a
imagem e apercebemo-nos que a bolha de sabão se encontra cuidadosamente pousada
em cima daquela flor, como se nascesse dela. Estes dois elementos, quase que se
fundem num só, encontram-se em plena comunhão com a natureza. Estamos perante
uma simbiose tão perfeita que a imagem assume não só a função referencial e descritiva
como também estética. Analisamos a sua estrutura e apercebemo-nos que transporta
algo dentro de si, ou pelo menos, algo reflectido. Quantos de nós quando éramos
crianças tínhamos a sensação que víamos algo a acontecer dentro das bolhas de sabão?
Esquecidas ou não, as bolhas de sabão são uma constante na nossa vida, são uma
marca da nossa infância. O estado de simbiose existente entre uma bolha de sabão a
nascer da simplicidade de uma flor, assemelha-se à alegria, que na infância tem origem
na simplicidade das coisas da vida: “E o jardim tinha flores /De que não me sei lembrar
/Flores de tantas cores…/Penso e fico a chorar…”;"Toda aquela alegria/ Mais alegria
nascer”. O sujeito de evocação demonstra desejo de recuperar a felicidade perdida, esta
que é simbolizada por vocábulos de conotação positiva, marcada por uma relação de
proximidade e uma certa afeição à natureza: “Sei que era Primavera/ E o jardim do
rei…”; “Que azul tão azul tinha/ Ali o azul do céu!”;” Flores de tantas cores…”. A bolha de
sabão reflecte precisamente todos estes elementos presentes no poema: o azul do céu,
as árvores e até as flores de tantas cores. A magia das bolhas de sabão é tal, que têm a
característica de possuir reflexos das cores do arco-íris, que remetem para uma mistura
de vida e sonho. A infância é a inconsciência, o sonho e a felicidade longínquos.
O nosso pensamento funciona um pouco como a lançada de uma bolha de sabão.
Se relembramos os tempos de menina(o), admitimos que quando dávamos forma a uma
bolha de sabão, a nossa preocupação centrava-se somente em soprar de tal modo, que a
bolha atingisse um tamanho gigantesco, tentando evitar que rebentasse. Mesmo que a
bolha se desvanecesse sem que déssemos por ela, éramos felizes. Éramos felizes porque
éramos inconscientes. Hoje, se assemelharmos as bolhas de sabão ao nosso pensamento
ou à imaginação, a nossa preocupação centra-se no mesmo ponto que na infância: dar
forma a bolhas de sabão igualmente grandes. A estrutura das bolhas não se limita à
mistura de água e sabão. Misturamos as nossas vivências, os nossos sonhos, como se
soprássemos um pouco da nossa interioridade e a lançássemos ao ar. E aí, tal como na
vida, temos duas hipóteses: ambicionamos tanto e carregamos a nossa bolha de sabão
com tantos sonhos, que ela se torna de tal modo pesada e acaba por rebentar antes de
nos deixar à deriva dos nossos pensamentos. Ou então, sonhamos, lançamos a nossa
bolha de sabão e ficamos a observá-la a elevar-se o máximo que consegue, suportando o
peso dos nossos sonhos. Apesar da dúvida e da incerteza do rumo que estes irão tomar,
levamos na nossa consciência os sonhos que depositamos dentro daquela esfera e, mais
cedo ou mais tarde irão ruir. A bolha de sabão estoura, quebram-se sonhos e acordamos
para a realidade. Tomamos consciência sobretudo da efemeridade da vida.
A bolha assume uma forma esférica que representa a nossa imaginação, o nosso
próprio mundo, que apesar de limitado e fechado e de criar uma certa barreira entre o
sonho e a realidade, é frágil e encontra-se a um toque de se desfazer. Contudo, os
sonhos, assim como as bolhas de sabão, não determinam o lugar onde vamos chegar,
mas possuem a força suficiente para nos tirar do lugar onde estamos.
Não sei, ama, onde era,
Nunca o saberei…
Sei que era Primavera
E o jardim do rei…
(Filha, quem o soubera!...).
Que azul tão azul tinha
Ali o azul do céu!
Se eu não era a rainha,
Porque era tudo meu?
(Filha, quem o adivinha?).
E o jardim tinha flores
De que não me sei lembrar
Flores de tantas cores…
Penso e fico a chorar…
(Filha, os sonhos são dores…)
Qualquer dia viria
Qualquer coisa a fazer
Toda aquela alegria
Mais alegria nascer
(Filha, o resto é morrer…).
Conta-me contos, ama…
Todos os contos são
Esse dia, o jardim e a dama
Que eu fui nessa solidão…
Não sei se é sonho, se realidade.
Se uma mistura de sonho e vida;
Aquela terra de suavidade
Que na ilha extrema do sul se olvida.
É a que ansiamos. Ali, ali
A vida é jovem e o amor sorri.
Talvez palmares inexistentes,
Áleas longínquas sem poder ser,
Sombra ou sossego dêem aos crentes
De que essa terra se pode ter.
Felizes nós? Ah, talvez, talvez,
Naquela terra, daquela vez.
Mas já sonhada se desvirtua
Só de pensá-la cansou pensar,
Sob os palmares à luz da lua,
Sente-se o frio de haver luar.
Ah, nesta terra também, também
O mal não cessa, não dura o bem.
Não é com ilhas do fim do mundo,
Nem com palmares de sonho ou não,
Que cura a alma seu mal profundo,
Que o bem nos entra no coração.
É em nós que é tudo. É ali, ali,
Que a vida é jovem e o amor sorri.
Poemas de Fernando Pessoa
Texto 6: Maternidade, Almada Negreiros
Autora: Maria Inês Reis, nº19,12ºB
Professora: Luzia Reis, Português
Data de edição: Janeiro 2009
Almada Negreiros, Maternidade, 1935
Sobre o autor
José Sobral de Almada Negreiros nasceu em São Tomé e Príncipe, a 7 de Abril de
1893.
Após a morte da mãe em 1896, vem viver com o pai para Lisboa. Durante a sua
vida foi pintor, escritor, poeta, dramaturgo, romancista português e ensaísta. Esteve
ligado ao movimento modernista em Portugal do qual faziam ainda parte Manuel de Sá
Carneiro e Fernando Pessoa, entre outros. Participou ainda na revista Orpheu.
Morreu em Lisboa a 15 de Junho de 1970.
Análise Descritiva da Imagem
O quadro “Maternidade” de Almada Negreiros é de grandes dimensões
(100x100cm), é pintado a óleo e aplicado sobre tela.
Almada Negreiros realizou este trabalho em homenagem ao nascimento do filho
José. Na tela é possível observar uma mulher jovem sentada no chão segurando nos
braços uma criança. O manto e o véu que a mulher possui, simbolizam a protecção que a
mãe oferece ao filho. No rosto da mulher está evidenciado um olhar meigo, olhar esse
que transmite a paz interior sentida pela figura feminina, e um sorriso que transmite a
felicidade por ela sentida. Os pés e mãos da mulher estão representados na tela de uma
forma exageradamente grande. Deste modo, eles simbolizam a segurança e protecção
que uma mãe dá ao seu filho. Na imagem observamos ainda, que o bebé tem os seus
braços esticados o que representa a necessidade que ele tem de se sentir seguro, a
necessidade de estar perto da mãe. O uso de vestuário simples é associado à
simplicidade de sentimentos. As cores usadas na tela são suaves e claras o que permite
evidenciar as figuras presentes no quadro. São usadas principalmente cores primárias,
cores frias como o azul e o verde e cores quentes como o amarelo. A luz amarelada
transmite o calor e amor materno sentidos pela mulher. A luz existente à volta da figura
materna evidencia essa mesma figura.
Para concluir, o autor desta obra consegue de uma forma simples representar uma
mãe e um filho que se reconfortam mutuamente. Trata-se de uma imagem com função
referencial e descritiva, pois a imagem mostra uma realidade da qual é testemunha.
Relacionamento da pintura com a obra de Fernando Pessoa ortónimo.
Na minha opinião esta tela podia ser associada ao poema “Não sei, ama onde era”
(em anexo 1) da temática A nostalgia de um bem perdido de Fernando Pessoa ortónimo.
Pois tanto no poema como na imagem a figura feminina (“ama” no poema e mãe na
imagem) representa protecção e segurança. Há uma relação de afectividade entre as
duas personagens (eu/tu no poema e mãe/filho na tela).
Plano de apresentação
1-Falar de Almada Negreiros.
2-Fazer a apresentação da imagem à turma:
-Falar do tipo de imagem (tela pintada a óleo de grandes dimensões)
-Falar do assunto (relação entre mãe e filho, necessidade de segurança e protecção por
parte do filho. Essa segurança e protecção e dada pela mãe e observada através da
imagem pelos pés e mãos demasiados grandes da figura feminina.)
-Falar sobre cores (principalmente primarias, frias e quentes, luz amarela que represente
o calor e amor maternal)
-Falar da função da imagem (referencial e descritiva, pois visa mostrar uma realidade da
qual é testemunha).
3-Interacção com a turma:
“ Após a análise da tela a qual poema e respectiva temática de Fernando Pessoa associas
esta imagem e porquê?”
3.1- Explicação pessoal
3.2-Esclarecimento de dúvidas
Não sei, ama, onde era,
Nunca o saberei...
Sei que era primavera
E o jardim do rei...
(Filha, quem o soubera!...).
Penso e fico a chorar...
(Filha, os sonhos são dores...)
Qualquer dia viria
Qualquer coisa a fazer
Toda aquela alegria
Mais alegria nascer
(Filha, o resto é morrer...).
Que azul tão azul tinha
Ali o azul do céu!
Se eu não era a rainha,
Porque era tudo meu?
(Filha, quem o adivinha?).
Conta-me contos, ama...
Todos os contos são
Esse dia, o jardim e a dama
Que eu fui nessa solidão...
E o jardim tinha flores
De que não me sei lembrar
Flores de tantas cores...
Fernando Pessoa, Poesias, 10ªed., Ed. África,
Lisboa, 1978, pp.79/80
Texto 7: O Sono, Salvador Dalí
Autora: Maria João Melo, nº22,12ºE
Professora: Luzia Reis, Português
Data de edição: Janeiro 2009
Salvador Dalí, O Sono, 1937
Análise descritiva da pintura
O Sono, obra do pintor Salvador Dalí, é uma pintura sobre tela, com 51×78 cm.
A imagem apresenta um cenário - um céu azul bastante limpo, sendo este bastante
comum nos sonhos. Dali recriou o tipo de cabeça grande e mole, sem corpo como é
característico da sua pintura. No entanto, este rosto não demonstra ser um auto-retrato,
mas uma representação personificada do sono. Segundo a perspectiva surrealista, é
durante o sono e o sonho que o ser humano tem o domínio do inconsciente. O
inconsciente, tal como na poesia de Fernando Pessoa ortónimo, está directamente
relacionada com a felicidade humana. Assim, o homem adormecido está amparado por
inúmeras muletas. Estas representam a fragilidade da inconsciência /irrealidade /sonho
/felicidade do homem. Mal o homem acorda, o sonho perde-se, as muletas caiem e
depara-se com a realidade que o leva à infelicidade. Apenas durante o sonho e o
inconsciente é que o homem tem acesso à felicidade. Se olharmos com maior precisão,
notamos que até o cão necessita de muletas para se apoiar durante o seu sono e sonho.
Toda a envolvência da pintura, com uma combinação adequada de cores frias,
transmite uma visão para além da realidade, como se de uma alucinação se tratasse.
Concluo assim, que se trata de uma imagem com uma função estética (proporciona um
prazer estético).
Relacionamento com a obra poética de Fernando Pessoa
Após a análise de alguns poemas de Fernando Pessoa, concluo que o sujeito poético
faz a distinção entre o sonho e a realidade, estando o sonho relacionado com o
inconsciente e este por sua vez com a felicidade. Assim, conhecendo algumas pinturas de
Salvador Dalí estabeleci uma ligação directa entre a obra “O Sono” e o poema “Sonho.
Não sei quem sou neste momento” de Fernando Pessoa ortónimo. Em adição, escolhi um
pequeno excerto d’ “O Livro do Desassossego” como forma de demonstrar o quão
profundamente o sonho “alucina” o homem.
Sonho. Não sei quem sou neste
momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.
Se existo, é um erro eu o saber.
Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.
Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.
Fernando Pessoa, in ”Obra Poética”
“…Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos.
Atingirás assim o ponto supremo da abstenção sonhadora, onde os sentimentos se
mesclam, os sentimentos se extravasam, as ideias se interpenetram. Assim como as
cores e os sons sabem uns a outros, os ódios sabem a amores, e as coisas concretas a
abstractas, e as abstractas a concretas. Quebram-se os laços que, ao mesmo tempo que
ligavam tudo, separavam tudo, isolando cada elemento. Tudo se funde e confunde...”
Bernardo Soares, in 'O Livro do Desassossego
Plano de apresentação
1.
Apresentação da pintura “O Sono” de Salvador Dalí:
1.1. Identificação do tipo de imagem – óleo sobre tela;
1.2. Identificação do assunto – ser humano durante o sono e sonho, cenário azul e
límpido representante do sonho;
1.3. Análise da composição – impressão pessoal do que representa este sonho,
explicação pessoal da existência de muletas a amparar o homem durante o sono.
2.
Apresentação do poema “Sonho. Não sei quem sou neste momento” de Fernando
Pessoa ortónimo:
2.1. Explicação da relação encontrada entre e pintura e o poema em questão –
dicotomia entre sonho e realidade semelhante tanto na pintura como no poema.
3.
Reflexão final com a turma – novas perspectivas de análise, diferentes da minha
opinião; reflexão em aberto: leitura de um excerto d’ “O Livro do Desassossego”.
Texto 8: Filme Favores em Cadeia, Pay it Forward
Actores: Kevin Spacey, Helen Hunt, Haley Joel Osment
Autora: Ana Amaro, nº1, 9º A
Professora: Conceição Teixeira, Língua Portuguesa
Data de edição: Janeiro 2009
Este filme fala-nos sobre um rapazinho chamado Trevor, que andava no 7º
ano e tinha 11 anos. Um dia, um professor propos-lhe um trabalho que tinha
como objectivo tornar o mundo num sítio melhor. Trevor pensou criar uma
corrente de ‘Favores em Cadeia’ que consistia em ajudar três pessoas, cada uma
delas ajudar mais três, e assim sucessivamente. O filme desenrola-se à volta
deste encadeamento e a partir de um jornalista de Los Angeles que já tinha
conhecimento de tudo e se interessava em saber quem tinha criado tal cadeia.
O objectivo deste filme foi mostrar que, a partir de pequenas ideias, o
mundo pode tornar-se num sítio melhor e que as pessoas não precisam de ser
conhecidas ou grandes crânios para inventar acontecimentos com grandes
significados e com capacidade para mudar toda uma história.
Na minha opinião, este filme é fantástico. Tem uma história maravilhosa
que é capaz de modificar os nossos pensamentos e ideias da vida. Abrange
temas como a violência entre os jovens, o relacionamento na família, e de como
o amor é capaz de superar barreiras jamais ‘batidas’. O balanço deste filme é
positivo, apesar de eu pensar que o final é trágico demais para um filme tão
magnífico.
Texto 9: Filme Eduardo Mãos de Tesoura, Edward Scissorhands (1990)
Actores: Johnny Depp, Winona Rider, Diane Wiest
Autores: João Santos, nº7, 7º B
Professora: Teresa Sousa, Inglês e Estudo Acompanhado
Data de edição: Janeiro 2009
O filme que a minha turma observou durante duas aulas, chamado “Eduardo
mãos de Tesoura”, conta-nos a história de um inventor que vivia num castelo no
topo de uma colina e cuja maior criação era o Eduardo.
O inventor tinha uma personalidade muito forte, mas como todo o ser
humano, não era perfeito.
Quando o inventor morreu deixou o Eduardo incompleto e dotado de afiadas
tesouras em vez de mãos. O Eduardo vivia sozinho na escuridão do castelo, até
que um dia uma vendedora de uma cidade chamada “ Avon” o adoptou,
passando Eduardo a viver com a sua família.
Eduardo começou a fantástica aventura num paraíso chamado subúrbias.
Passou a fazer cortes em arbustos, e um dia fez um corte artístico em gelo
representando a filha da vendedora que o adoptou que se chamava Kim.
Contudo houve um azar e ele sem querer cortou a palma da mão da Kim. O
namorado dela viu o que se passou e mandou Eduardo abandonar aquela casa.
Muito aborrecido e triste, Eduardo regressou ao castelo. Mas como a Kim ficou
apaixonada pelo Eduardo, foi atrás dele, para lhe dizer que o amava mas o
namorado dela segui-os com uma arma com a intenção de matar o Eduardo.
Quem acabou por morrer, sem querer, foi o namorado dela. E só depois é
que ela pôde dizer o quanto amava Eduardo.
Resumindo, foi um belo filme, que nos transmitiu uma boa lição de
moral:”Não devemos julgar os outros pela aparência.” Uma pessoa por muito
que diferente que seja deve ser respeitada e amada e não a devemos afastar das
pessoas normais sem deficiências.
Texto 10 : Filme Eduardo Mãos de Tesoura, Edward Scissorhands (1990)
Actores: Johnny Depp, Winona Rider, Diane Wiest
Autores: Rafael Maia Ferreira, nº14, 7º B
Professora: Teresa Sousa, Inglês e Estudo Acompanhado
Data de edição: Janeiro 2009
Eu acho que o filme foi muito interessante, porque consegue ensinar que as
pessoas, por mais que sejam deficientes psicologicamente ou fisicamente, podem
sempre ter uma vida normal como a de qualquer ser humano; podem comer,
respirar, brincar, fazer desporto (com ajuda das novas tecnologias), trabalhar e
estudar, em alguns casos.
O "Eduardo mãos de tesoura" tinha tesouras em vez de mãos, o que toda a
gente achava "estranho", uma deficiência.
Ele e a senhora que o ajudou a tornaram isso numa qualidade; fizeram
cortes de cabelo, imagens com as plantas, fez cortes artísticos aos cães, mas
nem toda a gente ficou contente.
Uns tinham preconceitos, outros pensavam que ele era um assassino.
Eduardo tentou fugir a esses pensamentos, pois salvou uma criança de um
atropelamento, mas com aquelas tesouras acabou por cortar o rapaz. Foi então
que as pessoas o designaram oficialmente como assassino, menos a pessoa que
o amava, que acabou por o ajudar a fugir de um homem que lhe queria bater.
O que sucedeu foi que o homem que tentou bater a Eduardo morreu e a
mulher que ele amava disse que ele tinha desaparecido, não sendo essa a
verdade. Eu não acho que seja uma boa forma de resolver esse assunto.
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