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O uso do pretérito perfecto compuesto e indefinido por estudantes brasileiros
El uso del pretérito perfecto compuesto e indefinido por hablantes
brasileños
Aline Amarante Pereira
Centro de Comunicação e Letras – Universidade Presbiteriana Mackenzie
Rua Piauí, 143 – 01241-001 – São Paulo – SP
[email protected]
Resumo
O objetivo deste trabalho é discutir questões referentes à questão da
aprendizagem dos pretéritos: indefinido e compuesto da língua espanhola, que trazem
muitos problemas durante a aprendizagem da língua estrangeira (espanhol) pelos
alunos brasileiros. Para levantar os aspectos específicos dessa dificuldade foi
elaborado um questionário para os alunos do curso de Letras da Universidade
Presbiteriana Mackenzie estudantes da língua espanhola, e para nativos hispanoamericanos, nos quais foram verificados se o uso destes tempos verbais estão corretos,
gramaticalmente, pragmaticamente e semanticamente e qual dos pretéritos é mais
recorrente no uso dos passados em espanhol.
Palavras-chave: Aquisição/aprendizagem. Língua espanhola. Língua portuguesa.
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Resumen
El objetivo de este trabajo es discutir cuestiones acerca del aprendizaje de los
pretéritos: indefinido y compuesto de la lengua española, que traen muchos problemas
durante el aprendizaje de la lengua extranjera (española) por brasileños. Para levantar
los aspectos específicos de esa dificultad fue elaborado un cuestionario para los
alumnos del curso de Letras de la Universidad Presbiteriana Mackenzie, estudiantes de
la lengua española, y también para hablantes nativos de Hispanoamérica, con los
cuales fue verificado si el uso de determinados tiempos verbales están correctos
gramaticamente, pragmaticamente y semanticamente y cuál es más común en el uso de
los informantes.
Palabras-claves: Adquisición/aprendizaje. Lengua española. Lengua portuguesa.
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1.Introdução
Sabe-se que o verbo é um dos principais elementos da comunicação e sua
complexidade é notada pela maioria dos falantes de uma língua, seja a língua materna
ou estrangeira. Dessa maneira, torna-se necessário estudar mais profundamente esse
tema e, por isso, optou-se por estudar duas das formas verbais dos pretéritos do
indicativo em espanhol, especificamente, o Pretérito Perfecto Compuesto e o Pretérito
Perfecto Simple (Indefinido), pois são os tempos que trazem muitos problemas ao
estudante brasileiro que almeja aprender a língua espanhola.
Essa dificuldade se mostra, principalmente, porque embora a língua portuguesa
possua tempos e formas verbais semelhantes às da língua espanhola, o falante brasileiro
não faz um uso tão específico das mesmas em sua língua como o falante nativo da
língua espanhola.
1.1 A Interlíngua
Para aprofundarmos o tema da questão da aprendizagem de tais tempos verbais,
torna-se relevante estudarmos alguns
aspectos teóricos referentes
à
aquisição/aprendizagem do espanhol como língua estrangeira, como a interlíngua,
termo consagrado por Selinker (1972), que é um dos processos pelo qual o estudante
passa ao adquirir uma língua estrangeira. O autor a explica como um sistema lingüístico
próprio, baseado na produção observável do aprendiz, resultado da tentativa que o
aprendiz faz de produzir a norma da língua-alvo, ou seja, a interlíngua é o resultado da
tentativa de produzir a língua estrangeira.
A aquisição da LE é vista por Selinker (1983) como um processo em que os alunos
reestruturam, organizam e testam hipóteses a partir do seu conhecimento da LE, o que
constitui a terceira fase da aquisição/aprendizagem de língua estrangeira.
Ao tentar adquirir uma LE, o aprendiz cria uma gramática não nativa na interlíngua
para comunicar-se. Esse processo corresponde a uma transição no processo da
aquisição, como nos aponta Brown:
Diferentemente do que poderia sugerir o nome, a interlíngua não é um
mosaico das regras da LM e LE, mas sim um universo de transição para a L2
que é construído a partir da exposição a esta LM no contexto natural de
aquisição. (BROWN, 1980)
Assim vemos que a interlíngua se caracteriza também pela interferência da LM, pelo
menos em seu início. A ocorrência de uma língua na outra - dos padrões estruturais e do
vocabulário- interferem na aquisição da LE, fazendo com que a LM interfira no
processo de aprendizagem da LE, o que muitas vezes dificulta o aprendizado.
1.1.1A fossilização
No processo de aquisição de LE, o aprendiz leva dificuldades aos níveis mais
avançados, devido aos traços da gramática da LM na interlíngua se contraporem de
formas mais específicas. Selinker nomeia esse processo de Fossilização, em que o aluno
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conserva em sua interlíngua determinados elementos, regras e sistemas lingüísticos de
sua LM em relação a uma dada língua objeto.
A fossilização seria um mecanismo que supostamente existe na “estrutura
psicológica latente”. Selinker (1972) esclarece que o seu conceito de “estrutura
psicológica latente”está relacionado com a “estrutura latente da linguagem”de
Lenneberg (1967), que é uma organização já formulada no cérebro. Em realidade, se
refere à GU, na qual o indivíduo transforma uma estrutura concreta de uma gramática
particular através de uma série de etapas de maturação.
O processo de fossilização reflete as dificuldades do aluno, a saber:
morfossintáticas, como por exemplo, o uso inadequado de preposições, conjugação e
regência dos verbos; dificuldades semântico-lexicais, como a dificuldade de empregar
os verbos auxiliares corretamente e, dificuldades fonético-fonológicas, como por
exemplo, o uso das consoantes simples e dobradas como o “r” e “rr”.
Segundo Baralo (1999), o contexto comunicativo em que o falante não-nativo está
inserido e tem que se utilizar da língua meta para comunicar-se, pode influenciar no
aparecimento de estruturas fossilizadas:
Una variable importante a tener en cuenta es el tipo de tarea lingüística con
la que se enfrenta el hablante: en
el caso de actuaciones que puede
controlar y revisar, sin presión de tiempo, es decir, cuando puede
monitorizar la producción cometerá menos errores gramaticales y léxicos, si
ha interiorizado a la generación de esas estructuras. Esta situación se da en la
práctica formal en clase, en la producción de textos escritos que puede
revisar y corregir, o cuando dispone de tiempo suficiente para leer o releer
un texto. Por el contrario, si se encuentra en una situación de comunicación
oral, en la que debe producir y responder, sin disponer de tiempo para
controlar y corregir, será más fácil y frecuente que produzca algún tipo de
error que suponíamos ya superado. (Baralo, 1999, p. 45)
Devido ao reaparecimento dos erros e a regressão dos alunos durante o processo de
aprendizagem/aquisição das línguas estrangeiras, Selinker postulou a fossilização e a
interlíngua como realidades presentes no processo.
Todas essas questões levantadas e discutidas pelos autores mencionados
anteriormente em relação à aquisição/aprendizagem da LE são relevantes para o que se
propões neste trabalho. No entanto antes é necessário comentar sobre a “ilusão” da
língua fácil, uma visão que se costuma ter quando o brasileiro começa a aprender a
língua espanhola.
Segundo Vázquez (2002), o primeiro contato do português com o castelhano foi nas
fronteiras da Península Ibérica e o segundo nas fronteiras da América. Duas línguas que
surgiram naturalmente como evoluções locais de um latim vulgar peninsular, ou seja,
são duas línguas nacionais de origem comum, portanto muito próximas nos aspectos
formais e semânticos.
Como é sabido, cada língua possui suas peculiaridades e particularidades, o que faz
com que o aprendiz tenha a ilusão de que será fácil aprender o espanhol por ser muito
parecido com o português. Ele acredita que não precisará estudar tanto para aprendê-la.
Segundo Lima (2004), quando o aluno começa a estudar o espanhol e vê que não é
tão simples, parecido e fácil como ele imaginava, ele perde essa ilusão do espanhol
como a língua fácil, ao se deparar com suas particularidades e passa a perceber que não
é tão similar ao português como ele pensava.
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Este processo ocorre também com a questão verbal, tema desse trabalho. Assim, em
seguida, passa-se a comentar sobre os tempos verbais que se propõe a analisar neste
trabalho.
2. Os pretéritos prefeito simples do português e o indefinido do espanhol
O pretérito perfeito do português apresenta um mesmo paradigma temporal para as
2ª e 3ª conjugações (-er,-ir), e, um diferente para a 1ª conjugação (-ar). Já no pretérito
indefinido do espanhol encontram-se somente dois paradigmas, já que os verbos de
segunda e terceira conjugações possuem um mesmo paradigma verbal. São eles:
Pretérito perfeito
AR
-ei
-aste
-ou
-amos
-astes
-aram
ER
-i
-este
-eu
-emos
-estes
-eram
Pretérito indefinido
IR
-i
-iste
-iu
-imos
-istes
-iram
AR
-é
-aste
-ó
- amos
-asteis
-aron
ER
IR
-í
-í
-iste
-iste
-ió/yó
-ió/yó
- imos
-imos
-isteis
-isteis
-ieron/yeron
Os pretéritos perfeitos simples, tanto do português, quanto do espanhol, apresentam,
de acordo com as gramáticas normativas de ambas as línguas, o mesmo uso. Ambos
expressam uma ação terminada, acabada, sem relação com o presente.
Em português e espanhol, o acontecimento pontual vem reforçado por marcadores
temporais: ontem, semana passada – português, e ayer, el año pasado, etc.-espanhol.
Eis alguns exemplos:
“ Aquel año todos los días salimos a cenar a las ocho ”.
“ Jantei com um apetite devorador e dormi como um anjo ”.
Em ambas as frases as ações de sair, jantar e dormir são ações que terminaram no
passado e não trazem nenhuma relação com o presente. Nas frases anteriores, as ações
são consideradas encerradas.
Acredita-se que pelo fato de os tempos verbais serem equivalentes em tais línguas,
estes, não causam tantos problemas ao estudante brasileiro no que se refere ao uso. O
que traz dificuldades ao aprendiz é a conjugação dos verbos irregulares, o que se analisa
posteriormente com os dados recolhidos.
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3. Os pretéritos composto do português e compuesto do espanhol
O pretérito composto do português e compuesto do espanhol apresentam a mesma
forma, quer dizer, ambos são formados por um verbo auxiliar, que, neste caso, é
conjugado no presente do indicativo, mais a forma de particípio do verbo principal.
Pretérito composto
Pretérito compuesto
tenho falado
tens falado
tem falado
temos falado
tendes falado
têm falado
he hablado
has hablado
ha hablado
hemos hablado
habéis hablado
han hablado
Em português esse tempo composto é formado pelos verbos ter e haver, enquanto
que no espanhol tem-se somente o verbo haber. Em espanhol, os verbos tener e haber
possuem diferentes valores que o português, pois tener = poseer e haber = existir,
enquanto que em português os dois, muitas vezes, são usados indistintamente.
O pretérito composto expressa uma ação repetida e uma continuação de uma ação
até o momento presente. Já o pretérito compuesto expressa uma ação passada que
mantém uma relação com o momento presente da enunciação, seja em ação, seja em
sentido.
Acredita-se que seja esse um dos pontos da dificuldade do brasileiro em
compreender o pretérito compuesto, pois, embora seja similar ao pretérito composto do
português, difere-se com relação ao uso e em português quase não se utiliza esse tempo
verbal e outra dificuldade é pelo fato de o pretérito composto do português, em geral,
ser substituído pelo tempo simples.
O pretérito compuesto é mais utilizado no espanhol peninsular (Espanha), do que no
espanhol da América. Alguns autores destacam que a variante americana não vê
diferenças entre os pretéritos indefinido e compuesto, o que os leva ao uso de ambos da
mesma maneira. Veja-se comentário de Alarcos Llorach (1994, p.13-14):
En español no ha ocurrido la desaparición práctica en el lenguaje hablado de
la forma simple ante el crecimiento del perfecto compuesto, hecho que ha
sucedido en otras lenguas románicas, donde el perfecto simple es una forma
puramente literaria y el compuesto sirve para indicar toda acción ocurrida en
el pasado. En el castellano moderno, los dos pretéritos son empleados en la
lengua corriente, y el sentimiento lingüístico español impide sustituir el uno
por el otro. Esta distinción de significado entre las dos formas, basada en
sentimientos lingüísticos muy finos, no es captada fácilmente por los
extranjeros y es difícil de ser explicada claramente en todos sus aspectos.
Por ello, no es de extrañar que algunos investigadores no hispánicos crean
que tal distinción es una invención de las gramáticas normativas y que el
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español usa un perfecto u otro indiferentemente, o bien conforme a
preferencias personales [...]
A partir disso, entende-se o uso peninsular que se faz desse tempo: é aquele em que,
de alguma maneira, a ação mantém uma relação com o momento presente da
enunciação.
Ainda segundo Alarcos:
Esta forma del pasado pertenece al plano actual, es decir, es una acción o
estado anterior al presente, en cuanto a la temporalidad, pero, al ser una
forma del mundo comentado y presentar una perspectiva, tiene una función
en el sistema de relevancia en el presente, de conexión con el presente.
(Llorach, 1997, p.37)
Na América o pretérito compuesto é utilizado para expressar uma ação cuja
perspectiva é de presente; já na Península Ibérica esse tempo marca um valor
continuativo, ou seja, o passado que tem seu resultado no presente. Um hispanoamericano, por exemplo, pode usar o compuesto para enfatizar algo ocorrido no
passado, já o americano não utilizará esse tempo para expressar tal idéia. Veja-se:
“ Qué mal lo hemos pasado”
Ainda sobre o uso do pretérito compuesto na América e Espanha cabe destacar que
segundo a Real Academia Española (apud Milani, 2001 p.229), embora na língua
literária procure-se manter a diferença entre esses dois tempos verbais, na prática notase certa preferência pelo uso de um ou outro em determinadas regiões da Espanha e
América.
A complexidade, portanto, dos valores desse tempo pretérito são grandes e muitas
delas não se explicam pelo próprio sistema verbal, mas sim pelo discurso, já que
depende do ponto de referência, que às vezes é psicológico, quando o falante produz um
enunciado como:
“ Hace tres años que ha muerto mi padre”.
Nessa frase a morte do pai perdura de alguma forma a afetividade do falante e
claramente ele ainda é afetado por ela.
Em português o pretérito composto já não é muito utilizado. O falante opta por
utilizar o pretérito perfeito simples para referir-se a um fato do passado. Veja-se:
“ Nunca he estado en Madrid ”.
“ Nunca estive em Madrid ”.
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É exatamente essa a dificuldade do brasileiro com o pretérito compuesto. Na frase 1
o pretérito compuesto vem acompanhado do advérbio nunca, pois entende-se que o
falante não foi à Madrid, isto é, o fato passado perdura até o momento presente. Já na
frase 2, o advérbio nunca acompanha a forma simples do verbo e não composta como
na frase 1. Em 2 a ação é vista com caráter de passado.
Assim sendo, nota-se que o que difere o pretérito composto do português do pretérito
compuesto do espanhol é a caracterização temporal, pois o primeiro expressa uma ação
contínua, porém acabada e o segundo expressa uma ação que se relaciona com o
presente. Tal diferença será abordada a seguir nas análises.
4. Metodologia e análise dos dados
Com base nas dificuldades apresentadas quanto aos pretérito perfecto compuesto e
indefinido da língua espanhola, os dados coletados para a análise foram feitos com os
alunos do 3º ao 8º semestre do curso de Letras com habilitação em língua espanhola da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, que dividimos em três níveis: básico,
intermediário e avançado.
Foi entregue a um total de 16 alunos um texto para que completassem os espaços
com os verbos indicados (Anexo I), que totalizam 25 espaços para serem completados
com os pretéritos indefinido e perfecto compuesto com o objetivo de verificar como os
alunos usavam os pretéritos em questão para compor o seu texto e, o mesmo texto foi
entregue a 2 nativos da língua espanhola: um de Cuba e o outro do Chile para que se
pudesse verificar se os latino-americanos utilizam o pretérito perfecto compuesto.
Diante disso, foi feito um levantamento dos erros de cada aluno e calculado o percentual
de cada um deles. O questionário foi aplicado em sala de aula, sem nenhum tipo de
consulta, pois o objetivo era que os alunos aplicassem seus conhecimentos sobre tais
formas verbais.
O gráfico a seguir demonstra a porcentagem de uso dos pretéritos perfecto simple
compuesto e indefinido pelos estudantes.
PRETÉRITOS MAIS UTILIZADOS
25
20
15
10
5
0
Aluno Aluno Aluno Aluno Aluno Aluno Aluno Aluno Aluno Aluno Aluno Aluno Aluno Aluno Aluno Aluno
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
PPC-corretamente
PI-corretamente
Outros tempos verbais
9
Verifica-se que o uso do pretérito indefinido é bastante superior ao do P.P.C, que
quase não foi utilizado, inclusive, algumas vezes preferem usar outros tempos verbais,
como por exemplo, o presente do indicativo durante o preenchimento do questionário. O
não uso do P.P.C se dá não somente no nível básico, mas também nos mais avançados.
É importante ressaltar que o que consideramos como erro nesse trabalho são os erros
de conjugação, acentuação, etc. e não a utilização do P.P.C, já que se está considerando
a escolha do aluno pela variante que mais aprecie ou que lhe é passada através da
transferência de instrução, conforme comentava Selinker, a partir da variante do
professor de língua com quem o aluno está em contato.
O gráfico a seguir demonstra o percentual de acertos e erros referentes aos aspectos
gramaticais e morfológicos.
100.00%
90.00%
80.00%
70.00%
60.00%
50.00%
Erros
Acertos
40.00%
30.00%
20.00%
10.00%
Aluno 16
Aluno 15
Aluno 14
Aluno 13
Aluno 12
Aluno 11
Aluno 10
Aluno 9
Aluno 8
Aluno 7
Aluno 6
Aluno 5
Aluno 4
Aluno 3
Aluno 2
Aluno 1
0.00%
Como se pode observar, o número de erros não se deu apenas no nível básico e sim
em todos os níveis. Embora o nível básico tenha apresentado uma maior incidência de
erros, com 37%, no aprendizado de tais tempos, os erros dos níveis intermediário (32%)
e avançado (23%) possuem uma porcentagem aproximada, mas são também de outros
níveis de dificuldades, como correlação temporal, coesão e coerência nas orações.
Alguns dos erros comuns a todos os níveis são de: conjugação, acentuação, troca da
1ª pessoa do singular com a 3ª pessoa do singular, que são erros recorrentes do
estudante brasileiro na aquisição da questão verbal da língua espanhola, devido à
transferência da língua materna.
Em todas as respostas aos questionários pode-se observar que a transferência da LM
é um dos elementos mais presentes, pois a maioria dos alunos conseguem empregar
corretamente o indefinido no que se refere ao seu aspecto verbal, e nota-se que o aluno
recorreu à língua materna (português) para compor os seus textos pela semelhança das
estruturas. Já com relação ao P.P.C os alunos quase não o utilizaram e os que o
empregaram corretamente correspondem a um número pequeno, o que nos comprova a
dificuldade que os estudantes brasileiros tem em compreender os usos e valores desse
tempo verbal.
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5. Considerações finais
Toda a pesquisa e a análise nos levam a concluir que, embora a língua espanhola e a
portuguesa possuam semelhanças, há uma grande dificuldade em compreender os
pretéritos: indefinido e perfecto compuesto do espanhol, com especial ênfase neste
segundo.
Como foi visto nesse trabalho, embora os pretéritos da língua portuguesa e
espanhola possuam nomenclaturas semelhantes, apresentam divergências no que se
refere ao aspecto verbal, o que traz dificuldades ao aluno para empregar o uso correto de
tais tempos verbais. Essa dificuldade se dá por dois motivos: pela transferência de
instrução e pela transferência da língua materna.
A transferência de instrução, sobre a qual comentava Selinker, se dá, como
verificamos porque no curso de Letras, a maioria dos professores têm a variante
hispano-americana e não utilizam o P.P.C para comunicar-se. No início da
aprendizagem é comum que o aluno tenha o professor como modelo de pronúncia e
estruturas linguísticas e, muitas vezes, esse modelo é levado em consideração durante
todo o processo.
As maiores características de erros de transferência durante a aprendizagem da
língua estrangeira pelos alunos aqui examinados se dá como transferência da língua
materna, pois como já foi demonstrado, o tempo composto em língua portuguesa não é
muito utilizado, o que também faz com que o aluno não tenha tendência ao uso do
P.P.C em língua espanhola.
O questionário respondido pelos nativos demonstrou também a forte tendência ao
uso do indefinido na América , o que reitera os estudos de tratam das especificidades de
usos e valores verbais como aspecto geográfico.
Por fim, cabe mencionar que o sistema verbal de ambas as línguas, são temas de
difícil aquisição pelos estudantes, portanto é um tema que deve ser trabalhado não
somente desde o ponto de vista de sua estrutura, mas também no seu aspecto e uso.
Assim, o aluno entenderá os valores desses tempos e os empregará corretamente. Além
disso, esse estudo mostra que trabalhar com as variantes lingüísticas em sala de aula é
imprescindível. Embora o aluno opte por uma variante determinada, deve conhecer as
variantes existentes e compreender seus usos específicos.
Dessa forma, espera-se que este trabalho sirva de suporte não somente aos
professores de ambas as línguas, mas também aos estudantes de língua espanhola como
língua estrangeira
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Referências bibliográficas:
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MASIP, Vicente. Gramática española para brasileños. Barcelona: Difusion,
2000.Tomo I.
Download

O uso do pretérito perfecto compuesto e indefinido por