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Este relatório tem como objetivo apresentar as patologias, o diagnóstico, a forma
de execução e as especificações técnicas dos materiais utilizados na recuperação
do revestimento pétreo do embasamento da estátua do Cristo Redentor, no Corcovado, Rio de Janeiro.
1 – O projeto
O projeto consistiu, numa primeira instância, na execução do levantamento cadastral do embasamento bem como o mapeamento de danos observados nas
placas de granito que revestem todo o embasamento.
A partir da montagem da infra-estrutura como andaimes, plataformas de inspeção e tapumes foram possíveis analisar bem de perto as degradações diferenciadas e constantes, bem como, os problemas de conservação de todo o revestimento formado por placas de granito.
A escassez de material iconográfico e o pouco tempo disponível para esta análise
não nos permite certificar a originalidade do revestimento atual, entretanto quando analisamos as balaustradas, as escadarias de acesso e o plaqueado de algumas áreas de piso, próximas ao embasamento, podemos arriscar dizer que o revestimento a ser tratado não é da mesma época de construção da estátua tendo
provavelmente sido substituído a pelo menos 30 anos.
1.1. O levantamento cadastral – O embasamento é revestido por granito, do
tipo Verde Ubatuba , em placas planas de 2 e 3 cm de espessura, acabamento
polido em suas faces externas. As placas mais finas foram utilizadas como revestimento dos planos horizontais, enquanto que as mais grossas, destinadas ao revestimento dos planos verticais.
O embasamento possui a forma de um octógono de faces desiguais, ou seja,
quatro faces maiores (Leste, oeste, norte, sul) e outras quatro menores (nordeste
noroeste, sudeste, sudoeste).
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Na face Leste foram fixadas três placas comemorativas sobre as placas de granito
enquanto na face oeste foi construído pórtico de acesso à capela em homenagem
a Nossa Senhora de Aparecida, construída no interior do embasamento.
A altura total do embasamento é de aproximadamente 7 m e as faces são de aproximadamente 2,5 na base das faces menores e de aproximadamente 6 m na
base das faces maiores, sendo que estas medidas vão diminuindo na medida em
que chegamos ao topo do embasamento, aos pés da estátua.
A área total do embasamento em projeção vertical é de cerca de 250 m2, somase a esta área mais 25 m2 correspondentes às projeções horizontais formadas
por dois planos, sendo o primeiro a aproximadamente 1,35 m de altura e o segundo a 7 m.
1.2. O mapeamento de danos – Executado em duas etapas, sendo o primeiro
para identificação de sons cavos utilizando martelos de borracha para os serviços
de percussão que teve como objetivo verificar a perda de fixação das placas ao
substrato (concreto armado), e a segunda etapa para identificação dos danos
existentes.
Após o mapeamento percebeu-se que os problemas não se concentravam em
uma ou duas áreas específicas e sim em todas as superfícies, não havendo maior
ou menor grau de deterioração e sim equivalência, o que nos permite supor que
as degradações não estão diretamente relacionadas a suas posições, já que seria
previsível encontrarmos maior degradação nas faces sul, oeste e sudoeste, onde o
vento e a atmosfera salina deveriam acelerar a degradação do material pétreo,
enquanto que nas faces mais protegidas deveria ser observado um menor grau
de degradação das placas.
Este raciocínio nos permite supor que as degradações estão diretamente relacionadas à forma de execução e a escolha dos materiais utilizados na fixação e proteção das superfícies, do que propriamente a posição das faces em relação aos
pontos cardeais. Observamos que as primeiras perdas encontram-se justamente
numa área oposta as áreas onde deveria ser verificada uma maior incidência de
danos quando relacionados às suas orientações.
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Topo do embasamento – Verificou-se que a impermeabilização, utilizando resina
acrílica não foi a melhor opção para sanar os problemas de infiltração, pois, os
fortes ventos e a grande concentração de névoa salina na atmosfera, além da
grande radiação de raios UV contribuíram para o colapso do sistema empregado.
Outro fator determinante para o comprometimento da impermeabilização foi a
sua má execução já que não foram aplicadas pingadeiras nas áreas externas e
não há engastamento da mesma sob os pés e sob o manto da estátua.
Atualmente a manta impermeabilizante se apresenta violada em vários pontos e
já crescem microflora e microorganismos como fungos, musgos e liquens. A argamassa onde a impermeabilização fora aplicada encontra-se desprendida do
substrato de concreto.
Placas fora de prumo – Observou-se à má qualidade dos trabalhos de fixação
das placas deixando que as mesmas apresentem-se fora de prumo e desalinhadas quando comparadas às placas próximas. Este problema verifica-se nas bordas das faces norte com nordeste e noroeste e em algumas placas próximas ao
limites das outras faces (Desenho 1/1 – mapeamento de danos).
Eflorescência salina – O aparecimento de sais solúveis formado por cloretos é
percebido ao longo de todas as faces do embasamento e seu aparecimento está
diretamente relacionado à fadiga do sistema de impermeabilização utilizado,
bem como, a perda de rejuntes e o tipo de argamassa utilizada para fixação das
placas. Os sais solúveis causam contração e dilatações internas no material pétreo, provocando trincas e fissuras.
Som cavo – Este tipo de som permitiu analisar as porções das placas que se apresentam pouco aderidas ao substrato. O som cavo está diretamente relacionado
ao tipo de argamassa escolhida na fixação das placas de granito. Foram observadas pelo menos três tipos de argamassa, sendo uma rica em barro, outra rica
em cimento e uma terceira, onde estes dois materiais se misturam.
Como sabemos, a utilização de barro permite o aparecimento de microflora, este
material leva para o interior da argamassa de fixação sementes que germinam
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produzindo raízes que tendem a proporcionar o aparecimento de fissuras e conseqüente desprendimento de partes ou das placas como um todo.
Também foram observados no verso das placas removidas, a utilização de grampos de ferro galvanizado que ajudariam na fixação, entretanto estes grampos,
além de apresentarem um dimensionamento pouco expressivo quando comparado ao peso das placas, logo se oxidaram e se corroeram, não oferecendo mais
qualquer tipo de resistência ao desprendimento das placas.
Placas removidas / faltantes – No início dos trabalhos, três placas já tinham sido
removidas para segurança dos turistas e durante todo o levantamento mais cinco
placas tiveram que ser retiradas já que se apresentavam na eminência de se desprender.
Perdas de partes – Algumas placas apresentavam pequenas perdas localizadas
principalmente nas bordas não se sabendo se este tipo de dano ocorreu na fase
de fixação das placas, por descuido dos profissionais de instalação envolvidos ou
se deu ao longo do tempo com a ruptura de áreas menos resistentes.
Trincas com e sem próteses – Verificou-se a existência de trincas tratadas com
prótese de resina de poliéster pigmentada e trincas ainda sem tratamento.
Devido a grande exposição aos raios UV, a resina de poliéster não é indicada
para tratamento de próteses ao ar livre, esta resina sofre de envelhecimento precoce quando expostas a grande concentração deste tipo de radiação.
As trincas ainda sem tratamento devem ter aparecido posteriormente à introdução das próteses mostrando um efeito progressivo no seu aparecimento.
Fissuras – Diferentemente das trincas, as fissuras se distinguem por serem menores e estão localizadas nas áreas de granito, onde, por sua composição mineralógica apresenta-se menos resistente.
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2 – A proposta técnica
Para a recuperação do revestimento pétreo do embasamento apresentamos a
seguir o roteiro de execução dos serviços bem como as especificações dos materiais utilizados nesta etapa.
2.1. Limpeza e higienização
Antes da remoção das placas, estas foram lavadas à baixa pressão com água e
detergente de PH = 7, na proporção 1/10, seguido de escovação com cerdas de
nylon.
OBS.: Cuidados especiais foram dados a coleta de água resultante dos serviços
de limpeza já que durante toda a fase de obra, o local continuará a receber os
turistas e visitantes.
2.2. Catalogação
Antes da remoção de qualquer placa estas receberam identificação utilizando-se
para isso tinta látex branca.
As faces polidas das placas receberam códigos de localização respeitando a numeração existente no projeto de levantamento métrico, vistas e plantas das superfícies, acrescido do código de localização das faces do embasamento, bem como
a sua posição vertical ou horizontal.
Exemplo: para a placa de número 22, localizada na face sudoeste, no plano vertical, a placa deverá receber a inscrição SOPV27.
Após a identificação os códigos foram copiados para planilha gerada em meio
digital que continha além dos códigos, as dimensões exatas de cada peça que
eram conferidas no local.
2.3. Sistema de impermeabilização
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Foram utilizados dois sistemas de impermeabilização, a saber:
Topo do embasamento – Sistema de impermeabilização com manta autoprotegida por grãos de ardósia, precedida da aplicação de primer correspondente.
Planos verticais – Impermeabilização por cristalização em todas as superfícies de
plano vertical e do plano horizontal mais baixo, cuja cota encontra-se a aproximadamente 1, 35 m em relação ao nível da soleira da porta de acesso à capela.
2.4. Remoções no topo do embasamento
Toda a impermeabilização existente no topo do embasamento foi removida de
maneira cuidadosa. Após a remoção completa do sistema existente, toda a argamassa sob a antiga impermeabilização foi renovada.
Antes da aplicação da nova argamassa toda a superfície de concreto foi tratada
com Desogen, de fabricação da Ciba Geiger, inclusive retirada manual de raízes,
principalmente na área próxima a estátua.
2.5. Nova argamassa e novo sistema de impermeabilização para o topo do embasamento
Foi aplicada nova argamassa após a escovação completa da superfície de concreto com escovas de aço, seguido da limpeza seca (varredura com escovas de
picava e/ou nylon) e retirada de todo o pó e sujeira acumulados, provenientes
desta tarefa.
A argamassa utilizada foi primeiramente a de chapisco, aditivado com Sikafix, no
traço 1 : 3 (cimento : areia), seguido da aplicação de nova argamassa também
de cimento e areia de mesmo traço. Cuidados especiais foram tomados com relação ao grau de caimento a ser dado na argamassa de emboço.
OBS.: Com a remoção completa da argamassa existente, a nova impermeabilização pode ser engastada junto aos pés e manto da estátua, oferecendo assim melhor fixação ao novo sistema de impermeabilização. O perímetro superior do
embasamento recebeu pingadeira de cobre, fixadas com buchas plásticas e paraRua Barão de Mesquita 123
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fusos de latão. Nas áreas de furação foi injetado silicone de cura neutra, estrutural de fabricação da Dow Corning, tipo Silastic 790.
2.6. Remoção nos paramentos verticais
Para a impermeabilização dos paramentos verticais as placas foram removidas
de maneira cuidadosa utilizando-se para isso palmetas de madeira para o devido
escoramento. As peças removidas foram armazenadas no interior da capela já
previamente preparada para recebê-las.
As peças trincadas e que apresentavam fissuras foram recortadas para reaproveitamento como placas de menor dimensão.
Após a retirada das placas, inclusive a da argamassa de fixação, tanto na superfície de concreto como no tardoz das pedras, toda a superfície de concreto recebeu escovação com escovas de cerdas metálicas seguido de lavagem com água e
detergente neutro.
2.7. Nova argamassa e novo sistema de impermeabilização para os paramentos
verticais do embasamento
O novo sistema de impermeabilização utilizou o processo de cristalização.
2.7. Tratamento das placas de granito
As placas foram removidas integralmente e as peças passíveis de reaproveitamento, separadas por lotes. As peças em bom estado voltaram para suas posições originais, enquanto que peças que apresentaram comprometimento parcial
mas que pudessem ser reaproveitadas como peças menores foram fixadas nas
posições originais destas.
Na nova fixação das placas nos paramentos verticais foi criada uma espécie de
colchão de ar entre a impermeabilização por cristalização e as placas reassentadas. As placas dos paramentos verticais não tocam a impermeabilização já que
foram fixadas com grampos de inox e afastadores especiais. A fixação desses afastadores se deu com a utilização de adesivo epoxídico.
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Para a aquisição de novas placas de granito que serviriam para reposição foram
pesquisadas várias marmorarias na cidade para que se conseguisse as pedras
com cor e desenho o mais próximo possível das peças existentes, tornando a intervenção harmoniosa.
Após o assentamento das placas de granito, estas receberam rejuntamento à base de mástique elástico, de fabricação da Sika e de cor preta.
As placas receberam lixamento mecânico e vigoroso em toda a superfície, seguido de polimento utilizando-se uma das ceras de fabricação da Bellinzoni, próprias para polimento de material pétreo.
2.8. Capela
Toda a capela foi protegida com madeirit, plástico e TNT (tecido não tecido) e os
serviços executados na capela compreenderam a remoção de revestimento comprometido, recuperação dos armários de madeira com tratamento final a base de
pintura em esmalte sintético acetinado.
O forro de gesso também recebeu tratamento de pintura com sistema acrílico, na
cor branca da mesma forma que os rebocos que revestem as alvenarias.
Após a conclusão dos serviços, a proteção do piso foi removida e realizado lixamento mecânico das réguas do assoalho, seguido de aplicação de calafate com
massa, do tipo F12 e aplicação de cera em até três demãos com polimento final
utilizando-se enceradeiras do tipo industrial.
Rio de Janeiro, 20 de Dezembro de 2004.
Arquiteto Wallace Caldas
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Arquitetura & Restauro 1 – O projeto