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Caldas, CP; Veras, RP. Promovendo a saúde do idoso na comunidade.
Biblioteca
Lascasas,
2007;
3(4).
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PROMOVENDO A SAÚDE DO IDOSO NA COMUNIDADE
Introdução
Uma das maiores conquistas da humanidade foi a ampliação do tempo
de vida. A espécie humana necessitou de milhões de anos para atingir um
bilhão de pessoas, o que teria ocorrido em 1830. Em 1927 este número
dobrou. Em 1960 chegou aos três bilhões de habitantes no planeta. De lá para
cá, a aceleração cresceu. Em 14 anos a marca dos quatro bilhões foi atingida,
o quinto bilhão veio em 1987 e, 12 anos após, em 1999, alcançamos o sexto
bilhão. Segundo o IBGE (2002), o crescimento da população de idosos, em
números absolutos e relativos, é um fenômeno mundial e está ocorrendo a um
nível sem precedentes. Em 1950, eram cerca de 204 milhões de idosos no
mundo e, já em 1998, quase cinco décadas depois, este contingente alcançava
579 milhões de pessoas, um crescimento de quase 8 milhões de pessoas
idosas por ano. As projeções indicam que, em 2050, a população idosa será de
1.900 milhões de pessoas, montante equivalente à população infantil de 0 a 14
anos de idade (Andrews, 2000). Outros aspectos importantes para explicar este
fenômeno, na visão de Andrews, são os seguintes:
• desde 1950, a esperança de vida ao nascer em todo o mundo aumentou 19
anos;
• hoje em dia, uma em cada dez pessoas tem 60 anos de idade ou mais; para
2050, estima-se que a relação será de um para cinco para o mundo em seu
conjunto, e de um para três para o mundo desenvolvido;
• segundo as projeções, o número de centenários – de 100 anos de idade ou
mais – aumentará 15 vezes, de aproximadamente 145.000 pessoas em 1999
para 2,2 milhões em 2050.
Do ponto de vista demográfico envelhecer significa aumentar o número de
anos vividos. Paralelamente à evolução cronológica, coexistem fenômenos de
natureza biopsíquica e social, importantes para a percepção da idade e do
envelhecimento.
Mais do que qualquer época, o século XX se caracterizou por profundas
e radicais transformações, destacando-se o aumento do tempo de vida da
população como o fato mais significativo no âmbito da Saúde Pública mundial.
A esperança de vida experimentou um incremento de cerca de 30 anos ao
longo do século XX, numa profunda revolução da demografia e da Saúde
Pública.
Tal revolução formula para os especialistas, homens públicos e
coletividades um dos maiores desafios sociais da história humana e uma
intensa demanda por estudos e análises para uma melhor definição de políticas
públicas de prevenção de saúde no envelhecimento. Trata-se de um fenômeno
simultaneamente global e local, com evolução preocupante a curto e médio
prazo, à medida que a rápida diminuição das taxas de natalidade observadas
nos últimos anos na maioria dos países sinaliza um incremento ainda maior do
processo global de envelhecimento da população. A equação demográfica é
simples: quanto menor o número de jovens e maior o número de adultos
atingindo a terceira idade, mais rápido é o envelhecimento da população como
um todo (Camarano, 1999).
Em termos biológicos, o envelhecimento compreende os processos de
transformação do organismo que ocorrem após a maturação sexual e que
implicam a diminuição gradual da probabilidade de sobrevivência. No entanto,
o envelhecimento e o desenvolvimento são processos que coexistem ao longo
do ciclo vital.
A idade cronológica é uma informação que não diz muito sobre o real
envelhecimento humano, embora seja um parâmetro importante para o
planejamento de políticas de atenção ao idoso ou para a gestão de serviços. A
única característica importante a ser destacada em relação ao processo de
envelhecimento humano é a heterogeneidade. Ou seja, cada indivíduo
envelhece de maneira própria, pois se trata de um processo multifatorial.
A Capacidade funcional é o principal indicador da capacidade adaptativa
do ser humano. Sua determinação nos informa sobre a idade ou o
envelhecimento funcional do indivíduo e isso não depende da idade
cronológica. Ou seja, existem pessoas jovens cronologicamente e bastante
envelhecidas funcionalmente e vice-versa.
Já a Idade social é determinada pela atualidade da participação na
sociedade. O envelhecimento social ocorre quando existe um desengajamento
do indivíduo, que deixa de interagir socialmente. Ou seja, quando a sociedade
oferece oportunidade para o engajamento e os indivíduos mantém a
capacidade de se adequarem ao desempenho de papéis sociais, o
envelhecimento social pode até não ocorrer. A aposentadoria e a chamada
“síndrome do ninho vazio”, que é quando a mulher que se dedicou à família se
vê só com a partida dos filhos, são situações que podem precipitar o
envelhecimento social. Por isso, é muito importante que o indivíduo atualize
seus projetos de vida.
Idade psicológica e envelhecimento psicológico referem-se à relação
entre a idade cronológica e as capacidades: percepção, aprendizagem e
memória (potencial de funcionamento futuro) e inclui um senso subjetivo de
idade (comparando-se com outros). Embora haja uma alteração das funções
cognitivas, perceptíveis em testes de desempenho mental com o avançar da
idade, não foi detectado uma marcante alteração na personalidade.
Destacam-se como características psicosociais do envelhecimento, a
vivência de perdas, o declínio físico, uma intensificação de reflexões sobre a
vida e a diminuição de perspectiva de futuro. São características de um
processo natural de desenvolvimento em fases avançadas da vida, ou seja, de
um Envelhecimento Normativo.
O envelhecimento normativo pode ser sistematizado em dois níveis: o
primário, que está presente em todas as pessoas, por ser geneticamente
determinado e; o Secundário, que varia entre indivíduos e é decorrente de
fatores cronológicos, geográficos e culturais.
O conceito de Envelhecimento Bem Sucedido (Rowe e Kahn, 1987),
envolve baixo risco de doenças e de incapacidades; funcionamento físico e
mental excelentes e; envolvimento ativo com a vida. Depende da capacidade
de adaptação às mudanças físicas, emocionais e sociais. Esta capacidade é o
resultado da estrutura psicológica e condições sociais, construídas ao longo da
vida.
Para um envelhecimento bem sucedido, é necessário que haja uma
substituição simbólica das inexoráveis perdas, por ganhos em outras
dimensões; o atendimento às necessidades sociais (boas condições de vida e
oportunidades sócio-culturais) e; a renovação dos projetos de vida.
Já o Envelhecimento Mal Sucedido se dá quando ocorrem perdas dos
projetos de vida; falta de reconhecimento; dificuldade de satisfazer suas
próprias necessidades; sentimentos de fragilidade, incapacidade, baixa estima,
dependência, desamparo, solidão, desesperança; ocorrência de ansiedade,
depressão, hipocondria e fobias.
As doenças que coloquem a vida em risco; a morte de pessoa próxima;
a saída dos filhos de casa; as mudanças de residência; a perda da autonomia
e; as perdas materiais são importantes riscos para que se estabeleça um
processo de Envelhecimento Mal Sucedido.
Qualidade de vida pode ser definida como “a percepção do indivíduo de
sua posição na vida no contexto da cultura e do sistema de valores nos quais
ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e
preocupações”(WHOQOL Group). Na velhice, os principais indicadores de
qualidade de vida são a própria longevidade, a saúde biológica, a saúde
mental, a satisfação com a vida, um bom desempenho cognitivo, competência
social, produtividade e atividade.
A fragilidade é outro conceito importante para se avaliar a saúde do
idoso. Esta é definida como uma vulnerabilidade que o indivíduo apresenta aos
desafios do próprio ambiente. Esta condição é observada em pessoas muito
idosas ou naqueles mais jovens, que apresentam uma combinação de doenças
ou limitações funcionais que reduzam sua capacidade de adaptar-se ao
estresse causado por doenças agudas, hospitalização ou outras situações de
risco.
A fragilidade representa risco de dependência. A dependência se traduz
por uma ajuda indispensável para a realização dos atos elementares da vida.
Não é apenas a incapacidade que cria a dependência, mas sim o somatório da
incapacidade com a necessidade. Por outro lado, a dependência não é um
estado permanente. É um processo dinâmico cuja evolução pode se modificar
e até ser prevenida ou reduzida se houver um ambiente e assistência
adequados.
Faz-se necessário classificar a incapacidade em graus de dependência:
leve, parcial ou total. É exatamente o grau de dependência que determina os
tipos de cuidados que serão necessários. Para se avaliar o grau de
dependência utiliza-se o método de avaliação funcional. Função é a
capacidade de um indivíduo adaptar-se aos problemas cotidianos, ou seja,
aquelas atividades que lhe são requeridas por seu entorno imediato incluindo a
sua participação social, ainda que apresente limitações física, mental ou social.
Martins Sá (2002) destaca que o profissional que atua no campo da
saúde do idoso precisa estar apto a apreender, histórica e criticamente, o
processo do envelhecimento em seu conjunto; compreender o significado
social da ação gerontológica; situar o desenvolvimento da gerontologia no
contexto sócio-histórico; atuar nas expressões da questão da velhice e do
envelhecimento, formulando e implementando propostas para o enfrentamento;
realizar pesquisas que subsidiem a formulação de ações gerontológicas;
compreender a natureza interdisciplinar da gerontologia buscando ações
compatíveis no ensino, pesquisa e assistência; zelar por uma postura ética e
solidária no desempenho de suas funções e; orientar a população idosa na
identificação de recursos para o atendimento às necessidades básicas e de
defesa de seus direitos.
Pode-se considerar que a promoção da saúde do idoso na comunidade
deve garantir um aprofundamento de práticas preventivas, balizado pelo afã de
detectar precocemente os agravos de saúde. Cabe observar, no entanto, que a
proposta não se esgota aí, mas avança em direção a uma nova fronteira: a
Saúde Coletiva. Considera-se aqui como referência o conceito de “Saúde
Coletiva” formulado por Paim & Almeida Filho (2000):
“Podemos entender Saúde Coletiva como campo científico, onde se
produzem saberes e conhecimentos acerca do objeto ‘saúde’ e onde operam
distintas disciplinas que o contemplam sob vários ângulos; e como âmbito de
práticas, onde se realizam ações em diferentes organizações e instituições por
diversos agentes (especializados ou não) dentro e fora do espaço
convencionalmente reconhecido como ‘setor saúde’” (p. 59).
Saúde Coletiva e envelhecimento
No final da década de 1980, quando se intensifica o movimento de
valorização do idoso em decorrência das análises demográficas acerca do
envelhecimento populacional, muitos profissionais nas áreas da saúde e das
ciências humanas e sociais tomaram como ponto de partida a marcante obra
de Simone de Beauvoir (1970), A Velhice, e, no âmbito nacional, os eloqüentes
trabalhos de Eneida Haddad, A Ideologia da velhice (1986), e de Ecléa Bosi,
Lembranças de Velhos (1987).
Estas autoras discutem a perda do valor social do idoso em função do
avanço do capitalismo, que torna o idoso elemento descartável de um sistema
que singulariza a capacidade produtiva em detrimento de outras dimensões do
humano.
Desde então, profissionais que focalizam o envelhecimento como campo
de eleição de sua prática profissional e construção de saberes vêm travando
um embate na tentativa de resgatar o valor social de idoso. Tal resgate passa,
inevitavelmente, por assegurar sua cidadania plena.
Segundo Boff (2000), o desenvolvimento do capitalismo moldou o modo
ocidental de ser e estar no mundo, e deu forma à nova ordem global. No início
da década de 1970, inicia-se uma escalada de crises regionais, seguida da
desestruturação
econômica
e
aprofundamento
das
desigualdades
na
distribuição de renda. No curso das décadas de 80 e 90, as forças sociais
dominantes passaram ao largo do enfrentamento das crises e se concentram
na unificação do capitalismo em nível global, sob a égide do pensamento
neoliberal.
A ciência impulsiona o processo do capitalismo global, enquanto produto
e sustentáculo do desenvolvimento da sociedade moderna. Se, por um lado,
muitos benefícios foram alcançados por intermédio do conhecimento científico,
por outro, a ciência silenciou outras formas de saber. Neste contexto, a tradição
e a sabedoria dos anciãos perderam valor frente à palavra da ciência.
O desenvolvimento moderno determinou profundas transformações no
campo da saúde. Paim & Almeida Filho (2000) sublinham que a "nova ordem
mundial", que se instaura na década de 80, inspirada no neoliberalismo,
fragiliza os esforços para o enfrentamento coletivo dos problemas de saúde.
Particularmente nos países de economia capitalista dependente, a opção pelo
"Estado mínimo" e o corte nos gastos públicos, em resposta à assim
denominada “crise fiscal do Estado”, comprometem a esfera institucional
conhecida como Saúde Pública. Emerge então uma "crise da Saúde Pública",
percebida de modo diferente pelos distintos sujeitos atuantes neste campo
social. Visando superar esta situação adversa, vários aportes têm sido
propostos, reclamando novas abordagens.
Fala-se de um paradigma pós-moderno, que reconheceria as diferenças
sociais e culturais, sem que haja uma ruptura com o conhecimento moderno,
científico, e sim a sua superação, pelo reconhecimento das diferenças – o que
exclui a idéia de hierarquia entre os desiguais, uma vez que é o respeito às
diferenças o que nos faz iguais.
Trata-se de um novo modelo, que tem como imperativos éticos a
participação e a solidariedade, articulados à ciência e ao mundo da vida. De
acordo com Serrano (2002), este novo paradigma compreenderia um modelo
de desenvolvimento que leva em conta: a) a saúde como eixo das políticas
públicas; b) uma atitude de cuidado na relação com a natureza; c) o
compromisso com a participação social de todos, compreendendo o
empowerment e a construção dos sujeitos-cidadãos; d) o resgate do lazer; e) o
resgate do espiritual; f) a inserção da perspectiva da promoção da saúde como
prioritária; e g) a integração das diferentes práticas culturais.
Para construir este novo referencial é necessário garantir a cidadania
para todos, inclusive para aqueles que a tiveram e perderam. É a partir da
inclusão social que se pode contar com pessoas solidárias, cordiais e
conectadas com tudo e todos. É neste marco que se pode resgatar o ser idoso
como valor para a sociedade.
O contexto atual, no entanto, não parece favorecer esta atuação: a baixa
prioridade conferida aos idosos pelas políticas públicas (assistenciais,
previdenciárias e de ciência & tecnologia) evidencia uma percepção
inadequada das suas necessidades específicas. Torna-se necessário, portanto,
um esforço político orientado no sentido de colocar na agenda da sociedade as
necessidades deste segmento populacional.
O envelhecimento é uma questão que, ainda que incorporada ao campo
da Saúde Coletiva desde os seus primórdios, não vem merecendo a devida
atenção dos formuladores e gestores de políticas públicas. Ao apresentar "a
promoção da saúde" como um movimento no campo da Saúde Coletiva, Paim
& Almeida Filho (2000) relatam que, em 1974, no Canadá, o documento
conhecido como “Relatório Lalonde” definiu as bases de um movimento pela
promoção da saúde, trazendo como consigna básica “adicionar não só anos à
vida, mas vida aos anos”.
Ferreira & Buss (2002), Adriano et al. (2000) e Paim & Almeida Filho
(2000) concordam que a Carta de Ottawa (apud Brasil.Ministério da Saúde,
2002) constitui um marco deste movimento, uma vez que é nesta Conferência
que a promoção da saúde é definida como "o processo de capacitação da
comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde,
incluindo uma maior participação no controle deste processo". A Carta de
Ottawa define cinco campos vitais à promoção da saúde: 1) elaboração e
implementação de políticas públicas saudáveis; 2) criação de ambientes
favoráveis à saúde; 3) reforço da ação comunitária; 4) desenvolvimento de
habilidades pessoais; e 5) reorientação do sistema e dos serviços de saúde.
Observe-se a ligação estabelecida entre saúde e qualidade de vida e a
ênfase na criação de ambientes favoráveis à saúde e desenvolvimento de
habilidades pessoais. Aí se inserem as ações de promoção da saúde do idoso
que ampliam o âmbito das intervenções, como a experiência bem-sucedida
relatada a seguir.
A Carta de Ottawa (1986) destaca que as condições e os requisitos para
a saúde são a paz, a educação, a moradia, a alimentação, a renda, um
ecossistema estável, a justiça social e a eqüidade. A saúde, nesta concepção
ampliada, é, mais do que ausência de doença, um estado adequado de bemestar físico, mental e social que permite aos indivíduos identificar e realizar
suas aspirações e satisfazer suas necessidades (Ottawa, 1986). A partir desta
definição de saúde, muitos autores na área da Saúde Coletiva, entre os quais
Ferreira & Buss (2002), Adriano et al. (2000) e Paim & Almeida Filho (2000),
sublinham o aspecto da promoção da saúde, incorporado à idéia de assistência
e de cura.
Ao considerar que “qualidade de vida” se reveste de múltiplos sentidos,
Minayo, Hartz & Buss (2000) afirmam aproximar-se esta noção à satisfação
buscada na vida familiar, amorosa, social e ambiental e na própria estética
existencial. Pressupõe a qualidade de vida a capacidade de efetuar uma
síntese cultural de todos os elementos que determinada sociedade toma como
seus padrões de conforto e bem-estar. O termo abrange muitos significados,
que refletem conhecimentos, experiências e valores de indivíduos e
coletividades que a ele se reportam em variadas culturas, espaços e momentos
históricos, sendo, portanto, uma construção social com a marca da relatividade
cultural.
Assis (1998) observa que os inúmeros problemas que afetam a
qualidade de vida dos idosos em um país subdesenvolvido demandam
respostas urgentes em diversas áreas. Às políticas públicas cabe garantir os
direitos fundamentais (habitação, renda, alimentação), e desenvolver ações
voltadas às necessidades específicas da população idosa, como centros de
convivência, assistência especializada à saúde, centros-dia, serviços de apoio
domiciliar ao idoso, programa de medicamentos, universidades da terceira
idade etc.
Em abril de 2002, na Segunda Assembléia Mundial sobre o
Envelhecimento, realizada em Madri, foi aprovado o PIAE – Plano Internacional
de Ação sobre o Envelhecimento. O documento foi referendado por todos os
países membros das Nações Unidas e representa, portanto, um compromisso
internacional em resposta ao rápido envelhecimento da população mundial. As
recomendações do PIAE definem três áreas prioritárias: a) como inserir o
envelhecimento populacional na agenda do desenvolvimento, b) a importância
singular e global da saúde; e c) como desenvolver políticas de meio-ambiente
(tanto físico quanto social) que atendam às necessidades de indivíduos e
sociedades que envelhecem.
À OMS, enquanto agência especializada da ONU (Organização das
Nações Unidas), coube um papel particularmente importante na formulação de
recomendações específicas do PIAE. Na Assembléia de Madri, a entidade
lançou o documento Envelhecimento ativo: um marco para elaboração de
políticas, que complementa e amplia o PIAE. Neste documento, a OMS
recomenda que políticas de saúde na área de envelhecimento levem em
consideração os determinantes de saúde ao longo de todo o curso de vida
(sociais, econômicos, comportamentais, pessoais, culturais, além do ambiente
físico e acesso a serviços), com particular ênfase sobre as questões de gênero
e as desigualdades sociais (Carta de Ouro Preto-NESPE, 2003).
Para atender a estas agendas, faz-se necessário desenvolver modelos
de atenção à saúde do idoso que superem as práticas tradicionais, pois o
atendimento que lhes é oferecido habitualmente restringe-se, na melhor das
hipóteses, ao tratamento clínico de doenças específicas.
O sentido de prevenção que assumimos aqui é o que está expresso no
Relatório Lalonde (1974) – “Adicionar vida aos anos”. Sabe-se que os modelos
de prevenção para esse segmento etário têm especificidades distintas dos
grupos mais jovens. Segundo Caldas (1999), para adquirir uma mentalidade
preventiva e promover adequadamente a saúde do idoso, é fundamental a
evolução e disseminação do conhecimento sobre o envelhecimento. É
importante que, em qualquer faixa etária, todos saibam reconhecer situações
que ponham em risco a qualidade de vida no presente e no futuro, e como
preveni-las. A proposta para os que já são idosos é a de promover a saúde por
meio da manutenção ou recuperação da autonomia e independência. Com
isso, naturalmente, procurar-se-á postergar, ao máximo, o início das doenças,
pois estas, em sua imensa maioria, são crônicas, e depois de instaladas são de
difícil resolução e evolução lenta.
Embora tenha com a Gerontologia uma afinidade de saberes e práticas,
a abordagem do idoso em saúde coletiva é diferente. Groisman (2002) observa
que a Gerontologia veicula um discurso no qual utiliza a noção de prevenção
num sentido diferente daquele preconizado e praticado no campo da Saúde
Coletiva:
A prevenção parece ser a saída encontrada pela Gerontologia para
escapar do binômio saúde–doença. Com o discurso da “prevenção”,
todos os sujeitos são passíveis de intervenção, independentemente
de seu estado de saúde ou de sua inserção na “normalidade”. Pela
urgência da prevenção, não importa também quando começa a
velhice, pois a prevenção deve começar muito antes. Lutando por
um envelhecimento bem-sucedido, a Geriatria/Gerontologia parece
delinear o seu mais ambicioso projeto, que é disciplinar a vida
humana em toda a sua extensão (Groisman, 2002).
Teixeira (2001) enfatiza que a socialização de conhecimentos sobre
estratégias e práticas de promoção da saúde e qualidade de vida deverá
subsidiar a formação de novos sujeitos das práticas de saúde, para além do
Estado. Ao mesmo tempo, a revolução das comunicações favorece a conexão
de grupos que compartilhem ideais, pratiquem modos de vida comuns e
busquem soluções para problemas singulares.
As
pessoas
idosas
desejam
e
podem
permanecer
ativas
e
independentes por tanto tempo quanto for possível, se o devido apoio lhes for
proporcionado. Os idosos estão potencialmente sob risco não apenas porque
envelheceram, mas em virtude do processo de envelhecimento torná-los mais
vulneráveis à incapacidade, em grande medida, decorrente de condições
adversas do meio físico, social, ou de questões afetivas. Portanto, o apoio
adequado é necessário tanto para os idosos quanto para os que deles cuidam.
Teixeira (2001) demonstra que as ações de promoção da saúde
implicam o desenvolvimento de tecnologias "radicalmente novas". A autora
acrescenta que estas tecnologias exigem o desenvolvimento de métodos,
técnicas e instrumentos de comunicação social e marketing sanitário, visando à
promoção de mudanças no âmbito das políticas públicas, bem como de
mudanças das condições e dos modos de vida de grupos populacionais
expostos a riscos diferenciados, o que pressupõe alterações nas relações de
poder.
A autora afirma que essas mudanças nas relações políticas e sociais
vêm sendo anunciadas nos textos sobre promoção da saúde enquanto
processo de empowerment de grupos populacionais específicos, o que significa
não apenas a mobilização em torno de direitos gerais de cidadania, mas
também a organização de ações político-sociais específicas que conectem
indivíduos e grupos com problemáticas e preocupações comuns.
A socialização de conhecimentos acerca de estratégias e práticas de
promoção da saúde e da qualidade de vida deverá subsidiar a formação de
novos sujeitos das práticas de saúde. Assim, como aponta Teixeira (2001),
poderá ocorrer a revalorização do território mais imediato no qual se constitui o
espaço público de convivência, seja este espaço a rua, o bairro, a cidade, ou a
universidade. Afinal, ainda segundo a mesma autora:
O futuro poderá ser o cenário em que se desenvolverão processos
distintos: de um lado, a ”mercantilização“ da prevenção, com a
penetração da lógica da produção, distribuição e consumo de
mercadorias no campo específico da prevenção de riscos e agravos
à saúde de indivíduos e grupos; de outro, o esforço coletivo pela
”socialização“ da promoção, com a formação de novos sujeitos
políticos coletivos, que se mobilizem pela transformação das
condições e dos modos de vida dos diversos grupos populacionais.
A indeterminação, espaço de múltiplos possíveis, permanece,
entretanto, como a marca da contemporaneidade, a exigir o
conhecimento e a intervenção no tempo presente, tempo de
exploração e construção de futuros.
Segundo
envelhecimento
Caldas
da
&
Silva
população
(2004),
brasileira
os
desafios
trazidos
pelo
têm
diversas
dimensões
e
repercussões na sociedade, mas nada é mais justo do que garantir ao idoso a
sua integração na comunidade. As políticas de atenção à terceira idade
impõem a atuação intersetorial na gestão pública, pois muitas vezes, as ações
dirigidas aos idosos são executadas sem a mínima articulação com órgãos
envolvidos nas diversas demandas que os idosos apresentam: saúde,
educação, cultura, habitação, assistência social, etc.
As necessidades dos idosos são muitas e variadas. Tradicionalmente,
pensava-se somente nas questões físicas e econômicas dos idosos, na
assistência à saúde e nas pensões; atualmente eles reivindicam os seus
direitos sociais, que no passado recente não eram considerados importantes.
Para que esses direitos sejam postos em prática no cotidiano é preciso que
haja cada vez mais a mobilização permanente da sociedade para a inclusão da
velhice na agenda de prioridades dos governos locais.
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