A GERAÇÃO DE ENERGIA COMO OPÇÃO DE DIVERSIFICAÇÃO
PRODUTIVA DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA
José Giacomo Baccarin
Professor Departamento Economia Rural - FCAV/UNESP
CEP: 14.884-900, Jaboticabal (SP), tel: (016) 32092435
Raphael de Campos Castilho
Graduando em Agronomia - FCAV/UNESP
CEP: 14.884-900, Jaboticabal (SP), tel: (019) 34074586
RESUMO
ABSTRACT
Diante das dificuldades dos produtos
tradicionais, açúcar e álcool, o setor canavieiro vem
procurando se diversificar, através, por exemplo, da
utilização do bagaço de cana-de-açúcar para cogeração de energia elétrica e seu fornecimento para
as concessionárias de energia. Esta é uma alternativa
possível para os problemas no fornecimento de
energia elétrica no país e se confronta com outras,
como a geração de energia pelas termoelétricas à gás
ou o crescimento de oferta da hidreletricidade. O
trabalho procura analisar a ação de agroindústrias
sucroalcooleiras da Bacia do Rio Mogi-Guaçu (SP),
quanto ao uso do bagaço da cana para a co-geração
de energia elétrica. Especificamente, avalia
a
participação da co-geração na renda das empresas,
planos de expansão da co-geração, fontes de
financiamento para investimentos, dificuldades na
comercialização, adaptações na lavoura canavieira e
o uso do bagaço para outros fins. Pode-se constatar
que, embora haja motivação de várias agroindústrias
para a co-geração e o seu crescimento em algumas,
perduram entraves, como na obtenção dos recursos
para compra de equipamentos eficientes no
aproveitamento do potencial produtivo de energia
com custos competitivos. Existe também incerteza
quanto ao futuro, com risco da energia do setor
sucroalcooleiro não se firmar na matriz energética
brasileira e se perderem os investimentos realizados.
As evidências do estudo indicam que, a médio
prazo, a co-geração de energia através do bagaço de
cana não representará parcela importante das
receitas do setor, nem terá grande significado na
matriz energética brasileira.
The sugarcane mills sector presents
difficulties at the traditional products of sugar and
alcohol, stimulat attempts of diversification, p. ex.,
the use of the bagasse of sugar-cane for cogeneration of electric energy and its supply for the
energy concessionaires, that finds good perspectives
current, ahead of the Brazilian energy crisis.
However, it must be collated with other options, as
the energy for the gas' thermoelectrial or for the
growth of the hidreletricidade. It is analyzed the
action of sucroalcooleiras industries on the Basin of
Mogi-Guaçu’s river, as the use of the bagasse of the
sugar cane for the co-generation of electric energy.
Specifically, it evaluates which the participation of
the co-generation in companies' income, the plans of
expansion of the co-generation, the sources of
financing for investments, the difficulties at the
commercialization, adaptations in the sugarcane
plantation and the use of the bagasse for other ends.
It can be evidenced that, even so the motivation of
some industries for the same co-generation and its
growth in some of them, lasts problems at the
attainment of the necessary resources for efficient
equipment for exploitation of the productive
potential of energy with competitivies costs. It also
exists, the risk of this energy of the sucroalcooleiro
sector, not to be more necessary for the Brazilian
energy sector and maybe lose the done investments
there. Evidence of the study indicate that the average
stated period the co-generation of energy throug the
sugar cane bagasse will not represent important
parcel of prescriptions of the sector nor will have
great meaning in the Brazilian energy matrix.
INTRODUÇÃO
As
empresas
sucroalcooleiras
vêm
procurando novas formas de incrementar suas
receitas, através da diversificação de seus produtos e
utilização de subprodutos, em decorrência das
dificuldades nos mercados dos produtos tradicionais,
açúcar e álcool, em que se constatam baixo
crescimento da demanda e instabilidade dos preços.
Uma possibilidade que se abre é a
utilização do bagaço de cana-de-açúcar para cogeração de energia elétrica e seu fornecimento para
as concessionárias de energia ou unidades
produtivas de outros setores.
A co-geração de energia, a partir do bagaço
de cana, apresenta-se ainda como uma boa
alternativa para matriz energética brasileira, diante
dos problemas enfrentados no fornecimento de
energia elétrica, evidenciados pela imposição de
racionamento, em 2001.
Existem diversas vantagens na utilização do
bagaço para geração de energia, como a agregação
ao sistema de uma energia de baixo custo, imune a
variações cambiais e do preço do petróleo. Além
disso, o fornecimento dessa energia ocorre entre
abril e novembro, período mais crítico, quando os
reservatórios hidrelétricos se encontram nos níveis
mais baixos. Para as usinas, além de fonte adicional
de receita, a co-geração pode representar a
oportunidade de renovação da planta industrial, com
investimentos em novas máquinas e equipamentos
mais modernos e eficientes.
Ao mesmo tempo, existem diversas
dificuldades, como a demora para se conseguir
financiamentos para os investimentos, incertezas
quanto à real capacidade de absorção pelo mercado
da energia gerada no setor canavieiro e se a
remuneração seria suficiente para cobrir os custos
operacionais e permitir a amortização dos
investimentos.
As possibilidades do aumento da geração
de energia elétrica pelo setor sucroalcoleiro estão
relacionadas ao encaminhamento de questões como:
que tecnologia e potência instalar, qual o período de
geração (na safra de cana ou o ano todo), a quem e
de que forma vender o excedente de energia, quais
as fontes e condições para se viabilizar os novos
investimentos, que importância terá a nova atividade
em relação às tradicionais – açúcar e álcool, que
mudanças proceder na lavoura canavieira,
especialmente o aproveitamento da palha como
fonte geradora de energia?
Em parte, essas questões relacionam-se
com a estratégia de crescimento das agroindústrias
sucroalcooleiras e, dependendo das soluções
encontradas, podem significar o aumento da
participação dos recursos obtidos com a venda de
energia no total de suas receitas.
Ao mesmo tempo e, talvez até com maior
importância, as soluções dependem da maneira com
que o governo e a sociedade encaminhem a crise de
fornecimento de energia no Brasil. As opções são
muitas, desde o aumento da geração e da
transmissão da hidreletricidade, da construção de
termoelétricas movidas a gás natural etc. O bagaço
de cana pode vir a ser um componente muito
importante na matriz energética brasileira, sendo que
potencial para isso já existe, o que não é garantia que
vá se viabilizar.
Esse trabalho analisa as dificuldades,
motivações e ações de empresas do setor
sucroalcooleiro quanto à co-geração de energia
elétrica através do bagaço de cana e sua venda para
as concessionárias na região da Bacia do rio Mogi
Guaçu, no estado de São Paulo.
Procura-se saber o quanto a co-geração de
energia representa na receita da empresa, as fontes
de financiamentos para os investimentos, quem e de
que forma é adquirida a energia disponibilizada.
Também é pesquisado o quanto de bagaço é
utilizado para geração de energia e suas outras
utilidades e as adaptações na lavoura canavieira para
aumentar a capacidade de geração de energia.
No segundo semestre de 2001, foram
enviados questionários para as 28 usinas de açúcar e
álcool da Bacia do rio Mogi Guaçu, com perguntas
relacionadas aos objetivos do trabalho. Obteve-se
resposta de 11 agroindústrias. No primeiro semestre
de 2002, foram escolhidas e visitadas 5 usinas da
região de estudo, quando se realizaram entrevistas
mais detalhadas sobre o tema do estudo.
Além dessa introdução, o trabalho
apresenta uma seção onde, com base na literatura,
procura-se discutir a participação da energia gerada
pelo setor sucroalcooleiro na matriz energética
brasileira e na estratégia de diversificação das suas
agroindústrias. Depois, são analisados os resultados
da pesquisa da região estudada. Algumas conclusões
fecham o trabalho.
A IMPORTÂNCIA DA CO-GERAÇÃO DE
ENERGIA PELO SETOR
SUCROALCOOLEIRO
A CO-GERAÇÃO DE ENERGIA
Entre os seus vários conceitos, adotamos
aquele que considera que a “co-geração trata-se da
associação da geração simultânea combinada de dois
ou mais tipos de energia utilizando um único tipo de
fonte energética” (AVELLAR, 2001). No caso, a
fonte energética é o bagaço de cana que, ao ser
queimado, gera energia térmica, em forma de vapor,
e energia elétrica.
Pode-se explicar o funcionamento da
seguinte maneira: existe uma fornalha, onde é
queimado o bagaço, e uma caldeira onde é
produzido o vapor, sendo que o jato de vapor
extraído da caldeira gira uma turbina que, por estar
interligada ao eixo de um gerador, faz com que este
entre em movimento, gerando a energia elétrica.
Existem vários aspectos a serem
considerados para a implantação de um sistema de
co-geração, como a disponibilidade de combustíveis
a baixo custo (em que o bagaço se encaixa
perfeitamente), a existência ou não de soluções
convencionais de expansão do sistema elétrico
economicamente compatíveis com a co-geração e o
ritmo de crescimento da demanda. Pode-se dizer que
a opção pela co-geração deve considerar quatro tipos
de potenciais: termodinâmico, técnico, econômico e
mercado potencial.
O potencial termodinâmico é definido em
bases teóricas, independente da existência da
tecnologia de conversão, representando então, a
quantidade máxima de energia a ser produzida. O
potencial técnico procura definir a tecnologia mais
adequada e eficiente para o sistema. O potencial
econômico é aquele que define os investimentos a
serem feitos, visando garantir o retorno em menor
tempo possível. O mercado potencial é determinado
pela demanda de mercado e para quem será gerada a
energia.
A CO-GERAÇÃO SUCROALCOOLEIRA E A
MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA
Em decorrência do seu grande volume de
recursos hídricos, o Brasil utiliza, de forma
predominante, energia dessa origem, que representa,
aproximadamente, 95% da capacidade nominal
instalada no país. (FIESP/CIESP, 2001)
Atualmente, somente uma pequena parcela
da energia no Brasil é gerada a partir de outras
fontes , como a nuclear ou a termoelétrica a base de
gás natural. A co-geração, a partir de diversas
matérias-primas, em grande parte, serve para autoconsumo de seus produtores e não ultrapassa 6% da
energia elétrica produzida no país. (SOUZA, 2000)
Em outros países, a participação da cogeração no consumo de eletricidade chega a ser
superior a 35%, como na Holanda, Dinamarca e
Finlândia. A União Européia persegue o objetivo de
co-gerar 18% de energia, em 2010, em contraste
com os 9%, no início do século 21. (DUARTE,
2001)
Depois de anos com os reservatórios da
hidrelétricas mantidos em níveis abaixo do
recomendável, o país viveu uma crise de oferta de
energia, durante 2001. Emergencialmente, teve-se
que se implantar políticas de racionamento ao
consumo domiciliar e industrial, o que restringiu a
taxa de crescimento da economia.
Estudos apontam que a oferta de energia
deve crescer acima do aumento do Produto Interno
Bruto (PIB). Estimativas indicam que, para cada
aumento de 1% do PIB brasileiro, seria necessário o
crescimento de 1,5% na geração de energia elétrica.
(MANFRIN & SEVERI, 2000)
A crise da energia elétrica evidenciou que
os investimentos setoriais eram insuficientes, mesmo
em situação de baixo crescimento econômico. Em
decorrência, reforçaram-se os estudos e ações para
elevação da oferta de eletricidade, contemplando a
ampliação da geração e distribuição de
hidreletricidade, maior geração de energia nuclear,
instalação de termelétricas movidas a gás natural etc.
São estas e outras opções que o setor
sucroalcooleiro deve enfrentar para viabilizar ou não
o aumento de sua participação na matriz energética
brasileira. Neste caso deve-se levar em conta tanto o
potencial de geração de energia pelo setor
sucroalcooleiro, quanto suas possíveis vantagens em
termos de custo.
No estado de São Paulo, as usinas do setor
sucroalcooleiro produzem, atualmente, cerca de 700
MW de energia e o excedente vendido é de apenas
40 MW, o que é suficiente para iluminar uma cidade
de 600 mil habitantes. (MANFRIN & SEVERI,
2000)
São moídas 240 milhões de toneladas de
cana anualmente no estado, que resultam em,
aproximadamente, 60 milhões de toneladas de
bagaço. Se totalmente aproveitadas, nas atuais
condições tecnológicas, isto poderia significar a
geração de 2.000 MW, correspondente a 16,5% da
capacidade instalada do setor elétrico em São Paulo.
(DUARTE, 2001)
Prevê-se a instalação, a médio prazo, de 16
termelétricas a gás natural para produção de 2.000
MW, com investimento na casa de US$ 1,5 bilhão,
ou seja, US$ 750 mil/MW instalado. A co-geração
através do bagaço exige investimentos menores, na
faixa de US$ 150 mil a US$ 270 mil/MW instalado.
Além do baixo custo, a energia originária
da cana apresentaria como vantagens, o fato de ser
imune às variações internacionais do preço do
petróleo e cambiais, ser disponibilizada em curto
espaço de tempo, estar próxima aos grandes
mercados consumidores de energia, diminuindo os
gastos com transmissão.
Argumenta-se também que o uso do bagaço
como alternativa energética, reduz a emissão de
resíduos no ambiente e o grau de poluição
atmosférica,
comparativamente
a
outros
combustíveis, como óleo diesel e carvão. Estudos
indicam que, com uso de caldeira bem
dimensionada, chaminé de altura adequada e um
sistema de extração de cinzas eficiente, o problema
de poluição é praticamente nulo na queima do
bagaço de cana. (COELHO, 2001)
A CO-GERAÇÃO COMO DIVERSIFICAÇÃO
DO SETOR SUCROALCOOLEIRO
Na década de 1990, diante da diminuição
do amparo público, especialmente nos subsídios ao
preço do álcool, observa-se um processo de
reestruturação do setor sucroalcooleiro. A produção
tende a se concentrar em regiões com maior
produtividade, como o estado de São Paulo, ocorre
enxugamento da estrutura administrativa das usinas
e destilarias, com supressão de níveis hierárquicos e
do número de empregados. Modernizam-se
processos nos escritórios, na atividade industrial e
também agrícola, especialmente no plantio e na
colheita, com a entrada da colheita mecânica de cana
crua. Ocorrem fusões entre empresas e fechamento
de plantas menos eficientes. Por fim, modifica-se o
"mix" produtivo do setor.
Entre 1975-90, o crescimento do setor foi
puxado pela expansão da produção do álcool, no
valor de 883%, contra apenas 9% do açúcar. Já entre
1990-99, o álcool cresceu 16%, enquanto o açúcar
crescia 142%. O Brasil ampliou sua participação no
mercado internacional, sendo responsável por cerca
de 25% das exportações mundiais de açúcar,
atualmente. (BACCARIN, 2000)
As instabilidades e flutuações de preços do
açúcar e do álcool fizeram com que o setor
desenvolvesse estratégias de diferenciação desses
tradicionais produtos e passasse a dar maior atenção
à utilização econômica de subprodutos, alguns deles
considerados resíduos anteriormente, como a
vinhaça e o bagaço.
Do processamento industrial da cana se
obtém, além do açúcar e álcool, ácido aconítico,
cera, levedura usada pela indústria farmacêutica,
fermento seco para ração animal etc. O açúcar
padrão pode ser diferenciado para açúcar orgânico,
açúcar líquido, gludex etc, enquanto do álcool
comum se obtém, por exemplo, álcool superior
usado como aromatizante. Subprodutos, como a
torta de filtro e a vinhaça vêm sendo utilizados como
adubo ou para irrigação das lavouras. Do bagaço,
podem ser derivados briquets, celulose e rações
usados, respectivamente, para produção de energia,
indústrias de papel e aglomerados e alimentação
bovina. (SZMRECSÁNYI, 1979; CARON, 1996;
ALVES, 2000)
A questão da diferenciação e do
aproveitamento de subprodutos pode ser abordada
sob dois diferentes pontos de vista que, na verdade,
se encontram altamente relacionados. O primeiro diz
respeito a estratégia de crescimento da empresa, ou
como a mesma aproveita aspectos tecnológicos do
seu processo produtivo ou relações comerciais e
financeiras em direção à exploração de novos
produtos. O segundo trata da evolução dos mercados
consumidores, das mudanças no padrão de consumo
e dos seus efeitos sobre a produção das empresas.
A diversificação é a maneira mais fácil da
empresa ampliar o seu mercado e reduzir seus custos
e, portanto, faz parte de sua estratégia de
crescimento. A história econômica mostra que a
diversificação tende a ocorrer vinculada ao que a
empresa acumulou ao longo de sua vida, seja no que
diz respeito ao processo propriamente dito (domínio
e conhecimento tecnológicos), seja no que diz
respeito às relações comerciais. (Penrose, citada por
BACCARIN, 2000)
Ao longo de sua trajetória, a empresa
acumula determinadas estruturas tecnológicas e
conhecimentos de processos. Ao mesmo tempo,
sempre se verifica a existência de recursos ociosos
ou subaproveitados, além da produção de
subprodutos que , momentaneamente, podem não ter
interesse econômico. Disso resulta um potencial de
diversificação, seja pelo desenvolvimento de novos
processos produtivos, barateando ou melhorando a
qualidade dos produtos tradicionais, seja pela
exploração de novos produtos, obtidos a partir de
pequenas adaptações na estrutura já existente, ou
ainda, pela utilização no próprio processo produtivo
ou pela exploração comercial de subprodutos,
considerado resíduos anteriormente.
A exposição do setor sucroalcooleiro a
incentivos de mercado, em período recente, tem
aguçado a capacidade dos empresários atuantes no
setor em buscar expandir suas alternativas e
capacidade de gerar receitas adicionais. O
aproveitamento de subprodutos como o bagaço, já
vem sendo, há longa data, considerado como
importante fonte de receita adicional pelo setor
sucroalcooleiro na região centro-sul do país.
(SOUZA & BURNQUIST, 1999)
O bagaço de cana tem sido identificado
como o subproduto com maior potencial para
aumentar a receita da indústria sucroalcooleira, seja
pela venda direta ou pelo uso na co-geração de
energia elétrica nas próprias unidades de produção.
Ainda que a exploração econômica desse subproduto
venha se tornando uma prática comum, a intensidade
desse aproveitamento mostra-se bastante variável,
entre regiões e entre unidades agroindustriais.
Algumas empresas continuam produzindo energia
através do bagaço apenas para o consumo próprio,
enquanto outras fornecem energia para as
concessionárias ou empresas de outros setores.
Representantes de usinas dizem que,
atualmente, a geração de energia dificilmente
alcança os 10% do seu faturamento. Chegam a
prever a ocorrência de investimento na casa dos R$
500 milhões nos próximos três anos e uma produção
adicional d 700 MW de energia. Para algumas
usinas, a venda de energia poderia representar 30%
de seu faturamento. (GAZETA MERCANTIL,
20/02/2001)
Além de ampliarem seu "mix" produtivo, as
empresas sucroalcooleiras teriam um outro motivo
para aumentar sua geração de energia, que é a
possibilidade de renovação de máquinas e
equipamentos em final de vida útil. Isto se prende ao
fato da existência de linhas específicas de
financiamento público, com juros favoráveis, para
investimentos
realizados
em
co-geração.
(FIESP/CIESP, 2001)
Além do bagaço, estuda-se o uso da palha
ou palhiço da cana como matéria-prima da cogeração. Atualmente, a palha ou é queimada,
quando a colheita é feita manualmente, ou é deixada
no campo, quando a colheita é feita mecanicamente,
sem queima prévia. O poder calorífico da palha é
maior que o bagaço, mas seu uso na co-geração
depende de que sejam resolvidas dificuldades do seu
transporte da lavoura para as usinas e da certeza que
isto seria mais adequado do que deixar a palha no
campo, onde serve para o controle de ervas daninhas
e como protetor dos solos. (RIPOLI, 2001)
As possibilidades que se abrem do uso do
bagaço e da palha para co-geração já se refletem em
algumas linhas de pesquisa. A Copersucar estuda
novas variedades de cana, tipos de espaçamentos,
época de plantio, visando a obtenção de maior
quantidade de bagaço e de palha para otimizar a
quantidade de energia obtida pelas usinas.
DIFICULDADES PARA A CO-GERAÇÃO
Um problema que ainda persiste é relativo à
fonte de financiamento para investimentos em cogeração. Apesar do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social) ter aprovado,
em 2001, uma linha de financiamento, no valor de
R$250 milhões, para financiar projetos de cogeração de eletricidade, a partir do aproveitamento
do bagaço de cana, que tenham como objetivo, a
venda de energia elétrica excedente às
concessionárias de energia elétrica, os prazos para
análise dos projetos ainda são demorados,
principalmente pela necessidade emergencial de
geração de energia. (FIESP/CIESP, 2001)
Existem indefinições e ausência de
regulamentação mais precisa na venda da energia
co-gerada. Os empresários sucroalcooleiros queixam
que não contam com garantias quanto ao preço
mínimo, prazo de venda e quantidade de energia
absorvida pelas
concessionárias. Um fator
fundamental, que impede o estabelecimento de um
processo efetivo e contínuo dessa fonte de energia,
tem sido a falta de mercados consumidores regulares
e promissores disponíveis para a comercialização da
energia da co-geração. (SOUZA & BURNQUIST,
1999; SOUZA, 2000)
Para Janini, assessora da presidência da
Federação da Agricultura do Estado de São Paulo
(FAESP), ainda não há uma definição sobre o papel
da co-geração no setor energético. Este é um dos
motivos da lentidão das usinas em aderir à produção
de excedente. O segmento também não cresce
porque o empresário do setor teme que, passado o
momento mais agudo da crise de energia, as
distribuidoras e o mercado "spot" não terão mais
interesse na energia derivada da cana. Não se
garantiria, assim, o retorno dos investimentos, que as
estimativas indicam estarem na casa dos R$ 6
milhões, preço médio da adaptação de uma unidade
de
co-geração
do
excedente.
(GAZETA
MERCANTIL, 26/09/2001)
Esse é um fator que vem levando as usinas
a desperdiçar o potencial de co-geração da cana,
mesmo quando aprovam novos projetos junto ao
BNDES. Segundo Palleta, coordenador do
departamento de projeto de geração de eletricidade
do Centro Nacional de Referência em Biomassa
(CENBIO), o montante a ser desperdiçado de
energia refere-se à capacidade de geração que não
será aproveitada pelos equipamentos contratados
pelos empréstimos, ou seja, pela aquisição de
equipamentos menos eficientes. Os co-geradores, ao
optarem por equipamentos de menor potência,
correm menos riscos, por eles serem mais baratos,
podendo ser amortizados em menos tempo. Para o
país, entretanto, isto se constitui em desperdício.
(GAZETA MERCANTIL, 27/09/2001)
Existem tecnologias mais sofisticadas, de
alta pressão, condensação e gaseificação, de custo
mais elevado, mas que permitem maior
aproveitamento
do
bagaço
para
co-gerar
eletricidade. Os empresários evitam investirem
nestes equipamentos, porque temem que, passada a
crise energética, as distribuidoras e os grandes
consumidores não tenham mais interesse pela
energia do bagaço. (JORNAL CANA, 2001)
Para o empresário Jairo Balbo, o emprego
dessas novas fontes de tecnologia será possível
quando a remuneração das usinas pelas
concessionárias for de US$ 70 por megawatt/hora,
sendo esse o valor mínimo exigido pelo Banco
Mundial para financiar a co-geração a partir do
bagaço de cana. Atualmente, o valor do
megawatt/hora, nos contratos firmados pelas usinas
com a CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz),
está na casa dos US$ 40. (JORNAL CANA, 2001)
É muito grande a concentração econômica
na geração e na distribuição de energia elétrica. No
sistema interligado Sudeste, as vendas das quatro
maiores empresas representam 99% da geração e
67% na distribuição de energia. Embora tenha-se
avançado na legislação, para que se permitisse
acesso de pequenos fornecedores às redes de
transmissão e se limitasse o "market share" das
geradoras, estes avanços são ainda insuficientes.
Teme-se o estabelecimento de acordos tácitos entre
grandes distribuidoras e geradoras, impondo limites
à participação de pequenos fornecedores, como as
agroindústrias
sucroalcooleiras,
no
sistema.
(SOUZA & BURNQIST, 1999)
A falta de definição de uma estratégia clara
e objetiva para o setor elétrico, possibilitando uma
diversificação da matriz energética, que ainda se
encontra sob influência do modelo monopolista e
centralizado, restringe o setor sucroalcooleiro,
dificultando seu acesso ao mercado de energia.
Assim, a ausência de regras específicas para a cogeração da biomassa, acaba se tornando o grande
gargalo ao projeto de ampliação da oferta de energia.
(FIESP/CIESP, 2001)
Outra dificuldade encontrada, é o de
interligação ao sistema, tanto na conexão à
subestação, quanto ao paralelismo, com a
necessidade do rebaixamento e oscilação da tensão
nominal. A princípio, não se define o responsável
por bancar os investimentos para estas adaptações,
se as concessionárias ou as agroindústrias, além
disso poder servir de argumento para não se adquirir
a energia gerada pelo setor canavieiro.
Decisão da ANEEL (Agência Nacional de
Energia Elétrica) garante que pequenos produtores
independentes hidrelétricos, com potência entre
1.000 e 30.000 KW e com reservatório hídrico
inferior a 3 Km², serão classificados como Pequenas
Centrais Hidrelétricas (PCH's) e terão incentivos
quanto aos encargos do uso e conexão às redes de
transmissão e distribuição, sendo estipulado um
percentual de redução não inferior a 50%, para que
se garanta a competição à energia ofertada por esses
empreendimentos.
Se o empreendimento for
iniciado até 31 de dezembro de 2003, será
estabelecido o percentual de desconto de 100%. O
problema é que, sem uma justificativa plausível, não
se estendem estes benefícios a outros pequenos
fornecedores de energia, como é o caso das
agroindústrias canavieiras. (SOUZA, 2000)
Sem que se desconsiderem problemas de
ordem tecnológica, a maior participação do setor
sucroalcooleiro no fornecimento de energia,
aparentemente, depende mais de definições políticas
e de estratégias públicas. Continua-se priorizando
apenas as fontes tradicionais de energia, sendo que
nem o bagaço da cana nem o álcool fazem parte,
oficialmente, da matriz energética brasileira. Falta
legislação que obrigue as empresas de energia a
comercializar percentagem fixa de eletricidade de
novas fontes. (COELHO, 2001; GOLDEMBERG,
2001; JORNAL CANA, 2001).
A CO-GERAÇÃO DE ENERGIA NA
BACIA DO MOGI GUAÇU
CARACTERÍSTICAS DA ÁREA ESTUDADA
A Bacia do rio Mogi Guaçu possui uma
área de drenagem de 16.760km², sendo 2.650km² em
Minas Gerais e o restante em São Paulo. Abrange 50
cidades, 12 em Minas e 38 paulistas. Sua população,
em 2000, era de 1.306.593 habitantes, com um grau
de urbanização de cerca de 80%.
A região responde por importante parcela
da produção agropecuária do estado de São Paulo,
sendo diversificada e de grande interação entre
agricultura e agroindústria, com destaque para a
sucroalcooleira e a citrícola. Engloba uma área total
de 843.869 hectares, estando preponderantemente
ocupada pela produção de cana-de-açúcar (47,6% da
área). Depois vem a laranja (11,3% da área),
braquiária (8,9%), milho (7,8%), eucalipto (5,7%),
algodão (2,4%), soja (1,8%) e amendoim (1,7%).
Nessa região observa-se uma grande proporção de
propriedades tecnificadas, com alto índice de
tratores e computadores na propriedade.
A SITUAÇÃO GERAL DAS USINAS DA
REGIÃO
Como afirmado anteriormente, foram
enviados questionários às 28 usinas da região para
que se pudesse avaliar a atual situação quanto à cogeração de energia e sua venda. Do total, 11 usinas
responderam as questões, ou seja, 29,3%.
Das usinas que responderam, 54,5%
disseram que a receita gerada pela venda de
excedente de energia chega até ao máximo de 2% de
seu faturamento total. Os outros 45,5 % não vendem
excedente de energia.
Também responderam que, da energia cogerada, é feita a venda para CPFL (36,4%), ou para
a Logus/Tradner (18,2%), sendo que os 45,5%
restantes não vendem excedente de energia. Cerca
de 36,4 % das usinas responderam que fizeram
contratos de venda com essas empresas, com 5 a 10
anos de duração, e o restante não respondeu esta
questão.
Com relação ao capital para investimentos
na geração de energia, em tono de 27,3% das usinas
responderam que investiram através de capital
próprio e outros 27,3% responderam que tiveram
financiamentos de órgãos públicos, que bancaram
cerca de 80% do projeto.
Em relação às adaptações na lavoura, para
beneficiar a co-geração de energia, em torno de
72,7% disseram que poderia se aproveitar a palha
para o aumento da capacidade de co-geração,
embora atualmente não façam isso. Os outros 27,3%
não sugeriram adaptações.
SITUAÇÃO ESPECÍFICA DE ALGUMAS
USINAS
Após o envio dos questionários para todas
as usinas da região, foram visitadas 5 empresas,
escolhidas aleatoriamente, e feitas entrevistas mais
detalhadas para saber como se encontram com
relação à co-geração de energia pelo bagaço. As
empresas serão designadas por letras, com o objetivo
de garantir sua privacidade.
USINA A
A Usina A, que tem uma área de cana
plantada de 2.086,43 hectares e está entre a
qüinquagésima e a centésima usina em termos de
moagem de cana/safra do estado de São Paulo,
através da co-geração pelo bagaço da cana, produz
cerca de 4MW de energia, utilizados totalmente pela
empresa. Essa geração ocorre apenas durante a safra.
Com as instalações atuais, a usina tem
possibilidade de produzir um pequeno excedente
que, entretanto, não vem sendo comercializado,
devido a problemas com linhas de transmissão, que
carecem de investimentos de cerca de R$ 600 mil.
Para 2003, a empresa espera por à venda 2
MW de energia, em decorrência de investimentos na
compra de um turbo-gerador mais eficiente, com
capacidade de gerar até 15 MW de energia. No
futuro, a usina espera ter 8 MW de excedente de
energia para venda, investindo também em
melhorias na caldeira e moenda.
O investimento no turbo-gerador foi
financiado, em 80% de seu valor, junto ao BNDES
e ficou na casa de R$ 1,5 milhão. Esse
financiamento será amortizado em 10 anos, sendo
que a usina só começará a pagar quando estiver
gerando receita.
A usina espera vender esse excedente de
energia para a CPFL, concessionária com quem a
empresa já manteve conversas iniciais. O preço pago
estimado pelo excedente de energia gira em torno de
R$ 67,00/MW, segundo a usina. Eles não sabem se
esse preço banca os custos operacionais, cujo valor
ainda não foi calculado.
O bagaço, além de ser usado para a geração
de energia elétrica, também é vendido para uma
indústria de suco de laranja da região, recebendo-se
em torno de R$ 36,00/tonelada. Nesse preço, a
venda do bagaço é mais rentável que a geração de
energia. Além disso, cerca de 2% do bagaço é
utilizado para engorda de boi.
Está em fases preliminares, um estudo para
utilização da palha para a geração de energia.
Segundo eles, essa utilização aumentaria em muito a
capacidade de geração.
USINA B
A usina B, que possui uma área de cana
plantada de 40.908 hectares , e está entre a décima e
a vigésima usina quanto a moagem de cana/safra no
estado de São Paulo, através do bagaço de cana, gera
cerca de 8 MW de energia, suficiente para o
consumo próprio. Essa geração ocorre apenas no
período da safra e não se faz a venda externa de
energia elétrica.
Foram feitos vários estudos para que a
usina ofereça excedente de energia para venda. Em
um dos estudos, estima-se um potencial de se gerar
até 150 MW de energia excedente. O primeiro passo
seria a otimização de todos os processos na
indústria, o que já se encontra em andamento e,
assim, aproveitar o máximo do potencial calorífico
do bagaço da cana. Posteriormente, seriam
necessários investimentos em novas caldeiras e
geradores.
Entendem
que
este
investimento,
entretanto, não pode ser decidido apenas levando-se
em conta questões conjunturais, como a falta de
energia durante 2001. É necessário que a usina tenha
garantia de longo prazo, de comercialização do
excedente de energia. Afirmam que, hoje em dia,
não sentem essa segurança, o risco é muito grande e
inibe novos investimentos para explorar, na
totalidade, o potencial existente.
Atualmente, além da geração de energia,
para consumo próprio, o bagaço é vendido para
empresas de suco de laranja, com o preço de R$
36,00/ tonelada. Eles chegam a vender de 600 a 700
toneladas por dia, o que torna a venda do bagaço
mais rentável que uma provável geração de energia.
Possuem a expectativa da utilização da
palha, o que aumentaria bastante o potencial de cogeração de energia.
USINA C
A Usina C, que tem uma área de cana
plantada de 18.500 hectares , e está entre a trigésima
e a quadragésima usina em termos de moagem de
cana/safra do estado de São Paulo, através do
bagaço, produz cerca de 7 MW de energia,
utilizados totalmente pela empresa. Essa geração
ocorre apenas durante a safra. Além disso, a usina
possui um excedente de energia elétrica de 1,5 MW.
Essa sobra de energia não é vendida, devido a
problemas com a concessionária da região, que
exige um investimento, por parte da usina, de R$ 1
milhão para obras de interligação com sua rede de
distribuição.
Um projeto feito pela usina, se implantado,
possibilitaria a geração de 20 MW, com um
investimento de R$ 28 milhões. Não foi contatado
nenhum agente para o financiamento, mais citam o
BNDES como o melhor agente, pois tem um
programa próprio para a co-geração de energia pelo
bagaço de cana
Também é citado por eles, como sendo a
CPFL, a principal compradora dessa energia,
estimando um valor de R$ 67,00/MW. Esse valor,
segundo cálculos da usina, faz com que ocorra um
retorno dos investimentos em 10 anos.
Possuem um grande temor com a
concorrência das termoelétricas movidas a gás
natural, que têm conseguido grande apoio do
governo.
Além da utilização para co-geração de
energia, cerca de 5% do bagaço é vendido para
empresas de suco de laranja, a um preço de R$ 35,00
a tonelada, o que torna essa venda vantajosa. Mas
nem sempre é assim, sendo que em anos anteriores,
o preço era bem menor e não pagava nem o
transporte do bagaço.
A usina cita a utilização da palha como uma
grande promessa para aumentar a geração de
energia. A usina, sendo cooperada da Copersucar,
acompanha experimentos feitos por esta, para a
utilização da palha para ser explorada como opção
para geração de energia.
USINA D
A Usina D, que tem uma área plantada de
cana de 20.281,63 hectares , e está entre a vigésima
e a trigésima usina em termos de moagem de cana
por safra, através do bagaço de cana, produz cerca
de 7 MW de energia, utilizados em sua própria
planta industrial. A geração de energia ocorre apenas
durante a safra. A usina não faz a venda do
excedente de energia, embora já tenha feito testes no
passado para essa venda.
Está em implantação um projeto, pelo qual
serão trocados os atuais equipamentos por outros
mais eficientes, gerando-se, assim, 20 MW de
energia. Destes, 13 MW serão para venda. Esse
projeto entrará, parcialmente, em funcionamento no
segundo semestre de 2002, e passam a funcionar
totalmente, em 2003. Essa venda representará cerca
de 6% na receita da empresa.
A usina obteve financiamento do BNDES,
que bancou cerca de 70% do investimento, sendo o
restante originário de recursos próprios. Esse
financiamento passou por uma burocracia muito
grande e a empresa só começará a pagá-lo, quando
estiver gerando receita.
O excedente de energia será vendido para a
CPFL, através de um contrato de 10 anos, com o
preço pré-fixado, cujo valor não foi revelado, devido
a cláusulas de contrato. O prazo de 10 anos foi
essencial para o investimento feito pela usina. Eles
esperam ter retorno entre 8 a 10 anos.
Além da utilização para geração de energia,
de 20 a 40 mil toneladas do bagaço (cerca de 5 % do
total) são vendidos para uma empresa de suco de
laranja da região, a R$ 36,00 a tonelada, o que torna
essa venda muito vantajosa, até melhor que a venda
de energia de co-geração.
A usina cita a utilização da palha como
uma boa possibilidade para aumentar a co-geração
de energia. Acompanha experimentos da Copersucar
e entende que o uso da palha possibilitaria a geração
da energia o ano todo.
USINA E
A usina E, que tem uma área de cana de
67.000 hectares, e está entre a primeira e a décima
usina em termos de moagem de cana/safra no estado
de São Paulo, através do bagaço da cana, gera 15,5
MW de energia, utilizados quase que totalmente pela
empresa. Essa geração de energia ocorre apenas
durante a safra.
A usina foi a primeira a colocar excedente
de energia para venda, em 1987. Atualmente, existe
um potencial para sobra de energia de 3,5 MW,
sendo que o excedente vendido varia ano a ano. Em
2000, foi vendido de 0,5 a 1 MW e, em 2001, foram
vendidos 3,5 MW. Para 2002, espera-se vender
muito pouca energia excedente e sua participação na
receita será desprezível. Os investimentos para
geração de energia foram realizados com capital
próprio.
A usina possui projetos, que indicam um
potencial de geração de 150 MW. Analisaram várias
propostas para concretizarem os investimentos e
aproveitarem esse potencial, mas não acharam
nenhum viável e interessante, até o presente
momento.
Consideram que, hoje em dia, o
investimento em novos equipamentos, com recursos
do BNDES, só seria interessante se fosse necessária
a renovação dos equipamentos existentes. Ou seja,
aproveitar o momento e os recursos públicos
disponíveis, para substituir equipamentos em fim de
vida útil. Apenas as condições existentes no
mercado de energia não estimulam novos
investimentos.
A empresa possui um contrato de longo
prazo com a CPFL, que compra a energia da usina,
num total de até 5 MW. Os preços pagos são
calculados em contratos anuais, sendo que em anos
anteriores esse valor era fixo e, em 2002, passou a
vigorar o preço do MAE (Mercado de Atacado de
Energia).
Também possui um outro contrato com a
CPFL, que garante para usina uma energia
suplementar, caso ocorra algum problema na energia
produzida pela própria empresa, mantendo-se assim
em paralelo com a rede da CPFL.
O bagaço, além da utilização para geração
de energia, é vendido para uma empresa de suco de
laranja da região, ao preço de R$ 36,00 a tonelada, o
que torna essa venda um bom negócio.
Alguns investimentos fizeram com que se
melhorasse o aproveitamento do bagaço na queima,
sendo que, na safra 2002, vem sobrando 1.500
toneladas por dia, o que equivale a 15% do total de
bagaço. Em 2001 ,essa sobra era de 7%.
Existem estudos, que começaram há 6
anos, para utilização da palha na geração de energia.
Analisaram-se as vantagens e desvantagens de
deixar a palha no campo ou não. Estima-se que o
custo do transporte da palha da lavoura para a usina
seja de R$ 20,00 a tonelada. Neste caso, só
compensaria utilizar a palha para geração de energia
com um valor de MW acima do atualmente pago
pela CPFL.
CONCLUSÕES
A geração de energia através do bagaço de
cana é realizada desde longa data pelas usinas.
Atualmente, a venda do excedente de energia se
tornou uma nova forma das empresas aumentarem
suas receitas, embora, como o estudo constata, em
porcentagens muito pequenas.
Verifica-se que as usinas estão muito
reticentes quanto à realização de investimentos para
maior aproveitamento do potencial de co-geração de
energia. Algumas usinas aderiram a implantação de
projetos de co-geração de energia com “segundas
intenções”, aproveitando as condições oferecidas
pelo BNDES, como amortização em até 10 anos e
taxas de juros relativamente baixas, para renovar
suas plantas industriais em fim de vida útil.
Embora as condições de financiamento
apresentadas pelo BNDES sejam favoráveis,
observa-se grande burocracia para aprovação dos
projetos, o que acaba desencorajando algumas
empresas em sua implantação.
Ficaram evidenciadas as dificuldades na
comercialização da energia com a concessionária da
região de estudo. No ano de 2001, a concessionária
adquiria toda energia disponibilizada pelas usinas.
Em 2002, com atenuação na crise de energia, a
concessionária não se compromete mais a comprar a
energia do setor sucroalcooleiro, com exceção das
usinas que fizeram contratos longos de
fornecimento.
Sabe-se que o uso da palha aumentaria
consideravelmente a capacidade de geração de
energia do setor sucroalcooleiro. Entretanto, na
prática, isto ainda não se viabiliza.
O bagaço, além do uso para geração de
energia, vem sendo destinado a outras finalidades,
especialmente a venda para empresas de suco da
região, que o utilizam para fornecimento de energia
térmica. Essa venda mostra-se mais vantajosa que a
comercialização da energia excedente.
Após um período de euforia, em 2001,
quando a co-geração pareceu ser um negócio muito
promissor para as empresas sucroalcooleiras, o ano
de 2002 revelou uma nova realidade. A atenuação da
crise energética fez com que o interesse pela energia
do bagaço da cana diminuísse e as expectativas que
se tem para os próximos anos são desfavoráveis.
Sabe-se do grande potencial de aumento do
fornecimento
de
energia
pelas
indústrias
sucroalcooleiras para outras atividades econômicas
ou mesmo para o consumo domiciliar. Alguns
projetos das usinas pesquisadas confirmam isso, em
que se revela que se pode gerar muito mais energia
do que ocorre atualmente, ainda mais se o palhiço
for aproveitado.
Entretanto, as evidências deste estudo não
permitem confirmar que a geração de energia,
através do bagaço de cana, venha a ocupar um papel
mais importante que o atual na receita das empresas
sucroalcooleiras nem na matriz energética brasileira.
Mantidas as atuais condições, ela continuará sendo
utilizada para as necessidades próprias das empresas
sucroalcooleiras e marginalmente para o restante da
economia e da sociedade.
LITERATURA CITADA
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Download

a geração de energia como opção de diversificação produtiva da