O Confinador
ARROBA CONFINADA
O custo e o benefício da produção de 1@ em confinamento de bovinos de corte
O
sistema de confinamento de bovinos de corte é tido por técnicos
e produtores rurais como sendo a
etapa de maior custo dentro de todas as
fases de produção de bovinos de corte
no Brasil.
O custo de produção de um boi confinado, tomando como exemplo os valores
em reais de maio de 2013, ficou, na média,
em torno de R$ 5,00/dia, que, multiplicado por 90 dias, tempo médio necessário
para terminar um boi em confinamento
no Brasil, determinou um custo total de
R$ 450,00/animal/confinado, conforme
explicitado no exemplo a seguir.
Ressalta-se que o custo total inclui todos os fixos e variáveis envolvidos com a
atividade, como custos operacionais, depreciações das instalações, alimentação
e mão de obra, variações regionais e até
mesmo aquelas entre confinamentos de
uma mesma região se fazem presentes.
Contabilizar todos os custos do confinamento por meio de processos de
registros contábeis é fundamental para
o produtor rural conhecer o custo de
produção de uma arroba, e assim obter
condições de tomar decisões racionais
sobre a adoção ou não da técnica em sua
propriedade rural.
A coleta e o registro dos dados, e também a elaboração de relatórios gerenciais
por meio de mão de obra capacitada, fazse necessário para o estabelecimento do
custo de produção de uma arroba, sendo
este o melhor caminho para o produtor
estabelecer uma gestão financeira eficiente da atividade e, assim, tomar decisões assertivas.
Com relação aos custos do confinamento, depois do capital imobilizado
com a aquisição do animal, a alimentação é o item de maior custo, e, por esta
razão, deve ser dada atenção especial no
momento da compra dos ingredientes,
respeitando a sazonalidade, para, dessa
forma, otimizar o balanceamento e ela-
Divulgação
Marcos Sampaio Baruselli*
REVISTA AG - 31
O Confinador
Tabela 1 - Exemplo hipotético de balanceamento de ração de bovinos de corte
confinados, incluindo quantidade de ingredientes (kg/cabeça/dia), R$/kg dos
ingredientes, porcentagem de cada ingrediente na ração e custo/bovino/dia (em R$)
Ingredientes
kg/cabeça/dia
R$/kg ingrediente
%
Custo/bovino/dia (R$)
Milho
4,90
0,37
40,1
1,81
Polpa cítrica
1,85
0,33
15,1
0,61
Farelo de amendoim
0,68
0,72
5,6
0,49
Casca de soja
0,95
0,38
7,8
0,36
Glutem de milho
1,10
0,55
9,0
0,61
Bagaço de cana
2,50
0,07
20,5
0,18
Fosbovi confinamento plus
0,14
2,50
1,1
0,35
Ureia
0,10
1,35
0,8
0,14
Total
12,22 kg
R$ 0,37/kg
100%
R$ 4,55/dia
Nota: Peso vivo médio: 440 kg; custo operacional/boi/dia: R$ 0,50; Custo total/boi/dia: R$ 5,05; Custo total/boi/
período de 90 dias: R$ 454,50.
borar uma ração com custo mínimo e
desempenho máximo.
Um exemplo hipotético de balanceamento de ração, tendo como base
o estado de São Paulo, encontra-se na
tabela 1.
Nota-se que o custo por dia com a
alimentação de um bovino de 440 kg de
peso vivo foi de R$ 4,55, que, somados
aos custos operacionais, estimados no
exemplo como sendo de R$ 0,50, geraram um custo total por animal confinado
de R$ 5,05/dia.
A tabela 1 demostra de maneira
bastante prática as informações que o
produtor deve conhecer e contabilizar
para, num primeiro momento, calcular o
custo por bovino/dia em um sistema de
confinamento. São elas: ingredientes da
ração, balanceamento da ração, em kg e
em porcentagem; quantidade de ingrediente por bovino por dia; custo por kg
de ingrediente, custo operacional e custo
por bovino por dia com alimentação.
Tabela 2 - Receitas diretas, em arrobas e em
reais/bovino, advindas do sistema de produção
de bovinos de corte confinados
Peso vivo inicial: 370 kg
Peso vivo inicial (em arrobas): 12,33 @
Ganho de peso diário: 1,55 kg
Rendimento de carcaça: 54%
Peso vivo final: 510 kg
Peso vivo final (em arrobas): 18,36 @
Ganho em arrobas: 6,03 @
Receita direta (*): R$ 609,03
(*) Considerando-se 1 arroba = R$ 101,00 (preço futuro da arroba
bovina em outubro de 2013; CEPEA, 2013).
32 - JULHO 2013
Uma vez contabilizado o custo total,
o produtor rural pode calcular com mais
exatidão a receita advinda do confinamento. As receitas do sistema de confinamento de bovinos de corte podem
ser classificadas como sendo diretas e
indiretas. A receita direta é proveniente
da relação entre o custo de produzir uma
arroba e a receita obtida com a venda
desta mesma arroba. As receitas indiretas, mais difíceis de calcular, mas não
menos importantes, incluem antecipação
de capital, redução da pressão de pastejo
na época da seca, valorização da arroba
na entressafra, maior giro de capital, liberação de áreas de pastagens para outras categorias animais, aumento da taxa
de lotação da propriedade rural, produção e comercialização de esterco bovino
produzido nos currais de confinamento,
entre outros inúmeros benefícios econômicos advindos da prática de confinar
bovinos que o produtor rural deve levar
em conta e transformar em receita.
Seguindo o exemplo da tabela 1, em
que a ração foi formulada estimando um
ganho de peso médio de 1,55 kg/animal/
dia, o peso inicial e final como sendo de
370 e 510, respectivamente, tem-se um
ganho de 6,03 arrobas por bovino confinado num período de 90 dias, ou R$
609,03, conforme expresso na tabela 2.
Logo, a receita obtida com o confinamento, considerando-se apenas a re-
Tabela 3 - Mensurações do consumo de matéria seca/
bovino/dia, da quantidade de matéria seca por arroba
produzida, da conversão alimentar (Kg MS/Kg Ganho
de Peso) e o cálculo do custo de uma arroba produzida
no confinamento de bovinos de corte
Consumo de matéria seca/bovino/dia
9,86 kg
Consumo de MS, expresso em % do peso vivo
2,24%
Kg de matéria seca/arroba produzida
147,40 kg
Conversão alimentar (Kg MS/Kg GP)
6,36
Custo da arroba produzida
R$ 75,49
ceita direta, foi de R$ 154,53 por bovino
confinado num período de 90 dias. Lembrando que a receita direta foi calculada
como sendo o total direto obtido com o
resultado da venda de 6,03 arrobas (R$
609,03) menos o total dos custos por bovino confinado (R$ 454,50).
Como visto no exemplo acima, o
cálculo da receita do confinamento de
bovinos de corte está altamente correlacionado não somente com o ganho de
peso diário do bovino, mas também com
a conversão alimentar do animal, isto
é, com a quantidade de kg de alimentos ingeridos em forma de matéria seca
para promover 1 kg de ganho de peso,
no qual vale lembrar que quanto melhor
a eficiência biológica do animal, maior
a rentabilidade do sistema. A eficiência
biológica também pode ser expressa pela
quantidade em kg de matéria seca consumida para engordar uma arroba, conforme expresso na tabela 3.
Assim, não somente o ganho de
peso, mas também outros importantes
conceitos zootécnicos, como eficiência
biológica e conversão alimentar, ganham
importância econômica de destaque no
confinamento de bovinos de corte.
Sugere-se ao produtor rural uma coleta de dados zootécnicos que incluam
não somente o ganho de peso, mas também a quantidade de matéria seca consumida (em kg/bovino/dia), o consumo
diário de alimentos (em porcentagem do
peso vivo), a quantidade de matéria seca
consumida para cada arroba produzida,
a conversão alimentar e, por fim, o custo
da arroba produzida.
Seguindo o exemplo acima, têm-se
na tabela 3 as informações complementares necessárias para estabelecer um eficiente controle dos custos e das receitas
advindas do sistema de confinamento de
bovinos de corte, incluindo o cálculo do
custo da arroba produzida.
Nota-se, portanto, na tabela 3, que
o custo da arroba produzida no sistema
de confinamento de bovinos de corte,
com base nos números utilizados neste
artigo, ficou estabelecido como sendo
de R$ 75,49, ficando bem abaixo do valor de mercado da arroba bovina para o
mesmo período.
Conclui-se que o confinamento de
bovinos de corte pode ser uma estratégia de engorda de bovinos eficiente do
ponto de vista econômico, sendo capaz
de agregar valor e gerar receita ao produtor rural.
Ressalta-se que esta intensificação da
pecuária de corte por meio do confinamento é capaz de aumentar a escala de
produção das propriedades rurais (produção de arrobas/ha/ano), o giro de capital e as margens de lucro da atividade
pecuária, tornando-a competitiva frente
a outras atividades. Com esta produtividade aumentada, estaremos diluindo
cada vez mais os custos de produção na
pecuária de corte e aumentando a receita
do produtor rural.
Baruselli é zootecnista,
coordenador Nacional de Bovinos de Corte e
Confinamento da Tortuga – DSM
REVISTA AG - 33
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