NINGUÉM ABRE PORTAS AOS PORTEIROS
Leonardo Walendzus, 1°A
Mais um dia normal de trabalho para o “famoso” Ralf, porteiro de um dos condomínios da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde trabalha há muitos anos. Sempre muito educado, é adorado pelos empresários e médicos que ali moram, justamente pelo seu jeito alegre e simpático de ser. “Você é o cara, Sr. Ralf!”, “Bom dia, Sr. Ralf!”. Aliás, que continue assim. Afinal, ele é pago para ajudar as pessoas e recebe um ótimo salário para alguém que só não conseguiu um trabalho melhor pois não se esforçou o suficiente na excelente escola pública que ele frequentou na infância. Além disso, com esse alto salário é totalmente possível sustentar sua família inteira, garantindo saúde e educação para todos, entre outras coisas. Mas convenhamos que o trabalho dele nem é tão difícil, apenas tem a missão de ficar parado, abrindo as portas para aqueles que, em um ato de bondade, pagam seu salário. Agora voltando à realidade, o Ralf é o “cara” que precisa acordar às quatro da manhã em sua humilde casa na favela, descer o morro inteiro até chegar no ponto de ônibus que ele necessita para chegar ao trabalho. Ou seja, por dia o porteiro gasta R$2,75 para chegar no lugar onde trabalha. Após uma hora e meia, dentro do transporte “público” que as pessoas pagam para utilizar e que gera lucro para as empresas particulares, além de cheio, desce no ponto mais perto do trabalho, e, como se não bastasse, ainda precisa andar cerca de dois quilômetros a pé para chegar até o condomínio onde presta serviço. Um longo dia de trabalho muito cansativo passa para o porteiro, abrindo e fechando portas, com um enorme sorriso no rosto. Apesar de ficar “apenas” sentado em seu trabalho, Ralf também está parado na sua vida em si, ou seja, devido às suas condições, dificilmente conseguirá algo melhor para sua vida, como um melhor trabalho, moradia, saúde, etc. Então, voltando para sua casa, o porteiro precisa novamente andar os dois quilômetros e pegar de novo o ônibus, que demora mais de duas horas para chegar onde o pai de família, que mesmo não ficando quase nada com a família, ainda é pai de família, desce. Para piorar, o ônibus ainda está mais lotado do que na ida ao trabalho, pois é o momento em que os trabalhadores de menor renda se encontram, voltando juntos à suas casas no morro. O homem ainda precisa passar na escola para buscar os filhos (que o esperavam há mais de uma hora), para finalmente poder sentar no velho sofá de sua casa. Ou seja, para voltar a sua casa, gasta mais R$2,75. Pode não parecer muito dinheiro, para você. Porém, Ralf é o “cara” que ganha um salário mínino, de R$763,14 por mês, para sustentar, além de sua mulher, mais quatro filhos, e que gasta só de locomoção de ida e volta do seu trabalho, R$5,50 por dia, que dá cerca de R$137,50 por mês, ou seja, sobra apenas R$625,64 para ser gasto por toda a família. Não! Esse dinheiro não depende do esforço dele quando ainda estava na escola, mas sim da péssima qualidade no ensino das escolas públicas no Brasil. E não, ele não é suficiente para sustentar sua família inteira. Enquanto os “bondosos” que pagam seu salário têm dinheiro para viajar para a Disney e para a Europa, Ralf sofre para pagar a “viagem” até seu trabalho. E quem sabe um dia os “bondosos” não chamam Ralf para trabalhar em algo que dê mais dinheiro (um aumento de R$100, talvez). Porém é melhor não esperar, pois apesar de eles passarem o dia abrindo portas, ninguém abre novas portas aos porteiros. 
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Leonardo Walendzus, 1°A