Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (SESAB)
Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVEP)
No mundo, as causas externas vem sendo
apontadas como uma das principais causas
de morte, estando em constante crescimento.
No Brasil representam a terceira causa mais
frequente de morte se constituindo, portanto,
um grande problema de saúde pública com
um custo bastante elevado devido a alta taxa
de ocupação de leitos nas unidades de saúde
do SUS. Essa ocupação se deve, sobretudo,
aos acidentes de trânsito, notadamente o
incremento dos causados por acidentes com
motos e os consequentes tratamentos de
reabilitação. Além disso, é considerável o
impacto socioeconômico devido a perda de
vidas de adultos jovens em idade produtiva,
faixa em que as estatísticas apontam maiores
coeficientes de mortes por acidentes e
violências. Configura-se, portanto, como um
grande desafio aos gestores de políticas
públicas, especialmente do setor saúde.
No estado da Bahia, em 2010, as causas
externas representaram a primeira causa de
morte, com um coeficiente de mortalidade de
89,2 óbitos por 100 mil habitantes. A análise
dos óbitos por sexo aponta um coeficiente de
mortalidade para o sexo masculino de 151,0
óbitos/100 mil homens e para o feminino de
24,7 óbitos/100 mil mulheres. Em termos
proporcionais, representa 23,2% dos óbitos
ocorridos no sexo masculino, ou seja,
proporcionalmente as outras causas é a
primeira causa de mortalidade, e a sexta
causa de mortes
(5,6%) entre o sexo
feminino.
Os homicídios ocuparam o primeiro lugar
(44,7%),
seguidos
por
acidentes
de
transportes 19,5%), eventos cuja intenção é
indeterminada (18,4%)
e outras causas
externas de lesões acidentais (13,5).
junho/2013
As causas externas compreendem os eventos
relacionados aos acidentes e violências.
Entende-se por Acidentes aqueles eventos
não
intencionais
como
quedas,
envenenamentos, intoxicações, afogamentos,
acidentes relacionados ao trânsito, dente
outros, enquanto as Violências são eventos de
natureza
intencional
(violência
física,
psicológica, sexual, institucional por homofobia,
suicídios), incluindo aquelas decorrentes de
intervenções legais.
Esse boletim traz uma análise da situação da
morbimortalidade por causas externas, no
estado da Bahia, em 2010, com destaque para
a violência doméstica e sexual, no período de
2009 a 2012. As fontes dos dados para as
causas externas foram MS/DATASUS/SIM,
IDB, SESAB/SIM/DIS, e para a violênci
adoméstica/sexua lSESAB/DIS/VIVA.
50,0
45,0
40,0
35,0
30,0
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
Figura 1. Distribuição proporcional de óbitos por causa
externa.Bahia, 2010.
A concentração das violências é mais evidente em áreas urbanas onde ocorre a maior proporção
dos óbitos e a maioria das mortes violentas e acidentais ocorrem entre moradores dos bairros mais
pobres dos municípios com população acima de 50 mil habitantes, com IDH alto, alta renda per
capita e Gini alto (=grande desigualdade). Entretanto novos estudos já apontam para a”
interiorização da violência” e para a sua disseminação. Entre os municípios do estado da Bahia,
Porto Seguro apresenta a maior taxa de mortalidade por causas externas com 127,6/100 mil
habitantes, seguido por Teixeira de Freitas (115,6/100 mil), Itabuna (108,1/100 mil), Camaçari
(103,9/100 mil), e Salvador que ocupou o 5º lugar com a taxa de 103,7/100 mil habitantes no ano de
2010 (Figura 2).
47,57
Valença
Jequié
SUL
80,71
44,75
66,22
77,57
Itabuna
SUDOESTE
Ilhéus
40,77
Itapetinga
Brum ado
33,35
Santa Maria da Vitória
32,53
NORTE
46,69
52,03
35,27
44,26
50,20
37,64
34,32
53,23
52,42
Ibotiram a
Barreiras
Senhor do Bonfim
Paulo Afonso
LESTE NORDESTE
92,99
59,84
39,78
49,69
Guanam bi
82,33
63,33
64,94
Juazeiro
33,93
Ribeira do Pom bal
55,72
60,35
Alagoinhas
46,41
Santo Antônio de Jesus
40,78
87,90
71,22
77,93
Salvador
Cruz das Alm as
82,54
Cam açari
EXT
REMOSUL
103,90
79,51
115,59
86,92
Porto Seguro
43,04
Jacobina
CENTRO-LESTE
103,76
55,07
Teixeira de Freitas
38,84
Irecê
34,31
Serrinha
33,26
Seabra
taberaba
Feira de Santana
TX2010
95,60
54,54
Vitória da Conquista
0,00
108,11
67,64
20,00
127,60
64,03
53,33
49,69
48,91
44,83
55,17
59,21
40,00
60,00
97,15
80,00 100,00 120,00 140,00
MÉDIA DA TAXA 1996-2010
Figura 2. Taxas de Mortalidade por Causas Externas segundo municípios do estado da
Bahia e Macrorregiões de Saúde, 2010.
Homicídios
Bahia representa o 4º estado brasileiro com a maior taxa de mortalidade por homicídios
41,5/100 mil habitantes. A incidência dos óbitos ocorre mais entre os homens na faixa etária
de 14 a 29 anos de idade, da cor negra.
2
Acidentes de Transportes.
Representam uma das principais causas de mortes no pais, com um coeficiente de mortalidade de
23,0/100 mil habitantes. Esse coeficiente na Bahia foi de 20,1/100 mil habitantes. Nesse período no
estado, foram verificados 2.649 ocorrências de óbitos associados a esses acidentes, desses, 82,8%
foram relacionados ao sexo masculino na faixa etária de 20 a 39 anos de idade, perfil semelhante ao
encontrado para o Brasil. No sexo feminino a maior incidência também ocorreu nessa faixa etária
(Figura 3).
Figura 3. Distribuição proporcional de óbitos por acidentes de transportes, sexo e faixa
etária, Bahia, 2010.
Chama-se atenção para os eventos relacionados aos acidentes com motos, uma vez que os
motociclistas são as maiores vítimas desses agravos, observando-se uma alta proporção de mortes,
principalmente as relacionadas ao sexo masculino. Esses eventos também são as principais causas
de internação por acidentes de transportes terrestres, apresentando uma frequência de 46,0%
enquanto os agravos relacionados as causas externas em geral corresponderam a 6ª causa de
internação entre os homens (13,3%), entre as mulheres, a 8ª causa (3,1%).
Eventos Indeterminados e Outras Causas Externas de Lesões Acidentais
Os eventos cuja intenção não foi identificada totalizaram 18,4% e representaram a 3 ª causa de
mortes no estado. Quanto às demais causas de lesões acidentais observou-se que a maior
frequência ocorreu com os óbitos relacionados a afogamentos (30,4%) e quedas (28,2%)
(Figura 4).
35,0
30,0
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
30,4
28,2
12,1
9,5
6,4
5,2
4,7
1,5
1,4
0,3
0,3
0,1
Figura 4. Distribuição proporcional de óbitos por residência e demais causas externas, Bahia,
2010.
Suicídios
No estado da Bahia ocorreram 432 casos de óbitos relacionados à suicídios no ano de 2010, a
taxa de mortalidade do estado é de 3,1/100 mil habitantes. Também em relação a esse agravo
predominou o sexo masculino com 339 mortes ou seja, 78% dos casos notificados, com maior
concentração entre 20 e 29 anos de idade, o mesmo ocorrendo no sexo feminino. As taxas de
mortalidade por suicídio, para os sexos masculino e feminino foram, respectivamente, 4,9 e 1,3/100
mil habitantes (Figura 5).
Figura 5. Distribuição proporcional de óbitos, sexo e faixa etária de suicídios. Bahia,
2010.
Violência doméstica/ e sexual na Bahia, 2009 a 2012
A violência doméstica ou Intrafamiliar é toda ação ou omissão que prejudique o bem estar a
integridade física , psicológica, ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de um membro
da família . Pode acontecer no lar (doméstica) ou fora dele (Intrafamiliar) por qualquer integrante da
família que esteja em relação de poder com a pessoa agredida, As maiores vítimas desse tipo de
violência são as mulheres, crianças, adolescentes, idosos, e pessoas portadoras de deficiência.
Em caso de suspeita ou confirmação de violência contra criança e adolescentes , a notificação deve
ser obrigatória e dirigida aos Conselhos Tutelares e/ou autoridades competentes, de acordo com o
artigo 13 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Também são considerados de notificação
compulsória os casos de violência contra a Mulher Decreto Lei 5099 de 03/06/2004 e os maus
tratos contra a pessoa idosa, artigo 19, Lei 10741 de 2003.
Diante da magnitude do problema e do impacto que causa na população atingindo principalmente
pessoas consideradas mais frágeis, e, ainda, atendendo a legislação vigente, apresentamos a
seguir os principais resultados encontrados referentes à esses agravos.
Nesse período, 210 municípios realizaram a notificação dos casos de maus tratos através do
sistema VIVA/SINANNET. Destacaram-se os municípios de Salvador (50,1%), Feira de Santana
(10,1%) Vitória da Conquista (8,9%), Jequié (3,5%) e Barreiras (2,7%) com a maior proporção
dos casos . A maioria das pessoas que sofreram maus tratos eram solteiras, 44,1% homens e
38,5% mulheres. Observa-se que o sexo feminino foi o mais atingido com destaque para a
Violência Física (74,2%), Psicológica (27,6%), e Sexual (13,6%) (Figura 6 ).
80,0
74,2
60,0
40,0
20,0
27,6
13,6
4,1
0,3
0,1
1,6
2,4
4,9
0,1
0,0
MASC
FEM
Figura 6. Distribuição proporcional de casos de violência doméstica e/ou
sexual registrados pelos municípios do estado da Bahia, 2009 a 2012.
Dos atendimentos realizados na rede de saúde do SUS, 6,3% dos casos atendidos, possuíam
algum tipo de deficiência: 7,2% dos homens e 5,9% das mulheres. A maior proporção ocorreu na
residência das vítimas para ambos os sexos (19,8% dos homens) 38,5, % das mulheres). Quanto
a faixa etária a maior proporção no sexo feminino ocorreu entre 20 a 29 anos ( 28,0%) e para o
sexo masculino entre 10 a 19 anos (53%) (Figura 7).
Para os quesitos raça/cor e escolaridade a mais declarada foi a cor parda para ambos os sexos
(30,6%) e escolaridade entre 5ª a 8ª série do ensino fundamental (8,5). O meio de agressão mais
utilizado foi a força corporal para ambos os sexos, seguido pela utilização de armas de fogo para
o sexo masculino (25%) entretanto, para as mulheres as ameaças representaram a principal
causa (17,5%). O principal agressor relatado pelas mulheres foi o cônjuge (15,1%), e para os
homens pessoas conhecidas (11,8%). A maioria das vítimas do sexo masculino foi encaminhada
para o Conselho Tutelar (12.3%) e do sexo feminino para a Delegacia de Atenção a Mulher
(12,3%).
Foram internadas em unidades hospitalares, 8.381 pessoas, sendo 59% de homens e 44,2% de
.
mulheres.
Nesse período, foram contabilizados 408 óbitos, sendo 288 de homens (4,6%) e 120 de
mulheres (1,1%).
60,00
53,00
50,00
40,00
28,0
30,00
23,5
20,00
12,24
8,1
10,00
Mas
21,9
Fem
11,41
6,96
10,0
8,18
3,90
2,10 3,7 3,0
30 a
39
40 a
49
2,21
1,8
0,00
<1
ano
1a9
10 a
19
20 a
29
50 a
59
>60
Figura 7. Distribuição proporcional da violência doméstica e/ou sexual
segundo sexo e faixa etária registrados pelos municípios do estado da Bahia,
2009 a 2012.
Violência Sexual
A violência sexual destaca-se entre os diversas tipos de violência por apresentar significativa
dimensão epidemiológica demonstrado através de resultados divulgados pelo Ministério da
Saúde. Esse tipo de violência assume uma das formas mais cruéis uma vez que pode deixar
marcas profundas e representam uma das principais causas de morbidade e mortalidade.
Normalmente, esse tipo de violência vêm associada à outras manifestações principalmente, à
violência física e a psicológica.
Figura 8. Distribuição proporcional da
violência sexual por sexo e faixa
etária.Bahia, 2009 a 2012.
Ciomara Martins Lima Rocha
Marcia São Pedro
Vigilância das Causas
Externas
Ana de Fátima
Nunes
CODANT
Outros
Indústrias/…
Comércio/…
Via pública
Bar ou…
Local de…
>60
45-49
40-44
35-39
30-34
25-29
20-24
15-19
10 a 14
5a9
1a4
< 1 Ano
Fem
Escola
Mas
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
Residencia
40,0
35,0
30,0
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
Habitação…
No período de 2009 a 2012, foram notificados 1655 casos de abusos sexuais (9,9%). Desses, a
maior frequência ocorreu entre as mulheres (13,6%), na faixa etária entre 10 a 19 anos de idade
com 39,5% dos eventos. Com relação aos meninos a maior ocorrência foi verificada entre 1 a 9
anos com uma proporção de 61,9% dos casos registrados Figura 5.
A residência (55,8%) foi o local mais informado por ambas as vítimas para os casos de abusos,
seguido por vias públicas (Figura 8).
Figura 9. Distribuição proporcional da
violência sexual por sexo e faixa
etária.Bahia, 2009 a 2012
Colaboração
Maria Eunice Kalil
Francisco Santana
Observatório de Violência
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