Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio
Secretaria Executiva
Liberação Comercial Sojas A2704-12 e A5547-127
Processo: 01200.001864/2009-00
Pleito: Liberação Comercial
Requerente: Monsanto do Brasil Ltda
Proposta: Liberação comercial de soja geneticamente modificada resistente a insetos e
tolerante ao glufosinato de amônio Evento MON 87701 x MON 89788
PARECER CONSOLIDADO
Este parecer reúne a opinião técnica dos relatores designados para a análise da
biossegurança do evento piramidado ‘MON 87701 x MON 89788’, excetuando-se as questões
de segurança ligadas à saúde humana e animal que serão analisadas pelas sub-setoriais humana e
animal da CTBio.
Os eventos MON 87701 e MON 89788 foram combinados por melhoramento genético
clássico dando origem a uma soja que é resistente a insetos e tolerante a herbicida. Esta soja GM
tem proteção contra o ataque de lepidópteros primários, ou seja, a lagarta da soja (Anticarsia
gemmatalis ) e a falsa medideira (Pseudoplusia includens e também contra algumas pragas
secundárias, como a broca das axilas (Crocidosema aporema) e a lagarta falsa medideira
(Rachiplusia nu); além disso, é tolerante ao herbicida glifosato.
A síntese da proteína inseticida (Cry1Ac) na soja GM se deve à introdução no genitor
MON 87701 do gene bacteriano cry1Ac, dirigido pelo promotor da RbsS4 que induz a expressão
gênica em partes aéreas da planta. Já a tolerância ao glifosato se deve a síntese da proteína
exógena CP4 EPSPS no genitor MON 89788, que recebeu o gene cp4 epsps derivado de
Agrobacterium sp., cepa CP4, dirigido pelo promotor FMV (Vírus do Mosaico da Escrofulária).
A transformação genética foi mediada por Agrobacterium tumefaciens nos dois casos e os
cassetes foram introduzidos por transformação de meristemas, diretamente, sem passar por um
processo de desdiferenciação e regeneração. Importante lembrar que os modos de ação e as vias
de síntese dessas proteínas exógenas ocorrem em organelas celulares distintas.
Os resultados da caracterização molecular do evento piramidado MON 87701 x MON
89788, objeto da presente análise, confirmam a inserção de uma cópia funcional do cassete que
contém o gene cry1Ac em um único loco genômico. A estabilidade deste loco havia sido
avaliada em 5 gerações de cruzamento no genitor MON 87701, sendo que no evento piramidado
não se observou qualquer alteração fenotípica ou rearranjo. No Brasil, ensaios mostraram que os
níveis médios da proteína inseticida não variaram substancialmente entre o evento único e o
piramidado considerando cada uma das partes da planta avaliadas – forragem, tecidos de folha e
grãos - e os quatro locais de coleta, em duas safras 07/08 e 08/09.
SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10
Brasília , DF – CEP: 70610-200
Fones: (55)(61) 3411 ?(ramal de sua setorial) – FAX: (55)(61) 3317 ?(ramal de sua setorial)
N/C: _________________
1
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio
Secretaria Executiva
Liberação Comercial Sojas A2704-12 e A5547-127
Da mesma forma, a caracterização molecular do evento piramidado MON 87701 x MON
89788 confirmam a inserção de uma cópia do cassete funcional e intacto do gene cp4 epsps em
um único loco genômico, sendo que no evento piramidado não se observou qualquer alteração
fenotípica ou rearranjo. Também, os níveis médios da proteína exógena não variaram
substancialmente entre o evento único e o piramidado considerando cada uma das partes da
planta avaliadas e os quatro locais de coleta, em duas safras 07/08 e 08/09.
Seguem-se dois quadros que sumarizam as construções empregadas nas transformações
genéticas:
SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10
Brasília , DF – CEP: 70610-200
Fones: (55)(61) 3411 ?(ramal de sua setorial) – FAX: (55)(61) 3317 ?(ramal de sua setorial)
N/C: _________________
2
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio
Secretaria Executiva
Liberação Comercial Sojas A2704-12 e A5547-127
Cabe ressaltar que a empresa apresenta detalhadamente - em cerca de 20 páginas – todas
as informações moleculares sobre os elementos genéticos presentes nos plasmídeos usados na
transformação de cada evento individual. Exemplificando, são detalhados os mapas de restrição
dos plasmídeos, os cassetes de expressão e elementos regulatórios com os respectivos tamanhos
e função, seqüências intermediárias usadas na clonagem, peptídeo de trânsito usado para dirigir a
CP4 EPSPS para o cloroplasto, no caso da soja MON 89788, bem como as seqüências de
aminoácidos das proteínas exógenas expressas em cada evento.
Igualmente, a empresa apresenta o mapa linear do inserto (contendo os elementos
regulatórios) e das regiões flanqueadoras no genoma da soja para cada um dos eventos
individuais, assim como os sítios das enzimas de restrição usadas nas análises de Southern blot;
todas as figuras mostrando os resultados da hibridização molecular são coerentes com a presença
de um loco exógeno em ambos os eventos e com a ausência de matrizes plasmidiais. Também, as
seqüências de bases do inserto e das seqüências genômicas adjacentes são apresentadas para cada
evento; os géis de amplificação (via PCR) mostram que o inserto está de fato flanqueado por
seqüências nativas da soja.
No que se refere aos estudos de expressão, as proteínas Cry1Ac e CP4 EPSPS foram
produzidas e purificadas em Escherichia coli e as suas propriedades físico-químicas bem como
SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10
Brasília , DF – CEP: 70610-200
Fones: (55)(61) 3411 ?(ramal de sua setorial) – FAX: (55)(61) 3317 ?(ramal de sua setorial)
N/C: _________________
3
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio
Secretaria Executiva
Liberação Comercial Sojas A2704-12 e A5547-127
suas atividades funcionais foram comparadas com aquelas das proteínas Cry1Ac e CP4 EPSPS
isoladas de cada um dos respectivos genitores. Os testes realizados foram:
(i) Análise da seqüência N-terminal; (ii) MALDI-TOF MS para identificação da proteína
por mapeamento de petídeos; (iii) Western blot com anticorpos específicos para demonstrar a
imunorreatividade da proteína Cry1Ac e da CP4 EPSPS; (iv) SDS-PAGE para demonstrar o peso
molecular; (v) Análises da glicosilação para estabelecer a equivalência da proteína produzida na
planta e na bactéria. (vi) Bioensaios com insetos no caso da Cry1Ac. Os resultados indicam
haver equivalência entre a proteína produzida em E. coli e nas plantas geneticamente
modificadas.
Também, os níveis de expressão das proteínas exógenas em tecidos (raízes, grãos,
forragem e polens/anteras) da soja MON 87701 x MON 89788 foram avaliados por ELISA. Os
testes demonstram que os níveis médios da proteína CryAc e da proteína CP4 EPSPS foram os
mesmos daqueles expressos no genitor MON 87701e MON 89788, respectivamente. Estes testes
foram realizados coletando-se tecidos das sojas plantadas em cinco locais nos EUA, na safra
2007.
Essas mesmas análises foram conduzidas no Brasil em duas safras, 2007/2008 e
2008/2009, e as conclusões foram de que há equivalência entre os níveis de expressão das
proteínas exógenas quando se comparam os eventos individuais e o evento com piramidado.
Nenhum efeito pleiotrópico foi observado no evento piramidado relativamente aos transgenes.
Ressalte-se que os estudos de expressão estão bem ilustrados e são detalhadamente relatados da
página 117 a 146 do processo sob análise.
Uma grande quantidade de informações foi gerada em ensaios de campo conduzidos nos
EUA sobre o desempenho dos eventos genitores. No Brasil, a soja MON 87701 x MON 89788
foi avaliada em quatro locais, em duas safras. Tomaram-se dados de natureza agronômica, como
rendimento, maturação, altura e acamamento das plantas, porcentagem de óleo e proteína no
grão, assim como dados sobre germinação, vigor e dormência de sementes, adotando-se
cultivares comerciais como testemunhas. Exemplificando: são apresentadas tabelas - às folhas
198 do processo - contendo dados agronômicos coletados no Brasil na safra 2008/2009, em dois
ensaios. A amplitude dos dados de rendimento variou de 3481 a 4552 kg/ha no evento OGM
enquanto a da testemunha variou de 3239 a 3962 kg/ha. Os intervalos se sobrepõem já que o CV
do ensaio foi de 11,3%.
Seguem-se no processo várias informações sobre a avaliação de risco à saúde animal e
humana. Primeiramente, são apresentados os usos da soja – independente se OGM ou
convencional. Em seguida, as análises de composição nutricional dos tecidos de grãos e de
forragem derivados de ambas as sojas, isto é, MON 87701 e MON 89788 comparativamente às
SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10
Brasília , DF – CEP: 70610-200
Fones: (55)(61) 3411 ?(ramal de sua setorial) – FAX: (55)(61) 3317 ?(ramal de sua setorial)
N/C: _________________
4
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio
Secretaria Executiva
Liberação Comercial Sojas A2704-12 e A5547-127
cultivares não OGM de mesmo background genético, demonstrando haver equivalência
substancial de cada um dos OGM com a respectiva isolinha.
O texto apresentado a seguir, publicado no J. of Agriculture and Food Chemistry, n. 56.
p. 4611–4622, em 2008, resume as características da soja sob análise:
MON 87701 × MON 89788 is substantially equivalent to conventional soybean, except for its
lepidopteran protection and glyphosate tolerance traits, which are traits of agronomic interest. This
soybean was shown to be as safe and nutritious as conventional soybean. Therefore, MON 87701 ×
MON 89788 and its derived products will be stored, packaged, transported, used and handled in the
same manner as current commercial soybean. No specific conditions or instructions are required for
the placing on the market of MON 87701 × MON 89788 for import, processing, and use as or in
food and feed.
Os estudos de toxicidade relativos à proteína Cry1Ac são extensos e demonstram que ela
não causa danos a saúde humana e animal. Estes estudos referem-se a avaliações de
alergenicidade e toxicidade in silico - comparando-se seqüências protéicas depositadas em banco
de dados - toxicidade oral em camundongos, análises de composição de grãos e de forragem,
análise de ligação com IgE humana e estudo nutricional para avaliar o desempenho de frangos de
corte. Da mesma forma, a proteína CP4 EPSPS de Agrobacterium é similar às proteínas EPSPS
de outros organismos sendo é consumida em uma variedade de fontes alimentícias e rações. Esta
proteína não confere risco para o consumo humano e animal.
Finalmente, tenho a dizer que é vasta a quantidade de dados sobre a avaliação de risco ao
ambiente, incluindo estudos sobre fluxo gênico no Brasil, tomando-se o caso da soja Roundup
Ready® como exemplo, em três safras. Os dados relatados no processo são coerentes com os da
literatura que indicam haver uma taxa muito baixa de polinização cruzada entre plantas de soja,
resultando em probabilidades também baixas de disseminação do gene cp4 epsps.
Convém dizer que a soja MON 87701 tem uma aplicação limitada nos EUA já que as
lepidópteras-pragas não afetam substancialmente a cultura em todos os seus locais de cultivo
naquele país. A proposta é comercializá-la na America do Sul, especialmente no Brasil (veja:
http://www.gmobelus.com/news.php?viewStory=401). Devido a este fato - e seguindo as normas
da CTNBio - a presente análise foi feita de forma completa e não simplificada, embora outros
eventos contendo os mesmos genes já tenham sido liberados comercialmente no Brasil.
Por outro lado, a soja MON 89788 vem sendo utilizada na alimentação e cultivada no
meio ambiente desde 2007 nos EUA e Canadá e desde 2008 no Japão, sendo que vários outros
países a tem usado na alimentação humana e animal (veja Quadro apresentado a seguir) sem que
tenham sido observados quaisquer efeitos adversos a saúde humana, animal e ao meio ambiente
(AgBios, 2010).
SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10
Brasília , DF – CEP: 70610-200
Fones: (55)(61) 3411 ?(ramal de sua setorial) – FAX: (55)(61) 3317 ?(ramal de sua setorial)
N/C: _________________
5
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio
Secretaria Executiva
Liberação Comercial Sojas A2704-12 e A5547-127
Resumo das Aprovações da soja MON 89788:
País
Austrália
Canadá
China
União Européia
Japão
Coréia
México
Filipinas
Tailândia
Estados Unidos
Ambiente
Alimento e Ração
Animal
2008
2007
Alimento
Ração
2007
2007
2007
2009
2008
2009
2008
2008
2008
2008
2007
2007
2007
2007
A soja é uma espécie predominantemente autógama, cuja taxa de polinização cruzada em
ambiente de cerrado brasileiro, por exemplo, é de 0,45% a uma distância de 0,5 m; 0,14% em 1
m e ausência detectável a uma distância de 6,5 m. Trata-se de espécie exótica, sem parentes
silvestres sexualmente compatíveis no Brasil. É uma espécie com elevado grau de domesticação;
portanto, não há razões científicas para se prever a sobrevivência de plantas GM e não OGM fora
do ambiente agrícola. Além disso, na ausência de pressão seletiva (uso do herbicida e dos
inseticidas), a expressão dos genes inseridos não confere vantagem adaptativa.
Parecer Final do Relator
Liberação Comercial:
Analisando as características apresentadas pela soja MON 87701 x MON 89788 e
tomando como verdadeiras as inúmeras informações fornecidas pela empresa requerente, as
quais instruem adequadamente o processo, considero que esta soja não é potencialmente
causadora de significativa degradação ao ambiente ou a saúde animal e humana, podendo ser
liberada para a comercialização. Portanto, sou pelo deferimento da solicitação de liberação
comercial no Brasil.
Maria Lucia Carneiro Vieira
Membro da CTNBio
Em 13 de março de 2010
SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10
Brasília , DF – CEP: 70610-200
Fones: (55)(61) 3411 ?(ramal de sua setorial) – FAX: (55)(61) 3317 ?(ramal de sua setorial)
N/C: _________________
6
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio
Secretaria Executiva
Liberação Comercial Sojas A2704-12 e A5547-127
Observação final: sabe-se que uso indiscriminado de herbicidas inseticidas de mesmo princío
ativo lera ao aparecimento de plantas naturalmente resistentes. Por isso, cabe recomendar ao
produtor que o manejo das lavouras é indispensável, possibilitando o aumento da longevidade
desta tecnologia.
Literaura consultada
Abud, S.; Souza, P.I.M.; Moreira, C.T; Andrade, S.R.M.; Ulbrich, A.V.; Vianna, G.R.; Rech, E.
L.; Aragão, F.J.L. 2003. Dispersão de pólen em soja transgênica na região do Cerrado. Pesq.
Agropec. Bras., 38:1229-1235
AgBios: http://www.agbios.com/dbase.php?action=Submit&evidcode=MON89788. Acessado
em 13/03/2010
European Commission. 2008. Official Journal of the European Union 16.9.2008.
GMObelus: http://www.gmobelus.com/news.php?viewStory=401. Acessado em 13/03/2010.
Lundry, D.R.; Ridley, W.P.; Meyer, J.J. et al. 2008. composition of grain, forage, and processed
fractions from second-generation glyphosate-tolerant soybean, MON 89788, is equivalent to
that of conventional soybean (Glycine max L.). J. Agric. Food Chem., 56: 4611–4622. DOI:
10.1021/jf073087h
Owen, M.D.K. 2008. Weed species shifts in glyphosate-resistant crops. Pest Management
Science 64:377–387
Saha, S; Jenkins, J.N.; McCarty J.C. (2000). A novel strategy for general sustainability and
resistance management in pest and pathogen resistant crops. Journal of New Seeds 2: 53-61.
Tan, S.; Evans, R.; Singh, B. 2006. Herbicidal inhibitors of amino acid biosynthesis and
herbicide-tolerant crops. Amino Acids, 30: 195–204
Westhoven A.M.; Kruger G.R.; Gerber C.K.; Stachler J.M.; Loux M.M.; Johnson W.G. (2008).
Characterization of selected common lambsquarters (Chenopodium album) biotypes with
tolerance to glyphosate. Weed Science 56: 685-691.
SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10
Brasília , DF – CEP: 70610-200
Fones: (55)(61) 3411 ?(ramal de sua setorial) – FAX: (55)(61) 3317 ?(ramal de sua setorial)
N/C: _________________
7
Download

Clique aqui para fazer