Notas de Aula de ENT 115 – Manejo Integrado de Pragas Florestais
1
MANEJO INTEGRADO DE BESOUROS DESFOLHADOR ES
Os besouros desfolhadores constituem um grupo de grande importância florestal, pois
danificam as plantas na fase de mudas nos viveiros e no campo. Os danos advêm do comportamento
dos coleópteros de roerem as folhas, deixando-as rendilhadas, e às vezes somente as nervuras são
observadas; consomem preferencialmente as folhas novas, os brotos, ponteiros e partes apicais.
Esses insetos ocorrem preferenciamente na época chuvosa e atacam as mudas em grupos,
podendo danificar uma grande área em poucos dias. Os besouros desfolhadores de maior importância
no Brasil são pertencentes às famílias Chysomelidae, Curculionidae, Escarabeidae e Buprestidae.
A. Principais espécies
As principais espécies de besouros desfolhadores de florestas estão distribuídas em
diferentes famílias, conforme descrito na Quadro 12.
QUADRO 12. Principais espécies de besouros desfolhadores florestais.
Pragas
Costalimaita
ferruginea
Sternocolaspis
quatuordecimcostata
Colaspis
quadrimaculata
Gonipterus gibberus,
Gonipterus
scuttelatus
Asynonych sp.
Bolax flavolineata
Lampetis spp.
Família
Chrysomelidae
Nome comum
besouro-amarelo
Hospedeiros
Eucalipto
Chrysomelidae
besouro-de-limeira
Eucalipto
Chrysomelidae
besouro-de-quatropintas
gorgulho-doeucalipto
Eucalipto
carneirinhos
besouro-pardo
besouro cai-cai
Eucalipto
Eucalipto
Eucalipto
Curculionidae
Curculionidae
Scarabaeidae
Buprestidae
Eucalipto
B. Reconhecimento das principais espécies
Gonipterus gibberus Boisduval, 1835 e Gonipterus scutellatus Gyllenhal, 1833 (Coleoptera:
Curculionidae)
Ocorrência: RS, SC, PR.
Adulto: G. gibberus mede de 10 a 12 mm, de cor parda, revestido de escamas e pontuações
densas, rostro curto, reto e subcilíndrico, élitros abaulados com uma faixa clara oblíquo-transversal
mais larga perto da margem externa, estreitando-se em direção ao dorso em torno do escutelo,
diferindo da espécie G. scutellatus pelo menor tamanho, coloração mais escura e sem faixas claras.
Larvas: G. gibberus mede 10 a 13 mm, vermiforme, de cor verde com pontos escuros, tubérculos
pretos ovais ou esféricos, coincidentes com a distribuição das cerdas no tórax e abdome. Já as
larvas de G. scutellatus apresentaram faixas laterais e dorsais verde-escuras ao longo do corpo.
Pupa: penetra no solo, nos meses de julho a dezembro.
G. gibberus e G. scutellatus são conhecidos popularmente como “gorgulho-do-eucalipto”; é uma
praga introduzida da Austrália, e apresenta duas gerações anuais; devoram parcialmente os brotos e
as folhas, deixando-as com um aspecto rendilhado, e em ataques intensos podem causar um pesado
desfolhamento comprometendo a produção de madeira e qualidade das árvores, principalmente
quando a árvore é nova.
Prof. Ronald Zanetti - Depto de Entomologia/UFLA, CxP 3037, CEP 37200-000, Lavras, MG. [email protected]
2
Sternocolaspis quatuordecimcostata Lefréve, 1877 (Coleoptera: Chrysomelidae).
Ocorrência: PA, RN, MA, BA, SP, SC, PR.
Adulto: Os machos medem cerca de 7,3 mm e as fêmeas 9,7 mm de coloração verde-azulada
brilhante, com antenas negro-azuladas, os élitros apresentam carenas longitudinais com pontuações
circulares entre elas. Conhecido popularmente como besouro-de-limeira, os adultos atacam a parte
aérea das plantas, perfurando o limbo ou destruindo totalmente as folhas, ocorrem principalmente de
outubro a fevereiro.
Larvas: vivem no solo e provavelmente se alimentam de matéria orgânica.
Pupa: penetra no solo, a pouca profundidade.
Costalimaita ferruginea Fabricius, 1801 (Coleoptera: Chrysomelidae).
Ocorrência: todo Brasil.
Adulto: Tem aproximadamente 5-6 mm, de coloração pardo-amarelada brilhante, região ventral
alaranjada, élitros com 15 a 18 linhas longitudinais com pequenos pontos circulares em relação à
extremidade da asa. Atacam plantas de qualquer idade, sendo considerada uma das pragas de maior
importância entre os besouros desfolhadores para a cultura do eucalipto. Apresenta um elevado
potencial biótico e grande voracidade, ocorrem de setembro a maio, passam o dia escondido entre as
folhas aparecendo em bandos numerosos ao entardecer.
Larvas: vivem no solo e se alimentam de espécies botânicas diferentes daquelas em que se alimenta
o adulto.
Colaspis quadrimaculata Olivier, 1808 (Coleoptera: Chrysomelidae)
Ocorrência: MG, SC, SP.
Adulto: Mede cerca de 8 a 10 mm com grande variação entre macho e fêmea, de cor amareloferrugínea, élitros com quatro manchas verde-azulada em forma de “X”, antenas longas e escuras,
parte esternal amarela com marginações escuras. É bastante arisco e voa com a aproximação de
pessoas. C. quadrimaculata não apresenta hábitos gregários, sendo sua biologia pouco conhecida,
sendo comum sua ocorrência em eucaliptais durante os meses de novembro a janeiro.
Bolax flavolineata Mannerheim, 1829 (Coleoptera: Scarabaeidae)
Ocorrência: MG, SP, AM, RJ, RS.
Adulto: Tem aproximadamente de 11 a 15 mm, de coloração marrom clara, élitros com uma mancha
clara na part e distal em forma de meia-lua. Possui hábitos noturnos, escondendo-se durante o dia em
diversos abrigos. Conhecido popularmente como “besouro-pardo”
Larva: vive no solo e alimenta-se de raízes de onde emergem os adultos.
Lampetis spp. (Coleoptera: Buprestidae)
Ocorrência: MG, SP, ES, BA.
Adulto: Bastante vistoso, conhecido popularmente por “besouro manhoso ou Cai-cai”, corpo alongado
e estreito medindo cerca de 11 a 15 mm de comprimento, ataca mudas recém-plantadas e plantas
jovens de eucalipto alimentando-se de folhas e ramos, causando danos consideráveis. O período de
ataque coincide com a época chuvosa, iniciando-se no final de junho e começo de julho. Pouco se
sabe a respeito da biologia desses insetos.
Larva: as larvas são lignívoras, desenvolvendo-se em cepas de eucaliptos mortos e outros restos
lenhosos remanescentes, constroem galerias em galhos e troncos vivos e mortos; o ciclo biológico
dura aproximadamente um ano.
Asynonicus sp. (Coleoptera: Curculionidae)
Ocorrência: MG, RJ, SC, SP, RS, DF.
Notas de Aula de ENT 115 – Manejo Integrado de Pragas Florestais
3
Adultos: Os adultos do gênero Asynonicus alimentam-se das acículas de Pinus danificando-as a
partir do 2o ano de idade.Não voam e têm atividade à noite, tem preferência de repousar durante o dia
na base das acículas. Conhecidos popularmente por “besouros -carneirinhos”.
C. Monitoramento de besouros desfolhadores
Método do transecto em linha: essa amostragem é feita durante as operações de ronda pós plantio, com o lançamento de transectos ao acaso, correspondentes as linhas de plantio.
Selecionam-se 3% das linhas de plantio, com no mínimo duas linhas por talhão. Em cada linha,
conta-se o número total de mudas e o número de mudas atacadas (Figura17), anotando-se a
informação na ficha de amostragem e calcula-se a percentagem de mudas atacadas (Figura 18). O
nível de controle é de 2 a 3% de mudas atacadas.
Amostragem em transectos
Contar o número total de mudas e o
número de mudas danificadas
Linha de plantio selecionada
Talhão
FIGURA 17. Esquema da amostragem com o lançamento de transectos em linhas de plantio.
D. Estratégias e táticas do manejo de besouros desfolhadores
- Táticas de controle biológico
Visando ao controle de G. gibberus e G. scuttelatus tem -se empregado a introdução do
parasitóide de ovos Anaphes nitens Gir. (Hymenoptera: Mymaridae), originário da Austrália. No Brasil,
esse parasitóide encontra-se distribuído nas regiões Sul e Sudeste, podendo ser coletado e
distribuído nas áreas onde for constatada essa praga. Outra estratégia bastante eficiente é a
aplicação do fungo Beauveria basiana via polvilhamento. O produto comercial Boveril ITA 105, na
dosagem de 3kg/ha tem se mostrado eficiente tem registro provisório de uso.
- Táticas de controle mecânico
Fazer catação manual dos insetos adultos de Lampetis spp. em plantios jovens. Além
disso, deve-se retirar a madeira da área para interromper o seu ciclo biológico e fazer cobertura de
tocos, para que as fêmeas não tenham lugar para oviposição.
Prof. Ronald Zanetti - Depto de Entomologia/UFLA, CxP 3037, CEP 37200-000, Lavras, MG. [email protected]
4
Ficha de monitoramento de besouros desfolhadores
Região:
Fazenda:
Projeto:
Talhão:
Área:
Data:
Espécie Planta:
Idade:
Monitor:
Espécie Inseto:
Número de mudas
Amostra
Totais
Danificadas
Total
% Mudas atacadas:
Ação:
FIGURA 18. Ficha de monitoramento de besouros desfolhadores florestais.
- Táticas de controle cultural
Podem-se deixar cepas com brotações na reforma do eucaliptal para o forrageamento pelos
insetos de C. ferruginea, devido à sua preferência pelas brotações, em benefício das novas mudas
plantadas.
- Táticas de controle por resistência de plantas
Utilizar eucaliptos resistentes no manejo integrado de besouros desfolhadores em
povoamentos comerciais é importante na prevenção desses insetos desfolhadores e consiste em não
plantar espécies, procedências ou clones suscetíveis.
Não plantar espécies suscetíveis ao ataque de C. ferruginea como Eucalyptus urophylla. No
caso do besouro-de-limeira, não plantar a espécie E. citriodora que é a preferida, mas, em E. Alba o
inseto quase não toma contato com a casca dos ramos; E. saligna sofre fracos ataques e E.
maidenii nada sofre, não sendo procurado pelo inseto.
Para o gorgulho-do-eucalipto, em ordem de preferência, são Eucalyptus globulus, E.
viminalis, E. rostrata, E. robusta, E. amygdalina, E. citriodora, E. saligna e E. tereticonis.
- Táticas de controle químico
Os inseticidas (Quadro 13) devem ser aplicados apenas em situações extremas como
medida emergencial, porém não existem muitas alternativas de produtos químicos para uso em
florestas de eucaliptos, onde seria recomendável a pulverização de plantios jovens. As pulverizações
devem ser realizadas, a volume normal ou baixo volume, evitando-se as horas mais quentes do dia.
Notas de Aula de ENT 115 – Manejo Integrado de Pragas Florestais
5
Nos plantios de eucalipto é desejável usar produtos de maior poder residual em pulverizações,
adicionando-se sempre um espalhante adesivo adequado para evitar a lavagem do produto pelas
chuvas. O combate químico é realizado com base no monitoramento sistemático da ocorrência dos
besouros pós -plantio, conforme esquema da Figura 19.
QUADRO 13. Produtos registrados para o controle de besouros desfolhadores de essências florestais
Nome Técnico
Nome
Comercial
Decis 25 CE
Deltametrina
Dosagem
200 ml/100 l água/ha - atomizador
200 ml/6 a 20 l calda/ha - avião
plantio
ronda
ronda
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D
FIGURA 19. Esquema tático de planejamento para o manejo de besouros desfolhadores.
BILBIOGRAFIA CONSULTADA
ANGEL, R.V. La ecologia y el control de las plagas florestais. In: Seminário Plagas Florestais,
Socolen, Pereira, Colômbia, p. 1-33, 1980.
ANJOS, N. Entomologia Florestal: Manejo integrado de pragas florestais no Brasil. Notas de aula.
UFV. 1994.
BARBOSA, P. & SCHULTZ, J.C. Insect outbreaks. Academic Press, New York, 1987, 578p.
BERRYMAN, A.A. Forest insects: principles and practice of population management. Plenum Press,
London. 1986. 279p.
BERTI FILHO, E. Cupins ou térmitas. Manual de Pragas em Florestas, vol.3. IPEF/SIF. 1993. 56p.
COULSON, R.N. & WITTER, J. A. Forest entomology: ecology and management. John Wiley & Sons,
New York, 1984, 669 p.
CROCOMO, W.B. (Ed.). Manejo de pragas. Botucatu, UNESP, 1990, 237 p.
WALLINGFORD, D. Biotechnology and integrated pest management. CAB International, 1986, 475 p.
DELLA LUCIA, T.M.C. (Ed.). As formigas cortadeiras. Viçosa, Folha de Viçosa, 1993, 262 p.
DENT, D. Insect pest management. Wallington CAB. International, 1991, 640 p.
DIEHL-FLEIG, E. Formigas: organização social e ecologia comportamental. Editora Unisinos, 1995.
166p.
GALLO, D. et al. Manual de Entomologia Agrícola. Ed. Agronômica Ceres. São Paulo, 2002. 578p.
HORN, D.J. Ecological approach to pest management. Guilford, New York, 1988, 285 p.
IEDE, E.T. et al. Atas do treinamento sobre uso de inimigos naturais para o controle de Sirex noctilio.
EMBRAPA florestas. Colombo, PR, 1996. 100p.
METCALF, R.L. & LUCKMANN, W.H. (Ed.). Introduction to insect pest management. 2nd. ed.. New
York, John Wiley, 1982. 578p.
PEDIGO, L.P. Entomology and pest management. Macmillan, New York, 1989, 646 p.
PEDROSA MACEDO, J.H. et al. Pragas Florestais do Sul do Brasil. Manual de Pragas em Florestas,
vol.2. IPEF/SIF. 1993. 111p.
PFADT, R.E. (Ed.) Fundamentals of applied entomology. 4th. ed.. New York, Macmillan, 1985.
SPEIGHT, M.R. & WAINHOUSE, D. Ecology and management of forest insects. Oxford, Clarendon
Press, 1989. 374p.
Prof. Ronald Zanetti - Depto de Entomologia/UFLA, CxP 3037, CEP 37200-000, Lavras, MG. [email protected]
6
TVEDTEN, S. History of pest management. http://www.safe2use.com/ca-ipm/01-04-27.htm. 2006.
ZANETTI, R.; CARVALHO, G. A.; A.; SANTOS, A.; SOUZA-SILVA,A.; GODOY, M. S. Manejo
Integrado de Formigas Cortadeiras. Lavras: UFLA, 2002. 16p.
ZANETTI, R.; CARVALHO, G. A.; SOUZA-SILVA, A.; SANTOS, A.; GODOY, M. S. Manejo Integrado
de Cupins. Lavras: UFLA, 2002. 29p.
ZANUNCIO, J.C. et al. Lepidópteros desfolhadores de eucalipto: biologia, ecologia e controle. Manual
de Pragas em Florestas, vol. 1. IPEF/SIF. 1993. 140p.
Download

Manejo integrado de besouros desfolhadores