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Classificação do artigo 4 mai 2015 O Globo
BIANCA FROSSARD bianca. frossard@ oglobo.com. br STÉFANO SALLES stefano. salles@ oglobo.com. br
Arrastões na trilha
Ciclistas viram reféns de criminosos no Parque da Tijuca e têm bicicletas
roubadas
“Fui abordado pelos criminosos no início da manhã. Eles levaram tudo o que eu tinha. Fiquei o tempo todo no
chão. Eles pareciam estar drogados, tinham um comportamento agressivo e ameaçaram me matar” Ciclista
Vítima do arrastão
Sete praticantes de mountain bike tiveram suas bicicletas roubadas numa trilha da Floresta da Tijuca
no fim de semana. Ontem de manhã, além de quatro ciclistas, um pedestre também foi atacado por
quatro homens armados. À tarde, PMs balearam um suspeito em tiroteiro na mata. A busca por um fim
de semana de lazer, em contato com a natureza, tem se tornado um tormento para os frequentadores do
Parque Nacional da Tijuca. Somente neste fim de semana, sete praticantes de mountain bike tiveram
suas bicicletas roubadas dentro da área de preservação ambiental. No sábado, três ciclistas que seguiam
pela Trilha da Lagartixa foram assaltados na via, que fica próxima a comunidades da Tijuca. Ontem, foi a
vez de cinco visitantes virarem reféns dos criminosos, que levaram, no mesmo local, quatro bicicletas. As
vítimas viram as faixas alertando para a interdição da área — instaladas por fiscais do parque após o
assalto da véspera — mas imaginaram que a proibição fosse por causa de queda de barreiras, e não por
conta do perigo. A Federação de Ciclismo do Estado do Rio de Janeiro (FCIERJ) acredita que o mesmo
grupo tenha realizado os dois assaltos. As bicicletas roubadas são utilizadas por praticantes de trilhas em
terrenos acidentados e podem custar até R$ 30 mil.
PABLO JACOB
Interditada. O acesso à Estrada do Excelsior, por onde se chega à Trilha da Lagartixa, uma das
mais procuradas da Floresta da Tijuca para a prática de mountain bike: assaltos no sábado
levaram fiscais a fechar o caminho
Uma das vítimas, que prefere não se identificar e registrou ocorrência na 14ª DP (Leblon), contou que
foi abordada ontem, no início da manhã, por quatro criminosos, todos armados com pistolas, após avançar
cerca de um quilômetro e meio na trilha. Os bandidos levaram a carteira com dinheiro, celular e a
mantiveram refém por mais de duas horas. Durante o período, os homens a ameaçaram de morte.
— Eles levaram tudo o que eu tinha e me perguntaram se viria mais gente pela trilha. Eu disse que
achava que sim, então eles ficaram esperando chegar mais gente, mas ninguém subia. Dois deles saíram
para dar uma volta e avistaram outro grupo de ciclistas. Eles juntaram todos nós e nos levaram até o
Mirante do Excelsior. Eles pareciam estar drogados, tinham um comportamento agressivo e ameaçaram
me matar. Um senhor também ficou com muito medo e passou mal. A gente deixa a agitação da cidade
para espairecer no mato, praticando esportes, e vê que a situação por lá está ainda pior do que a do
asfalto — desabafou a vítima.
O momento mais crítico foi quando um dos criminosos pediu a senha para desbloquear a função que
permitiria rastrear o telefone celular que roubara. Como a vítima não lembrava a senha, os criminosos
telefonaram para a mulher dele, que forneceu o código. No entanto, não havia sinal de internet na área e
eles não conseguiram desbloquear o aparelho:
— Eu achava que eles iriam me matar. Insisti para que não fizessem isso e disse que tinha uma filha
pequena. Eles estavam fumando maconha e, na hora em que falaram com a minha mulher, fiquei com
medo de eles perguntarem sobre minha filha e descobrirem que eu havia mentido para eles. Eu estava
muito nervoso, não parava de chorar, por isso eles diziam que iriam me matar porque eu não estava
colaborando.
De acordo com o comando da Unidade de Policia Pacificadora ( UPP) do Borel, os criminosos fugiram
em direção à comunidade, mas foram flagrados por um cerco montado por homens da unidade e do 6 º
BPM ( Tijuca). Eles trocaram tiros com os agentes e voltaram para a mata. Um dos suspeitos, morador do
Borel, foi localizado por volta das 17h, quando deu entrada no Hospital São Francisco, baleado. O caso foi
registrado na 19 ª DP ( Tijuca), que ainda está à procura dos demais suspeitos.
Uma das vias mais utilizadas do parque, a Trilha da Lagartixa é muito procurada por oferecer acesso
pela Zona Sul. Presidente da FCIERJ, Cláudio Santos afirma que o número de assaltos dentro do parque
cresceu nos últimos tempos. Muitos frequentadores têm evitado a área por causa da proximidade com o
Morro do Borel e pelos frequentes relatos de roubos.
— Fica um sentimento de indignação. Os mesmos bandidos voltaram no dia seguinte ao primeiro
roubo? É muita coragem, falta de respeito e sensação de impunidade — critica. — Assaltos como esses
têm sido comuns. Aquele caminho é usado por ciclistas o tempo todo. Quatro vidas humanas poderiam ter
acabado hoje (ontem). Quem vai querer entrar na trilha agora para praticar esportes? — indagou.
JOGO DE EMPURRA
O diretor do parque, Ernesto Viveiros de Castro, reconhece que a violência no local realmente cresceu
nos últimos meses. Ele afirma que, na última semana, houve uma reunião entre o conselho gestor do
parque, representantes de usuários, operadores turísticos e integrantes da polícia para discutir o reforço
na segurança. Há mais de dez anos uma trilha do parque não precisava ser fechada por causa da
violência.
— Os fiscais plantonistas fecharam a trilha por conta do boato de que estariam acontecendo assaltos.
O parque não está isolado da cidade. É um problema de segurança geral, não é exclusivo nosso. Nós
fazemos a gestão ambiental, que é diferente de segurança pública — explica Ernesto. — Temos um acordo
de gestão compartilhada do parque com o estado e com o município. É necessário que seja designado um
bloco da polícia para fazer a segurança nas trilhas. No momento, não existe qualquer instância policial que
faça essa coordenação — lamenta.
O comandante do batalhão da Tijuca, tenente­coronel Marcelo Rocha, alegou que o policiamento nas
dependências do parque, administrado pela União, é de responsabilidade da Polícia Federal, e que o
batalhão atua na área externa e mantém um policiamento dedicado exclusivamente aos acessos à
Floresta da Tijuca. Procurada pelo GLOBO, a PF não retornou.
A Floresta da Tijuca já foi palco de outros assaltos. Em julho do ano passado, três pessoas foram
rendidas por quatro homens armados na trilha do Bico do Papagaio. O bando levou celulares, mochilas e
até tênis das vítimas.
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