IESE – Nota de Imprensa – 26/09/2012
“1 de Outubro de 2012 – Dia Internacional do Idoso”
Para entrevistas e qualquer esclarecimento, favor contactar:
Gustavo Sugahara
[email protected] / T. +258 820888906
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O dia Internacional do Idoso: No dia 14 de Dezembro de 1990 a Assembleia Geral
das Nações Unidas aprovou a Resolução 45/106 que estabeleceu o dia 1º de Outubro
como sendo o dia Internacional do Idoso. Nesta data pretende-se chamar a atenção
para a importância do papel e do contributo dos idosos para a sociedade, e a
vulnerabilidade acrescida à que têm sido sujeitos, como a violência e a falta de
cuidados.

Neste ano em particular, assinalam-se ainda os 10 anos do Segundo Plano de Acção
Internacional Sobre o Envelhecimento, adoptado consensualmente por 160 países,
e cujo objectivo geral é “assegurar que as pessoas tenham a possibilidade de
envelhecer com segurança e dignidade e continuem a participar nas suas sociedades
como cidadãos de pleno direito, reconhece ainda que as contribuições e
preocupações.

No âmbito das actividades desenvolvidas pelo Grupo de Investigação Pobreza e
Protecção Social do IESE, foram publicados uma série de artigos sobre o tema do
envelhecimento populacional em Moçambique (ver lista de referências principais em
anexo).
Algumas das principais conclusões e implicações dos referidos estudos são as
seguintes:
1. A população moçambicana ainda é jovem, mas é importante lembrar que apesar
da proporção de idosos ser relativamente pequena, cerca de 5% da população
total, em números absolutos já representa cerca de um milhão e cem mil
idosos. Um efectivo do tamanho da população toda da Suazilândia e pouco menos
do que a população das Maurícias; ou ainda maior do que o conjunto da
população total de três pequenos países africanos: Cabo Verde (492 mil
habitantes), São Tomé e Príncipe (207 mil habitantes) e Seychelles (87 mil
Habitantes).
2. Ao longo do corrente Século XXI Moçambique deverá viver uma mudança
demográfica jamais vista na sua história; uma sucessão de duplicações da sua
população idosa, devendo passar dos actuais 1,1 em 2012 para mais de oito
milhões em 2075.
3. É importante destacar as diferenças entre a situação do envelhecimento em
países desenvolvidos e em países subdesenvolvidos. Esta diferença exige
abordagens e soluções diferentes, principalmente porque nos países
subdesenvolvidos e pobres que ainda se encontram no início da transformação
do regime demográfico antigo para o moderno (como por exemplo em
Moçambique); ou seja, a chamada transição demográfica do regime de altas para
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baixas taxas de mortalidade e natalidade. Nesse processo de transição
demográfica, antes da população idosa aumentar significativamente ainda deverá
aumentar a população adulta e diminuir a população infantil e juvenil, como
resultado da queda da natalidade.
4. Uma característica particular do envelhecimento populacional em Moçambique é
o facto dos idosos serem sobre-representados nas áreas rurais. Enquanto nos
países ricos se discutem temas como o isolamento e a exclusão dos idosos, em
Moçambique ainda preocupa mais a alta taxa de participação na força de trabalho
dos mesmos, a segunda maior do mundo. Na prática, significa que os
Moçambicanos trabalham até morrer e em muitos casos são a única fonte de
sustento dos seus descendentes e outros familiares.
5. Em Moçambique temos oportunidade de evitarmos repetir alguns erros
graves que foram cometidos com os idosos nos países mais ricos. Na altura
em que tinham uma população jovem e adulta comportaram-se como se
fossem ficar eternamente jovens.
6. Apesar de geralmente se considerar o alargamento da longevidade como uma
conquista, as sociedades de consumo avançadas, obrigadas a apresentar
novidades e inovações num ritmo alucinante, passaram a remeter o “velho” para
um lugar não muito agradável na sociedade. Por outro lado, nas sociedades
subdesenvolvidas e informalizadas, quando iniciam e avançam na transição
demográfica rompem com os mecanismos sociais e culturais que reconheciam
aos idosos um estatuto de prestígio e elevado respeito. Moçambique está a viver
actualmente essa ruptura no tecido social que converteu os idosos num grupo
vulnerável, desprezado, mal tratado e humilhado.
7.
É muito difícil encontrarmos políticos com a devida sensibilidade,
disponibilidade e capacidade para alterar a situação precária e vulnerável em que
se encontram actualmente os idosos. A generalidade dos políticos estão mais
preocupados com resultados eleitorais imediatos focando-se mais em políticas de
curto prazo, para satisfazer os seus grupos de interesses, do que políticas de
longo prazo, para satisfazer interesses da sociedade em geral.
8. As questões demográficas requerem políticas de longo prazo, mas tais
políticas precisam de ser viabilizadas a partir do presente, ou seja, de
acções de curto prazo. Doutra forma as questões demográficas irão
invariavelmente acabar por impor-se, à revelia e independentemente da
sensibilidade e das decisões políticas.
9. Os Relatórios preliminares do “balanço” do Plano Internacional de Madrid
indicam que, em geral, houve uma melhoria substancial na adopção de novas
políticas e planos de acção a favor do envelhecimento, a nível global.
Moçambique é um dos exemplos onde do ponto de vista legal têm surgido
importantes iniciativas e tentativas de estabelecer um quadro jurídico em defesa
dos idosos.
10. Porém, nas actuais condições institucionais de Moçambique é irrealista
pensar-se que a melhoria do quadro legal possa conduzir a melhorias
visíveis nas condições de segurança e de vida dos idosos. E aqui é importante
evitar cair-se na ilusão que a cópia do quadro legal e formal dos países
desenvolvidos pode ser um avanço com resultados imediatos. A Moçambique
falta-lhe o mais importante que são os alicerces económicos e os mecanismos
institucionais que possam sustentar o tipo de planos assistência social e de
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ajustamento estrutural que na Europa incidiram directamente na melhoria da
qualidade de vida dos idosos.
11. Em contra partida, ainda que Moçambique em geral, e o Estado Moçambicano, em
particular, não disponham de condições para proporcionar uma protecção social
digna e universal, existe um erro importante que vem sendo cometido mas
poderia ser corrigido. O erro de não se reconhecer o contributo dos mais velhos
para a sociedade. Não só o contributo feito ao longo da vida, mas também o
importante papel que desempenham nas famílias.
12. Não podemos esquecer que os idosos de hoje são a geração que ainda viveu
as vicissitudes do período colonial e, depois da independência, a crise
económica e a guerra entre 1976 e 1992. Por estes motivos, para além de
outras razões de importância económica, que o IESE tem estado a investigar,
recentemente avançamos com a proposta de uma pensão universal para idosos.
Porém, ao contrário da pensão para idosos irrisória que vem sendo dada, por
certos programas públicos e de assistência social, a um grupo limitado de idosos,
a proposta do IESE é que a pensão represente uma atribuição com valor
minimamente dignificante e valorizador. Só uma pensão minimamente
dignificante pode restituir e devolver aos idosos a compensação básica pelo que
sofreu e lutou para a formação do Moçambique independente.
13. Há em Moçambique um desvirtuamento da ideia de protecção social, ao
considerar-se chamar-se a qualquer programa assistencialista como uma forma
de protecção que contribuiu efectivamente para a segurança humana. Ora, se o
programa de acção serve apenas para fins caritativos, ainda que alivie
temporariamente o sofrimento das pessoas necessitadas será enganador
pretender-se atribuir-lhe uma função maior e mais significativa.
14. Outro ponto importante que debatemos é a questão da falta de recursos. Opomonos à ideia simplista de que a actual falta de uma pensão universal para
idosos deve-se à falta de dinheiro. Na verdade o que há é falta de uma
abordagem adequada à realidade demográfica e económica da população
moçambicana, nomeadamente da sua população idosa, bem como uma
resistência ou incapacidade política de busca de opções políticas alternativas. Isto
é algo que deve ser discutido.
Sobre os investigadores deste projecto do IESE:
António Francisco ([email protected]):
irector de investigaçao e
oordenador do ru o de Investigaçao sobre Pobre a e Protecçao ocial do I
Professor Associado da Faculdade de Economia (FE) da Universidade Eduardo
Mondlane (U M) Licenciado em conomia (F ‐U M, 1987), Mestre (1990) e outorado
(1997) em Demografia pela Universidade Nacional da Austrália.
Gustavo Sugahara ([email protected]): Colaborador Associado do IESE no
Grupo de Investigação sobre Pobreza e Protecção Social, e Membro ssociado do
Instituto Universitario de Lisboa (I
‐IUL), I MI
‐IUL. Mestre em Economia e
Politicas Públicas elo I
‐IUL (2010), Lisboa
Referências:
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Francisco, António, 2011a. A Natureza Incipiente da Transição Demográfica em
Moçambique. Revista de Estudos Demográficos, 49(1), pp.5–35.
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Francisco, António, 2010a m que Fase da ransiçao emogra ica esta Moçambique? IDeIAS,
Boletim No 33. www.iese.ac.mz/lib/publi¬cation/outras/ideias/ideias_33.pdf.
Francisco, António, 2010b. Enquadramento Demográfico da Protecção Social em
Moçambique: Dinâmicas Recentes e Cenários Prospectivos., Maputo: IESE.
www.iese.ac.mz/?__target__=search&q=enquadramento.
Francisco, António, 2011b. Ter Muitos Filhos, Principal Forma de Protecção Social numa
Transição Demográfica Incipiente. In L. de Brito et al., eds. Desafios para
Moçambique 2011. Maputo: IESE, pp. 231–282. www.iese.ac.mz.
Francisco, António, Ali, R. & Ibraimo, Y., 2011. Protecção Social Financeira e Demográfica. In
L. de Brito et al., eds. Desafios para Moçambique 2011. Maputo: IESE, pp. 283–331.
www.iese.ac.mz.
uga ara,
L Francisco, ntonio, 2011. Envelhecimento Populacional em Moçambique:
Ameaça ou Oportunidade? IDeAS No. 37p, p.2.
Sugahara, G.T.L. & Francisco, António, 2012a. Desafios da Duplicação da População Idosa em
Moçambique. Available at:
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/ideias_46p.pdf.
Sugahara, G.T.L. & Francisco, António, 2012b. Idosos em Moçambique: Romper a
Conspiração do Silêncio. In L. de Brito et al., eds. Desafios para Moçambique 2012.
Maputo: IESE, pp. 295–331. Available at: www.iese.ac.mz.
UNFPA & HelpAge International, 2011. Policy, Research and Institutional Arrangements
Relating to Older Persons. www.unfpa.org/public/home/publications/pid/8107.
United Nations, 2002. Report of the Second World Assembly on Ageing: Madrid, 8-12 April
2002, United Nations Publications.
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