Sino, a trilha mais antiga e visitada da Serra
- Há 168 anos, o botânico Gardner e os escravos de March chegaram ao “cimo”
Fonte: Diário de Teresópolis Mesmo em um dia tomado pelas nuvens, chegar ao cume do Sino é fantástico Marcelo Medeiros - Mochileiro
Teresópolis tem o título de Capital Nacional do Montanhismo não é à toa. Mas destacar as
formações rochosas da cidade e região não é o suficiente para justificar a nossa fama mundo
afora. Para quem conhece um pouco da história desse esporte, sabe que o município também
é referência nesse quesito. A conquista do Dedo de Deus, por exemplo, é vista como um
marco para a escalada. Mas, 71 anos antes do feito de José Teixeira e companheiros, outra
empreitada marcou o início do montanhismo na Serra dos Órgãos: A conquista da Pedra do
Sino. A trilha mais conhecida do PARNASO foi aberta em abril de 1841 a mando do botânico
inglês George Gardner, interessado em explorar nossa flora. Hoje, o Parque é referência em
pesquisas e o caminho aberto com a intenção de explorar a floresta é o mais freqüentado da
cadeia.
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Sino, a trilha mais antiga e visitada da Serra
A primeira grande proeza na história do montanhismo na Serra dos Órgãos completou 168
anos na última sexta-feira, 10 de abril. Depois de vencer a mata virgem, cabendo o trabalho
pesado a cerca de 100 escravos do colonizador George March, George Gardner chegou aos
2.263m de altitude, que, só depois, descobriram ser o ponto mais alto da cadeia de montanhas
que encantava o mundo. Muitos anos à frente, outra época marcou o Sino. Quatro abrigos
foram construídos ao longo dos 11,5 quilômetros e a trilha bem aberta, de acesso muito mais
fácil do que nos dias de hoje. Além disso, houve um tempo que se chegava ao cume a cavalo.
Os abrigos foram desaparecendo aos poucos – hoje há um novo chalé no quatro e dos outros
apenas resquícios, a trilha foi ficando bem mais fechada e o número de freqüentadores
aumentou bastante. Tanto que há cerca de cinco anos a administração do parque precisou
limitar o número de visitantes por dia. No ponto mais alto da Serra dos Órgãos, vista
deslumbrante para qualquer lado que se olhe. O fantástico Vale da Morte, a Baía de
Guanabara, Teresópolis, Petrópolis... De cima, outras montanhas da cadeia, como Garrafão,
Dedo de Deus, Escalavrado, Dedo de Nossa Senhora, Nariz e Verruga do Frade...
Para chegar ao marco zero, caminhada de 4 horas, em média. Porém, o tempo de subida pode
variar bastante, de acordo com o peso da mochila e preparo físico da pessoa. Para quem
nunca esteve lá, a dica é subir à noite e descer durante o dia. Duas impressões totalmente
diferentes do trajeto. Subir admirando as luzes da cidade... Descer contemplando a fauna e
flora... Porém, principalmente à noite, a presença de alguém que conheça o caminho é
indispensável. De extrema importância também é nunca pegar atalhos. O caminho que parece
mais curto geralmente é mais íngreme, e, pior, passar por ele causa danos quase que
irreparáveis a trilha.
Por experiência própria, posso dizer que chegar ao cume da Pedra do Sino é uma sensação
que deveria ser experimentada por todo teresopolitano. Sentir e ver de perto o que atrai gente
do mundo inteiro. Eu, que já estive em praticamente todos os cumes da Serra dos Órgãos, não
consigo deixar de pernoitar, pelo menos uma vez por ano, no ponto mais alto da cadeia. Aliás,
vem daí o nome. O sino”, na verdade, é cimo, de cume. Para saber mais sobre o passeio, vale
acessar o site do Parque Nacional www.icmbio.gov.br/parnaso
• O Cavalo Fantasma
Em outros tempos, bem antes do moderno chalé que recebe montanhistas e turistas no abrigo
de número quatro da Pedra do Sino, não era a trilha longa ou muito menos o frio que afastava
as pessoas do ponto mais alto da Serra dos Órgãos. A história de que um “cavalo fantasma”
costumava aparecer naquela clareira arrepiava qualquer um que por acaso tivesse que
acampar lá em cima. E o “causo” foi contado por muitos anos, assustando mateiros experientes
e até guias de montanha, havendo alguns relatos dos “relinchos da madrugada”.
A lenda faz parte da história do Parque Nacional e foi publicada no livro “Serra dos Órgãos”
(Editora Brasiliense), de autoria de Claudio Nagy. “Os mais antigos, incluindo os ex-guardas
florestais e alguns mateiros conhecedores da região, se convidados a servirem como guias
rumo à Pedra do Sino, lhe dirão que não têm interesse em seguir em direção à tal pedra.
Talvez um ou outro aceite ir mediante uma condição: A de não permanecer à noite nos campos
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Sino, a trilha mais antiga e visitada da Serra
de altitude, mais precisamente na Clareira do Quatro. Dizem que ocasionalmente o sono
noturno dos aventureiros é perturbado pela visita inesperada de um cavalo invisível, que
galopando apressadamente dá a nítida impressão que irá passar por cima de tudo e de todos.
Em seguida, lança um fortíssimo relinchar de arrepiar até os mais incrédulos, acompanhado do
reinício da sua cavalgada, a qual se distancia lentamente”, diz trecho do texto.
“Certa vez, dirigindo-me ao Sino com mais três amigos e sem conhecer essa história,
chegamos ao Abrigo Quatro por volta das duas horas da manhã, sob um intenso nevoeiro.
Rapidamente montamos um abrigo provisório, só estendendo um plástico sob e sobre os sacos
de dormir e fomos nos deitar. Porém, para nosso espanto, logo a seguir ouvimos um som seco
ecoando rente ao chão e em nossa direção. Instintivamente levantamos com receio de sermos
atropelados. A única coisa de concreto que pudemos constatar foi o som do trote de um animal
seguido do seu forte relinchar. Naquele dia não havia nada e ninguém no local além de nós. A
trilha de acesso ao Sino estava extremamente ruim, dificultando até mesmo a nossa chegada
até lá. De volta à civilização, tamanha foi a minha surpresa ao comentar o que acontecera com
alguns guardas, e estes, de sobressalto, revelaram um antigo conhecimento do fato. Seja como
for, os encantos naturais da Serra dos Órgãos (incluindo a Pedra do Sino) valem a pena ser
conhecidos, e um pernoite no Abrigo Quatro lhe dará a rara oportunidade de contemplar em
noites limpas um céu maravilhosamente ornamentado por milhares de estrelas reluzentes. O ar
puro e o forte cheiro de mato o fará sentir parte integrante dessa natureza. Tudo isso e ainda
mais: Existe a chance de você poder ser visitado por esse afobado, mas inofensivo cavalo
noturno”, completa Claudio.
Leia mais em: O Diário de Teresópolis 3/3
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