Diego Augusto Queiroz de lima, 29 anos. Filho de Nataniel Magela de Lima e Mércia Aparecida Queiroz de Lima.
Trabalha como comerciante no Mercado do pai. Casado com a Kerly Pereira de Souza, tem planos e desejos de ser pai
em breve. Nesta entrevista marcante, Diego conta sua trajetória de vida, fala do legado de seus pais, do amor à esposa
e da importância da Ascofalo.
Diego e Kerly.
Festa da Ascofalo 2007.
Sô
Jornal
ENTREVISTA
Jornal da ASCOFALO
Associação de Confraternização da Família
Lourenço e Lima
Rua Adalberto Freire Filho, 64 - Cristina - Santa Luzia/MG - CEP: 33.110-430
EDITORIAL
Você morou em algumas cidades (Cristalina, Luziânia, Patos
de Minas, Uberlândia, Florianópolis). Conte para nós a sua
trajetória.
Nossa história foi um pouco de vida cigana. (risos) Uma temporada em cada cidade, mas não por opção e sim pela necessida do momento. Nasci em Cristalina-GO, depois mudamos
para Patos de Minas, depois Luziânia-GO, Araguaína-TO,
Uberlândia-MG e, no momento, em Florianópolis-SC.
Quais os pontos positivos e os negativos de Floripa?
Os positivos acho que nem preciso falar, não é? Praias, clima,
paisagens, aqui tudo é muito bonito. Já a parte ruim é a distância dos locais e o trânsito no verão.
Lembro que você esteve em uma missão no Haiti, pelo Exército Brasileiro. O que representou para você esta experiência?
Sim, estive na missão no Haiti por seis meses de dezembro de
2006 a junho de 2007. Tudo começou bem antes na seleção do
pessoal que iria para lá, pois seriam 135 selecionados de mais
de 1000 militares. Tive crise de ansiedade porque já estava havia um tempo no Exército e, por mais que se diga, essa seria
uma missão real do treinamento que o militar faz a vida toda
para isso! Essa Missão representou muita coisa para mim,
pessoalmente e profissionalmente, podemos assim dizer!
Valeu a pena? Qual foi o grande aprendizado que você teve?
Financeiramente falando, não valeu muito a pena não porque
cabos e soldados ganham muito pouco dinheiro, mas pelo
menos deu para ajudar meus pais a comprarem a casa deles e
hoje não precisam pagar aluguel! Valeu muito a pena profissionalmente, pois tive oportunidades que aqui não teria como
conhecer outra cultura e pilotar blindado! E me ensinou a dar
valor em coisas que não dava muito antes, como ficar em casa
com a família, ver tv e coisas assim!
Quantas festas da Ascofalo você participou? Qual a que te
marcou mais?
Não me recordo, mas acho que foram seis! A que me marcou
mais, foi a segunda festa que eu fui em BH, que tinha a festa
à fantasia e o Vinícius de Chaves e o Cadinho de canabis....!!!
Mas a melhor para mim foi a de 2012, simples, com as mesmas pessoas de sempre. E tudo aconteceu espontâneamente,
sem forçar nada!
Olha para mim no início vou ser bem sincero não era mais
que um encontro dos familiares que não se viam ou falavam
a um certo tempo! Mas, hoje, vejo isso com outros olhos, até
porque vejo a felicidade dos meus pais nesse encontro e a força
que fazemos para fazer parte desse encontro!!! E acho que a
felicidade do meu pai é o reflexo do que nossos avós estariam
sentindo se estivessem em matéria junto conosco!
Você viveu um bom tempo em Patos de Minas e conviveu bastante com a vó Sebastiana, com o vô Augusto e com a tia Terezinha. Tem alguma curiosidade ou um momento com eles (ou
um deles) que sempre vem à sua memória? Conte para nós.
Lucimar, viver com os nossos avós, porque moramos com eles
quando,tivemos nossos problemas familiares, foi muito bom,
mas também muito tumultuado, porque na casa da vó, a cada
entrada, era uma surpresa ou um acontecimento! (risos) Mas
para uma criança era muito legal, porque a vó e o vô faziam
tudo que a gente queria: biscoitos, guaraná com Sonrisal (que
era o máximo, já tomou?). Uma passagem bem engraçada, por
sinal, quem já pelo menos uma vez na vida já dormiu na casa
da vó sabia que toda noite era de lei rezar o terço toda noite e,
às vezes, eu e a Nani deitávamos na cama e fingia que estavávamos dormindo para não rezar o terço. A vó ia lá e olhava
a gente fingindo e falava: “não acorda eles não, que eles estão
dormindo.” Ela saía e nós caíamos na risada! (risos)
Agradeço aos que contribuíram para trazermos
essas lembranças de pessoas que foram importantes
em nossas vidas. O nosso jornal só se manterá vivo
com a colaboração de todos.
Na próxima edição, teremos dicas de beleza, enviadas pela tia Ana Marta e outras surpresas. Aguardem.
Obrigado aos que têm colaborado com o Sô. Deliciem-se com as belas histórias dessa edição especial.
Lucimar L. Pacheco
O que a Kerly representa para você? É amor raro?
Ela representa a minha vida, pois tudo que faço hoje é para
vê-la feliz e bem Além do mais, a mãe dela mora em Uberlândia, então para ela é bem mais difícil ficar longe. Por isso,
tento minimizar o máximo que eu posso isso pra ela. E meus
pais ajudam bastante nisso. Mas quem tem que falar isso é ela.
(risos)
Qual a grande herança que você ganhou da sua mãe, a tia
Mércia?
Aniversariantes do período:
26/02 – César
01/03 - Maria Gasparina
Minha mãe não é uma pessoa desse mundo. Ela tem uma força
interior descomunal, uma guerreira, nosso alicerce!
04/03 - Caio e Otávio Augusto
E do seu pai, o tio Tatau?
09/03 - Cássio (Geraldo)
Meu pai nem sei o que falar. Adjetivos me faltam para descrevêlo! Meu pai exala amor ao próximo, serenidade! Quando eu
crescer quero ser como ele!
11/03 - Leonardo (Hilda)
O que a Ascofalo representa para você e sua família?
Confira a íntegra da entrevista no site da Ascofalo.
6
N
esta edição, o jornal SÔ tem o prazer de
trazer histórias de uma lista de personagens que de alguma forma marcaram as
vivências das pessoas que frequentaram a casa da vó
em Patos. Digo personagens porque além de serem
“gente como a gente”, todos tinham algo a mais que
os tornavam especiais para quem quer que com eles
cruzasse.
www.ascofalo.org
Edição II - Ano IX - Fevereiro/2013
MARIA DO MALAQUÍA
Por Vinícius L. Soares
D
Ave-Maria...
as coisas que mais me lembro
da Maria do
Malaquia,
com certeza é o que a
maioria lembra, que é
o fato da mesma rezar
a AveMaria toda errada. Isso era muito engraçado. Era tão engraçado, que quando o fato
fora descoberto, os terços
realizados pela vó Sebastiana começaram a lotar,
principalmente por nós que
sempre corríamos quando o
mesmo era começado.
Nunca me esqueço que quem descobriu tudo foi a tia Marília e o Virgílio. No auge de tal descoberta, a qualquer hora
que ela chegasse à casa da vó era motivo de começarmos a
rezar o terço. Muitas vezes, a vó Sebastiana não estava lá e
isso era melhor ainda. Reuníamos uns cinco e junto de nós
a tia Terezinha para “rezarmos”. A rosa era passada um por
um, isso propositalmente para rirmos muito da Maria do
Malaquia. Depois de algum tempo, a tia Marília e o Virgílio
pararam, mas eu, o Daniel, o Ismael, a tia Terezinha e alguns
outros convidados continuamos a reza do “nosso terço” até
o dia que a D. Maria percebeu tudo e não quis mais rezar
conosco.
Outro fato que nos fez rir muito da D. Maria, foi um dia
em que ela ficou na casa da vó por um longo tempo. Se eu
não estiver enganado, ela chegou logo após a missa das 19h
e só foi embora lá pela meia noite. Logo quando chegaram
da igreja, a vó Sebastiana ofereceu a ela queijo com doce de
leite e ela comeu. Passado algum tempo, a vó foi tomar o
leite com as bolachas que todos os dias antes de dormir era
comum. Ela arrumou o leite no copo para a D. Maria, mas
quando chegou perto dela, o leite foi rejeitado, pois, segundo
palavras da D. Maria, “não D. Sebastiana, eu não vou tomar
leite agora não, eu comi queijo, e queijo com leite faz mal.”
Imaginem as gargalhadas.
Conexão Floripa
Por Sérgio, Chris, Ana Laura e Ana Vitória
A
cabamos de chegar de Floripa, onde passamos 4 dias
com nossos queridos familiares que lá residem. Fazemos
questão de agradecer a todos e
individualmente; Tia Ana Marta,
Tio Natal, Tia Mércia, Rodrigo,
Nani, Sarah, Eder, Diego e Kerly,
pela recepção e os agradáveis dias
que passamos juntos.
Aqui eu fui o único a “visitar as
profundezas da lagoa”, perdi a
conta de quantas vezes eu caí nas
águas. Impressionante! Outro recorde difícil de ser quebrado por
muito tempo. Mas por outro lado
eu fui o único a conhecer as profundezas da lagoa em detalhes,
quase um intensivo de oceanografia (consolo de perdedor).
Chegamos e saímos de Floripa
com uma impressão muito positiva de todos os Manezinhos da
nossa família. São pessoas felizes,
pragmáticas, trabalhadoras, dedicadas, amorosas e que vão longe,
ou melhor, o sucesso dessa turma
já é uma realidade.
Enquanto tudo isso acontecia sobre ou sob as águas, lá na praia
estavam a Chris, Tia Ana Marta
e Tia Mércia conversando. E o
solidário guardião Tio Natal também. Não sei de onde saiu tanto
assunto. Eu fiz a conta, foram 46
horas de conversa ininterrupta
Compartilho com todos um pou- em 3 dias. Impressionante, outro
co do que passamos juntos e os re- recorde!
cordes que lá foram estabelecidos Sabemos que mineiros e gaúchos
e que deverão durar por muitos não gostam muito de sol. São
anos.
barrigas de queijo, assim ouvi
Como estávamos na praia, eu, Ana muito o Tio Natal falar. Em funLaura e Ana Vitoria contratamos o ção disso imaginem a cena, Tia
professor de Surf Rodrigo (o caro Ana Marta, Tio Natal, Tia Mérsurfa muito!) para aulas de Surf e cia, Rodrigo, Nani, Sarah, Eder,
Stand-Up. As aulas foram comple- Mãe do Eder, Chris, Ana Laura e
tas; com exercícios na areia, lei- Ana Vitoria e eu, todos debaixo
tura das ondas (coisa de surfista!), de 3 guarda-sóis comendo milho
equilíbrio na prancha e etc. Pas- verde. Assim estabelecemos mais
mem! No Surf o aluno Sérgio teve um recorde, 12 pessoas debaixo
um desempenho 100% (quanta de 3 guarda-sóis.
modéstia!), 3 ondas e 3 surf performance. As meninas também mandaram muito bem. Já no Stand-up,
fizemos um longo passeio na Lagoa da Conceição. Nesse esporte,
o grande desafio é ficar em pé em
cima da prancha e remar sem cair.
2
Tudo isso fez nossa estadia muito
divertida e agradável. Floripa que
é conhecida como a Ilha Encantada, para nós passou a ser a verdadeira Ilha da Fantasia.
Já estamos com saudades!
Trovão Azul
Por Nataniel Magela
passatempo
Caiu na rede
Integrantes da Ascofalo são flagrados dormindo
em pleno carnaval do Rio de Janeiro. Será que a
folia foi boa?
S
eria muita pretensão querer relatar
uma historia de glória, 72 anos de
vitórias, alegrias e muita paixão de
uma nação celeste.
Como uma das missões de nosso jornal
é resgatar a tradição, relembrar o passado e principalmente trazer a família
mais e mais conhecimentos sobre as origens de nossa querida família, gostaria
de ter esse espaço para falar sobre uma
paixão, sobre o vislumbre azul celeste,
sobre o rufar dos tambores da vitória, sobre a URT (União Recreativa dos Trabalhadores). Prometo, um pouco de dados a
cada edição do “SÔ”.
A URT foi o primeiro time de futebol
regularmente constituído em Patos. Foi
fundada em 1939. Um grupo de trabalhadores, sedentos pela oficialização do
futebol patureba, reuniu-se, contitui-se
e empossou-se a primeira diretoria. Como
é a agremiação mais antiga da cidade, é
chamada de “veterana”, nosso orgulho.
O primeiro jogo oficial foi contra o São
Gotardo e a URT perdeu por 2 x 1.
História: Nos primeiros tempos da URT,
após vaquinha para comprar a bola... dia
de jogo, Tião Vieira recebe a bola, dribla pra lá, dribla prá cá, chuta forte...
a bola, em sua viajem rápida, passa pelo
goleiro, passa pela “mangueira” (depois
falaremos da mangueira), passa pelo
muro e cai na rua. Labatu, um vizinho
incomodado pelo movimento dos jogos,
passa a peixeira na bola e acaba com o
jogo... Fim de jogo! O então vereador
Zama Maciel (hoje patrono do estádio
que leva seu nome) deu parte na polícia
e o delegado agiu. Prendeu o Labatu e só
depois de muito apelo e intervenção da
URT, o vizinho foi solto.
Não sei se o Labatu é vivo, mas, tornouse um fanático torcedor da URT.
Frases de Facebook
“
Se correr, o
Wikipedia. Se ficar,
o Google Chrome.
A família vai crescer!
”
5
ESPECIAL
Figuras Folclóricas
de Patos de Minas
Nesta sessão especial, trazemos algumas memórias de um mundo paralelo de Patos de Minas: as figuras folclóricas que
habitavam a casa da vó Sebastiana. Mas quem são esses seres? Por quê eles são tão importantes em nossas vidas? Zé
Tinino, Maria da Dona Ana, Dona Coleta, Maroca, Zé da Pita, Caixa D’Água, Maria do Malaquia, a Palminda e outros
marcaram a vida de muitos de nós, ascofalianos, e fizeram parte de nossa família. Acompanhe alguns casos desses incríveis
personagens e sinta-se á vontade para enviar outros mais. Assim, manteremos viva a nossa história.
MARIA DA DONA ANA
-de-queijo para a Donana. A Tia Terezinha mandou que
eu fizesse um sinal para ela, era como se eu estivesse
enfiando uma linha no buraco de uma agulha. Pronto,
uerida família, fui requisitado pela edição deste a casa caiu. Donana queria me bater de todo o jeito, eu
jornal para relatar algumas histórias dos “seres corria pela casa e ela atrás de mim. A vó e o vô tentavam
estranhos” que viveram e vivem aqui na cidade segurar ela, mas ela só queria me bater eu não entendia
maravilhosa. Patos de Minas claro!
e só corria e morria de medo. Eu olhava para Tia e ela
Tem muitas figuras marcantes. Por exemplo: quem se estava até com a cabeça entre as pernas de tanto rir de
lembra do Zé da Pita? O caixa d água? A Dona Maroca? mim, se contorcia mesmo.
a Maria do Malaquía? Essa o Vinícius conhece (risos). Eu me escondi, então a vó acalmou a Donana e acabou
Palminda? Vou parar por aqui porque deve ter mais uns a confusão temporariamente. Donana estava ofegante e
10 da minha infância.
me olhava de cara feia, murmurava muito e ficava apon-
Por Daniel
Q
Mas quero relatar uma outra
figura não mais
importante que
outros citados
anteriormente,
extremamente
imortal
na
minha memória.
A razão vou relatar.
Eu estava mais
ou menos com
uns 13 para 14
anos e me lembro que a vó havia me pedido
para eu ir lá no centro da cidade fazer alguma coisa
para ela, não me lembro o quê. Quando voltei a vó havia
feito pão de queijo. Sentada em um banquinho do lado
da porta estava a Tia Terezinha. De repente, ouvimos
como se estivesse arrastando um chinelo e uns barulhos
de lata batendo . Então a Tia afirma: “É a Maria Donana.”
3
Maria Donana, para quem não conhece, era uma senhora
muda e que andava o dia todo carregando umas latas,
umas capangas e que não gostava muito de um banho.
Ela chegou e cumprimentou a todos. A vó deu um pão
tando o dedo
para mim. E eu
comecei a encará-la, colocar
língua, piscava,
mandava
beijinho para ela, a
irritando ainda
mais. Ela não fazia nada porque
a vó a mandou
me deixar em
paz.
De
repente,
Donana e a Tia
Terezinha
olhava uma para
outra e elas riam muito e eu comecei a ficar assustado.
Quando me levantei (pois vi que tinha algo errado)
Donana pulou em cima de mim e me beijava com aquela
boquinha que só tinha 2 dentes e um pedaço de pãode-queijo todo molhado com um “cheirinho” que me
recordo até hoje. Tia Terezinha havia dito a ela que eu
queria namorar com ela e depois disso tive que correr da
Donana por um bom tempo.
Agora você entende porque ela se tornou imortal para
mim, né? Lembro do “cheirinho” até hoje!
ESPECIAL
a Maria Dona Ana segui tendo vários encontros, alguns marcados por travessuras contra ela. Remeda-la
com mímicas dela tentando em vão enfiar a linha no
buraco da agulha deixava-a irada. Mas por fim, à medida que ia amadurecendo e tendo presenciado alguns
Por Leonardo L. Pacheco
momentos de desabafo dela em prantos diante da vó,
a minha infância tive uma experiência mar- suscitou-me sentimentos de compaixão e aquela percante com uma dupla de velhinhas que lá – sonagem quase fictícia da infância foi na minha visão
casa da vó – frequentavam e que me causaram tomando as feições mais humanas no aspecto da fraterror por algum tempo. Não que fosse intenção delas gilidade. Dava dó!
provocar-me tal sensação, mas no meu imaginário inAinda bem que existem personagens também marfantil eram personagens como a bruxa de “João e Macantes como a vó, o vô e a tia Terezinha que com o
ria” ou seres como os das histórias de “terror” que o
mais belo sentimento humanista acolhem pessoas
vô e a tia Terezinha contavam. Tudo isso porque uma
como Zé Tinino, Maria da Dona Ana, Dona Coleta,
delas era a Maria da Dona Ana, uma senhora muda,
Maroca, Zé da Pita, Caixa D’Água, Justinda, Maria do
que se vestia aos trapos, tinha os dentes podres, carMalaquia e Palminda de algum modo confortando-as.
regava mochila, bolsas e duas ou mais latas penduradas a uma vara; a outra era a Maroca, uma velhinha 1 Bócio é um aumento do volume da tireoide, normalmente causaque tinha um papo grande e uma voz marcada devido da pela ausência de iodo. Localizado no pescoço, pode comprimir
a traqueia e comprometer a respiração. Antigamente a ocorrência
à sua doença hoje conhecida como bócio1.
Maria Dona Ana e
Maroca
Meus terrores
N
do bócio era relativamente comum, mas com a obrigatoriedade da
Elas não eram parceiras, mas para minha infelicidade
adição de iodo no sal de cozinha passou a ser mais rara.
à época (e felicidade dessas memórias), coincidiu encontrar-me com as duas no lar avoengo. Observava à
distância a comunicação da vó com as duas figuras.
Caboclo da mata
Nossa matriarca falava normalmente com a Maroca
Por Ismael Lima
que respondia com sua voz marcada, rouca, cansada,
quase masculina para os ouvidos de uma criança. Já
com a Maria da Dona Ana a comunicação era por gestos, mímicas e movimentos labiais que lhe facilitassem a leitura. Esta também respondia com sinais, mas
como não conseguia falar emitia grunhidos.
ZÉ TININO
Assistia àquilo horrorizado. Minha vó percebeu meu
terror e comentou com as duas que por sua vez acharam graça. Como em suas mentes não havia razão
alguma para o pavor do menino, resolveram que deveriam pegar-me no colo para demonstrar inofensividade e até, quiçá, alguma simpatia. Ora, a aproximação daquelas duas figuras surtiu, obviamente, efeito
contrário. Tomado por um instinto de sobrevivência
aguçado pelo medo escondi-me no local mais seguro
que a intuição de um menino pôde alguma vez encontrar – embaixo da cama. Lá, porém, encontraram-me
mais ao fundo possível e insistiram em chamar-me.
Utilizaram, possivelmente, gestos e palavras doces,
mas que, devido às personagens que as interpretavam,
aos olhos e ouvidos deste menino denotaram um convite ao inferno.
Se eu matar
“
eu vou pra cadeia?
”
T
Zé Tinino
enho guardado comigo uma história do Zé Tinino. Quem não se lembra da música do Caboclo da Mata que ele sempre cantava quando
chegava na casa da vó. Eu, estando lá, já logo pegava
os bancos de couro de animal do vô e levava para o Zé
fazer o batuque. Eu sempre chamava ele de ladrão, só
para vê-lo bravo comigo.
Outro dia, fui ao asilo onde ele está e, quando o vi, um
filme passou em minha cabeça. Comecei a me lembrar
de todas as coisas que fazíamos com ele para nos divertir. Já pregamos o dedo com cola Superbond. Pregamos não! Foi o Virgílio que fez isso. Rimos demais.
Foi um reencontro bem legal, pois, mesmo depois de
Já tive a oportunidade de escrever para este jornal
uma história sobre o pé de manga da casa da vó. Pois tantos anos, ele se lembrou de quem eu era, falou dos
bem, acrescento à sua importância sociológica como meus avós, da minha mãe, da tia Maria e até do tio
local de interação entre as crianças da época sua im- Tatau. Fiquei impressionado com a memória dele.
portância como esconderijo para quando da presença Foi muito bom relembrar destes tempos. Tenho muide Maroca ou Maria da Dona Ana.
tas histórias. Mas vamos devagar, aos poucos vou
Com a Maroca não tive mais muito contato. Já com contando.
4
Download

MARIA DO MALAQUÍA