Bol. San. Veg. Plagas, 38: 41-49, 2012
Desenvolvimento de Nezara viridula (L., 1758) (Hemiptera:
Pentatomidae) em genótipos de soja
E. S. SOUZA, E. L. L. BALDIN, T. L. M. FANELLA
A cultura da soja [Glycine max (L.)] vem sendo significativamente comprometida
pelo ataque de insetos pragas. O percevejo Nezara viridula (L.) (Hemiptera: Pentatomidae) é apontado como umas das espécies mais prejudiciais, reduzindo a quantidade
e a qualidade dos grãos produzidos e exigindo um grande número de aplicações de
inseticidas nas lavouras. Embora o controle químico ainda seja o método de controle
mais utilizado, o uso de genótipos resistentes pode representar uma alternativa viável
no manejo do inseto, reduzindo os custos e os impactos sobre o meio ambiente. O
presente trabalho avaliou o desempenho de ninfas de N. viridula em nove genótipos de
soja sob condições de laboratório (T = 25 ± 2° C, U.R. = 70 ± 10% e fotoperíodo = 12
h), visando detectar possíveis mecanismos de resistência. Assim, 25 ninfas/genótipo
foram acompanhadas diariamente, avaliando-se a duração e mortalidade da fase ninfal,
o peso de ninfas e adultos e o período de desenvolvimento de ovo a adulto. Os dados
revelaram que os genótipos ‘TMG-103’, ‘TMG-121’, ‘IAC-19’, ‘TMG-117’ e ‘IAC-24’
provocaram 100% de mortalidade das ninfas do percevejo, indicando alta resistência
por antibiose e/ou não-preferência para alimentação. ‘IAC-17’ também prolongou o
período ninfal indicando ocorrência de resistência. Os insetos provenientes de ‘PI227687’ revelaram as menores médias de peso, também indicando a presença de resistência do tipo antibiose e/ou não-preferência para alimentação. Nossos resultados podem ser úteis aos programas de melhoramento de soja, visando o desenvolvimento de
genótipos resistentes a insetos.
E. S. SOUZA, E. L. L. BALDIN, T. L. M. FANELLA. FCA/UNESP Botucatu -Department
of Plant Production / Plant Protection. Mailbox 237, Zip Code: 18610-307, Botucatu,
SP, Brazil. e-mail: [email protected]
Palavras chave: resistência de plantas a insetos, Glycine max, percevejo-verde,
antibiose.
INTRODUÇÃO
A soja (Glycine max, L.) está sujeita ao
ataque de inúmeras pragas desde a germinação até a colheita, sendo consideradas pragas aqueles insetos que por sua ocorrência,
causam danos econômicos significativos à
cultura, diminuindo o rendimento ou a qualidade final do produto (DEGRANDE & VIVAN, 2010). Dentre os insetos reconhecidamente pragas da soja, destaca-se o percevejo
Nezara viridula (L) (Hemiptera, Pentatomi-
dae), sendo relatado como o mais frequente
na cultura em diversas regiões do mundo
(SINGH, 1973, TURNIPSEED & KOGAN, 1976,
RAMIRO, 1982, TODD, 1989, PANIZZI &
SLANSKI, 1985).
Ao se alimentar, este percevejo reduz o
tamanho dos grãos e teor de óleo contido
neles, aumentando ainda o teor proteínas e
comprometendo a qualidade e o valor final
da produção. Seu ataque favorece a ocorrência do fungo Nematospora coryli causador
da doença “mancha-de-levedura” ou “man-
42
E. S. SOUZA, E. L. L. BALDIN, T. L. M. FANELLA
cha-fermento”, e a injeção de toxinas durante sua alimentação ocasiona um distúrbio
fisiológico conhecido como “soja-louca” nas
plantas (CORSO, 1984, VILLAS BOAS et al.,
1990, GALLO et al., 2002, RAMIRO & MASSARIOL, 1977).
Embora muito recomendados no manejo
deste percevejo, os inseticidas sintéticos podem causar desequilíbrios ao meio ambiente e eliminar insetos benéficos. Além disso,
segundo alguns autores (PRABHAKER et al.,
1985, STANSLY & SCHUSTER, 1992, OLIVEIRA & SILVA, 1997), aplicações sucessivas de um mesmo produto químico permitem que populações do inseto desenvolvam
resistência contra determinados princípios
ativos. Em contrapartida o uso de materiais
resistentes apresenta algumas vantagens:
são de fácil acesso; reduzem os gastos de
cultivo; diminuem as populações das pragas
a níveis que não causam danos econômicos
e não interferem no ecossistema, tornando a
cultura mais lucrativa para o agricultor,
além de reduzir ou substituir as aplicações
de inseticidas (ROSSETTO et al., 1981, LARA,
1991).
Em função dos danos e das significativas
perdas de produtividade e qualidade na cultura da soja, e da necessidade do desenvolvimento de métodos de controle mais efetivos e menos agressivos ao meio-ambiente e
ao homem, realizou-se este trabalho, objetivando avaliar diferentes genótipos de soja
frente ao ataque de N. viridula, através de
ensaios de desempenho biológico.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado sob condições
ambientais controladas nos Laboratórios de
Resistência de Plantas a Insetos e Plantas
Inseticidas (LARESPI) do Departamento de
Produção Vegetal / Defesa Fitossanitária da
FCA-UNESP, Campus de Botucatu-SP, entre os anos de 2009 e 2010. Visando detectar
possíveis mecanismos de resistência, avaliou-se o desempenho biológico do percevejo N. viridula nos genótipos de soja: ‘IAC17’, ‘IAC-19’, ‘IAC-24’, ‘PI-227687’,
‘Conquista’, ‘TMG-103RR’, ‘TMG-117RR’,
‘TMG-121RR’ e ‘BRS-242RR’ (Tabela 1).
Tabela 1. Genótipos utilizados e suas respectivas genealogias
Genótipo
IAC-17
IAC-19
IAC-24
PI-227687
Conquista
TMG-103RR
TMG-117RR
TMG-121RR
BRS-242RR
Genealogia / Origem
D72-9601-1 × IAC-8
D72-9601-1 × IAC-8
IAC80-1177 × IAC83-288
Okinawa, Japão
Lo76-44842 × Numbaíra
TMGLM-3295 × TMGLM-3324
(FT Corvina × Msoy 8888RR) × MG/BR 46
(FMT Cachara × Msoy 8080RR) × FMT Tucunaré
Embrapa 58*5x (E96-246 × Embrapa 59)
Para a obtenção das plantas, foram semeados vasos de 3 L, com duas plantas cada
em casa-de-vegetação. O solo utilizado foi
composto de terra, areia, esterco e substrato
(Plantimax HT®), na proporção de 4:1:1:1
respectivamente, sendo realizada a adubação
recomendada para a cultura de acordo com
RAIJ et al. (1997).
Os insetos utilizados nos testes foram
oriundos de uma criação-estoque, conforme
metodologia descrita por CORRÊA-FERREIRA
(1985). Adultos também eram coletados pe-
BOL. SAN. VEG. PLAGAS, 38, 2012
riodicamente a campo, porém, em áreas cultivadas com genótipos diferentes dos utilizados neste trabalho, a fim de se impedir o
condicionamento pré-imaginal, citado por
LARA (1991). Para a alimentação dos insetos, foram fornecidos ramos com frutos de
ligustro (Ligustrum sp.), que segundo PANIZZI & MOURÃO (1999) são mais adequados
à biologia de N. viridula do que a soja.
Eventualmente também foram fornecidos
grãos maduros de soja, colados em tiras de
papel filtro e dispostos aleatoriamente no
interior das gaiolas de criação.
Para os ensaios de antibiose, utilizou-se
cestos plásticos vazados (Ø de base = 60 cm
de × 70 cm altura × Ø superior = 40 cm de)
revestidos com voil para o acompanhamento
da biologia das ninfas confinadas aos diferentes genótipos. Cada estrutura abrigou um
genótipo de soja com uma folha de papel
cartolina branco adaptada na base, visando
facilitar as avaliações (exúvias caídas, ninfas
presentes). Foram acondicionadas 25 ninfas
de segundo estádio por gaiola (máximo 24h
de idade). Utilizou-se insetos de segundo
estádio pelo fato de as ninfas de N. viridula
permanecerem agregadas até o final desta
fase, alimentando-se apenas a partir do terceiro estádio, sendo que ainda no primeiro
estádio, a mortalidade natural é alta, o que
poderia prejudicar as avaliações biológicas.
Cada gaiola correspondeu a uma repetição,
efetuando-se quatro por genótipo, num delineamento inteiramente casualizado. Estas
foram acondicionadas em bancadas do laboratório e deu-se início às avaliações diárias,
observando-se os seguintes parâmetros biológicos: período de duração dos estádios ninfais (N2, N3, N4 e N5); período de duração
do estágio ninfal; peso de ninfas de quinto
estádio e adultos, com no máximo 24 h de
idade; mortalidade nos diferentes estádios
ninfais; mortalidade em todo o estágio ninfal;
período de desenvolvimento (ovo - adulto).
O acompanhamento do peso no quinto estádio foi realizado somente nos genótipos
que propiciaram essa fase, já que alguns
materiais não favoreceram o completo desenvolvimento ninfal.
43
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e teste F, sendo as médias
comparadas pelo teste de Tukey ao nível de
5% de probabilidade. Os dados passaram
pelo teste de homocedasticidade (Hartley),
visando à necessidade de transformação, e
quando necessário foram transformados em
(x+0,5)1/2 e arc sen (x+0,5)1/2. Para análise,
foi utilizado o software estatístico ESTAT
2.0 (UNESP/Jaboticabal).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 2 encontram-se os dados relacionados à duração média dos diferentes
estádios ninfais e duração total do estágio
ninfal de N. viridula, confinados em diferentes genótipos de soja. Embora os testes de
antibiose tenham sido iniciados com ninfas
de segundo estádio, a duração média para o
primeiro estádio neste trabalho foi de 4 dias,
valor próximo aos 4,2 dias obtidos por CORRÊA-FERREIRA & PANIZZI (1999).
Observa-se que o genótipo ‘TMG-121’
prolongou a duração dessa fase para 11,00
dias (Tabela 2), diferindo dos genótipos
‘BRS-242’, ‘PI-226687’, ‘Conquista’, ‘IAC17’, ‘IAC-24’ e ‘TMG-117’, que apresentaram médias de duração de 5,66; 5,69; 6,09;
6,70; 7,32 e 7,73 dias respectivamente. Já os
genótipos ‘IAC-19’ e ‘TMG-103’ apresentaram médias de duração intermediárias neste
período. Acredita-se que a diferença na duração do segundo estádio possa estar relacionada à dispersão precoce sofrida pelas ninfas
no genótipo ‘TMG 121’, uma vez que, segundo DEGRANDE & VIVAN (2010) as ninfas
da espécie N. viridula possuem hábito gregário, só se dispersando a partir do terceiro
estádio, fato este que pode ter influenciado
o tempo de desenvolvimento deste estádio
neste genótipo.
Quanto às durações do terceiro e quarto
estádios ninfais (N3 e N4), observa-se que
não houve diferença entre os genótipos (Tabela 2). Os genótipos ‘TMG-103’ e ‘TMG121’ (terceiro estádio) e ‘IAC-19’ e ‘TMG117’ (quarto estádio) provocaram 100% de
44
E. S. SOUZA, E. L. L. BALDIN, T. L. M. FANELLA
Tabela 2. Duração média (± EP) dos diferentes estádios ninfais e da fase ninfal de N. viridula
confinados em diferentes genótipos de soja. T = 25 ± 2° C; U.R. = 70 ± 10% e fotoperíodo = 12 h.
Genótipo
BRS-242
PI-227687
Conquista
IAC-17
IAC-24
TMG-117
IAC-19
TMG-103
TMG-121
F
CV (%)
Duração (dias)1
N2
5,66 ± 0,36 b
5,69 ± 0,38 b
6,09 ± 0,46 b
6,70 ± 0,69 b
7,32 ± 1,08 b
7,73 ± 0,46 b
7,97 ± 0,82 ab
8,10 ± 0,29 ab
11,00 ± 0,82 a
6,02*
17,28
N3
5,16
5,28
6,27
5,58
6,72
5,29
4,68
± 0,21
± 0,49
± 0,53
± 0,54
± 1,08
± 0,39
± 0,30
*
*
N4
a
a
a
a
a
a
a
1,73ns
20,58
6,41
5,71
7,50
6,51
6,75
± 0,14
± 0,18
± 0,20
± 0,44
± 0,92
*
*
–
–
1,60ns
15,31
Fase ninfal1
(dias)
N5
a
a
a
a
a
8,34
12,33
11,33
17,33
± 0,37
± 1,03
± 0,54
± 1,70
*
–
–
–
–
12,77*
16,96
b
b
b
a
29,57
33,01
35,19
40,12
±
±
±
±
–
–
–
–
–
0,75
1,47
1,21
2,37
a
a
a
a
0,36ns
46,29
Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Dados
originais.
* As ninfas não passaram para o estádio seguinte.
1
mortalidade, sugerindo a ocorrência de resistência por antibiose/não-preferência para
alimentação das ninfas. As médias de duração do quinto estádio ninfal (Tabela 2), revelam maior período para as ninfas confinadas ao genótipo ‘IAC-17’, diferindo dos
demais genótipos. O longo período ninfal no
genótipo ‘IAC-17’ provavelmente esteja relacionado à ocorrência de não-preferência
para alimentação, que certamente retardou o
desenvolvimento ninfal neste estádio.
Observando-se a duração geral do quinto
estádio ninfal do percevejo N. viridula, notase claramente que, independentemente do
genótipo hospedeiro, nesta fase os insetos
exigem maior período para o seu desenvolvimento, condizendo com diversos autores
(VILLAS BÔAS & PANIZZI, 1980, BIEHLER &
MCPHERSON, 1982, PANIZZI & ROSSINI,
1987), que também observaram este comportamento para outros hemípteros. Ainda
sobre a duração do quinto estádio, nota-se
que não foi possível determinar a duração
das ninfas confinadas ao genótipo ‘IAC-24’,
uma vez que este genótipo também provocou
a mortalidade de todas as ninfas, indicando
a ocorrência de resistência por antibiose e/ou
não-preferência para alimentação.
Quanto ao período ninfal do percevejo N.
viridula (Tabela 2), nota-se que somente os
genótipos ‘Conquista’, ‘IAC-17’, ‘PI227687’ e ‘BRS-242’ permitiram que os
insetos atingissem a fase adulta, revelandose mais adequados à biologia do inseto.
Apesar de não ter sido detectada diferença
entre os genótipos quanto à duração da fase
ninfal, houve uma tendência de maior duração do período quando as ninfas foram submetidas ao genótipo ‘IAC-17’. O maior período de duração neste genótipo sugere um
menor teor de proteína nos grãos, que segundo PANIZZI (1991) está diretamente relacionado com o desenvolvimento e duração do
estágio ninfal. CALHOUN et al. (1988) demonstraram que o menor período de desenvolvimento ninfal deste percevejo ocorreu
em genótipos de soja com maior teor de
proteína, defendendo a idéia de que os grãos
com mais proteínas ocasionam mais rápido
o peso crítico nos percevejos, que por sua
vez irão desencadear os estímulos neurohormonais para o processo de muda. Os dados
45
BOL. SAN. VEG. PLAGAS, 38, 2012
lam que os insetos apresentaram as menores
médias quando confinados aos genótipos ‘PI227687’ e ‘BRS-242’, com 0,0446 e 0,0565g,
respectivamente, sugerindo a ocorrência de
antibiose e/ou não-preferência para alimentação (Tabela 3). Os genótipos ‘Conquista’ e
‘IAC-17’, não diferiram entre si, apresentando as maiores médias de peso N5. Padrão
semelhante dos genótipos foi observado
quanto ao peso de adultos do percevejo.
referentes à duração total do período ninfal
obtidos neste trabalho (Tabela 2) estão próximos aos valores médios apresentados por
CORRÊA-FERRERIA & PANIZZI (1999), que
constataram uma média de duração de 34,50
dias a partir dos dados de biologia de N. viridula divulgados nos trabalhos de VÉLEZ
(1974), CIVIDANES (1992) e PANIZZI (1997).
O peso médio das ninfas de quinto estádio
ninfal (N5) e adultos recém-emergidos reve-
Tabela 3. Peso médio (± EP) de ninfas de quinto estádio e adultos recém emergidos de N. viridula
confinados em diferentes genótipos de soja
Genótipo
PI-227687
BRS-242
IAC-17
Conquista
N5 (g)1
0,0446
0,0565
0,0592
0,0635
F
CV (%)
±
±
±
±
Adultos (g)1
0,001
0,003
0,001
0,001
22,86*
6,06
c
b
ab
a
0,0528
0,0698
0,0690
0,0817
±
±
±
±
0,002
0,001
0,001
0,001
c
b
b
a
101,50*
3,44
Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Dados originais.
1
Estes dados revelam a presença de compostos anti-nutricionais ou a não- preferência
para alimentação, principalmente nos genótipos ‘PI-227687’ e ‘BRS-242’. As menores
médias de peso observadas no material ‘PI227687’, corroboram os dados obtidos por
PIUBELLI et al. (2003), que destacaram os
efeitos deletérios deste genótipo sobre N. viridula, quando comparado aos genótipos
‘BR-16’, ‘IAC-100’, ‘PI-229358’ e ‘PI
274454’, classificando-o como alimento inadequado para o desenvolvimento deste percevejo e como o genótipo mais promissor para
ser usado em programas de melhoramento
como fonte de resistência a percevejos.
Os dados relacionados à mortalidade ninfal (Tabela 4) indicam que os genótipos
‘TMG-103’ e ‘TMG-121’ foram os que ocasionaram as maiores médias de mortalidade
no estádio N2, diferindo de ‘IAC-17’, ‘PI227687’, ‘BRS-242’ e ‘IAC-PL1’.
Acredita-se que a elevada mortalidade
neste estádio possa estar relacionada à distância que separa o grão da parede da vagem, podendo variar de acordo com o genótipo. Segundo PANIZZI & SILVA (2009), esta
característica física está diretamente relacionada com a mortalidade nos primeiros estádios de hemípteros sugadores de sementes,
pois em muitos genótipos, as ninfas jovens
não conseguem atingir as sementes no interior das vagens devido a um espaço de ar
que os separa. Contudo, isso não foi avaliado neste trabalho.
No estádio N3, os genótipos ‘TMG-103’ e
‘TMG-121’ ocasionaram 100% de mortalidade, diferindo dos demais genótipos, com
exceção do ‘TMG-117’, que ocasionou mortalidade intermediária neste período (Tabela
4). A dispersão ninfal no terceiro estádio,
pode ter influenciado a mortalidade, pois segundo BONGERS & EGGRMANN (1971) e
46
E. S. SOUZA, E. L. L. BALDIN, T. L. M. FANELLA
Tabela 4. Mortalidade média (± EP) nos diferentes estádios ninfais e no período ninfal de N.
viridula confinados em diferentes genótipos de soja
Mortalidade (%) ninfal1
Genótipo
IAC-17
PI-227687
BRS-242
Conquista
TMG-117
IAC-19
IAC-24
TMG-103
TMG-121
F
CV (%)
N2
22,0
24,0
28,0
49,0
55,0
60,2
75,0
82,0
94,0
±
±
±
±
±
±
±
±
±
9,0 b
9,4 b
8,0 b
11,8 ab
9,4 ab
16,0 ab
5,9 ab
12,9 a
2,3 a
6,24*
30,21
N3
N4
9,5 ± 2,8 b
36,3 ± 13,1 b
28,1 ± 17,0 b
31,8 ± 5,3 b
62,0 ± 6,4 ab
45,8 ± 22,9 b
41,7 ± 14,7 b
100,0 ± 0,0 a
100,0 ± 0,0 a
36,4 ± 15,0 b
49,6 ± 11,0 b
45,5 ± 16,1 b
69,5 ± 11,6 ab
100,0 ± 0,0 a
100,0 ± 0,0 a
100,0 ± 0,0 a
–
–
6,75*
41,05
11,04*
23,45
N5
82,9
80,2
66,8
59,7
± 8,07 a
± 2,19 ab
± 14,98 b
± 3,54 b
–
–
–
–
–
5,73*
18,40
Mortalidade
período (%)1
95 ± 1,00 ab
96 ± 1,63 ab
80 ± 14,88 b
95 ± 2,52 ab
100 ± 0,00 a
100 ± 0,00 a
100 ± 0,00 a
100 ± 0,00 a
100 ± 0,00 a
3,48*
9,42
Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Dados
originais; para análise os dados foram transformados em arc sen (x+0,5)1/2.
1
DERR & ORD (1979), ambos citado por PANIZZI (1991), o hábito gregário favorece o
uso da saliva pelos hemípteros na alimentação. Sendo assim, é possível que os genótipos que ocasionaram a maior mortalidade em
N3 também tenham ocasionado uma desuniformidade na duração do estádio anterior,
levando ao abandono das ninfas N2 pelas
ninfas N3 e prejudicando diretamente o desenvolvimento destas no próximo estádio
(N3). Isso fortalece a idéia de que o gregarismo é uma adaptação para a alimentação,
tendo um efeito positivo na sobrevivência
das fases iniciais. Em N4, os genótipos ‘IAC19’, ‘IAC-24’ e ‘TMG-117’ também ocasionaram 100% de mortalidade ninfal.
A mortalidade no período ninfal (Tabela
4), revela que a maioria dos materiais desfavorecem o completo desenvolvimento do
percevejo nesta fase, com destaque para os
genótipos ‘IAC-19’, ‘IAC-24’, ‘TMG-103’,
‘TMG-117’ e ‘TMG-121’ que provocaram
100% de mortalidade, impedindo a emergência de adultos. Estes dados indicam a ocorrência de antibiose e/ou não preferência para
alimentação nestes genótipos frente às ninfas
de N. viridula, acreditando-se na existência
de compostos anti-nutricionais e/ou presença
de compostos secundários ou aleloquímicos,
que segundo PANIZZI (1991), faz com que as
ninfas e os adultos de N. viridula apresentem
um desempenho variável.
Apesar de ocasionar 80% de mortalidade
das ninfas, ‘BRS-242’ foi o genótipo mais
adequado em comparação aos demais.
Os períodos de desenvolvimento (ovo adulto) nos diferentes genótipos de soja encontram-se representados na Figura 1. Para
a obtenção dos dados representados nesta
figura, adotou-se a média do período de incubação médio apresentada por CORRÊAFERREIRA & PANIZZI (1999), que é de 6,80
dias para N. viridula. Somente os genótipos
‘IAC-17’, ‘Conquista’, ‘PI-227687’ e ‘BRS242’ permitiram que as ninfas atingissem a
fase adulta, sendo que ‘IAC-17’ apresentou
a maior média de duração (46,62) indicando
a expressão de resistência do tipo não-preferência para alimentação. ‘BRS-242’ foi o
que mais favoreceu o desenvolvimento do
percevejo, com um período de ovo a adulto
de 36,37 dias. Estes dados sugerem suscetibilidade a este genótipo, pois entende-se que
este material favorece maior número de gerações por ano de N. viridula, ocasionando
assim, ataques mais intensos às lavouras.
BOL. SAN. VEG. PLAGAS, 38, 2012
47
Figura 1. Período médio de desenvolvimento (dias) de N. viridula desde a fase de ovo até a fase adulta em
diferentes genótipos de soja
Uma análise geral dos resultados obtidos permite concluir que quando confinado aos genótipos ‘TMG-103’, ‘TMG-121’, ‘IAC-19’,
‘TMG-117’, ‘IAC-24’ e ‘Conquista’ o percevejo N. viridula não completa o seu desenvolvi-
mento. Conclui-se também que o genótipo
‘IAC-17’ prolonga o período ninfal desta espécie de percevejo. ‘PI-227687’ ocasiona menores
ganhos de peso em ninfas e adultos de N. viridula, originando insetos de tamanho reduzido.
RESUMEN
SOUZA, E. S., E. L. L. BALDIN, T. L. M. FANELLA. 2012. Desarrollo de Nezara
viridula (L. 1758) (Hemiptera: Pentatomidae) en genotipos de soja. Bol. San. Veg.
Plagas, 38: 41-49.
Los cultivos de soja [Glycine max (L.)] han sido significativamente comprometidos
por diferentes plagas. El chinche Nezara viridula (L.) (Hemiptera: Pentatomidae) es
una de las más perjudiciales, reduciendo la cantidad y calidad del grano y requiriendo
un gran número de aplicaciones de insecticidas para su control. Aunque el control
químico es uno de los métodos más usados, el empleo de cultivares resistentes puede
representar una alternativa viable en el manejo de este insecto, reduciendo costos e
impactos indeseables en el ambiente. En este estudio se evaluó el desarrollo de ninfas
de N. viridula en nueve genotipos de soja en condiciones de laboratorio (T = 25 ± 2° C,
HR = 70 ± 10% y fotoperíodo = 12 h), con el objetivo de detectar posibles mecanismos
de resistencia. Para ello, 25 ninfas/genotipo fueron monitoreadas diariamente evaluando la duración de los estados ninfales y la mortalidad, el peso de las ninfas y adultos,
y el período de desarrollo de huevo a adulto. Los resultados revelaron que los genotipos ‘TMG-103’, ‘TMG-121, IAC-19’, ‘TMG-117’, y ‘IAC-24’ causaron una mortalidad del 100% en las ninfas, indicando altos niveles de antibiosis y/o no preferencia por
el alimento. ‘IAC-17’ también prolongo el período ninfal, indicando la existencia de
resistencia. Los insectos criados en ‘PI-227687’ pesaron menos, indicando de la existencia de antibiosis y/o no preferencia por el alimento. Los resultados pueden ser útiles
para programas de mejora de soja enfocados a la obtención de cultivares resistentes.
Palabras clave: resistencia a insectos, Glycine max, chinche, antibiosis.
48
E. S. SOUZA, E. L. L. BALDIN, T. L. M. FANELLA
ABSTRACT
SOUZA, E. S., E. L. L. BALDIN, T. L. M. FANELLA. 2012. Development of Nezara
viridula (L., 1758) (Hemiptera: Pentatomidae) in soybean genotypes. Bol. San. Veg.
Plagas, 38: 41-49.
The soybean [Glycine max (L.)] has been significantly compromised by the attack
of insect pests. The stink bug Nezara viridula (L.) (Hemiptera: Pentatomidae) is pointed as one of the most damaging species, reducing the quantity and quality of grain
produced and requiring a large number of applications of insecticides in crops. Although chemical control is still the most widely used method of control, the use of
resistant genotypes may represent a viable alternative in the management of this insect,
reducing costs and impacts on the environment. This study evaluated the performance
of nymphs of N. viridula in nine soybean genotypes under laboratory conditions (T = 25
± 2° C, RH = 70 ± 10% and photoperiod = 12 h), aiming to detect possible resistance
mechanisms. Thus, 25 nymphs/genotype were monitored daily by assessing the duration and mortality of the nymphal stage, the weight of nymphs and adults and the
developmental period from egg to adult. The data revealed that the genotypes ‘TMG103’, ‘TMG-121, IAC-19’, ‘TMG-117’, and ‘IAC-24’ caused 100% mortality of
nymphs, indicating high levels of antibiosis and/or feeding non-preference expression.
‘IAC-17’ also prolonged the nymphal period, indicating the occurrence of resistance.
The insects from ‘PI-227687’ showed the lowest average weight, also indicating the
occurrence of antibiosis and/or feeding non-preference. Our results may be useful for
soybean breeding programs focusing on development of genotypes resistant to insects.
Key words: Host plant resistence, Glycine max, Southern green stink bug, antibiosis.
REFERÊNCIAS
BIEHLER, J. A., MCPHERSON, J. E. 1982. Life history
and laboratory rearing of Galgupha ovalis (Hemiptera: Corimelaenidae), with descriptions of immature
stages. Annals of the Entomological Society of America, 75: 465-470.
BOGERS, J., EGGERMANN, W. 1971. Der einflub des
subsozialverhaltens der spezialisierten samensanger Oncopeltus fasciatus Dall. und Dysdercus fasciatus Sing. auf ihre ernahrung. Oecologia, 6: 293302.
CALHOUN, D. S., FUNDERBURK, J. E., TEARE, I. D.
1988. Soybean seed crude protein and oil levels in
relation to weight, developmental time, and survival
of southern green stink bug (Hemiptera: Pentatomidae). Environmental Entomology, 17: 727-729.
CIVIDANES, F. J. 1992. Determinação das exigências
térmicas de Nezara viridula (L., 1758), Piezodorus
guildinii (West., 1837) e Euschistus heros (Fabr.,
1758) (Heteroptera: Pentatomidae) visando o seu
zoneamento climático. 50f. Dissertação (Mestrado
em Agronomia) - USP/ESALQ, Piracicaba.
CORSO, I. C. 1984. Constatação do agente causal da
mancha-de-levedura em percevejos que atacam a
soja no Paraná. In: SEMINARIO NACIONAL DE
PESQUISA DE SOJA. EMBRAPA-CNPS. Anais, 3:
152-157.
CORRÊA-FERREIRA, B. S. 1985. Criação massal do percevejo verde Nezara viridula (L.). Londrina: EMBRAPA/CNPSo, (Documentos, 11). 16 p.
CORRÊA-FERREIRA, B.S., PANIZZI, A.R. 1999. Percevejos da soja e seu manejo. Londrina: Embrapa-CNPSo, - Circular Técnica 24, 45 p.
DEGRANDE, P. E., VIVAN, L. M. 2010. Pragas da soja.
In. CAJU, J., YUYAMA, M. M., SUZUKI, S., CAMACHO, S. A. Boletim de Pesquisa de Soja. Rondonópolis: Fundação MT, 14, 418 p.
DERR, L. A., ORD, J. K. 1979. Feeding preference of a
tropical seed-feeding insect: na analysis of the distribution of insects and seeds in the field. In: ORD, J.
K., PATIL, G. A., TAILLIE, C. Statistical Distribution
in Ecological Work. Maryland: International Crop,
387-400.
GALLO, D., NAKANO, O., SILVEIRA NETO, S., CARVALHO, R. P. L., BATISTA, G. C. DE, BERTI FILHO, E.,
PARRA, J. R. P., ZUCCHI, R. A., ALVES, S. B., VENDRAMIM, J. D., MARCHINI, L. C., LOPES, J. R. S.,
OMOTO, C. 2002. Entomologia agrícola. Piracicaba:
FEALQ, 920 p.
LARA, F. M. 1991. Princípios de resistência de plantas
a insetos. São Paulo: Ícone, 336 p.
OLIVEIRA, M. R. V., SILVA, O. L. R. 1997. Prevenção
e controle da mosca-branca Bemisia argentifolii (Hemiptera: Aleyrodidae). Brasília: MAPA, Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal (Alerta Fitossanitário, 1), 16 p.
PANIZZI, A. R. 1991. Ecologia nutricional de insetos
sugadores de sementes. In: PANIZZI. A. R., PARRA,
J. R. P. Ecologia nutricional de insetos e suas impli-
BOL. SAN. VEG. PLAGAS, 38, 2012
cações no manejo de pragas. Brasília: Manole, 253287.
PANIZZI, A. R. 1997. Wild hosts of pentatomids: ecological significance and role in their pest status on
crops. Annual Review of Entomology, 42: 99-122.
PANIZZI, A. R., MOURÃO, A. P. M. 1999. Mating, ovipositional rhythm and fecundity of Nezara viridula
(L.) (Heteroptera: Pentatomidae) fed on privet, Ligustrum lucidum Thumb., and soybean, Glycine max
(L.) Merrill Fruits. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, 28: 35-40.
PANIZZI, A. R.; ROSSINI, M. C. 1987. Impacto de várias
leguminosas na biologia de ninfas de Nezara viridula (Hemiptera: Pentatomidae). Revista Brasileira de
Biologia, 47: 507-512.
PANIZZI, A. R., SILVA, F. A. C. 2009. Insetos sugadores
de sementes (Hetteroptera). In: PANIZZI. A. R., PARRA, J. R. P. Bioecologia e nutrição de insetos. Brasília: Embrapa, 465-522.
PANIZZI, A. R., SLANSKI, F. JR. 1985. Review of phytophagos pentatomids (Hemiptera: Pentatomidae) associated with soybean in the Americas. Florida
Entomologist, 68: 184-214.
PIUBELLI, G. C., HOFFMANN-CAMPO, C. B., ARRUDA,
I. C., LARA, F. M. 2003. Nymphal development, lipid content, growth and weight gain of Nezara viridula (L.) (Heteroptera: Pentatomidae) fed on soybean
genotypes. Neotropical Entomology, 32: 127-132.
PRABHAKER, N., COUDRIET, D. L., MEYER-DRIK, D. E.
1985. Insecticide resistence in the sweetpotato-whitefly Bemisia tabaci (Homoptera: Aleyrodidae). Journal of Economic Entomology, 78: 748-752.
RAIJ, B., CANTARELLA, H., QUAGGIO, J. A., FURLANI,
A. M. C. 1997. Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. Campinas: Instituto Agronômico-Fundação IAC, Boletim Técnico
100, 285 p.
RAMIRO, Z. A. 1982. A soja no Brasil central. Campinas: Fundação Cargil, 215-243.
49
RAMIRO, Z. A., MASSARIOL, A. A. 1977. Manejo de
insetos na cultura da soja. In: A soja no Brasil Central, Campinas: Fundação Cargil, 141-155.
ROSSETTO, C. J., NAGAI, V., IGUE, T., ROSSETO, D.,
MIRANDA, M. A. C. 1981. Preferência de alimentação de adultos de Diabrotica speciosa (Germar) e
Cerotoma arcuata (Oliv.) em variedades de soja.
Bragantia, 40: 179-183.
SINGH, Z. 1973. Southern green sting bug and its relationship to soybeans. Metropolitan Book Co. (PVT.)
LTD. Delhi 6 (India), 105 p.
STANSLY, P. A., SCHUSTER, D. J. 1992. The sweetpotato whitefly and integrated pest managenment of
tomato. In: VAVRINA, C. S. (Ed.), Proceedings, Florida Tomato Institute vegetal Crops Special Series.
University of Florida, 54-74.
TODD, J. W. 1989. Ecology and behavior of Nezara
viridula. Annual Review Entomology, 34: 273-292.
TURNIPSEED, S. G., KOGAN, M. 1976. Soybean Entomology. Annual Review Entomology, 21: 247281.
VÉLEZ, J. R. 1974. Observaciones sobre la biologia de
la chinche verde, Nezara viridula (L.), en el valle
del fuerte sin. Folia Entomologica Mexicana, 28:
5-12.
VILLAS BÔAS, G. L., PANIZZI, A. R. 1980. Biologia de
Euchistus heros (Fabricius, 1798). Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, 9: 105-113.
VILLAS-BÔAS, G. L., GAZZONI, D. L., OLIVEIRA, M. C.
N. DE, PEREIRA, N. P., ROESSING, A. C., FRANÇA
NETO, J. B., HENNING, A. 1990. Efeito de diferentes
populações de percevejos sobre o rendimento e seus
componentes, características agronômicas e qualidade de sementes de soja. Boletim de Pesquisa 1. Londrina: Embrapa-CNPSo, 43 p.
(Recepción: 26 octubre 2011)
(Aceptación: 17 enero 2012)
Download

Desenvolvimento de" Nezara viridula"(L., 1758)(Hemiptera