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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
Departamento de Ciências dos Alimentos
Bacharelado em Química de Alimentos
Disciplina de Seminários
CARACTERÍSTICAS E BENEFÍCIOS DA CAPSAICINA
Cíntia Behling Stark
Pelotas, 2008.
2
CÍNTIA BEHLING STARK
CARACTERÍSTICAS E BENEFÍCIOS DA CAPSAICINA
Trabalho acadêmico apresentado ao curso
de Bacharelado em Química de Alimentos
da Universidade Federal de Pelotas, como
requisito
parcial
da
Seminários em Alimentos.
Orientadora: Carla Mendonça
Pelotas, 2008.
Disciplina
de
3
Agradecimentos
Aos meus familiares, em especial meu pai Mário e minha mãe Nair, pelo
apoio e incentivo para a realização deste trabalho.
A todos os professores que me ajudaram na elaboração deste trabalho
acadêmico, a professora Carla Mendonça pela atenciosa orientação, em especial a
Nutricionista Márcia Keller Alves e ao Professor Marcelo Zaffalon Peter pelos Artigos
e informações enviadas.
Ao meu companheiro Diego pelo exemplo de caráter, companheirismo,
dignidade, amizade, pelo apoio em minhas batalhas, estando incondicionalmente
disposto a ajudar, e dizer as palavras mais especiais e oportunas em todos os
momentos.
A todos os amigos da UFPel, principalmente aos colegas que contribuíram
para a realização do trabalho através de conversas, trocas de informações e
bibliografias.
A Deus, pela presença constante em minha vida.
4
STARK, Cíntia B. Características e Benefícios da Capsaicina. 2008. 38f. Trabalho
acadêmico. Bacharelado em Química de Alimentos. Universidade Federal de
Pelotas, Pelotas.
Resumo
As pimentas trazem sabores e cores especiais aos pratos e podem ser classificadas
como um alimento plenamente integrado à cultura e aos costumes de diversos
países do mundo, especialmente no Brasil e no México, onde são os principais
ingredientes responsáveis pelas peculiaridades e qualidades gastronômicas típicas
mais apreciadas. As pimentas, em sua maioria, possuem sabor ardido,
característico, devido à presença do alcalóide capsaicina na placenta, nas sementes
e em menor grau, no pericarpo do fruto. O pimentão e as pimentas doces não
possuem sabor picante, devido à ausência do alcalóide capsaicina, sendo estes
utilizados como corantes e para consumo in natura. O gênero Capsicum é
representado pelas pimentas e pimentões. A origem do nome Capsicum parece
estar ligada à derivação da palavra grega kapto, cujo o significado é “picar” e
kapsakes que significa “cápsula”. As espécies mais conhecidas são Capsicum
annuum, Capsicum frutescens, Capsicum baccatum, Capsicum pubescens e
Capsicum chinense. As espécies do gênero Capsicum vêm sendo estudadas por
pesquisadores do mundo inteiro e os estudos conferem à capsaicina uma atividade
redutora de doenças cardiovasculares, potencial antioxidante, propriedades
anticâncer e antimutagênica, ação analgésica, anti-úlcera, influência sobre o sistema
nervoso, útil na perda de peso, melhora do aparelho respiratório e ação
antiinflamatória. As pimentas, principalmente as mais pungentes, são usadas como
condimentos, na forma de conservas caseiras e industrializadas, extratos
concentrados denominados oleoresinas, em pó, corantes e na composição de
medicamentos. São empregados também como produto da indústria bélica, na
confecção de “pepper spray” e “pepper foam” fabricados a partir da oleoresina.
Palavras-chave: Pimenta. Capsaicina. Beneficios da Capsaicina. Produtos de
Pimentas.
5
Lista de Figuras
Figura 01.
Molécula da Piperina.............................................................................11
Figura 02.
Estrutura molecular da Capsaicina.......................................................13
Figura 03.
Cultivares da espécie Capsicum annuum.............................................14
Figura 04.
Variedades do Capsicum baccatum.....................................................15
Figura 05.
Cultivares da espécie Capsicum chinense...........................................15
Figura 06.
Variedade do Capsicum frutescens......................................................16
Figura 07.
Variedade do Capsicum glabriusculum.................................................17
Figura 08.
Variedade do Capsicum praetermissum...............................................17
Figura 09.
Licores de morango com pimenta e menta com pimenta.....................30
Figura 10.
Licores de figo com pimenta, abacaxi com pimenta e amora com
pimenta..................................................................................................30
Figura 11.
Pimenta vermelha moída.......................................................................31
Figura 12.
Chocolate com pimenta..........................................................................31
Figura 13.
Geléia de pimenta malagueta................................................................31
Figura 14.
Geléias de abacaxi com pimenta e morango com pimenta.................32
Figura 15.
Molho de pimenta.................................................................................32
Figura 16.
Queijo colonial com pimenta.................................................................32
Figura 17.
Biscoito polvilho com pimenta...............................................................33
Figura 18.
Doce de pimenta (pimentada)...............................................................33
Figura 19.
Pimenta em cada.................................................................................33
6
Sumário
1 Introdução................................................................................................................7
2 Aspectos Evolutivos.................................................................................................9
3 Caracteristicas Botânicas e Sistemáticas................................................................11
4 Cultivares do Brasil.................................................................................................14
4.1 Capsicum annuum...............................................................................................14
4.2 Capsicum baccatum............................................................................................14
4.3 Capsicum chinense.............................................................................................15
4.4 Capsicum frutescens...........................................................................................16
4.5 Capsicum glabriusculum………………………………………................................17
4.6 Capsicum praetermissum....................................................................................17
5 Benefícios...............................................................................................................18
5.1 Efeitos do Consumo de Pimentas Sobre o Sistema Cardiovascular...................18
5.2 Potencial Antioxidante das Pimentas .................................................................19
5.3 Propriedades Antimutagênica e Anticâncer das Pimentas..................................20
5.4 A Ação Analgésica dos Frutos Capsicum............................................................22
5.5 Osteoartrite e Artrite Reumatóide.........................................................................23
5.6 Herpes Zóster.......................................................................................................24
5.7 Síndrome Pós-Mastectomia.................................................................................25
5.8 Neuropatia Diabética Dolorosa.............................................................................25
5.9 Neuropatia pós-cirúrgica......................................................................................26
5.10 Efeitos Sobre o Sistema Nervoso......................................................................26
5.11 Influência no Consumo Energético e na Perda de Peso....................................27
5.12 Efeitos do Consumo de Pimentas Sobre o Trato Gastrintestinal.......................27
5.13 A Ação das Pimentas no Aparelho Respiratório e a Influência Desta Quanto
a Melhoraria de Dores de Cabeça.........................................................................28
5.14 Melhorando a Glicemia.......................................................................................29
6 Produtos Envolvidos................................................................................................30
7 Conclusão................................................................................................................34
8. Referências............................................................................................................35
7
1 Introdução
Uma das principais características culturais das tribos indígenas que
habitavam as terras brasileiras na época do descobrimento era o cultivo de
pimentas. Após o descobrimento, as sementes e frutos de pimentas passaram a ser
cada vez mais cultivados, disseminados entre vários povos e utilizadas de diversas
formas (REIFSCHNEIDER, 2000).
As pimentas trazem sabores e cores especiais aos pratos e podem ser
qualificada como um alimento plenamente integrado à cultura e aos costumes de
diversos países do mundo, especialmente no Brasil e no México, onde são os
principais
ingredientes
responsáveis
pelas
peculiaridades
e
qualidades
gastronômicas típicas mais apreciadas (REIFSCHNEIDER, 2000).
O pimentão e as pimentas doces não possuem sabor picante, devido à
ausência do alcalóide capsaicina, sendo estes utilizados como corantes e para
consumo in natura. As pimentas, em sua maioria, possuem sabor ardido,
característico, devido à presença do alcalóide capsaicina na placenta, nas sementes
e, pode ser encontrada em menor grau, no pericarpo do fruto, destacando-se a
pimenta-malagueta,
pelo
elevado
teor
possui
sabor
mais
pungente
(REIFSCHNEIDER, 2000).
A pungência dos frutos, sua evolução, seus atributos sensoriais, a estrutura
química, suas ações fisiológicas, o aumento da aceitação e o aumento da
preferência por várias populações, são de grande interesse na pesquisa e para a
realização de programas de melhoramento genético (SURH; LEE; LEE, 2002). As
espécies mais conhecidas são Capsicum annuum, Capsicum frutescens, Capsicum
baccatum, Capsicum pubescens e Capsicum chinense.
O estudo das pimentas do gênero Capsicum vem de longa data, devido a
características especiais observadas em populações que fazem uso destes frutos.
Observações estas que não se limitaram à agronomia, pois as pimentas devem ser
encaradas como alimentos especiais, e não somente como temperos de uso
culinário ou como elemento botânico.
8
Os capsaicinóides são bem conhecidos pela sua pungência. As espécies do
gênero Capsicum vêm sendo estudadas por pesquisadores do mundo inteiro e os
estudos conferem à capsaicina uma atividade antihiperlipidêmica (KUDA; IWA;
YANO,
2004),
antioxidantes
propriedades
(SURH;
LEE;
antiinflamatórias
LEE,
2002;
(SURH;
GANJI,
LEE;
2004),
LEE,
além
de
2002),
efeito
quimiopreventivo (SURH; LEE; LEE, 2002; LEE, et al., 2005) e efetivos no
tratamento de um número de desordens de fibras nervosas, incluindo dor associada
com artrite, cistite e neuropatia diabética (NUEZ, 1995). As pimentas ainda contêm
altas concentrações de vitamina A e C, consideradas nutrientes anticancerígenos
(KUDA; IWAI; YANO, 2004).
Usada devidamente, pode ser bastante saudável e efetiva contra doenças
físicas e mentais. Pode ser útil em casos de indigestão, prisão de ventre e tem a
habilidade de modificar o perfil lipídico do sangue, especialmente o nível de
colesterol. Também é utilizada para melhorar a circulação e elevar o metabolismo.
Sua habilidade de aumentar o fluxo sangüineo periférico pode ser útil em casos de
enxaqueca e depressão. Além disso, aumenta a efetividade de sistema imunológico,
fortalecendo o corpo contra invasores infecciosos.
Surh (2002) concluiu que a capsaicina é efetiva para dor de cabeça, coceira
e dor na síndrome pós-mastectomia. Também é eficaz em casos de mucosite oral,
alergia cutânea, dor no pescoço e tumor de pele.
As pimentas, principalmente as mais pungentes, são usadas como
condimentos (DUARTE et al., 2004), na forma de conservas caseiras e
industrializadas, extratos concentrados denominados oleoresinas (MÍNGUEZMOSQUEIRA;
HORNERO-MÉNDEZ,
1993;
WEISSENBERG
et
al.,
1997.;
REIFSCHNEIDER, 2000), em pó (MÍNGUEZ-MOSQUEIRA; HORNERO-MÉNDEZ,
1993; REIFSCHNEIDER, 2000) corantes (WEISSENBERG et al., 1997; CAREAGA
et al., 2003; WAGNER, 2003), composição de medicamentos (MATERSKA, et al.,
2003; WAGNER, 2003; DUARTE et al., 2004) ou ainda como flavorizante
(WEISSENBERG, et al. 1997; DOYMAZ; PALA, 2002). São empregados também
como produto da indústria bélica, na confecção de “pepper spray” e “pepper foam”
fabricados a partir da oleoresina (REIFSCHNEIDER, 2000; WAGNER, 2003).
O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão bibliográfica sobre as
pimentas do gênero Capsicum citando as mais conhecidas e consumidas, produtos
desenvolvidos a base de pimenta, bem como efeitos benéficos da capsaicina.
9
2. Aspectos Evolutivos
No período de 1502 a 1600, as rotas de navegação permitiram que as
pimentas viajassem o mundo, especialmente do Brasil á Portugal e à África. Alguns
relatos de exploradores do Brasil Colônia demonstraram que a pimenta fazia parte
da dieta das populações indígenas brasileiras, e que os nativos faziam uso dos
frutos como moeda de troca por ferramentas (REIFSCHEIDER, 2000).
No Brasil é possível realizar a produção de várias espécies de pimenta em
todas as regiões geográficas. Apesar do cultivo ainda ser feito de maneira rústica,
em uma área de aproximadamente 12 mil hectares, produz em média 40 mil
toneladas e é o mercado que movimenta em torno de 80 milhões de reais por ano,
incluindo o consumo interno e as exportações (REIFSCHEIDER, 2000). O Rio
Grande do Sul é um dos cinco Estados maiores produtores, ao lado de Minas
Gerais, Goiás, São Paulo e Ceará, sendo que, o município de Turuçu- RS apresenta
atualmente uma produção de uma tonelada de pimenta seca e moída anualmente,
dessa forma a cidade é considerada a Capital Nacional da Pimenta Vermelha.
No mercado mundial, a Índia se destaca em relação a produção, produzindo
anualmente 4000 ton/ano, em segundo lugar vem a China com a produção de 2980
ton/ano, enquanto
Coréia do sul produz 1758 ton/ano e o México produz 1700
ton/ano. Em relação a exportação a Índia exporta 25% da pimenta produzida, a
China exporta 24%, a Espanha exporta 17% e o México 8%. Quanto a importação,
Emirados Árabes, União Européia, Sri Lanka, Malásia, Japão e Coréia são os
maiores importadores de pimenta do gênero Capsicum (NETO, 2006).
O Brasil exporta muito pouco de suas pimentas e pimentões frescos (in
natura). As regiões Centro-Oeste e Sudeste abastecem parte do mercado argentino
nos meses de inverno. O mercado para as pimentas no Brasil sempre foi
considerado como secundário em relação às hortaliças, provavelmente devido ao
baixo consumo e ao pequeno volume comercializado. Este cenário está
modificando-se rapidamente pela exploração de novos tipos de pimentas e o
desenvolvimento de novos produtos, com grande valor agregado, como conservas
ornamentais, geléias especiais e outras formas processadas (HENZ, 2006).
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O lançamento de novos produtos a base de pimentas deve ser acompanhado
de esclarecimentos aos consumidores, divulgação de suas propriedades medicinais,
desfazendo mitos de que pimenta faz mal à saúde, ressaltando-se as características
diferenciais em relação aos produtos tradicionais, tanto para as formas processadas
como para novas cultivares e tipos para consumo fresco (HENZ, 2006).
11
3. Características Botânicas E Sistemáticas
As pimentas e pimentões pertencem à Divisão Spermatophyta, Filo
Angiospermae, Classe Dicotiledônea, Ramo Malvales-Tubiflorae, Ordem Solanales,
Família Solanaceae e gênero Capsicum, também existem pimentas da família
Piperaceae e de gênero Piper (FILGUEIRA, 2005).
A família Piperaceae contém 12 gêneros e 1400 espécies, sendo 700
pertencentes ao gênero Piper distribuídas em todas as regiões tropicais, com 170
espécies no Brasil (BARROSO, 1986). As espécies caracterizam-se e chamam
atenção pela produção de óleos essenciais, o que é de grande interesse para as
indústrias farmacêuticas e de inseticidas.
A pimenta Piper nigrum, conhecida como pimenta-do-reino, provém de uma
trepadeira nativa da Índia. Atualmente, essa pimenta é o tempero mais conhecido
em todo o mundo (FILGUEIRA, 2005).
A pimenta-do-reino, bem como a pimenta longa (Piper longum) contém um
alcalóide pungente denominado piperina. Estudos farmacológicos mostram que esta
substância
reduz
inflamação
e
dor
(HALLIVEL,
1999),
possui
atividade
anticonvulcivante e antiúlcera (BAYNES; DOMINICZAZ, 2000), além de proteger o
fígado (KOUL; KAPIL, 1993). A Figura 01 representa a estrutura molecular da
piperina.
Figura 01- Molécula da Piperina.
Fonte: Piperina, 2008.
O gênero Capsicum é representado pelas pimentas e pimentões. A origem do
nome Capsicum parece estar ligada à derivação da palavra grega kapto, cujo o
significado é “picar” e kapsakes que significa “cápsula” (NUEZ, 1995). Segundo
Bianchetti (1996) e Reifscheneider (2000) este gênero possui de 20-25 espécies,
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normalmente classificadas de acordo com o nível de domesticação divididas em
espécies domesticadas, semi-domesticada e silvestres de acordo com a variação
morfológica das flores: Plantas domesticadas: São aquelas em que foram
selecionadas determinadas características, de modo que são incapazes de
sobreviver em condições naturais; Plantas semi-domesticadas: São plantas
selecionadas, cultivadas, mas ainda não domesticadas, apresentando um grau de
dependência do homem; Plantas silvestres: São aquelas que não são cultivadas e
nem ocorrem normalmente em ambientes alterados pelo homem.
O Brasil destaca-se por possuir ampla diversidade em todas as categorias e
contempla 4 espécies domesticadas: Capsicum annuum, Capsicum baccatum,
Capsicum chinense, Capsicum frutescens. Existem ainda 3 espécies semidomesticadas: Capsicum glabriusculum, Capsicum praetermissum, Capsicum
baccatum baccatum. E também 8 a 10 espécies silvestres (REIFSCHNEIDER,
2000).
Os frutos de capsicum sofrem mudanças em seus componentes conforme o
processo de amadurecimento, especialmente no conteúdo de capsaicinóides
(ESTRADA, et al., 2000). Este fato provavelmente interfire na dispersão das
sementes, já que um alto conteúdo de capsaicinóides resulta em fruto bastante
picante.
Dos aproximadamente 14 capsaicinóides existentes, os que ocorrem em
maior quantidade são a capsaicina, a diidrocapsaicina e a nordiidrocapsaicina. Um
estudo investigou este paradoxo (picância versus dispersão de sementes) e verificou
que a capsaicina desencoraja seletivamente os dispersores. Assim, a maior parte da
dispersão das sementes (em torno de 72%) é feita por pássaros, um dos poucos
animais que são indiferentes à pungência da capsaicina (TEWKSBURY; NABHAN,
2001).
A sensação de ardência provocada pelos capsaicinóides é percebida pelo
organismo humano por receptores químicos que desencadeiam diversos processos
fisiológicos. Um deles é a liberação de endorfinas, que provocam uma sensação de
bem estar, provável razão pela qual existem “adeptos” pelo consumo de Capsicum.
Os capsaicinóides apresentam efeito diferenciado quanto à sensação de ardor.
Dentre os três principais, a nordiidrocapsaicina é o capsaicinóide menos irritante,
sendo sua ardência localizada na frente da boca e no palato. A sensação de ardor é
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percebida imediatamente após a ingestão da pimenta e rapidamente dissipada. A
Figura 02 representa a estrutura molecular da capsaicina.
Figura 02- Estrutura molecular da Capsaicina.
Fonte: Capsaicina, 2008.
Já a capsaicina e a diidrocapsaicina, que compreendem cerca de 80% do
conteúdo total de capsaicinóides, causam maior irritação e são descritas como tendo
uma típica sensação de ardor no meio da boca e no palato, bem como na garganta e
na parte posterior da língua (SURH; LEE; LEE, 2002).
O teor de capsaicinóides é avaliado pela escala de Unidade de Calor
Scoville (Scoville Heat Units – SHU), cujos valores variam de zero (0) a trezentos mil
(300000) SHU. Cultivares com até 30 mil SHU são consideradas de baixa pungência
utilizadas para o consumo in natura ou desidratadas; com valores entre 30 mil a 75
mil SHU, médias pungência usadas para a fabricação de molhos; entre 75 mil a 120
mil, alta pungência e acima de 120 mil, pungência muito alta, ambas são utilizadas
para conservas e na indústria farmacêutica e bélica (REIFSCHNEIDER, 2000).
14
4. Cultivares do Brasil
4.1 Capsicum annuum
É a variedade domesticada mais conhecida e difundida no mundo.
Cultivadas em grande escala no México, países da América Central, no sudeste e
centro da Europa, África e Ásia. No Brasil estas pimentas são cultivadas
principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. As cultivares do
gênero Capsicum annuum são o Jalapenõ, o Pimentão e a Pimenta Americana
(doce) como mostra a Figura 03.
Pimentão
Pimenta
Americana (doce)
Jalapeño
Figura 03- Cultivares da espécie Capsicum annuum.
Fonte: Embrapa,2000
O pimentão é de pungência doce e suave aroma, sendo muito usado em
preparos de saladas tanto cozidos como recheados. Também podem ser
processados pela indústria na forma de conservas em azeite, desidratados inteiros,
em flocos ou em pó (páprica).
A pimenta Americana é de pungência doce e suave aroma, sendo usada no
preparo de vários pratos da comida brasileira, muitas vezes substituindo o pimentão.
O jalapeño é considerado de pungência picante média e de forte aroma,
sendo os frutos consumidos frescos ou processados na forma de molhos líquidos,
conservas em vinagre ou azeite e desidratados inteiros ou em pó.
4.2 Capsicum baccatum
Essa variedade é cultivada no nordeste da América do Sul, incluindo
Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, norte da Argentina e sudeste do Brasil e é a
variedade mais consumida nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Considerado de
15
pungência variável, de não picante a picante, com a maioria possuindo pungência
suave. A Figura 04 mostra a variedade Dedo-de-Moça e a Cambuci.
Dedo-de-Moça
Cambuci
Figura 04- Variedades do Capsicum baccatum.
Fonte: Embrapa, 2000.
A pimenta Dedo-de-Moça é cultivada principalmente nos estados de São
Paulo e Rio Grande do Sul. É de pungência e aroma suaves, usada para fabricação
de molhos líquidos, conservas e na forma calabresa (desidratada na forma de focos
com sementes).
A variedade Cambuci é bem popular na região Sudeste do Brasil e é
encontrada também em estado silvestre, crescendo sob árvores diversas e em
capoeiras. De pungência doce e aroma suave tem sido utilizada em saladas ou
consumida cozida.
4.3 Capsicum chinense
É a mais brasileira de todas as espécies de pimenta domesticada, sendo
cultivada ao leste dos Andes, porém encontrada em maior diversidade na bacia
amazônica e no Pará. A Figura 05 mostra as diferentes cultivares de Capsicum
chínense.
16
Pimenta de Cheiro
Bode
Cumari-do-Pará
Murupi
Figura 05- Cultivares da espécie Capsicum chinense.
Fonte: Embrapa, 2000.
A pimenta de Cheiro é considerada de pungência doce, pouco picante ou
até muito picante e com aroma forte. Sendo usada em saladas, condimentos para
carnes, principalmente peixes.
A pimenta Bode é de pungência forte, picante e de aroma forte. Sendo
utilizada como condimentos no preparo de carnes, arroz, feijão, pamonha salgada e
até em biscoitos de polvilho. Quando madura, tanto as vermelhas quanto as
amarelas, são utilizados principalmente em conservas.
A Cumari-do-Pará é de pungência forte e aroma forte, sendo utilizada em
conservas.
A Murupi tem aroma forte e pungência média à alta. Sendo muito utilizada
no Norte do país, na forma de molho misturada ao caldo do tucupi (extraído da
mandioca) e em conservas com vinagre, óleo ou soro de leite.
4.4 Capsicum frutescens
É a espécie domesticada com menor variabilidade morfológica. Ela é
cultivada no sudeste dos Estados Unidos, das baixas do sudeste brasileiro até a
América Latina. A Figura 06 mostra a espécie Capsicum frutescens.
Malagueta
Figura 06- Variedade do Capsicum frutescens.
Fonte: Embrapa, 2000.
17
A pimenta Malagueta é plantada em todo o país, destacam-se os cultivos
nos estados de Minas Gerais, Bahia e Ceará. Considerada de pungência
picante médio a alto e aroma baixo. Sendo usada em condimentos, no preparo de
peixes, acarajés e carnes, molhos de pimenta e conservas.
4.5 Capsicum glabriusculum
Variedade muito utilizada como ornamental. A Figura 07 mostra a espécie
Capsicum glabriusculum.
Pimenta de Mesa
Figura 07- Variedade do Capsicum glabriusculum
Fonte: Embrapa, 2000.
A Pimenta de Mesa é considerada pouco ou até muito picante e aroma
suave. Usada principalmente como ornamental.
4.6 Capsicum praetermissum
É uma variedade exclusiva do Brasil. A Figura 08 representa a variedade do
Capsicum praetermissum.
Cumari verdadeira
Figura 08- Variedade do Capsicum praetermissum.
Fonte: Embrapa, 2000.
18
A Cumari verdadeira é considerada de pungência forte e aroma suave,
sendo usada principalmente em conservas.
19
5. Benefícios
5.1 Efeitos do Consumo de Pimentas sobre o Sistema Cardiovascular
As doenças cardiovasculares são a maior causa de morte em países em
desenvolvimento e são responsáveis por um terço de todas as mortes na América
Latina. Continuam sendo a maior causa de morte no Brasil. O conjunto de doenças
denominado doenças do coração engloba a hipertensão arterial, insuficiência
cardíaca e doença coronária (LOTUFO, 1998).
O risco de doenças cardiovasculares está relacionado aos níveis plasmáticos
de colesterol total, LDL-colesterol e triglicerídios, havendo uma relação inversa entre
as concentrações de HDL-colesterol, ou seja, o risco diminui à medida que o os
valores de HDL aumentam (BAYNES; DOMINICZAK, 2000). Pesquisas indicam que
LDL-colesterol elevado é a maior causa de risco de doenças cardiovasculares e que
a diminuição de seus níveis reduz o risco (BAYNES; DOMINICZAK, 2000).
Ensaios com ratos alimentados com dieta hiperlipídica e, posteriormente,
adicionadas pequenas quantidades de pimenta vermelha (Capsicum annuum) ou
capsaicina, apresentam efeito hipocolesterolêmico e hipotrigliceridêmico (KUDA;
IWAI; YANO, 2004). Do mesmo modo, estudos demonstraram que a suplementação
de capsaicina em dieta hiperlipídica de animais reduz o risco de desenvolvimento de
aterosclerose através da redução do colesterol sanguíneo e da concentração sérica
de triglicerídios (KOUL; KAPIL, 1993).
A diidrocapsaicina apresenta efeito semelhante: mesmo com uma dieta rica
em gordura, os animais que receberam o capsaicinóide tiveram as concentrações
séricas de triglicerídeo e colesterol reduzidas (NEGULESCO, 1999). Quando a
capsaicina e a diidrocapsaicina foram usadas para tratar perus alimentados com
uma dieta rica em colesterol, ambas diminuíram os níveis de LDL-colesterol e
aumentaram os de HDL-colesterol em relação ao controle (NEGULESCO, 1999).
O efeito da oleoresina de Capsicum em uma dieta hipercolesterolêmica foi
observado em cobaias, sendo que houve redução do colesterol e triglicerídios
séricos de 70% a 66%, enquanto no fígado houve redução de 70,9% a 68,7%,
respectivamente. Além disso, preveniu o acúmulo de colesterol e trilicerídios no
20
fígado e na aorta, e aumentou a excreção fecal de gorduras (KUDA; IWAI; YANO,
2004).
Foram testados os níveis de triglicerídios e ácidos graxos livres em animais
que receberam doses de capsaicina após terem ingerido azeite de oliva. Ambos os
níveis diminuíram após a administração de capsaicina. A elevação na concentração
de ácidos graxos livres sérica foi inibida duas ou quatro horas após o tratamento,
mas não após oito horas, sugerindo que a capsaicina pode causar inibição na
absorção de lipídios no trato gastrointestinal (SAITO, 1999).
Este capsaicinóide parece interferir também na contratilidade das artérias
coronárias, tendo um efeito direto de relaxamento nos músculos lisos (SAITO, 1999).
O uso de adesivos contendo capsaicina pode melhorar o limiar isquémico em
pacientes com doença coronária isquémica, provavelmente através de vasodilatação
arterial (FRAGASSO, 2004).
5.2 Potencial Antioxidante das Pimentas
Radical livre é definido como qualquer átomo, molécula ou fragmento de
molécula contendo um ou mais elétrons desemparelhados nas suas camadas de
valência. A peroxidação dos lipídios das membranas celulares é apenas um exemplo
de lesão biológica que pode ser promovida pelos radicais livres, uma vez que
praticamente todas as biomoléculas são suscetíveis à oxidação (HALLIWELL, 1999).
Há uma importante correlação entre a formação dos radicais livres com a
maior parte das doenças crônico-degenerativas, doenças auto-imunes, infecciosas e
inflamatórias. Entre as que sofrem ação dos radicais livres podemos citar a
aterosclerose, a degeneração macular e o câncer (OLSZEWER, 2000).
Os radicais livres são instáveis e são interceptados pela ação de agentes
antioxidantes (OLSZEWER, 2000). Sabe-se que as pimentas, juntamente com os
pimentões, têm altos teores vitamínicos (LINGUANOTTO, 2004). São fontes de
excelentes antioxidantes naturais: a vitamina C, os carotenóides, a vitamina E e as
vitaminas do complexo B (REIFSCHNEIDER, 2000).
Pesquisadores conduziram um estudo para verificar a atividade antioxidante
dos frutos de pimenta, conforme o seu estado de maturidade e observaram que há
uma diferença na atividade antioxidante entre os frutos verdes e os maduros, sendo
21
que os frutos maduros apresentam maior atividade antioxidante (PERUCKA;
OLESZEK, 2000).
A cor dos frutos das pimentas é bastante variada, começando geralmente
com verde, amarelo ou branco na fruta não madura, e se tornando vermelho,
marrom ou quase preto em frutas maduras (LONG-SOLIS, 1998). A cor de cada
variedade no estado de maturação depende da capacidade dos frutos de sintetizar
carotenóides e até mesmo de reter pigmentos de clorofila. Quanto maior o grau de
maturação da pimenta, maior será o conteúdo de capsaicina, dessa forma o
conteúdo de capsaicina nos frutos não está relacionado com a cor dos frutos e sim o
grau de maturação (LONG-SOLIS, 1998).
Os flavonóides em maior conteúdo encontrados nas pimentas são a quercitina
e a luteolina, que estão presentes em formas conjugadas. Luteolina tem maior
atividade antioxidante seguida pela capsaicina e pela quercitina (LEE, et al., 2005).
Os flavonóides são pigmentos naturais presentes em vegetais e que protegem o
organismo do dano produzido por agentes oxidantes, como os raios ultravioleta,
poluição ambiental, substâncias químicas presentes nos alimentos, etc. O organismo
humano não pode produzir estas substâncias químicas protetoras, por isso devem
ser obtidas mediante alimentação ou em forma de suplemento (TOPUZ; OZDEMIR,
2004).
5.3 Propriedades Antimutagênica e Anticâncer das Pimentas
Sob circunstâncias normais, a produção de novos tipos celulares é bastante
regulada, e o número de qualquer tipo particular de células permanece constante.
Ocasionalmente as células que surgem não conseguem mais responder aos
mecanismos de controle do crescimento normal, dando origem aos clones de células
que podem se expandir a um tamanho considerável, produzindo um tumor ou um
neoplasma (GOLSBY, 2002).
Diz-se tratar de benigno um tumor que não é capaz de crescimento indefinido
e não é capaz de invadir extensivamente os tecidos adjacentes saudáveis. É
maligno quando continua a crescer e se torna progressivamente invasivo; estes
exibem metástases. Os agentes que causam mutação podem ser químicos
(reagentes alquilantes do DNA) ou físicos (luz ultravioleta e radiação ionizante).
Embora várias respostas imunes possam ser geradas para as células tumorais,
22
estas respostas freqüentemente não são suficientes para prevenir o crescimento
tumoral. Um enfoque do tratamento do câncer é o aumento ou suplemento destes
mecanismos de defesa naturais (GOLSBY, 2002).
Uma vez que a mutação é um dos mecanismos pelo qual o câncer é causado,
uma substância antimutagênica provavelmente poderá prevenir a carcinogênese.
Pesquisas extensivas nos últimos anos revelaram que o consumo regular de frutas e
verduras pode reduzir o risco de adquirir específicos tipos de câncer (GOLSBY,
2002).
Um estudo realizado na Cidade do México analisando o efeito de extrato de
pimenta na mutagenicidade de amostras de ar da cidade, revelou que o extrato foi
capaz de modular a atividade mutagênica das amostras, e que a clorofila e o
betacaroteno encontrados no extrato mostraram efeito antimutagênico contra
compostos nitro-aromático (KOUL; KAPIL, 1993).
Sugere-se que a capsaicina possui propriedades antimutagênicas e
anticarcinogênicas através da inibição de enzimas que poderiam iniciar a mutação
de células ou através da inibição de metabólitos carcinogênico, como, por exemplo,
o NNK [4-(methylnitrosamino)-1-(3-pyridyl)-1-butanone] do tabaco (MODLY, 1986). A
ação protetora desta molécula também parece ser eficaz contra efeitos maléficos de
carcinógenos presentes no tabaco (nitrosamina) e no cigarro (benzopireno) (SUHR;
LEE; LEE, 2002).
Porém, um estudo epidemiológico realizado na Cidade do México durante os
anos de 1980 e 1990 avaliou a relação entre o consumo de pimenta e o risco de
câncer gástrico. Os resultados deste estudo sugerem que os consumidores deste
fruto tiveram maior propensão de ter câncer gástrico do que os não consumidores,
salientando que este risco aumentado está intimamente relacionado à quantidade de
pimenta consumida (KOUL; KAPIL, 1993).
Já um estudo de caso-controle realizado na Itália, mostrou que o consumo de
capsaicina pode, na verdade, diminuir o risco de desenvolver câncer gástrico. O alto
risco de câncer gástrico encontrou-se relacionado especialmente ao uso do sal,
enquanto que o baixo risco estava relacionado ao consumo de temperos, azeite de
oliva e alho (BAYNES; DOMINICZAK, 2000).
Um estudo verificou a propriedade antimutagênica da pimenta Capsicum
annuum através do SMART (Somatic Mutation and Recombination Test). Os
resultados mostraram que a pimenta foi efetiva em reduzir eventos mutacionais
23
induzidos por agentes pró-mutagênicos. Os autores sugerem que a supressão da
ativação ou interação metabólica com os grupos ativos de mutagênicos pode ser o
mecanismo através do qual os temperos exercem sua ação antimutagênica
(ELLISON, 1997).
No que diz respeito à formação de tumor, a capsaicina melhorou a
carcinogênese de pele em animais, quando dado simultaneamente com um
promotor de tumor (SURH; LEE; LEE, 2002). Surh (2002) em um trabalho de
revisão, sugere que a capsaicina faz as células tumorais cometerem suicídio.
Alguns
fitoquímicos
derivados
de
frutas
e
vegetais
são
agentes
quimiopreventivos, como, por exemplo, a capsaicina (das pimentas), o resveratrol
(do vinho), o licopeno (do tomate), a alicina (do alho), o eugenol (do cravo) e a
genisteína (da soja). Estes agentes apresentam grande valor terapêutico não
somente na prevenção, como também têm sido usados como adjuvantes nas
terapias,
pois
dados
revelam
que
podem
reverter
a
quimioresitência
e
radioresistência em pacientes em tratamento de câncer (DORAI; AGGARWAL,
2004).
Um estudo de Basha (1991) verificou se o uso prolongado de capsaicina é
seguro para pacientes em tratamento de bexiga. Após cinco anos de administração
desta substância foi feita a biópsia das bexigas dos pacientes e o resultado é
promissor, pois nenhuma mudança de ordem negativa ocorreu (BASHA;
WHITERHOUSE, 1991). Essa ausência de atividade genotóxica e citotóxica da
capsaicina
também
foram
confirmadas
em
outros
estudos
(BASHA;
WHITERHOUSE, 1991).
5.4 A Ação Analgésica dos Frutos Capsicum
A capsaicina parece ser uma grande promessa no que diz respeito à
analgesia. Mesmo utilizada há séculos como remédio para dor, existem cada vez
mais estudos com a finalidade de verificar a sua ação analgésica em diferentes
patologias. Enquanto cresce o número de pesquisas, a capsaicina deixa de ser uma
promessa, para se tornar uma realidade no tratamento da dor (FUSCO;
GIACOVAZZO, 1997).
Trabalhos realizados com a capsaicina são de longa data. Investigações
prévias mostraram que este capsaicinóide inativa neurônios sensoriais dos gânglios
24
da raiz dorsal da medula espinhal e dos nervos terminais, encarregados de transmitir
a dor. Com isso, estimularam o uso desta substância como ferramenta de estudo
dos mecanismos da transmissão da dor e como analgésico para o tratamento de
doenças como artrite reumatóide (DEAL, 1991; BERNSTEIN, 1987), na síndrome
pós-mastectomia (DINI, 1993) e neuropatia diabética (FUSCO; GIACOVAZZO,
1997).
A eficácia e a tolerância do uso de um adesivo contendo Capsicum em uma
dor nas costas não específica, foram investigadas em um estudo com 320 pacientes,
onde metade recebeu o adesivo e metade recebeu placebo. A superioridade do
tratamento deste tipo de dor com o adesivo de Capsicum comparado ao placebo foi
clinicamente relevante para dor nas costas (BERNSTEIN, 1987).
Os maiores atrativos do tratamento tópico com a capsaicina são a segurança
e a simplicidade. Porém, apesar da segurança do uso de capsaicina, algumas
pessoas podem sofrer de uma dermatite de contato que resulta da manipulação de
pimentas que contêm esta molécula. O tratamento é necessário, pois, a dermatite
causa dor persistente (BERNSTEIN, 1987).
5.5. Osteoartrite e Artrite Reumatóide
As doenças reumáticas, que afetam em torno de 3% a 8% da população
como um todo, são entidades mórbidas em que predominam a dor e a impotência
funcional em algum setor do aparelho locomotor (MOREIRA; CARVALHO, 2001).
A osteoartrite é um processo degenerativo, no qual se pode ter perda da
cartilagem, com formação óssea nas bordas e no tecido subcondral (OLSZEWER,
2000). Não resulta de uma causa única, mas de um conjunto de causas onde podem
participar a idade, a hereditariedade, fatores endócrinos e metabólicos, trauma e
inflamação (MOREIRA; CARVALHO, 2001).
O principal motivo que leva o paciente a procurar um médico é a dor,
especialmente quando esta piora com o movimento. Outros sinais da doença
incluem: sensibilidade à mobilização, atrofia da musculatura articular com perda da
função da articulação, rigidez após longos períodos de repouso, mau alinhamento
articular e defeitos posturais, alterações da morfologia articular e sinais discretos de
inflamação articular (MOREIRA; CARVALHO, 2001; OLSZEWER, 2000).
25
A artrite reumatóide é uma doença sistêmica do tecido conjuntivo, cujas
alterações
predominantes
ocorrem
em
nível
das
estruturas
articulares,
periarticulares e tendinosas. Os sintomas iniciais podem ser articulares ou
sistêmicos, como fadiga, mal-estar, febre baixa ou dores músculares esqueléticas. A
artrite reumatóide também afeta os sistemas cardiovascular e respiratório
comprometendo assim a qualidade de vida dos pacientes, sendo uma doença
extremamente dolorosa (MOREIRA; CARVALHO, 2001).
Com base nisso, Deal (1991) realizou um estudo com o objetivo de avaliar a
influência do uso de capsaicina em pacientes com osteoartrite ou artrite. Onde 70
pacientes com osteoartrite e 31 com artrite reumatóide receberam capsaicina ou
placebo por quatro semanas, e foram instruídos a aplicar o creme com capsaicina
quatro vezes ao dia. O alívio da dor foi mais relatado em pacientes tratados com
capsaicina, e após quatro semanas, a redução da dor em pacientes com artrite
reumatóide foi de 57% e em pacientes com osteoartrite foi de 33%. De acordo com
a evolução global, 80% dos pacientes tratados com capsaicina experimentaram uma
redução de dor após duas semanas de tratamento.
O uso do tópico de capsaicina em pacientes com artrite reumatóide e
osteoartrite,
com
doloroso
envolvimento
das
mãos,
também
foi
testado
(NEGULESCO, 1999). O tratamento foi aplicado quatro vezes do dia, por quatro
semanas. Neste estudo, houve diminuição da dor associada à osteoartrite,
sugerindo que a capsaicina é potencialmente útil para o tratamento destes tipos de
patologias reumáticas.
5.6 Herpes Zóster
É uma doença que compromete as terminações nervosas da pele e se
caracteriza por acompanhar, principalmente, as situações de imunodepressão. Na
maioria dos pacientes, com o passar do tempo o herpes zóster termina sem deixar
seqüela ou sintoma (OLSZEWER, 2000). Em uma pequena parte da população,
pode causar uma neuralgia pós-herpética por períodos prolongados, que limita a
atividade física do paciente, e esta é a complicação mais comum do herpes zóster
(JOHNSON; WHITTON, 2004).
Resultados preliminares de trabalhos utilizando capsaicina para tratamento de
dor em pacientes com herpes zóster sugerem que a aplicação tópica pode prover
26
uma abordagem útil para aliviar a neuralgia pós-herpética e outros sintomas
caracterizados por dor severa localizada (BERNSTEIN, et al., 1987; JOHNSON;
WHITTON, 2004).
5.7 Síndrome Pós-Mastectomia
A síndrome pós-mastectomia ocorre entre 4% a 14% das mulheres
submetidas a diversos procedimentos cirúrgicos de mama. A dor causada neste
quadro clínico provavelmente se deva a um dano do nervo intercostal. Tal sintoma
pode persistir e ser resistente a tratamentos distintos (DEAL, 1991).
No estudo de Watson (1992), doze pacientes com síndrome pós-mastectomia
fizeram tratamento com capsaicina tópica e apresentaram melhora após quatro
semanas de tratamento. Oito pacientes (57%) tiveram a resposta ao tratamento
classificada como boa ou excelente. Em estudo posterior destes autores, treze
pacientes que fizeram uso de capsaicina foram categorizadas como tendo boa a
excelente resposta, com oito (62%) tendo 50% de melhora da dor.
Vinte e um pacientes com síndrome pós-mastectomia fizeram uso prolongado
(três vezes ao dias, durante dois meses) de capsaicina tópica. Duas delas (10,5%)
relataram o desaparecimento completo de todos os sintomas e onze (57,9%) tiveram
redução da dor. Mesmo após o término do tratamento, estas pacientes continuaram
a ter um bom alívio da dor (DINI, 1993).
5.8 Neuropatia Diabética Dolorosa
A neuropatia diabética é uma condição nervosa dolorosa, que pode se
desenvolver em caso de diabetes prolongada, ocorrendo alteração da sensibilidade
na extremidade distal dos membros. A dor da neuropatia diabética pode ser
freqüentemente
controlada
com
o
uso
de
analgésicos,
antidepressivos,
anticonvulsivantes ou capsaicina tópica. Vários estudos sustentam que os cremes
contendo capsaicina aliviam a dor causada por essa doença (TEWKSBURY;
NABHAN, 2001).
Os principais sintomas da neuropatia diabética periférica são sensações de
ardência,
formigamento
e
dor
nas
extremidades
inferiores,
começando
especialmente pelos pés. A dor pode ser muito intensa, algumas vezes é aliviada
27
pelo andar, podendo piorar durante a noite. Eventualmente pode ocorrer perda da
sensibilidade, fato que requer cuidado redobrado com lesões.
Um estudo multicêntrico foi conduzido para esclarecer a eficácia do uso tópico
de capsaicina no alívio da dor associada com neuropatia diabética em 252
pacientes. O creme contendo tal substância foi aplicado nas áreas dolorosas quatro
vezes por dia durante oito semanas. A análise final mostrou que 69,5% dos
pacientes melhoraram a dor e 38,1% tiveram a intensidade da dor reduzida. Este
estudo sugere que o uso tópico de capsaicina é seguro e efetivo no tratamento de
neuropatia diabética (TEWKSBURY; NABHAN, 2001).
A capsaicina é potencialmente efetiva quando a dor ardente é o maior
sintoma da neuropatia diabética dolorosa. Além disso, apresenta efeitos colaterais
limitados e mínimos, devendo ser, portanto, indicada por clínicos para tratamentos
desta doença (BASHA; WHITHOUSE, 1991).
5.9 Neuropatia pós-cirúrgica
Algumas pessoas sobreviventes de câncer desenvolvem dores neuropáticas
pós-cirúrgicas.
Por este motivo, o uso do tópico de capsicina foi testado em
pacientes com este tipo de dor. Os resultados mostraram reversão da dor após oito
semanas de uso, causando um alívio nos pacientes (ELLISON, 1997).
5.10 Efeitos Sobre o Sistema Nervoso
Os efeitos da capsaicina sobre o sistema nervoso não se limitam à sua ação
analgésica. O uso da capsaicina esta sendo estudado para o tratamento de doenças
neurodegenerativas, como a doença de Huntington. Esta patologia é hereditária de
caráter autossômico dominante, cuja prevalência é de 5 a 10 casos em 100.000
habitantes. As manifestações clínicas caracterizam-se por um quadro progressivo de
movimentos anormais e involuntários. Pode apresentar-se de duas formas: juvenil
ou tardia. A sobrevida média após o início das manifestações é de 15 a 20 anos
(MATERSKA, et al., 2003).
28
5.11 Influência no Consumo Energético e na Perda de Peso
A prevalência do excesso de peso tornou-se um problema sério em países
em desenvolvimento como o Brasil. A estimativa em 2003 para a obesidade no
mundo foi de 1,7 bilhões de pessoas. A Organização Mundial da Saúde apresentou,
nesse mesmo ano, os principais riscos que afetam a saúde, ficando o excesso de
peso em primeiro lugar, tanto em países desenvolvidos quanto países em
desenvolvimento (NEGULESCO, 1999).
Egger (2000) revisou a efetividade de suplementos para perda de peso, e o
resultado suporta o efeito de algumas substâncias como a capsaicina, a cafeína e
fibras no emagrecimento.
Negulesco et al. (1999) estudaram o efeito com a diidrocapsaicina e
mostraram que sua administração em animais em dieta hiperlipídica causou
alteração no consumo de alimentos, no peso corporal e peso das fezes, além de
causar alterações no perfil lipídico. Estudos posteriores mostraram que, mesmo após
um ano do término do tratamento, os animais tratados com capsaicina mantiveram
um baixo acúmulo de gordura corporal (EGGER, 2000).
No estudo de Tewksbury (2001) houve diminuição de apetite e subseqüente
consumo de lipídios em mulheres e diminuição no consumo calórico em homens.
Quando observados os efeitos da ingestão concomitante de pimenta e cafeína,
houve redução do consumo e aumento do gasto calórico, indicando uma mudança
considerável no balanço energético (TEWKSBURY; NABHAN, 2001).
5.12 Efeitos do Consumo de Pimentas Sobre o Trato Gastrintestinal
Pessoas que sofrem de úlceras e outras patologias gástricas jamais se
imaginariam comendo pimenta como parte do tratamento de seus problemas. A
verdade, mesmo indo contra tudo o que já se ouviu falar sobre este assunto, é que
os
temperos
fazem
exatamente
o
oposto,
eles
protegem
o
estômago
(ZAYACHKIVSKA, 2004).
Substâncias originadas de plantas tiveram suas bioatividades testadas (ação
antioxidante, citoproteção, atividade antiúlcera, capacidade de cicatrizar lesões).
Todas as plantas que foram testadas mostram gastroproteção, acompanhada do
aumento da microcirculação gástrica (ZAYACHKIVSKA, 2004).
29
Zayachkivska (2004) sugere que o efeito da capsaicina da secreção ácida e
do fluxo sangüineo da mucosa é através da liberação de secretagogos gástricos
endógenos que aumentam a perfusão tecidual e a atividade secretória da mucosa. A
facilitação de eliminação ácida e do fluxo sanguíneo da mucosa pode contribuir para
a ação protetora da capsaicina na mucosa gástrica (ZAYACHKIVSKA, 2004).
A capsaicina apresenta um efeito gastroprotetor contra lesão da mucosa
gástrica experimental. Um dos mecanismos possíveis de proteção gástrica das
pimentas e da capsaicina pode ocorrer devido a um aumento na produção de muco
gástrico (DEAL, 1991).
Pesquisadores determinaram que a mucosa gástrica e duodenal contém
áreas sensíveis que estão envolvidas em um mecanismo de defesa local contra
formação de úlceras. A estimulação destas áreas com baixas concentrações de
capsaicina tem mostrado proteger a mucosa contra diferentes agentes causadores
de úlcera (DINI, 1993). Em contraste, concentrações muito altas parecem ter o efeito
oposto (DINI, 1993).
5.13 Ação das Pimentas no Aparelho Respiratório e a Influência Desta Quanto
a Melhora de Dores de Cabeça
A rinite alérgica afeta a qualidade de vida de adultos e crianças tanto em
países desenvolvidos como em países em desenvolvimento. É uma doença crônica
inflamatória, cujo controle das manifestações clínicas se dá através de medidas
profiláticas e medicamentosas (SETTIPANE, 1999).
Estudos estão sendo realizados a fim de verificar a ação da capsaicina em
pacientes com rinite. Resultados sugerem que o uso de spray dessa substância
suspensa em solução reduz a obstrução e a secreção nasal (MARABINI, 1991).
Aplicações de capsaicina intranasalmente podem também ajudar a aliviar dor
de cabeça. A severidade de tal patologia foi reduzida em grupos que usaram
capsaicina intranasal (SETTIPANE, 1999). A eficácia de repetidas aplicações nasais
de capsaicina em dor de cabeça é condizente com estudos prévios de efeitos
terapêuticos da capsaicina em outras síndromes dolorosas (FUSCO, 1997).
30
5.14 Melhorando a Glicemia
Além dos efeitos fisiológicos já descritos dos temperos, muito apresentam
também um efeito hipoglicêmico e têm sido documentados efeitos antidiabéticos
(ZAYACHKIVSKA, 2004). Em estudos realizados constatou-se que a capsaicina
causa decréscimo no nível de glicose sanguínea aumentando o nível de insulina.
31
6. Produtos Desenvolvidos
Com a necessidade de desenvolver novos produtos e explorar esse mercado
promissor, alguns produtores agrícolas da cidade de Turuçu, atualmente
desenvolvem vários produtos com apoio de Lauro Francisco Schineid (EMATER) e
do professor Marcelo Peter (CAVG).
A casa da pimenta localizada na BR 116, Km 483 na cidade de Turuçu, vende
diferentes produtos a base de pimentas, como licores, geléias, doces, biscoitos
doces e salgados, queijos, conservas, chocolates, doce de leite com pimenta,
pimenta desidratada e pimenta seca moída. Sendo estudados e desenvolvidos
freqüentemente novos produtos, gerando uma renda considerável à cooperativa de
produtores. Abaixo nas Figuras 09 a 19, estão alguns dos produtos desenvolvidos
na região.
Figura 09 - Licores de morango com pimenta e menta com pimenta.
Figura 10 - Licores de figo com pimenta, abacaxi com pimenta e amora com
pimenta.
32
Figura 11 - Pimenta vermelha moída.
Figura 12 - Chocolate com Pimenta
Figura 13 - Geléia de pimenta malagueta
33
Figura 14 - Geléias de abacaxi com pimenta e morango com pimenta.
Figura 15 - Molho de pimenta.
Figura 16 - Queijo colonial com pimenta
34
Figura 17 - Biscoito polvilho com pimenta.
Figura 18 - Doce de pimenta (pimentada).
Figura 19 - Pimenta em calda.
35
7. Conclusão
Para ter sucesso na exportação, é necessário primeiro conhecer exatamente
os hábitos e preferências dos consumidores de cada região, e oferecer o produto na
quantidade e qualidade demandada por este mercado.
As pimentas e a influência delas sobre a saúde, apenas começaram a ser
descobertas pelos consumidores brasileiros. E estamos apenas começando a
entender o gigantismo do mercado internacional. Cabe a todos os envolvidos na
cadeia produtiva de Capsicum (produtores, comerciantes, indústrias, consumidores)
reunir-se para traçar estratégias em conjunto para aumentar o consumo e atender as
demandas do mercado.
36
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Zhurnal.
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