XIX Exposição de Experiências Municipais em Saneamento
De 24 a 29 de maio de 2015 – Poços de Caldas - MG
ALTERAÇÃO NO PADRÃO DE LIGAÇÃO DE ÁGUA
PARA CONTROLE DE PERDAS APARENTES
NO ABASTECIMENTO
Thiago Garcia da Silva Santim(1)
Engenheiro Civil e Mestre em Recursos Hídricos e Tecnologias Ambientais pela Unesp de Ilha
Solteira. Atualmente trabalha na Coordenadoria Técnica de Planejamento do SAAE Guarulhos e é
docente na Universidade Nove de Julho.
Luiz Eduardo Mendes
Engenheiro Civil pela FESP, Tecnólogo em Obras Hidráulicas pela FATEC. Atualmente trabalha
na Gerência de Controle de Perdas e Hidrometria do SAAE Guarulhos e é docente no
Departamento de Hidráulica e Saneamento Ambiental na FATEC.
Endereço(1): Av. Emílio Ribas, 1247 - Gopoúva - Guarulhos - SP - CEP: 07020-010 - Brasil - Tel:
+55 (11) 2472-5397 - e-mail: [email protected]
RESUMO
Os programas de trocas de hidrômetros esbarram em uma série de obstáculos, impossibilitando
os serviços de abastecimento de água de efetuar essa importante tarefa, tendo em vista que os
medidores de vazão são os responsáveis pela arrecadação e controle das saídas de água do
sistema de abastecimento. Um dos obstáculos mais significativos é a falta de acessibilidade aos
equipamentos, pois em algumas regiões os moradores retornam as suas casas apenas para
dormir e, portanto, não havendo possibilidade da entrada de um funcionário para efetuar a troca.
Assim, com o objetivo de melhorar a qualidade de medição, o SAAE Guarulhos iniciou um
programa de troca dos medidores em conjunto com a implantação de novos padrões de ligação,
permitindo ao SAAE Guarulhos o acesso aos medidores sempre que houvesse necessidade de
verificação de seu desempenho, manutenção ou troca. A primeira fase das trocas ocorreu durante
o mês de julho de 2013, onde foram trocados 1.131 hidrômetros. Esses hidrômetros tiveram seu
histórico dos 12 meses antes da troca comparado com o histórico dos 12 meses após a troca,
resultando em uma recuperação de medição de 33%.
Palavras-chave: Padrão de ligação, redução de perdas aparentes, micromedição, trocas de
hidrômetros, SAAE Guarulhos.
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INTRODUÇÃO/OBJETIVOS
A verificação periódica, com intervalo não inferior a cinco anos para determinação do desempenho
dos hidrômetros é estabelecida pela Portaria nº 246/2000 do INMETRO. Estas verificações são
fundamentais para o controle das perdas, tendo em vista que o hidrômetro instalado nas
edificações mede o volume de água que sai do sistema de abastecimento.
Embasado nessa premissa, o SAAE Guarulhos iniciou um programa de trocas para dar
confiabilidade e rastreabilidade às informações de registro do consumo, tendo em vista que a
média de idade do parque de hidrômetros antes do início do programa de trocas, no início de
2013, era de pouco mais do que sete anos, havendo medidores com mais do que trinta anos.
Todavia, um obstáculo às verificações e às trocas periódicas era o acesso aos hidrômetros, pois
em muitas situações os medidores encontravam-se instalados em locais de difícil acesso ou em
imóveis com portões fechados e sem responsáveis para permitir o acesso dos funcionários do
SAAE ou ainda em imóveis nos quais os residentes não aceitavam as equipes do SAAE
Guarulhos para fazer a troca do hidrômetro. Portanto, para sanar essas dificuldades de acesso
aos medidores e reduzir o número de fraudes existentes nos hidrômetros localizados nos
cavaletes inacessíveis, foram propostos novos padrões de ligação de água. Assim, o SAAE
Guarulhos iniciou a implantação de novos modelos de ligação, no quais o cavalete não ficava
mais na parte interna da residência, possibilitando a renovação dos equipamentos conforme
recomendado pelas normas ABNT e pelo INMETRO.
METODOLOGIA
A definição dos novos padrões de ligação, conforme mostrado pelas Figuras 01,02 e 03, procurou
se adequar à disponibilidade de espaço dos imóveis, pois no município de Guarulhos existe uma
quantidade significativa de imóveis com testada de inferior a quatro metros, onde não era possível
a implantação de modelos de cavaletes embutidos em caixas.
Todavia, adotar modelos enterrados na calçada ou na vertical exigiu a alteração do tipo de
medidor de vazão, pois os hidrômetros velocimétrico não poderiam ser instalados em desnível,
sendo publicada a Portaria n° 24361/14, a qual alterou os tipos de medidores de vazão a serem
adquiridos pelo SAAE Guarulhos sendo aprovados os hidrômetros volumétricos e eletrônicos.
Para o início da primeira etapa das trocas foram selecionadas 1.131 ligações nas quais os
hidrômetros possuíam mais do que 7 anos de medição e/ou não havia assiduidade nas leituras,
ou seja, ligações onde o leiturista indicava códigos como “consumo pela média”. Para a obtenção
dessas informações foi utilizado o cadastro comercial do SAAE Guarulhos.
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Após a troca, o SAAE Guarulhos, por meio do cadastro comercial, acompanhou as medições de
consumo e comparou a média das medições obtidas nos doze meses após a troca com as
medições de doze meses antes da troca.
Figura 01 – Modelo de ligação de água com caixa enterrada no passeio indicado para
imóveis com testada inferior a quatro metros
Figura 02 – Modelo de ligação de água com caixa e hidrômetro na vertical na fachada do
imóvel, indicado para imóveis com testada inferior a quatro metros
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Figura 03 – Modelo de ligação de água com caixa na vertical e hidrômetro na horizontal
localizado na fachada do imóvel, indicado para imóveis com testada superior a quatro
metros
O comparativo entre as médias antes da troca e após a troca seria o índice que viabilizaria a
alteração no padrão da ligação.
RESULTADOS/DISCUSSÃO
Com a mudança no padrão, a acessibilidade para a leitura melhorou e não houve mais a
indicação de códigos como “consumo pela média” devido a não ocorrência da leitura, sendo a
única desvantagem verificada para o novo padrão o vandalismo em um dos medidores.
Quanto aos dados de consumo antes da troca e após a troca, a Tabela 01 indica por categoria o
comportamento da média, sendo verificado um aumento de medição de 33%.
Esse aumento de medição representa que o SAAE Guarulhos passou a ter um controle maior das
saídas de água do seu sistema, passando a ter valores mais confiáveis para a definição da
parcela de perdas referentes à hidrometração e das perdas referentes à vazamentos em redes e
ramais.
Um dos casos que promovia grande divergência no cálculo das perdas da Zona de Medição e
Controle, e que chamou muita atenção na tabulação dos dados, foi o da ligação residencial nº
24622.
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Tabela 01 – Média de consumo nos 12 meses antes e nos 12 meses após a troca dos 1.131
hidrômetros conforme a categoria
Categoria
Média de
Média de consumo
Diferença de
Aumento percentual
consumo antes
após a troca (m³)
consumo antes e
de consumo após a
após a troca (m³)
troca
da troca (m³)
Industrial
27.662
27.804
142
1%
Comercial
11.870
17.848
5.978
50%
Residencial
55.421
71.005
15.584
28%
Órgãos Públicos
27.100
42.433
15.333
57%
1.134
4.228
3.094
273%
123.187
163.319
40.132
33%
Entidades
Assistenciais
TOTAL
Nesta ligação o hidrômetro existente havia sido instalado em 1980 e a renovação ocorreu após
trinta e quatro anos de sua instalação. Após a instalação do novo hidrômetro, conforme Figura 04,
no final do mês de agosto de 2013, na primeira conta recebida pelo usuário, o consumo medido
saltou de uma média mensal de 1m³ para 60m³. Uma equipe dotada de geofone foi mobilizada e
efetuou a investigação das instalações prediais, sendo encontrado um vazamento logo após o
cavalete.
Após o conserto do vazamento, o consumo do usuário ficou na casa de 10m³/mês, ou seja, o
SAAE Guarulhos perdia 50m³ de água todo mês, sendo esse volume contabilizado como perdas
reais, todavia, tal volume de água não provinha de vazamentos na rede pública e sim de um
vazamento nas instalações internas do imóvel, porém sem ser contabilizado como consumo no
imóvel.
Figura 04 – Execução do modelo de ligação de água com caixa enterrada no passeio
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CONCLUSÃO
Com base nos resultados apresentados, pode-se concluir que o envelhecimento do parque de
hidrômetros acarreta em distorções na interpretação das perdas reais, pois, tendo em vista que o
consumo não medido pelos hidrômetros acaba sendo interpretado como vazamentos nas
adutoras, redes de distribuição e ramais, os serviços de abastecimento irão mobilizar recursos
financeiros para as trocas de redes e ramais, válvulas redutoras de pressão e identificação de
vazamentos sem a necessidade desse investimento.
Para tanto, é essencial que os serviços de abastecimento de água tenham uma rotina de controle
que oriente as trocas dos medidores em seu sistema, evitando que medidores com idade superior
a cinco anos continuem em uso sem uma verificação de sua capacidade de medição, mesmo em
se tratando de um usuário que apresente consumo mínimo, ou seja, até 10m³, pois o consumo
mínimo pode não estar refletindo o padrão de consumo real do usuário, conforme os resultados
apresentados neste estudo para as 1.131 ligações em que a diferença total entre o consumo
medido real e o consumo registrado pelo hidrômetro foi de 33%.
Dessa maneira, ter acesso aos medidores para efetuar a leitura, identificação de defeitos,
manutenções e trocas é essencial. Por fim, nas ligações de água em que o novo padrão foi
implantado a ocorrência dos códigos hidrômetro inacessível, leitura pela média, hidrômetro não
encontrado, não foram mais registradas, resultando assim em credibilidade às informações do
banco de dados do SAAE.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15538: Medidores de água
potável – Ensaios para avaliação de eficiência. Rio de Janeiro, 2014. 18p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8194: Medidores de água
potável – Padronização. Rio de Janeiro, 2013. 11p.
BRASIL. Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial. Estabelece as
especificações para medidores de água fria. Portaria n° 246 de 17 de novembro de 2000.
COELHO, A. C. Micromedição em sistemas de abastecimento de água. Editora Universitária
da UFPB. João Pessoa, 2009, 348p.
GUARULHOS. Serviço Autônomo de Água e Esgoto. Estabelecer critérios para o
dimensionamento de hidrômetros utilizados nas ligações de água do SAAE. Portaria n°
24361 de 27 de novembro de 2014.
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