XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL
ANÁLISES QUALITATIVA E QUANTITATIVA DA FLORA
ARBUSTIVO-ARBÓREA DE UM CERRADÃO CONSERVADO
NO ESTADO DE SÃO PAULO
Keller, V.C1; Hardt, E.2; Camancho, L.1; Garcia, D.C.2; Moraes, J.F.3; Delitti, W.B.C.1; Pereira-Silva, E. F.L.1.
Correspondência: [email protected]
1. Universidade de São Paulo, Departamento de Ecologia, São Paulo, SP.
2. Universidade Federal de São Paulo, Departamento de Ciências Biológicas, Diadema, SP.
3. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Departamento de Ecologia, Manaus, AM.
INTRODUÇÃO
Um papel importante das Unidades de Conservação é a sua potencial contribuição como áreas de referência às
ações de recuperação de ecossistemas degradados (SNUC 2000). São áreas legalmente protegidas e essenciais à
conservação da biodiversidade e geração de serviços ecossistêmicos, sendo também importantes ao estímulo de
esforços para restauração.
Em uma perspectiva de potencial para proteção da biodiversidade do Cerrado, existem 431 áreas prioritárias
indicadas para conservação e 34% delas necessitam ser recuperadas (MMA 2008). Para São Paulo, o Cerrado foi
explorado e alterado significativamente, restando poucas áreas de tamanho ideal e que ainda se mantêm
conservadas, muitas delas à custa do amparo legal, sendo o cerradão a fitofisionomia com marcante destaque de
ameaça em função de seu longo histórico de aproveitamento madeireiro e exploração agrícola (Pereira-Silva et al.
2012).
São imprescindíveis ações que revertam os danos causados ao Cerrado paulista, e a restauração ecológica
proporciona técnicas abrangentes que visam recuperar os sistemas ecológicos degradados. Um passo importante
nesse processo são ações (diagnósticos bióticos, levantamentos florísticos e a recuperação e recompilação de
informações secundárias) que auxiliem na caracterização das áreas referência e forneçam suporte ao planejamento
da restauração (SER 2004, Barrera-Cataño & Valdés–López 2007). Até então, persistem lacunas de conhecimento
sobre composição e estrutura de cerradão e isso está associado à sua pouca representatividade no bioma e à pressão
antrópica que sofre. Nesse sentido, foram realizados o levantamento florístico e a análise fitossociológica de uma
área de cerradão que possui potenciais atributos de unidade de referência ao apoio e planejamento de restauração
ecológica e conservação da biodiversidade do Cerrado.
MATERIAL E MÉTODOS
O local de estudo (-21.602864, -47.776089, 520-642 m de altitude) atualmente integra a Estação Ecológica de Jataí
(EEJ), Luís Antônio, SP. Outrora esteve incluído na Unidade de Produção Estação Experimental de Luís Antônio
(1966-1982), quando então foi incorporado à EEJ como parte de sua área de proteção (Pereira-Silva et al. 2012)
constituindo atualmente uma das maiores áreas de Cerrado legalmente protegidas no Estado de São Paulo. Para
amostragem florística, 25 parcelas permanentes de 10 x 25 m, criadas na década de 70, foram reavaliadas, sendo
amostrada a vegetação com DAS (Diâmetro à Altura do Solo) igual e superior a 1,0 cm e medidos parâmetros
fitossociológicos para descrição e entendimento da estrutura horizontal.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram amostrados 7.365 ind.ha-1 que compuseram uma riqueza de 58 espécies, 45 gêneros e 30 famílias. A
fitofisionomia estudada é caracterizada como cerradão pela presença de espécies típicas como Pterodon pubescens,
Copaifera langsdorffii, Xylopia aromatica, Casearia sylvetris, Myrcia lingua, Diptychandra aurantiaca, Virola
sebifera, Campomanesia pubescens, Miconia albicans, entre outras. As duas espécies de maior IVI (P. pubescens
e C. langsdorffii) foram as mais dominantes nas parcelas estudadas (31,33 m2.ha-1 e 22,29 m2.ha-1,
respectivamente). A dominância verificada é conseqüência da interrupção das atividades de exploração e de corte
seletivo de madeira há mais de 30 anos. Isso proporcionou uma densa cobertura pelo dossel e condições de
sombreamento que favorecem a produção de sementes, germinação, dispersão zoocórica e rebrotamento que
condicionam o adensamento das populações de C. sylvestris (13,86 ind.ha-1), X. aromatica (13,12 ind.ha-1) e M.
lingua (13,17 ind.ha-1) no sub-bosque do cerradão. Foi verificada uma baixa diversidade (H’ = 2,90 nat.ind.-1) em
relação a outras áreas do Cerrado paulista. O índice de eqüabilidade (J’ = 0,65) sugere uma distribuição desigual e
abundância de C. sylvestris, X. aromatica de M. lingua, bem como a dominância de P. pubescens e C. langsdorffii
em relação às demais espécies registradas. As condições edáficas e climáticas naturais que se mantêm na área
conduzem a cobertura de cerradão a uma condição satisfatória atual de conservação de espécies e estabilidade
estrutural da comunidade. Além disso, a proteção legal e a ausência de distúrbios proporcionam à EEJ atributos de
unidade de paisagem de referência com potencial contribuição às ações de restauração ecológica e de planejamento
de conservação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARRERA-CATAÑO, J. I. & VALDÉS–LÓPEZ, C. 2007. Herramientas para abordar la restauración ecológica
de áreas disturbadas en Colombia. Universitas Scientiarum 12:11-24.
MMA - Ministério do Meio Ambiente. 2008. Programa nacional de conservação e uso sustentável do bioma
Cerrado. Programa cerrado sustentável. Brasília, DF. 67 p.
PEREIRA-SILVA, E. F. L., SANTOS, J. E., HARDT, E. 2012. Análise estrutural da comunidade arbustivo-arbórea
de um cerradão. Vértices 14(2):169-187.
SER - Society for ecological restoration international and policy working group. The SER International Primer on
Ecological Restoration International. 2004. 15 p.
SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Lei nº 9.985.
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análises qualitativa e quantitativa da flora arbustivo